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Propriedade imobiliária e seu uso anormal

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Academic year: 2021

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PROPRIEDADEIMOBILIÁRIA E SEU USO ANORMAL

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Monografia final do Curso de Graduação em Direito objetivando a aprovação no componente curricular Monografia.

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

DCJS – Departamento de Ciências Jurídicas e Sociais.

Orientador: MSc. Carlos Guilherme Probst

Ijuí (RS) 2018

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Agradeço a toda minha família, amigos, professores, esposa, filha e demais pessoas que ajudaram na realização desse trabalho. Sou imensamente grato pela paciência e incentivo.

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O presente trabalho é uma pesquisa monográfica com o objetivo de analisar, por meio de pesquisa bibliográfica e jurisprudência, as relações de vizinhança entre imóveis lindeiros. Com o intuito de discutir, de forma breve, o direito de propriedade, de forma geral, assim como a sua relação com a legislação constitucional e infraconstitucional. Por meio de análise detalhada, descreve os bens tutelado, sendo aqueles que são protegidos em nossa Constituição Federal assim como os encontrados no Código Civil e demais legislações esparsas, tais como: sossego, segurança e saúde. Demonstra, portanto, utilizando-se de jurisprudência e doutrina, a forma de resolução de lides resultante do uso anormal da propriedade.

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The present work is a monographic research with the objective of analyzing, through bibliographical research and jurisprudence, the neighborhood relations between real estate. In order to discuss, briefly, the right of property, in general, as well as its relationship with constitutional and ordinary law. Through detailed analysis, it describes the protected assets, being those that are protected in our Federal Constitution as well as those found in the Civil Code and other sparse legislations, such as: peace, safety and health. It demonstrates, therefore, using jurisprudence and doctrine, the form of resolution of conflicts resulting from the abnormal use of the property.

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INTRODUÇÃO ……….. 1 PROPRIEDADE IMOBILIÁRIA ……….. 1.1 Aspectos gerais ……….. 1.2 Propriedade e suas características ……….. 1.3 Limitações da propriedade ……….. 1.3.1 Direito público ……… 1.3.2 Direito privado ……… 2 O USO ANORMAL DA PROPRIEDADE IMOBILIÁRIA E SEUS BENS

TUTELADOS……….. 2.1 Segurança ……….. 2.2 Sossego ………... 2.3 Saúde ……….. 2.4 Uso social da propriedade no Código Civil e na Constituição ……….. CONCLUSÃO ………. REFERÊNCIAS ………. 09 11 11 13 18 19 21 25 25 29 34 37 40 42

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho monográfico trata do uso anormal da propriedade, cuja relação com os preceitos constitucionais é íntima, quer seja pelas diretrizes de desenvolvimento urbano como o agravo ao direito de vizinhança. Estão envolvidos, portanto, a aplicabilidade através de critérios específicos, ao se iniciar o estudo explanando referente a função social da propriedade e, também, o mau uso desta, tecendo considerações sobre o tema, e os resultados de lides frente a ocorrência de responsabilização civil. Objeto de constantes tensões econômicas ou sociais, a propriedade sempre se apresenta como causa de conflitos entre particulares e também de particular e o Estado, disso emergindo fortes repercussões em meio a sociedade (DINIZ, 2011).

Utilizando-se de “uso anormal da propriedade”, insculpida no Código Civil, resta demonstrada que tal tema está ligado estritamente com as hipóteses aventadas no código em comento. Destacando-se as hipóteses insertas no Artigo 1.277 do mesmo diploma legal, importância se faz na digressão referente aos conceitos de propriedade abrangidos na Constituição e também no Direito Privado. Ademais, as limitações sofridas ou restrições impostas na seara do direto de vizinhança, ao condicionar sua utilização aos mandamentos constitucionais e regras de comportamento, causam obrigações legais recíprocas entre lindeiros (VENOSA, 2009).

A presente monografia, em seu primeiro capítulo, tem como propósito definir o objeto de estudo que se apresenta como sendo a propriedade imobiliária. Neste diapasão, discorre-se sobre a propriedade bem como seus diversos aspectos, assim como faculdades e características. A função social desta propriedade imobiliária é delimitada, ao se

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demonstrar a sua natureza dual: proveniente dos Direitos Público e Privado. Perceptível pois, ao se dissertar sobre limitações, de maneira mais detalhada, o forte entrelaçamento entre os supracitados ramos das Ciências Jurídicas. Ainda no primeiro capítulo, definem-se os Bens Tutelados: Segurança, Sosdefinem-sego e Saúde, nesta ordem, definem-sendo que estes definem-serão objeto de aprofundamento no segundo capítulo (VENOSA, 2009).

No decorrer do segundo Capítulo, buscando apresentar doutrina e jurisprudência, são apresentados ao leitor, circunstâncias concretas sobre as consequências do mau de uso de uma propriedade bem como a reação com os lindeiros ao buscar guarida judicial. Exemplificam-se casos oriundos do Judiciário, na procura de resolução de uma lide quando o particular não obtém uma solução consensual. A conformação do Bens Tutelados mencionados anteriormente se dá no segundo capítulo exemplificados por pesquisa jurisprudencial que discorre sobre casos como periclitação à saúde, incolumidade, perturbação do sossego, quer por negligência dos atos de vizinhos ou até descaso do Poder Público. A guarida jurídica se faz necessária e notável na resolução destes conflitos com o intuito de dirimir conflitos, com meta a pacificação social, obtendo-se a superação dos obstáculos de bom convívio entre lindeiros, com a correta obediência das Leis entre os vizinhos de uma propriedade imobiliária em suas áreas limítrofes.

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1 PROPRIEDADE IMOBILIÁRIA

A propriedade constitui, em nosso ordenamento jurídico, um dos mais amplos direitos, sendo coisa móvel ou imóvel. O art. 1.228 do Código Civil, de fato, não fornece uma real de-finição de propriedade, mas atribui poderes ao proprietário que são: “[…] usar, gozar e dispor da coisa, e o direito reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha” (BRASIL, 2002). A propriedade, portanto, constitui o direito subjetivo mais completo sendo base dos direitos reais. No que toca ao ordenamento constitucional, a propriedade é apresenta-da um direito funapresenta-damental concedido a todos, mas restrita, também, à sua função social (DI-NIZ, 2011).

O primeiro elemento constitutivo da propriedade é o direito de utilização que consiste na faculdade de o dono de o servir-se da coisa. Contudo, há restrições ao exercício, proveni-entes do direito privado e público, com o objetivo de não adentrar interesses alheios, resultan-do em conflitos desnecessariamente. A propriedade imobiliária é aquela que se exerce sobre bem imóvel e nesta, bastando que aquele que possua a posse legítima venha a exercer poderes frente o imóvel vizinho, causando-lhes prejuízo ou perturbação, para que se verifique o uso anormal dessa propriedade, ensejando conflitos sociais (DINIZ, 2011).

1.1 Aspectos gerais

O resultado de a propriedade ser um direito complexo, absoluto, exclusivo e perpétuo é a subordinação da coisa a uma pessoa, sendo que o direito de usar é inerente a propriedade, bem como o de gozar e dispor desse bem. Por ser o direito real cuja a complexidade se faz no-tável, com efeitos “erga omnes” sobre a coisa em que se exerce, constituindo faculdade de usar, dispor, gozar de tal bem, com o direito de retomar de quem injustamente a detenha ou a possua.

A etimologia da palavra propriedade origina-se de “proprietas”, significando “o que pertence a uma pessoa”, formando-se de “domare”, que é melhor representada como sujei-tando-se ou domínio, podendo de forma sintética, analítica e descritiva. No primeiro, existe a submissão de determinada coisa a determinada pessoa, em segundo plano, o direito de usar inerente a propriedade, e também gozar e dispor de bem. Poderá também, reaver de quem a

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vier possuir de maneira injusta. Consequentemente, a propriedade é um direito absoluto, com-plexo, perpétuo e exclusivo, onde uma coisa está sujeita à vontade de determinada pessoa, dentro das limitações legais (DINIZ, 2011).

A origem do direito a propriedade e conflituoso e, portanto, este é garantido em amplo aspecto dos ordenamentos jurídicos na maioria dos países. Tal garantia, por sua sorte, também sofre restrições por força de dispositivos constitucionais. E mesmo sendo um conceito po-lítico-social, centro do direito das coisas, fundantes do direito privado. Dentro deste diapasão, constitui em nossa constituição pátria um direito fundamental, assim como de tantas cartas magnas de outros Estados.

A Constituição, e também a doutrina, entretanto, apontam limitações a tais garantias. De forma jurídica, em termos sociológicos, conclui-se: a mesma, efetivamente, é um elemento indispensável do conceito formador da propriedade, já que em todas as línguas há distinção, conforme o direito romano já fazia, entre o termo "posse" (a manutenção "de fato" de alguma coisa no poder do possuidor, independentemente da legitimidade de fazê-lo) e Propriedade (o direito que se tem em possuir alguma coisa, independentemente de sua posse factual), na dou-trina ocorre discordância entre a direito de propriedade e a legitimidade desse direito (VENO-SA, 2009).

Somente examinar de forma isolada artigos e códigos não é o suficiente. É necessário uma análise sistemática constitucional social para que venha a permitir os Direitos Fundamen-tais Sociais. Portanto, descabido ser apenas compreendido como apenas um direito individual o que se denomina como direito à propriedade. Sua natureza é modificada com a definição do princípio da função social, fazendo com que seja irrestrito o direito do proprietário. O regime jurídico em que se encerra a propriedade privada, por alguns juristas nacionais, é entendido como sendo aquele apenas inserto nos diplomas civilistas, considerado direito real fundamen-tal. Entrementes, há que se observar as normas de Direito Público, principalmente de Direito Constitucional, que disciplina igualmente a propriedade (DINIZ, 2011).

Exitem o sujeito passivo e ativo no que concerne ao direito de propriedade. Podendo ser qualquer pessoa física ou jurídica, desde que capaz, constitui o proprietário. Mediante re-presentação do pai ou do tutor o menor pode adquirir (art. 1º, 1634, V, 1747, I, do CC). Aque-les que devem respeitar o direito de propriedade podem ser todos os outros indivíduos da

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soci-edade, sendo indeterminado o passivo. O objeto pode ser coisa corpórea, móvel ou imóvel, igualmente têm se admitido coisas incorpóreas como o fundo de comércio e o direito autoral (VENOSA, 2009).

1.2 Propriedade e suas características

São características da propriedade, dentre várias, as que podemos destacar em relação a sua extensão e a perpetuidade, expondo a seguir:

a) Perpétua: com duração limitada da propriedade dentro do lapso temporal, passa aos herdeiros pelo do direito das sucessões, sendo direito perpétuo. Fortalecido, portanto, o direito de propriedade quanto mais o dono usar ou fruir da coisa, contudo, tal direito não se extingue pelo não-uso do dono, mas pode mudar de titularidade pelo uso de terceiros. Em decorrência disto, poderá ser adquirido um terreno por usucapião, por um terceiro que começar a usá-lo, se o proprietário passar tempo prescrito em lei sem exercer o seu domínio (DINIZ, 2011).

b) Plena: observada quando juntamos todos as suas características constitutivas da pro-priedade na pessoa de um proprietário. Constitui, portanto, um direito que se denomina erga

ommes, ou seja, oponível contra todos e que deve ser observado e respeitado. Necessário que

cumpra seja cumprida a sua função social pois, sem isso, não há mais plenitude e, por conse-guinte, ausente absolutismo, dentro do direito moderno.

c) Exclusiva: de maneira simultânea, a coisa não poderá pertencer a dois ou mais titu-lares. Contudo, tal definição não vai de encontro com o conceito de condomínio, pois cada condômino é proprietário de uma cota parte ou parte ideal de maneira exclusiva.

d) Limitada: a propriedade tem seus elementos constitutivos aqueles que são fragmen-tados ou alguns são passados para outros titulares da coisa. O titular não tem todos os poderes que lhe são inerentes quando sobre ela pesa um ônus.

e) Elástica: em concordância com os poderes que lhe são conferidos, a propriedade se contrai ou dilata quanto ao seu exercício, sendo descrita como elástica. Exemplificando, caso um proprietário de uma fazenda tenha a colocado em usufruto, este perde seus atributos de fruição e de uso, não sendo o direito de propriedade pleno, ficando com a posse indireta até ao

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término do seu usufruto, voltando a ser plena novamente quando a propriedade se dilata, re-tornando ao estado anterior.

f) Revogável ou Resolúvel: Condição resolutória que se realiza expressa quando pro-priedade tem a sua própria forma de extinção em seu próprio.

A propriedade confere faculdades específicas, por ser um direito complexo, que pas-sam a ser a seguir explanadas.

a) Direito de Fruição – também conhecido como direito de gozo, o jus fruendi, poden-do a coisa ser explorada economicamente, e dela se auferinpoden-do vantagens e benefícios para o proprietário como, por exemplo, havendo frutos das árvores do quintal, estes podem ser ven-didos ou mesmo, vendendo animais prenhes, permanecer com as crias dos seus animais.

b) Direito de utilização – é o jus utendi, pode ser usada, ocupada, pelo proprietário, com fito em determinado destino, sem que haja a alteração de sua substância, como exemplo, morar em uma casa, ou utilizar-se do carro para lazer ou trabalho.

c) Direito de Disposição – é o jus abutendi, constituindo no poder dos proprietários de abusar, modificar, reformular, vender, consumir e até destruir a coisa, não podendo ser atribuí-do a quem não detém a propriedade da coisa (VENOSA, 2009).

Exemplificando, o dono de uma obra de arte pode utilizá-lo como decoração em sua (jus utendi), pode alugá-lo para compor uma exposição (jus fruendi) e, adicionalmente, pode vir a vende-lo (jus abutendi). O proprietário tem a liberalidade de ceder a obra de arte para terceiros somente para uso da coisa, como exemplo, o direito real de habitação, art. 1414, CC; podendo ceder tanto o uso ou fruição (ex: usufruto conforme o artigo 1394 e superfície de acordo com o 1369, CC); podendo, também, ceder só para disposição a coisa (por exemplo, no contrato estimatório do artigo 537, CC). Contudo, aquele que detém a posse tem, pelo me-nos, uma das três faculdades daquele que detém a propriedade, conforme os artigos 1196, 1204 CC.

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O direito de poder reaver a coisa é resultante da soma destas três faculdades supracita-das. A coisa, quando nestas situações, que resulta dos direitos reais cuja possibilidade de opo-nibilidade a qualquer pessoa do titular da coisa exercer seus direitos lhe é inerente (art. 1228, parte final, do Código Civil), sendo exposto por Venosa (2009, p. 170) acerca da rei

vindica-tio, que é, reconhecidamente, o efeito fundamental do direito de propriedade. Estando a coisa

em posse de outro e este estiver em companhia de possuidor injusto, possuindo de má-fé ou, também, o detentor sem título, servirá, o proprietário, para recuperá-lo de ação reivindicatória. Mister alertar que não se deve confundir com ação possessória, pois em tal ação o possuidor se assenta contra o invasor, que, inclusive, pode ser o proprietário (como exemplo, a impossi-bilidade da invasão, a qualquer tempo, de locador a imóvel locado alegando ser o proprietá-rio). Uma das vantagens da possessória, por parte do julgador, é a alternativa, de conceder li-minar não cabível na reivindicatória (RODRIGUES, 2003).

Tudo que não esteja excluído pela lei pode ser de forma ampla objeto da propriedade, a presente monografia passa ao estudo do domínio sobre os bens corpóreos imóveis e móveis.

São considerados bens corpóreos móveis a coisas corpóreas, que podem ser removi-das, por natureza, sem causar qualquer dano, seja por força própria ou por força alheia, excep-cionando-se aquelas que venham a se aglutinar aos imóveis e, classificam-se, ainda, em cate-gorias em que se tenha vista a sua natureza, por antecipação ou determinação legal (RODRI-GUES, 2003).

Ainda são exemplos de tais bens: materiais destinados para construção, quando ainda não são agregados na mesma, são considerados bens móveis; aqueles bens que são removíveis de um ponto ao outro, sendo que são semoventes aqueles de movimento próprio, como exem-plo, animais e, por força alheia, as inanimadas, e há também aqueles bens móveis que são imóveis por imposição legal quando, por exemplo, a lei torna imóveis com a finalidade de hi-poteca conforme o art. 825, CC. Existem aquele bens por antecipação em que a vontade do homem torna móvel bens imóveis, em que haja alterada a qualidade, com fulcro em sua finali-dade econômica (DINIZ, 2011). Para exemplificar há frutos, metais, pedras e árvores que são vinculados ao solo, sendo considerados imóveis quando, por desejo humano, tornam-se imó-veis. Necessário destacar que são antecipadamente móveis as árvores que se transformam, por força alheia, em lenha.

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Dentro deste diapasão, são considerados bens móveis, delineados dispositivo legal -art. 48 CC aqueles que são os direitos reais os definidos como coisas móveis e, também, as ações correspondentes, sendo que as respectivas ações, assim como os direitos autorais e os de obrigação. Ao estabelecer as modalidades de aquisição, o código civilista se utilizou da se-guinte ordem, com início no art. 1.260: usucapião, ocupação, achado do tesouro, tradição, es-pecificação, confusão, comistão e adjunção. Ademais, Venosa (2009, p. 232) define: “modali-dades originárias de aquisição são a ocupação e o usucapião. A invenção ou descoberta como regra geral não permite a aquisição da propriedade, as demais são derivadas.”

A propriedade incorpórea é caracterizada pelo código civilista como os diretos auto-rais, sendo móveis por disposição legal. Não enseja autorização do cônjuge por força de sua mobilidade a cessão de um direito autoral. Entende-se, de maneira ampla, como “direito de autor”, aquela que engloba as formas de produção intelectual, havendo a inclusão dos proje-tos de modelos industriais e desenhos, as marcas do comércio e os nomes, assim como as pa-tentes de invenção, sem mencionar, de fato, nos direitos autorais, aqueles que se caracterizam pela criação de obras, que sejam artísticas, literárias e científicas. Disso, incluem-se as ações de sociedade mercantil e aquelas de quotas de capital. Assim como, com fulcro no Código Pe-nal, em seu art. 155, § 3º, são equiparáveis à coisa móvel, nos termos assim definidos, a ener-gia elétrica ou outras formas de enerener-gia (RODRIGUES, 2003).

São considerados bens infungíveis aqueles que não podem ser substituídos e, os fungí-veis, os bens mófungí-veis, que podem ser substituídos por outros da mesma espécie, quantidade ou qualidade. Pode-se citar a característica de divisíveis, que são aqueles bens que podem ser fra-cionados sem que haja a modificação de sua substância ou a diminuição considerável de valor ou, mesmo, sem que haja prejuízo da utilização a que se destina, conforme o art. 87, CC. São indivisíveis aqueles bens devido a sua estrutura física. A divisão do bem ocasiona modificação de sua substância. Contudo, existem bens que, embora divisíveis, como a hipoteca ou servidão predial, por imposição legal, tem natureza indivisível. Existem ainda os convencionais, defini-dos como bens que, embora divisíveis, não podem ser divididefini-dos por força de acordo intra-par-tes, como preconiza o art. 88, CC (DINIZ, 2011).

Da seguinte forma podem ser classificados os bens imóveis em nosso Código Civil, art. 43:

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a) Aqueles que são imóveis por sua natureza, insculpidos no art. 43, I, que são o solo com sua superfície, as adjacências naturais e os acessórios do solo, assim como compreende os frutos e árvores pendentes, o subsolo e também o espaço aéreo. De fato, conceitualmente, o verdadeiro bem imóvel é o solo, contudo, o legislador incluiu, no Código Civil, nesse concei-to os elemenconcei-tos já citados neste parágrafo, de maneira que, artificialmente, sejam considera-dos bens imóveis.

Constituem o solo elementos sólidos ou líquidos, sendo que estes se encontram na su-perfície e outras no subsolo. Caso sejam estes elementos, de alguma maneira, separados por desejo humano, constituem-se em unidade distinta, configurando-se em móveis, como a árvo-re que se converte em lenha. Como exemplo, caso a água pertença a bem imóvel, será consi-derada imóvel. No entanto, ao ser destacada por força humana, tornar-se-á bem móvel. Há que se mencionar as riquezas minerais ou aquelas que são fossilizadas, que vem a representar propriedade da União, que pode ao particular outorgar a concessão de exploração de jazidas através de atos administrativos (VENOSA, 2009).

b) Por acessão física artificial, imóveis descritos no art. 43, II representam tudo quanto o homem incorporar de forma permanentemente ao solo, como a semente lançada a terra, as construções ou os edifícios, de maneira em que não se permita a retirada sem que haja a sua destruição, modificação, dano, ou mesmo, fratura. Da acessão decorre o aumento, acréscimo, justaposição ou aderência de uma determinada coisa com outra.

c) Conforme o art. 43, III, são considerados imóveis por acessão intelectual aqueles contidos no imóvel em que o proprietário mantiver, intencionalmente, empregando-o na sua exploração industrial, comodidade ou embelezamento. O usufrutuário e o locatário não são in-cluídos no art. 43, III, porém, ao colocarem tais objetos, em seu nome e por conta do proprie-tário, incorrerá na existência da acessão intelectual. Portanto, o fato de os objetos serem en-contrarem-se no imóvel não é automaticamente determinante de que estes estejam imobiliza-dos, dependendo de análise casuística (DINIZ, 2011).

É necessário que haja coisa móvel sendo essencial para a formação da acessão intelec-tual, desde que esta pertença ao proprietário do imóvel, destinando-se ao propósito econômico da coisa principal ou mesmo ao seu serviço desde que não aos interesses pessoais do proprie-tário. Ademais, a destinação deve ser partir do proprietário e deve ter um caráter permanente

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e, dessa destinação, haja a possibilidade venha a existir relação local do imóvel com a coisa em questão. Não obstante, ao se abordar idealização, estes bens não podem ser definitivamen-te imobilizados, definitivamen-tendo a faculdade de a qualquer definitivamen-tempo, definitivamen-terem readquirido a condição de coi-sas móveis, em decorrência de alienação sem que seja ressalvada a categoria de imóveis des-tes bens, presumindo-se que tal alienação venha a englobar esdes-tes objetos (RODRIGUES, 2003).

d) Encontra-se no art. 44, I e III e, ainda, na Súmula 329, STF, aqueles bens imóveis por determinação legal, que são definidos como os direitos reais sobre imóveis (usufruto, ha-bitação, uso, servidão predial, anticrese, enfiteuse), e também o penhor agrícola assim como e as ações que o asseguram; o direito a sucessão aberta e, adicionando-se, as apólices da dívida pública que sejam oneradas com a cláusula de inalienabilidade. Tais direitos são considerados bens incorpóreos, por força de lei são apontados legalmente imóveis com o intuito de recair uma maior proteção jurídica na sua aquisição e alienação.

Determinadas divergências entre imóveis e móveis devem ser observadas: classificam-se como aqueles que têm movimento próprio, ou podem classificam-ser classificam-semoventes (animais), ou tam-bém, movidos por força alheia. Já os bens imóveis não podem ser transportados de um lugar para outro sem que venha a ocasionar a deterioração ou destruição da coisa. A legislação civi-lista vem dispensando tratamento que pode ser assinalado nos seguintes termos: (I) – aqueles bens de natureza móvel que podem ser alienados sem necessidade de outorga do cônjuge, di-ferentemente dos bens imóveis, salvo em situação de regime de separação de bens, estes bens dependem desta formalidade conforme o art. 1647, CC; (II) – os bens móveis podem ser ad-quiridos, de maneira geral, pela tradição, como preconiza o art.1267, CC, enquanto os bens imóveis, pelo registro do título, no Cartório de Registro de Imóveis por foça do art.1227, CC); III – há diferenciação nos prazos de usucapião de bens móveis, sendo estes menores do que os previstos para bens imóveis; IV – quanto à incidência de tributos, na transmissão de bens imó-veis, seja por ato inter-vivos ou causa mortis, ambos os fatos são geradores de impostos (VE-NOSA, 2009).

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1.3 Limitações da Propriedade

O direito de propriedade em sua plenitude possui limitações por imposição legal, cons-tantes no direito privado como no direito público, quando a matéria é disciplinada em ambas as áreas, sendo analisadas na sequência.

1.3.1 Direito público

A Constituição Federal de 1988, em seu art. 5º, caput e seguintes, explana sobre a consagração do direito da propriedade: “é garantido o direito de propriedade” e, também, determina que a propriedade deve atender a sua função social. Ao ser firmado pelo Legislador a preocupação em não somente assegurar o direito de poder cada cidadão ter sua própria moradia, mas, também, que a mesma seja utilizada adequadamente em sociedade, sendo respeitados os direitos dos demais indivíduos, consciente de seus deveres e direitos, de maneira harmônica, o uso responsável da propriedade, com fulcro no atingimento dos seus interesses com a coletividade e as diretrizes ambientais, exposto por Venosa (2009, p.172): “A Constituição Federal traça normas programáticas para a função sócias da propriedade.”

Como base aos institutos existentes que protegem os direitos e garantias fundamentais dos brasileiros, em nossa Carta Magna, estão insertos princípios que servem de mecanismo de ligação entre a lei, a jurisprudência e a doutrina e, desta maneira, que haja um julgamento equânime e justo. Também, caracteriza-se pela possibilidade de oposição e contradição entre estes, em institutos do direito que podem ser encontrados diversos princípios embasando a matéria, adquirindo o sentido de combinação, de restrições recíprocas e de complementação, utilizando-se quantos princípios forem precisos para solucionar um conflito existente, possibi-litando a efetivação dos princípios, em cujos valores contidos nas regras ou normas, ou seja, a norma, em seu conteúdo material, onde o caso concreto coaduna-se a correta aplicação desta (VENOSA, 2009).

As garantias e direitos deliberados no art. 5° da Constituição Federal são produtos de princípios norteadores. Servem de manutenção e fundamentação das garantias dispostos no artigo supra, para o direito de propriedade, dentre eles o princípio da dignidade da pessoa hu-mana e, precipuamente, o princípio da igualdade. Ao se falar de igualdade, busca-se a

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isono-mia ante a lei, ao tratamento igual aos iguais e, desigual, aos desiguais, buscando alcançar a equidade, como se preceitua no art. 5°, caput, da CB/88. O princípio da dignidade da pessoa humana, ante a condição do indivíduo sem propriedade imobiliária, se faz relativizado dentro do seio social. Portanto, indispensável é a garantia não apenas do direito à vida, mas à igual-dade, liberigual-dade, assim como o direito à proprieigual-dade, defendendo-se sempre o regramento des-ta propriedade inserido nos elementos constituidores da função social.

Podem ser classificadas pelo seu fundamento, fonte e extensão, as limitações, bem como podem ter caráter legal, decorrentes da lei, ou mesmo dos princípios gerais do direito e da externalização da vontade do proprietário. Em relação às fontes, observamos as legais, as voluntárias e as jurídicas, em relação a extensão, podendo atingir o direito em si, por meio de desapropriação ou outra das faculdades do direito de propriedade e, concluindo, segundo o fundamento, incluem o interesse público em detrimento ao interesse do particular, relativizan-do o direito de propriedade e suas características.

Um dos limitadores do direito urbanístico é um dos limitadores ao direito de proprie-dade, com normas impositivas, de exigência estatal em defesa do interesse público sobre o in-teresse particular, havendo o poder de império do Estado sobre os súditos ao se buscar o res-peito à função social da propriedade, na conservação do meio ambiente, no direito de moradia de cada indivíduo, ou mesmo, na forma de organização do desenvolvimento urbano. Existente na Constituição de 1988, o art. 24, I, concede à União, aos Estados e ao Distrito Federal, a permissão de legislarem de forma concorrente no que concerne ao direito urbanístico, assim como, no art. 30, VIII, aos Municípios com fito ao planejamento, da divisão e da ocupação do solo urbano, assim como, do controle do uso, baseando-se em ditames que são editáveis em planos diretores com o intuito de que as áreas urbanas cresçam ordenadamente, com base na Lei Federal n. 10.257/2001, conhecido como o Estatuto da Cidade.

Passível de intervenção estatal na propriedade privada, e, também, em atividades eco-nômicas buscando o bem-estar da coletividade, observando aos limites constitucionais que ve-nham a ampara o interesse público e hajam garantidos os direitos privados. Caso esteja cum-prindo a função social, intervém-se embasados na supremacia do interesse público sobre o privado, desde que com prévia e justa indenização em moeda corrente. Também, havendo de-sapropriação por utilidade pública ou necessidade, ressalvados os casos determinados no art. 5º, XXIV, CB. Caso a propriedade não esteja cumprindo a sua função social, poderá haver a

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intervenção como penalidade ao proprietário, ensejando em perda da titularidade da coisa, in-denizável por meio de títulos da dívida pública.

1.3.2 Direito privado

O direito de propriedade tem suas limitações dentro do ramo do direito privado, como encontrado em nosso Código Civil, nos artigos 1.277 a 1.313. A intensidade de seu exercício destes direitos são restringíveis, conforme os artigos 1.277 a 1.281, CC, disciplinando o uso anormal da propriedade, assim como os artigos 1.282 a 1.296, do mesmo diploma legal, onde encontramos as limitações legais referentes à servidão, delineando questões concernentes a passagem forçada, árvores limítrofes, passagem de cabo, tubulações e águas, finalizando ao se destacar restrições que venham a ser provenientes das relações limítrofes entre dois imóveis segundo os 1.297 a 1.313, do CC. Assim também, definindo situações de limites entre pré-dios, possibilidade de construção e do direito de passagem. Há que se frisar que o vizinho atingido não será, necessariamente, aquele contíguo, sendo que o espectro de pessoas que são atingidas varia pelo grau de incômodo e natureza da perturbação (VENOSA, 2009).

Nascendo, conjuntamente ao próprio direito de propriedade, dentro no nosso moderno ordenamento jurídico, surgem as limitações à propriedade, inerentemente, em favor do inte-resse social e, também, calcado no individual. Objetiva a coexistência dentro do seio social, buscando a convivência harmônica, motivada pela boa-fé e confiança (. Caso não houvesse a proteção do ordenamento no que concerne ao direito de vizinhança, disso resultaria em um choque entre as várias faculdades e, consequentemente, destruição destas.

Impostas as limitações, como condição de obrigação, permitem que certos atos sejam praticados pelo vizinho, proibindo a ação de outros, gerando obrigações “propter rem”, ou seja, aquelas que seguem a coisa, ligando aquele que se encontre no status de vizinho sendo transmitida ao sucessor mediante um título. Estas limitações, com vistas impedir atos danosos, como definido do art. 159, CC, mesmo que não viesse a existir o art. 554, do mesmo diploma legal, o prejudicado poderia buscar guarida judicial, forte no art. 159, CC, ao garantir o direito à indenização. São considerados abusivos, embora os incômodos provenientes estejam dentro encerrados nos limites de sua propriedade, aqueles que vierem a causar prejuízos ao lindeiro, tais como o barulho excessivo e, também, aqueles atos lesivos que lhes causam, mesmo que não seja simplesmente por força do “mau uso” ou, como definido, haja o simples uso anormal

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de sua propriedade e, também, a atividade possua autorização por alvará válido, como um co-mércio ou indústria.

Necessário que sejam feitas análises para distinguir entre anormalidade ou normalida-de normalida-de utilização normalida-de um bem imóvel. A extensão do dano ou ao incômodo que venha a ser cau-sado, se encontra no limite de tolerância, por meio de perícia, onde ocorre o conflito, bem como, atrelado aos usos e costumes locais e, também, exame da anterioridade da posse, dentro do princípio de que não se deve reclamar quando se constrói em locais que já são ruidosos ou notoriamente perigosos, sendo que tal construção ou aquisição do imóvel, por parte do propri-etário, enseja em anuência tácita. Nessa perspectiva, possuímos a Teoria da pré-ocupação quando aquele que primeiro se instala em certo imóvel ou local, de alguma maneira, define sua destinação tendo que, portanto, tendo certa reserva em sua aceitação, dentro da razoabili-dade, não podendo ser aplicada na totalidade dos casos, posto que resultaria em uma proibição legal ou incômodo demasiado (VENOSA, 2009).

O incômodo quando ele é tolerável, dentro de um padrão de normalidade, não deve ser reprimido, tendo que ser avaliando os danos, sendo suportáveis ou não, ou caso o dano seja ir-repreensível, deverá inicialmente ser determinada sua redução a uma proporção normal, caso não seja possível dirimir a perturbação a níveis suportáveis, com o uso de medidas cabíveis e adequadas, determinará a cessação da atividade (RODRIGUES, 2003). Caso a causadora do incomodo seja uma indústria ou qualquer atividade de interesse social, não será determinada sua cessação ou encerramento da atividade e, caso não possa ser reduzido, o vizinho deverá ser indenizado.

Os artigos 1.282 a 1.284, do CC, são encontradas as limitações legais no que tange às servidões, referentes às árvores limítrofes. Árvores, com troncos na linha limítrofe, presu-mem-se, relativamente, que venham a pertencer a ambos aos lindeiros, acrescentando Venosa (2004, p. 291) “pertencendo à árvore aos confinantes, cabem-lhes as despesas de conservação e colheita, podendo aquele que gastou cobrar do vizinho a metade”, contudo, um dos confi-nantes pode via a demonstrar a propriedade exclusiva. Segundo o art. 1.284 CC, no que con-cerne aos frutos das árvores que, de maneira natural, venham a cair no terreno do vizinho per-tence a este. Entretanto, se a queda for provocada, deve ser considerada ilícita. Finalizando, o art. 1.283 CC dispõe, relativo a ramos das árvores e suas raízes, que poderão, pelo lindeiro, serem cortadas, até a linha imaginária de divisão do terreno.

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Por atender o interesse social a passagem forçada pode ser exercitável contra o vizinho que não seja imediato e contra o proprietário limítrofe. O direito de passagem viria a existir ao ser constatar absoluta e natural a existência de encravamento. Este direito corresponde a uma desapropriação do interesse do particular, com possibilidade de indenização ao proprietário, quando este tenha o prédio onerado pela dita servidão (WAQUIN, 2017).

Passagem de tubulações e cabos, conforme os artigos 1.286 a 1.287, do CC, que resul-tam em desvalorização ou transtornos do imóvel, caberá ao proprietário ser indenizado. Este também pode reivindicar que a instalação venha a causar menos danos ao seu prédio, existin-do limitações na finalidade de utilização pública, na utilização existin-do prédio serviente, objetivan-do o bem da coletividade. Contuobjetivan-do, o objetivan-dono não perde a titularidade objetivan-do imóvel, tenobjetivan-do apenas que suportar determinadas ações públicas, sobre a égide da função social da sociedade. No que se refere a questão das águas, de vital importância para a vida em sociedade, o legislador criou o Código de Águas, que doutrinariamente, conforme Venosa (2009, p. 297) salienta “é fundamental que todo Estado regularmente seu uso para preservar a atual e as futuras gera-ções [...] O direito de vizinhança é, na verdade, apenas parte de um questionamento global em torno das águas.” Portanto, no que tange às águas pluviais, o prédio em nível inferior está em obrigação de captar aquelas águas que fluam naturalmente, não praticando atos que venham a prejudicar o seu vizinho. Contudo, a questão da água, na seara privada, faz-se necessária a análise de sua finalidade social e sua correta utilização (MONTEIRO, 2003).

O limite entre prédios nasce a demarcação ao estipular os marcos e delimitando os confinantes. Havendo confusão quanto aos limites a ação, a ação judicial cabível é a demarca-tória, com o fito do autor obter restituição de áreas usurpadas ou invadidas, necessário que ve-nha a cumulá-la com a reivindicatória ou a possessória (MONTEIRO, 2003). O direito de construir, ao ocorrer o dano, para a obtenção de indenização, bastante provar-se o dano ao bem assim como a relação de causalidade entre este e a construção vizinha, ensejando na res-ponsabilização cível objetiva, indiferentemente da demonstração de culpa do agente. Ade-mais, para a resolução de conflitos de vizinhança provenientes de construção, utiliza-se da ação cominatória, de nunciação obra nova, demolitória, caução de dano infecto entre tantos outros (WAQUIN, 2017).

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Por outro lado, é por meio da ação cominatória que o réu impõe à obrigação de se abs-ter de praticar atos que venham a prejudicar o seu vizinho ou, também, a possibilidade de to-mar medidas adequadas para a solução do incômodo ao ser penalizado por astreintes, ou paga-mento de multas periódicas, conforme o artigo art. 537, CPC. A ação em copaga-mento pode ser in-gressada em juízo pelo proprietário, como também pelo compromissário comprador, inquili-no, titular do direito real, sendo que caberá ação de ressarcimento nos casos em que o dano seja consumado. Há, também, a caução pelo dano iminente, que ocorre quando o vizinho ve-nha a exigir que o outro polo processual veve-nha a prestar caução pelo dano iminente, por força do art. 1280, do CPC. Tal caução é conhecida como “caução de dano infecto”, podendo exigir reparação de construção em ruínas ou mover ação cominatória contra o proprietário negligen-te, em ação demolitória (WAQUIN, 2017).

Os bens que são protegidos nas relações entre vizinhos, com fulcro no artigo 1.277, CC, são a segurança, que pode consistir em ameaça ou ofensa à segurança pessoal ou dos bens a exploração de indústrias de inflamáveis, explosivos, ou outros agentes que ensejem pe-riclitação; a saúde, pelo depósito de lixo, emanação de gazes tóxicos, dentre outros e o sosse-go tais como ruídos excessivos ou em horários impróprios. Tais bens tutelados no relaciona-mento entre lindeiros serão estudados, detalhadamente, no segundo capítuloF.

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2. O USO ANORMAL DA PROPRIEDADE IMOBILIÁRIA E SEUS BENS TUTELADOS

O uso anormal da propriedade se evidencia com a ofensa a bens tutelados é reprimido no Código Civil de 2002. Com base no artigo 1.277 e, para que seja constatado é necessário a observância da tolerabilidade, o exagero que ultrapasse os limites de normalidade da vida cotidiana, verificando necessariamente há presença do interesse público, sendo que o direito da qualidade de vizinhos e não, inerentemente, da propriedade (VENOSA, 2009).

Ao juiz caberá observar o caso concreto e o com o seu bom senso, decidir a lide, analisando, o critério da “pré-ocupação” ao se deparar com uma norma muito ampla. Caso um morador vá morar próximo a um aviário, o incômodo deverá ser aguentado, todavia, se surgir um filtro comercializável que seja capaz de reduzir a emissão de poluentes que são lançados no ar, o juiz poderá, em decisão fundamentada, ordenar sua instalação. Também como o critério objetivo que ajuda na análise é a destinação do local: se social, residencial, comercial ou industrial. Em vários casos práticos estes bens tutelados, se interligam, um levando ao outro. Todavia, cada um possui suas próprias características, sendo necessário um estudo profundado que passa a ser objeto de estudo neste capítulo.

2.1 Segurança

A ofensa a segurança conecta-se a exclusão de qualquer tipo de ultraje no patrimônio e da pessoa. Terá o proprietário direito de ir ao judiciário e buscar proteção, disponível à coleti-vidade, para se colocar a salvo de lesão e, consequentemente, ao ser atingido ou ameaçado. Isto pode ser observado, quando a estabilidade de determinado prédio está em risco ou existe iminente situação que venha a afrontar a incolumidade dos moradores (MONTEIRO, 2003).

Resta disciplinado e protegido diploma civilista que a segurança pessoal e material, delimitada a prédio e às pessoas que nele residem ou transitem. Engloba tanto propriedades urbanas como rurais; o terreno em si, mesmo que não possua benfeitorias; habitações para utilização comercial, industrial ou agrária; tanto edificações acessórias como principais; complementos de construção assim como mobiliários (DINIZ, 2011). Quanto a vida urbana,

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tem em vista o aumento descontrolado das cidades grandes, com construções tornando-se mais concentradas, exigindo que o Poder Público tenha uma maios observância aos loteamentos, para que esta estruturação e elaboração, não ocasionem risco a segurança dos moradores, impedindo qualquer tipo de acidentes fatais.

Poderá o vizinho ofender à segurança de forma comissiva e de maneira omissiva. Para tanto, é necessário, que tal ação ou a inação determine um dano efetivo ou que faça surgir um fato que cause risco ao prédio limítrofe ou à integridade de seus moradores ou os que ali frequentem. Resultando, portanto, em ofensas, de maneira que as ações que resultem em danos aos alicerces da construção, explosões, trepidações, abalos sísmicos, remoção da terra, escavações profundas, grandes árvores que possam representar uma ameaça ao imóvel vizinho, com a possibilidade de prejudicar fisicamente edificações e causar dano aos seus moradores.

O vizinho pode ter condutas inconvenientes vindo caracterizar o uso nocivo da propriedade, capazes de resultar ofensa a segurança. Podem ocorrer quando o mesmo promove reuniões com pessoas de má índole, agrupamento de ébrios e drogados, passagem de trânsito com congestão ou, qualquer situação que comprometa a segurança do local. Tais circunstâncias, podem tirar a tranquilidade dos moradores, colocando a vizinhança em situação de medo, insegurança e vulnerabilidade.

Circunstância corriqueira em grandes centros urbanos são construções com escavações irresponsáveis que afetam a segurança do lindeiro. As mesmas, dependendo de sua profundidade e execução, prejudicam o imóvel confrontante em sua fundação, resultando em intempéries, como colônias de fungos, ácaros, aparecimento de rachaduras, umidade, fazendo na produção de um ambiente insalubre, contribuindo para o aparecimento de ondulações no solo e incorrendo em risco de desmoronamento. Tudo isso provoca queda e desvalorização do bem imóvel, possuindo o proprietário, direito a cabível indenização. O artigo 1.299, CC, determina que o direito de construir, deve se pautar quando “o proprietário pode levantar em seu terreno as construções que lhe aprouver, salvo o direito dos vizinhos e os regularmente administrativos.”

Exemplificando, caso que ocorreu com moradores de em um prédio residencial na cidade de São Paulo. Este de 24 (vinte e quatro) andares entrou incendiou-se. O prédio era

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uma ocupação irregular que desabou ante o aquecimento de suas estruturas por causa do fogo. Peritos do Instituto de Criminalística da São Paulo analisaram dois botijões de gás e outros objetos encontrados para tentar descobrir como as chamas começaram. Os moradores relataram momentos de pânico ao serem surpreendidos na madrugada pelo prédio em chamas. Número de mortos não havia sido devidamente contabilizado. A queda do prédio veio a destruir uma igreja Luterana que era imóvel lindeiro. O Poder Público permitiu que um imóvel de 24 (vinte e quatro) andares viesse a ser erguido e ocupado irregularmente, causando uma tragédia sem precedentes e perturbação aos imóveis lindeiros.

Um prédio de 24 andares pegou fogo e desabou na região do Largo do Paissandu, no Centro de São Paulo, na madrugada desta terça-feira (1º). O local era uma ocupação irregular, e moradores afirmam que o fogo começou por volta da 1h30 no 5º andar e se espalhou rapidamente pela estrutura[...] A região está isolada, há interdições no trânsito e linhas de ônibus foram desviadas. A queda do prédio destruiu também grande parte de uma Igreja Luterana. (G1, 2018).

Tramitou na Comarca de Porto Alegre, exemplo de processo oriundo de ofensa à segu-rança da vizinhança, que culminou na indenização dos proprietários quando ocorreu uso anor-mal de propriedade pela construção em prédio que gerou incômodos anormais ao imóvel vizi-nho, causando danos no recalque da fundação. Restou provado, por laudo pericial, que a obra da construtora casou os danos ao vizinho e, considerando as peculiaridades do caso concreto, houve abalo ao direito da personalidade, ensejando cabimento de indenização por danos mo-rais por ferir direito de personalidade.

EMENTA: APELAÇÕES CÍVEIS. NUNCIAÇÃO DE OBRA NOVA. AÇÃO DE NUNCIAÇÃO DE OBRA NOVA COM PEDIDO DE INDENIZAÇÃO POR PER-DAS E DANOS. GRATUIDADE DA JUSTIÇA DEFERIDA AOS DEMANDAN-TES. MANUTENÇÃO. PEDIDO DE ALUGUERES. INOVAÇAO RECURSAL. RECURSO DOS AUTORES NÃO CONHECIDO NO PONTO. DANOS MATERI-AIS. PROVA PERICIAL. COMPROVAÇÃO. INDENIZAÇÃO. CABIMENTO. DANOS MORAIS. QUANTUM MANUTENÇÃO. SENTENÇA MANTIDA. I. As relações de vizinhança trazem ínsitas à sua essência um limite de tolerância, uma margem de incômodo imposta a quem vive em sociedade. Contudo, o abuso do reito de propriedade, causando danos aos vizinhos, configura, em tese, violação a di-reito de vizinhança. Caso em que o uso normal do didi-reito de propriedade (didi-reito de construir) gerou incômodos anormais ao imóvel lindeiro (recalque de fundação), ra-zão pela qual cabível a pretensão de reparação indenizatória. II. Não conhecido pedi-do de indenização pelo períopedi-do em que os autores estiveram impossibilitapedi-dos de alu-gar o imóvel, porquanto caracterizada inovação recursal. III. Conjunto fático-proba-tório apto a confirmar que a obra da construtora ré causou danos na residência dos autores, devendo ser mantido o julgamento de parcial procedência do pedido de nos materiais, adstrito às ocorrências verificadas na perícia. IV. Caso em que os da-nos constatados no laudo pericial extrapolam o mero dissabor e são suficientes a ca-racterizar abalo ao direito da personalidade, devendo ser mantida a procedência do pedido indenizatório por danos extrapatrimonias. V. Quantum indenizatório mantido, considerando as circunstâncias e as peculiaridades do caso concreto. APELO DA RÉ DESPROVIDO. APELO DA AUTORA PARCIALMENTE CONHECIDO E, NES-TA PARTE, DESPROVIDO. UNÂNIME. (Apelação Cível Nº 70076698075,

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Déci-ma SétiDéci-ma CâDéci-mara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Liege Puricelli Pires, Julgado em 29/03/2018).

Obras públicas também podem causar lesões a vizinhos. Para ilustrar, a criação de galeria de água decorrente de chuvas por fracionamento de uma rua, diminuição do nível do leito da via pública, que vem a prejudicar os prédios construídos da vizinhança, árvores nas vias públicas, podendo causar transtornos aos imóveis vizinhos. Portanto, deverá o Poder Público promover ações para inibir perturbações que atingem a coletividade, via representações de moradores acometidos ou até mesmo de ofício, objetivando diminuir as lides (MONTEIRO, 2003).

Entretanto, estando o ente público no polo passivo da ação judicial, apura-se, por responsabilidade objetiva do Estado, mesmo que na ação cuja a finalidade é a satisfação da coletividade, não há que se furtar da indenização pelo dano causado ao particular. No recurso de apelação abaixo, julgado pela Nona Câmara Cível do Tribunal de Justiça do RS, provou-se, no curso do processo, negligência por parte de empresa contratada para realizar obras de instalação de semáforo, causando perfuração de cano de água que veio a alagar a residência da autora, causando-lhe desconforto e caracterização de dano moral passível de indenização:

EMENTA:RESPONSABILIDADE CIVIL. OBRA PÚBLICA. EMPRESA PRIVA-DA. DANOS. RESPONSABILIDADE SOLIDÁRIA DA EMPRESA PÚBLICA E DA EMPREITEIRA. 1. -A prova produzida nos autos permite concluir que os danos ocasionados decorreram de conduta imprudente e negligente da empresa contratada. 2. -A empresa contratada ao realizar obras de instalação de semáforo não teve os cuidados necessários para evitar a perfuração de cano de água, circunstância plena-mente previsível e evitável. 3. -O alagamento da residência da autora acarretou situ-ação de desconforto que permite a caracterizsitu-ação de dano moral passível de indeni-zação. 4. Circunstâncias e as consequências permitem a elevação da indenização por dano moral para R$12.000,00 Recurso de apelação não provido e recuso adesivo provido. (Apelação Cível Nº 70076116243, Nona Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Eduardo Kraemer, Julgado em 25/04/2018).

. Portanto, há responsabilidade solidária da empresa contratada e do Poder Público, no caso, a Empresa Pública de Transporte e Circulação, do Município de Porto Alegre.

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2.2 Sossego

O sossego está incluso entre os direitos da personalidade, constituindo bem jurídico inestimável, ligado com o direito à privacidade. Este direito é protegido por lei abrangendo os cidadãos: concentração, repouso e estado de quietação necessário ao descanso. Não necessari-amente o silêncio absoluto, mas existem fatos que perturbam o sossego que ultrapassam os li-mites do tolerável em período diurno atribuído ao repouso e não ao trabalho. Sendo um estado equivalente nestas relações de vizinhança, deve-se observar o fato concreto com devida vênia, verificando a ocorrência de normalidade ou anormalidade, a depender do local da moradia, horário e demais detalhes como: natureza da utilização, regras municipais, usos do local e costumes do meio, interesses coletivos presentes e outros (JÚNIOR, 1997).

Direitos individuais protegidos constitucionalmente que ferem o psíquico do homem, ofendem sua integridade moral, sua intimidade, à imagem e a incolumidade mental, são bens jurídicos violados. Uma determinada tranquilidade em seu lar, é um direito dos moradores em sua residência independente do horário. Esta agressão poderá acarretar um desgaste à paz do indivíduo, vindo a comprometer a própria segurança e, principalmente, sua saúde. Esta será acometida com surgimento de doenças físicas e psicológicas, resultando com indivíduos nervosos e estressados e, várias vezes, de forma indireta, prejuízos econômicos, com baixa na produtividade dos afetados. Portanto toda a sociedade é afetada diante das características negativas existentes nas relações pessoais e na qualidade de vida dos afetados (WAQUIN, 2017).

Podem ser observadas, nas mais variadas circunstâncias, cada uma com sua peculiaridade, diversas ofensas ao sossego. Os grandes centros estão cada vez mais populosos e possuir problema com vizinho que produz barulho afeta várias pessoas, e, mesmo quem ainda não passou por essa situação está sujeito a passar. Os princípios de uma boa vizinhança, na maioria das vezes, não são observados, sendo de extrema importância sua observância, com respeito recíproco, para uma boa convivência. Quando os limites são extrapolados, terá o proprietário ou o inquilino direito de junto ao Judiciário, buscar proteção para eliminar os efeitos de atos que prejudicam o convívio social (VENOSA, 2009).

Em geral, o sossego é ofendido por fatos que resultam de barulhos, ruídos insuportáveis e exagerados, que usurpam a tranquilidade dos moradores. Podem ser citados

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alguns exemplos como, festas noturnas tendo o som muito alto, realizadas pelo vizinho, morador ou casas noturnas, gritarias, alto-falantes, máquinas das indústrias, badalar dos sinos nas igrejas etc.

Observa-se entre os próprios moradores a ofensa, não sendo apenas nos prédios e edificações confinantes, os mesmos usam de forma anormal, sua propriedade, resultando incômodo ao seu vizinho. Esta é causada até mesmo com simples arrastar de calçados e móveis, e até de maneira mais significantes, gritarias, festas, volume auto de aparelhos eletrônicos, e diversas outras atitudes. Estes inconvenientes tentam ser resolvidos com regras entre os próprios moradores que, ao não ser seguido, resultam em conflitos encaminhados para o Judiciário e uma real solução (WAQUIN, 2017).

Um exemplo é o processo que foi julgado pela décima sétima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul que tramitou na Comarca de Erechim, onde restou comprovado o uso anormal da propriedade que resultou em incômodo da vizinhança, perturbando o sossego e dano à personalidade, além de impingir ofensas verbais e música com volume acima do permitido. No decorrer do processo, demonstrou-se o uso anormal da propriedade pela parte ré por meio de provas documentais e testemunhal, resultando em uma sentença favorável, condenando o polo passivo a pagar danos morais, materiais e obrigação de não fazer, embasado no art. 1277 do CC, sendo mantida a decisão em grau de recurso.

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITOS DE VIZINHANÇA. AÇÃO COMI-NATÓRIA. USO ANORMAL DA PROPRIEDADE. PERTURBAÇÃO AO SOS-SEGO, AMEAÇAS, OFENSAS VERBAIS. DANO MORAL CONFIGURADO. Comprovado nos autos a ocorrência de uso anormal da propriedade, em vista da per-turbação ao sossego, ameaças, ofensas verbais e dano aos direitos à personalidade, correta é a sentença que condenou a parte ré ao pagamento de indenização por danos morais, materiais e em obrigação de não fazer. embasada no artigo 1.277 do CC. APELO DESPROVIDO. (Apelação Cível Nº 70075988808, Décima Sétima Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Gelson Rolim Stocker, Julgado em 07/03/2018).

Várias vezes, cultos religiosos que são um direito fundamental, previsto no artigo 5º, inciso VI, da Constituição, afetam o sossego dos moradores ao redor do templo onde se realiza. Em determinados momentos das manifestações religiosas, liturgias, canto com instrumentos musicais, chegando a ultrapassar os limites, em decibéis, estabelecidos em lei (WAQUIN, 2017). Para que este problema seja solucionado, deve ocorrer a instalação de revestimento acústico, forro especial que evite a propagação do som, para evitar o pagamento de indenização aos afetados. Em suma, a legislação protege o exercício de cultos, mas este

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deve ser efetuado sem ferir outros dispositivos legais.

Exemplificando, ao ser analisado, um processo que veio a tramitar na Comarca de Canoas/RS, tendo no polo passivo uma igreja. De acordo com as aferições da perícia técnica, foram registrados níveis de ruído acima do que é legalmente permitido nos horários de culto. Esta instituição religiosa foi condenada em obrigação de fazer de interrupção de suas atividades até a regularização da situação, ou seja, isolamento acústico devido à perturbação do sossego que ocorria em dias de culto sendo que, o Judiciário, em segunda instância manteve a decisão do juiz singular.

EMENTA: AÇÃO DE REPARAÇÃO DE DANOS CUMULADA COM OBRIGA-ÇÃO DE FAZER. IGREJA QUE REALIZA CULTOS NOTURNOS, SEM A DEVI-DA ESTRUTURA. 1. Insurge-se a parte autora contra a utilização de um prédio como templo evangélico aos fundos de sua casa, afirmando que os cultos ali realiza-dos têm perturbado, em horários impróprios, a tranqüilidade de seu lar. Postula, em vista do ocorrido, a suspensão dos cultos, ou determinação para que o local seja ade-quado, bem como indenização por danos morais. Adveio sentença, no sentido da procedência, condenando a ré a isolar acusticamente o local, sob pena de multa diá-ria, bem como ao pagamento de indenização pelos danos morais causados, fixados em R$ 1.000,00. Irresignada. Recorre a ré. 2. Não merece qualquer reparo a bem lançada sentença, visto que os transtornos suportados pelo autor restaram devida-mente evidenciados (depoimento a fls. 29). 3. Pouco razoável a argumentação da re-corrente de que improcede a ação apenas pelo fato de que estaria cumprindo o horá-rio de repouso estabelecido em lei, visto que aos ditames legais não se sobrepõem os princípios inerentes ao ordenamento jurídico, sendo possível no caso a aplicação da razoabilidade. 4. Nessa senda, irrazoável que se exija que suporte o autor, por reite-radas vezes na semana, a realização de cultos, de elevada exaltação, com inegável perturbação do sossego. É de se referir que o local onde se encontra instalado o Templo é zona residencial de baixa renda, sendo os prédios muito próximos uns dos outros. 5. Por certo, antes de proceder na instalação do Templo no local, deveria ter verificado as condições de acústica no local. Da forma como se encontra a Igreja, com finas paredes de maneira a separar os sons produzidos da parte externa, presu-mível que o transtorno ocasionado aos autores ultrapasse o mero dissabor. RECUR-SO DESPROVIDO. (Recurso Cível Nº 71002731966, Primeira Turma Recursal Cí-vel, Turmas Recursais, Relator: Leandro Raul Klippel, Julgado em 09/09/2010). As aglomerações são situações suscetíveis de haver perturbações de sossego, quando não observadas as regras contidas no ordenamento pátrio. Como exemplo, as festas universitárias. Normalmente, nestes ambientes, a altura máxima do som não é, de pronto, respeitada, podendo vir a importunar os vizinhos, principalmente no período noturno ou de descanso. Tais festas, não permitem a seus frequentadores que venham a desrespeitar os limites tolerados, ocasionando em ilícito, ferindo os direitos de vizinhança. No Recurso Inominado abaixo citado, do processo que tramitou na Comarca de Santa Maria/RS, trata de recurso inominado sobre limitações acerca do nível de emissão sonora produzida na “Festa dos Bixos”:

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EMENTA: RECURSO INOMINADO. MUNICÍPIO DE SANTA MARIA E ESTA-DO ESTA-DO RIO GRANDE ESTA-DO SUL. PRETENSÃO INDENIZATÓRIA. "FESTA ESTA-DOS BIXOS". PERTURBAÇÃO DO SOSSEGO E DA TRANQUILIDADE PÚBLICA. ALEGAÇÃO DE OMISSÃO DO PODER PÚBLICO. AUSÊNCIA DE COMPRO-VAÇÃO SUFICIENTE. SENTENÇA CONFIRMADA. A responsabilidade civil do Estado é, em regra, objetiva, em razão da adoção da Teoria do Risco Administrativo pelo artigo 37, § 6º, da CRFB. Por outro lado, haja vista que nem toda conduta omis-siva do Estado revela desídia estatal no cumprimento de um dever legal, a responsa-bilidade civil do Estado em caso de omissão só se verificará quando a reconstrução fática retratar a presença dos elementos da culpa lato sensu, ou, na linha da dogmáti-ca francesa representada pela teoria da falta do serviço (faute du service), a demons-tração de que houve culpa administrativa . No caso dos autos, todavia, a prova pro-duzida é meramente indiciária e genérica, prestando apenas para confirmar a dimen-são da "Festa dos Bixos" - evento que ocorre na Praça Saturnino de Brito, para a re-cepção dos novos alunos da Universidade Federal de Santa Maria - e que se cuida de acontecimento propício à toda sorte de perturbações comuns a quaisquer festas de jovens desenvolvidas em grandes proporções e em ambiente aberto. Diante do con-texto probatório produzido, resta aplicar-se ao caso a regra de julgamento prevista no artigo 373, I, do Código de Processo Civil, segundo a interpretação da qual arcará a parte autora com a situação processual desfavorável pela não comprovação dos fa-tos constitutivos do direito afirmado. RECURSO INOMINADO DESPROVIDO. UNÂNIME. (Recurso Cível Nº 71006669840, Segunda Turma Recursal da Fazenda Pública, Turmas Recursais, Relator: Mauro Caum Gonçalves, Julgado em 28/09/2017).

Há que se ressaltar que, em havendo a diminuição da perturbação, a delimitação e estipulação, em termos dos ruídos produzidos, deve observar que a tolerância à percepção deste abuso varia entre as pessoas envolvidas, dentre os habitantes da vizinhança. A tolerabilidade determina, no ordenamento jurídico brasileiro, regulamentações referentes aos diversos níveis de emissão de ruídos. Como exemplo, a Resolução N.º 1, de 1990, do Conselho Nacional de Meio Ambiente, vincula as normas da ABNT: NBR 10151/80, conforme os itens I e II, restando aos municípios que venham a elabor suas próprias regras, com fulcro na Carta Magna. Abaixo, processo proveniente da Comarca de Passo Fundo/RS, tratando-se de ação de indenização que consistia em indenização por danos morais sofridos pela emissão de ruídos oriundos do imóvel vizinho. Contudo, o réu teve seu recurso parcialmente provido,

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. MEIO AMBIENTE. POLUIÇÃO SONORA. NECESSI-DADE DE REGULARIZAÇÃO DO LOCAL. 1. A Constituição Federal, em seu ar-tigo 225, consagra o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado como bem de uso do povo e essencial à qualidade vida. 2. A Lei nº 6.938/81, ao dispor so-bre a Política Nacional do Meio Ambiente, caracteriza como degradação ambiental a poluição que lese a saúde e a segurança e, também, o bem-estar da população. 3. No caso, restou demonstrado o abuso sonoro das atividades realizadas no empreendi-mento, conforme verificado em auto de constatação ambiental realizado pelo 3º Ba-talhão Ambiental da Brigada Militar. 4. Não há dúvidas de que as atividades realiza-das pelo estabelecimento causam danos ao meio ambiente, perturbação do sossego e deterioração da qualidade de vida e da saúde dos moradores das imediações. 5. Des-ta feiDes-ta, diante da inadequação do esDes-tabelecimento, impõe-se a manutenção da

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deci-são que determinou o encerramento das atividades da demandada utilizando apare-lhagem sonora ou instrumentos musicais, com som mecânico ou ao vivo, até que suas dependências estejam adequadas quanto à contenção acústica ou sem qualquer equipamento sonoro, em conformidade com a legislação que regulamenta a matéria. 6. Merece adequação a cláusula referente à multa, que deverá incidir a cada evento, mantido o quantum fixado de R$ 2.000,00 (dois mil reais). RECURSO PARCIAL-MENTE PROVIDO. (Apelação Cível Nº 70078151735, Primeira Câmara Cível, Tri-bunal de Justiça do RS, Relator: Sergio Luiz Grassi Beck, Julgado em 26/09/2018). Os centros urbanos desafiam seus moradores com diversos problemas. Um dos principais são aqueles decorrentes do uso anormal das propriedades comerciais, tais como casas de espetáculos, bares, danceterias, que podem ocasionar perturbação aos seus vizinhos, tanto no volume de som produzido quanto no horário indevido, já que estas atividades comercias, essencialmente, acontecem no período noturno. Abaixo, colacionada jurisprudência oriunda da comarca de Santa Maria/RS, onde se pode notar que a casa noturna produzia poluição sonora em horário inadequado, tornando a circunvizinhança um ambiente insalubre pelo excesso de recursos de áudio nas apresentações

EMENTA: APELAÇÕES CÍVEIS. DIREITO PÚBLICO NÃO ESPECIFICADO. AMBIENTAL. DANCETERIA. BOATE. POLUIÇÃO SONORA E PERTURBA-ÇÃO DO SOSSEGO. ADEQUAPERTURBA-ÇÃO NO CURSO DAS AÇÕES. PERDA PARCI-AL DE OBJETO. TRANSTORNOS EM VIAS PÚBLICAS. ATRIBUIÇÃO DO PODER PÚBLICO. EXISTÊNCIA DE DIVERSOS OUTROS BARES, DANCE-TERIAS E BOATES NA REGIÃO. PROPRIETÁRIO DE IMÓVEL LOCADO POR UM DESSES ESTABELECIMENTOS QUE FIGURA NO PÓLO ATIVO DA AÇÃO PARTICULAR, IMPOSSIBILIDADADE DE ACOLHIMENTO DE INDE-NIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. Havendo comprovação que há poluição sonora decorrente da atividade desenvolvida pela ré, em face dos laudos da Brigada Militar, que detém presunção de legitimidade e de veracidade, apontando a necessidade de adequação acústica da demandada, em razão da desobediência das normas técnicas e legais, correta a parcial procedência das ações. Perda de parte do objeto das ações em razão de, no curso das ações, a ré ter feito as obras necessárias, aprovadas na úl-tima inspeção do 2º BABM. No que exceder os limites territoriais da demandada, eventuais problemas existentes deverão ser controlados pelo Poder Público, adotan-do posturas repressivas e preventivas, mediante fiscalização e sanção, ônus que não pode ser imposto ao particular. O fluxo intenso de veículos, algazarras, gritarias, ar-rancada de carros, dentre outros transtornos que ocorrerem à noite em Santa Maria na Rua Dr. Bozano e suas imediações, decorre do fato de ser área mista com voca-ção comercial e administrativa, possuindo inúmeros bares, boates, danceterias, além da ré, uma deles localizado apenas 260 metros da demandada, e cujo proprietário-locador é um dos autores da ação privada, não fazendo jus à indenização por danos morais, fixada apenas em seu favor, e ora afastada diante das particularidades do caso. Precedentes do TJRGS e STJ. Apelações providas em parte liminarmente. (Apelação Cível Nº 70060126976, Vigésima Segunda Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Carlos Eduardo Zietlow Duro, Julgado em 11/08/2014). Portanto, o processo em comento de fato determinou que houve perturbação do sossego e ordem pública, cabendo obrigação de não fazer.

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2.3 Saúde

Entranhados na proteção da segurança e do sossego, o legislador visou, também, a proteção do direito à saúde, pois este se relaciona de maneira íntima com aqueles, sendo que ao lesionar os dois primeiros, ocasiona algum reflexo negativo no direito à saúde. Ao proteger e resguardar a saúde dos elementos que compõe aquela vizinhança, limita-se as ações dos lindeiros que venha a arriscar a integridade psíquica, física e bem-estar de cada vizinho. Comprometem-se pois, os bens tutelados, quando os lindeiros são elementos geradores de efeitos que extrapolam os limites da salutar convivência, podendo ser alcançado por agentes biológicos, químicos, físicos ou até mesmo elementos psicológicos que vêm a induzir inquietação entre vizinhos ou perturbação do sossego (MONTEIRO, 2003).

Contudo, determinadas circunstâncias relativas às emissões de gases que possuem potencial poluente podem prevalecer com fulcro no interesse público que, excepcionalmente, pode impossibilitar a paralisação desta emissão. Ao particular que tenha este tipo de problema, poderá ter direito a indenização contabilizando-se a depreciação do bem assim como os distúrbios ocasionados na rotina do particular afetado, dentre outros fatores. Além de indenização poderá requerer a diminuição do incômodo o quanto for possível, ou seja, será indenizada e, também, terá direito de exigir que a perturbação seja a mínima possível (VENOSA, 2009).

Ademais, há que se falar em utilização correta dos resíduos que não venham a ocasionar interferência na vizinhança, onde os lindeiros devem conviver em harmonia. Quando do uso anormal da propriedade ocorrem ameaças à saúde dos vizinhos por negligência na gerência de resíduos, como os restos de alimentos, que exalam mau cheiro, o ordenamento jurídico deve permitir que se resolva o conflito. Pode ser citado, como exemplo, fato ocorrido na cidade de Cruz Alta/RS, onde morador ingressou na justiça contra sua vizinha que vinha utilizando seu pátio como depósito de materiais que ocasionaram interferências prejudiciais, como mau cheiro, umidade e insetos decorrentes, condenando a obrigação de fazer, trazendo risco a saúde dos vizinhos lindeiros.

EMENDA: APELAÇÃO CÍVEL. DIREITOS DE VIZINHANÇA. PRETENSÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. PÁTIO COM UMIDADE, MAU CHEIRO E INSETOS. USO ANORMAL DA PROPRIEDADE. ARTIGO 1.277 DO CÓDIGO CIVIL. DANO MORAL NÃO CONFIGURADO. Comprovado o uso anormal da propriedade pela ré, que vem utilizando seu pátio como depósito

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