I#
I.JRTSTICAKANTIANA
*
ZELJKO LOPARIC
Universidade Estadual de Campinas
1.
Kant
abordado desde umponto
de vßta heu¡ísticoSeria
diflcil
negar que, desdeo
colapso dopositivismo lógico,
há cerca de duas déca-das, afìlosofia
da ciência contemporânea está-se ressentindo de uma crise em seus fun-damentos. Recentemente vem sendo desenvolvida uma nova visão fìlosófica da ciência que encara estaúltima
como uma atividade de resolução de problemas. Essa nova visão da ciência, em discordância clara com a abordagem axiomática que dominou o positi-vismológico
desde os meados dos anostrinta,
sugere diversas linhas de pesquisa. Pode--setentar lucrar fìlosoficamente
com os resultados da teoria lógica da computabilidade e da solubilidade. Ou, então, desenvolver insights obtidos na psicologia cognitiva e pmestudos da inteligência
artifìcial.
A
lingülstica
contemporânea apresenta uma linha pa-ralela de reflexão sobre os nossos processos cognitivos superiores em geral. Ahistória
da ciência,por
sua vez, oferece oportunidades interesantes para estudos de casos, na resoluçÍÍo de problemascientlfìcos.
Finalmente, ahistórica
da epistemologia também pode trazer ensinamentos sobre a ciência como uma atividade da resolução de proble-mas.A
presente dissertaçãoconstitui
uma tentativa de exploração dessaúltima
sugestllo.Tendo
chegado à conclusão de queo
positivismológico
estámorto,
passei a me per-guntar comoteria
ele nascido. Para minha surpresa, descobri que afilosofia
do iovem Carnap, o maisprofundo
dos positivistas, não era exclusiva, nem mesmo principalmen-te, umateoria
da ciência sobo ponto
de vista axiomático, mas, antes, uma teoriaheu-rlstica
da ciência. Ojovem
Camap nÍfo encarava a ciência como uma imagem do mun-do, mas comoum
sistema de conhecimentono
qual era impossívelformular
qualquer pergunta cuja'resposta não püdesse, emprincípio,
ser alcançada (Camap1967,p.290).
Em
outras palawas, a convicção básicainicial
de Carnap sobre a ciência era de que"a
verdade
ou
falsidade de qualquer enunciadoformado por
conceitoscientíficos
pode,em princfpio,
ser estabelecida"(ibid,,p.292).
Dessa maneira, não me surpreendi empoder
constatar queo
famosocritério
carnapiano da significância cognitiva, nareali-* O texto deste artigo é baseadonuma tradução, preparada por Helena Londres, da Intodução e dos
trechos dos Capítulos
I
eVII
da minha tese Scientific Problem-solvíng in Kant and Mach (Lon-vain-1a-Neuve, 1982). O seu estilo guarda peculiaridades do original que só podiam ser evitadasnuma reformulação completa, impraticável porvárias ¡azões. O seu conteúdo reflete parcialmente
a minha primeira tentativa de reconhece¡ em Kant um clássico da teoría heurística da ciência, fei-ta numa confe¡ência do Colóquio Kant (Campnas e Porto Alegre, setembro 1981), intitulada A filosofu løntlana como ptograma de pesquisa clentlfica.
Nas citações da Cr{tica da Razão Pura, alradttção de Valérío Rohden, publicada pela Editora Abril, foi sempre consultada, embora nem sempre seguidà
74
Zeljko Lopariêrecente.
Fiquei,
então, interessado em descobrir as origens desses pontos de vista e arazão de seu desaparecimento do cenário
principal
dafilosofia
da ciência.o
próprio
carnap ajudou-me naprimeira
questão, tendo apontado noAufbau
que sua teseda
decidibilidade de todas as questões da ciência concordava,tanto "com
o positivismo, quanto com o idealismo"(ibid.,p.292,nota
final).
Estava claro que, com"positivismo",
carnap
estava sereferindo a
Mach.A
fìlosofìa que
ele chamava dejovem Carnap, retrocedendo a Mach e a Kant.
o
estudo deKant
também mefoi
sugeridopor
Hilbert.
No mesmo ano em quefoi
publicado
oAufbøu
decarnap (1928),
Hilbert
escreveu queo
problema da decisão parao
cálculo de predicados de primeira ordem era o problema principal da lógicama-temática. Não pude deixa¡
deme
impression¿rr com a semelhançaimplícita
entre as virtudes heurísticas almejadastanto
pelos sistemas formais hilbertianos como pelosis-tema
constitucional
carnapiano.Além
disso,Hilbert
referia-se repetidamente à teoria da intuiçâ'opura
deKant
comofonte
de seus próprios pontos de vista sobre a nalvreza dos símbolos formais.Fui
então levado aconcluir
queKant
deve necessa¡iamente serconsultado, quando se
quer
esclarecerum
dos episódios mais interessantes da teoria contemporânea da resolução de problemas, aqueleem
queHilbert e
carnap
são os atores principais.Minha
segunda indagaçâ'o a respeitodo
desaparecimento dos temas heurfsticos dakenntnis und
Intum
nada mais são do que uma teoria da resoluçâ'o de problemascien-ua
abordagemhistórica
einteresante
classificação oblemas. Descobri que euofia
da ciência mais recen-te de Mach é uma obra clássica em epistemologia heurística.Também cheguei a uma conclusão inesperada a respeito
do
conceito machiano daestrutura
das teorias científìcas, queme fez
rejeitatum
dospontos
de vista maisco-Heurísticø
Kontiaru
75 muns nahistoriografia
contemporânea do positivismo de Mach:o
de que, sendoum
reducionistaontológico, quer dizer, tendo reduzido
coisas físicas a classes de sensa' ções, Mach seria tambémum
reducionista metodológico,pelo
que se entende que suametodologia
pretenderiareduzir todos
os termos
científicos a
termos referentes a (classes de) sensações e todas as proposições cientfficas a proposições sobre tais refe-rências.O
que descobrifoi
que, embora defendendoo
monismo, Mach não o propôscomo uma
teseontológica
positiva, mas comoum princípio
que pudesseimpedir
os cientistas deformular
questões insolúveis. Tampouco propôs que æ teorias e as Pro-posições teóricas (inclusive as matemáticas) fossem elirninadas da ciência.Muito
pelocontrário, verifiquei
que Machinsistiu
bastante naimportância
de construtos arroja' dos e até mesmo objetivamente implausíveis.Também
fìcou
claro que, nesseponto'
Machfoi
seguidopor
Camap, que tambémdistinguiu
claramenteentre
aqueles conceitoscientífìcos
que podem ser construídos em seu sistema constitucional e sã'o decidíveis (entscheidungsdefinit) e os que não têmessas caracterlsticas. Esses
últimos
conceitosslo
introduzidos por meio
de definiçõesimplícitas
quetêm
aforma
deum
sistema de axiomas, ediferem
dos conceitoscong
titufdos por
não
serem decidlveis epor
darem margem a proposições que, em geral, não obedecem àlei
do terceiroexcluído.
E eujá
sabia que,aítambém,
ahistoriogfa-fia oficial
estava errada.Mach também me ajudou a retornar a
Kant,
pois Machviu,
na teoria da ciência deKant,
uma versãoprimitiva
e inadequada de uma psicologia e lógica da pesquisa,isto
é,
deum
progtama de pesquisacientífica,
algo que, como eudise,
elepróprio tinha
aintenção
de estabelecer. Juntando essa concepção dafìlosofia
especulativa deKant
com a detlilbert
e de Becker, recebida por Carnap, nãotive
dificuldades em descobrir temas heurísticosna crltica
e nafìlosofia
transcendental deKant
-
sôfoi
preciso de-senvolvê-los.Ao
fazê-lofìquei
impressionadocom
a simplicidadedo
delineamento geral da fìlo-sofia especulativa deKant
a que eu estava chegando: verifìquei que acrltica
e a meta'flsica
da ndtureza deKant,
quea
constituem,
poderiammuito
naturalmente ser in-terpretadas,a primeira como
umateoria
da decidibilidade
de problemas inevitáveisda
:razio especulativa e, a segunda, como umateoria
da pesquisacientlfìca
no campo da natureza.Trabalhando
na crítica
deKant
(entendidacomo uma teoria da
decidibilidade),conclul
que sua tese básica consisteno
teoremade
decidibilidade, ægundoo
qual,com
respeitoa uma
questão qualquer quenos
seja proposta pela natureza da nossarazlo,vma
das duæ alternativasvale: ou
sua indecidibilidade é demonstrável ou exis-teum
procedimento para dar-lhe uma respostadefinida.
Assim,no domínio datazlo
pura,
nossa ignorância é,ou
demonstradamente inevitiível,ou
deve seratribulda
ape-nas à nossa preguiça.Minha tarefa
seguinte eraa
de indagar as bases da provado
teorema de decidibi-lidade. Emprimeiro
lugar,notgi
que esse teorema dizia respeito às proposições sinté-ticas possfveis e queKant
considerou a classe de proposições decidíveis como16
Zeljko
Lopariédeixadas de
lado
nessecontexto por
nãocontribuírem
para a ampliação doconheci-mento objetivo.
TiveentlÍo
que encararo
novo problema: explicar o queKant
queriadizer com a
possibilidade deuma
proposiçãosintética.
Eu
sabia que segundo Kant, a mesma resposta deviavaler
para todas proposições sintéticas, fossem elas aprioi
(filosóficas e
matemáticas)ou
øposterion
(empíricas). sabia também que estavase-guindo
uma trilha
importante, porque
o
próprio Kant
havia
dito
nosFortschritte
que esse problema erao
problema fundamental (höchsteAufgabe)
dafìlosofia
trans-cendental.Descobri
que a
concepçãokantiana
da
possibilidade das proposições sintéticasnão
fìlosófìcaspode
serformulada
da
seguintemaneira:
uma proposiçã'o sintética matemáticaou
emplrica será possível se, em primeiro lugar, todos os conceitos nã'oló-gicos que nela ocorrem
posufrem
referentesnum domínio
deobjetos
sensíveis ese,
em
segundolugar,
a
suaforma
lógicafor
satisfazível emum
domlnio
de formas sensíveis.É
claro
que, para ser completa,
tal
concepção pressupõeuma teoria
da referência e da verdade.constatei,
em seguida, queKant tinha
defato
elaboradouma
semântica apriori
e
que elacontinha
tambéma
solução do problema da possibilidade das proposiçõessintéticæ
filosófìcas.
com
efeito,
essa semânticapura de Kant
repousa,
por
umlado,
sobre suæ teorias da percepçã'o e da construçãoe, por
outro lado, sobre adou-trina
dos
princípios do
entendimento,
isto é,
das proposiçõessintéticæ
fìlosóficas básicas.segundo
a
doutrina do
entendimento,
essas proposições são possíveis porenunciarem condições
de
possibilidade
de todas æ
outras
proposições sintéticas, fìlosófìcas ou não.uma
análisemais
demorada dessadupla
resposta deKant à
questã'o dapossibi-lidade
das proposições sintéticasem
geral levaa
uma conclusão damaior
importân-cia:
dtzer que uma
proposiçãosintética
é
possfvel,no
sentido kantiano,
signihcadizer
seja quepode
ser verdadeira emum domlnio
de fenômenos sensfveis, seja que enuncia condições de verdade de outras proposições sintéticas.Restava ainda mostrar que, segundo Kant, uma proposição é decidível se e somente
se
é
possívelìou
enunciauma
condição de possibilidade de outras proposições. Nãohouve
difìculdades maiorespara
verificar
que
a propriedade de ser possívelou
de enunciaruma
condição de possibilidade eraa
condição necessáriada
decidibilidade das proposíções sindéticas.É
bem
sabido quea
crítica
kantiana da metafísicatradi-cional
repousa sobreo fato
de
que as suas proposições contêm conceitos sem refe-rentes em domfnios de objetos sensíveis. E também fácil.mostrar que a teoria das pro-posições da razão pura proposta pelopróprio
Kant
leva
em conta essa mesma condi-ção:por
conterem conceitos que são idéias não interpretáveis intuitivamente de modo adequado,nenhuma
dessas proposiçõesé
demonstrávelcomo
objetivamente válida.A
tarefa
de estabelecer {lue, emKant,
as mesmas propriedades são também condi-ções sufìcientes de decidibilidade das proposições sintéticas revelou-se como bem maisdiffcil.
A
razãoprincipal
dessa dificuldade é que não existe na obra deKant
umateo-ria
geral dos procedimentos de decisão.Além
disso, suar¡ concepções acerca deproce-dimentos
de decisão em casos particulares são,por
vezes, bastante obscuras. Para verHeur{stica
Kantiaru
77 isso hasta considerar,por
exemplo, as suas provas dosprinclpios do
entendimento.Muitos
comentários deKant
asseguram,entretanto,
que ele considerã decidível toda questão proposta por meio de uma proposição posslvel'A
exposição kantiana da semântica transcendental e da provado
teorema dedeci-dibilidade
estálonge
de ser óbvia. Pensei, então, que rr'¿leria a pena perguntar se não haveriaum
método
queme
permitisse reconstruir seus passos.E,
defato,
achei queexiste
um,
especifìcamente,o
venerávelmétodo combinado da
análisee
da
sfntesedos
geômetras gregos.Foi um
resultadoimportante,
porqueme
permitiu
otgantzate
estuda¡ os procedimentosanallticos e
as provas sintéticas trqnscendentais deKant
de acordo com um esquema único eabrangente-Tendo
chegadoa
esseponto,
estava de posse de todos ospontos
principais sobrea
cítica
deKant,
relevantes para aminha
abordagem. Ficava ainda, é claro, a tarefa de reconstruir sua metafísica da natureza como umateoria
da ampliaçãodo
conheci' mento objetivo. E issofoi
obtido
em duas etapas.Numa primeira
etapa,tratei
da reconstruçãoda
metafísica geralda
natureza deKant, ou
sualilosofia
transcendental, deum ponto
de
vistaheurístico.
Procedi emdois
passos. Comeceimostrando
çe
a
doutrina
dosprincípios
øpiori
do entendi' mento não só determina a estrutura apriori
dos fenômenos, comojustifica
ospfoce-dimentos parî
a
resolução de problemas objetuais formuladosno
domínio
dosfenô'
menos.pnquanto
no
primeiro
papel a
doutrina
dosprincfpios
apriori do
entendi-mento fomece,
comojá
disse, a basg para umateoria
transcendental da verdade, no segundoela
éo
fundamento de uma teoria transcendental de algoritmos e deproce-dimentos
heurlsticos mais fracos.Meu
segundo passo consístiuna
reconstrução dateoria da :¿zio
deKant
comoum
sistema de ficções e máximas heurfsticas. Issofei-to,
percebi claramente queexistem
dois cânoneskantianos
da pesquisacientífica
-o
cânon
doutrinal
parua
soluçãode
problemas acercade
entidades sensíveise
o cânonheurlstico
para a resolução de problemas relativos a sistemas de tais entidades. Observando que nenhum ingredienteimportante
da metaffsica geral da naturezatinha
sido deixado defora, conclul
que toda a filosofìa transcendental teórica de Kant pode ser encarada, em concordância com o que Mach havia sugerido, como um programa de pesquisa cientffìca para a ciência natural.Voltei-me, numa segunda etapa, para a met¿física especial da nah¡reza de Kant, ou
"fìsiologia".
Descobri que ateoria
dinâmica da matéria deKant
pode ser interpretada comoum
programa øpriori'de
pesquisa para a mecânica racional, o que, pensei, apóiafortemente minhæ
conclusões preliminares acerca da natureza da metafísica geral deKant.
Ao
perscrutar esses aspectos dafilosofìa
especulativa deKant, fui
levado a levantar vários outros pontos. Particularmente, pude reconstruir, em Kant, uma teoriadaruzlo
humana como
um
dispositivo para a resolução de problemas. Essateoria
é realmente um complemento natural da teoria da decidibilidade e da pesquisa deKant.
Neo
foi muito diflcil,
entÍ[o, descer até o Mach ta¡dio. O seu monismo pode serfa'
cilmente reconstruído como uma
reinterpretaçãodo
teoremada
decidibilidade, en-quanto a sua abordagem heurística da atividadecientlfìca
bate claramente com a78
ZeljkoLopaió
na
da
ampliaçãodo
conhecimento objetivo.
A
clæsificaçãodos
problemase
dosprocedimentos
de
resolução,a
distinção
entre
ciênciacomo
resultadoe
ciência rnstatu
nascendi, a distinção entre conceitos de fenômenos e construtos depensamen-to,
todos
esses ingredientes centrais da lógica machiana de pesquísa podem ser facil-mente remetidos a Kant.Minha impressão
fìnal
foi
a de alguém que se depara com aspectos centraisdo
de-senvolvimento dahistória
dafilosofia
da ciência contemporânea, que começa com a fìlosofia transcendental de Kant e vai até a primeira fase do positivismo lógico. Emborainicialmente
surpreso, acabei percebendo que,.postonum contexto histórico,
esse re-sultado não parece tão inesperado.A
tese da linhagem kantiana de Mach e Carnapdi-fìcilmente
seria uma novidade, conjecturei, para alguém como Vaihinger. Nãofoijus-tamente
o
autor
da Philosophie des Als Oå quem fundou os Kantstudien, onde Carnappublicou
sua tesee
seusprimeiros
artigos, bem como a revista Annalen derPhiloso-phie,
que mais tarde passou a chamar-se Erkenntnis?No
entanto, pareceu-me fora depropósito
testar meus resultados por pesquisa histórica, ou mesmo compará-los com as interpretações existentesde Kant.
Pois, desdeo
começo,minha
pretensâ'o nã'o era aprender sobreKant
por intermédio
de outros, mas antes,por intermédio
deKant
ede
outros,
aprender sobre a resoluçâ'o de problemas científicos. Meu objetivo aoapro-ximar Kant
e Mach,portanto,
émuito
menoshistórico
do que conceitual. Mach certa-mente chegou àfÌlosofìa
através do estudo de Kant. No entanto, não estou discutindo ainfluência fatual
queKant
podeter
tido
sobreum
dos principais pensadores positi-vistas contemporâneos.Minha
teseé
a de que temas tipicamente kantianos, querdi-zet,
temas queKant
foi
o
primeiro a
introduzir
de uma maneira sistemática, torna-ram-se proeminentes,ou
até mesmo centrais, nafilosofia
da ciência doúltimo
Mach.2. O sistemt kantiano de
ftlosofia
puraPara
introduzir
a minha interpretação dalìlosofia teórica
deKant
desde umponto
devista
heurístico,
farei uma breve exposição da sua concepção da estruturado
sistema completo dafilosofia
pura.Na Clítica
da Razõohtra
afilosofìa
pura é concebida como a parte do saber puro que é adquirida apartir
de conceitos(874L),pela:azão
no
sentido mais amplo, i.e.,por toda
a
faculdade de conhecer superior(8863).
A
outra parte
dosaberpuro,a
parte matemâtica, ê adquirida
pelalazío
por meio da construção de conceitos(F
741).Ao produzir
o
saberpuro,
seja apartir
de conceitos, sejapor meio
da construção deconceitos,
fazemosum
empregopuro
da nossa razalo.O
saberempírico,
por
outro
lado,
é produzido pelo
empregoempírico
dt
razão,i.e., por
sua aplicação aodomí-nio
dos dados emplricos.Em princfpio, a filosofia
pura pode
ser posta naforma
de umúnico
e articuladosistema
de
conceitos,
proposiçõese
regras(máximas).
Digo "em'princípio"
poisKant
reconheceque
defato "a
fìlosofia
é uma simples idéia de uma ciência possível quenão
é
dadaem parte alguma"
(B866).
Esse sistema ideal eúnico do
saberfilo-sófico
puro tem
duas partes,a
crítica e
a
metafísica.A
primeira,
também chamada"propedêutica"
(B869),
estudaa
capacidadeda
ruzão deadquirir o
saberpuro,
en-Heurística
Kantiaru
'19quanto
a
segundaexibe
todo o
corpo
do
saberadquirido
pela razão pura. Esse sa'ber
concernedois
assuntos principais: naturezae
liberdade.O
estudofilosôfìco
danatureza, que
constitui a
parte
especulativade todo o
sistemado
saber fìlosóficopuro
-
o único
queme
interessaaqui
-
produzametafísica
dt
natureza. Essateo-ria, por
suavez,
divide-seem
duas:a
fìlosofìa
transcendentale
a
fìsiologia.A
pri'
meira
é uma teoria mais geral, também chamada ontologia(8873)
e metafísica geral(Kant l?86,
p.
115)
e
consistenum
sistema de conceitos, proposições e regrasfun'
damentais
do
entendimentoe da razlo
em
sentidorestrito, i.e.,
tomada como a fa-culdade dosprincípios
ou
das idéias(8356).
A
segundaparte
da metaflsica da na' tureza consiste nos ingredientes fìlosófìcos(em
oposição aos matemáticos e, é claro,aos empfricos) da ciência emplrica da natureza, i.e., da flsica e da psicologia.
Eis, entÍio,
o
delineamentodo
sistemade fìlosofia pura
no
sentidokantiano'
NaClítica
fu
Razõohtra,Kant
não
sepropõe
a
expor
esse sistema.Como ele
dtz naIntrodução
â
segundaediçlio, a
investigação queo
ocupffâ
seÁ a "preparação paraum
órganon"
de aquisição desse sistema(826).
Ou melhor,
já
quetal
órganonnlio
existe
(885,88),
]¡atarâ
da
preparação"pelo
menospara
um
cânon dos conheci'mentos
apriort.,
segundoo
qual
talvez possaalgum dia
ser aPresentado,tanto
ana'lltica
quantO sinteticamente,o
sistemacompleto
dafilosofia
ða ruzão pura, consistaeste quer na
ampliaçâ'o(Erweiterung)
querna
meralimitaçlo
(Begrenzung)do
seuconhecimento"
(826).
Preparaçãoteórica pafa
o
cânon considerado é justamente apropedêutica
ou crftica.
Pois, como vimos, elatem
como propósito o estudo da capa' cidade da razão deadquirir o
saberpuro
(B26),
devendo fornecer"a
pedra de toqueque
decideo
valorou
desvalor de cadaum
dos conhecimentospuros"
(B26).
Queromostrar
no
que
segue que a pedra de toque(hobierstein)
dacrltica
kantiana é uma teoria da decidibilidade das questões da razão pura.3.
A
tese da decidibilidadeNa
proposiçäointrodutória
dz
Clític.u daRazio
Pum,Kant
c^racteriza anzÚo
pura comoum
dispositivo para responder pêiguntas, carregado de problemas prescritos por suaprópria
natureza(AVII).
4
teseprincipal
deKant
com respeito a esse dispositivoé
a
seguinte: dada qualquer questão prescrita pela natureza da nossa ruzão, poderc-mos respondêla ou provar que não existe solução possível. Noúltimo
caso' a questãoé
dita "inválida"
ou
"Semsentido".
Tentemos,emprimeirolugar, reconstruir
essatese a
partir
daClítict.
À
luz
da
minha
descriçâ'odo
sistemafìlosófìco
deKant,
podemosdizer
que asquestões puras pertencem à matemática, â metafísica da natureza e à
filosofia
moral. Todas essas ciências são concernidas pela seguinte caracterização do poder heurfsticodanzão:
,.Não obstante, há ciências a cuja natureza é inerente que cada questão que nelæ se ap¡esent€ tem que absolutamente poder ser respondida a partir daquilo que se sabe,
porque a æsposta tem de surgir das mesmæ fontes das quais surge a questão, E al de
modo algum é permitido invoca¡ uma ignorância. inevitável, mæ
a
soluçdo pode ser80
Zeljko
LoparióEssa passagem
nlo
deve serinterpre
ciências
da
razãopura
podem fornecer
uma ,equer
dizer que ou isso é possível, ouen
a;Kant
rãsultado
nâo
pode
,r,
^t..nçráo:
em
o
l::r#:
com
respeito às proposiçâ'oda
raz.ãopura
pode
ser resolvido, ou positiva ou negati-vamente. O seguintetexto
nos dirige na direção dessa interpretaçâ.o:'
"comefeito,todo_sosconceitos, oumerho¡todasasperguntasquearazãopuranos apresenta,situarn senâo na experiência, mas sim tâo somente na
,urão,i"^virtude
dis_so têm que poder ser ¡esolvidæ e concebidæ segundo a sua validade ou nulidade. Tam_ bém nâo temos o di¡eito de rejeitar, alegando
"
norru incapacidade, essas tarefas, comose a sua solução estivesse realmente na natureza das coisas, ou
recusar levar a cabo a
terior; pois por set a única
res
dessæ mesmas na obrigaçÂo de p¡estarcontâs
ou à sua ilusalocf.
8905, e Kant 17g3, g56,
os argumentosTalvez,
porém,
a
declaração mais clara da tese centralda
crítica,embora
relacio_ nada especificamentea
problemasda
metaflsica tradicional,
se3a áadana
seguinte passagem da segunda edição
da
obraprima de
Kant
(em
gáral"muito
mais precisa em questões metodológicas do que a primeira edição):"...
tem queobjetos,
isto
ou nâo-saber dosincapacldade
caPacidade ou anossa¡azâo pura ou impor-rhe limites determinados e seguros,'(B
22).
com conftança a
Não está inteiramente claro se, nesse
texto
fundamental, a possibilidade de determinaro valor
de verdade de quarquer proposição metafrsica,ou
d,
prou",
sua indecidibili_ dade,é
tomada
no
sentidopratônico
ou no
sentido construtivista, i.e., como
uma possibilidade associada a um método efetivo. Estou
muito
inclinado a aceitar a segun-da alternativa,em vista
da-oposição geral que existe entreo
idealismoplatônico
e o
intuicionismo kantiano,
e
da evidência adicionarprovida
do estudo dos processos de decisão kantianos. Devoadmitir, no entanto,
queKant
nãotinha
unr conceitomuito
preciso de efetividade nem de processo de decisão.o
problema principar dacrítica
não é resolvido pela descoberta de problemas par-ticula¡es insolúveis, mas pela defìniçãode
crassesi;te¡rus
de problemas que estão forado
alcance da capacidade cognitiva humana superior.Kant
sabemuito
bem que tal tarefa pode ser realizada.aPena: pela investigação da eficácia heurística
da nossa capa-cidade
(vermögen)
cognitiva.por
isso, u..tti"u
tem
que ,.submeter a uma avariação não osfatos
da razão, mas sim a própria razão segundotoda a sua faculdade e aptidão para conhecimentos puros 4priorf'(B7gg).
uma
outra exigência é a de que os resulta-dos desse estudo se¡amprwados
apoditicámente, e não apenas apresentados como as-suntos deopinião.
Esses dois pontos básicos são explicitaãos claiamente na passagem seguinte, de crucial importância.A
propedêuticaconstitui,
dizKant,
-_
Heurística
Kantiø¡u
8l
..nâo a censu¡a,
mas a
crítiu
da nzão, mediante a qual sâo provados a partir de princí-pios, e não simplesmente presumidos, nõo somente as børeíras, mas sim os lir¿lfes dete¡-minados da :i?izão,não só a ignorância referente a um ou outro ponto, mæ sim a ignorân-cia referente a todas as questões posslveis de uma ce¡ta espécie" (B 789)'Essa
pasagem contém uma
versffo elaboradada
famosapergunta:
"que
podemos saber?" relativamenteà
qual
Kant
se vangloriou de haver "esgotadotodæ
as resPos' tas possíveis"(8833).
O resumo dessas respostas é justamenteo
teorema'de decibili-dade,formulado
acima.É ese
mesmo teorema queKant
tem em vista quando aponta paraa
existência de problemas que nos sãoimputados
pela Própria constituição de nosso aparelho cognitivo, cuja solução"dogmática"'é
não apenas "incerta, nas impos'sível",
,o
patto
que sua "soluçãocrítica",
i.e., a prova de sua insolubilitiade,"folnece
z
cetteza completa" (B 512).Kant nÍio
desenvolveu nenhuma doutrinaexplícita
sobre a decidibilidade deproble'
mas empíricos, embora tivesse previsto um lugar bemdefinido
para a mesma na suateoria do
conhecimento: se tivesse sidoconstituída,
esa
doutrina
pertenceria a umateoria da
razão empírica.O
material existente emKant
sobre esse assunto, embora es' casso, contém alguns comentários substanciais sobre o método experimentalþf .8797
ss, BXIII-KV),
sobre a formação de hipóteses e explicações (c1.8797
ss.) e tópicos correlatos. Departicular
interesse para nós,aqui,
éo fato
deKant
considerar todas asquestões empíricas como, em
princípio,
decidíveis(F
452),admitindo, contudo,
que essa tarefa possa ser praticamente impossível. Comefeito,
no
domínio
dos problemæ empfricos, tratados pela ciêncianatural,
"há uma infìnidade de suposições comrespei-to
âs quais jamais pode esperar-seuma
ceÍtezt'
(B508). No
entanto, essa suspensão causadapela
dúvidapode
serum
estímulo
útil
para futuras Pesquisas' não podendo haver nenhum mal-entendido"que
não
possa serfacilmente
removido; e os últimos meios pæa decidir a disputa(Mittel
der Entscheídung), quer sejam encontrados cedoou
tarde, têm
queenfìm
situar-se na experiência"(8452).
Em
outras palawas, toda proposição da experiência pode, emprincípio,
setconfilmada (best¡ltigf)
ou refutada (wiederlegt) pela experiência(Kant
1783, $40).
4. S emân tica' t rans c end ental
Existe, segundo
Kant, um
fundamento comum para a solubilidade dos problemas,tan'
to
empfricos quanto puros. Esses problemas são solúveis se e só se as proposições que os propõem dizem respeito à existência e propriedades deobjetos
que possam serda-dos
pelaintuição
sensfvel(pura ou emplrica)
e øtpostospor
conceitos purosou
em' píricos devidamente construídos.Antes de fornecer argumentos pafa essa tese
(cf.
secção 5. abaixo)queroexporem
grandeslinhas
a teoria
kantiana
das proposições quepropõem
problemas solúveis, bem como algumas de suas fontes históricas.Em
ocasiões diversas,Kant
esclarece que, tomartdo em consideraçÍÍo a eficáciaheu-rística
da matemáticae
da ciêncianatural
(flsica),
chegouà
tese de que problemasque
não
dizem respeito
ao
funcionamento
do
aparelhocognitivo humano
devem, pãrut.t
solúveis, concernir objetos possfveis. Ele observou, defato,
que a matemáticaj-82
Zeljlco Lopariêcomeçou a seguir a
"trilha
segura da ciência",i.e.,
entrouno período
de crescimentocontínuo
do saber matemático,por
uma revolução metodológica produzida por Tales.O
que Talesfez
foi
introduzir
novos métodos de resolução de problemas e, em parti-cular, novos métodos de prova. SegundoKant,
ele descobriu que, para conhecer qual-quer coisa com certeza em matemática, i.e., para provar qualquer propriedade de umobjeto
matemático, o matemático não deverá tentar abstrair a propriedade em questãoda fìgura empírica,
ou
derivá-la domero
conceito do objeto, mas simtentar inferi-la
apartir
da construçäotlo objetb
naintuição
pura. Essa construção deveria ser levada aefeito por
processos apriori
bem determinados e de acordo com o conceito doobje-to
a ser construído, esse também apiori.A
partir
de Tales,portanto,
o sabermatemá-tico
passou a ser fundamentado em representações esquemáticas de objetos matemáti-cos "determinadas por certas condições universais de construção"(8
j42).
No
séculoXVII,
uma revoluçâ'o análoga dos métodos de prova e de resolução deproblemas
foi
produzida nas ciências da natureza pelos inventores do método experi-mental.A
idéia básica dométodo
era,dizKant,fazer
com que anarurczaresponda àsquestões formuladas pela :,azão pura (B
XIII).
Essa"iðéia feliz"
teveum efeito
revo-lucionário
sobre a resolução de problemas em física;muniu
os cientistæ de umafonte
confiável
de respostas, prescrevendo que eles deve¡iam"procurar
na natureza"(i.e.,
no domínio
da experiência possível), e não"atribuir
a elaficticiamente",
as respostas às perguntas quenão
podem ser estabelecidas pelos recursos daprópria
razão. Mas,por outro
lado,
o
novo método preservou, como guia nessa busca,aquilo
que a pró-prìa l¿zãointroduziu na
natureza, ou seja, a estrutura apriori
dos fenômenos (BXIV).
Resumindo,
ao
estudar ahistória
das ciências matemáticas e naturais,Kant
obser-vou
quea
eftcácia heurística de ambas as disciplinas estava baseada, emprimeiro
lu-gar,no fato
de as respostas às questões serem obtidas apartir
dos objetos que podem ser dados naintuição
sensível e, em segundo lugar,no
de existirem condições øpiori
de possibilidade para tais objetos. Essas condições consistem,
no
caso da matemática,em princlpios
que governam as construções geométricas e aritméticas e,no
caso das ciências naturais, de princípios da experiência possível.Essa análise sugeriu a
Kant
uma estratégia pa:raa
c¡ítica
dos métodos de prova dametafísica
tradicional.
De ummodo
ainda mais geral, seguindo"o
exemplo dado pelo geômetras efísicos",
Kantiniciou
umacrítica
da faculdade cognitiva humana superior, numatentativa tanto
deproduzir
uma revoluçÍio na metodologia fìlosófica, quanto de esclarecer a metodologiacientlfìca
(BXXII;
Kant 18ù1, p.179). É possfvel mostrar que a matemâtica e afísica
sugeriram aKant tanto
a forma do problema dacrítica,
quan-to
as condições a serem satisfeitaspor
qualquer solução aceitável.Para começar, a
forma
do problema básico dacrítica é:
como são posslveis aspro-posições sintéticas? (B 194).
uma
definição
de proposição sintética, que certamente não é aplicável a todos os casos consideradospor Kant,
mas que, não obstante, usarei comoponto
de referência,aqui, é
a
seguinte:uma proposiçlio sintética
acrescenta"ao
conceito do rujeito
um predicadoque
demodo
algum era pensado nele nem poderiater
sidoextraldo
delepor
desmembramentoalgum"
(B 11).Heurístiæ
Kantiaru
83É f¿cil
ver que a questão geral da possibilidade das proposições sintéticæ assimdefr
nidas é ligadaá
questão do crescimento do conhecimentopuro no
seutodo,
e que amesma conexão existe
no
domínio
dos conhecimentos matemáticos e físicos tal como entendidospor Kant.
Comefeito,
proposições sintéticas, sejam elas'apriori'otta
pos-toiori,
estendemo
nosso conhecimento além doconteitdo
dado pelOs conceitos que usam. Essas proposições são,portanto,
essencialmente ampliativas.Por
isso mesmo' são os únicos meios de crescimentotanto do
sabela-posterion quanto do saberiapnb'
ri:
"Sobre taisprinclpios
sintéticos, isto é,princlpioJ
de ampliação' rePousatodo
oob-jetivo último
dônoso
conhecimento especulativo a prtori.;'osprinclpios
analíticos são,na
verdade altamenteimportantes
e necesáribs, mas só para chegar àquela clarcza dos conceitos exigida para¡ma
slntese segufae
vastz ao invés de umø aqußiçõo real' mente nova" (B 13-14, meugifo).
Essa mesma conexão entre a sinteticidade das proposições e
o
crescimento do co-nhecimento matemáticoé
constantementeresalta{a por
Kant, por
exemplo,no
se-guintetrecho
de sua carta a J. Schultz de 2cta ampliativa, a tal
ponto
que não se podeiguale neste respeito"
(Kant
1967,p.129)-quantidades
é
indicadacomo
sendoz
razãoprincipal
para quenão
se considerasseùas
proposiçõescomo
analfticas.Como
seria posslvel, indagaKant, "ampliar
fmeu
grifof
noso
conhecimentopor
meio,
apenas, deiuízos a¡utíticos?"
Se alguém assimã
prnr.rr.,
"teria
que dizer que a tlefìnição dejuíáo
analltico, como merzlmenteexpli-cativo, está er¡ada"
(ibid)-Não seria
diffcil
mostrar que, segundo Kant, a flsica newtoniana exibe o mesmocará-ter
ampliativo e que,portanto,
deve contar exclusivamente com proposições sintéticas. Resia-nosaintla
esclarecer em que consiste a possíbilidade das proposiçõessintéti'
cas. Consiste numa condiçãoformal
e em duas condições semânticas de zua verdade'A
primeira
é dada peloprincípio
da não contradiçÍIo.As
duæ últimas são as mesmas que'
sao preenchidas pelas proposições sintéticas da matemática e da física.A primeim
das condições semânticas exige que todos os conceitos não lógicos queocorram numa
pfoposição sintética tenham referênciae
signifìcadoobjetivos' Kant
chama
tais
conceitos
de
possluel's (B178), em
analogiaàs
proposiçõesposlveis'
Não há
dúvidade
queesa
condiçãofoi
sugerida aKant
pela
análiseda
semân-tica
das proposições matemáticase
físicas. Issopode
serconcluído de
diversosco'
mentários de
Kant,
como,
por
exemPlo,do
comentário de
quea
pedra de toque(hobierstein)
da verdade das proposições da matemáticae
da ciência natural reside nelaspróprias,
"pofque
seus conceitosnão
se aplicam a objetos que não possam sefdados;
e
quea
metaflsica não possui,critérios de verdade, justamente porque trans' gride esseslitttit.*,
e se estende a"objetos
que,ou
não podem ser dados, de todo, ou,pelo
menos,nÍio como é exigido
pel,ouso intencionado
dos conceitos metafísicos"(Kant
1804, p. 170).Kant
esclarece quea
possibilidade (validadeobjetiva)
deum
conceito
é,por
suavez,
assegufatlapoi
suaìnterpretação
sensível(Versinnlichung,
Kant
1790,
$
59).in-84
Zeliko Loparióterpretação sensível usa, segundo
Kant,
dois dominios
de entidades,o
domínio
dos construtos possíveis naintuição
pura (que contémo
domínio
dos esquemas puros), eo
domlnio
dos objetosempíricos,
ou
exemplos(ibid.). os
membros desses doisdo-mínios
esgotamo
universo dosobjetos constitutlveis.
Eles são freqüentemente cha-mados, abreviadamente, apenas"objetos
possíveis"(8267).
Kant
mostra que,tanto
os construtos quanto os exemplos, são possíveis emvirtude
de condições asseguradas pela constituição de nosso aparelho cognitivo, e que essas condições são certas opera-ções lógicas e esquemáticas creditadas às nossas faculdades de imaginação e deenten-dimento
(B194).
Essas operações sâ'o capazes de gerar todos os membros de ambosos domínios
da interpretação, emboranio
sem a colaboração da faculdade dasensi-bilidade. As
entidades geradas dessa maneira (que, na realidade, nã'o passam decon-juntos de
representações) são chamadas também de experiências sensíveis.A
inter-pretação
sensívelde um
conceito
consisteentão
em
associar esseconceito a
umaintui$o
possível , i.e., aum construto
esquemático ou um exemplo empírico; ela sim-plesmente dá, ou exibe naintuição
puraou
empfrica, uma entidade à qual o conceito se aplica, Essas entidades sâoditas "congruentes" ao conceito
que elas interpretam (B383), ou,
intuições mais ou menos adequadas, correspondentes ao conceito(Kant
1780,
s
59). Deum
conceito interpretado sensivelmente, diz-se,por
sua vez, quefoi
tomado
sensívei, quetem sentidolB 299),
que é real(Kant
1804,p. lg5),
que tem validade objetiva e "verdade" (sic!, B 788).Quero
enfatizar
qlJea
possibilidade deum
objeto é
assegurada por doistipos
de condições: conceituaisou
discursivas,e intuitivas.
Isso está explicitamente afìrmado pelopostulado
metodolôgico da possibilidøde, segundoo qual
um objeto
é possível se,e
apenas se, satisfizer as condições daintuição
e
dos conceitos; quer dizer, se eapenas se, satisfìzer as condições de
poder
serconstituído,
sintetizadoou
exibido, na i-ntuição puraou
empírica, e puder ser expostopor
conceitos construídos em con-cordânciacom
as categorias. Essa observação émuito
importante
também parao
es-tudo
de diversosobjetos
'¿impossíveis", consideradospor Kant
em seu programame-taflsico
paraa
física.
As
forças fundamentais de atração e resistência,por
exemplo, são objetos impossíveis,por
sereminteiramente
não-intuitivase
por ferirem o
prin-cípio
de causalidade.os
conceitos possíveispodem
ser agrupados em proposições através de operações lógicas do entendimento(Kant
1783, $S29,34).para
se ter a certeza de que ess¿rs ope-rações geram proposições sintéticas possíveis, é ainda necessário dar às formas lógicas dessas proposições uma interpretação sensível. Por corresponderem às categorias, po-demos chamar essasformas
de categoriais. Essa segundaexigêncit
semântica para aposibilidade
das proposiçõesé
satisfeita pela associação das formas proposicionais categoriais(e
das categorias)com
determinadasformas intuitiyas
de perceptosou
dedados puros, que possam ser geradàs
por
operações da imaginaçâo empírica ou pura. Essa condição é também satisfeita pelas ciências existentes privilegiadaspor
Kant.Por
exemplo,
as
proposiçõessintéticas
universaisque
enunciam axiomasou
teo-remas de geometria podem (B7ó0)
e devem(8746)
ser construídas por meio de cons-truções esquemáticas. sabemos que segundoKant,
a
matemáticaé
capaz de possuirHeurística
Kantiara
85 axiomas justamente porque "mediante a construção dos conceitos naintuição
doob'
jeto
ela pode conectar os predicados desteúltimo
deum modo tanto
øpnbri
quantoimediato..."
(B 760).A
tarefa
complicada de estabelecerque
ecomo
a associação entre formas lógicas eintuitivas
pode ser estabelecida em geralé
solucionada pela analltica deKant.
Essateoria fornece,
portanto,
uma semânticaa
prioridas formas lógicas, chamada porKant
de"lógica
da verdade" (B87).
A
principal
tarefa dessa lógica é a de revelar afonte
detoda
verdadeempírica.
Esa fonte
reside nosprincípios
do
entendimento,pois
sÍio eles que enunciam a verdade transcendental que "precede toda verdade empírica e afaz
possível" (B186). Com efeito,
os nossosperceptos
que satisfazen os princípios do entendimento (e a analltica transcendental prova que eles realmente o fazem) pos-suem urna "unidadeformal"
ou
"elementoformal'(8.350),
quetorna
possível"to-da vali"to-dade objetiva (verdade) do conhecimento
.empírico" (A
125). Por isso, os prin-cípios do entendimento não são apenas verdadeiros apriori,
mas são mesmo"a fonte de toda a ve¡dade
-
isto é, da concordância do nosso conhecimento com obje-tos, em virtude de possulrem o fundamento da possibilidade da experiência, como oconjunto de todo o conhecimento, em que possam ser dados objetos,.." (B 296)'
Assim,
por
exemplo, as relaçõesintuitivas
dos fenômenos (perceptos), que satisfa-zemo
princlpio
da causalidade, são"a
condição da validade objetiva de nossosjuízos empíricoscom
vistas à série dæ percepções,isto
é, da verdadeempfrica..." (8247).
A
reconstrução sistemática de semântica kantiana é uma tarefa bastante rírdua, até mesmoporque
o
conceito
de verdade deKant é
desesperadamente vago.Kant
diz pouco â respeito da verdade, além de dizer que é a concordância entre o saber e o seuobjeto
(B82,296\. Aqui,
o
saber deve serentendido como
discursivo, uma vez que verdade e erro só podem encontrar-senojulzo (8350),
e seuobjeto
deverá, semdú-vida, poder
ser dadointuitivamente.
Kant
nlo
fez
nenhuma tentativa para dar umadefinição
precisa da relação de concordância. Estáclaro,
no
entanto,
que,no
con-texto
kantiano,
essa concordância deveconsistir
num certo
isomorfìsmo
entre
as formas lógicasdæ
proposições geradas pelas operações categoriais do entendimento(formas
categoriais)e
as formasdos
dadosintuitivos
que possam ser caracterizadas apriori
por meios de procedimentos constitutivos.5.
O fundamento da decidíbilidadeAlém
de serem satisfazfveis, as proposições possíveis de forma categorial são também, emprincípio,
decidíveis,i.e.,
podem ser provadasou
refutadas. Provar umaproposi-çâ'o é, naturalmente,
muito
mais do que garantir a sua possibilidade (B 315).rI
A
teoria kantiana da decibilidade de proposições é de fato parte de uma teo¡ia maís ampla dasolubilidade. Essa última também 1'rúta de problemas de computabilidade.
A
distinção entre decidibilidade e computabilidade é bem antiga. Ela retoma a divisio tradicional das proposições geométricæ em teoremas e problemas. Usandoa
terminologia propdsta Por Pólya" podemosdizrt
qo" as proposições do primeiro tip'o formulam problemas-a-provzt (problems to prove),86
Zeliko
Lopariéenquanto que as do segundo constituem os probleniæ-a-achat (problems to frnd). Os
problemas-a-p¡ovil
solúveis e as proposições que os formulam podem então ser chamados "decidlveis" (entscheidbar), como o sôo, freqüentemente,pelo próprio Kant (B452). E os problemæ-a-achar solúveis, juntamente com as proposições que os articulam, podem ser chamados "const¡utlveis" (konstruierbar), queé
também um te¡mo usado por Kant (B 746).A
teoria da resolução deproblemas usada pelos geômetras gegos
diz
que um problema-a-achar terá sido solucionado quando um objeto que exemplifique suar incógnitas for exibido por intermédio de construção permisslvel baseada em r€grss. Essa fiesma construção também fornece o modelo da proposiçâo que forrpula o problema. Isojustifica o emprego, por Kant, de konstruierbar em B 746. Um casoparticular de construtibilidade é
a
computabilidade simbólica (Buchstabenrechnung, 8745), Toma¡do em consideração tamHm os problemãs-a-achat, vemos que a tese fundamental dacrltica pode agora ser fo¡mulada dizendose que, dado um problema-a-provar ou a-achar que nos
seja imposto pela natureza da nzão, é possível prová{o ou construf-lo, ou mostrar conclusiva-mente que esse problema não pode ser provado ou construfdo.
A
premissa básica dateoria
da decibilidadede
Kant
diz
que a impossibilidade daprova, que
caraclerf,za,os
problemas sem signifìcado, se deve àfalta
de significado ede referência dos conceitos que eles empregam. Uma questão, argumenta
Kant,
como a da constituição "daquele algo que não pode ser pensado mediante nenhum predicado determinadopor
serposto totalmente fora
da esfera dos objetos que nos podem serdados" é
"totalmente
nula e vazia" (B 507n), Não resta dúvida de que, por outro lado, a solubilidade deum
problema é baseada na referência e no significado (validadeobje-tiva)
dos conceitos envolvidos(8223,762,765).
Porém, comoKant
não possula um conceito preciso de prova, não é nada fácil ver-se qulfo exatamente a possibilidade das proposições pode garantir a sua solubilidade.Esa
doutrina da
decidibilidade(e,
mais geralmente,da
solubilidade,cf.
nota
l),
sem dúvida
sugeridaa Kant
pelos exemplos de procedimentosde
prova usados na geometria e na ciência natural, é a origem do chamado mëtodo cëtico usado naavalia-ção
crítica
dafilosofia tradicional.
Cada problema-a-provarfÌlosófîco
deve ser exami-nado, requerKant,
apartir
da seguinte postura metodológica:"Se a nossa questão pedemeramente um sim ou um nâo, então se age com prudência quando se deixam momenta¡leamente de lado os prováveis fundamentos da resposta e se considera, a¡rtes de tudo, o que se ganharia se a lesposta resultasse favorável a uma par-te ou se ela ¡esultæse favorável à outra parto. Orä, se se verifica que em ambos os casos
se chega a um resultado yazio de sentido [sulnleeres (non-sense)
],
então possuímosum fundado motivo para examinar criticamente a nossa questâo e ve¡ se ela não repousa sebre uma pressuposição infundada,.." (B 513).
Agora,
uma
questão repousa sobreuma
"pressuposiçãoinfundada"
quando não existe nenhumobjeto
possívelà
qual ela serefìra
(cf.porexerhploB53l).
Assim, atarefa principal
a
ser solucionadapelo método cético
da
c,l-íticaé a
dedecidir
se oobjeto
deuma
questãoou
deuma
discordânciateórica é, na
realidade, posslvel ou"consiste
porventuranuma mera
tlusão(Blendwerk), da qual
cadaum
corre
inutil-mente
atráse
com
respeitoà
qUalnÍio
poderia ganhar nada, mesmo que não se ofe-recesse absolutamente nenhuma resistência" (B45l).
A
base desta decisão é,eviden
-Heu¡tstica
Kantiaru
8'l
temente, a experiência possfvel, em concordánciacom
a primeira condiçlÍo semântica da possibilidade das proposições, enunciada acima, pois, comoKant
diz:"a experiência possfvel é a única que pode dar realidade aos nossos conceitos; sem ela
todo conceito é somente uma idéia privada de ve¡dade e de relação com um objeto" (8s17).
A
teoria
da decidibilidade tambémpermitiu
aKant
dividir
asdoutrinæ
existentes nar¡ quepermitem
o
surgimento dè questões demonstravelmente insolúveis enæ
queestfo
construídas de maneira aexigir
e esPeril apenas soluções ceûas a' todas as ques-tõesdentro
de seus domínios (Etaestiones domesticøe), embora, até agora, elas talvez ainda não tenham sido encontradas(8508). A
metafísica tradicional,por
exemplo,é a doutrina que só levanta questões insolúveis.lsto
é, a metaffsica tradicional é compos'ta
de proposições que ela não Pode nem provar, nem defìnitivamente refutar, nem Po-de, tampouco,mostraf
que essas proposições são indecidíveis.Tal
prova só pode ser dadapela crítica kantiana
baseadana
æmântica transcendental. Consideremos' Por exemplo, a questão de saber seo
ser suPremo é uma substância, se tem realidademá-xima,
se é necesário, etc,Esa
questlio, dizKant,
é inteiramente desprovida desenti-do(Bedafung)(8724). Anzão
pela qual isso é assim é ajá
esperada: .'Pois todasas categorias, pelæ quais tentam formaf um conceito de um tal objeto, nõo possuem out¡o uso a não ser o empfrico, e nã-o possuem pois sentido (Sln¿) algum quan-do não aplicadas a objetos tla experiência posslvel, isto é, ao mundo dos sentidos" (ibid).
Como conseqüência, a metaffsica
tradicional tem
que ser eliminada do sistema ver-dadeiro do saber filosófìco.Por outro lado,
o
sistemacriticamente purificado
do
conhecimentopuro, isto
é,a
filosofia
transcendental deKant,
não permite
que questões insolúveis sejamlegiti'
numente formuladas:"Ora, eu aflrmo que a filosoûa t¡anscendental possui a peculiaridade entre todo o co-nhecimento especulativo de que nenhuma questão concemente a um obieto dado ò røza1o
pura é insolivel para a mesma razão humana, e que nenhum prctexto dê uma ignorância irremediável e de uma profundidade insondável do problema pode dispensar-nos da
obri-gaçaio de da¡ uma resposta fundada e completa sobre a questão" (8505' meu grifo). Devemos
lembrar aqui que
osúnicos objetos
quepodem
set dados à razão pura são os objetos fenomenais e que, de todas as questões darazão pura, apenas as cosmo-lógicas possuem objetos (porque a alma e Deus não são dados, de modo algum, B 506),Com
respeito aos problemas cosmológicos, a dialética transcendental os prova como dogmaticamente insolúveis,o
çlue os elimina dodomlnio
da pesquisa filosófìca. Quan'to
às questões da psicologia e da teologia racional, elas podem ser eliminadaspor
ra-zões ainda mais simples do que. aquelas apresentadas porKant
na Dialética:,bastaapon-tat
para atotal
falta
de objetos a que se possam referir. Não existe, então, demonstra'88
Zeljko Lopariévelmente, nenhum problema insolúvel
em
todo
o
domlnio da
rczio
pura. Todos os problemas podem ser solucionados, embora alguns apenas"criticamente".
Além
dafìlosofìa
transcendental,a
matemáticapura
e
a fìlosofia moral
tambémadmitem
apenas questões solúveis. Teria alguém jamais sugerido, perguntaKant,
que"devido, por assim drze¡ z uma igrorância necessária das condições, fez-se passar por inseguro qual é com precisão em números racionais ou irracionais a relação do
diâme-tro
com o círculo? Visto que tal relaçaio não pode ser dada de modo exato em núme-¡os racionaís e que pelos ir¡acionais ainda nalo foi encontrada, entÍio se julga que pelomenos a impossibilidade de tal solução possa sér conhecida com segurança, e Lambert fomeceu uma prova a respeito" (B 508).
Kant, portanto,
confia na capacidade da matemática de decidir se as incógnitas deproblemas
geométricose
algébricos são racionaisou
não,
e
de
computáJaS efetiva-mente em cada caso.Não
estáclaro
seKant
pensava que todos os problemas matemáticos são solúveispor meio
deum
procedimento geral, embora algunstextos
parecem conduzir nessadireção.
Na Lógica, por
exemplo,
Kant
consideraa
matemáticacomo
sendo um"excelente
órganon"
por
conter
o
"fundamento
da
ampliaçâ'ode
nossoconheci-mento com
respeitoa
um
certo uso da razúo"
(Kant
1800,p.
5). Esa
é uma afir-maçãomuito forte, pais em Kant
o
conceito de órganon
é
sinônimo
de conceito dealgoritmo:
um
órganoné um
conjunto
deprincípios
segundoos
quaistodos
os conhecimentos deum
determinadotipo
podem ser"adquiridos
e
efetivamenterea-lizados" (824-5). Em
outras
palavras,a
matemática enquanto órganon
seria uma verdadeira a¡te da descoberta(Erftndungskunst,Kant
1800, p. 5).Kant
observa,além
disso,que
o
desenvolvimento da matemática consistiu e con-sistirá na busca de novos órganons:"Com o avanço da história natural, da matemática, etc., novos métodos se¡alo encon-trados, que encurta¡âo os antigos e tomarão dispensável a multiplicidade dos tiwos. É da
invenção desses novos métodos e princípios que dependerá nossa capacidade de encon-trar, por meio deles, tudo aquilo que quisermos, sem sobreca¡regar nossâ memória-
Por-tanto, a história é devedora àqueles que, como um gênio, consegue ôaptá-lo sob idéias
que podem durar para sempre" (ibid.p. 59),
Como
afirmei
anteriormente, Kant não tem conceitosmuito
precisos de efetividadeou
de processo geral de decisão. Não parece evidente,portanto,
que, na sua declaração de que a matemática (em oposiçâ'o à lógica) é um excelente órganon, esteja implicada a afìrmação de que a teoria matemática pode ser representada como uma classefìnita
de algoritmos.Além
disso,Kant
näopodia
ainda estabelecer nenhuma distinção cla¡aen-tre
o
que nós hoje chamamos de completude, por um lado, e de decidibilidade de siste-mias formais,por
outro.
Não há dúvida, no entanto, que a abordagem básica queKant
faz damatemática estava baseada no conceito da solubilidade.Além
dafìlosofia
transcendental e da matemática pura, afilosofia moral
iambémprolbe
a formulação de questões insolúveis. Com efeito, nos"princípios
universais dosI
Heurístlca
Kantistu
89 costumes nada pode ser inseguro, porque as proposições ou sãototal
e absolutamente nr¡las e vazias de sentido,ou têm
que derivar simplesmente dos conceitos danosa
ra-zão"
(8508,cf.8453).
Resumindo,
o
problema queKant
sepropôs
na crltica
enquanto propedêutica àfìlosofia
transcendental(teoria
dos cânonesde
aquisiçãodo
conhecimentopuro
em geral) erag
de especifìcar oslimites
da capacidade heurística de nosso aparelhocog-nitivo.
Mostrei
queKant
concebeuese
problema comoo
de caracterizar aposibili
dade de proposições sintéticæ e que para ele esseúltimo
problema era equivalente à tarefa de achar as condições apriori
de satisfazibilidade e de decidibilidade (oucons-trutibilidade)
de tais proposições.REFERENCIAS
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