A P L I C A Ç Ã O D E PRODUTOS QUÍMICOS NA REPICAGEM DA FIGUEIRA * PAULO R.C. CASTRO ** V L A D I M I R R. SAMPAIO *** CLARICE G.B. DEMÉTRIO **** RESUMO
Como a repicagem de mudas de figueira (Fi¬ cus carica L. c v . Roxo de Valinhas) apresen ta frequentemente problemas no t r a n s p l a n t e , estudou-se o e f e i t o de produtos químicos nes¬ ta fase crftica para a formação do
figuei-ral. Procedeu-se aos tratamentos de redução da área f o l i a r , pulverização com Transplan¬ tone 10 g/l á g u a , Oed g r e e n (oxietileno do¬ cosanol) 40 ml/1 ,Good-rite peps (polisulfe¬ to de polietíleno) 0,6 ml/l e Mobileaf 200 m l / l , além do controle. Redução da área
fo-liar ou pulverização com o x i e t i l e n o docaso¬ nol a u m e n t a r a m a p o r c e n t a g e m de s o b r e v i v ê n cia das figueiras t r a n s p l a n t a d a s . Os p r o d u -tos químicos n ã o p r o m o v e r a m variações signi¬ ficativas na altura das mudas de figueira
* Entregue para publicação e m 07/05/1981
** Departamento de B o t â n i c a , E.S.A. "Luiz de Q u e i r o z " , U S P . *** D e p a r t a m e n t o de A g r i c u l t u r a e H o r t i c u l t u r a , E.S.A. "Luiz
de Q u e i r o z " , U S P .
**** Departamento de M a t e m á t i c a e E s t a t í s t i c a , E.S.A. "Luiz de Q u e i r o z " , U S P .
'Roxo de V a l i n h o s ' . Auxinas componentes do T r a n s p l a n t o n e (naftalenacetamida e àcido naftalenacético) c a u s a r a m aumento no número de folhas da figueira t r a n s p l a n t a d a .
I N T R O D U Ç A O
No p r o c e s s o de f o r m a ç ã o de mudas de arvores f r u t í f e r a s , a repicagem é uma o p e r a ç ã o sempre d e l i c a d a , na qual o c o r r e m comumente perdas ou atraso no d e s e n v o l v i m e n t o das p l a n t a s , dependendo da espécie e m p r o p a g a ç ã o , época de e x e c u ç ã o e c u i -dados d i s p e n s a d o s . DAVENPORT et dlii (1972) n o t a r a m que a utí
lizaçao de a n t i t r a n s p i r a n t e s poderia auxiliar na s o b r e v i v ê n -cia de vegetais t r a n s p l a n t a d o s , uma vez que as maiores perdas sio provocadas pela e x c e s s i v a transpiraçlo foliar. FISHER δ LYON (1972) v e r i f i c a r a m que os antitranspirantes utilizados sobre as plantas cultivadas v i s a m regular a quantidade de água perdida pelas f o l h a s , e v i t a n d o a dessecaçao, DEVENPORT etalti,
(1972) o b s e r v a r a m que a aplicação de u m a fina camada de a n t i -transpirante sobre a r v o r e s , promove a cobertura dos e s t ô m a t o s da e p i d e r m e f o l i a r , a u m e n t a n d o a resistência das folhas i d i
-fusão do vapor de ãgua e c a u s a n d o um aumento do potencial hí-d r i c o hí-da p l a n t a .
Segundo GALE δ HAGAN 0 3 6 6 1 , numerosos trabalhos u t i l i zando a n t i t r a n s p i r a n t e s formadores de filme sobre as p l a n t a s , para e v i t a r a d e s s e c a ç a o e a m o r t a l i d a d e no transplante de mu d a s , não têm m o s t r a d o resultados c o n s i s t e n t e s . V e r i f i c o u - se que apesar da muda da espécie florestal tratada transpi rar m e -nos inicialmente, a p r e s e n t a n d o pptencial hfdrico mais e l e v a d o , esta v a n t a g e m é perdida tão logo ocorra déficit hídrico no so lo. E n t r e t a n t o , o tratamento com antitranspirantes tem m o s t r a do aumentar a sobreviência e a p o r c e n t a g e m de e n r a i z a m e n t o de e s t a c a s .
CASTRO δ GARCIA 0 9 71* ) n o t a r a m que a p l i c a ç ã o de p o l i s u ]
feto de p o l i e t i l e n o e m f e i j o e i r o , nas dosagens de 0, 0,5, 2 e 5 ml/l p r o p o r c i o n o u uma transpi ração m é d i a diária de-, respec-t i v a m e n respec-t e , 23,k\ 18,9; 15,3 e 13,9 m g / d m 2 / m i n . ANÔNIMO 0 9 7 2 )
considerou T r a n s p l a n t o n e como um produto a base de n a f t a l e n a -cetamida capaz de proteger o tecido radicular afetado no^trans plante ou levado a uma redução na absorção de á g u a , favorecen do o d e s e n v o l v i m e n t o normal da p l a n t a . SAMPAIO δ CASTRO(í9J7y e s t u d a r a m a possibilidade da repícagem de porta-enxertos de p e s s e g u e i r o s , de raízes n u a s , com alturas médias acima de kS c m , utilizando produtos q u í m i c o s . Notaram que os melhores re-sultados foram obtidos com M o b i l e a f , o q u a l , p o r é m , não diferiu do tratamento com Oed g r e e n . SOUZA et alit (197 0 nao o b servaram efeitos benéficos na repícagem do limoeiro com a p l i -cação de ácido n a f t a l e n a c é t i c o .
FREITAS Cl975)- e f e t u o u o tratamento de Citrus limonia com oxietileno docosanol e procedeu ao a r m a z e n a m e n t o das m u
-das por diferentes períodos de tempo. Notou que o produto nao afetou o transplante imediato ou após 72 h o r a s . No armazena m e n t o por \kk h o r a s , os tratamentos por imersão durante 1 m i -n u t o , com o x i e t i l e -n o docosa-nol 3%, 6¾ e S%9 d i m i n u í r a m s i g n i
-ficativamente o numero de plantas m o r t a s , DAVENPORT et alii (1972) v e r i f i c a r a m que aplicação de antitranspirante em c f t n cos com 7 anos de idade, antes do t r a n s p l a n t e , aumentou o po-tencial hídrico foliar reduzindo o choque do transplante; após o transplante p o r é m , ocorreu um decréscimo no potencial h í d n c o , resultando e m pequeno efeito benéfico na porcentagem de sob revivencia,
A figueira cultivar Roxo de V a l i n h o s é a mais extensa -mente plantada no Estado de São Paulo. Sua propagação é r e a H zada através de e s t a q u i a , sendo que e m g e r a l , no fim do p r i m e i r o ano de p l a n t i o , cerca de 60.¾ das estacas e s t a r l o s u f i -cientemente enraizadas para a formação do figueiral (RIGITANO
196*0.
Neste ensaio procurouse verificar o e f e i t o da aplica
-ção de produtos químicos na s o b r e v i v ê n c i a , e n f o l h a m e n t o e crescimento de mudas desenvolvidas de f i g u e i r a , por ocasião da repícagem.
MATERIAIS Ε M É T O D O S
Escola Superior de A g r i c u l t u r a "Luiz de Q u e i r o z " . Realizou-se a formação de mudas de Ficus oarica c v . Roxo de V a l i n h o s atra vés da e s t a q u i a e m canteiros possuindo areia como substrato. A repicagem foi e f e t u a d a e m 01/11/79· As plantas retiradas do alfobre foram levadas para ripado e replantadas e m sacos de polietileno contendo terra como substrato. Nestas condições procedeu-se aos tratamentos de corte parcial das folhas (redu çio d a ãrea f o l i a r ) , p u l v e r i z a ç ã o com T r a n s p l a n t o n e (10 g/l de ãgua) , Oed green (Aft m l / l ) , G o o d - r i t e peps (0,6 ml/l) e M o b |
leaf (20Q m l / l ) , a l é m do c o n t r o l e . Transplantone é c o n s t i t u í -do por uma m i s t u r a de n a f t a l e n a c e t a m i d a e áci-do n a f t a l e n a c é U c o , Oed greea é formado por o x i e t i l e n o d o c o s a n o l , G o o d - r i t e peps trata-se de p o l i s u l f e t o de p o l i e t i l e n o e M o b i l e a f é um antitranspirante de p e l í c u l a d e l g a d a .
Em 14/12/79 d e t e r m i n o u s e a porcentagem de s o b r e v i v ê n -cia das 32 mudas u t i l i z a d a s por tratamento. A a l t u r a e o nume ro de folhas das figueiras f o r a m determinadas s e m a n a l m e n t e , de 01/11/79 e 13/12/79. Para o e s t a b e l e c i m e n t o do e f e i t o dos tra
tamentos nestes p a r â m e t r o s , verificou-se a v a r i a ç ã o e m altura (cm) e a v a r i a ç ã o n o n u m e r o de folhas entre 01/11/73L e 13/12/ 79· Estes d a d o s , obtidos de u m a a m o s t r a g e m de 8 plantas por t r a t a m e n t o , foram submetidos a analise de v a r i a n c i a e ao
tes-te Tukey (5¾!, sendo o d e l i n e a m e n t o intes-teiramentes-te casualizado.
RESULTADOS Ε DISCUSSÃO
V e r i f i c a s e pela T a b e l a 1 q u e a p o r c e n t a g e m de s o b r e v i -vência das mudas de figueira transplantadas m o s t r o u - s e mais e l e v a d a nos tratamentos e m q u e se realizou corte da metade d o
limbo foliar ou p u l v e r i z a ç ã o c o m Oed green (oxietileno d o c o -sanol) kQ m l / 1 . Deste m o d o , pode-se considerar que o problema crítico na repicagem das mudas de figueira refere-se ao cho-que do transplante d e v i d o a o déficit de Igua na p l a n t a , p o i s ,
tratamentos que reduzem a ãrea foliar ou a t r a n s p i r a ç ã o , apre sentamse p r o m i s s o r e s . Este choque é causado pela perda de ã -gua pelas folhas que nao pode ser reposta devido aos traumas no sistema radicular promovidos pelo a r r a n c a m e n t o das m u
-das d o a l f o b r e , o que esta de a c o r d o c o m DAVENPORT et alii (1972).
Observouse ainda que nao o c o r r e r a m diferenças s i g n i f i -cativas na v a ri a ção em altura das plantas d e t e r m i n a d a entre 01/11 e 13/12/79. Notou-se uma tendência das plantas trata-das com Mobileaf e T r a n s p l a n t o n e a p r e s e n t a r e m maior crescimen t o , sendo que o menor crescimento foi observado no controle
(Tabela 1). Isto poderia sugerir que dentre as plantas sobrev i sobrev e n t e s , aquelas tratadas com Mobileaf e T r a n s p l a n t o n e m o s -traram-se mais favorecidas e m seu d e s e n v o l v i m e n t o . SAMPAIO & CASTRO 0977)- também notaram efeito favorável do Mobi leaf no desenvolvimento de mudas de pessegueiro.
A v ar i aç ã o do numero de f o l h a s , observada entre 01/11 e 13/12/79-, mostrou que aplicação de T r a n s p l a n t o n e promoveu o desenvolvimento de maior numero de f o l h a s , seguido pelo t r a -tamento com M o b i l e a f . A v a r i a ç ã o no numero de folhas foi significativamente mais alta nas plantas pulverizadas com T r a n s -plantone em relação aquelas tratadas com Oed green (Tabela 1)_.
Devese considerar que T r a n s p i a n t o n e e o único destes p r o d u -tos químicos composto de a u x i n a s . isto poderia significar que
naftalenacetamida e ácido n a f t a l e n a c é t i c o , compoeentes do T r a n s p 1 a n t o n e , at u ariam numa recuperação das mudas de f i g u e i
-ra t-ransplantadas de m o d o e f e t i v o , o que corrobo-ra ANÔNIMO (1972).
CONCLUSÕES
De acordo com os resultados obtidos podemos auferir as segu i ntes c o n c l u s S e s :
1. corte da m e t a d e do limbo foliar ou p u l v e r i z a ç ã o com oxietileno docosanol aumentam a porcentagem de sobre vivência das mudas de figueira t r a n s p l a n t a d a s ;
2. os produtos químicos utilizados nào promovem a l t e r a ções significativas na a l t u r a , das mudas de f i g u e i -ra 'Roxo de V a l i n h o s1;
3. auxinas componentes do T r a n s p l a n t o n e causam aumento no número de folhas da figueira t r a n s p l a n t a d a .
SUMMARY
A P P L I C A T I O N OF CHEMICALS ON Ficus carica L. TRANSPLANTED
This research deals w i t h the effects of chemicals o n , transplantation of Ficus carica L. cv. Roxo de V a l i n h o s . Fig plants were sprayed w i t h T r a n s p l a n t o n e (naphthaleneacetamide p l u s n a p h t a l e n e a c e t i c acid) 10 g/1 , Oed green (oxyethylene doco¬ sanol) 40 m l / 1 , Good-rite peps (polyethylene polysulfite) 0,6 m l / 1 , and Mobileaf 200 m l / 1 . A check treatment and aereduction
to half of leaf area w e r e also e s t a b l i s h e d . Reduction of leaf area and application of oxyethylene docosanol promoted higher plant s u r v i v a l . T h e chemicals did not affect the growth of
transplanted plants. Auxins constituents of Transplantone increased leaf number of fig p l a n t s .
LITERATURA CITADA
A N Ô N I M O , 1272. T r a n s p l a n t o n e . Amchem Agricultural Chemical Bul¬ letin, A m b l e r , lp.
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