• Nenhum resultado encontrado

joaom

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "joaom"

Copied!
10
0
0

Texto

(1)

pontes e caminhos para a sustentabilidade. p.836-845.

_________________________________________________________________________________________________

MEIO AMBIENTE, SAÚDE,TRABALHO E DESENVOLVIMENTO:

EM BUSCA DE PONTES E CAMINHOS PARA A

SUSTENTABILIDADE

João Mateus de Amorim1

Manuel Rolando Baldonero Berríos Godoy2

Resumo

A sustentabilidade é o ponto de equilíbrio entre a produção, o consumo, o desenvolvimento e a saúde ambiental. Sua manutenção depende da racionalidade humana, em relação ao avanço do progresso, da consciência ambiental, dos aspectos sociais e das vontades socioeconômicas expressas no desejo pelo consumo de bens produzidos com recursos naturais não-renováveis, como os combustíveis fósseis e outros. È possível produzir bens de consumo, de forma intensificada, sem destruir, depredar ou provocar o esgotamento de recursos que levam milhares de anos para a sua formação. A reciclagem espontânea, nos moldes daquilo que ocorre na natureza, é quase impossível, pois os objetos criados pelo homem são extremamente resistentes ao desgaste natural. O viés sustentável deve passar pela atividade produtiva, pela atividade de cunho especulativo e pelo contexto socioespacial, com vistas a uma leitura de fundo mais abrangente que permita a busca de explicações para os impactos ambientais e de propostas de mudanças na forma de condução desse processo.

Sustentabilidade

A obtenção do viés sustentável, mesmo no seio do desenvolvimento, é possível, desde que se promova a mudança na matriz energética (recursos renováveis, biomassa, energia hidrelétrica e energia eólica) em equipamentos com menos gasto de energia e com a utilização de recursos menos tóxicos, priorizando-se insumos reciclados e reduzindo-se os resíduos na fonte. Como conseguir isto com estes fundamentos?

1Doutorando em geografia na UNESP de Rio Claro – joao_mateus2007@yahoo.com.br

(2)

_________________________________________________________________________________________________ [...] A sacralização da ciência e da técnica promoveram, no período moderno, a ocultação da importância do espaço, que precisa ser recuperada para se compreenderem as relações da sociedade com a natureza [...] Como a produção, que é de fato extração contínua, a “economia de rapina3

é compreendida pelo cidadão comum? [...] Como compreender que a extração contínua produz um “resíduo sólido” que é cada vez mais “resistente” e que esta resistência ao “tempo”, acrescida do crescimento populacional, a torna também um grande problema de espaço. Problema, portanto, relacionado ao tempo e ao espaço (Rodrigues, 2002, Pg. 133).

Estudos realizados por vários pesquisadores demonstram que a natureza não suportará a depleção atual de recursos naturais se os países subdesenvolvidos atenderem às reivindicações de consumo, da produção e da geração de resíduos dos países desenvolvidos. Essa degradação da natureza demandará mais de um planeta e, possivelmente, entrará em colapso de forma generalizada, provocando a destruição de qualquer forma de vida.

Como preservar e conservar os ecossistemas naturais nos países em desenvolvimento, como o Brasil, a China, a Índia, a Rússia, os países da África, da América Latina e da América Central, do Oriente Médio e de vários países da Ásia em situações extremas de pobreza? Com relação a esse quadro de (in) sustentabilidade, tem-se um número considerável de pessoas vivendo em ambientes bastante vulneráveis em relação a:

• Gestão dos resíduos sólidos, tanto seco (tijolos, madeiras, plásticos, metais, papel e papelão etc.) como úmido (restos de comidas, animais mortos, verduras e outros);

• Ao saneamento básico, que são resíduos líquidos, sólidos e gasosos, águas pluviais urbanas, abastecimento público e tratamento do esgoto;

• Aos ambientes de risco de contaminação, como indústrias químicas desativadas, garimpos que utilizam mercúrio, indústrias petroquímicas entre outros;

• Aglomerados humanos nas proximidades de áreas antropizadas (desmatadas) e próximas de matas, que podem ser atacadas pelos mosquitos (vetores) da febre amarela, da dengue, da leishmaniose, da filariose e da malária;

(3)

pontes e caminhos para a sustentabilidade. p.836-845.

_________________________________________________________________________________________________ Para dar sustentação a esse ponto de vista segue abaixo a descrição da tipologia dos conflitos socioambientais no Brasil. Sendo assim, Porto e Freitas (2006), apresentam quatro tipos de conflitos com exemplos ilustrativos de problemas ambientais e de saúde, da seguinte forma:

O primeiro tipo de conflito está relacionado ao uso da terra para a agricultura, a agroindústria, a exploração de a madeira, a pecuária e, mais recentemente para a carnicicultura, ou seja, a produção de camarão [...] a expansão da área agrícola pela monocultura, além de degradar ecossistemas, expulsa populações do campo e das florestas, sejam elas indígenas, pequenos agricultores de produção familiar, pescadores, caiçaras, quilombolas e extrativistas [...].

O segundo tipo de conflito se encontra associado à produção mineral e industrial de alguns setores, sendo um importante gerador de poluição e riscos, quer estejam eles localizados nos territórios das fábricas (riscos intensivos), quer afetem ambientes e ecossistemas mais globais (riscos extensivos). As indústrias de alumínio, ferro-gusa, cimento, celulose, entre outras, são responsáveis por 27% do consumo final de energia elétrica no Brasil, ou seja, quase a mesma energia usada para a iluminação de casas em todo o pais [...].

O terceiro grupo de conflitos envolve os associados à produção de energia e grandes obras de infra-estrutura [...] construção de grandes barragens e hidrelétricas no Brasil; industria do petróleo [...] hidrovia Paraguai-Paraná [...] transposição do rio São Francisco [...].

Um quarto grupo de conflitos envolve os urbanos associados á moradia e infra-estrutura das cidades, incluindo os resíduos. No Brasil, o modelo de desenvolvimento econômico adotado, sustentado pela ausência de um sistema político democrático – particularmente entre os anos 60 e 80 – e pelas grandes transformações na sociedade, combinado concentração de capital, exploração de mão de obra e abandono ou omissão do poder público no controle e prevenção da poluição ambiental, resultou em rápida e desordenada industrialização [...] (PORTO; FREITAS, 2006, p. 94-102).

Para que se possa enfrentar esses conflitos socioambientais e suas implicações à saúde das populações humanas, será necessário mudar a lógica de produção baseada nos aspectos econômicos para uma lógica ambiental, social, cultural e política. Mas, para isto, o processo de produção deve estar vinculado ao desenvolvimento sustentável, com uso de tecnologias limpas, reciclagem de resíduos na origem, reuso da água e gestão

(4)

_________________________________________________________________________________________________ integrada dos resíduos, após o processo produtivo, ou seja, fim-de-tubo4, purificação dos efluentes gasosos entre outros (Kiperstok et. al., 2002).

Rigotto (2008) denuncia a via do progresso que tem com base somente a implantação de indústrias e empresas em um espaço geográfico sem subsídio de políticas públicas e infraestrutura de cunho social, econômico, educacional, cultural dentre outros, pois, só assim, pode-se minimizar a precarização do trabalho, a degradação do meio ambiente, os impactos negativos na saúde do trabalhador e por fim a sua exploração como mão-de-obra barata. Como resolver essa situação? Parece difícil, mas não impossível, pois a solução dessas circunstâncias dependerá de planejamento do Estado, de investimento em cidadania, em participação popular e em educação dentre outros pontos.

Urbanização, saúde, meio ambiente e desenvolvimento

Rodrigues (1998) afirma que o processo de urbanização brasileira, apesar do fato de que 75% das pessoas moram nas cidades, não gerou a tão sonhada urbanidade para a massa populacional mais pobre e que habita os espaços periféricos, gerando exclusão e segregação socioespacial. Estas observações são também apontadas e complementadas por Corrêa (1995), para quem a segregação socioespacial pode ser promovida pelo próprio Estado, por meio da construção de infra-estrutura e equipamento urbano, contribuindo com a expulsão da população pobre destes espaços valorizados para os bairros periféricos das cidades.

Outro processo de valorização da terra urbana ocorre com a construção de hipermercados, shopping centers, universidades, condomínios seguros e bem arborizados, lojas e outros equipamentos, que se tornam atrativos para a instalação de loteamentos fechados para a classe com alto poder aquisitivo. Na maioria das vezes, nessas áreas, a natureza (ar puro e o contato com o verde) a segurança e a acessibilidade são o ponto central para o marketing e a comercialização desses produtos fabricados pelo mercado imobiliário com a promessa de proporcionar a qualidade de vida aos futuros moradores deste local.

4 Gerenciar os resíduos que serão descartados em aterros sanitários, lixões e aterros controlados.

(5)

pontes e caminhos para a sustentabilidade. p.836-845.

_________________________________________________________________________________________________ Portanto, a urbanidade nas cidades passa por estas amenidades naturais, pela qualidade de vida, pelos equipamentos urbanos, pelo acesso a segurança e pela acessibilidade. Pode-se dizer então que o acesso a esse espaço socialmente construído está diretamente relacionado com a renda da terra urbana, com o valor de troca, com status de uma sociedade capitalista e socialmente desigual em relação às classes mais pobres (CORRÊA, 1995).

Mas os que não participam das condições consideradas adequadas de qualidade de vida e de justiça social partilham em escala ampliada dos “resíduos” deste processo de urbanização acelerada, respirando o ar poluído das cidades e metrópole, habitando em situação precária e não tendo trabalho adequado para as necessidades de sua reprodução, sem fornecimento adequado de luz e água e de esgotamento sanitário sem transportes coletivos suficientes, atendidos como “animais não pensantes” nos hospitais, postos de saúde e até nas escolas. Enfim, sem condições de vida digna (RODRIGUES, 1998, p. 108).

Rodrigues (1998) comenta que, para agravar a convivência urbana e o acesso a urbanidade, para a população mais pobre, tem-se o acúmulo de áreas mais próximas ao centro, via especulação imobiliária. Isto provoca a exclusão e a segregação espacial em loteamentos precários, distantes do centro, com poucos ônibus e uma má qualidade de vida para a classe trabalhadora.

O IPTU, por se tratar de um Imposto Municipal, pode contribuir com esse processo na medida em que o Poder Público Municipal, ao mesmo tempo, pelo prefeito, pelo proprietário de terras urbanas e pelo incorporador imobiliário (via direta ou indireta). Para alterar esse quadro necessita-se de investimento em educação, em cidadania, na participação popular, na ética e de cuidado com o próximo e com o meio ambiente.

[...] O meio ambiente urbano mostra, com toda clareza, a diversidade da riqueza e da pobreza, da produção e (re) produção de objetos, de cultura, de vida quotidiana enfim. Ao mesmo tempo em que oculta a natureza física e biológica (RODRIGUES, 1998, p. 110).

Rodrigues (1998) apresenta os aspectos contraditórios do progresso de cunho capitalista ancorado na urbanização e na industrialização. Essa autora afirma também que a urbanização é o motor das transformações socioespaciais, do aumento do consumo, e por fim, da produção, induzido e incentivado pela televisão, pela internet,

(6)

_________________________________________________________________________________________________ pelo rádio entre outros, provocando a problemática ambiental instalada. O Estado, nesse contexto, é um dos atores principais dessa contradição na medida em que fiscaliza e procura diminuir o impacto ambiental, ao mesmo tempo, acaba também incentivando o consumo via redução do IPI, para a compra de veículos automotores.

Outra forma de exclusão e de ação contraditória do poder público se dá em função da construção de avenidas largas e amplas, pois expulsa a população para a periferia da cidade e incentiva a compra de veículos particulares e individuais, ao invés de incentivar o transporte coletivo público, contribuindo para o agravamento da questão ambiental urbana (RODRIGUES, 1998).

Serres (1991) questiona a dominação intensificada do homem face à natureza após a “aplicação do conhecimento científico e as intervenções técnicas do direito de propriedade, individual e coletivo” (SERRES, 1991, p. 45). A técnica, a ciência e o conhecimento, sob o viés do pensamento de Descartes, Newton e outros, foram decisivas para o avanço das pesquisas de cunho linear, reducionista e fragmentadora em relação à intervenção humana no espaço ambiental. Sendo assim, essa situação, provocará um distanciamento do homem em relação à natureza e, por conseqüência, a poluição, os resíduos e a destruição do nosso habitat.

[...] imitando alguns animais que urinam em seu nicho para mostrar que é seu, muitos homens marcam e sujam, cagando nos objetos que lhes pertencem para mostrar que são seus – ou em outros – ou em outros, para se tornem seus. Esta origem estercoral ou excremental do direito de propriedade me parece uma fonte cultural do que chamamos de poluição que, longe de resultar em atos involuntários como acidente, revela intenções profundas e uma motivação primordial [...] Assim, a imundície imprime no mundo a marca da humanidade, ou de seus dominadores, o selo de sujeira da sua tomada e da sua apropriação. Uma espécie viva, a nossa, consegue excluir todas as outras de seu nicho agora global: como poderiam nutrir-se ou habitar o que nós cobrimos de imundície? Se o mundo sujo corre algum perigo, isto provém da nossa exclusiva apropriação das coisas (SERRES, 1991, p. 45).

A partir dessa reflexão, pode-se dizer que esse espírito de dominação, de impactos ambientais de poder e de concentração de renda são palavras chave no ideal de progresso com viés econômico. Para que este se torne mais abrangente, mais integrado, mais democrático e mais harmônico, será preciso abarcar também as questões ambientais, sociais, culturais, políticas e econômicas.

(7)

pontes e caminhos para a sustentabilidade. p.836-845.

_________________________________________________________________________________________________ Rigotto (2008) apresenta em seu livro uma análise crítica acerca da (des) localização de algumas indústrias, com exigência de menos tecnologia e mais poluidoras, da região Centro-Sul e seu anunciado progresso no Estado do Ceará, e mais especificamente, em Maranguape, na região metropolitana de Fortaleza.

Esse progresso, segundo a pesquisadora em questão, não trouxe melhorias para a população local como um todo e, sim, subjugação e exploração da mão-de-obra local por meio de contratos precários, pois contratam crianças, jovens e mulheres por salários baixos e sem benefícios empregatícios (vale transporte, vale alimentação e auxílio saúde).

Pelo levantamento de Rigotto (2008), Maranguape tem 18 empresas e 4700 empregados, porém, com baixos salários, serviço insalubre e penoso, com diversas implicações para a saúde dos trabalhadores e para a população local. A (des) localização industrial apresentada no estudo da autora gerou um avanço econômico para o capital empresarial via concentração e sem distribuição para os munícipes de forma eqüitativa. Como conseqüência, esse quadro provoca aumento das doenças do trabalho e das alterações no espaço natural local.

O grande incentivador dessa (des) localização é o próprio Estado, pela via de incentivos fiscais e redução de impostos. Além disso, tem-se um processo de atuação dos sindicatos, bastante frágil ou inexistente, com relação às questões trabalhistas, e uma estrutura ineficiente de fiscalização ambiental e de saúde ocupacional dos poderes públicos, Estadual e Municipal. Essa descentralização, na maioria das vezes, serve para desconcentrar as indústrias que são problemáticas em um lugar, mas aceitáveis e toleráveis em outro. Essas empresas são, na maioria das vezes, indústrias químicas, de calçados, de confecções de roupas, de celulose, dentre outras.

Este quadro remete às estratégias empresariais de manutenção da competitividade, relocalização, distribuição espacial, focalização, descentralização da produção sem desconcentração do poder etc. que trazem implicações para o trabalho, para a distribuição dos riscos e para a saúde (RIGOTTO, 1998, p. 144).

Assim sendo, fica claro que promover o desenvolvimento somente pelo viés econômico não resolve o problema da população local, mas pode, sim, piorar as condições de vida dessas comunidades. O desenvolvimento deve, portanto, levar em conta também a cidadania, a educação, a participação popular, a preservação da cultura

(8)

_________________________________________________________________________________________________ local, o cuidado com a biodiversidade e com outros animais, a democracia e o cuidado com o meio ambiente como um todo.

O desenvolvimento sustentável é possível?

Se o desenvolvimento sob a tutela do/no contexto do capitalismo urbano-industrial traz em seu bojo o crescimento econômico, o progresso, o aumento dos bens produtivos e o aumento do consumo, como podemos implantar o desenvolvimento sustentável? (RODRIGUES, 1998). No contexto atual, os países são divididos em desenvolvidos, em desenvolvimento e subdesenvolvidos, levando-se em conta somente os critérios da produção industrial, do avanço tecnológico, da pobreza, da infra-estrutura e do contingente populacional.

O desenvolvimento da tecnologia e das formas organizacionais subordinadas às leis de acumulação refaz, historicamente, esta dinâmica de reprodução social excludente a partir tanto dos padrões de produção dominados pelas formas de trabalho alienado processado em novos patamares tecnológicos) quanto de consumo (socialmente diferenciado, entre países do Norte e do Sul e, internamente, dentro de cada país), cuja simbiose e capacidade de gerar problemas para a saúde pública e, inclusive, para o meio ambiente [...] (FRANCO, 2002, p. 212).

Para dar amplitude ao termo desenvolvimento (ir além do viés econômico) é preciso abarcar o “Desenvolvimento Social” com ênfase ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), que verifica o desenvolvimento sob o viés da riqueza da população, da educação e da esperança de vida. Esse processo poderá promover a verdadeira divisão entre os países, não simplesmente, atendendo somente ao parâmetro do crescimento econômico. Mas, para mudar essa situação, deve-se investir na redistribuição da riqueza, na sustentabilidade (ambiental, social, cultural e política) dos países e no investimento em educação e infraestrutura; caso contrário, eles tornar-se-ão insustentáveis.

Para Rodrigues (1998), pensar o desenvolvimento sustentável e preciso analisá-lo e entendê-analisá-lo no espaço, pois e aí que a sociedade vive, constrói casas e cidades, trabalha e consome os produtos processados na indústria capitalista. Então, para que se possa diagnosticar as conseqüências desse processo, e preciso também investigar as suas origens (causas), com vistas a garantir a verdadeira sustentabilidade dos espaços

(9)

pontes e caminhos para a sustentabilidade. p.836-845.

_________________________________________________________________________________________________ com a ideologia capitalista, com a exclusão social, com a reverência ao ter e não ao ser, com o individualismo, com o lucro rápido, com a falta de cuidado e de sensibilidade para com a natureza e o homem e com a apologia exacerbada da mídia em relação ao incentivo ao consumo, gerando danos e impacto com conseqüência extrema ao meio ambiente.

No entendimento de Rodrigues (1998) e REIS L. B. et al (2005), para que se possa promover o chamado “Desenvolvimento Sustentável” é necessário considerar uma base territorial e compreender a sua produção socioespacial. Portanto, para isso, necessita-se ir além das campanhas ambientais, como plantar uma árvore, fazer a coleta seletiva de resíduos, manter os rios e parques limpos, embora esses procedimentos sejam extremamente necessários para a minimização dos impactos ambientais.

Essa autora postula que não é mais possível entender problemas ambientais somente na perspectiva do aumento populacional, do urbano e dos limites político-administrativo, mas, sim, no âmbito das bacias hidrográficas, dos processos produtivos e das cidades. Essa situação agravou-se com a produção urbano-industrial, tomando-se cada vez mais complexa, ou seja, “se 25% da população mundial consome 75% da energia da terra, 79% dos combustíveis e 85% da produção de madeira, a relação população/meio ambiente deve ser visto de uma perspectiva mais complexa” (HOGAN, D., 1993: 62 apud RODRIGUES, 2002, p. 120).

Indaga-se, a partir dessas reflexões: como conseguir atingir o desenvolvimento sustentável? É possível, desde que ocorra o compromisso de se dividir, de maneira equilibrada, o fator econômico, de se investir em justiça social, de se reduzir a degradação ambiental por meio de políticas públicas de incentivo à preservação ambiental e à poluição zero no setor produtivo e de serviços, de saúde pública e ambiental, de investimentos em educação e ética ambiental e outros pontos.

Considerações finais

A sustentabilidade no contexto do Desenvolvimento Sustentável, para Rodrigues (2002), deve abarcar a questão territorial e a produção socioespacial, ou seja, para a autora, é preciso entender o espaço, o território, o lugar e o Estado. Então, para isto, é necessário investir em educação, em cidadania e em democracia social, e é preciso também compreender melhor a nova faceta do poder político e do mercado. O objetivo dessa noção espacial e territorial implica a geração de um novo cidadão e não um mero

(10)

_________________________________________________________________________________________________ consumidor de mercadoria e produto de forma alienada do processo de construção socioespacial.

O referido artigo mostra que a pobreza, as condições socioambientais, a falta de saneamento básico (drenagem urbana, resíduos sólidos, esgoto sanitário, abastecimento público com água encanada e tratada), a falta de higiene e a baixa participação popular na Gestão Pública Municipal, contribuem para o agravamento do quadro de saúde pública e ambiental. Isto gera um quadro bastante desequilibrado na relação homem, natureza e trabalho com o (re) aparecimento de velhas doenças, como cólera, tuberculose, febre amarela entre outras.

A análise da relação entre homem e trabalho torna-se necessária, pois mostra que o trabalhador no Brasil e em outros países da América Latina, da África, da Ásia dentre outros continentes, tem sua lida diária em um ambiente extremamente contaminado pelo CO2, pela concentração de poeira e de outros resíduos em suspensão no ar.

Referências

FRANCO, Tânia. Padrões de produção e consumo nas sociedades urbano-industriais e suas relações com a degradação da saúde e do meio ambiente. In: MINAYO, Maria Cecília de Souza, CARVALHO, Ary Miranda de. (Org.). Saúde e ambiente sustentável: estreitando nós. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2002.

FREITAS, Carlos Machado de; PORTO, Marcelo Firpo. Saúde, ambiente e sustentabilidade. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2006.

KIPERSTOK, Asher et. al. Prevenção da poluição. Brasília: SENAI/DN, 2002.

PHILIPPI JR, Arlindo. Saneamento, Saúde e Meio Ambiente: Fundamentos para um desenvolvimento sustentável. Barueri, São Paulo: Manole, 2005. 267p.

REIS L. B. et al. Energia, recursos naturais e a prática do desenvolvimento sustentável. São Paulo: Manole, 2005.

RIGOTTO, R. M. Desenvolvimento, ambiente e saúde: implicações da des-localização industrial. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2008.

RODRIGUES, Arlete Moysés. A utopia da sociedade sustentável. Pontos de vista. Revista Ambiente e Sociedade, Ano I, nº 2, 1998.

RODRIGUES, A. M. Produção e consumo do e no espaço: problemática ambiental urbana. São Paulo: Hucitec, 1998.

Referências

Documentos relacionados

A inscrição do imóvel rural após este prazo implica na perda do direito de manter atividades agropecuárias em áreas rurais consolidadas em APP e Reserva Legal, obrigando

Podem treinar tropas (fornecidas pelo cliente) ou levá-las para combate. Geralmente, organizam-se de forma ad-hoc, que respondem a solicitações de Estados; 2)

• Quando o navegador não tem suporte ao Javascript, para que conteúdo não seja exibido na forma textual, o script deve vir entre as tags de comentário do HTML. <script Language

Nos tempos atuais, ao nos referirmos à profissão docente, ao ser professor, o que pensamos Uma profissão indesejada por muitos, social e economicamente desvalorizada Podemos dizer que

A aplicação de parafina em raízes de mandioca tem sido eficiente para prolongar o seu período de conservação.. Este efeito é atribuído à diminuição da permeabilidade ao

Esta pesquisa discorre de uma situação pontual recorrente de um processo produtivo, onde se verifica as técnicas padronizadas e estudo dos indicadores em uma observação sistêmica

Agentes Médicos e Umbandistas de Ouro Preto 19V.. 6 2.2 Fase Liminar do Processo de

62 daquele instrumento internacional”, verifica-se que não restam dúvidas quanto à vinculação do Estado Brasileiro à jurisdição da Corte Interamericana, no que diz respeito a