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Negócios em Projeção, volume 8, número 1, ano 2017, Página | 65

Depressão e trabalho: revisão da literatura nacional de

2010 e 2014

Claudia Regina Corrêa Carlos Manoel Lopes Rodrigues

Resumo: As constantes mudanças no mundo do trabalho vêm repercutindo na saúde

mental dos trabalhadores, sendo os transtornos mentais uma das maiores causas de afastamento do trabalho, destacando-se a depressão. No intuito de contribuir com o entendimento da relação entre depressão e trabalho, realizou-se uma revisão sistemática da produção acadêmica nacional, com foco em artigos empíricos publicados entre 2010 e 2014, nas bases BVS Saúde, Scielo e Periódicos Capes. Analisou-se 41 artigos agrupados em pesquisas epidemiológicas (27,5%) e pesquisas sobre saúde e qualidade de vida no trabalhado (72,5%), sendo identificadas 9 categorias profissionais estudadas, com predominância dos estudos com profissionais de saúde (30%), educação (20%) e serviços (20%). Os estudos epidemiológicos indicaram uma prevalência superior de casos depressivos quando comparados com a população em geral. Os estudos sobre saúde em geral e qualidade de vida no trabalho focaram-se na identificação de fatores de risco, mantendo concordância com a literatura. Dada a heterogeneidade metodológica e instrumental dos estudos analisado, sugere-se um aprofundamento mais detalhado na questão.

Palavras-Chave: Depressão; Trabalho; Saúde mental; Saúde ocupacional, Riscos

ocupacionais.

Abstract: The constant changes in the working world are impacting the mental health

of workers, and mental disorders a major cause of absenteeism, especially depression. In order to contribute to the understanding of the relationship between depression and work, there was a systematic review of national academic production, focusing on empirical articles published between 2010 and 2014, on the basis BVS Saúde, SciELO and Portal Periódicos Capes. We analyzed 41 articles grouped in epidemiological research (27.5%) and research on health and quality of life in the working (72.5%), identified nine professional categories studied, with a predominance of studies with health professionals (30%), education (20%) and services (20%). Epidemiological studies have indicated a higher prevalence of depressive cases when compared with the general population. The studies about health in general and quality of life at work have focused on identifying risk factors, keeping consistent with the literature. In view of the methodological heterogeneity and instrumental of the analyzed studies, we suggest a more detailed deepening in question.

Key-words: Depression; Work; Mental health; Occupational health; Occupational

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Negócios em Projeção, volume 8, número 1, ano 2017, Página | 66

Introdução

O mundo do trabalho vem se tornando cada vez mais competitivo e exigente, demandando dos trabalhadores melhor desempenho, maior qualificação e expertise, além de flexibilidade e polivalência, tudo isso em um contexto de instabilidade e redução de garantias trabalhistas, pressionando estes trabalhadores tanto física quanto mentalmente, tendo por consequência o aumento dos riscos e agravos a saúde dos trabalhadores. Dentre estes agravos, destaca-se a incidência elevada de transtornos mentais entre trabalhadores, figurando entre as três causas mais comuns de afastamentos do trabalho no mundo segundo a Organização Mundial de Saúde, que quando analisados detalhadamente indicam a prevalência de afastamentos em decorrência de quadros depressivos.

Este conjunto de fatores implica em um fenômeno de relevante importância social e econômica, por um lado ao implicar na redução da capacidade laboral de inúmeros indivíduos, com consequências sobre suas vidas profissionais e pessoais, e por outro ao acarretar gastos com benefícios sociais, tratamento e reabilitação, tanto para governos quanto para trabalhadores.

Considerando este cenário a agenda de pesquisa na área de saúde não pode deixar de se debruçar sobre estas questões, principalmente sobre a relação entre trabalho e depressão, por sua prevalência e impacto social e econômico. Tendo em vista este cenário o objetivo geral deste trabalho foi realizar uma revisão sistemática a produção cientifica contemporânea sobre a relação entre depressão e trabalho. Pretendeu-se, portanto, fornecer informações relevantes a pesquisadores, profissionais de saúde, gestores, trabalhadores, sindicalistas e planejadores de políticas públicas, tendo em vista os impactos que a depressão vem acarretando a sociedade como um todo.

Depressão e Trabalho

Muito se tem dito sobre a depressão, principalmente sobre o aumento de sua incidência na contemporaneidade, inclusive sobre seus reflexos nas políticas sociais e de saúde, a Organização Mundial da Saúde – OMS (2017) indica que a depressão é o transtorno mental mais comum entre a população em geral e entre os trabalhadores, sendo que no Brasil esta tendência se mantém (Barbosa-Branco; Bultmann e Steenstra, 2012).

A depressão é definida como um transtorno do humor caracterizada pelo rebaixamento do humor e perda do interesse e prazer nas atividades corriqueiras, cuja intensidade de duração podem variar de acordo com a gravidade do quadro, inclui sintomas de ordem emocional, cognitiva e físicas, sendo os mais comuns anedonia, apatia, alteração de peso, distúrbios do sono, sentimento de culpa ou inutilidade, ideação suicida, alteração da libido, dificuldade de concentração, com consequências incapacitantes (Akiskal, 2000; OMS, 2005, 2017).

Até fevereiro de 2014 o Ministério da Previdência Social concedeu um total de 363.364 auxílios-doença previdenciários, sendo que 9.441 foram motivados por episódios depressivos únicos ou recorrentes, números ainda mais preocupantes quando observado o total de auxílios-doença concedidos por esta mesma razão no ano de 2013 - 78.928 de um total de 2.273.074 benefícios concedidos (Brasil, 2014a; 2014b). Cabe ressaltar que o auxílios-doença previdenciários somente são

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Negócios em Projeção, volume 8, número 1, ano 2017, Página | 67 concedidos para quadros que não sejam preexistentes ao exercício laboral (Siano et al., 2011), e que o sistema previdenciário oficial cobre apenas os trabalhados com contratos formais de trabalho, com contribuição previdenciária recolhida pelo empregador, o que exclui desta realidade todo um contingente de trabalhadores informais e de servidores públicos que contribuam para regimes previdenciários próprios, desta forma é provável que o quadro real esteja longe de ser capturado pelas estatísticas feitas a partir dos dados oficiais.

Este cenário tem aumentado a necessidade de atenção a este transtorno, para além dos consultórios médicos e psicológicos, nas demais instâncias da vida humana que podem influenciar e ser influenciadas por esta realidade, especialmente o trabalho enquanto campo de constituição e socialização do ser humano, mas cuja configuração atual encontra-se muito mais próxima a um fator de risco do que de promotor de saúde mental (Selligmann-Silva, 2012).

Especificamente sobre a relação entre depressão e o ambiente de trabalho, os estudos brasileiros apresentam-se em estágio incipiente, apesar deste local apresentar "as variáveis comprovadamente determinantes dos índices de depressões" (Jardim, 2011, p. 81). Moreira, Maciel e Araújo (2013) em um estudo transcultural sugerem que a relação entre depressão e as novas formas de configuração do mundo do trabalho é um fenômeno que acompanha o aumento da competividade promovida pela globalização, em consonância com os fatores de risco de origem psicossocial indicados por Akiskal (2000) como fatores contribuintes para os quadros depressivos: mudanças no estilo de vida, a falta de apoio interpessoal, habilidades sociais deficientes, e o significado simbólico das perdas. Em um estudo de revisão sobre os fatores psicossociais e de risco de depressão no trabalho, no contexto estadunidense, Bonde (2008) indica que achados consistentes da relação entre fatores psicossociais negativos e sintomas depressivos em trabalhadores.

As formas contemporâneas de configuração do mundo do trabalho, como referidas por Moreira, Maciel e Araújo (2013), se constituem no cenário da chamada reestruturação produtiva, em resposta a crise do modelo taylorista/fordista de produção em direção ao modelo de acumulação flexível do capital, reduzindo estoques e custos pela "intensificação das condições de exploração da força de trabalho, reduzindo muito ou eliminando tanto o trabalho improdutivo, quanto suas formas assemelhadas" (Antunes, 2009, p.54-55). Este movimento se materializa nos modelos e tecnologias de gestão que no momento atual se alinham como o modelo japonês de gestão e produção denominado toyotismo, em cuja essência "estão a polivalência, a redução da mão de obra, a redistribuição das tarefas entre os empregados restantes, o emprego rotineiro de trabalho "voluntário", assim dito aquele trabalho de horas extras não pagas" (Dal Rosso, 2011, p. 148).

Neste contexto de enxugamento das organizações que implica em processos de terceirização (em muitos casos quarteirização, quinteirização...) do trabalho "não essencial", e de superexploração dos que permanecem nas organizações, o modelo de gestão contemporâneo se vale de estratégias ideológicas para sua legimitização, que em última análise são "estratégias de despersonalização do trabalhador" (Alves, 2010, p. 47), cujos reflexos se sentem na saúde mental destes trabalhadores.

Contextos de trabalho diferentes podem, portanto, ensejar maiores ou menores riscos à saúde mental dos trabalhadores, e em um país de dimensões continentais como o Brasil, estes contextos criam inúmeras possibilidades de pesquisa sobre a

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Negócios em Projeção, volume 8, número 1, ano 2017, Página | 68 relação entre depressão e trabalho, possibilidades que crescem quando incluídas as inúmeras categorias profissionais como variáveis de estudo.

Método

Para realização da presente revisão sistemática de literatura, entendida como a análise e síntese de trabalhos metodologicamente adequados, com foco em estudos primários, selecionados em fontes abrangentes a partir de critérios de análise pré-estabelecidos (Greenhalgh, 1997; Akonbeg, 2005, Zoltowski, et al, 2011), adotou-se a metodologia proposta por Sampaio e Mancini (2007) para realização deste tipo de revisão:

1. Definição de uma pergunta clara,

2. Estabelecimento da estratégia de busca,

3. Definição de critérios de inclusão e exclusão dos estudos 4. Análise criteriosa da qualidade da literatura selecionada.

Propõe-se então como pergunta norteadora: como a relação entre depressão e trabalho tem sido tratada na produção acadêmica nacional? Para respondê-la optou-se como estratégia de busca a utilização dos descritores contidos no vocabulário estruturado e trilíngue DeCS - Descritores em Ciências da Saúde, edição 2014, criado pela BIREME. Os termos utilizados para pesquisa foram: “depressão”, “transtorno depressivo”, “saúde mental”, “trabalho”, “saúde do trabalhador” e “doenças profissionais”. Ainda quanto a estratégia de busca, os descritores foram utilizados nas ferramentas de busca das bases BVS Saúde, Scielo e Periódicos Capes.

Foram incluídos apenas trabalhos publicados na forma de artigos entre 2010 e 2014, em periódicos revisados por pares, e que fossem estudos empíricos. Discussões teóricas e metodológicas foram excluídas. Os trabalhos selecionados foram agrupados quanto ao tipo de pesquisa, quanto a população alvo a os resultados.

Resultados e Discussão

O levantamento inicial com as palavras-chave retornou 98 artigos que foram analisados a partir dos resumos disponíveis e classificados quanto a natureza do artigo, sendo excluídos os que foram classificados como artigos teóricos, revisões de literatura, artigos metodológicos, relatos de experiência, adaptação e/ou construção de instrumentos de pesquisa e editoriais. Deste total restaram 40 artigos que atendiam aos critérios estipulados para esta revisão, sendo estes agrupados em duas categorias distintas quanto ao tipo de pesquisa:

1. Pesquisas epidemiológicas – estudos quantitativos sobre saúde mental de trabalhadores;

2. Pesquisas sobre saúde e qualidade de vida no trabalhado (QVT) – estudos qualitativos onde a depressão aparece em decorrência de um contexto ou situação de trabalho específico ou como comorbidade a uma condição específica.

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Negócios em Projeção, volume 8, número 1, ano 2017, Página | 69 Nesta categorização, 11 trabalhos (27,5%) foram classificados como estudos epidemiológicos e 29 trabalhos (72,5%) são estudos sobre saúde ou qualidade de vida do trabalhador (Gráfico 1).

Quanto a população-alvo, os estudos selecionados apresentaram uma prevalência de estudos com profissionais da área da saúde (30,0%); seguidos por profissionais de educação e da área de serviços (ambos com 20,0%); segurança pública e funcionários públicos em geral (ambos com 7,5%); industriários e bancários (5% para cada); e por fim trabalhadores rurais e trabalhadores informais com apenas um estudo cada (2,5%). Esta distribuição pode ser visualizada no gráfico a seguir (Gráfico 2):

Gráfico 1: Distribuição de estudos por categoria profissional

Fonte: Dados extraídos das bases de dados BVS Saúde, Scielo e Periódicos Capes

A predominância de estudos com trabalhadores das áreas de saúde e educação podem derivar da acessibilidade dos pesquisadores a estas categorias profissionais, uma vez que delas fazem parte normalmente, e ainda, do interesse sobre suas próprias condições de trabalho, indicando uma preferência por grupos profissionais historicamente submetidos a condições de trabalho mais extenuantes

Nos estudos com trabalhadores da área de serviços observou-se que a depressão é tratada como comorbidade, uma vez que nestes estudos o foco principal são as consequências advindas de outros quadros como Lesões por Esforços Repetitivos/Doenças Osteoarticulares Relacionadas ao Trabalho (LER/DORT), dor lombar crônica, estresse no trabalho e abuso de substância.

Os estudos focados nos trabalhadores da indústria e do setor bancário seguem uma tendência de relacionar os agravos à saúde mental aos efeitos da reestruturação produtiva, em consonância ao apontado por Moreira, Maciel e Araújo (2013) sobre os efeitos do aumento da competividade, do individualismo e dos riscos de ordem psicossociais no trabalho.

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Negócios em Projeção, volume 8, número 1, ano 2017, Página | 70 A baixa frequência de estudos com trabalhadores rurais e com trabalhadores informais, pode indicar por um lado a dificuldade de acesso a esses trabalhadores por parte dos pesquisadores, ou em uma perspectiva mais pessimista, um desinteresse sobre essa parcela dos trabalhadores, mas que ambas as possibilidades implicam na manutenção de um quadro de desconhecimento sobre as condições de trabalho e dos agravos a saúde mental destes trabalhadores por parte da academia e uma redução da possibilidade de intervenção nestas realidades existentes, em grande parte, à margem do mercado de trabalho formal. Em ambos os casos, os estudos apontam a depressão como comorbidade à exposição a agrotóxicos, no caso dos trabalhadores rurais; e no caso dos trabalhadores informais na identificação de fatores de risco para depressão.

Quanto aos resultados dos estudos o Quadro 1 traz uma síntese das principais conclusões dos estudos analisados.

Quadro 1: Síntese dos resultados de estudos sobre depressão e trabalho

2010-2014

Tipo de Estudo População Resultados

Epidemiológicos

Trabalhadores da Saúde

Prevalência de 15,4% a 40,5% com escores maiores para profissionais que atuam em áreas de maior risco e/ou trabalham em turnos

Trabalhadores em Educação

Prevalência de 29,79% a 37,80% com escores maiores para profissionais com menor remuneração e maior carga horária.

Segurança Pública Prevalência 25,10% a 33,10% com valores maiores para policiais.

Funcionários Públicos Prevalência de 18,4% a 32,30% com a variação ocorrendo em função do nível hierárquico, esfera administrativa, tipo de função e remuneração.

Saúde e QVT

Trabalhadores da Saúde

Identificação de fatores de risco relacionados à valorização da função, carga de trabalho, ritmo, relacionamento interpessoal, períodos de descanso, pressão de chefia, conteúdo das tarefas, horas e turnos de trabalhado.

Trabalhadores em Serviços

A ocorrência de LER/DORT, dor lombar crônica, aliados a incapacidade física a às perdas a ela associadas (sociais, familiares, profissionais e econômicas) configuram fatores de risco para desenvolvimento de quadros depressivos. Outros fatores de risco: pressão e falta de suporte organizacional estresse no trabalho e abuso de substâncias psicoativas

Trabalhadores em Educação

Pressão, carga de trabalho e falta de suporte organizacional e reconhecimento social identificados como fatores de risco.

Segurança Pública Identificação de fatores de risco relacionados às condições de trabalho e falta de suporte

organizacional e social.

Funcionários Públicos Pressão e falta de suporte organizacional, relações com chefias e pares, e a ocorrência de assédio moral no trabalho configuram-se como fatores de risco.

Industriários Detecção de relação entre remuneração, condições de trabalho e quantidade de estressores e o

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Negócios em Projeção, volume 8, número 1, ano 2017, Página | 71

resultado na avaliação do nível de sintomas depressivos

Bancários Pressão e falta de suporte organizacional, relações com chefias e pares, e a ocorrência de assédio moral no trabalho configuram-se como fatores de risco.

Trabalhadores Rurais Condições de trabalho (contato com agrotóxicos) como fator de risco para o desenvolvimento de sintomas depressivos.

Trabalhadores Informais

31,4% dos trabalhadores estudados encontram-se em situações com fatores de risco, principalmente sobrecarga de trabalho e tempo insuficiente para lazer.

Fonte: Dados extraídos das bases de dados BVS Saúde, Scielo e Periódicos Capes

As prevalências apontadas nos estudos epidemiológicos para as categorias profissionais apresentam-se superiores a prevalência estimada pela OMS (2017) para a população em geral de 10,0%). Pode-se atribuir estas diferenças, inicialmente as peculiaridades e condições de trabalho destas categorias profissionais, que em comum partilham a falta de reconhecimento social e condições adversas de trabalho, além da exposição dos trabalhadores da área de educação e de segurança pública à violência urbana (Souza e Minayo, 2005; Oliveira e Martins, 2007); condições que podem contribuir para elevação da prevalência de quadros depressivos nestes trabalhadores.

Cabe ressaltar que a grande variedade de instrumentos e métodos de pesquisa, pode influenciar na determinação dos valores indicados nos estudos para prevalência de quadros depressivos, variedade esta que comporta a aplicação de inventários (Inventário Beck de Depressão, Inventário de Depressão de Hamilton, etc.); análise de prontuários; anamnese e entrevistas clínicas, que podem apresentar maior ou menor sensibilidade diagnóstica, implicando em resultados cuja comparação deve ser feita com mais cautela, mas que não podem ser desconsiderados tendo em vista que “os quadros depressivos associados ao trabalho muitas vezes não são típicos e se revelam com maior sutileza” (Selligmann-Silva, 2011, p. 533), requerendo formas diversas de investigação. Quanto aos estudos sobre saúde e QVT que relacionam a depressão ao contexto de trabalho ou como comorbidade a uma condição específica relacionada ao trabalho, os resultados indicam uma similaridade com os fatores de risco encontrados em outros contextos como Chile, Brasil e Estados Unidos (Moreira; Maciel; Araújo, 2013; Bonde, 2008), bem como uma repetição dos fatores de risco entre as diferentes categorias profissionais e condições de trabalho, indicando uma possível generalidade destes fatores.

No caso especifico dos trabalhadores rurais e informais, a baixa frequência de estudos com estas populações pode estar relacionada ao acesso a estas populações, trabalhadores rurais distantes dos centros acadêmicos e trabalhadores informais à margem do sistema de trabalho formal. A alta incidência de fatores de risco identificados nestas situações de trabalho pode estar relacionada a falta de proteção social à estas categorias (Antunes, 2009).

Destaque deve ser dado a ocorrência do assédio moral como fator de risco identificado em duas categorias profissionais distintas, bancários e funcionários públicos, indicando a incidência da violência simbólica no ambiente de trabalho, que se alinha com o que Alves (2010, p. 47) denomina de “estratégias de

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Negócios em Projeção, volume 8, número 1, ano 2017, Página | 72 despersonalização do trabalhador”, indicando a necessidade de estudos específicos nesta temática.

Considerações Finais

Os resultados analisados neste estudo indicam o reconhecimento da relação entre trabalho e depressão, principalmente do papel das condições de trabalho contemporâneas na saúde mental dos trabalhadores, condições de trabalhos fortemente marcadas pela pressão por resultados, sobrecarga e intensificação do trabalho, desagregação dos laços sociais, violência simbólica, precarização e perdas salariais.

A diversidade de métodos, instrumentos e procedimentos de pesquisa, tanto nos estudos epidemiológicos, quanto nos sobre saúde e QVT, dificulta a delimitação de resultados mais específicos, permitindo tão somente a apuração de resultados mais gerais como os ora apresentados, o que indica a necessidade de aprofundamento nesta temática, além da extensão dos estudos a outras categorias profissionais e contextos de trabalho, tanto formais, quanto informais. A isto soma-se a falta de detalhamento dos métodos utilizados que dificulta uma análise mais acurada dos estudos.

De toda sorte, os resultados indicam um cenário preocupante que necessita de intervenção conjunta de todos os atores envolvidos e interessados no resgate do trabalho como fator de promoção da saúde física e mental e como fator constituinte do ser humano.

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