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Propagação de mirtilo (Vaccinium corymbosum) por estaca

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UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO

PROPAGAÇÃO DE MIRTILO (Vaccinium corymbosum)

POR ESTACA

Dissertação de Mestrado em Engenharia Agronómica

TERESA SOFIA TEIXEIRA DIAS

Orientadora: Prof.ª ANA PAULA CALVÃO MOREIRA DA SILVA

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3 AGRADECIMENTOS

A realização desta dissertação, apesar de ser o resultado do trabalho e esforço que dediquei ao longo da sua execução, não teria sido possível sem o apoio, confiança e força que uma série de pessoas depositaram em mim.

Assim começo por agradecer aos meus pais pela possibilidade que me deram em iniciar a minha jornada com a realização do curso de Engenharia Agrícola, uma vez que sem isso este trabalho não teria sido executado, bem como a circunstância profissional na qual me encontro neste momento.

À minha orientadora, Sr.ª Prof.ª Ana Paula Silva, que esteve sempre presente e disponível, demonstrando uma dedicação excecional e um profissionalismo louvável.

Aos meus irmãos, Gustavo e Raquel, pelo apoio incondicional e por acreditarem em mim, mesmo quando eu própria achava que não era capaz.

Ao “meu” Pedro, pela força inesgotável que me transmitiu, pela confiança que depositou em mim e pelo apoio total que me deu, tornando possível muito tempo de dedicação a este trabalho.

Aos amigos, Maria Manuel e Rui Lagoa, agradeço a disponibilidade e ajuda em todos os momentos que precisei de “abusar” da vossa amizade.

Às minhas amigas que estão presentes desde o início do meu percurso Universitário, Ana, Li, Cat, pelas palavras de alento nos momentos mais difíceis.

À Mirtilusa – Sociedade de Produtores Horto-Frutícolas, Lda., pela oportunidade que me facultaram em executar os ensaios aqui apresentados nas suas instalações.

A todos os que não se encontram citados, mas sempre fizeram e fazem parte da minha vida, e que tornam esta caminhada mais fácil, interessante e sorridente.

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4 RESUMO

O mirtilo é uma espécie que está a despertar um interesse geral, desde produtores, consumidores a investigadores, face ao atrativo retorno económico e às suas propriedades nutracêuticas.

É desde o ano de 2004 que Portugal faz parte dos 20 maiores produtores de mirtilo a nível mundial, ocupando o 17º lugar na tabela que é liderada pelos EUA. Em Portugal, as produções dos últimos seis anos mostram um crescimento significativo, com 2004 a apresentar 100 toneladas e 2009 com 250 toneladas.

A área de produção que deve rondar os 45 hectares, poderá aumentar exponencialmente face à “febre” que este fruto tem causado no sector agrícola, e atualmente não existem plantas suficientes para a instalação dos novos agricultores que estão a apostar nesta cultura. Face a esta realidade prende-se uma necessidade de produzir plantas de qualidade e com taxas de enraizamento com sucesso satisfatórias para responder à procura de mercado.

No sentido de contribuirmos para a produção de plantas de mirtilo com a qualidade desejada e obtendo as melhores soluções possíveis para as diferentes cultivares delineou-se como objetivo deste trabalho o estudo da propagação de estacas lenhosas sujeitas a diferentes tratamentos e com recurso a diferentes meios de produção.

Os estudos realizados incidiram sobre três cultivares de mirtilo com interesse comercial, Duke, Bluecrop e Ozarkblue®, sujeitas a dois tratamentos com o indutor de enraizamento ácido indolbutírico (AIB), colocadas em dois tipos de tabuleiros e em três tipos de substratos.

Foi avaliada taxa de sucesso de enraizamento para cada ensaio, bem como o comprimento médio das raízes formadas. Os ensaios foram realizados em túneis com rede de sombra a 50% e sistema de rega por aspersão. Após o período de enraizamento observou-se que o sucesso de enraizamento foi superior a 60%, destacando-se a cultivar Ozarkblue® com um sucesso médio de 71%.

Palavras-chave: Auxinas; Mirtilo; Propagação vegetativa; Substratos; Tabuleiros de enraizamento; Vaccinium corymbosum L..

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5 ABSTRACT

Blueberry is a species that is awakening a general interest from producers, consumers, researchers, given the attractive economic returns and their nutraceutical properties.

It is from the year 2004 that Portugal is part of the 20 largest blueberry producers in the world, occupying the 17th place in the table which is led by the U.S. In Portugal, the productions of the last six years showed significant growth, with 2004 presenting 100 tones and 2009 with 250 tones.

The production area should be around 45 hectares, and could increase exponentially compared to the "fever" that this fruit has caused in the agricultural sector, and currently there are enough plants for the installation of new farmers who are betting this culture. Considering this fact relates to a need to produce quality plants with satisfactory rooting rates to respond the market demand.

In order to contribute to the production of blueberry plants with the desired quality and obtaining the best possible solutions for the different cultivars as outlined objective of this work to study the propagation of hardwood cuttings subjected to different treatments and using different media production.

Studies focused on three blueberry cultivars with commercial interests, Duke, Bluecrop and Ozarkblue ®, subject to two treatments with inducing rooting indolbutyric acid (IBA), placed on two types of trays and three types of substrates.

It was evaluated the success rate for each rooting assay and the average length of the roots formed. The tests were conducted in tunnels with a shade 50% and sprinkler irrigation system. After the rooting period it was observed that the success of rooting was over 60%, highlighting the growing Ozarkblue ® with an average success of 71%.

Keywords: Auxines; Blueberry; Vegetative propagation; Substractes; Root trays; Vaccinium corymbosum L..

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Índice

1. INTRODUÇÃO ... 11

2. IMPORTÂNCIA ECONÓMICA E NUTRICIONAL DA CULTURA DO MIRTILO ... 14 2.1. ENQUADRAMENTO MUNDIAL ... 14 2.2. VALOR NUTRICIONAL ... 17 3. O MIRTILO ... 19 3.1. ORIGEM E DESCRIÇÃO ... 19 3.2. FISIOLOGIA E MORFOLOGIA ... 23 3.2.1. Dormência ... 23 3.2.2. Sistema Radicular ... 23 3.2.3. Parte Aérea ... 25 3.3. CULTIVARES ... 28 3.4. EXIGÊNCIAS EDAFO-CLIMÁTICAS ... 30 4. PROPAGAÇÃO ... 33

4.1. PROPAGAÇÃO VEGETATIVA POR ESTACAS LENHOSAS ... 34

4.2. SUBSTRATO ... 37

4.3. HORMONAS ... 38

4.4. TABULEIROS ... 39

5. MATERIAL E MÉTODOS ... 40

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7 5.2. MATERIAL UTILIZADO ... 41 5.3. PROCEDIMENTO ... 42 6. RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 46 7. CONCLUSÕES GERAIS ... 55 8. BIBLIOGRAFIA ... 56

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8 Lista de figuras

Figura 1

Principais regiões e países produtores de mirtilo………16 Figura 2 V. myrtillus.………...………..19 Figura 3 V. vitis-idae.………...………..19 Figura 4 V. padifolium……..………...………..19 Figura 5 V. cilindraceum…...………...………..19 Figura 6 Frutos de mirtilo..………20 Figura 7

Classificação taxonómica dos mirtilos………21 Figura 8

Morfologia da planta de mirtilo...………26 Figura 9

Tabuleiros colocados no local de ensaio.………40 Figura 10 Tabuleiro alveolado…...………..41 Figura 11 Tabuleiro de esferovite..………..41 Figura 12 Estacas mortas…...………..43 Figura 13

Estacas com formação de callus………..44 Figura 14

Estacas com sistema radicular e medição das raízes….………..44 Figura 15

Baixo sucesso de enraizamento na perlite….………..48 Figura 16

Influência da concentração do AIB no sucesso de enraizamento………49 Figura 17

Influência do substrato no sucesso de enraizamento………...…49 Figura 18

Influência do tipo de tabuleiro no sucesso de enraizamento…...………49 Figura 19 e 20

Sistema radicular em tabuleiro alveolado e em tabuleiro de esferovite…………..……51 Figura 21

Influência da concentração do AIB no crescimento das raízes…...………53 Figura 22

Influência do substrato no crescimento das raízes………...………53 Figura 23

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9 Lista de quadros

Quadro 1

Classificação dos mirtilos por grupos…………..………12 Quadro 2

Posição relativa dos 20 países produtores de mirtilo em 2009…...…………...………..15 Quadro 3

Posição relativa dos países exportadores de mirtilo em 2009………...………..16 Quadro 4

Perfil nutricional do mirtilo………...………..18 Quadro 5

Efeito da autopolinização e da polinização cruzada no peso do fruto e na produção de sementes………...28 Quadro 6

Características Físicas / Químicas do Siro ® Estaca………42 Quadro 7

Variáveis em estudo neste trabalho……….………45 Quadro 8

Análise de variância para o comprimento das raízes………...46 Quadro 9

Percentagens de enraizamento, de estacas mortas e de estaca com formação de callus nas diferentes variáveis em estudo………..……48 Quadro 10

Comprimento médio das raízes (cm) nas variáveis que tiveram uma influência

significativa nos resultados…..…..………..51 Quadro 11

Comprimento médio das raízes em cm para as concentrações de AIB….………..51 Quadro 12

Comprimento médio das raízes nas quatros variáveis estudadas……..………..52 Quadro 13

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10 Abreviaturas utilizadas no texto

AIB – ácido 3-indolbutírico

FAO – Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação

USDA – Departamento de Agricultura dos Estados Unidos da América

ORAC – Capacidade de Absorção de Oxigénio Radical

EUA – Estados Unidos da América

NHB – Northern Highbush Blueberry

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1.

INTRODUÇÃO

O mirtilo faz parte do grupo dos pequenos frutos e cresce espontaneamente nas zonas montanhosas da Europa e da América, sendo muito apreciado pelos consumidores em todo o mundo. Desde a antiguidade que os “frutos do bosque” são consumidos pelas populações locais e a sua comercialização proporciona rendimentos suplementares nas economias familiares dos meios rurais (PALOMARES, 2010).

A influência de alguns países da Europa juntamente com o crescimento e desenvolvimento do setor alimentar, introduziram em Portugal novos hábitos alimentares, como é o caso do consumo de mirtilo (SOUSA, 2007).

Segundo QUEZADA et al. (2005) e FINARDI (1998), citados por FISCHER (2007), na produção de fruta é fundamental a procura constante do aumento dos rendimentos através do controlo de todas as etapas do ciclo produtivo, sendo a qualidade das plantas instaladas a base do sucesso da exploração agrícola, principalmente no que diz respeito à sua sanidade e correta identificação das cultivares selecionadas.

Os diferentes métodos e técnicas de propagação de plantas existentes, cujo principal objetivo é a obtenção de novos indivíduos, devem também assegurar a produção de boas plantas garantindo a manutenção das características genéticas das espécies. São dois os métodos de propagação que se podem utilizar nas plantas: a sexuada, que se efetua através das sementes, e a assexuada ou vegetativa, baseada no uso de estruturas vegetativas (TREVISAN et al., 2004).

O mirtilo é propagado, normalmente, por via vegetativa, nomeadamente por estacaria. A propagação por sementes não é utilizada comercialmente, apesar do grande número de sementes que cada fruto contém. O motivo pelo qual a propagação sexuada não interessa comercialmente deve-se à segregação genética, que origina descendentes com caracteres distintos da planta-mãe (HOFFMANN et al., 1995).

A propagação por estaca é o método mais valorizado e utilizado para a multiplicação de arbustos ornamentais, bem como espécies frutícolas e florestais (HARTMANN et al., 1990).

A principal dificuldade na obtenção de novas plantas utilizando estacas caulinares, encontra-se no facto de um fragmento do ramo ter de sobreviver, após a separação da planta-mãe, iniciar o processo de produção de raízes e estabelecer-se como uma planta individualizada (BROWSE, 2010).

(12)

12 A estacaria proporciona a produção de um grande número de plantas de boa qualidade num espaço de tempo relativamente curto, dependendo da aptidão de enraizamento de cada espécie, da qualidade do sistema radicular formado e do posterior desenvolvimento da planta. A interação entre ambiente e fatores endógenos é que determina o sucesso da propagação por estacaria (TREVISAN et al., 2004).

O mirtilo, Vaccinium corymbosum, comummente conhecido por “highbush blueberry” na América do Norte, é maioritariamente propagado por estacas lenhosas, embora as semi-lenhosas e herbáceas também possam ser utilizadas. Outras formas de propagação como a mergulhia, a enxertia e a propagação in vitro também têm alguma aplicabilidade (GOUGH, 1994).

O mirtilo, quando propagado por estaca, seja ela lenhosa ou herbácea, permite a obtenção de um sucesso de enraizamento na ordem de 60 a 80%, dependendo da cultivar. Na Europa são usados os dois métodos de propagação, mas nos Estados Unidos da América utilizam preferencialmente estacas lenhosas para o “highbush blueberry” e estacas herbáceas para o “rabbiteye blueberry”, que pertence à espécie Vaccinium ashei (BOUNOUS et al., 2003).

Sendo que 95% das cultivares com importância comercial são híbridos das espécies norte americanas, existe uma classificação não científica dos mirtilos por grupos que diferenciam as cultivares mediante as exigências de horas de frio e/ou espécies utilizadas para a sua obtenção, conforme ilustrado no Quadro 1 (FONSECA, 2007).

Quadro 1 – Classificação dos mirtilos por grupos.

Grupos Exigência em horas de

frio Espécies provenientes

Highbush blueberry Northern highbush blueberry Acima de 700 h abaixo de 7ºC Vaccinium corymbosum Southern highbush blueberry Entre 150 a 400 h abaixo de 7ºC V. corymbosum; V. ashei; V. darrowii

Rabbiteye blueberry Entre 400 a 500 h

abaixo de 7ºC V. ashei

Lowbush blueberry Sem indicação Vaccinium angustifolium; V.

myrtilloides

Half high Sem indicação V. corymbosum; V.

angustifolium Fonte: TREHANE, 2004

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13 Pelo exposto, o objetivo deste trabalho prende-se com a necessidade de produzir plantas de mirtilo do grupo ‘Northern highbush blueberry’ (NHB), com a sanidade adequada, com o melhor desenvolvimento radicular possível e com taxas de sucesso de enraizamento satisfatórias.

Vão ser estudadas três cultivares, a Duke, a Bluecrop e a Ozarkblue®

, três substratos de enraizamento, perlite, turfa + areia e Siro® Estaca (substrato comercial), duas percentagens de ácido indolbutírico (AIB), a 10% e a 100%, e dois tipos de tabuleiros de propagação, com alvéolos e sem alvéolos. Com isto pretende-se verificar a resposta das cultivares aos diferentes substratos, o seu sucesso de enraizamento mediante as diferentes percentagens de AIB e o crescimento radicular que produzem nos diferentes tabuleiros. Irá ser também comparada a capacidade de enraizamento das diferentes cultivares.

O material vegetativo utilizado, estacas lenhosas, foi recolhido durante o repouso vegetativo das plantas-mãe e dos lançamentos do ano.

As cultivares selecionadas foram introduzidas em Sever do Vouga há cerca de 15 anos e encontram-se bem adaptadas às condições edafo-climáticas da região, bem como em boas condições de sanidade.

(14)

14

2.

IMPORTÂNCIA

ECONÓMICA

E

NUTRICIONAL

DA

CULTURA DO MIRTILO

2.1. ENQUADRAMENTO MUNDIAL

O mirtilo é uma espécie que está a despertar um interesse geral, desde produtores, consumidores a investigadores, principalmente devido ao atrativo retorno económico e às suas propriedades nutracêuticas. É uma fruta de clima temperado que apresenta elevada importância comercial, especialmente nos Estados Unidos da América e em alguns países da Europa (PAGOT & HOFFMANN, 2003).

Segundo os dados registados pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), nos últimos 20 anos a produção mundial de mirtilo aumentou quase três vezes, de 124 320 toneladas em 1990 para 311 959 toneladas em 2009 a que correspondeu a um aumento de área cultivada de quase duas vezes mais, passando de 41 856 hectares em 1990 para 72 306 hectares em 2009 (FAO, 2011).

No que diz respeito a Portugal os dados apenas estão acessíveis para as produções dos últimos seis anos, correspondendo a um crescimento de mais do dobro, com 2004 a apresentar 100 toneladas e em 2009, 250 toneladas. É desde o ano de 2004 que Portugal faz parte dos 20 maiores produtores de mirtilo a nível mundial, ocupando o 17º lugar na tabela que é liderada pelos EUA (Quadro 2) (FAO, 2011), muito embora apresente produções muito modestas.

O nosso país apresenta grande potencial para a cultura do mirtilo, devido às condições edafo-climáticas e, nos últimos anos, assistiu-se a um aumento da área de produção que deve rondar os 45 hectares e com tendência para aumentar. As principais regiões de produção são a zona de Sever do Vouga e o litoral Alentejano (SOUSA, 2007).

Os valores por tonelada apresentados em dólares americanos no Quadro 2 mostram que esta é uma cultura com rendimentos económicos muito interessantes para quem pretende instalar esta cultura e produzir mirtilos para o mercado fresco.

Comparativamente a outros pequenos frutos, o V. corymbosum foi entendido como cultura agrícola de interesse comercial muito recentemente (introduzido no início do século XX) e ainda está muito no início como escolha dos produtores. A primeira plantação de mirtilos na Europa foi no ano de 1923 em Assen, Holanda, com provavelmente 10 hectares. É na Holanda, onde o solo tem características propicias à

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15 instalação do mirtilo, que a indústria está a prosperar, estando este país em 5º lugar entre os maiores produtores mundiais. A França também mostra uma indústria em expansão, e Espanha e Portugal têm ultimamente aumentado as áreas de plantação.

No hemisfério sul os mirtilos também estão a tornar-se uma cultura de grande interesse, como é o caso da Austrália, Nova Zelândia e Chile. Aqui os frutos amadurecem entre Dezembro e Abril quando mirtilos frescos não estão disponíveis no hemisfério norte. O desafio que o melhoramento genético está a defrontar nesta região é a hipótese das cultivares precoces potenciarem a disponibilidade de mirtilos com qualidade para o mercado fresco nos mercados mundiais, desde Outubro a Dezembro, altura em que a oferta é baixa (TREHANE, 2004).

Quadro 2 – Posição relativa dos 20 países produtores de mirtilo em 2009. Posição País Produção (t) Área (ha)

1 EUA 165 198 25 564 2 Canadá 103 070 34 148 3 Polónia 11 023 2 366 4 Alemanha 9 940 1 426 5 Holanda 5 389 967 6 Ucrânia 1 000 200 7 Lituânia 1 794 968 8 Suécia 2 576 4 922 9 Nova Zelândia 2 700 539 10 Roménia 2 353 285 11 Rússia 1 700 402 12 Itália 1 509 205 13 França 775 ---- 14 Letónia 807 138 15 Espanha 924 ---- 16 Uzbequistão 700 120 17 Portugal 250 120 18 México 121 15 19 Marrocos 60 9 20 Noruega 51 32

Dados da FAO de 2009, consultados a 21-12-2011, http://faostat.fao.org/site/339/default.aspx.

O Quadro 3 (FAO, 2011) mostra que 80,4% da produção de mirtilo em Portugal vai para o mercado externo, evidenciando um grande volume de exportação, mas também um mercado interno pouco desenvolvido para este pequeno fruto.

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16 Quadro 3 – Posição relativa dos países exportadores de mirtilo em 2009.

Posição Área Quantidade (t) Valor unitário ($/t)

1 EUA 35.704 3.446 2 Canadá 19.249 2.803 3 Holanda 4.412 7.622 4 Polónia 5.122 5.029 5 França 1.234 8.059 6 EU (27) ex.int 1.063 9.193 7 Espanha 1.057 8.745 8 Nova Zelândia 697 11.506 9 Alemanha 1.122 4.567 10 Marrocos 636 7.789 11 Itália 379 10.760 12 Suécia 966 3.550 13 Lituânia 264 6.383 14 Portugal 201 6.896 15 Bélgica 86 7.058 16 Letónia 214 2.341 17 Sérvia 179 1.944 18 Áustria 52 5.519 19 Finlândia 30 5.433 20 Inglaterra 31 5.065

Dados da FAO de 2009, consultados a 21-12-2011, http://faostat.fao.org/site/342/default.aspx.

Na Figura 1 estão assinaladas as zonas e países onde se cultivam os mirtilos do grupo ‘highbush blueberries’.

Figura 1 – Principais regiões e países produtores de mirtilo. Fonte: Palomares (2010). Nova Zelândia Austrália Ásia Sul de África Europa Canadá Estados Unidos Chile Argentina

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17

2.2. VALOR NUTRICIONAL

Para além da importância económica o mirtilo apresenta-se com grande valor nutricional com inúmeros benefícios para a saúde.

É possível encontrar referências do século XVIII sobre a utilização do mirtilo (fresco e seco) para fins medicinais. Atualmente, atendendo ao seu elevado teor em compostos fenólicos e outros compostos com grande atividade antioxidante, a sua adição a alimentos é considerado um meio para lhes adicionar alguma funcionalidade (SOUSA, 2007; SZAJDEK & BOROWSKA, 2008).

Apesar de ter algum teor em açúcares, o mirtilo não despoleta uma reação glicémica acentuada. O consumo deste fruto pode mesmo ajudar a mediar o efeito que a ingestão de hidratos de carbono tem no corpo humano auxiliando na estabilização dos níveis de açúcar, efeito que tem um interesse particular para diabéticos (WOOD, 2009).

Os mirtilos são uma excelente fonte de antioxidantes e por esta razão este fruto pode ser usado na formulação de suplementos nutricionais. Existe uma correlação linear entre o teor de antocianinas totais e atividade antioxidante sugerindo que as antocianinas contribuem significativamente para a sua capacidade antioxidante (ŚCIBISZ & MITEK, 2007).

O Centro de Pesquisa de Nutrição Humana no Envelhecimento, do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos da América (USDA) em Boston, desenvolveu um método chamado ORAC (capacidade de absorção de oxigénio radical), que quantifica a capacidade antioxidante dos alimentos, tendo atualmente uma utilização universal. Os mirtilos frescos apresentam um nível elevado de ORAC, cerca de 2400 por 100 gramas de fruto. Do ponto de vista da capacidade antioxidante, 100 gramas de mirtilos frescos podem fornecer o equivalente a cinco porções de algumas frutas e legumes, o que é uma boa razão para incluir os mirtilos na dieta diária (CAO et al., 1998; PRIOR et al., 1998). SOUSA (2007) refere que meia chávena de mirtilos fornece entre 51 a 62 kcal, assim como potássio, ferro, vitamina C e ainda fibra alimentar (Quadro 4).

Os mirtilos promovem benefícios para a saúde tais como a adaptação dos olhos à luz, maior fluxo vascular da retina, prevenção de cataratas, melhorias no sistema circulatório do corpo e produção de tecidos conjuntivos saudáveis (CARLSON, 2003).

ŚCIBISZ & MITEK (2007) referem ainda que dietas ricas em antioxidantes ajudam na prevenção de doenças causadas pelo stress oxidativo como o são as doenças

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18 cardiovasculares e o cancro. Citam também que PRIOR et al. (1998) apontam os mirtilos como uma das fontes mais ricas em antioxidantes entre as frutas e os vegetais.

Quadro 4 – Perfil nutricional do mirtilo Nutrientes em 100g de fruto

Humidade 83-87 g

Valor energético 51-62 kcal Proteínas 0,4-0,7 g Lípidos 0,5 g Glucose 5-7 g Frutose 5-7 g Sacarose nd Fibra 1-1,5 g Cinzas 0,19-0,25 g Sais minerais Cálcio 11,4-12,2 mg Ferro 0,6 mg Magnésio 5,8-8,4 mg Fósforo 14-47 mg Potássio 48-112 mg Sódio 3,4-4,3 mg Zinco 0,1 mg Cobre 0,1 mg Manganês 0,4-1,2 mg

Vitaminas e outros componentes Vitamina C 22-62 mg

Taninos 270-550 mg

Pectinas 300-600 mg

Antocianinas 300-725 mg

(19)

19

3.

O MIRTILO

3.1. ORIGEM E DESCRIÇÃO

O mirtilo pertence à família Ericaceae e género Vaccinium, que contém cerca de 450 espécies. Na Ásia e na área do Pacífico encontram-se 40% destas espécies, no continente norte-americano 26% e na Europa apenas 6%. Na América Central e do Sul, encontram-se 47 espécies, cinco em África, 19 no Japão e 70 na China. As cerca de 250 espécies restantes distribuem-se pela região da Malaica (TREHANE, 2004).

Segundo FONSECA (2007), a Europa mediterrânica é muito pobre em espécies do género Vaccinium. Em Portugal continental encontra-se a espécie Vaccinium myrtillus (Figura 2), atualmente apenas na Serra do Gerês e Vaccinium vitis-idae (Figura 3) provavelmente na mesma área. Já na ilha da Madeira é endémico a espécie Vaccinium padifolium (Figura 4), e no Arquipélago dos Açores encontra-se Vaccinium cilindraceum (Figura 5).

Figura 2 – V. myrtillus Figura 3 – V. vitis-idae

Figura 4 – V. padifolium Figura 5 – V. cilindraceum

Fonte figura 2: http://www.ecosystema.ru/08nature/world/ug/074e.htm Fonte figura 3: http://www.henriettesherbal.com

Fonte figura 4: http://tukakubana.blogspot.pt/2009/09/uveira-da-serra-vaccinium-padifolium.html Fonte figura 5: http://de.hortipedia.com/wiki/Vaccinium_cylindraceum

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20 Ao longo dos anos tem existido grande confusão e discussão sobre a classificação do género Vaccinium, devido em grande parte ao extenso número de sinónimos botânicos acumulados por muito tempo, e também aos nomes comuns chamados às plantas silvestres das quais as bagas fazem parte e têm sido tradicionalmente colhidas (TREHANE, 2004).

Existem dois sub-géneros do género Vaccinium, que por sua vez se dividem num extenso número de secções. O sub-género Oxycoccus representa o mirtilo vermelho ou “cranberry”, de caules delgados, semi-lenhosos, rastejantes e as suas flores possuem pétalas muito dobradas. Este fruto é consumido massivamente nos EUA e Canadá, de onde são oriundos. O sub-género Vaccinium inclui todas as outras espécies de mirtilo existentes. Apresentam-se com ramos grossos, lenhosos, eretos e a corola das suas flores tem a forma de sino (FONSECA, 2007 e PALOMARES, 2010).

Na Figura 7 apresenta-se a classificação taxonómica com indicação das espécies mais importantes comercialmente e espécies que se encontram na flora portuguesa. Uma vez que o número de secções do sub-género Vaccinium é muito extenso apenas se encontram indicadas as que possuem as espécies mais relevantes e de interesse económico e agronómico.

Tanto o V. corymbosum como o V. ashei são naturais dos EUA, e eram muito utilizados pelos povos nativos na sua dieta alimentar, consumidos frescos ou secos (BOWLING, 2000).

TREHANE (2004) menciona que os frutos dos mirtilos têm um cálice em forma de estrela de cinco pontas que originou uma lenda entre os povos nativos americanos durante uma época de fome. Diz a lenda que: “O Grande Espírito enviou a baga estrela do céu da noite para alimentar os filhos”. Na Figura 6 pode-se ver o pormenor da estrela de 5 pontas no fruto.

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21 Figura 7 – Classificação taxonómica dos mirtilos. Fonte: (GOUGH, 1994; FONSECA, 2007)

Divisão Espermatófita Sub-divisão Magnoliophytina Classe Magnoliopsida Família Ericaceae Sub-família Vacciniaceae Grupo Vaccinieae Género Vaccinium Sub-género Vaccinium Sub-género Oxycoccus Secção Cyanococcus Secção Hemimyrtillus Secção Myrtillus Secção Oxycoccus Secção Oxycoccoides Vaccinium macrocarpon V. angustifolium V. corymbosum V. darrowii V. myrtilloides V. ashei V. cylindraceum V. padifolium V. myrtillus Vaccinium erythrocarpum Espécies cultivadas

Espécies que se encontram na flora de Portugal.

Espécies conhecidas por “cranberries” com grande importância económica nos

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22 Em 1906, o geneticista americano Coville iniciou no Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) trabalhos de melhoramento genético com diferentes espécies silvestres de mirtilos. Atualmente, o USDA e várias universidades da América, Europa, Nova Zelândia e Austrália, têm em curso programas de melhoramento com cruzamentos entre várias espécies, destacando-se o V. corymbosum, V. angustifolium, V. myrtilloides, V. darrowii e V. ashei. Destes programas têm resultado novas cultivares com diferentes necessidades de horas de frio, característica essencial pois permite cultivar mirtilos em regiões com diferentes climas, e permite também distinguir os grupos (PALOMARES, 2010).

FONSECA (2007) menciona que 95% das cultivares com importância comercial e agronómica são híbridos das espécies norte americanas.

Segundo GALLETTA & BALLINGTON (1996), citados por RASEIRA (2004) os mirtilos com importância comercial dividem-se em cinco grupos:

- Northern Highbush Blueberry: é o grupo que requer maior número de horas de frio. V. corymbosum é indicado para regiões com invernos longos e rigorosos. É um arbusto com 1,2 a 1,8 m de altura, podendo chegar a atingir 3 m, e na sua base forma uma coroa compacta com muitos ramos. As cultivares deste grupo possuem diferentes necessidades de horas de frio, sendo considerada uma média de 750 horas abaixo dos 7ºC. Muitas apreciam 1000 horas ou mais para que o seu crescimento seja forte e a produção de fruta seja satisfatória. Temperaturas abaixo de 1,7 ºC ou acima de 12 ºC são pouco eficazes, e em anos com temperaturas acima de 16 ºC a dormência não ocorre (TREHANE, 2004).

Este grupo é o mais cultivado em todo o mundo e as suas cultivares têm sido desenvolvidas através de programas de melhoramento genético (STRIK & FINN, 2008).

Half high: possui híbridos de V. angustifolium e V. corymbosum, necessitando as plantas de menos horas de frio que o grupo anterior e a sua altura pode variar entre 0,5 e 1,0 metros.

Southern Highbush Blueberry: os híbridos deste grupo podem conter material genético de duas, três e por vezes quatro espécies Vaccinium. As suas características provêm essencialmente das espécies V. corymbosum, em particular a precocidade e a elevada qualidade do fruto. A necessidade de poucas horas de frio é característica do V. ashei e V. darrowii, nativos do sul dos EUA.

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23 Rabbiteye: as necessidades de horas de frio deste grupo encontram-se entre 400 e 500 horas abaixo dos 7ºC, e os seus arbustos podem atingir até 4 metros de altura. As características mais interessantes do V. ashei são o seu vigor, produtividade, longevidade, tolerância ao calor e à seca, entre outras.

Lowbush: encontram-se duas espécies principais neste grupo, V. angustifolium e V. myrtilloides, e a altura das plantas não atinge os 0,5 metros.

3.2. FISIOLOGIA E MORFOLOGIA

3.2.1. Dormência

Sendo naturalmente de folha caduca, os arbustos passam por um longo período de dormência durante o inverno. Este período estende-se desde a queda da folha até ao abrolhamento, e o arbusto parece inativo, sendo esta dormência essencial para o desenvolvimento dos botões florais e crescimento vegetativo. Como já referido, as exigências de frio variam conforme as cultivares, em geral, quantas mais horas de frio melhor e temperaturas que variam entre 2 e 9 ºC são as mais eficazes, para promover forte crescimento e naturalmente abundante produção de fruta (TREHANE, 2004).

FONSECA (2007) refere que os gomos vegetativos necessitam mais horas de frio do que os botões florais. As diferentes necessidades de horas de frio consoante os grupos de mirtilo estão indicados no Quadro 1 e as horas de frio necessárias para cada cultivar estão apresentadas no ponto 3.3.

3.2.2. Sistema Radicular

O sistema radicular da planta de mirtilo é fibroso e superficial constituído por dois tipos de raízes, umas finas com diâmetro inferior a dois milímetros e outras de suporte com diâmetro entre dois e onze milímetros. As raízes finas e fibrosas são as que asseguram a absorção de nutrientes e água, e distribuem-se nos primeiros 30 a 40 cm de profundidade, enquanto as de suporte são as responsáveis pela fixação do arbusto ao solo e podem chegar a um metro de profundidade (FONSECA, 2007).

TREHANE (2004) salienta que em relação à parte aérea da planta, o sistema radicular do mirtilo pertencente ao grupo Northern Highbush Blueberry tem um crescimento maior. No entanto, é menos eficiente na absorção de nutrientes, comparativamente com o sistema radicular do mirtilo Rabbiteye. Refere ainda que todas as espécies Vaccinium não possuem no seu sistema radicular pêlos radiculares,

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24 espalhando-se à superfície do solo, dependendo o seu desenvolvimento da textura do solo, drenagem e disponibilidade de oxigénio, água e nutrientes durante o verão.

A ausência de pêlos radiculares torna as plantas muito sensíveis às alterações das condições do solo e de disponibilidade de água. As raízes possuem uma simbiose com fungos que lhes permite absorver melhor os nutrientes e ocorre em menor grau quando as plantas são cultivadas (KIRSTEN, 2010).

As plantas Ericáceas que crescem em solos ácidos e com elevada matéria orgânica, são colonizadas por um grupo de fungos Ascomicetas denominados de micorrizas ericóides. Este tipo de micorrizas caracteriza-se por crescer dentro das células (endomicorrizas), mas com pequena extensão no solo. O fungo produz enzimas extracelulares que decompõem a matéria orgânica, levando a planta a assimilar os nutrientes mineralizados (SYLVIA, 1998).

FONSECA (2007), menciona que as hifas dos fungos que estabelecem simbiose com o sistema radicular das plantas de mirtilo desenvolvem-se nas primeiras camadas das células das raízes e no solo que as rodeia. A parte que cresce nas camadas de células pode atingir entre dois a dois centímetros e meio de comprimento, assumindo desta forma o desempenho de pêlos radiculares e assegurando uma absorção mais eficiente de água e nutrientes.

No que diz respeito à distribuição do sistema radicular, BOWLING (2000), afirma que está dependente da idade da planta e das condições do solo, e a variação pode ser muito grande. Plantas que se crescem em solos argilosos e pesados possuem um sistema radicular mais compacto, enquanto as que crescem em solos mais arenosos apresentam um sistema radicular com ampla distribuição.

As raízes não apresentam um verdadeiro período de repouso, mesmo durante a época de dormência da planta, permanecendo ativas quando a temperatura do solo está mais elevada do que a temperatura do ar. Assim que as temperaturas descem abaixo dos 7ºC as raízes começam a ficar castanhas, o que sugere a formação de lenhina (TREHANE, 2004).

As raízes do mirtilo podem crescer cerca de um milímetro por dia quando as condições de humidade, temperatura e arejamento do solo são as apropriadas. Existem picos de crescimento nas raízes, independentemente de outras condições. O primeiro pico de crescimento ocorre aquando o período de vingamento dos frutos e o segundo aquando a diferenciação floral. Quando chega o período de crescimento e maturação do

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25 fruto, as raízes apresentam um crescimento mais lento. Já na fase de crescimento dos ramos não se verifica competição com o crescimento das raízes (FONSECA, 2007).

O movimento da translocação da água e dos elementos nutritivos não se efetua de maneira uniforme no mirtilo, uma vez que o sistema vascular das raízes não se encontra totalmente interligado com o sistema vascular da parte aérea da planta. Esta característica exige que a água e os nutrientes sejam fornecidos uniformemente à volta da planta, pois se forem distribuídos de um só lado, esse lado irá ter um desenvolvimento maior (GOUTH, 1994).

3.2.3. Parte Aérea

As plantas do género Vaccinium possuem grandes diferenças no aspeto e dimensão, podendo apresentar apenas alguns centímetros de altura ou então podem chegar a atingir os dez metros com facilidade. Os mirtilos do tipo gigante americano, são arbustos caducifólios e o seu tamanho pode ir de 0,9 m até 2,5 m, dependendo das cultivares (FONSECA, 2007).

BOWLING (2000) menciona que um arbusto adulto normalmente possui entre 15 a 18 caules, mas que o hábito de crescimento também varia muito entre as cultivares, com algumas a formar arbustos eretos e abertos, enquanto outras formam arbustos compactos e fechados.

O crescimento vegetativo dá-se desde o abrolhamento dos gomos, na Primavera, e continua com o crescimento dos ramos até ao final do verão. Os ramos principais têm origem nos gomos da coroa e formam a estrutura da planta, surgindo também ramos laterais nos gomos das axilas das folhas. É por volta de setembro, quando os dias começam a ficar mais curtos e as temperaturas mais baixas, que o crescimento dos ramos se suspende. Estas condições promovem a diferenciação floral de alguns dos gomos (FONSECA, 2007).

Os gomos hibernantes que se apresentam pequenos, estreitos e pontiagudos durante o outono/inverno são vegetativos, enquanto os que irão formar as flores são consideravelmente maiores e mais largos. Os gomos formam-se nas axilas das folhas, sendo os vegetativos ou foliares os que irão dar origem a novos ramos e os florais irão dar origem a flores e frutos (Figura 8). Estes últimos são formados a partir dos gomos vegetativos que passam por diferenciação floral no final do verão, na sua grande maioria formados em ramos laterais, saudáveis e provenientes de caules com dois ou três anos.

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26 Em média, os cinco ou seis gomos da extremidade dos ramos são capazes de produzir flores. Os gomos do topo, que são lançados primeiro, contêm o maior número de flores, decrescendo esse número à medida que os gomos se encontram mais abaixo no ramo, pois têm menos tempo para completar o desenvolvimento antes de terminar a fase de crescimento. Enquanto o número de flores por gomo depende da cultivar, o número de gomos florais produzido depende do vigor dos ramos (TREHANE, 2004; FONSECA, 2007).

Figura 8 – Morfologia da planta de mirtilo. (A) Planta adulta na fase de dormência: a, área da coroa; b, caule adulto; c, novos lançamentos; d, corte de poda; e, lançamento lateral da última fase de crescimento com botões florais e vegetativos. (B) Lançamento lateral dormente: a, botão vegetativo; b, botão floral. (C) Lançamento em floração. (D) Ramo com frutificação: a, botão apical abortado; b, gema axilar. (E) Fruto seccionado transversalmente: a, epiderme; b, polpa; c, lóculo; d, sementes. Fonte: ECK et al. (1989).

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27 As folhas de forma oval ou de elipse estreita podem ter 17 a 25 mm de largura e 38 a 54 mm de comprimento, com margens que podem ser ligeiramente ou fortemente dentadas, dependendo das cultivares. A parte superior da folha é lisa e a parte inferior pode ser glabra ou pubescente (TREHANE, 2004).

Segundo FONSECA (2007), as folhas encontram-se inseridas alternadamente e formam-se nos nós dos ramos, sendo que na axila de cada folha origina-se um gomo. No que diz respeito ao número de folhas, também esta característica depende da cultivar e do vigor do ramo. Os ramos mais grossos e vigorosos podem ostentar 30 folhas e os mais finos, possuem normalmente dez folhas.

As flores nascem em cachos e possuem pedicelos verdes que crescem a partir de um pedúnculo. As primeiras flores surgem antes do crescimento vegetativo e as flores mais tardias acompanham a emergência de novas folhas. O cálice é verde com a corola cilíndrica formada por cinco pétalas soldadas, que podem ser brancas ou apresentar diferentes tonalidades cor-de-rosa, conforme as cultivares e a fase da floração. O ovário que contém em média 65 óvulos, é ínfero o que significa que está inserido abaixo do cálice (TREHANE, 2004), e, portanto, estamos perante uma pseudo-baga.

A polinização dos mirtilos pode ser cruzada ou por autopolinização. No entanto, a polinização cruzada influencia o tamanho do fruto, sendo este maior quando as flores são polinizadas com pólen de cultivares diferentes (BOWLING, 2000).

FONSECA (2007) mostra resultados de PRITTS & HANCOK (1992) sobre o efeito da autopolinização e da polinização cruzada no peso de fruto e na produção de sementes (Quadro 5).

É necessário que pelo menos 80% das flores frutifiquem para que uma produção comercial seja satisfatória (ECK et al., 1990).

De acordo com ALBRIGO et al. (1980), citado por SOUSA (2007), os frutos dos mirtilos são bagas sumarentas de sabor agridoce, que amadurecem 2 a 3 meses após floração. A baga de cor azul, com pequenas sementes, pode apresentar tonalidades diferentes que vão de um azul mais claro a mais escuro, influenciada pela pruína. A pruína é uma cera epicuticular que origina o efeito glauco característico da cor dos mirtilos, e impede o emurchecimento do fruto ao criar uma barreira importante à perda de água.

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28 Quadro 5 – Efeito da autopolinização e da polinização cruzada no peso do fruto e na produção de sementes.

Cultivar Polinização Nº sementes Peso fruto (g)

Bluecrop Autopolinização 10,8 1,87 Polinização cruzada 26,7 2,36 Bluejay Autopolinização 6,2 1,09 Polinização cruzada 9,8 1,14 Elliot Autopolinização 7,7 1,60 Polinização cruzada 43,7 2,03 Jersey Autopolinização 15,1 1,16 Polinização cruzada 48,4 1,64 Rubel Autopolinização 11,8 0,82 Polinização cruzada 22,7 0,96 Spartan Autopolinização 1,3 1,91 Polinização cruzada 9,4 2,50

Fonte: (PRITTS & HANCOK, 1992)

3.3. CULTIVARES

Tendo presentes as condições climáticas de Portugal, os grupos que apresentam maior interesse para produção de mirtilos são os “Northern Highbush Blueberry” (NHB), os “Southern Highbush Blueberry” (SHB) e casualmente algumas das cultivares do grupo “Rabbiteye”. A zona de Sever do Vouga possui as condições para um melhor desempenho do grupo NHB, enquanto a sul do Tejo são os grupos SHB e “Rabbiteye” que se verificam mais adaptadas, pois necessitam de menos horas de frio para quebra da dormência (SOUSA, 2007).

Neste trabalho utilizaram-se cultivares que pertencem ao grupo NHB, pelo que são as características deste grupo e as cultivares em estudo que se passam a descrever.

Duke: esta cultivar introduzida em 1987 resultou de um cruzamento entre as seguintes cultivares {Ivanhoe × Earliblue} × {Berkeley × Earliblue} × {Coville × Atlantic}. É uma planta robusta, encorpada e produz caules amplos, eretos e bem espaçados. Embora seja uma cultivar com maturação temporã, a floração é tardia o que a torna uma excelente escolha para áreas que tenham probabilidades de geadas tardias na Primavera. A ‘Duke’ requer mais horas de frio no Inverno do que a maioria das

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29 cultivares, mas é bastante produtiva, apresentando um fruto firme, de azul claro e de tamanho médio a grande com pequena cicatriz. A sua maturação e colheita acontecem durante um curto período de tempo (TREHANE, 2004).

A colheita termina após 2 semanas da primeira passagem e são apenas necessárias 2 a 3 passagens. O seu fruto mantém as qualidades para a comercialização em fresco por mais tempo do que a maioria das cultivares (BOWLING, 2000).

Bluecrop: introduzida em 1941 é a cultivar do grupo NHB mais plantada em todo o mundo e sendo proveniente dos seguintes cruzamentos {Jersey × Pioneer} × {Stanley × June}. Embora vigorosa e ereta, ela cresce com uma tendência para produzir caules longos, fortes e separados em todo o arbusto. É uma planta resistente, tolerante à seca e de fácil crescimento. Os cachos de fruta são grandes e soltos, com bagas firmes, grandes a muito grandes, que são resistentes ao rachamento (TREHANE, 2004).

A ‘Bluecrop’ é uma cultivar de meia-estação que apresenta uma colheita relativamente escalonada. As bagas aparentam estar maduras (completamente azuis) bem antes de a doçura total ser alcançada, portanto só devem ser colhidas cinco a sete dias depois da baga apresentar uma cor uniforme. É muito produtiva e consistente, mas se não for podada corretamente tende a produzir demasiado (BOWLING, 2000; STRIK & FINN, 2008).

Ozarkblue®: Criada em 1996 pela Universidade do Arkansas, esta cultivar é um cruzamento entre cultivares do grupo NHB e cultivares do grupo SHB. Uma vez que o seu material genético é maioritariamente do grupo NHB, é bastante resistente ao frio. Também se adapta bem em regiões com verões quentes, desde que satisfaça as suas necessidades em frio que rondam as 800 horas. É uma excelente escolha para locais onde os verões são muito quentes para outras cultivares como a ‘Bluecrop’. O fruto é grande, azul claro, firme e de sabor agradável (TREHANE, 2004).

Muito produtiva e vigorosa, esta cultivar tem os seus arbustos muito abertos ao contrário das cultivares do grupo SHB. A floração e produção são tardias, com altos rendimentos logo após a plantação. Como floresce mais tarde, evita frios e geadas tardias que possam ameaçar a produção. Pode precisar de poda especial para manter as produções elevadas (BOWLING, 2000; STRIK & FINN, 2008).

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3.4. EXIGÊNCIAS EDAFO-CLIMÁTICAS

O mirtilo é uma planta com exigências especiais e excecionais, bem diferente dos outros pequenos frutos, pois requer condições do solo onde a maioria das produções agrícolas não conseguiria crescer ou mesmo desenvolver-se. No seu habitat natural, eles crescem em solos com o pH ácido, uniformemente húmidos (não encharcados) e pobres em nutrientes. Geralmente, os solos são ricos em matéria orgânica (MO), que para além de melhorar a sua estrutura, é importante pois liberta lentamente a sua reserva de nutrientes no solo, o que pode ser interessante na fase de crescimento da planta onde, o azoto ao ser disponibilizado de uma forma mais gradual evita desequilíbrios entre o crescimento dos ramos e dos frutos. Assim, as plantas que crescem nestes solos necessitam de desenvolver estratégias para absorver nutrientes que não estão facilmente disponíveis. No caso dos mirtilos essa estratégia é a simbiose com fungos dando origem a micorrizas no sistema radicular (BOWLING, 2000).

KUEPPER & DIVER (2004), referem que o intervalo de pH ideal para o desenvolvimento dos mirtilos é 4,8 – 5,5. Quando o solo apresenta um pH mais alto surgem cloroses de ferro e quando o pH é inferior a 4,8 existe a possibilidade de surgir toxicidade de manganês. Em qualquer uma das situações as plantas não se desenvolvem corretamente. O pH do solo também tem um papel importante no fornecimento de azoto, uma vez que estudos de investigação mostram que os mirtilos preferem este nutriente na forma amoniacal, absorvendo-o de maneira muito mais eficiente do que o azoto nítrico, e nos solos ácidos a forma amoniacal predomina.

As plantas de mirtilo que se instalam em solos com pH impróprio vão ter um crescimento deficiente, desequilíbrio nutricional (muitas vezes manifestado nas folhas cloróticas) e maior percentagem de mortalidade durante a sua instalação (BRASWELL et al., 2009).

Solos com grande percentagem de areia são excelentes para esta cultura pois proporciona boa drenagem e oxigenação, condições ideais para um bom desenvolvimento do sistema radicular. É ainda melhor se o solo possuir 20 a 30% de partículas de argila pois proporcionam um aumento da capacidade de retenção de água assim como uma boa ancoragem das raízes. No entanto, solos muito argilosos são pesados e compactos demais, resultando em má drenagem e pouca circulação de ar que levam a um sistema radicular mal desenvolvido e plantas fracas (TREHANE, 2004).

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31 BRASWELL et al. (2009) mencionam que é recomendável efetuar análises de solo para corrigir quaisquer deficiências, eliminar terra dura, melhorar a estrutura do solo e incrementar a percentagem de MO. A preparação do solo deve-se iniciar no verão, antes de plantar os mirtilos, com a passagem de um subsolador para eliminar torrões e compactação do solo, caso existam.

Os mirtilos não gostam de terrenos muito alagados, pois as suas finas raízes necessitam de oxigénio e são suscetíveis a fungos como a Phytophthora cinnamomi. No que diz respeito à falta de água até mostram uma boa tolerância, embora produzam melhor se tiverem acesso a muita água na época do crescimento vegetativo e da colheita. Lençóis freáticos que se encontrem entre os 30 e os 81 cm de profundidade não são prejudiciais. Quando surgem a 30 cm da superfície do solo, devem ser armados camalhões para instalar as plantas, com 30 a 50 cm de altura e 60 cm de largura (TREHANE, 2004).

BOWLING (2000) indica que os mirtilos necessitam de 2,5 cm3 de água por semana durante o crescimento vegetativo e mais de 10 cm3 por semana durante a maturação do fruto.

Na generalidade, os mirtilos crescem e produzem na maior parte das regiões temperadas onde as temperaturas de inverno alcancem pelo menos 700 horas de frio abaixo dos 7ºC, para que a quebra de dormência se verifique. A maior parte das cultivares não ficam afetadas com temperaturas de -18ºC e até mesmo mais baixas, desde que não se verifiquem muitas flutuações. São vulneráveis a ventos frios na primavera que ocorram depois da abertura das flores e do crescimento vegetativo ter iniciado. Temperaturas acima de 30ºC no Verão podem causar danos nas folhas, que podem apresentar sintomas de emurchecimento, especialmente nas plantas de rápido crescimento vegetativo que estão completamente expostas ao sol. A estas temperaturas, as raízes não são capazes de absorver água suficiente e à velocidade necessária para compensar a perda por transpiração através das folhas. Para além disso, o facto de estarem desprovidas de pelos radiculares não lhes permite alcançar grande área de absorção como a maioria das plantas. As folhas que estão completamente expostas ao sol também absorvem e retêm mais calor, pelo que podem estar 10 a 15ºC mais quentes do que o ar que as rodeia (TREHANE, 2004).

As condições locais podem influenciar a escolha das cultivares e portanto quando se decide plantar mirtilos em determinada região, é necessário saber as horas de frio que se conseguem acumular nesse local e eleger as cultivares que melhor se podem adaptar às

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32 condições climáticas existentes. Se uma cultivar com altas exigências em horas de frio for instalada numa zona quente ou amena que durante a fase de dormência não acumule as horas de frio necessárias, a dormência quebra-se muito mais tarde e de forma irregular dando lugar a uma floração limitada e pouco fértil (PALOMARES, 2010).

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4.

PROPAGAÇÃO

Ao longo das últimas décadas, tem-se assistido a uma evolução importante nas metodologias e processos de propagação utilizados para a obtenção de plantas devido à procura crescente por parte dos produtores e à exigência da utilização de plantas de qualidade (BOUTHERIN & BRON, 2000).

A produção de plantas engloba diversos aspetos, onde o processo de propagação, propriamente dito, constitui uma fase importante. A seleção adequada do material que se vai utilizar para propagar, a sua preparação, o fornecimento das condições adequadas para que possa ocorrer a regeneração de tecidos, e o assegurar da sobrevivência até à fase final em que a nova planta se pode considerar estabelecida e autónoma, são as restantes fases que tornam possível a multiplicação vegetal (BROWSE, 2010).

O mirtilo é propagado, normalmente, por estacaria. A propagação por sementes não é utilizada comercialmente. O motivo pelo qual a propagação sexuada não interessa comercialmente deve-se à segregação genética, que origina descendentes com caracteres distintos da planta-mãe (HOFFMANN et al., 1995).

A propagação por estacas utiliza uma porção de caule, raiz ou folha que é cortada da planta-mãe e induzida a formar raízes e rebentos por manipulação física, química e/ou ambiental. Todas as plantas obtidas, provenientes da mesma planta, constituem um clone com comportamentos idênticos à planta-mãe. A estacaria é o método de propagação mais importante para multiplicar espécies de plantas de folha caduca, bem como espécies de folha persistente (HARTMANN et al., 1990).

As estacas são obtidas de partes vegetativas das plantas como, caules, caules modificados (rizomas, tubérculos e bolbos), folhas e raízes. As estacas podem ser classificadas de acordo com a parte da planta de onde são retiradas e do atempamento que apresentam:

• Estacas caulinares: o Lenhosas

 De plantas caducas

 De plantas de folha persistente o Semi-lenhosas

o Herbáceas • Estacas foliares • Estacas radiculares

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34 Na seleção do material para cortar deve-se ter em conta que, as plantas-mãe devem estar livres de pragas e doenças, apresentar moderado vigor, e a sua identidade (espécie e cultivar) deve ser conhecida. Devem ser evitadas plantas que sofreram lesões devido ao frio ou à seca, ataques de insetos, ou que apresentem vigor excessivo. Da mesma forma, plantas que estão atrofiadas devido a excessiva floração ou frutificação, ou por falta de humidade no solo ou de fertilização adequada, não são aceitáveis. Baixa qualidade do material vegetativo atrasa todo o processo produtivo, induz problemas na cultura e produz plantas fracas (HARTMANN et al., 1990).

Um dos principais problemas na colheita de material para a propagação por estacas é a contaminação do material vegetal por doenças ou pela utilização de cultivares não identificadas. Muitos produtores possuem cultivares misturadas nos seus campos, muitas vezes sem estarem devidamente identificadas, o que pode ocasionar misturas de cultivares nos tabuleiros de propagação que serão posteriormente comercializadas e cultivadas com a identificação incorreta (KREWER & CLINE, s.d.).

Segundo HARTMANN et al. (1990), a propagação vegetativa é possível porque na maioria das plantas os órgãos vegetativos têm capacidade de regeneração e são produzidos clones uma vez que cada célula contém a informação genética essencial para gerar uma planta inteira e capacidade de rediferenciação. Esta produção de clones baseia-se na divisão mitótica das células onde ocorre a duplicação do número cromossómico do citoplasma da célula progenitora para formar duas células filhas. É desta forma que a propagação vegetativa origina a multiplicação integral da planta-mãe, situação que na propagação por semente não acontece devido à segregação genética e consequente obtenção de grande variabilidade nas plantas obtidas.

Apesar da propagação por estaca ser o método mais utilizado para multiplicar os mirtilos, outros métodos como a enxertia, a mergulhia, a cultura de tecidos e a divisão por toiças podem ser utilizados nesta cultura (GOUGH, 1994).

4.1. PROPAGAÇÃO VEGETATIVA POR ESTACAS LENHOSAS

O recurso a estacas lenhosas é um dos métodos mais simples e menos dispendiosos de propagação vegetativa. São fáceis de preparar, são menos perecíveis do que qualquer outro fragmento vegetal a utilizar, podem ser transportadas para longas distâncias se necessário, e não exigem grandes infra-estruturas durante o enraizamento.

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35 É durante a fase de dormência da planta que as estacas lenhosas são cortadas – outono/inverno – normalmente de caules provenientes da última fase do crescimento vegetativo, ao contrário do que se pode fazer noutras espécies como a figueira, a oliveira e a ameixeira, que podem ser propagadas por estacas com dois ou mais anos.

O material vegetal utilizado para a propagação deve ser proveniente de plantas saudáveis, moderadamente vigorosas e que crescem ao ar livre com boa exposição solar. Os caules escolhidos não devem ter longos entrenós fora do normal, nem devem ser pequenos e fracos que crescem no interior da planta (HARTMANN et al., 1990).

A propagação por estacas lenhosas é largamente utilizada em espécies de valor comercial uma vez que pode proporcionar a produção de elevado número de plantas de boa qualidade num curto espaço de tempo, dependendo contudo de vários fatores como da facilidade de enraizamento de cada espécie, da qualidade do sistema radicular formado e também do posterior desenvolvimento da planta. O sucesso da propagação é dependente de um conjunto de variáveis entre fatores endógenos e ambiente (TREVISAN et al., 2004).

Segundo FACHINELLO et al. (2005), citados por FISCHER (2007), a condição fisiológica da planta-mãe, o estado vegetativo dos ramos, os fatores endógenos e as condições ambientais durante o período de enraizamento, determinam a capacidade para uma estaca enraizar.

Os ramos selecionados para a realização de estacas devem ter entre 25 a 75 cm de comprimento e deve-se apenas utilizar a parte que contém os botões foleares. Além disso, a zona de onde são cortadas as estacas tem também influência na facilidade e percentagem de enraizamento obtidas, devido à diferente concentração em hidratos de carbono, nutrientes e hormonas que existem nas diferentes partes. Uma relação entre baixas concentrações de azoto e elevadas de hidratos de carbono, parecem favorecer o enraizamento em muitas plantas. Esta situação regista-se normalmente na base de muitos lançamentos novos, assim como outros componentes indiciadores de enraizamento que também existem na parte basal dos rebentos (GOUGH, 1994).

Os rebentos podem crescer na base da coroa da planta ou noutros caules já mais velhos, e removidos todos os anos das plantas-mãe, cortados desde a sua base. Eles podem ser utilizados imediatamente para a propagação das estacas ou podem ser armazenados a 2ºC durante algumas semanas, desde que sejam mantidos num ambiente húmido. A primeira preparação a executar é remover os botões florais que possam existir na extremidade dos rebentos, e de seguida cortar as estacas com cerca de 13 cm,

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36 normalmente com o corte distal logo acima de um botão vegetativo. No caso de não se efetuar a colocação das estacas no substrato de propagação logo após o seu corte e o material tiver que ser armazenado durante um longo período de tempo, devem-se mergulhar as estacas num fungicida adequado, fechar compactamente num saco plástico e armazenar a 2ºC (ECK et al., 1989).

HARTMANN et al. (1990), referem que pelo menos dois botões devem ficar na estaca: o corte basal deve ser efetuado mesmo abaixo do botão inferior e o corte superior deve ser a 1,3 a 2,5 cm acima do outro botão que se encontra na extremidade da estaca. O diâmetro das estacas pode estar compreendido entre 0,6 a 2,5 cm, dependendo das cultivares a propagar. Existem ainda três tipos de estacas que se podem fazer conforme o corte na planta. A estaca “martelo” que inclui uma secção curta de caule da madeira mais velha, a estaca “esporão” que apenas inclui um pequeno pedaço de madeira velha e a estaca “direita” que não inclui madeira velha, sendo a mais comum e a que fornece os resultados mais satisfatórios na maioria das situações.

SCHULTE & HANCOCK (1983), também mencionam que as estacas devem ter pelo menos 0,6 cm de diâmetro e que estacas com diâmetro mais pequeno são mais fáceis de enraizar mas as plantas provenientes dessas estacas vão necessitar de mais tempo para se estabelecer. Para estes autores o comprimento das estacas deve ser de pelo menos 10 cm, que poderão ser encurtados quando o material vegetal para multiplicação é escasso, sendo no entanto necessário um cuidado redobrado nas condições ambientais uma vez que a disponibilidade de reservas nas estacas é menor. Salientam ainda que quando são feitos os cortes deve-se evitar pisar e esmagar o tecido, usando como ferramentas mais adequadas serra de fita, facas afiadas ou tesouras corretamente ajustadas. As tesouras normais de poda são suscetíveis de causar danos nas estacas e portanto devem estar bem afiadas. O local onde se realizam a preparação das estacas deve ser protegido de correntes de ar e estas devem ser colocadas imediatamente em substrato húmido para evitar a desidratação.

As estacas são colocadas verticalmente no substrato a uma distância de 5 cm entre elas e nas entre-linhas, deixando à superfície um a dois botões vegetativos. O substrato deve ser apertado à volta da estaca. Após a colocação das estacas deve-se humedecer o substrato para este envolver melhor as estacas. As folhas irão desenvolver-se rapidamente e, portanto deve-se manter a humidade elevada através de nebulizações periódicas enquanto as raízes se formam e depois do primeiro crescimento aéreo estar terminado. Este período pode decorrer entre dois a três meses (GOUGH, 1994).

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37 Este autor refere que, SHELTON & MOORE (1981) verificaram que a propagação ao ar livre, com as estacas expostas diretamente ao sol ou com ensombramento até 50% proporciona melhores resultados. Mais do que 50% de ensombramento é prejudicial para o processo de enraizamento.

Quando a segunda fase de crescimento aéreo começa, as raízes já se formaram e é recomendada fertilização, essencialmente à base de fósforo na concentração de 1,3 kg por 190 L de água. A quantidade de 3,8 L será suficiente para 2,25 m2 de superfície de cama de substrato. Após a aplicação do fertilizante deve-se passar imediatamente água nas folhas e até ao final do Verão são aconselhadas aplicações semanais (GOUGH, 1994).

Por forma a garantir boa drenagem, as camas de propagação são posicionadas acima do solo em estruturas que permitam alguns centímetros de espaço livre. A profundidade das camas deve ser de 20 cm fornecendo a quantidade necessária de substrato para o bom desenvolvimento das raízes (ECK et al., 1989).

4.2. SUBSTRATO

De acordo com ABAD (1993), BURÉS (1997) e PASTOR (1999), citados por BARRA (2008), define-se como substrato todo o material, natural ou sintético, mineral ou orgânico, de forma pura ou misturada, cuja função principal é servir como meio de crescimento e desenvolvimento das plantas, permitindo a ancoragem e apoio ao sistema radicular, favorecendo o fornecimento de água, nutrientes e oxigénio.

Há uma grande variedade de substratos que podem ser utilizados para a propagação tais como areia, turfa, casca de arroz carbonizada, vermiculite, serragem, solo, composto orgânico ou mistura de mais do que um destes elementos. As exigências das diferentes espécies variam muito e por isso não existe um substrato ideal, sendo aconselhável fazer testes com diferentes materiais e diferentes misturas, recorrendo a produtos disponíveis na região uma vez que o recurso a materiais provenientes de locais distantes do local de propagação podem encarecer e até mesmo inviabilizar a sua utilização (FRANZON et al., 2010).

Sendo o mirtilo uma planta que se desenvolve em solos ácidos deve ser dada especial atenção ao pH dos substratos utilizados na propagação (RISTOW et al., 2009).

Segundo WILSON (1983), WALLER & WILSON (1984) e SILVA et al. (2001), citados por RISTOW et al. (2009), o desenvolvimento das plantas está deveras

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38 dependente da escolha do substrato que garante o estabelecimento das estacas e reduz o tempo de formação da planta. As principais características que devem fazer parte de um substrato são a fácil aquisição e transporte, riqueza em nutrientes essenciais, ausência de patogénios, boa estrutura e textura e pH adequado. Para além do efeito sobre a disponibilidade de nutrientes, o pH tem relativa importância no crescimento das plantas devido ao seu relacionamento com os desequilíbrios fisiológicos.

O substrato deve ainda proporcionar um ambiente escuro, espaço poroso para auxiliar o enraizamento, permitir uma boa agregação das raízes, boa capacidade de tamponamento contra as alterações do pH, capacidade de reidratação após secagem, ter sempre o mesmo comportamento a um dado manuseamento e inexistência de substâncias inibidoras do crescimento ou prejudiciais às plantas (HARTMANN et al.,1990; COUVILLON, 1998; PELIZZA et al., 2011).

Dentro dos substratos disponíveis para a propagação do mirtilo estão o musgo de esfagno, a turfa, a serragem, a areia, as cinzas, a vermiculite e a perlite. Utilizar apenas turfa não é aconselhável pois tem pouca capacidade de drenagem e cria problemas quando se tenta separar as raízes antes do transplante. Também a serradura fresca não é recomendada. As seguintes misturas de substratos que já demonstraram resultados satisfatórios no desenvolvimento radicular dos mirtilos, são: 50% de musgo de esfagno e 50% de areia grossa lavada; 50% de turfa e 50% de vermiculite ou perlite; 40% de turfa, 30% de areia e 30% de vermiculite ou perlite. Os substratos devem ser bem misturados antes de serem colocados nas camas de propagação (STRIK et al., 1993).

4.3. HORMONAS

Existem substâncias sintéticas que se podem utilizar para estimular o enraizamento e formação de raízes de qualidade, como é o caso das auxinas. Estas fazem parte do grupo de fitorreguladores que apresentam o maior efeito na formação de raízes em estacas (FISCHER et al., 2008a).

A capacidade de resposta à estacaria pode diferir entre as cultivares pertencentes à mesma espécie, podendo os fitorreguladores influenciar o desenvolvimento de raízes adventícias. Eles apresentam uma concentração ótima que pode variar entre as espécies e condições de enraizamento, visto que diferenças entre concentrações podem ter o efeito de promover mas também inibir o processo de enraizamento. O intervalo é de 1000 mg.L-1 a 8000 mg.L-1, usando imersão rápida em solução concentrada, e os

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Figura 1 – Principais regiões e países produtores de mirtilo.  Fonte: Palomares (2010)
Figura 6 – Frutos de mirtilo.  Fonte: Susana Martins
Figura 8 – Morfologia da planta de mirtilo. (A) Planta adulta na fase de dormência:
Figura 9 – Tabuleiros colocados no local de ensaio.  Foto da autora
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Referências

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