• Nenhum resultado encontrado

'Cidade de Deus' nos EUA e Peanuts no Brasil: reescrituras em diferentes contextos culturais

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "'Cidade de Deus' nos EUA e Peanuts no Brasil: reescrituras em diferentes contextos culturais"

Copied!
13
0
0

Texto

(1)Tradução & Comunicação Revista Brasileira de Tradutores Nº. 25, Ano 2012. 'CIDADE DE DEUS' NOS EUA E PEANUTS NO BRASIL: REESCRITURAS EM DIFERENTES CONTEXTOS CULTURAIS Cidade de Deus in USA and Peanuts in Brazil: rewritings in different cultural contexts. Edelweiss Vitol Gysel Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC egysel@gmail.com. Rosvitha Friesen Blume Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC rosvithafriesenblume@gmail.com. RESUMO A compreensão de que a tradução só lida com equivalências entre sistemas linguísticos tem sido desconstruída e estudos demonstram que desde a escolha do texto a ser traduzido, passando pelo processo tradutório e indo até a divulgação do produto traduzido, questões culturais e éticas estão envolvidas, questões essas, que podem favorecer indivíduos, entidades e até culturas em detrimento de outras. O presente artigo almeja ilustrar, através de dois exemplos, um de legendas e outro da Literatura Infanto-Juvenil, como, através da tradução, culturas dominantes ou do primeiro mundo exercem até hoje influência em suas 'colônias' no terceiro mundo, impondo seus valores. Os exemplos serão baseados na abordagem de alguns aspectos teóricos referentes ao diálogo dos Estudos da Tradução com os Estudos PósColoniais. Palavras-Chave: estudos da tradução; estudos pós-coloniais; culturas dominantes.. ABSTRACT The idea that translation only deals with equivalences between linguistic systems has been deconstructed. Studies show that cultural and ethic issues play a major role from the choice of a text to be translated, the translation process itself, to the advertising of the translated product. Such issues might favor individuals, entities and even cultures against others. The two examples discussed in the present article, the first of subtitles, and the second of a comics´ translation, aim at illustrating how dominant or first world cultures influence their ‘colonies’ in the third world by imposing values. The examples will be based on the dialogue of some theoretical aspects within Translation Studies with Postcolonial Studies.. Keywords: Translation Studies; Postcolonial Studies; dominant cultures. Anhanguera Educacional Ltda. Correspondência/Contato Alameda Maria Tereza, 4266 Valinhos, São Paulo CEP 13.278-181 rc.ipade@aesapar.com Coordenação Instituto de Pesquisas Aplicadas e Desenvolvimento Educacional - IPADE Artigo Original Recebido em: 27/11/2012 Avaliado em: 28/02/2013 Publicação: 11 de abril de 2013. 9.

(2) 10. ‘Cidade de Deus' nos EUA e Peanuts no Brasil: reescrituras em diferentes contextos culturais. 1.. INTRODUÇÃO Em nossos dias, o enorme intercâmbio de informações promovido pela globalização em forma de mobilidade de indivíduos por diversas culturas e propiciado pelos avanços tecnológicos coloca o fenômeno da tradução em posição de destaque. Mesmo que ela aconteça nas entrelinhas e veladamente, vista somente como uma ferramenta desse compartilhamento, seus efeitos podem ser reconhecidos em nossa forma contemporânea de ver e entender o mundo. Queremos, com essa afirmação, não só ressaltar a íntima conexão entre tradução e culturas, mas também apontar para a importância do processo tradutório nas relações de poder entre culturas. Max Weber (1949: 81) diz que “todo conhecimento sobre realidade cultural é sempre um conhecimento sob um ponto de vista específico”1; André Lefevere (2007: 101) relatando sobre uma das traduções do livro “Diários de Anne Frank” afirma que “[u]ma comparação entre o original e sua tradução joga luz sobre a forma como uma cultura realiza a construção da imagem de uma escritora que pertencia à outra cultura”; Lawrence Venuti (2002) ressalta a influência que um tradutor pode exercer sobre a cultura de chegada ao traduzir uma obra, moldando a forma como uma cultura vê a outra; assim sendo, a forma como vemos uma cultura estrangeira será sempre o produto de uma interpretação pessoal, tanto nossa como de um tradutor, do que sejam, por exemplo, os costumes, hábitos, ações e modos de ver o mundo de certo coletivo. Em outras palavras, a maneira como encaramos uma cultura já é uma tradução daquilo que realmente é cultura. Não pretendemos resgatar aqui a vasta teorização em torno do conceito de cultura, mas, através da apresentação de dois exemplos de textos traduzidos que se encontram na mídia, objetivamos, no presente artigo: a) mostrar o quanto nossa visão de uma cultura é influenciada pela informação que passou pelo processo tradutório; b) ressaltar que nenhuma tradução é neutra, pois sempre haverá intenções por trás de “qualquer tipo” de tradução de “qualquer tipo” de texto, e c) destacar a relevância cultural no processo tradutório de diferentes textos. O objetivo último é que esse estudo ofereça uma pequena contribuição tanto para a teoria, reforçando a interface entre os Estudos da Tradução e as Teorias Pós-Coloniais, quanto para a prática, mostrando que todo e qualquer texto traduzido foi realizado com uma ou mais intenções, podendo, frequentemente, revelar relações desiguais de poder entre a cultura de partida e a de chegada.. 1. Todas as traduções de citações, salvo indicação em contrário, são de nossa autoria.. Tradução & Comunicação: Revista Brasileira de Tradutores š Nº. 25, Ano 2012 š p. 9-21.

(3) Edelweiss Vitol Gysel, Rosvitha Friesen Blume. 2.. 11. LINGUAGEM E CULTURA Segundo Agra (2007), linguagem pode ser definida como um código de símbolos que visam transmitir, sob forma oral ou escrita, informações que serão entendidas e interpretadas por um interlocutor ou leitor segundo seus próprios conceitos e valores. Já a cultura é vista como conjunto dos modos, hábitos e crenças e que não só vai além do código, mas pode, através deste, demonstrar um cenário que reflete uma visão de mundo em certo contexto. Agra (2007: 2) explica que [t]al crença tem como base a concepção de que uma língua natural é um sistema de representação do mundo e de seus eventos e, para que ela possa dar conta disso, usa sinais cujos sentidos são especializados em um contexto, sendo que esse contexto só tem sentido especializado em um cenário que revela uma cultura.. Considerando essa afirmação, e já que a tradução trabalha com linguagem, não há como o tradutor deixar o aspecto cultural de lado em seu processo tradutório, pois cultura e linguagem sempre andam juntas. Referindo-se ao processo tradutório, Agra (2007: 3) percebe o papel da cultura da seguinte maneira: A cultura permite intuir, reconhecer, experimentar ou investigar os hábitos lingüísticos e extralingüísticos, as idiossincrasias e os mecanismos inconscientes que podem estar por detrás da produção e recepção do texto de partida e do texto de chegada.. Ainda levando em conta que a concepção de tradução aqui não se refere somente ao uso adequado de vocábulos encontrados em dicionários que ligam referentes aos seus significados, mas à visão cultural específica que permeia ambos os textos, o de partida e o de chegada, um tradutor, ao ler um texto a ser traduzido, sempre o interpretará sob certa perspectiva, levando em conta seus valores, sua visão de mundo e até mesmo, em alguns casos, o que acha certo ou errado. Em seu processo tradutório, o tradutor deixa transparecer esses aspectos, às vezes mais, às vezes menos, mas eles serão perceptíveis em sua tradução como marcas digitais em sua obra.. 3.. TRADUÇÃO COMO REESCRITURA Os valores e visão de mundo citados acima serão aparentes na tradução. Lefevere (2007, p. 11) defende que “[a] tradução é certamente uma reescritura de um texto original”, com o que ele contesta toda definição de tradução como “transposição”, “veículo”, e noções em que a tradução é descrita como um “meio” em que se “leva” uma mensagem de uma língua fonte para uma língua alvo. Definindo a tradução como reescritura, o teórico diz que o tradutor, já ao ler qualquer texto a ser traduzido, interpreta e entende a mensagem desse texto sob sua própria perspectiva. Ao traduzi-lo para a língua alvo, deixa transparecer tanto a visão. Tradução & Comunicação: Revista Brasileira de Tradutores š Nº. 25, Ano 2012 š p. 9-21.

(4) 12. ‘Cidade de Deus' nos EUA e Peanuts no Brasil: reescrituras em diferentes contextos culturais. cultural do autor por trás do texto de partida, quanto sua própria visão por trás do texto de chegada. Por essa razão o tradutor deve ser capaz de unir língua e cultura como duas faces da mesma moeda. Lefevere (2007: 178), ainda tendo o tradutor como “reescritor de um texto fonte”, completa: “Reescritores e reescrituras projetam imagens da obra original, do autor, ou da cultura, que sempre impactam muito mais os leitores do que o original o faz”, ou seja, o leitor de uma tradução, muitas vezes, por não ter acesso ao original terá a tradução como texto original e, nesse caso, considerará a interpretação do tradutor como texto original, consumindo as informações obtidas como pertencentes ao autor do texto fonte. Com base nisso poderíamos refletir, por exemplo, sobre até que ponto um estudante de filosofia no Brasil, quando cita Karl Marx ou Michel Foucault em português, estará realmente citando os filósofos ou seus tradutores; ou ainda em estudos literários, em que alunos citam frequentemente, em traduções ao português, excertos de clássicos da literatura mundial como se fossem originais; mas até que ponto, realmente, o são? Até que ponto o tradutor desses originais não deixou transparecer sua própria visão de mundo ou, ainda, até que ponto o contexto da cultura de chegada não influenciou essa tradução? Considerando esses, entre muitos outros questionamentos, percebemos a importância de se levar em conta tanto o contexto cultural como o contexto de produção tradutória nos quais qualquer tradução está inserida, antes de se tirar conclusões ou se dar vereditos a seu respeito.. 4.. TRADUÇÃO E CULTURA No quarto capítulo de seu livro Scandals of Translation, Lawrence Venuti (1998) afirma que uma tradução domestica um texto estrangeiro segundo os valores da cultura de chegada a fim de ser compreendido e aceito nessa nova comunidade. Venuti ainda problematiza essa domesticação colocando que já no processo de escolha do texto a ser traduzido existe uma seleção que, por escolher “um” texto, exclui “outros”. Além disso, um tradutor, ao traduzir qualquer texto, sempre terá uma ou mais estratégias de adaptação do texto à cultura de chegada que o levarão a fazer escolhas que obrigatoriamente deixarão outras escolhas de lado e, para completar, a forma em que esse texto traduzido será introduzido e apresentado à nova cultura pode influenciar o leitor da tradução em sua maneira de compreender e ver o mundo e pode chegar até a formar, no contexto de chegada, “uma” identidade cultural diferente de “muitas” que poderiam ser formadas. Venuti (2002, p. 130) afirma: A seleção de textos estrangeiros e o desenvolvimento de estratégias de tradução podem estabelecer cânones peculiarmente domésticos para literaturas estrangeiras, cânones que. Tradução & Comunicação: Revista Brasileira de Tradutores š Nº. 25, Ano 2012 š p. 9-21.

(5) Edelweiss Vitol Gysel, Rosvitha Friesen Blume. 13. se amoldam a valores estéticos domésticos, revelando assim exclusões e admissões, centros e periferias que se distanciam daqueles existentes na língua estrangeira.. Sob a luz dessas colocações, fica evidente o tamanho poder que tanto o processo tradutório como a inserção de uma tradução em uma cultura possui. É importante, nesse momento, deixar claro que nem sempre é o tradutor que age de forma manipuladora, mas, sim, as pessoas envolvidas e interessadas em determinada tradução, ou seja, aquelas que a encomendam. No campo teórico, estudiosos da tradução vem ressaltando a importância do diálogo tanto entre a teoria e a prática como entre os diversos campos teóricos. Mona Baker (2005) aponta para a importância de movimentos intelectuais trans-disciplinares, não só, mas principalmente, na área de humanas. Ela começa defendendo que nenhuma tradução é feita em um vácuo, há sempre um ponto de partida, uma intenção e um objetivo na produção de uma tradução e que, para se analisar essa tradução, esses pontos precisam ser considerados. Para tanto, outras áreas de estudo, como Estudos Culturais, Estudos Pós-coloniais, Estudos de Gênero, etc. passam a servir de embasamento e ferramenta para a compreensão e análise de textos traduzidos. Baker (2005, p. 9) aponta para a crescente preocupação na área dos Estudos da Tradução com o papel das traduções na construção de sociedades, culturas e ideologias, em detrimento de uma visão de traduções como “reflexos” passivos e estáticos ou como depósitos de normas e ideologias predominantes. Vemos aqui que, sob esse enfoque, o estudo de uma tradução não mais olha somente para a estrutura interna do texto, mas se concentra também nos efeitos que essa tradução vai gerar em seus leitores no contexto da cultura de chegada.. 5.. TRADUÇÃO E ESTUDOS PÓS-COLONIAIS Segundo Douglas Robinson (1997, p. 12), a área de estudo chamada “Teoria Pós-colonial” ou “Estudos Pós-coloniais” é considerada parte do campo interdisciplinar da “Teoria Cultural” ou “Estudos Culturais” que associa a antropologia, sociologia, Estudos de Gênero, Estudos Étnicos, Crítica Literária, história, psicanálise, Ciências Políticas, e filosofia para examinar textos e práticas culturais variados. Assim como Baker (2005) salientou, mais uma vez podemos constatar o intercâmbio de conhecimento entre as várias áreas das ciências humanas atuando em cumplicidade a fim gerar maior compreensão das entrelinhas nas relações de poder expressas em diferentes textos. A “Teoria Pós-colonial” nasceu com a dissolução dos grandes impérios europeus nas décadas de 40, 50 e 60, quando colônias europeias se tornaram independentes. A Tradução & Comunicação: Revista Brasileira de Tradutores š Nº. 25, Ano 2012 š p. 9-21.

(6) 14. ‘Cidade de Deus' nos EUA e Peanuts no Brasil: reescrituras em diferentes contextos culturais. abrangência dessa teoria é controversa; alguns dizem que ela estuda, por meio de registros em forma de textos, o comportamento das colônias desde suas independências; outros atestam que é desde suas colonizações; outros ainda afirmam que é um estudo sobre as relações de poder entre culturas, sociedades, países e nações conquistadas e seus conquistadores, sendo essa última, de Venuti (2002), a definição que desejamos adotar para este artigo. O termo que Robinson (1997: 8) usa para denominar esses conquistadores é “império”, e ele explica que “Um império é um sistema político baseado em dominação militar e econômica pelo qual um grupo expande e consolida seu poder sobre muitos outros – normalmente uma nação sobre outras nações”. Isso demonstra uma grande assimetria nas relações entre nações; algumas dominam e ditam as regras enquanto outras são dominadas e acatam o que lhes foi imposto. Essa relação, como já mencionado acima, vem do tempo das conquistas. A fim de poder chamar a nova terra conquistada de sua, a nação conquistadora – nesse caso chamada império – exercia domínio e poder controlando o povo local que, por sua vez, obedecia, quando não por vontade própria, então por força. Com o passar do tempo, mesmo com a independência de muitas colônias, a forte ideologia imposta pelo império a respeito de sua superioridade continuou e ainda continua vigente na maioria das nações colonizadas. Essa ideologia também é a responsável por tantos termos binários como: nativo/ estrangeiro, selvagem/ civilizado, conquistado/ conquistador, colônia/ império, e até mesmo nós/ eles, entre outros. Aplicando o pensamento dos Estudos Pós-coloniais ao dos Estudos da Tradução, Robinson (1997: 10) pergunta “Qual é a conexão de tudo isso com a tradução? Se tradução tem a ver com equivalências textuais, palavras, frases e seus significados, o que ela tem em comum com a macropolítica do império?”. Como já discutido previamente nesse artigo, a tradução excede em muito as equivalências textuais e significados linguísticos, envolvendo sempre o contexto cultural. Partindo dessa premissa, podemos afirmar que a tradução faz parte da cultura e de certa forma a molda, diferenciando o que é doméstico do que é estrangeiro, criando assim uma identidade própria a partir de, e em contraste com a identidade do outro. Robinson (1997, p. 3), refletindo sobre a pergunta acima, diz que [o] problema da tradução não é meramente limitado pelas afirmações dos estudiosos, mas é um aspecto central em todas as interações comunicativas e sociopolíticas entre o primeiro e terceiro mundo, entre os modernos e primitivos, entre colonizadores e colonizados.. Tradução & Comunicação: Revista Brasileira de Tradutores š Nº. 25, Ano 2012 š p. 9-21.

(7) Edelweiss Vitol Gysel, Rosvitha Friesen Blume. 15. Em Representing Texts and Cultures: Translation Studies and Ethnography Niranjana (1992) recorda a função da tradução na época dos descobrimentos e conquistas. Ela coloca que a tradução era vista como “a nobre tarefa de transpor a brecha entre os povos”, mas que na realidade, na maior parte das vezes, não uniu esses povos e, sim, serviu de instrumento para confirmar as diferenças. Por um lado, a tradução era útil para “civilizar” os nativos levando até eles os códigos de conduta dos conquistadores, ou seja, catequizando-os. Niranjana (1992, p. 63) vai além e afirma que a tradução nessa época foi vista como “ferramenta para a religião”. Por outro lado, toda a informação sobre a colônia que chegava ao império era traduzida; mas como explicar, de uma maneira intelegível, a forma de ver o mundo de uma cultura completamente diferente? Nesse ponto, por meio da tradução, a linguagem construiu imagens e estereótipos do “outro”que nem sempre foram, e ainda não são reais. É como se tentasse explicar, com a cultura própria, a cultura estrangeira, o que certamente gerava a necessidade de adaptar e por vezes até criar conceitos.. 6.. “DOMESTICAÇÃO” OU “ESTRANGEIRIZAÇÃO” A respeito dessa influência cultural sobre textos traduzidos que muitas vezes produziram e produzem determinadas imagens do ‘outro’, Venuti (1995) discute em sua obra intitulada: The Translator’s Invisibility. Ali Venuti se inspirou na teoria de Friedrich Schleiermacher, a qual defende que “[o]u o tradutor deixa o autor em paz, quando possível, e leva o leitor até ele. Ou deixa o leitor em paz, quando possível, e leva o autor até ele” (MILTON, 1993: 58). A partir dessa afirmação, Venuti explica que a tradução de textos de uma cultura para a outra implica mais do que uma simples escolha do que será traduzido. ou. não;. é. uma. escolha. entre. dois. procedimentos. tradutórios:. a. “estrangeirização” ou a “domesticação”. Essa escolha influenciará todo o projeto tradutório, pois se o tradutor decide domesticar o texto, esse se tornará mais fácil para o leitor, trazendo tanto uma linguagem com referentes culturais conhecidos. Já se o tradutor decide estrangeirizar o texto, ele conservará traços do texto de origem que serão desconhecidos para o leitor da cultura de chegada, dificultando assim sua leitura e compreensão. Aqui, segundo Venuti (1995), passamos a lidar com uma questão ética, pois a decisão de quais convenções e valores (da cultura fonte ou da cultura alvo) serão empregados na tradução poderá favorecer e reafirmar relações de poder entre cultura dominadora e cultura dominada.. Tradução & Comunicação: Revista Brasileira de Tradutores š Nº. 25, Ano 2012 š p. 9-21.

(8) 16. ‘Cidade de Deus' nos EUA e Peanuts no Brasil: reescrituras em diferentes contextos culturais. 7.. LEGENDAS DO FILME “CIDADE DE DEUS” COMO EXEMPLO DE “DOMESTICAÇÃO” Para fins de exemplificação da teoria apresentada, procuramos textos que mostrassem bem esses conceitos de “domesticação” e “estrangeirização” de Venuti. Optamos, como primeiro exemplo, pelas legendas do filme “Cidade de Deus” de 2001, produzido no Brasil para uma audiência brasileira e traduzido para o inglês em 2002 para uma audiência americana com o título City of God. Escolhemos trazer exemplos das legendas desse filme, pois aqui se trata de uma história muito marcada culturalmente, e na qual são empregados referentes típicos do Brasil em algumas situações. Vale ressaltar que esse filme foi um dos focos de análise na dissertação de Espíndola (2005), na qual ela mostra, com um detalhamento muito maior do que o aqui apresentado, a análise de cada ocorrência de diferenças entre os itens culturalmente marcados. No presente artigo apenas alguns exemplos, de Espíndola (2005) e das tirinhas Peanuts, são comentados, com a finalidade de exemplificar a teoria previamente apresentada. Abaixo as capas dos filmes com as devidas informações:. CIDADE DE DEUS – Drama (2001). Baseado na obra de Paulo Lins (1997). Dirigido por Fernando Meirelles. CITY OF GOD – Drama (2002). Traduzido por.... Dirigido por Fernando Meirelles. Figura 1. Capas dos filmes: Cidade de Deus e duas capas de sua tradução City of God.. O filme fala sobre a Cidade de Deus, um dos lugares mais perigosos do Rio de Janeiro durante a década de oitenta por conta da guerra do tráfico de drogas nas favelas cariocas. Ele mostra a disputa por poder entre os traficantes, que envolve a realidade de uma grande parte dos jovens moradores dali e coloca-os em constantes situações de perigo. O enredo é recheado de situações tensas e desentendimentos; por essa razão, às vezes, é empregada uma linguagem chula, assim como há a presença de gírias e expressões idiomáticas, sem contar referências a lugares, pessoas e situações marcadamente brasileiras e locais, fato que representa um grande desafio para qualquer tradutor. Tradução & Comunicação: Revista Brasileira de Tradutores š Nº. 25, Ano 2012 š p. 9-21.

(9) Edelweiss Vitol Gysel, Rosvitha Friesen Blume. 17. Emprestando um conceito de Niranjana (1992: 47), teremos aqui uma tradução “intercultural”, na qual uma cultura precisa ser traduzida inteligivelmente para outra cultura. Abaixo alguns exemplos da tradução feita do português do Brasil para o inglês: Tabela 1. Exemplos da legendagem em português e suas traduções em inglês. Cidade de Deus. City of God. Charuto preto vindo da macumba quer falar merda... hahaha. Look who’s talking!. O bandido não pagou os samangos e morreu numa cela lá na Ilha Grande.. (...) but he did not have to. Big Guy died in a jail. (omissão de Ilha Grande). (…) tem jogo do Flamengo mais tarde, ta ligado!. (omissão da fala na legenda ). Fui pra rua sem FGTS e sem indenização.. I did not get a dime.. Gosta deles? So apaixonado por mpb, tu gosta?. Awesome Singer. I like music. Do you?. Vou morar num sítio fumar maconha o dia inteiro ta ligado. Escutar Raul Seixas.. I’ll live in a farm, I’ll smoke pot, and listen to rock.. Antes de comentar os exemplos da tabela acima, gostaríamos de mencionar que não há, na capa do filme, indicação de quem traduziu as legendas do original português para o inglês, fato que já reflete a invisibilidade do profissional da tradução, apontada por Venuti. Mas seguindo para os exemplos, no primeiro, a frase em português possui gíria: “Charuto preto”; um referente cultural: “macumba”; e palavra chula: “merda”. Foi traduzido como Look who’s talking! (olha quem está falando!), ou seja, todos os itens citados acima: gíria, referente cultural brasileiro e palavra chula foram deletados. No segundo, quarto e quinto exemplos, os referentes culturais ‘Ilha Grande’, ‘ FGTS’ e ‘MPB’ foram omitidos. No terceiro exemplo, toda a frase é omitida, e no contexto carioca jogo do Flamengo é de muita importância. E para finalizar, no sexto exemplo, “Raul Seixas” se transforma em rock. Fica claro que em todas essas ocorrências houve um processo de domesticação. Os profissionais envolvidos na tradução das legendas não permitiram que aspectos da cultura brasileira ficassem evidentes na legenda do filme para a cultura americana. Ficam as perguntas: Será que por serem confrontados com referentes tipicamente brasileiros durante o filme os expectadores americanos perderiam o interesse por ele? E isso, porque não os entendem ou porque os rejeitam? Ou, por outro lado: será que domesticando as legendas tem-se a intenção de manter a cultura de chegada alheia à cultura fonte?. Tradução & Comunicação: Revista Brasileira de Tradutores š Nº. 25, Ano 2012 š p. 9-21.

(10) 18. ‘Cidade de Deus' nos EUA e Peanuts no Brasil: reescrituras em diferentes contextos culturais. 8.. TIRINHAS PEANUTS COMO EXEMPLO DE “ESTRANGEIRIZAÇÃO” Com as tirinhas Peanuts, pretendemos mostrar um processo de “estrangeirização” no qual, segundo Venuti (1995), um projeto tradutório visa manter aspectos tanto linguísticos como culturais da língua fonte causando, muitas vezes, estranhamento para leitores na língua alvo. Como as tirinhas são consideradas Literatura Infanto-Juvenil (LIJ), é importante esclarecer um pouco o que a teoria fala sobre essa literatura. Segundo Mundt (2008: 3), “Literatura Infanto - Juvenil (LIJ) é aquela que foi escrita, publicada para e/ou lida por crianças e jovens”. Com essa definição a autora esclarece que tanto crianças e jovens como adultos podem não só consumir como também produzir LIJ. Ela discute que quando adultos escrevem para crianças há uma relação de assimetria, pois o adulto escreve conforme a imagem e visão que ele tem da criança. Além disso, livros de LIJ são, em sua maioria, produzidos, traduzidos, editados, publicados, avaliados e comprados por adultos, restando às crianças apenas a posição de meras consumidoras do produto final. Neves (2010: 2) chega a afirmar que a LIJ tem o propósito de educar e reforçar o que as crianças aprendem em casa e na escola; ele caracteriza a LIJ da seguinte maneira: As maiores tendências nessa literatura são o texto mais reduzido, o uso do discurso directo e de linguagem mais simples, uso de magia e do fantástico, a necessidade de evitar abordar assuntos considerados impróprios, o respeito por normas sociais e modas vigentes, a atribuição de protagonismo a personagens jovens, o optimismo, a inocência, e os finais felizes.. Assim sendo, uma literatura, para ser considerada LIJ, teria que se encaixar em uma ou mais dessas características. Um dos elementos típicos da LIJ são as ilustrações. Mundt (2008: 6) explica que: Um outro elemento bastante característico da LIJ é a ilustração. Ela não apenas “enfeita” a obra infantil, mas facilita a sua leitura e é parte integrante da obra. Algumas vezes a ilustração espelha o conteúdo do livro, outras, completa-o e complementa-o trazendo novas informações e novos níveis de leitura e interpretação ao leitor. Seu papel é essencial nesse tipo de literatura e, portanto, não pode ser ignorado pelo tradutor.. Ou seja, a ilustração é parte da linguagem de um livro de LIJ, e no caso de esse livro ser traduzido, seu tradutor deve dar às ilustrações o mesmo valor que dá ao texto escrito. Em nosso exemplo, nas tirinhas Peanuts, o texto original foi escrito em inglês por Charles Monroe Sparky Schulz (1922–2000), considerado um dos maiores cartunistas dos Estados Unidos; suas tirinhas Peanuts estão entre as mais populares e influentes na história da mídia e até hoje são reproduzidas diariamente. Já a tradução em português dos exemplos que iremos apresentar não se sabe quem a fez, fato que novamente chama a atenção para a invisibilidade do profissional da tradução.. Tradução & Comunicação: Revista Brasileira de Tradutores š Nº. 25, Ano 2012 š p. 9-21.

(11) Edelweiss Vitol Gysel, Rosvitha Friesen Blume. 19. Abaixo o primeiro exemplo de tirinha2:. Figura 2. Tirinha do Peanuts 1.. O curioso nesse exemplo é a referência a Tennessee Ernie3. Abaixo da tirinha existe uma nota de rodapé para explicar quem é esse referente, provavelmente muito conhecido na cultura fonte, mas no contexto brasileiro um estranho para a maioria. É preciso ressaltar aqui que tirinhas também são feitas para adultos, em muitos casos até são feitas só para adultos, mas em nossos exemplos elas contemplam também crianças e jovens. Por isso o estranhamento ainda maior quanto ao fato da referência tão desconhecida. Imaginar crianças que consomem tirinhas lendo notas de rodapé não nos parece muito realista. Aqui a “estrangeirização” acontece, pois um referente da cultura fonte é trazido integralmente para a cultura alvo e até mesmo de modo, a nosso ver, bastante exagerado, com informações desnecessárias para a compreensão do texto fonte. O segundo exemplo de tirinha, a seguir, não contém nota de rodapé, mas em seu texto escrito existe uma escolha tradutória um tanto estranha para o leitor brasileiro:. Figura 3. Tirinha do Peanuts 2.. O uso de “grande, grande” é estranho porque, embora seja um termo comum no português do Brasil, não é usado nesse contexto. O original pode ter usado palavras como Great! Great, ou Grand! Grand que nesse caso específico significaria algo como: “Legal! Legal”, ou mesmo, “Bom! Bom”, mas não “Grande”. Podemos considerar essa ocorrência uma “estrangeirização”, pois o termo escolhido na língua alvo conservou os aspectos. As tirinhas comentadas aqui foram retiradas do site que é o blog de um fã de tirinhas Peanuts. Disponível em: http://tirassnoopy.blogspot.com/2006_02_01_archive.html acesso em nov. de 2012.. 2. 3 Nascido em 13/02/1919, Tennessee Ernie Ford (Ernest Jennings Ford), também conhecido como "the Ol' Peapicker”, em Bristol, Tennessee, Estados Unidos; gravou "Tennessee Border", "Ballad of Davy Crockett", "Mule Train", "The Shot Gun Boogie" e "Sixteen Tons" seu maior sucesso; morreu em 17/10/1991, de falência do fígado, em Reston, Virginia (Country/Folk).. Tradução & Comunicação: Revista Brasileira de Tradutores š Nº. 25, Ano 2012 š p. 9-21.

(12) 20. ‘Cidade de Deus' nos EUA e Peanuts no Brasil: reescrituras em diferentes contextos culturais. semânticos e morfológicos da língua fonte, embora esse termo não tenha o mesmo significado nesse contexto na cultura alvo. Acreditamos que para uma criança a leitura desse termo nesse contexto da história não só deva soar um tanto estranho, como poderá até mesmo criar um problema de compreensão.. 9.. CONSIDERAÇÕES FINAIS Sob a luz da teoria apresentada, que discutiu alguns aspectos da relação da tradução com a linguagem, com a cultura e com os Estudos Pós-coloniais, vemos que o fenômeno tradutório não se resume a mero exercício de transposição linguística, mas envolve questões de poder entre culturas. Assim sendo, os envolvidos nesse processo têm uma responsabilidade, não por último, ética; estando eles cientes disso ou não, suas escolhas poderão influenciar o modo como uma cultura percebe a outra. Nos exemplos citados podemos concluir que quando o texto a ser traduzido partiu de uma cultura de terceiro mundo para ser traduzido para uma cultura de primeiro mundo, todas as marcas regionais e nacionais foram omitidas ou adaptadas para o contexto de chegada, apagando assim o “diferente” da cultura fonte. Já no sentido oposto, quando o texto fonte partiu de uma cultura de primeiro mundo para ser traduzido para uma cultura de terceiro mundo todos os referentes foram mantidos, até nomes próprios que não possuem sentido no contexto de chegada, precisando para tanto da explicação de uma nota de rodapé com informações supérfluas para a compreensão do texto. Isso nos leva à hipótese de que culturas de primeiro mundo procuram formar as de terceiro mundo, introduzindo linguagem e conceitos próprios como se fossem universais, e que os traços e peculiaridades das culturas de terceiro mundo não são relevantes para elas. Nesse sentido valemo-nos de uma afirmação de Robinson (1997: 6) que diz: A tradução foi usada para controlar e “educar” e geralmente moldar populações colonizadas no passado; a tradução, no presente, continua mergulhada nas complexidades culturais e políticas da póscolonidade; e uma das esperanças dos Estudos da Tradução Pós-coloniais é que a tradução abra caminhos novos e produtivos para o futuro.. No campo dos Estudos da Tradução estamos em um momento de conscientização sobre a história da tradução e sua influência na história mundial e, como consequência, estamos mais críticos em relação aos processos tradutórios. A esperança é a de que, como tradutores, estejamos mais e mais atentos a nossas escolhas tradutórias e que, como leitores, sejamos mais críticos com o que nos é apresentado.. Tradução & Comunicação: Revista Brasileira de Tradutores š Nº. 25, Ano 2012 š p. 9-21.

(13) Edelweiss Vitol Gysel, Rosvitha Friesen Blume. 21. REFERÊNCIAS AGRA, Klondy L. de O. A integração da língua e da cultura no processo de tradução. Biblioteca online de Ciências da Comunicação. Rio de Janeiro, 2007. Disponível em: <http://www.bocc.ubi.pt/pag/agra-klondy-integracao-da-lingua.pdf>. Acesso em: 06 abr. 2011. BAKER, Mona. The Pragmatics of Cross-Cultural Conatct and Some False Dichotomies in Translation Studies. CTIS Occasional Papers, Manchester, Vol. I, 2005. ESPÍNDOLA, Elaine. Two facets in the subtitling process: foreignisation and / or domestication procedures in unequal cultural encounters. Revista Fragmentos, Florianópolis, UFSC, Vol. 30, 2006. LEFEVERE, Andre. Tradução, Reescrita e Manipulação da Fama Literária. Trad. SELIGMANN, C. Bauru: EDUSC, 2007, 263p. MEIRELLES, Fernando. (Produtor). City of God [videotape]. Imagem Filmes e Miramax. 2001. (Título original Cidade de Deus, nenhuma informação quanto à realização das legendas). MILTON, John. O Poder da Tradução. São Paulo: Ars Poetica, 1993, 195p. NEVES, G. Tradução e Literatura Infantil. Traduzir Literatura. Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. 2010. Disponível em: <http://traduzirliteratura.blogspot.com/2010/10/traducao-e-literatura-infantil-por.html>. Acesso em: 06 abr. 2011. MUNDT, Renata de S. D. A adaptação na tradução de literatura infanto-juvenil: necessidade ou manipulação? Tessituras, Interações, Convergências. XI Congresso Internacional da ABRALIC. USP, São Paulo, 13-17 de Julho, 2008. NIRANJANA, Tejaswini. Representing Texts and Cultures : Translation Studies and Ethnography. In: ______. Sitting Translation. Los Angeles: University of California Press, 1992, 203 p. ROBINSON, Douglas. Translation and Empire. Manchester: St. Jerome, 1997, 131p. SCHLEIERMACHER, Friedrich, D. E. Sobre os Diferentes Métodos de Tradução. In: HEIDERMANN, Werner L. (org.). Clássicos da Teoria da Tradução. Antologia Bilíngue. 2° Ed., Florianópolis: UFSC, 2010, 344p. VENUTI, Lawrence. The translator’s invisibility. New York: Routledge, 1995, 394p. ______. The scandals of translation - towards an ethics of difference. London & New York: Routledge, 1998, 212p. ______. Escândalos da Tradução. Trad. L. PELEGRIN, L. VILLELA, M. ESQUEDA e V. BIONDO. Bauru: EDUSC, 2002. WEBER, Max. Methodology of the Social Sciences. Trad. e ed. E. A. SHILLS e H. A. FINCH. New York: Free Press, 1949. Edelweiss Vitol Gysel Bacharel em Letras pela Universidade Federal de Santa Catarina, mestrando na Pós Graduação em Estudos da Tradução (PGET) na Universidade Federal de Santa Catarina. Rosvitha Friesen Blume Mestre em Linguística e doutora em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina (2005). É professora adjunto da UFSC, atuando na graduação em Letras Alemão e na Pós-Graduação em Estudos da Tradução. Principais áreas de interesse: literaturas de língua alemã contemporâneas, narratologia, estudo do texto poético, escrita autobiográfica, estudos feministas/ de gênero, tradução literária (especialmente de prosa curta e de poesia), crítica de tradução literária, tradução e relações de poder.. Tradução & Comunicação: Revista Brasileira de Tradutores š Nº. 25, Ano 2012 š p. 9-21.

(14)

Referências

Documentos relacionados

2 - OBJETIVOS O objetivo geral deste trabalho é avaliar o tratamento biológico anaeróbio de substrato sintético contendo feno!, sob condições mesofilicas, em um Reator

segunda guerra, que ficou marcada pela exigência de um posicionamento político e social diante de dois contextos: a permanência de regimes totalitários, no mundo, e o

Por outro lado, os dados também apontaram relação entre o fato das professoras A e B acreditarem que seus respectivos alunos não vão terminar bem em produção de textos,

• Quando o navegador não tem suporte ao Javascript, para que conteúdo não seja exibido na forma textual, o script deve vir entre as tags de comentário do HTML. &lt;script Language

Este trabalho buscou, através de pesquisa de campo, estudar o efeito de diferentes alternativas de adubações de cobertura, quanto ao tipo de adubo e época de

esta espécie foi encontrada em borda de mata ciliar, savana graminosa, savana parque e área de transição mata ciliar e savana.. Observações: Esta espécie ocorre

17 CORTE IDH. Caso Castañeda Gutman vs.. restrição ao lançamento de uma candidatura a cargo político pode demandar o enfrentamento de temas de ordem histórica, social e política

Os dois são necessários para se ter sucesso (Lamento ter que advertir aos alunos de que se você chegou tão embaixo na Esfera das Posses a ponto de estar privado de