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Leitura histórica da educação e materialismo histórico dialético

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Academic year: 2021

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(1)Leitura histórica da educação e materialismo histórico dialético Cláudia Ramos de Souza Bonfim Doutoranda em História, Filosofia e Educação pela UNICAMP Membro do Grupo PAIDÉIA - UNICAMP Professora da Rede Municipal de Educação de Cornélio Procópio-PR e-mial: profclaudiaunicamp@yahoo.com.br. Bolsista CAPES. Resumo. Abstract. A tese que se pretende defender no presente estudo é de que para compreender o que é Educação e o contexto atual é necessário buscar uma visão crítica de todo seu processo histórico. Considera-se ser o materialismo histórico dialético um dos instrumentos teóricos que pode nos possibilitar essa visão a partir da análise das interferências do contexto sócioeconômico-político no qual ela esteve e está inserida, das relações entre a educação e as estruturas sociais, das exigências colocadas pela sociedade, das finalidades da educação nos diferentes momentos históricos e, conseqüentemente, o papel e o modelo de educação que se criou; da posição que ocupou e ocupa nas prioridades governamentais, dos movimentos e lutas para garantir a democracia e as limitações enfrentadas. Para tanto, precisa-se necessariamente compreender como seria leitura da história a educação a partir deste referencias teórico.. The thesis that if it intends to defend in the present study is of that understanding what is Education and the current context it is necessary to all search a vision critical of its historical process. He considers yourself to be the dialectic historical materialism is one of the theoretical instruments that can in them make possible this vision from the analysis of the interferences of the context partner-economic-politician in which it was and is inserted, of the relations between the social education and structures, of the requirements placed for the society, of the purposes of the education at different historical moments e, consequently, the paper and the model of education that if created; of the position that occupied and occupies in the governmental priorities, of the movements and fights to guarantee the faced democracy and limitations. For in such a way, it is necessarily needed to understand as the education from this theoretical reference would be reading of history.. Palavras-chave: história, educação, materialismo histórico dialético. O presente estudo parte do entendimento que para que se possa fazer um leitura crítica da história da educação há necessariamente que resgatar a idéia de Marx (1978), pois, não se pode pensar no indivíduo e sociedade separadamente das condições materiais em que estas se apóiam, ou seja, as condições materiais condicionam as demais relações sociais, a produção é a base, a raiz que condiciona toda a sociedade. Sendo assim só é possível entender cultura, educação e política à partir do estudo das relações básicas de produção, ou seja, na produção social da própria vida o homem estabelece relações determinadas, necessárias e involuntárias, que formam base da estrutura econômica da sociedade sobre a qual se constrói uma superestrutura política e jurídica, pois como afirma Saviani (1999, p.98):. Key-words: history, education, dialectic historical materialism.. “Toda prática educativa contém inevitavelmente uma prática política.” Pode-se dizer que, educar significa estabelecer uma posição política. GADOTTI (1988, p. 74) considerando as idéias de Gramsci conceitua: A educação é um processo contraditório (unidade e oposição) uma totalidade de ação e reflexão: eliminado a autoridade caímos no espontaneísmo libertário onde não se dá educação; eliminado a liberdade, caímos no autoritarismo, onde também há domesticação ou puro adestramento. O ato educativo realiza-se nessa tensão dialética entre a liberdade e necessidade. Entende-se a dialética como uma possibilidade de compreender da realidade, o que significa pensar a história, como uma construção social, 123.

(2) contraditória e em permanente transformação e conflitos, superando a visão do senso-comum, ou seja, a compreensão da realidade estática. Saviani (1991), ao apontar a necessidade de o educador brasileiro passar do senso comum para a consciência filosófica na compreensão de sua prática educativa, aponta o método materialista histórico dialético como instrumento desta prática e explica, para isto, a superação da etapa de senso comum educacional (conhecimento da realidade empírica da educação), por meio da reflexão teórica (movimento do pensamento, abstrações), para a etapa da consciência filosófica (realidade concreta da educação, concreta pensada, realidade educacional plenamente compreendida).. Considerando que a história da humanidade se constitui através do trabalho, e que este se centra nas relações sociais de produção material da realidade, entende-se como afirma Saviani, (1994, p.24) que a educação ou: “o trabalho educativo é o ato de produzir, em cada indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens”. Mas o que é História? Pode-se dizer que é o resultado do que os homens produzem através de sua vida coletiva ou individual, baseados nos mais diversos interesses, como afirmam Marx e Engels (1967, p. 159): A História não faz nada, não possui enorme riqueza, ela não participa de nenhuma luta. Quem faz tudo isso, quem participa das lutas é o homem como meio para realizar seus fins - como se tratasse de uma pessoa individual, pois a História não é senão a atividade do homem que persegue seus objetivos.. A concepção marxista coloca o homem como o centro da história e o centro da ciência na história, Marx rompe com a visão metafísica da História, retomando Marx apud Lopes (2002, p.24): (...) Temos que começar constatando o primeiro pressuposto de toda existência humana e portanto de toda história, a saber o pressuposto de que os homens precisam estar em condições de viver para ‘fazer história’. Mas para viver ë preciso antes de mais nada comer, morar, vestir, e ainda algumas coisas mais, o primeiro ato histórico é portanto engendrar os meios para satisfação dessas necessidades, produzir a vida material para a mesma, e isto é um ato histórico, uma condição básica de toda a história que ainda hoje, como há milênios, precisa ser preenchida a cada dia e a cada hora, tão somente para manter os homens vivos. (...) Em segundo lugar, a primeira necessidade satisfeita, a ação da satisfação e o instrumento da satisfação 124. adquirida levam a novas necessidades – e esse engendramento de novas necessidades é o primeiro ato histórico (...) A terceira circunstância, o que já de antemão entra no desenvovlimento histórico, é a de que os seres humanos que renovam sua própria vida diariamente começam a fazer outros seres humanos, isto é, a reproduzirem a relação entre homem e mulher, pais e filhos, a família. (...). De acordo com Dalarosa (1999) A história, sendo produto da ação do homem, é um processo, e resulta das contradições das relações sociais que, durante sua evolução, transformam suas características. No entanto, a história apresentada nos livros didáticos, elaborada de acordo com os interesses governamentais, dificilmente expressam uma análise do contexto, ou mostram as contradições dos fenômenos sociais. A função histórica da educação é a socialização e a formação do ser para a vida em sociedade. Sendo assim, qual é exatamente o papel da história da educação? A história da educação tem a função de provocar esta reflexão, pois definir os fins educativos é definir ao mesmo tempo, a sociedade, a cultura e o homem que se quer promover... O estudo da história deve possibilitar compreender as relações de poder e os mecanismos de exclusão que se produz e se reproduz em determinados contextos sociais, para poder alavancar mudanças que possibilitam a superação das condições de exclusão.(DALAROSA,1999, p.47) Considerando Gadotti (1982, p. 49), faz-se necessário conceituar o que é uma leitura histórica: A leitura histórica ultrapassa o fixismo do sentido literal para nos introduzir em um trem em marcha que envolve, um trem onde há pessoas que falam, que fazem discursos, peritos que explicam o papel do condutor, como o trem corre sobre os trilhos, quantas pessoas podem viajar, os seguros, etc., um trem tem a sua história, um ponto de partida, um ponto de chegada, enfim, um trem que anda. Mas, tomar o trem, compreender o trem, explicá-lo não é senão mais uma etapa do percurso. Para que o discurso nos atinja e torne possível outros trens, outros caminhos, outras possibilidades de ver as coisas, é preciso descer do trem e retomar todo o discurso sobre o trem. A leitura histórica nos exige sair dela mesma e ir além, procurar as origens. Ela nos faz descer, ir olhar por baixo.. Partindo da concepção do materialismo histórico, do princípio que as atuais formas da vida social, as instituições e os costumes têm origem no passado, se faz necessário pesquisar suas raízes para compreender sua natureza e função. O método histórico consiste em investigar acontecimentos, processos e instituições do.

(3) passado para verificar a sua influência na sociedade de hoje, pois as instituições alcançaram sua forma atual através de alterações de suas partes componentes, ao longo dos anos, influenciadas pelo contexto cultural particular de cada época. Seu estudo, para uma melhor compreensão do papel que atualmente desempenham na sociedade, deve remontar aos períodos de sua formação e suas modificações. Marx desenvolveu uma concepção materialista da História, afirmando que o modo pelo qual a produção material de uma sociedade é realizada constitui o fator determinante da organização política e das representações intelectuais de uma época. Assim, a base material ou econômica constitui a “infraestrutura” da sociedade, que exerce influência direta na “super-estrutura”, ou seja, nas instituições jurídicas, políticas (as leis, o Estado) e ideológicas (as artes, a religião, a moral) da época. O materialismo histórico é, de acordo com Marx, o “fio condutor” de todos os estudos subseqüentes. Os conceitos básicos do Materialismo Histórico constituem uma teoria científica da História e rompe com a história vista até então, como uma simples narração de fatos históricos. A base material é formada pelas forças produtivas (que são as ferramentas, as máquinas, as técnicas, tudo aquilo que permite a produção) e por relações de produção (relações entre os que são proprietários dos meios de produção as terras, as matérias primas, as máquinas - e aqueles que possuem apenas a força de trabalho). Ao se desenvolverem as forças produtivas trazem conflito entre os proprietários e os não-proprietários dos meios de produção. O conflito se resolve em favor das forças produtivas e surgem relações de produção novas, que já haviam começado a se delinear no interior da sociedade antiga. Com isso, a super-estrutura também se modifica e abre-se possibilidade de revolução social. A evolução de um modo de produção para o outro ocorre a partir do desenvolvimento das forças produtivas e da luta entre as classes sociais predominantes em cada período. Assim, o movimento da História possui uma base material, econômica e segue um movimento dialético. Faz-se necessário entender o que é Dialética, de acordo com GADOTTI (1988, p.15-16): Na Grécia antiga, a palavra dialética expressava um modo específico de argumentar que consistia em descobrir as contradições contidas no raciocínio do adversário (análise), negando, assim a validade de sua argumentação e superando-a por outra (síntese). Sócrates foi considerado o maior dialético da Grécia. Utilizando da dúvida sistemática, procedendo por análises e sínteses,. elucidava os termos das questões em disputa, fazendo nascer a verdade como um parto no qual ele (o mestre) era apenas um instigador, um provedor e o discípulo o verdadeiro descobridor e criador. Outro filósofo que está na origem da dialética é Heráclito de Éfeso. Para ele a realidade é um constante devir, onde prevalece a luta dos opostos: frio-calor, vida-morte, saúdedoença, um transformando o outro. Como vemos a questão que deu origem à dialética é a explicação do movimento, transformação das coisas.”. Sendo assim a dialética nos ajuda a compreender as “relações sociais de produção” (realidade material onde o homem através do seu trabalho, consegue os meios necessários à sua sobrevivência) em suas transições dos “modos de produção” (escravista, servil, pré-capitalista e capitalista), através da luta de classes (o motor da história para Marx). Considerando as idéias de GRAMSCI pode-se dizer que a dialética é uma oposição ao formal, à lógica formal clássica: a realidade não é formal, linear, é contraditória. O modo de pensar dialético não permite uma visão fechada, unilateral. Esta permite uma visão da totalidade, do conjunto. Não se pode analisar um problema isolado, individual; tem que se estabelecer uma relação, observando as causas e as conseqüências. A dialética não está separada dos problemas históricos e econômicos; economia, política, história formam um conjunto complexo que precisa ser compreendido à luz da dialética, esta é um modo de pensar diferente, uma crítica ao formal. Na perspectiva dialética, a história é entendida como um movimento dinâmico da ação do homem em sua realidade, envolvidos pelas mudanças de estrutura política (transformadas ou superadas) segundo sua tomada de consciência como sujeito no contexto social, ou seja, a história é um caminho tecido a muitas mãos, revela contradições, mediações, interferências e recorrências críticas do homem primando pela transformação de seu espaço, de sua realidade, de seu mundo. Ou seja, o homem é um ser ativo na história, portanto sua conscientização política e crítica é fundamental que superar, transformar a realidade. O Homem é o elemento que movimenta a história e movimenta-se com a História, portanto história é uma construção social, construída coletivamente. A concepção de educação dialética é uma prática de liberdade onde o indivíduo aprende a reorganizar o seu espaço social e a superar sua visão ingênua de mundo, levando-o a refletir e interagir com a realidade, mudar sua mentalidade, sua postura diante dos fatos, tornar-se sujeito da sua própria história. (LIMA, 2001) 125.

(4) Gadotti (1988) afirma que a concepção dialética da educação baseia-se na análise concreta das relações de produção e que: O processo de emancipação do homem é antes de mais nada econômico, histórico e não espiritual.A formação cultual do proletariado só será completa numa sociedade quando for abolida a divisão social do trabalho, em que divide os que fazem dos que pensam, porque essa visão embrutece espiritualmente. A educação, portanto não precede a revolução. Quando muito caminha ao seu lado. Os intelectuais jamais estão a frente da mudança. (GADOTTI 1988, p.57). Dalarosa (1999, p. 48-49) considera o materialismo fundamental para se entender as relações sociais: O materialismo é o pressuposto básico de onde se parte para explicar as relações sociais. É a condição material em que vivem os homens, o ponto de partida para entender suas relações e a produção tanto material quanto cultural... O materialismo histórico porque entendido a partir dos condicionantes históricos. Não é uma explicação materialista estática, linear, permanente... O materialismo dialético porque tem como pressuposto lógico de análise a contradição. Contradição produzida na história. Para cada tese há uma negação que é a antítese. Deste processo de negação da tese é que se dá a síntese que será uma nova tese.. De acordo com as idéias de GRAMSCI a mudança cultural também é uma mudança social. Neste sentido, a escola tem uma enorme influência na formação das consciências. Para tanto é necessário que haja uma boa reforma do sistema educacional brasileiro, só assim teria início uma verdadeira reforma social. E esta nova cultura deve expressar todo um processo de renovação intelectual e moral, um processo difusor de uma contrahegemonia, enraizado no húmus da experiência nacionalpopular. E, a fim de se tornar nacional-popular, um movimento intelectual deve trazer em si um viés, o do “Renascimento” (alta cultura) e outro da “Reforma” (cultura popular). Com Gramsci (1982, p.118), ressurge idealização da escola unitária, capaz de aderir à nova realidade, “escola única inicial de cultura geral, humanista, formativa” que equilibre o desenvolvimento da capacidade de trabalhar manualmente com o desenvolvimento da capacidade de trabalhar intelectualmente. A teoria Gramsciniana parte da concepção de Marx acerca da crítica ao desenvolvimento e funcionamento da sociedade capitalista, composta pela dualidade contraditória entre a classe dominante e classe dominada, possuidores e 126. despossuídos. Ambos acreditam que a classe detentora do poder material também detém o poder ideológico. A ideologia inicia-se de um conjunto sistemático de idéias produzidas pelos pensadores de uma classe em ascensão; tornando-se aquilo que Gramsci denomina de Senso Comum, ou seja, populariza-se, torna-se aceita por todos, sedimentada, ela mantêm-se após a vitória do que agora se denomina classe dominante. Esse fenômeno de preservação de idéias e valores é que Gramsci chama de Hegemonia. Uma classe é hegemônica não apenas por deter a propriedade, mas porque suas idéias e valores são dominantes. O conceito de hegemonia caracteriza a liderança cultural-ideológica de uma classe sobre as outras. As formas históricas da hegemonia nem sempre são as mesmas e variam conforme a natureza das forças sociais que a exercem. Etimologicamente, hegemonia deriva do grego hégemonía, a ação de guiar, direção; autoridade, proeminência, poder absoluto; comando de tropas. Hegemonia, de acordo com Gramsci, pode ser definida como forma de exercício do poder, comum às sociedades modernas e a um projeto de construção gradativa do comunismo, em que instrumentos, como a geração de consenso, alianças e convencimento no âmbito cultural, são priorizados em detrimento da violência. Estabelecer os ideais capitalistas e manter o status quo, para que possam permanecer e se reproduzir é sempre a intenção da ideologia dominante. Constituindo sua hegemonia, e instituindo seus interesses como se estes fossem ideais e consenso entre todas as classes sociais. Sua tese principal é que a superestrutura mantém as relações de classe e essa dominação se efetiva pelos mecanismos de hegemonia do Estado e da sociedade civil. Gramsci colocava que essa hegemonia só seria superada com o desenvolvimento de uma contrahegemonia, o que só se conseguiria se a classe trabalhadora, inclusive os intelectuais socialistas criassem o desenvolvimento de uma nova cultura com oposição à hegemonia burguesa. Gramsci acreditava que a ênfase da transformação econômica e social recai na superestrutura, tanto no campo dos valores e normas como na visão de homem e de mundo. (MORAES, 2000). Cabe ressaltar que para Gramsci, o Estado é um “educador” no sentido que tende a criar um novo tipo ou nível de civilização. Ele opera segundo um plano, impulsiona, incita, solicita, pune. Essas ações levam a uma “revolução passiva”, ou seja, a uma constante reorganização do poder do Estado para preservar sua hegemonia através da exclusão das massas sobre as instituições econômicas e políticas. Gramsci ao instituir a hegemonia como essência da relação pedagógica deu.

(5) um passo fundamental para a compreensão da dialética da educação e da cultura. A classe dominante impõe aos operários sua concepção de mundo e conservando esse bloco social mesmo envolvido por diversas contradições. A escola, a igreja, o exército são os meios que a burguesia utiliza para isso, Essas instituições se comportariam como aparelhos ideológicos de Estado, através dos quais, a burguesia estabelecer sua própria hegemonia política e cultural, a burguesia solidariza o Estado com as instituições que zelam pela reprodução dos valores sociais. Enquanto a sociedade política tem seus portadores materiais nos aparelhos coercitivos de Estado, na sociedade civil operam os aparelhos privados de hegemonia (organismos relativamente autônomos em face do Estado em sentido estrito, como a imprensa, os partidos políticos, os sindicatos, as associações, a escola privada e a Igreja). Tais aparelhos, gerados pelas lutas de massa, estão empenhados em obter o consenso como condição indispensável à dominação. (GRAMSCI, 1982) De acordo com Saviani (1987, p.36): Considerando que toda relação de hegemonia é pedagógica, cabe entender a educação como instrumento de luta. Luta para estabelecer uma nova relação hegemônica que permita construir um novo bloco histórico. Mas a constituição de uma nova sociedade não será possível sem a elevação do nível cultural de massas.. Gramsci considera que a relação entre a superestrutura e a infra-estrutura, não é uma relação mecânica, mas dialética: ambas formam um bloco histórico. Ambas na realidade prática constituem uma unidade dialética onde se alternam o consenso e a coerção.Os intelectuais têm como função manter a ligação entre a superestrutura e a infra-estrutura procurando um consenso das massas através da coerção ideológica. O instrumento utilizado quando a ideologia imposta não é suficiente para estabelecer esse “acordo” é o Estado que o assegura “legalmente”. Assim a superestrutura consegue obter o consentimento, o apoio, a adesão da sociedade civil, tornando-se não somente dominante como dirigente, o que Gramsci define como superestrutura “ético política”, ética ao difundir sua visão de mundo, valores, hábitos e política porque para sua manutenção no poder esta precisa estabelecer alianças com outros grupos dividindo principalmente as classes subalternas. (GADOTTI, 1988) Saviani (1987, p.36), considerando as idéias de Gramsci afirma: (...) A forma pela qual a classe dominante, através de suas elites, impede a elevação do nível de. consciência das massas é manifestando uma despreocupação, um descaso e até mesmo desprezo pela educação... Compreende-se, então, que as elites que controlam o aparelho escolar, em especial as universidades, tenham uma tendência a relegar a educação a uma questão a uma questão que diz respeito meramente ao senso comum (eufemisticamente chamado de bom senso).. A única maneira de formar uma contra-hegemonia, é a criação de uma cultura popular que estabeleça uma nova visão de mundo, normas e valores; de uma nova sociedade que substitua o consenso da burguesia. Para isto, as camadas desfavorecidas terão que dominar os conteúdos do ensino escolar, como afirma Saviani (1999, p.66): Se os membros das camadas populares não dominarem os conteúdos culturais, eles não podem fazer valer os seus interesses porque ficam desarmados contra os dominadores, que servem exatamente destes conteúdos culturais para legitimar e consolidar a sua dominação... O dominado não se liberta se ele não vier a dominar aquilo que os dominantes dominam.. Esta é uma questão histórica, pois, as finalidades da educação sempre estiveram vinculadas aos interesses das classes dominantes, detentoras do poder político e econômico, que, objetivando a manutenção de seus privilégios, se utilizam de um plano ideológico para mascaradamente, designar às classes desfavorecidas que Saviani chama de “dominados”, qual será sua posição ou seu papel na sociedade; conduzindo-as a assimilar e repassar às futuras gerações a idéia de que não é possível mudar essa realidade, exatamente porque a escola é excludente e não propiciou-lhes a aquisição do conhecimento e consecutivamente do discernimento necessário para formar e transformar suas concepções de mundo. Faz-se necessário entender que a ideologia utilizada para manter o poder do Estado é uma ilusão necessária à dominação e não um reflexo do real. Um exemplo disto é o uso da religião como meio de fazer com que a população aceite a fome, a miséria e o sofrimento sem se revoltar, fazendo acreditar que será recompensado em outra vida, aceitando a desigualdade social. Assim, a religião é colocada como um anestésico para as dores do povo (substitui o mundo real, por um ilusório). Utiliza-se ainda das instituições sociais para conservar o poder e estabelecer seus valores como a família, escola, igrejas, partidos políticos, magistraturas, meios de comunicação. A ideologia é uma forma de impor idéias e valores e torná-los aceitos por todos. A classe dominante explora economicamente e para manter-se 127.

(6) no poder domina também politicamente e para tanto utiliza-se do Estado e da Ideologia, através da coerção e da repressão social (que caracteriza o período de Ditadura militar), exercendo poder sobre a sociedade, que se submete às suas regras políticas. O instrumento do Estado é o Direito, ou seja, Leis que são estabelecidas objetivando regular as relações sociais em prol das classes dominantes. Desta maneira a dominação deixa de ser vista como uma violência, adotando uma forma legal. A lei nada mais é do que o direito para os que dominam e dever para os que são dominados. Aí entra a função da ideologia impedindo que os dominados percebam essa realidade, fazendo com que o legal pareça o correto. Esta ideologia surge através das atividades sociais, ou seja, a classe que representa a força social dominante da sociedade, é, ao mesmo tempo, a sua força espiritual. Suas idéias representam as idéias da sociedade como um todo. Estabelece as instituições sociais para conservar o poder como: família, escola, igrejas, partidos políticos, magistraturas, meios de comunicação. (CHAUÍ, 1986) Vivemos a realidade da coexistência de dois tipos de escola, uma para a elite e outra para o povo. A educação que visa a formação de “mão-de-obra” com conhecimentos superficiais e despida de senso crítico parece ser prioridade das políticas educacionais impulsionadas pelos interesses capitalistas da classe dominante. Assim está assegurada a estabilidade e a exploração de uns em função de outros. Desta forma, a educação que utopicamente ou conceitualmente, deveria representar um fator de desenvolvimento humano e social, apresenta-se como agente massificante e excludente. Referências Bibliográficas CHAUÍ, Marilena S. O que é Ideologia. 21. ed. São Paulo: Brasiliense, 1986. DALAROSA, Adair Ângelo. Anotações à questão: Para que estudar História da Educação? In: LOMBARDI, José Claudinei (Org.). Pesquisa em Educação: história, filosofia e temas transversais. Campinas, SP: Autores Associados: HISTEDBR, Caçador, SC: UnC, 1999. GADOTTI, Moacir. A Educação contra a Educação. 2. ed., Rio de Janeiro: Paz e Terra. 1982. ______. Concepção Dialética da Educação: um estudo introdutório. 6. ed. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1988. GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da cultura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982. LIMA, Paulo Gomes. Tendências Paradigmáticas na Pesquisa Educacional. Campinas: UNICAMP, 2001, (Dissertação de Mestrado), Universidade Estadual de Campinas. 128. LOPES, Eliane M.T. Perspectivas Históricas da Educação. 4. ed., São Paulo: Ática, 2002. MARX, Karl. Para a crítica da economia política. In: Manuscritos econômicos-filosóficos e outros textos escolhidos. 2. ed. São Paulo: Abril Cultural, 1978. p.129. Col. Os Pensadores. ______. ENGELS, Friedrich. La Sagrada Familia. México: Grijalbo, 1967. MORAES, Raquel de Almeida. Gramsci e a Questão da Cultura. Universidade de Brasília. In: Pedagogia online. Postado em 2000. Capturado em 20 fev. 2002. Online. Disponível na Internet. http://www.pedagogia.pro.br/ gramsci_cultura.htm e in: http://www.filosofia.pro.br/ textos/gramsci-cultura.htm SAVIANI, Dermeval. Escola e Democracia. 32. ed. Campinas, SP: Autores Associados, 1999. ______. Ensino Público e algumas falas sobre Universidade. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1987. ______. Pedagogia histórico-crítica: Primeiras aproximações. 2. ed. São Paulo: Cortez/Autores Associados, 1991. THERBORN, Göran. A vida e os tempos da esquerda. In SADER, Emir (org.): O mundo depois da queda. Rio de Janeiro, Ed. Paz e Terra, 1995. WANDERLEY, Luiz Eduardo W. O que é Universidade. São Paulo: Brasiliense, 1999. Coleção Primeiros Passos.. Recebido em 02 de julho de 2007 e aprovado em 14 de setembro de 2007..

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