ADE
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Associação de Utilidade Pública Sem Fins Lucrativos
Organização Não-Governamental de Ambiente
1972 - 2018
46 anos de intervenção social,
a promover uma visão integrada
da Arqueologia, do Património Cultural e
Ambiental e da História local e regional,
no exercício partilhado de uma cidadania
cultural e cientificamente
informada
uma Associação
em que dá gosto
FIGS. 1 E2- Em cima, a criança do Lapedo em processo de escavação (dezembro de 1998).
À esquerda, conjunto de notícias sobre o mesmo esqueleto, compilado por Francisco Almeida.
tina Araújo, Ana Maria Costa e Vânia Car valho, numa colaboração entre o La bo ratório de Arqueociências da DGPC
e o Município de Leiria / Museu de Leiria.
The Lapedo Child: 20 years afterwards
A conferência internacional teve lugar no dia 15 de dezembro, na sala do Ca pítulo do Convento de Santo Agosti -nho, onde está instalado, desde 2015, o novo Museu de Leiria. João Zilhão, (Universidade de Barcelona, Espanha,
e UNIARQ), Juan Luis Arsuaga (Univer
sidade Complutense de Madrid, Es -panha), Paul Pettitt (Universidade de Durham, Reino Unido), Eugénia Cu nha (Universidade de Coimbra), Jo -han nes Krause (Max Planck Institute, Alemanha) e Erik Trinkaus (Univer -si dade de Washington, USA) foram
convidados a proferir palestras so bre o encontro das suas áreas de investigação com a Evolução Hu -mana (Fig. 5).
Na abertura dos trabalhos, foi comunicada à au -diência a candidatura do Abrigo do Lagar Velho a Marca do Património Europeu, e o início do processo de classificação do esqueleto LV1 como bem de interesse cultural nacional.
e que tem por título The Lapedo Child and other
stories from Lagar Velho rock-shelter (Fig. 3), o
lançamento de um livro infantil O Menino do La
-pedo (Fig. 4), editado pela Barca do Inferno e pelo
Mu nicípio de Leiria, e a Conferência Interna cio -nal The Lapedo Child: 20 years afterwards. Estas ini ciativas foram desenhadas e organizadas por uma comissão científica constituída por Ana Cris -Uma descoberta para a História
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m dezembro de 1998 foi tornada pública a descoberta de um enterramento infantil do Paleolítico superior no Vale do Lapedo, em Leiria (Fig. 1). O pequeno esqueleto (LV1) apresentava características especiais, veio-se a saber depois, tal como especiais foram os últimos gestos de quem preparou a criança para o além, protegendoa nu -ma estreita reentrância de um grande abrigo cal-cário há 29 mil anos (DUARTEet al., 1999). Oque chegou até nós deste singular episódio já foi contado de muitas formas e para muitos públicos. A notícia correu mundo (Fig. 2) e deu muito que falar. Somos moldados do mesmo barro, embora heterogéneo, e por isso somos tão ricos. Resul -ta mos da troca, da fusão de genes e de culturas. A importância do achado para a Arqueologia mun dial justifica que as datas sejam lembradas e comemoradas. Foi o que fizemos em O Menino
do Lapedo: vinte anos depois e agora resumida
-men te relatamos.
Em dezembro de 2018, demos início a um ciclo de comemorações sobre os vinte anos da desco-berta da criança do Lapedo, destacando-se uma exposição em exibição no Museu Arqueológico em Zagreb, Croácia, que ficará patente entre 2 de dezembro de 2018 e 24 de fevereiro de 2019,
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VENTOS182 II SÉRIE(22) Tomo 3 JANEIRO2019
online
vinte anos leva-os o tempo;
ficam as palavras para lembr
ar a história
O Menino
do Lapedo
vinte anos depois
Ana Cristina Araújo1, 2, Ana Maria Costa1, 3 e Vânia Carvalho4, 5
1Laboratório de Arqueociências (LARC), Direção-Geral
do Património Cultural (DGPC) e CIBIO-InBIO.
2Centro de Arqueologia de Lisboa (UNIARQ),
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa.
3Instituto Dom Luiz (IDL), Faculdade de Ciências
da Universidade de Lisboa.
4Câmara Municipal de Leiria, Museu de Leiria. 5Centro de Investigação em Antropologia e Saúde (CIAS),
Universidade de Coimbra.
Por opção das autoras, o texto segue as regras do Acordo Ortográfico de 1990.
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quecido entre os debates em torno de neandertais e humanos modernos: idade, sexo, padrões de enterramento, bem como o reconhecimento mútuo enquanto parceiros, não como espécies distintas, reforçando assim a humanidade dos pri meiros aos nossos olhos.
João Zilhão, na sua palestra intitulada To be or
not to be: neandertals and humanness, twenty years after Lagar Velho, desmontou os argumentos de
quem resiste ainda à evidência de que os Nean -dertais eram seres sapientes e capazes de criar, re forçando a não existência de distinções entre es tes e os denominados Homo sapiens. Terminou com uma reflexão em torno do Ser ou não ser, igual ou diferente, um tema que é afinal tão atual.
Em Before Neanderthals, Juan Luis Arsuaga falou sobre a evolução biológica do género Homo, cha-mando ao debate os restos humanos recuperados em diversos depósitos de grutas localizadas na Serra de Atapuerca, Burgos, Espanha, que datam de entre 1 milhão e 400 mil anos, traçando para-lelos com outros fósseis recuperados em diferentes partes do mundo.
Paul Pettitt mostrounos, em Digging holes. Pa
-laeolithic “burials” in wider thanatological contexts,
que os gestos e as atitudes perante a morte dos humanos do Plistocénico têm uma origem pro-funda que é partilhada com outros taxa animais, constituindo o enterramento da criança do La -pedo uma elaboração cultural desta herança com-portamental.
Em Twenty years of postgraduate teaching in
human evolution, Eugénia Cunha trouxe o tema
da Evolução Humana no Ensino Superior e falou sobre o seu desenvolvimento nos últimos 20 anos na Universidade de Coimbra.
Johannes Krause apresentou, na sua palestra The
genetic history of Ice Age Europe, uma revisão da
informação publicada sobre o genoma dos caça-dores-recolectores do Plistocénico e dados sobre a ancestralidade das populações modernas euro-peias. Os resultados documentam que a substi-tuição de populações e as migrações foram acon-tecimentos recorrentes ao longo de toda a Pré-História europeia.
Para terminar, Erik Trinkaus, em The Lagar Ve
-lho child and perspectives on sex and death in the earlier Upper Palaeolithic, discutiu o que ficou es
-ilustrativo da exposição The Lapedo Child and
other stories from Lagar Velho rock-shelter, em
exibição em Zagreb, Croácia. Em cima, livro infantil O Menino do Lapedo,
da autoria de Mafalda Brito e Rui Pedro Lourenço.
FIG. 5- Montagem de um conjunto de fotografias que documentam o decorrer da conferência The Lapedo child: 20 years afterwards.
Agradecimentos
Gonçalo Lopes, João Zilhão, Juan Luis Arsuaga, Paul Pettitt, Eugénia Cunha, Johannes Krause, Erik Trinkaus, Sílvia Carreira, Patrícia Bispo, Sara Marques da Cruz, Mário Coelho, Délia Valério, Cátia São José, Francisco Zúquete, Maria Santo, Graça Rosinha, Sara Ferreira, Joan Daura, Montserrat Sanz, Pedro Ferreira, Pedro Souto, David Gonçalves e Simon Davis.
Referências
ALMEIDA, F.; MORENO-GARCIA, M. e ANGELUCCI, D. E. (2009) – “From under the bulldozer’s claws: the EE15 Late Gravettian occupation surface of the Lagar Velho rock-shelter”. World Archaeology. Taylor & Francis Online. 41 (2): 242-261. DUARTE, C.; MAURICIO, J.; PETTITT, P. B.;
SOUTO, P.; TRINKAUS, E.; VAN DERPLICHT, H. e ZILHÃO, J. (1999) – “The early Upper Paleolithic human skeleton from the Abrigo do Lagar Velho
No final, foram colocadas várias questões em torno da nossa origem e evolução, sobre os vazios paleontológicos existentes em geografias e cronologias distintas, e sobre comportamentos hu manos e animais, suscitando debate entre uma au diência bem composta e conferencistas. Com efei -to, as presenças lotaram por completo a sala (140 participantes!) e vieram de muitos cantos do país. Uma pequena exposição alusiva à data, à criança do Lapedo e ao Abrigo do Lagar Velho abria a Sa la do Capítulo (Fig. 6). Duas curtas em looping faziam a ligação entre o Passado arqueológico e a Arqueologia que o traz de volta: Uma história com
29 000 anos: recriação imaginada do enterramento do Menino do Lapedo e O Abrigo do La gar Velho: 20 anos depois.
A visita ao Abrigo do Lagar Velho e ao seu Centro de Interpretação (CIALV), inaugurado em 2008
sob a curadoria científica de Francisco Almeida, te ve lugar no dia 16 (Fig. 7). Participaram 90 pes soas! Pedro Ferreira, que em 1998 deu a co -nhecer a Pedro Souto e a João Maurício o Vale do Lapedo, desencadeando toda a sucessão de acontecimentos já bem conhecida, acompanhado por Vânia Carvalho, guiou os visitantes no per-curso da pequena exposição monográfica patente no CIALV. João Zilhão, já no sítio arqueológico,
contou sobre a descoberta e a história dos traba-lhos arqueológicos conduzidos por si e por Cidália Duarte em 1998 e 1999 (ZILHÃOe TRINKAUS,
2002). Joan Daura, Montserrat Sanz e as duas das signatárias desta nota (A.C.A. e A.M.C.), res -ponsáveis pelo novo projecto de investigação que inclui o Abrigo do Lagar Velho, mostraram aos visitantes a superfície de ocupação gravetense par -cialmente escavada por Francisco Almeida (AL
-MEI DA, MORENO-GARCIAe ANGELUCCI, 2009),
director de escavação no Abrigo do Lagar Velho entre 2000 e 2009, uma área que se encontra no vamente em processo de escavação. O evento contou com o apoio do Museu Nacio -nal de Arqueologia, e teve como parcerias insti-tucionais o International Council of Museums (ICOM), o Grupo de Estudos em Evolução Hu
-mana (GEEVH) e a Associação Portuguesa de Mu -seologia (APOM).
O significado e a importância de Lagar Velho 1 ultrapassam cada vez mais o plano científico. Num mundo contemporâneo onde se fecham os olhos e se recusa o dar a mão – porque somos diferentes na cor, nos costumes e nas crenças –, esta criança mostra ao mundo que a riqueza da hu manidade resultou de recorrentes e muito bem-sucedidos encontros entre populações dis-tintas, mas que se viam seguramente como iguais.
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VENTOS(Portugal) and modern human emergence in Iberia”. Proceedings of the National Academy
of Sciences. USA. 96: 7604-7609. ZILHÃO, J. e TRINKAUS, E. (eds.) (2002) –
Portrait of the artist as a child. The Gravettian human skeleton from the Abrigo do Lagar Velho and its archeological context. Lisboa:
Instituto Português de Arqueologia (Trabalhos de Arqueologia, 22).
184 II SÉRIE(22) Tomo 3 JANEIRO2019
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FIGS. 6 E7- Em cima, pequena exposição alusiva ao Abrigo do Lagar Velho e à criança do Lapedo. Em baixo, visita ao Abrigo do Lagar Velho,
realizada no dia 16 de dezembro de 2018, no âmbito das comemorações dos 20 anos sobre a descoberta da criança do Lapedo.
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