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Práticas colaborativas no processo de ensino/aprendizagem: o uso do smartphone no Colégio Municipal Odete Nunes Dourado, Irecê-Bahia.

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MESTRADOPROFISSIONALEMEDUCAÇÃO

CURRÍCULO,LINGUAGENSEINOVAÇÕESPEDAGÓGICAS

VALDERÍ JOSÉ DE CARVALHO

PRÁTICAS COLABORATIVAS NO PROCESSO DE

ENSINO/APRENDIZAGEM:

O USO DO SMARTPHONE NO

COLÉGIO MUNICIPAL ODETE NUNES DOURADO, IRECÊ-BAHIA

Salvador 2019

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PRÁTICAS COLABORATIVAS NO PROCESSO DE

ENSINO/APRENDIZAGEM:

O USO DO SMARTPHONE NO

COLÉGIO MUNICIPAL ODETE NUNES DOURADO, IRECÊ-BAHIA

Projeto de Intervenção apresentado ao curso de

Mestrado Profissional em Educação,

Currículo, Linguagens e Inovações

Pedagógicas, Faculdade de Educação, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação.

Orientadora: Profª Drª Alessandra Santos Assis

Salvador 2019

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SIBI/UFBA/Faculdade de Educação – Biblioteca Anísio Teixeira

Carvalho, Valderí José de.

Práticas colaborativas no processo de ensino/aprendizagem : o uso do smartphone no Colégio Municipal Odete Nunes Dourado, Irecê-Bahia / Valderí José de Carvalho. - 2019.

85 f. : il.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Alessandra Santos Assis.

Projeto de intervenção (Mestrado Profissional em Educação, Currículo, Linguagens e Inovações Pedagógicas) - Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Educação, Salvador, 2019.

1. Educação - Efeito das inovações tecnológicas. 2. Smartphones. 3. Sistemas de comunicação móvel. 4. Inovações educacionais. I. Assis, Alessandra Santos. II. Universidade Federal da Bahia. Faculdade de Educação. Mestrado

Profissional em Educação, Currículo, Linguagens e Inovações Pedagógicas. III. Título.

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PRÁTICAS COLABORATIVAS NO PROCESSO DE ENSINO/APRENDIZAGEM: O USO DO SMARTPHONE NO COLÉGIO MUNICIPAL ODETE NUNES DOURADO- IRECÊ-BAHIA

Projeto de Intervenção apresentado como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação Profissional: Currículo, Linguagens e Inovações Pedagógicas, Faculdade de Educação, da Universidade Federal da Bahia.

Aprovado em 12 de maio de 2019.

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________________ Profª Draª Alessandra Santos Assis( Orientadora)

Doutora em Educação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)

_____________________________________________________________ Profª Draª Lanara Guimarães de Souza

Doutora em Educação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA)

____________________________________________________________ Profº Draº Nelson De Luca Pretto

Doutor em Comunicação pela Universidade de São Paulo (USP).

____________________________________________________________ Profº Draº Sílvia Maria Leite de Almeida

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Aos meus filhos Victor e Luiza, razão da minha existência do meu ensinar/aprender.

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Ao Grande Arquiteto do Universo, a força espiritual que possibilita a edificação do meu ser.

À Alcione Neiva, minha companheira que me ajudou a superar os momentos mais difíceis até aqui.

À toda equipe docente UFBA, em especial a Profa Dra Alessandra Assis, principal motivadora desta produção.

Às amigas Iêda Marques e Jucileide Pereira que compartilharam as angústias e as discussões desse estudo.

Aos colegas e amigos de jornada/estudos em especial ao trio: Nelson Rodrigues, Osvaldo Rocha e Jefferson Maciel, idas e vindas de muitos saberes.

A minha equipe da Secretaria de Esporte e Lazer: Irênio, Kiko e Monique pela força indireta neste estudo.

Aos demais amigos, em especial Jorjão e Nei, pelo incentivo para concluir essa jornada.

A todos os meus familiares que acreditam no meu caminhar.

A todas as pessoas COLABORADORAS que COMPARTILHARAM essa vivência e acreditam na possibilidade de um ensino/aprendizagem em prol do “SER HUMANO”.

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opinião formada sobre tudo[...]”

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RESUMO

A presença do smartphone na sala de aula tem sido objeto de discussão na sociedade, não sendo rara a decisão tomada por Gestores da Educação de proibir a utilização desses aparelhos pelos estudantes na escola. O propósito deste trabalho foi compreender o uso dos

smartphones no processo de ensino e aprendizagem no 9º ano do Ensino Fundamental do

Colégio Municipal Odete Nunes Dourado, situado em Irecê/BA, no sentido de discutir as possíveis contribuições pedagógicas desse dispositivo para a efetivação de práticas colaborativas na educação, bem como propor estratégias para implementação de um núcleo de pesquisas e estudos sobre tecnologias móveis na educação na Rede Municipal de Ensino de Irecê. Como aporte teórico, considera-se os estudos sobre as Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) móveis para mudanças no modo como nos relacionamos com o mundo e com as pessoas e, ato contínuo, como ensinamos e aprendemos na contemporaneidade, com ênfase em ações em redes e em processos colaborativos. A investigação realizada, de natureza qualitativa, consistiu em observações da prática pedagógica, aplicação de questionários semiestruturados, escuta de depoimentos em grupos focais, realização de entrevistas abertas com os sujeitos do campo de pesquisa. Com isso, foi possível constatar, principalmente, que é significativa a presença de smartphones conectados à internet na escola e que os professores sentem falta de uma reflexão mais sistemática sobre as possibilidades de uso pedagógico desse dispositivo. Assim, indicam que não há tempo e espaço, nem hábitos de práticas colaborativas com ou sem as TIC móveis na escola, embora se reconheça a importância e potencialidade de tais práticas, já vivenciadas em outras oportunidades pelos sujeitos da pesquisa. As informações levantadas e a mobilização dos atores da escola em torno desse tema, deu ensejo à elaboração de uma proposta de intervenção baseada na implementação de um Núcleo de Pesquisa e Estudo em Práticas Colaborativas e Uso das TIC Móveis na Escola. Palavras – chaves: Práticas Colaborativas. Smartphone. Tecnologia móvel

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ABSTRACT

The presence of the smartphone in the classroom has been the subject of discussion, not being rare the decision taken by Education Managers to prohibit the use of these devices by students in school. The purpose of this work was to understand the use of smartphones in the teaching and learning process in the 9th grade of the Odete Nunes Dourado Municipal College, located in Irecê / BA, in order to discuss the possible pedagogical contributions of this device to the practice of practices as well as to propose strategies for the implementation of a nucleus of research and studies on mobile technologies in education in the Municipal Education Network of Irecê. As a theoretical contribution, we consider studies on the structuring role of Information and Communication Technologies - mobile ICTs for changes in the way we relate to the world and to people and, as a whole, as we teach and learn in the contemporary world, with emphasis in actions in networks and in collaborative processes. The qualitative research consisted of observations of the pedagogical practice, the application of semi-structured questionnaires, listening to interviews in focus groups, and conducting open interviews with the subjects of the research field. With this, it was possible to verify, mainly, that the presence of smartphones connected to the Internet in school is significant and that teachers feel a lack of a more systematic reflection on the possibilities of pedagogical use of this device. Thus, they indicate that there is no time and space, nor habits of collaborative practices with or without mobile ICT in school, although the importance and potential of such practices, already experienced in other opportunities by the research subjects, are recognized. The information gathered and the mobilization of the actors of the school around this theme, gave rise to the elaboration of an intervention proposal based on the implementation of a Research and Study Center on Collaborative Practices and Use of Mobile ICT in School. Keywords: Collaborative Practices. Smartphone. Mobile Technology

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 01 Entrada do Colégio, sendo à esquerda a quadra poliesportiva e à direita área

destinada a um campo de futebol...33

Figura 02 Quadra poliesportiva, cenário de oficinas e práticas poliesportivas...34

Figura 03 Pátio externo...35

Figura 04 Auditório ...41

Gráfico01 Docentes por idade/sexo...37

Gráfico 02 Uso do celular e acesso a internet...38

Gráfico 03 Resposta dos professores que consideram suas Práticas Colaborativas...39

Gráfico 04 Argumento dos (as) estudantes sobre o uso do smartphone na sala de aula...43

Gráfico 05 Estudantes e o uso do smartphone na sala de aula...45

Quadro 01 Rede de Intercâmbio e Produção Educativa ( RIPE)...49

Gráfico 06 Os três aplicativos e/ou funções mais utilizados no SMARTPHONE dos alunos do 9º ano do Colégio Odete... 50

Tabela 01 Webconferência para educadores: práticas colaborativas a partir do uso do smartphone, dentre outras tecnologias móveis na sala de aula...60

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CEII Centro de Educação Integrado de Irecê

CMELEM Colégio Modelo Estadual Luís Eduardo Magalhães FAPESB Fundação de Amparo e Pesquisa do Estado da Bahia

PPP Projeto Político Pedagógico

NEE Necessidades Educacionais Especiais

REDA Regime Especial de Direito Administrativo

RIPE Rede de Intercâmbio de Produções Escolares

TIC Tecnologia da Informação e Comunicação

Unesco Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura.

UFBA Universidade Federal da Bahia

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 12

2 PRÁTICAS COLABORATIVAS NO PROCESSO DE ENSINO/APRENDIZAGEM: O SMARTPHONE COMO ELEMENTO ESTRUTURANTE ... 18

2.1TECNOLOGIAS MÓVEIS E O USO DOS SMARTPHONES: O LUGAR DAS PRÁTICAS COLABORATIVAS ... 18

2.1.1 As Tecnologias móveis e as recomendações de políticas da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) ...... 25

2.2 PRÁTICAS COLABORATIVAS NO PROCESSO DE ENSINO/ APRENDIZAGEM...288

2.2.1 O smartphone como elemento estruturante da prática colaborativa ... ..32

3 TRILHANDO UM ITINERÁRIO METODOLÓGICO ... 35

3.1 O CENÁRIO DA PESQUISA ... 38

3.2 O GRUPO FOCAL E OS SUJEITOS DA/NA PESQUISA ... 41

3.2.1 A voz dos alunos: o smartphone e o protagonismo ... 46

3.2.2 Projeto Rede de Intercâmbio e Produção Educativa – RIPE e a defesa do smartphone como elemento estruturante das/nas práticas colaborativas ... 51

3.2.3 Whatsapp: um software para smartphones que permite novos fazeres ...... 54

4 A PROPOSTA DE INTERVENÇÃO: PRÁTICAS COLABORATIVAS A PARTIR DO USO DO SMARTPHONE – DENTRE OUTRAS TECNOLOGIAS MÓVEIS – NA SALA DE AULA ...... 59

4.1 O USO DO SMARTPHONE: ENSINANTES/APRENDENTES ... 61

4.2 A TESSITURA DO NÚCLEO E A OPERACIONALIZAÇÃO DAS POSSIBILIDADES...63 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 69 REFERÊNCIAS ... 73 ANEXO ... 77 APÊNDICES ......78 APÊNDICES A ...78 APÊNDICES B ......83

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1 INTRODUÇÃO

O desenvolvimento das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), em especial dos dispositivos móveis, vêm repercutindo no cotidiano das escolas de diferentes modos. É possível observar, por exemplo, práticas colaborativas mediadas pelo uso de smartphones, não apenas como um modo de fazer a mesma educação, mas introduzindo a possibilidade de fazer diferente, com protagonismo e autoria dos sujeitos que ensinam e aprendem, em um processo permanente de ressignificação e criação de novos fazeres e saberes.

O desafio de buscar compreender o uso das TIC e discutir suas possíveis contribuições pedagógicas vem se colocando como um desafio entre educadores, no contexto em que se destaca o acesso e utilização dos aparelhos móveis entre estudantes, crianças, jovens e adultos, não raramente enviesados, desconhecidos e até proibidos. Em relação ao lócus da pesquisa, os entraves estiveram relacionados à ausência/insuficiência de um trabalho colaborativo com as tecnologias móveis e a publicação de Portaria n° 01/2015 , de 11 de maio de 2015, da Secretaria de Educação, que proíbe a utilização de celulares em sala de aula. Sabe-se do grande desafio da inserção da cultura digital nas escolas, mas proibir o uso dos smartphones não é, nem de longe o melhor caminho.

A minha própria história, enquanto estudante, fala sobre a escolha do objeto de estudo e delimitação do problema que motiva essa pesquisa, cujas lembranças em recortes são aqui trazidas à baila no ensejo de dar sentido ao processo de contextualização do estudo. Estudar na Escola Fundação Bradesco de Irecê (FBI), ainda hoje, constitui-se um privilégio para quem possui baixa renda, pela gratuidade, pelos subsídios que vão do material escolar aos atendimentos odontológicos. Estudei na FBI de 1982 a 1993, em um cenário de ensino tradicional, pautado na memorização, com o professor como único protagonista dos saberes e fazeres, com a exigência de formar de fila no pátio para ouvir o hino nacional e rezar o “Pai Nosso” antes de entrar, enfileirados, na escola.

Frequentemente, éramos conduzidos às aulas “inovadoras", realizadas com um "Aparelho de Toca Fitas K7” revestido em uma capa de couro na cor preta e usado, principalmente, pelo Professor Lúcio Gama para ensino de inglês, por meio da escuta e tradução das músicas internacionais para o português, com o sincero propósito de fazer diferente e não deixar as aulas cansativas. Além deste dispositivo, vez ou outra, ouvíamos falar em

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computadores, embora só tivéssemos acesso a um imenso laboratório de datilografia, sendo incentivados a fazer o curso visando à inserção no mercado de trabalho, o que começava a se concretizar com a experiência de estágios remunerados na própria instituição privada que financiava a FBI.

Naquela conjuntura, a inserção das TIC na escola apontava para uma tendência marcadamente tecnicista, inspirada no modo de organização fabril, visando à formação para o mercado de trabalho (SAVIANI, 2008). Havia alunos que se destacavam e conseguiam emprego na própria agência bancária da cidade e, até nos dias atuais, há registros de que os egressos dessa escola têm prestígio no mercado, com casos de pessoas inseridas em empresas multinacionais, em instituições bancárias de abrangência mundial, além daqueles que se tornaram empreendedores, dentre outras funções e/ou profissões.

Essa inspiração tecnicista na FBI, herdando práticas e concepções formuladas a partir dos anos 70, baseadas nas teorias behavioristas da aprendizagem, traduzia-se em uma prática pedagógica altamente controlada e dirigida pelo professor, com atividades mecânicas inseridas numa proposta educacional rígida e passível de ser totalmente programada em detalhes de fazeres na sala de aula. Nessa perspectiva, o professor era um mero especialista na aplicação de manuais, sua criatividade ficava dentro dos limites possíveis e restritos à técnica utilizada, sendo o aluno repetidor de ações sem reflexão visando apenas o treino de habilidades. É um modelo que, por um lado, vem atendendo a expectativas mais imediatistas sem, contudo, assegurar uma formação plena do ser humano.

Os estudos no curso de Licenciatura em Geografia na Universidade Estadual da Bahia (UNEB) também me levaram a refletir sobre o sentido da vida e da educação em sua interface com as TIC. Chegar a esse nível de ensino poderia ser considerado como algo improvável para um jovem da periferia ireceense desprovidos/as de condição financeira para pagar um cursinho pré-vestibular, filho de uma viúva lavadeira de roupa, que teve necessidade de trabalhar desde criança como ajudante de feirantes, depois caixa de supermercado, cobrador de ônibus, mototaxista e representante de vendas. Tomando as dificuldades como impulso para seguir adiante e como necessidade de transformar a realidade pessoal e coletiva, literal e metaforicamente “os mais belos montes escalei” (CIDADE NEGRA, 1998), no período em que passei no Campus IV da UNEB, na cidade de Jacobina-BA, no final dos anos noventa.

Era a realização do sonho, estudar em uma universidade pública concebida como um espaço para inclusão sócio educacional da juventude oriunda das diversas regiões da Bahia e, ao mesmo tempo, aprender sobre Geografia por imersão na "Agrícola Cidade de Santo Antônio de Jacobina” (LEMOS, D. 2013), um local singular, rodeado por serras, morros, rios, fontes e

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cachoeiras, considerado como destino para o turismo ecológico na região norte da Bahia, conhecida como Cidade do Ouro. Entre as diversas metodologias de ensino vivenciadas nessa etapa, a prática pedagógica do professor Fábio Nunes nos encantava pela forma dinâmica e pelo uso criativo que dava às TIC, cujo acesso era, quase que exclusivamente, no Laboratório de Informática oferecido pela universidade, quando tivemos oportunidade de conhecer e projetar possibilidades metodológicas para as nossas futuras atuações profissionais na docência, embora a questão das tecnologias móveis fizessem parte de um horizonte ainda muito distante.

A intinerância como professor teve início em 2001, ampliando o leque de reflexões e inquietações acerca da relação entre educação e as TIC. Primeiro, lecionei no Centro de Integração de Irecê (CEII), uma instituição privada, e depois fui admitido por meio do Regime Especial de Direito Administrativo (REDA) na escola pública Colégio Modelo Estadual Luiz Eduardo Magalhães (CMELEM), lecionando Geografia e Filosofia. Nessa escola, tive alunos que precisavam conciliar estudo com o trabalho, às turmas eram heterogêneas, em termos da faixa etária e havia distorção idade/série. Diferente da escola privada, a escola pública tinha uma infraestrutura bem desenvolvida, em relação ao espaço físico e também um rico aparato de TIC. O CMLEM dispunha de um laboratório de informática, um televisor em cada sala, além de outros equipamentos disponíveis por agendamento, a exemplo do retroprojetor, do vídeo k7, do DVD, do notebook e do data show.

A partir de então, começaram meus primeiros desafios com a difusão tecnológica, percebendo quão grande era a necessidade da inovação do ensino e aprendizagem, até porque diferente das necessidades que eu apresentava como professor iniciante, a maioria dos colegas tinha dificuldades em usar os equipamentos disponíveis para reorganizar suas práticas pedagógicas.

Atuando como gestor da Escola Municipal Odete Nunes Dourado (conhecido como Colégio Odete), no período de 2013 e 2014, tive oportunidade de perceber a questão das TIC na escola por uma nova perspectiva. Tratava-se de uma das maiores instituições de ensino municipal do interior baiano, com professores qualificados que desenvolviam distintas práxis pedagógicas e interação professor aluno diferenciada, o que não reduzia o desafio de buscar meios e/ou mecanismos motivadores para que os alunos pudessem (re)construir o conhecimento.

Desse lugar, busquei incentivar alunos e professores a refletirem sobre conectividade a partir dos dispositivos móveis, dos aplicativos disponíveis. O desafio maior parecia estar no modo como concebiam as inovações tecnológicas e até onde iam os preconceitos e tabus acerca do uso do smartphone em sala de aula. Indo além da perspectiva tecnicista e do foco na questão

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da aprendizagem, avançando na direção de uma visão critica dos fenômenos sociais, econômicos e espaciais, visando a transformação da realidade educacional para assegurar uma formação plena.

A atuação na gestão da rede municipal de ensino em 2015-2016, como Coordenador Técnico do Nível Fundamental II, elevou a responsabilidade com maior número de escolas e o uso dado as TIC, justificando o aprofundamento da compreensão desse tema, inclusive do ponto de vista teórico, o que encontra condições próprias no contexto da realização do Mestrado Profissional em Educação, realizado em parceria entre o Município de Irecê e a Universidade Federal da Bahia (UFBA). Experiênciações e visitações nas escolas foram realizadas para levantar aspectos problemáticos sobre a utilização dos smartphones em sala de aula, o que se desdobrou no desejo de elaborar o trabalho final do Mestrado, um projeto de intervenção, nesse campo.

Nesse contexto, chamaram a atenção os conflitos entre professores e estudantes quando houve a proibição do uso do smartphone na sala de aula por meio da Portaria n° 01/2015 publicado pela Secretaria de Educação de Irecê em 11 de maio de 2015 (anexo). Em especial, os colegas professores e professoras da Escola Municipal Odete Nunes Dourado reportavam-me dificuldades em "controlar o uso” dessa tecnologia móvel entre estudantes dado o aumento de reclamações e desentendimentos ocorridos.

Esse tensionamento apontava para a necessidade de compreender melhor as relações que se estabeleciam entre sujeitos e as TIC móveis no espaço escolar. Nesse viés, lidar com conflitos dessa natureza exige compreender a escola como um lugar onde as pessoas se (re) conhecem, onde exercem sua necessidade de ser/existir, convocando o ser humano com as suas individualidades para fortalecer a prática colaborativa cotidiana coletiva feita nesse espaço, que se organiza intencionalmente a partir de um conjunto de referências de vida e de mundo desses atores (SCHALLER, 2008).

Nesse Projeto de Intervenção (PI), o conceito de prática colaborativa está relacionado às ideias de Bonilla, Pretto e Almada (2012, p.207) quando apontam à necessidade de circulação “cooperativa de materiais que articulem diversas mídias e linguagens [...] disponibilizados de forma livre, aberta e sem necessidade e controle de intermediários para possibilitar a apropriação coletiva e remixação desses materiais na escola” (BONILLA, PRETTO e ALMADA, 2012, p. 217). Não se trata, portanto, de utilizar novas tecnologias para fazer a mesma educação. Está posta a necessidade de trazer a tecnologia para dentro das escolas por meio de uma integração mais afetiva e efetiva, modificando radicalmente a prática pedagógica na direção de uma nova educação ou educações (PRETTO, 2000). Isto porque as TIC de modo

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geral, e os dispositivos tecnológicos móveis, especificamente, não podem ser tratados como meras ferramentas de ensino ou recursos didáticos, mas como elementos fundantes ou estruturantes de novas formas de ser, pensar, agir, se relacionar e existir na contemporaneidade (BONILLA, 2012, LÉVY, 1998, PRETTO, 1996).

Desse modo, enquanto pesquisador implicado na realidade e compreendendo a importância de dialogar sobre práticas colaborativas e o uso do smartphone na Rede municipal de Educação de Irecê, passei a olhar de forma mais investigativa o uso dos smartphones, pois nesse contexto havia uma “(in)visibilidade” na rede em torno das diversas possibilidades de uso dos smartphones como elemento estruturante da prática colaborativa na sala de aula.

Além disso, essa “(in)visibilidade” se mesclava com a proibição do uso dos smartphones pelos estudantes, algo totalmente equivocado, do ponto de vista pedagógico e colaborativo, uma vez que estamos mergulhados nas tecnologias móveis, enquanto sujeitos sociais e pós modernos. Destarte, comecei a refletir sobre os caminhos a percorrer para o projeto de intervenção, na perspectiva do protagonismo dos alunos e professores na (re)construção de saberes colaborativos e não meros consumidores de informação e conhecimento via essa tecnologia móvel, dentre outras na escola.

Assim, a escolha do lócus da pesquisa, a Escola Municipal Odete Nunes Dourado se deu por conta da proibição do uso do smartphone regulamentada via oficio publicado pela Secretaria de Educação. Essa portaria implicou na compreensão de “certa (in)visibilidade” do uso dos

smartphones na prática pedagógica na nossa rede de educação ireceense. Para tanto, o trabalho

educativo com as tecnologias móveis favorecem as práticas colaborativas na sala de aula, oportunizando o (re)desenho de uma nova representação do ser humano, a partir das conexões com e do/no mundo.

De tal modo, entendendo a Escola Municipal Odete Nunes Dourado como um espaço aprendente, em rede colaborativa, e assumindo o desafio de (re)pensar a presença dos

smartphones na sala de aula como elemento significativo nos dias atuais. Assim, os estudos

realizados a partir do Mestrado Profissional em Currículo, Linguagens e Inovações Pedagógicas, fomentaram o presente trabalho, cujo objetivo geral foi compreender o uso dos

smartphones e suas possibilidades para implementar práticas colaborativas no processo de

ensino/aprendizagem no 9º Ano do Ensino Fundamental da Escola Municipal Odete Nunes Dourado.

Além do mais, objetivou também dialogar sobre a importância das práticas colaborativas no processo de ensino/ aprendizagem, compreendendo o compartilhamento como algo indissociável ao conhecimento; conceituar tecnologias móveis em especial o smartphone no

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contexto da sala de aula e para além dela; identificar as possibilidades do uso do smartphone como elemento estruturante da prática colaborativa; analisar o projeto Rede de Intercâmbio e Produção Educativa (RIPE) e suas contribuições para a Rede Municipal de ensino de Irecê e por fim apresentar um Projeto de Intervenção cuja proposta é a criação de um Núcleo, cujas práticas colaborativas repercutam no uso do smartphone – dentre outras tecnologias móveis – na sala de aula.

Esse Projeto de Intervenção está trabalho está organizado em 05 partes, contadas a partir dessa introdução. A primeira delas traz uma discussão acerca das práticas colaborativas no processo de ensino/aprendizagem, tecnologias móveis e o uso dos smartphones: o lugar das práticas educativas colaborativas, além de uma discussão sobre o smartphone como elemento estruturante da prática colaborativa fazendo uma releitura de autores nacionais que dedicaram estudos e pesquisas sobre o uso de tecnologias na educação. É abordado também sobre as tecnologias móveis e as recomendações de políticas da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).

Na segunda parte, aponta-se a trilha do itinerário metodológico, descrevendo o cenário da pesquisa, a coleta de dados via grupo focal, no qual os sujeitos da/na pesquisa tem vez e voz. Nesse itinerário também é apresentado o projeto Rede de Intercâmbio e Produção Educativa (RIPE) e a defesa do smartphone como elemento estruturante das/nas práticas colaborativas contemplando também uma leitura fenomenológica para a proposta de intervenção. Além disso, dialoga-se também sobre o WhatsApp: um software para smartphones que permite novos fazeres e o uso do smartphone enquanto relação ensinantes/aprendentes.

A terceira parte traz a proposta de intervenção, a tessitura de um Núcleo de Pesquisa e Estudo em Práticas Colaborativas a partir do uso do smartphone, dentre outras tecnologias móveis na sala de aula. A proposição desse núcleo tem haver com a necessidade de um espaço físico e também virtual, no qual os alunos possam produzir o conhecimento colaborativamente. Pensando nisso, a proposta de Intervenção dialoga sobre a sensibilização da escola e de toda a comunidade escolar através da sugestão de webconferências temáticas voltadas à organização do trabalho pedagógico, bem como do planejamento e da flexibilização do currículo, no sentido de oportunizar as transformações necessárias para implementação do Núcleo.

Por fim, a quarta parte, constitui-se das considerações finais, os resultados da pesquisa e as implicações do autor na realidade estudada. Em suma, a expectativa é que as ideias aqui dialoguem com professores e alunos sobre o uso que fazem dos dispositivos móveis, a fim de que haja melhores condições de utilização do smartphone na sala de aula, no sentido de pensar coletivamente em transformar os espaços da escola.

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2 PRÁTICAS COLABORATIVAS NO PROCESSO DE ENSINO/APRENDIZAGEM: O SMARTPHONE COMO ELEMENTO ESTRUTURANTE

O acesso às Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), em especial as tecnologias móveis por meio do smartphone possibilitou no final da segunda década do século XXI a expansão das redes de comunicação, uma possível consequência do capitalismo financeiro e, principalmente da evolução da economia brasileira. Tal fenômeno encontra-se aliado às facilidades na venda/compra destes aparelhos, os quais podem ser parcelados em dez (10) vezes ou mais. O smartphone tem superado as expectativas em vendas no Brasil conforme pesquisas1econômicas, superando até o número de habitantes2 por aparelho.

Esse crescimento vertiginoso está diretamente ligado também à necessidade que temos de conexão, de compartilharmos informações, pois de alguma forma, “as pessoas querem oportunidades significativas para participar e contribuir [...] Elas querem formas viáveis de compartilhar” [...] (LEADBEATER, 2009, p. 29 apud SANTANA, ROSSINI E PRETTO, 2012, p. 12). De tal modo, o uso dos smartphones como recurso pedagógico está atrelado a um contexto social, no qual alunos e professores necessitam articular saberes para o desenvolvimento de educação integral.

Para Santana, Rossini e Pretto (2012, p.23, grifos do autor), a educação “precisa resgatar a sua dimensão fundamental de ser o espaço da criação, da colaboração, da generosidade e do compartilhamento”. Pensando a importância dos itens destacados acima, este capítulo trata das práticas pedagógicas colaborativas no processo de ensino/aprendizagem, das tecnologias móveis e do uso dos smartphones como um elemento estruturante possibilitador de formação de redes educativas que se delineiam para um mesmo fim, dar sentido à escola e qualificá-la para atender às demandas da sociedade contemporânea.

2.1 TECNOLOGIAS MÓVEIS E O USO DOS SMARTPHONES: O LUGAR DAS PRÁTICAS COLABORATIVAS

1Os trechos são de uma matéria publicada no site da Revisa Exame no dia 22 abr 2016. Outros números

interessantes referentes às estatísticas de uso de celular no Brasil mostram o quanto a mobilidade está presente no dia a dia dos brasileiros: – No final de 2014 o Brasil já era o 6º mercado mundial de smartphones, superado apenas por China, EUA, Índia, Japão e Rússia; – No segundo trimestre de 2015 o número de brasileiros que usam o smartphone para acessar a Internet ultrapassou a marca de 72 milhões, representando um aumento de 23,5% em relação ao semestre anterior. Disponível em: https://exame.abril.com.br/negocios/dino/estatisticas-de-uso-de-celular-no-brasil-dino89091436131/; Acesso em 02/04/2019;

2 De acordo a 29ª Pesquisa Anual do Uso de TI, 2018, realizada em maio pela Fundação Getúlio Vargas, no

Brasil têm 220 milhões de smartphones, o que corresponde a proporção de mais de um (01) celular inteligente por habitante2. Disponível em: ttps://eaesp.fgv.br/sites/eaesp.fgv.br/files/pesti2018gvciappt; Acesso em:

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O uso da comunicação com o telefone surgiu a partir de Alexander Grahan Bell, no século XIX, mas ao longo dos anos a comunicação e informação vêm se popularizando, saindo dos telefones convencionais para dar espaço aos smartphones. A tecnologia móvel chegou para efetuar sucessivas relações, com a interconexão entre as pessoas e os espaços. Neste novo cenário de transformação, a tecnologia móvel ampliou a forma de relacionamento dos sujeitos com/para o mundo, estreitando laços através de uma nova forma de comunicação.

A notável influência deste dispositivo do/no cotidiano é consequência do fácil acesso, bem como pela sua mobilidade. Por ser considerado o aparelho de tecnologia móvel digital mais utilizado, por sua facilidade de acesso, o smartphone ocupa aqui um lugar de destaque nas discussões. O conceito de tecnologias móveis foi definido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – Unesco em um documento intitulado: Diretrizes de políticas para a aprendizagem móvel (2014) como sendo “[...] quaisquer dispositivos móveis, digitais, facilmente portáteis, com acesso à internet e recursos multimídia”. A instituição oferece uma série de publicações voltadas ao tema, o que muito contribuiu para organização das minhas ideias.

A segunda década do século XXI foi marcada pelas possibilidades de compartilharmos em tempo real, temas complexos, rotineiros e uma infinitude de informações processadas por segundo. Essa cultura digital tão presente na sociedade traz o debate também para as escolas. Novas relações entre autores, consumidores/leitores e editores Os livros digitais tomando espaços, aulas virtuais, download etc. Para a escola, essa transição histórica ainda é desafiadora, pois existe uma barreira entre a prática de educadores (analógicos3) no processo de ensino/aprendizagem e a dos educandos da era digital. Estes docentes dificilmente falarão a mesma linguagem, porque estes últimos têm buscado com mais intensidade a atualização, conforme o seu interesse pessoal, formação, padrão financeiro e/ou acessibilidade à evolução tecnológica, dentre outros.

Nesse contexto, as tecnologias móveis fazem parte de um desenvolvimento cientifico- tecnológico, no qual busca-se satisfazer os anseios/necessidades da sociedade contemporânea, cada vez mais imersa na cultura digital. Nessa perspectiva, a contemporaneidade traz consigo grandes desafios, no que diz respeito, principalmente às possibilidades voltadas para a conectividade e a colaboração. Sobre isso, vale lembrar que, na contemporaneidade, o acesso às informações ganhou significativa ampliação:

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As informações que antes eram transmitidas pelos livros e pelos professores, agora são transmitidos pela internet, ou seja, sua utilização é, basicamente, para navegação e captação de informações. Essa tem sido a forma utilizada para inserir as tecnologias da informação e comunicação no modelo de educação praticada nas escolas. (MORIN, 2005, p. 155).

Uma vez que as dinâmicas dos fenômenos e das informações sofrem alterações instantaneamente. Situações estas, as quais são instigantes ao apreender e apropriar-se da tecnologia móvel para a inserção nos cenários globalizados. Acerca dessa premissa, Morin (2005, p. 40) argumenta que:

Vivemos uma era histórica em que os desenvolvimentos científicos, técnicos e sociológicos estão cada vez mais em inter-retroações estreitas e múltiplas. Há três séculos, o conhecimento científico, não faz mais do que provar suas virtudes de verificação e de descoberta em relação a todos os outros modos de conhecimento. É o conhecimento vivo que conduz a grande aventura da descoberta do universo, da vida, do homem.

Vivemos assim, diferentes modos de vida com a aproximação do uso dos aparatos tecnológicos, os quais promoveram uma verdadeira revolução no ser, pensar e agir. Dessa maneira, não somos escravos da tecnologia, contudo, faz-se necessária uma organização prévia de planejamento, uma vez que é possível viver com as interferências, com o objetivo de compreendermos de maneira crítica, para (re)construir a nossa identidade, conforme as nossas necessidades e/ou possibilidades.

É notável que a popularização das tecnologias móveis e o acesso à internet – principalmente nessa segunda década do século XXI –, acentuou a metamorfose dos espaços e da sociedade. Elas demarcam territórios representativos de um poder que emana das novas formas virtuais de comunicação, uma vez que os seres humanos se relacionam, interagem, fortalecendo assim a sua identidade nestes espaços físico e/ou virtual através do compartilhamento de conteúdos e informações a exemplo do WhatsApp, aplicativo disponível nos smartphone.

Partindo desse princípio, as pessoas não precisam mais, necessariamente, ficar em

suas casas, nos seus quartos e em lugares fechados. Elas se encontram, se conectam, conversam e trocam experiências em plena praça pública. Nesse espaço digital de compartilhamentos, as aproximações e distanciamentos – elementos como a distância, espaço físico e o tempo – perdem o seu real significado.

Nesse viés, os recursos de tecnologia móvel como: smartphones, notebooks, laptops,

tablets, Ipads produzem uma nova forma de relação social, cultural e de comunicação, com

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perspectiva é a evolução de processos voltados para as tecnologias móveis como possibilidade nômade, principalmente no que se refere às conexões estabelecidas com os aparelhos móveis. Nesse aspecto, os indivíduos, os quais antes não se conectavam, passaram a se conectar na rede em um computador fixo residencial ou não, agora podem se conectar e se comunicar independente do espaço e do tempo.

Com essa mudança descrita, outras mudanças vão se estabelecendo. Um exemplo disso são as cidades contemporâneas, que através das redes telemáticas, possibilitam conexão sem fio, as quais criam diversas possibilidades de organização do espaço com maior flexibilidade (LEMOS, A., 2009). Para esse mesmo autor, “a cultura da mobilidade entrelaça questões tecnológicas, sociais, antropológicas” (LEMOS, A., 2009, p.28). Nesse sentido, a mobilidade é uma questão estruturante das tecnologias digitais. A cultura da mobilidade é o reflexo dessa estrutura.

Ainda conforme Lemos A. (2009, p.28) na comunicação, “a mobilidade é central, já que comunicar é fazer mover signos, mensagens, informações, sendo toda mídia (dispositivos, ambientes e processos) estratégias para transportar mensagens afetando nossa relação com o espaço e o tempo”. Assim, nessa discussão em torno da mobilidade, outro quesito importante é refletir sobre os processos de territorializações e desterritorializações. Para Deleuze e Guattari (1986) apud Raffestin (1993, p, 143) o conceito de território se forma a partir do espaço resultando em:

uma ação conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível. Ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente (por exemplo pela representação), o ator territorializa o espaço. (…) O território nessa perspectiva é um espaço onde se projetou, seja energia e informação, que por consequência, revela relações marcadas pelo poder.

Tanto a territorialidade como a desterritorialidade se baseiam no nomadismo digital, de apropriação e desapropriação de lugares. E a escola diante disso? Como proceder? O que fazer? A escola faz parte dessa cultura da mobilidade e da conectividade. As pessoas que frequentam a escola são frutos dessa sociedade conectada. Para responder questões como estas, precisamos colaborativamente criar possibilidades horizontais de diálogo, de negociação, de valorização cultural e social do nosso entorno.

De tal modo, é na escola que as práticas colaborativas tornam-se viáveis, ao partir do interesse do aluno e da necessidade de socialização dos conhecimentos produzidos culturalmente e historicamente, na articulação de aprendizagens móveis ou fixas. Acerca disso, Silva A.(2015, p.04) argumenta que:

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Na educação, os ambientes tornam-se aliados nas práticas pedagógicas, principalmente pela viabilidade de articular uma aprendizagem mais concordante com os atuais anseios dos alunos, nos quais manifestam maior interesse nas questões pedagógicas quando exercitada nos ambientes digitais. A colaboração na contemporaneidade, é uma premissa dos saberes/fazeres, que valoriza a criatividade, resolve problemas, possibilita a (re)construção do conhecimento a partir da coletividade e comunga com a ideia de realizar compartilhamentos. Para Santana, Rossini e Pretto (2012, p.14) “a possibilidade de troca entre as pessoas, a permuta de conhecimentos e informações que possibilitou as grandes transformações sociais, culturais e tecnológicas que vivemos”. Nesse sentido, é possível perceber que o uso do smartphone

on-line transporta as pessoas para lugares distantes, de maneira a contribuir com a visibilidade

dos estudantes.

Além disso, a virtualização promove experiênciações na percepção da colaboração das construções individuais e/ou coletivas através do compartilhamento de ideias, informações, conteúdos, serviços. Nesse sentido, a escola, por sua vez, como integrante da sociedade recebe essas transformações de maneira brusca, sem muito tempo para compreendê-las a partir de um pensamento pós-moderno e questionador das certezas. A escola ainda continua agindo com fundamentos da modernidade enquanto a pós-modernidade4bate à porta. Para isso, basta analisarmos o seu espaço físico, práticas e resultados.

Nesse contexto, a escola mostra seu “possível fracasso”, pois suas ações pedagógicas centradas no individualismo permanecem vazias de significado dificultando o processo colaborativo de ensino-aprendizagem do sujeito pós-moderno. Sendo assim, o uso do

smartphone tem sua importância justificada na mobilidade produzida, uma vez que inúmeras

conexões são efetivadas em milésimos de segundos. Todos esses processos contribuem estruturalmente com novas práticas colaborativas emergentes nos dias atuais.

Colaborar no sentido de produzir conteúdos abertos e partilhados com interações simultâneas, nas quais o conhecimento historicamente produzido não é mais concentrado nas mãos de poucos, mas “acessível” a todos. Tudo isso é possível graças a essa “era da conexão e da mobilidade”, na qual as pessoas se movimentam, vão e vem e, mesmo assim se mantém conectados, através das várias formas de conexão:wifi, 3G, 4G etc.

4Sob a perspectiva pós modernidade, conclui-se que: [...]se sai de fato da modernidade, segundo Nietzsche. Pois a noção de verdade não mais subsiste e o fundamento não mais funciona, dado que não há fundamento algum para crer no fundamento, isto é, no fato de que o pensamento deva “fundar”: não se sairá da modernidade mediante uma superação crítica, que seria um passo ainda de todo interno à própria modernidade. Fica claro, assim, que se deve buscar um caminho diferente. (VATTIMO, 2002, p. 173)

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Nesse âmbito, a escola como uma instituição historicamente organizada para fins educacionais, na qual os sujeitos ocupam papeis distintos, com funções diferenciadas deve convergir sua organização num trabalho colaborativo de toda a comunidade escolar (direção, coordenação, pais, professores e outros profissionais). É também um espaço originário da atuação dos educadores, na qual estes desenvolvem práticas docentes dialéticas e complexas que se relacionam simultaneamente com os princípios de reprodução e transformação da sociedade (ORSOLON, 2010).

É notável no discurso de muitos professores, o “modismo e/ou da obsolescência” a cada inovação tecnológica, principalmente, se não percebe e/ou possui o domínio dessas atualizações e sua praticidade no cotidiano. Onde fica o lugar das práticas colaborativas? Não existe! Num espaço no qual as tecnologias são vistas como inimigas ou ignoradas, o trabalho colaborativo não prevalece.

No entanto, ao aprofundarmos no conhecimento a partir das tecnologias móveis, desvelamos os saberes/fazeres baseados na evolução, na apropriação das inovações das tecnologias e da cultura digital, com diversas possibilidades colaborativas e mediadoras do/no ensino/aprendizagem. Acerca disso Pretto e Assis (2008, p. 78) apontam que “a apropriação da cultura digital passa a ser fundamental, uma vez que ela já indica intrinsecamente um processo crescente de reorganização das relações sociais mediadas pelas tecnologias digitais, afetando em maior ou menor escala todos os aspectos da ação humana”. Assim sendo, a escola precisa se preparar e, juntamente como seus professores perceberem as possibilidades da integração entre comunicação e educação, no que tange às ações produtivas no campo da colaboração a partir das TIC. Para isso, Bonilla (2002, p. 95) também referencia que:

A contemporaneidade exige que a escola proponha dinâmicas pedagógicas que não se limitem à transmissão ou disponibilização de informações, inserindo nessas dinâmicas as TIC, de forma a reestruturar a organização curricular fechada e as perspectivas conteudistas que vêm caracterizando-a. Nessa esfera, um dos possíveis caminhos para fomentar práticas colaborativas na contemporaneidade perpassa pela formação docente, pois é uma das temáticas mais debatidas nos dias atuais, principalmente, no que se refere à utilização de dispositivos tecnológicos. Acerca disso Pretto e Bonilla( 2015, p.508) aponta que:

Um dos pontos mais críticos para a estruturação de um modo horizontal de organização das escolas e da educação brasileira diz respeito à formação de professores. Precisamos superar a ideia de treinamento, muitas vezes em aligeirados cursos, visando à preparação técnica para o uso de computadores, para, no máximo, servir como certificação para promoção na carreira dos docentes.

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Não é só habilitar para uso do computador ou dispositivos móveis isolados. O professor vive na escola (em alguns casos) em contato direto com uma avalanche de aparatos tecnológicos presentes na escola, dentre estes os smartphones, entretanto, repetitivamente ficam isolados do/no processo educativo. O grande desafio, nesse aspecto, é tomar posse desses aparatos com intuito de proporcionar na escola um espaço propício de aprendizagem móvel, através de práticas colaborativas constantes. Acerca do desenvolvimento tecnológico Cantú ( 2005, p. 35, grifo do autor) afirma que:

O desenvolvimento tecnológico tem provocado profundas modificações nos modos de vida da sociedade contemporânea. A cada dia, deparamo-nos com novos aparatos tecnológicos e sistemas, sendo que, em particular, as áreas de telecomunicações e informática têm presenciado avanços até bem pouco tempo inimagináveis. Esta revolução tecnológica constitui um elemento essencial para a compreensão da nossa modernidade, na medida em que cria formas novas de socialização e, até mesmo, novas definições de identidade cultural e coletiva. Em função disto, considera-se como responsabilidade dos sistemas educativos, fornecerem, a todos, os meios para dominar a proliferação das informações, de selecioná-las e hierarquizar, dando mostras de espírito crítico

Para que a efetivação das práticas colaborativas sejam fortalecidas é necessário buscarmos possibilidades de formação docente, para o fomento destas. Inicialmente, poderá acontecer um distanciamento do aspecto técnico, o qual provoque no professor e, consequentemente, nos estudantes o desejo de produção coletiva dentro da escola. Essas produções devem ser frutos da utilização de dispositivos tecnológicos móveis, não como ferramenta apenas, mas como fundantes (BONILLA, 2012, LÉVY, 1998, PRETTO, 1996) para produções colaborativas diversificadas: vídeos, filmes e produções audiovisuais, por exemplo. Neste aspecto, Morin (2012, p. 62) corrobora com a seguinte ideia:

[...]podemos educar para a autonomia, para a liberdade com processos fundamentalmente participativos, interativos, libertadores, que respeite as diferenças, que incentivem, que apoiem, orientados por pessoas e organizações que aprendem a ser mais livres e autônomas.

Assim, a formação docente para práticas colaborativas em sala de aula e/ou fora dela deverá ser pautada na autonomia e liberdade de criação coletiva. Dessa maneira, visa compreender e buscar produções coletivas, tendo dispositivos tecnológicos móveis como elemento crucial para a ação docente voltada para a construção de possibilidades diversificadas na escola, com a participação protagonista de todos os envolvidos no processo educativo, desse modo, promove integração, participação, colaboração e, principalmente, horizontalidade nas relações de ensino-aprendizagem.

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2.1.1 As Tecnologias móveis e as recomendações de políticas da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco )

É inegável a sedução das tecnologias móveis nas diversas faixas etárias, independente da escolaridade, principalmente quando estão em conexão com a internet. Esta conectividade aproxima e possibilita até mesmo intervenção nos/dos distintos fenômenos e escalas geográficas. Um exemplo desse processo é a onda de protestos e revoltas que se iniciou em 2011 na chamada Primavera Árabe, o levante em prol à democracia. No entanto, há também as ações consideradas negativas5, dentre elas podemos citar a invasão da privacidade,

ciberbullyng, tráfico de informações, e riscos de morte. Essas ações negativas são perigosas e servem de alerta, exigindo um determinado “controle” na escola, tendo em vista que as redes são abertas e entram pessoas mal intencionadas. Nesse sentido, as Diretrizes de políticas para a aprendizagem móvel da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) (2014 p, 36) faz um alerta importante:

as tecnologias móveis podem ser utilizadas para acessar materiais impróprios. Nas mãos erradas, os aparelhos móveis também podem causar comportamentos indesejáveis, como bullying, envio de mensagens violentas ou sexualmente explícitas, além de possibilitar a interação com indivíduos perigosos

Além das ações negativas decorrentes do uso dos smartphones, as escolas ainda enfrentam desafios para que a inserção desse dispositivo se efetive na prática educativa cotidiana. Os estudos realizados pela Unesco(2014) revelam que as tecnologias móveis são comuns, mesmo em áreas onde escolas, livros e computadores são escassos. O acesso aos telefones celulares, em decorrência da redução dos preços impulsiona cada vez mais pessoas, adquirem aparelhos móveis e aprendem a usá-los, inclusive aquelas que vivem em áreas mais vulneráveis.

Nesse contexto, a Unesco (2014, p.23) aponta que “as tecnologias móveis ajudam a assegurar que as aprendizagens, dentro e fora da sala de aula, apoiem-se mutuamente”. Para isso, faz algumas recomendações sobre as tecnologias móveis pautadas na aprendizagem móvel que segundo a organização consiste em:

um ramo da TIC na educação. Entretanto, como usa uma tecnologia mais barata e mais fácil de ser gerenciada individualmente do que computadores fixos, a aprendizagem móvel requer um novo conceito para o uso de

5Ações negativas me refiro a exposição de situações do outro e/ou da outra pessoa sem a devida permissão,

embora haja sanções para esta prática prevista na lei 12.737/2012 que foi apelidada de Carolina Dieckmann; um outro ponto é utilizar o smartphone ao dirigir, infração presente no código de trânsito desde 1997 (CTB - Lei nº 9.503 de 23 de Setembro de 1997).

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modelos tradicionais na implementação de tecnologias. (UNESCO 2014, p, 24).

Para que esse novo conceito seja perpetuado, a Unesco definiu algumas recomendações para o uso das tecnologias móveis na educação formal e informal. Vejamos abaixo essas recomendações na integra:

 Examinar os potenciais e os desafios educacionais específicos oferecidos pelas tecnologias móveis e, quando apropriado, incorporá-los nas políticas amplas de TIC na educação.

 Evitar proibições plenas do uso de aparelhos móveis. Essas proibições são instrumentos grosseiros que geralmente obstruem as oportunidades educacionais e inibem a inovação do ensino e da aprendizagem;

 Fornecer orientação sobre como novos investimentos em tecnologia podem funcionar em conjunto com os investimentos e as iniciativas educacionais existentes.

 Assegurar que os recursos e os conteúdos educacionais, incluindo os de depósitos

online existentes, sejam facilmente acessíveis por meio de aparelhos móveis.

 Fortalecer a licença de acesso aberto dos conteúdos móveis para facilitar sua utilização e adaptação da forma mais ampla possível, promovendo o uso de recursos educacionais abertos, ou REAs.

 Estimular o desenvolvimento de plataformas ou programas que permitam que professores em sala de aula – assim como outras pessoas que conheçam os alunos pessoalmente – criem ou adaptem conteúdos para aparelhos móveis.

 Promover a criação de conteúdos para aparelhos móveis que sejam relevantes para grupos comunitários específicos e acessíveis nos idiomas locais, convidando criadores de conteúdos locais a criá-los no âmbito da aprendizagem móvel para suas comunidades.

 Advogar por padrões que tornem os aparelhos móveis, os programas e os conteúdos didáticos disponíveis para diversas populações de estudantes, incluindo aqueles com deficiências.

 Examinar a infraestrutura de TIC existente e estabelecer metas realistas para melhorá-la, dedicando atenção especial às áreas subatendidas.

 Considerar o fornecimento de subsídios, integrais ou parciais, para o acesso a serviços móveis de dados e banda larga. Muitos governos oferecem subsídios e-tarifa para promover o acesso à internet com fins educacionais, por meio de computadores.

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Além disso, os governos devem considerar atividades em favor de subsídios m-tarifa, para promover o acesso móvel à internet.

 Apoiar esforços para a construção de redes locais e ad hoc para dar suporte à aprendizagem móvel, especialmente em contextos nos quais não estão disponíveis redes maiores.

 Assegurar acesso e participação igualitários na aprendizagem móvel, a todos os estudantes e professores. Nos casos de implementação do modelo TSPA6, os governo devem adotar medidas para fornecer aparelhos móveis e conectividade a estudantes que não possuem seu próprio aparelho.

 Promover o uso responsável dos aparelhos móveis, por meio do ensino da cidadania digital.

 Adotar políticas de uso responsável (PUR), em vez de políticas de uso aceitável (PUA). As PUR ajudam a destacar e a reforçar hábitos sadios, e também asseguram que os educadores não sejam forçados a policiar o uso das tecnologias móveis, uma tarefa em grande parte inútil para professores que podem ter contato com centenas de estudantes em um único dia.

 Articular estratégias para equilibrar a interação online com a interação off-line, em contextos em que o tempo excessivo despendido em frente à tela e o uso em demasia de TIC sejam preocupações sérias. Além disso, é necessário distinguir o que constitui tempo de tela produtivo e improdutivo, ou tempo de tela saudável e não saudável.  Permanecer atualizado sobre pesquisas a respeito de potenciais riscos à saúde

associados às tecnologias móveis.

 Destacar e elaborar modelos sobre como as tecnologias móveis podem melhorar o ensino, a aprendizagem e a gestão educacional.

 Compartilhar os resultados de pesquisas e avaliações de projetos de aprendizagem móvel.

 Estimular o diálogo sobre aprendizagem móvel entre as mais importantes partes interessadas, incluindo diretores, professores, estudantes, pais, líderes locais e organizações da comunidade.

 Oferecer uma visão coerente sobre como a tecnologia, incluindo as tecnologias móveis, podem contribuir ainda mais para se atingir metas de aprendizagem.

6TSPA – traga seu próprio aparelho.

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As recomendações são desafiadoras, entretanto é nítida a presença dos dispositivos móveis na rotina principalmente dos jovens em tempo integral. Esse apego pode afetar as diversas inter-relações da vida cotidiana, de maneira positiva e/ou negativa, a exemplo dos momentos de sociabilidade em família ou entre amigos, a organização do tempo livre, as relações de trabalho, de estudo etc. Considerando os estudos e demais pesquisas, torna-se urgente a colaboração e o compartilhamento das possibilidades dos saberes/fazeres do uso do smartphone na sala de aula no processo de ensino/aprendizagem.

2.2 PRÁTICAS COLABORATIVAS NO PROCESSO DE ENSINO/ APRENDIZAGEM

A interatividade na atualidade nos permite compreender que, “não é mais possível esperar que cada um, individualmente, encontre respostas para tantas e tão complexas questões que se fazem presentes na prática diária dos estabelecimentos de ensino” (ANDRÉ, 2005, p 12). Nesta perspectiva, as tecnologias móveis possibilitam apontar novas trilhas no processo de ensino/aprendizagem, realizando conectividades e compartilhamentos do conhecimento e dos saberes/fazeres produzidos em redes, numa produção colaborativa.

Nessa perspectiva, as tecnologias móveis são estratégias de conhecimento e ação que possibilitam através das práticas colaborativas que o aluno produza/transforme e consuma informações num contexto educativo. Para isso, a concepção de ensino- aprendizagem analisada aqui parte do pressuposto de que há uma intensa necessidade de melhorar os índices de qualidade dos conteúdos trabalhados em sala de aula, organizados a partir do uso das tecnologias móveis em situações didáticas. De tal modo, não faz sentido a escola proibir o

smartphone, essa prática demonstra que a escola não tem uma boa percepção sobre as

potencialidades comunicacionais da cultura digital. Acerca disso, Pretto e Bonila( 2015, p.511) apontam que:

A falta de percepção sobre as potencialidades comunicacionais e de imersão na cultura digital dos ambientes interativos da Web 2.0 para as atividades desenvolvidas na escola leva muitas delas a bloquear as redes sociais, e esse bloqueio inviabiliza a realização de projetos envolvendo diálogo entre turmas diferentes, ou entre os alunos e outras pessoas, externas à escola, o que potencializaria processos de aprendizagem baseados na troca, na interação dinâmica e colaborativa, no compartilhamento de ideias e saberes. Ao mesmo tempo, esses bloqueios instigam os alunos a investirem no conhecimento da tecnologia, para quebrá-los. É a cultura hacker se constituindo na escola, à revelia da proposta pedagógica.

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Uma alternativa de controle e bom uso deste é traçar combinados, orientar pesquisas, produzir vídeos, fotos, usar aplicativos para diversos fins, entre outras aplicabilidades em processos de aprendizagem. Para Bransford, Brown e Rodney (2017) a aprendizagem consiste no conhecimento e aplicabilidade de acordo com a especificidade de cada aprendiz. Não mais uma aprendizagem mecânica e fechada em conteúdos descontextualizados, mas uma aprendizagem cuja abordagem seja mais contemporânea. Os autores supracitados alertam sobre a necessidade de:

uma nova teoria da aprendizagem, que conduz a abordagens muito diferentes das encontradas muitas vezes nas escolas atuais, em relação ao projeto do currículo, do ensino e da avaliação (BRANSFORD; BROWN E RODNEY, 2007, p.19).

A partir das leituras de Bransford, Brown e Cockimg (2007) é possível concluir que é inconcebível uma aprendizagem significativa constituída de modo isolado. Além disso, apontam a necessidade de criar ambientes de aprendizagem eficazes, nos quais seja possível repensar sobre os conteúdos ensinados. Acerca do uso das tecnologias, Bransford, Brown e Cockimg (2007) discorrem que as tecnologias fornecem a criação de um novo ambiente de aprendizagem, com novas possibilidades no processo educacional. No entanto, ressaltam que “as tecnologias não asseguram a aprendizagem efetiva” (BRANSFORD, BROWN e COCKIMG (2007, p. 264), mas que esse tipo de ambiente auxilia o processo de aprendizagem).

Frente a essa defesa do uso das tecnologias móveis nos processo de ensino/aprendizagem é “imprescindível pensarmos em políticas de conexão que incluam, além das necessárias máquinas, o acesso à internet [...] com velocidade alta” (PRETTO, ASSIS,2008). O fato é que muitas vezes, o aluno tem a internet e a escola não. De acordo com Pretto e Bonilla (2015, p.502) é preciso também:

ultrapassar a ideia de uso das tecnologias como ferramenta de capacitação para o mercado de trabalho[...] ou então como meras ferramentas didáticas para continuar ensinando os mesmos conteúdos na escola, espaços onde normalmente é proibido o acesso a salas de bate-papo, jogos e redes sociais. Nesse sentido, é papel do professor e da escola oferecer condições pedagógicas para que os alunos produzam, reflitam e dialoguem sobreo processo de ensino e aprendizagem numa perspectiva de uma educação de qualidade, na qual todos possam se desenvolver integralmente. Nesse processo, as práticas colaborativas e as tecnologias móveis buscam instrumentalizar os sujeitos históricos e dialoga em torno do processo formativo do aluno, ou seja, defende uma prática pedagógica cuja postura seja de uma reflexão da prática social,

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considerando todo o contexto sócio cultural e histórico do aluno. Assim, a presença das TIC móveis cria condições para uma nova lógica no processo de ensino/aprendizagem ao buscar garantir a significação dos conhecimentos. Neste viés, a escola transforma-se em um espaço vivo de conexões, desconexões e, principalmente de incentivo à criatividade e autoria.

O grande desafio é transformar uma ação pedagógica em práticas colaborativas, para isso, é fundamental que professores e estudantes engajem-se em processos mútuos de aprender-ensinar. Para isso, é preciso superar a perspectiva de práticas que se restringem apenas à transmissão de conhecimento numa postura fechada. É preciso tempo e espaço para que os sujeitos da prática sejam, ao mesmo tempo, participantes e protagonistas dos fazeres. A colaboração propõe uma postura consciente e crítica, assim é preciso superar e transcender o senso comum; produzir novas relações com o saber e as produções advindas deste processo.

Partindo desse princípio, a escola é potencialmente o instrumento disseminador das práticas colaborativas, as quais devem fomentar processos para fortalecer a participação de todas as pessoas. Para isso, é fundamental a criação de um universo cultural coletivo, na perspectiva de construção conjunta, de buscar participação e a contribuição de todos. Dessa maneira, a escola, as salas de aulas podem romper com as amarras, as quais por ventura venham impedir o insucesso das práticas colaborativas compartilhadas, pois estes espaços possuem estruturas para fortalecer o trabalho humano coletivo. Comungo assim com as ideias de André (2005, p.14) quando defende que:

[...] a experiência humana é mediada pela interpretação, a qual não se dá de forma autônoma, mas à medida que o indivíduo interage com o outro. É por meio das interações sociais do indivíduo no seu ambiente de trabalho, de lazer, na família, que vão sendo construídas as interpretações, os significados, ou a sua visão de realidade. Como se desenvolve essa visão é que constitui o objeto de investigação do interacionismo simbólico. Outro ponto importante nessa linha de pensamento é a concepção do self. O self é a visão de si mesma que cada pessoa vai criando a partir da interação com os outros. É, nesse sentido, uma construção social, pois o conceito que cada um vai criando sobre si mesmo depende de como ele interpreta as ações e os gestos que lhe são dirigidos pelos outros. Assim, a forma como cada um percebe a si mesmo é, em parte, função de como os outros o percebem. Nunca se teve tanta necessidade de compreendermos as potencialidades da colaboração na escola como agora, uma vez que se acredita na interação, bem como na integração entre os sujeitos, que juntos produzem mais e melhor. Produzir coletivamente ganhou grandes significados. Assim, as práticas colaborativas, dialogicamente, criam caminhos que perpassam à condução das relações, não apenas na sociedade contemporânea, mas também, na educação. Assim, acredita-se que um dos pontos fortes, propulsor de práticas

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colaborativas é a ideia de construir possibilidades para transcender o individualismo, o qual muitas vezes permeia as ações pedagógicas nos espaços escolares.

Partindo desse princípio, o acontecer do processo de ensino/aprendizagem a partir das práticas colaborativas acendem as ideias e possibilitam aos estudantes a autoria da construção do seu conhecimento, uma vez que estão interagindo com diversas experiênciações. Nesse percurso, ensinantes e aprendentes tornam-se protagonistas e aliados no processo de (re)construção dos saberes/fazeres através da colaboração em pares. Acerca disso, Gebran (2018, p. 02) argumenta que:

A prática pedagógica colaborativa é uma estratégia de trabalho coletivo, na qual os envolvidos têm objetivos e valores comuns e colocam seus saberes individuais a serviço do grupo ou da comunidade de aprendizagem, pois há a possibilidade de beneficiar-se do apoio e da retroação de outros indivíduos durante este percurso de aprendizagem [...]

Vale ressaltar que as práticas colaborativas se transformam em um verdadeiro desafio para o professor, visto que, faz-se necessário habilidade e competência para organizar o trabalho, considerar os fatores históricos e culturais oriundos de uma sociedade individualista. Em conformidade com essas ideias Gebran (2018, p. 03) aponta a importância de “desencadear um processo de repensar a prática docente a partir de ações colaborativas num grupo com características de trabalho individualizado, visando à melhoria qualitativa no processo formativo dos alunos e dos docentes”. Proibir o smartphone é uma forma de sufocar toda a cultura digital presente no aluno, não desenvolver práticas colaborativas de compartilhamento (de informações, vídeos, músicas, documentários, poesias etc) é deixar o processo de ensino/aprendizagem limitado a conteúdos determinados pelo professor, de forma mecânica e autoritária, na qual o aluno não tem vez, nem voz.

Para Gonçalves (1995) apud Placco (2010, p.49) “a escola tem poucas possibilidades de cumprir sua função social se permanecer fechada às transformações de uma sociedade em permanente modificação”. Enfim, é preciso ousar na estratégia da mudança, da transformação da realidade, na esperança de que possa acontecer um trabalho coletivo e integrado aos atores escolares. Para que as práticas colaborativas aconteçam nos espaços educativos, faz-se um convite à mudança. Toda mudança implica necessariamente em uma transformação de um estado para outro: de off-line para on-line, de desconectado para conectado, de conteúdos vazios para conteúdos problematizados, de propostas educacionais excludentes para propostas inclusivas, planejamentos disciplinares em interdisciplinares, entre tantos.

Através do planejamento docente é possível propor mudanças significativas, promover espaços de reflexão, de trabalho coletivo, pois o planejar, “significa fazê-lo em

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