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Adaptação das crianças na creche: dificuldades no meio escolar e relação com o ambiente familiar

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Academic year: 2021

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Brenda Melo Gomes da Silva

ADAPTAÇÃO DAS CRIANÇAS NA CRECHE: DIFICULDADES NO

MEIO ESCOLAR E RELAÇÃO COM O AMBIENTE FAMILIAR

BRENDA MELO GOMES DA SILVA

CURRAIS NOVOS-RN 2017

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO

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BRENDA MELO GOMES DA SILVA

ADAPTAÇÃO DAS CRIANÇAS NA CRECHE: DIFICULDADES NO

MEIO ESCOLAR E RELAÇÃO COM O AMBIENTE FAMILIAR

Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado á Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em cumprimento às exigências para obtenção do título de licenciatura em Pedagogia, sob orientação da Professora Ms. Maria Patrícia Costa de Oliveira.

CURRAIS NOVOS – RN 2017

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FICHA CATALOGRÁFICA 4

BRENDA MELO GOMES DA SILVA

ADAPTAÇÃO DAS CRIANÇAS NA CRECHE: DIFICULDADES NO

MEIO ESCOLAR E RELAÇÃO COM O AMBIENTE FAMILIAR

APROVADO EM: ______/______/_______

NOTA: _____________

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________ Profª. Ms. Maria Patrícia Costa de Oliveira

Orientadora

__________________________________________________ Profº Dr. Adir Luiz Ferreira

Examinador

__________________________________________________ Profª Ms. Vanessa Alessandra Cavalcanti Peixoto

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RESUMO

Brenda Melo Gomes da Silva – UFRN – brenda.ufrn@yahoo.com1

O presente trabalho tem como finalidade compreender na prática como funciona a adaptação das crianças nas creches de 0 a 3 anos de idade, em uma instituição de educação infantil pública e a relação com o ambiente familiar. Partindo desse pressuposto, a elaboração desse trabalho surgiu a partir das experiências compartilhadas durante o Estágio remunerado na Prefeitura Municipal da cidade de Currais Novos, interior do Rio Grande do Norte. Nesse sentido, o referido relato de experiência é de extrema importância para que pudéssemos conhecer como se organiza e funciona adaptação na educação infantil, fazendo uma reflexão sobre a prática pedagógica e o seu papel nos diversos contextos educativos, identificando as dificuldades e possibilidades de atuação do pedagogo. Para isso, se fez necessário aliar os dados coletados no campo de pesquisa aos conceitos teóricos, adotamos como procedimento metodológico a realização de uma pesquisa qualificativa, sem interesse de expor a instituição, alunos e pais entrevistados. Para a construção deste trabalho, identificamos como principais interlocutores os seguintes autores: DAVINI (1999), BORGES (2002), ROSSETI–FERREIRA (2005), GOLDSCHMIED (2006), PEREIRA (2011).

Palavras-chaves: Adaptação; Família; Educação Infantil. .

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ABSTRACT

The present work aims to understand in practice how the adaptation of children in kindergartens from 0 to 3 years of age in a public early childhood institution and the relationship with the family environment works. Based on this assumption, the elaboration of this work emerged from the experiences shared during the paid internship in the City Hall of the city of Currais Novos, in the interior of Rio Grande do Norte. In this sense, this experience report is extremely important so that we can know how to organize and function adaptation in early childhood education, reflecting on the pedagogical practice and its role in the various educational contexts, identifying the difficulties and possibilities of action of the pedagogue For this, it was necessary to combine the data collected in the field of research with the theoretical concepts, adopted as methodological procedure the accomplishment of a qualifying research, without interest to expose the institution, students and parents interviewed. For the construction of this work, we identified as main interlocutors the following authors: DAVINI (1999), BORGES (2002), ROSSETI–FERREIRA (2005), GOLDSCHMIED (2006), PEREIRA (2011).

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7 1. INTRODUÇÃO

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece medidas concretas para a garantia dos direitos de crianças e adolescentes. Este documento revoga o antigo Código de Menores, adequando a legislação infraconstitucional às disposições constitucionais e aos parâmetros internacionais de proteção a crianças e adolescentes.

Em seu Art. 2º, o ECA Considera criança a pessoa até doze anos de idade incompletos, sendo passíveis de atendimento em creches e pré-escolas do zero aos cinco anos de idade. Nesta faixa etária, o acolhimento é o principal ato, pois o professor deverá passar para a criança o sentimento de que a escola pode ser um espaço de bom convívio social e de respeito a sua integridade física e psicológica. Assim, para a criança, se reduz ao máximo possível o medo e a insegurança de estar em um ambiente totalmente desconhecido (BRASIL, 1988).

Além disso, a Creche tem como objetivo educacional promover o desenvolvimento das crianças, considerando seus conhecimentos e valores culturais, garantindo progressivamente a ampliação dos conhecimentos, de forma a possibilitar a construção da autonomia, criticidade, criatividade, responsabilidade e formação de autoconceito positivo, contribuindo assim para o exercício da cidadania.

Neste trabalho, relato a experiência vivenciada como estagiária na Educação Infantil em uma creche no município de Currais Novos no interior do Rio Grande do Norte, a qual é de responsabilidade exclusiva do poder público municipal. Sua inauguração ocorreu com a finalidade de atender as crianças do bairro e adjacências. Desde então, constituiu-se como uma instituição educativa e assistencialista reconhecida na sociedade pelo seu excelente trabalho. Ao longo dos últimos anos a Creche consolidou-se como um espaço educativo e, com isso, fortaleceu sua identidade. A instituição em estudo atende crianças de 2 a 5 anos de idade, no turno matutino. A escola recebe crianças com deficiências, as quais são tidas como inclusas e frequentam salas regulares. Assim, as que possuem diagnósticos contam com o apoio de

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8 cuidadoras que auxiliam nas salas de aulas. O período de funcionamento das atividades escolares é de segunda a sexta- feira, das 07hs às 11hs, durante todo o ano letivo.

. A estrutura física desta instituição educativa compõe-se de: sala de administração, uma sala para secretaria, quatro salas de aula, seis banheiros, uma sala de informática, duas rampas para acessibilidade, uma cozinha, um pátio bem amplo todo murado entre outros aspectos.

Considera-se, no sentido geral, que a Educação Infantil que a família desejaria é aquela que vê o lado da criança no que ela realmente precisa, o que estaria contido nos objetivos educacionais que orientam as práticas cotidianas das professoras e da Creche. Entre esses objetivos escolares, estaria a noção de que a educação infantil é onde não deve haver desistências, medos e anseios, para que esse tipo de sentimento não seja passado para a criança. Logo, tanto as professoras como os pais, deveriam estar seguros de que o meio escolar é um local satisfatório para a educação das crianças pequenas. Entretanto, a Educação Infantil também pode apresentar disfunções no seu caráter educativo, como Rosseti-Ferreira nos diz:

Sendo a educação infantil um direito de todas as crianças de zero a cinco anos, garantido pela LDB 9.394/96 é de grande importância para o desenvolvimento infantil, apesar de seu caráter educativo significativamente nos últimos anos, ainda se percebe, que as instituições, os profissionais e o próprio sistema, apresentam traços muito fortes de caráter assistencialista, que desconfiguram o caráter educativo que deve ser atribuído a esta etapa da Educação básica na Educação Infantil. (ROSSETI-FERREIRA, 2005, p. 32).

Para este estudo, utilizaremos uma metodologia de pesquisa qualitativa, do tipo estudo de caso. O relato de experiência na Creche, a seguir, trabalha com a noção de adaptação, no seu sentido mais abrangente. Então, é prudente começar pela definição do que é adaptação. Segundo o dicionário Aurélio, o significado do termo adaptar é: fazer com que uma coisa se combine

convenientemente com outra; acomodar, apropriar (AURELIO, 2017). Como

noção educacional, é também um processo lento, que envolve, além da paciência o afeto e o trabalho coletivo. Para Rosseti-Ferreira (2005, p. 36):

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adaptação é o ajuste de uma coisa, também é o processo pelo qual um ser se ajusta uma nova situação na vida.

Na história das sociedades contemporâneas, o cuidado infantil pelas escolas foi uma forma que o Estado moderno, através de políticas governamentais específicas, encontrou para que as mães pudessem trabalhar, dando as condições para que as famílias escapassem da pobreza extrema, incluindo os cuidados básicos de subsistência, como é o caso das crianças que são deixadas na creche em tempo integral para que tenha um cuidado melhor, garantindo-se, por exemplo, uma alimentação saudável (GOLDSCHMIED; JACKSON, 2006).

Nosso objetivo, nesse sentido, então é estudar as dificuldades relatadas sobre a convivência da criança na creche, na minha de visão de estagiária, abordando os motivos pelos quais as crianças possam não se adaptar ao novo ambiente escolar, trazendo para as famílias um transtorno, o que, por sua vez, poderia ser evitado, partindo-se da perspectiva de pais e professores e compreenderem que é no cotidiano que vamos conhecendo cada criança.

2. UM POUCO DA HISTÓRIA DA CRECHE

A Educação Infantil destinava-se especialmente às crianças das classes mais carentes, ou seja, os filhos das famílias de origem popular e de baixa renda, os quais precisavam de cuidados materiais e culturais que seus pais não teriam condições de oferecer. Não era considerado um direito da criança, e sim um serviço prestado à parte mais pobre da sociedade, pelo poder público, por entidades filantrópicas ou religiosas, sendo considerando um serviço precário (BRASIL, 2006). Nas favelas e periferias a comunidade abria espaços coletivos, que serviam de creches para abrigar aquelas crianças mais necessitadas. Ainda hoje existe esse tipo de creche do tipo comunitária, quando o Estado não cumpre com suas obrigações em certos bairros populares.

Uma sociedade pode ser julgada pela sua atitude em relação as suas crianças, sendo assim a Constituição de 1988 definiu a creche e a pré-escola

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10 como direitos das famílias e dever do Estado em oferecer estes serviços. É de suma importância que as crianças usufruam dos seus direitos fundamentais, civis e sociais, como exposto na Lei nº 12.796, de 04 de abril de 2013, a qual segue a orientação apresentada na Emenda Constitucional nº 059-2009, no seu Art. 208. Hoje, os responsáveis pelas crianças têm como obrigação mantê-las dos 04 aos 17 anos na escola, diferentemente dos anos anteriores, onde era a partir dos 06 anos de idade (BRASIL, 1988).

Progressivamente, o fato de as mães trabalharem longas jornadas diárias fora de casa se tornou muito mais difundido e culturalmente aceito, pela evidente necessidade material das famílias pobres. Porém, essa mudança social e econômica só fez aumentar a preocupação com a qualidade do desenvolvimento e aprendizagem dos seus filhos, enquanto eles estão sob o cuidado da instituição escolar, não sendo mais concebida como um simples lugar de guarda temporária das crianças.

3. O INTERESSE DAS FAMÍLIAS PELA ADAPTAÇÃO ESCOLAR

Manter os filhos longe do espaço familiar de origem por longas horas pode deixa as crianças bem ansiosas. Elas se sentirão afastadas do aconchego de seus lares, para viverem, durante um longo período diário, distantes de seus pais, envolvidas com as rotinas escolares com outros adultos e crianças, com as quais se passam os laços de confiança fundamentais para elas, fazendo com que “embarquem” em um ambiente onde encontrarão com novas pessoas.

Nessa perspectiva, o interesse sobre o tema adaptação nasceu da minha própria experiência particular, vivenciada enquanto mãe de uma criança pequena. Trabalhando oito horas por dia, me deparei com a necessidade de matricular minha filha de 02 anos recém-completados em uma creche. Partindo do olhar materno, pude conhecer o lado familiar de um processo de adaptação, o qual todo criança participa ao adentrar no universo escolar.

Ao vivenciar o drama de ver minha filha rejeitar a creche, junto com o novo mundo escolar que lhe era apresentado, surgiu à oportunidade de conhecer o outro lado da estória. Como estagiária no Ensino Infantil, pude

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11 presenciar o quanto dificultoso é para a família e para a escola a adaptação das crianças. Esse processo é difícil e doloroso, não só para a própria criança que está chegando ao ambiente escolar, mas também para as outras crianças que já estão adaptadas àquela rotina, os pares de convívio com o novo colega, nessa fase inicial de desadaptação. Em consequência, muitos pais demonstram, para as crianças e para as professoras, pelas falas, atitudes e expectativas, seu sofrimento emocional, como a ansiedade e a desconfiança, por deixarem seus filhos no ambiente escolar, reforçando ainda mais nas crianças a insegurança e a resistência à adaptação na instituição de ensino.

Após, eu mesma, pedagoga em formação, experimentar sentimentos ambivalentes ao passar pela experiência da adaptação da minha filha, posso afirmar que as crianças não precisam somente de uma boa escola e de bons educadores. Eles precisam também do afeto de toda equipe envolvida na adaptação, incluindo os educadores e os funcionários com os quais a criança mais se identifique ou que passe a confiança que ela precisa ressentir. Para BORGES (2002, p. 31), os professores e funcionários:

[...] devem ser preparados e apoiados pela equipe técnica que fará a ponte entre eles, as famílias e as crianças. Esse momento pede monitoramento, pois educadores também estão mobilizados não só pelo contato com o novo – e portanto tendo que recorrer a novos recursos internos-, mas também mobilizados por sua capacidade de acolhimento e de estabelecer vínculos significativos, será o tempo todo testado e decisivo para o sucesso desse processo. As expectativas depositadas em sua figura são muitas.

Apesar dessas dificuldades vivenciadas, o que me deixou tranquila foi saber que ao longo dos meses a realidade da sala de aula, na Creche, provocaria muitas transformações na minha filha, proporcionando para ela e para mim mesma a sensação de melhoria no serviço escolar oferecido.

Com isso, percebemos o quão é importante acolher a família no momento em que a criança é ingressada, para que isto seja possível, é preciso uma equipe preparada e uma escola aconchegante.

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12 4. CARACTERIZAÇÃO DA CRECHE

Por meio de edital lançado pela secretaria de educação no município de Currais Novos_RN, fui contratada como estagiaria durante sete meses com trinta horas semanais , para lecionar Artes e movimentos na educação infantil, para que os professores pudesse com o tempo disponível fazer o planejamento semanal com a coordenação. Com interesse com o tema abordado e a chegada de novos alunos, escolhi então a turma do maternal, conhecida também como nível II, para aprofundar meus conhecimentos, nesta sala eu tenho disponível 5 horas semanais sendo divido em dois momentos. A sala dispõe de dois ventiladores, brinquedos doados, brinquedos educativos, colchonetes, e material didático doados pelos pais de crianças; nas paredes da sala existe um quadro com todas as fotos dos crianças, com os nomes, quadro esse que representa a musica, “se eu fosse um peixinho e soubesse nadar...”2

, as atividades expostas, calendário, o tempo assim como algumas figuras da galinha pintadinha e aniversariantes do ano.

É uma turma com dezessete crianças, entre meninos e meninas, com até três anos completos, contando, na época do meu estágio, com apenas uma professora. O perfil da comunidade que a creche atende é composto por crianças oriundas tanto da zona urbana quanto rural. Já quanto às profissões dos pais as que predominam são: pedreiros e serventes, agricultores, autônomos, comerciários, funcionários públicos, moto-taxistas, marceneiros, entre outras, são crianças de classe media baixa e pobreza extrema.

Para garantir futuras matricula, em meados de julho, após o recesso escolar, a diretora da instituição resolveu receber crianças para a adaptação escolar. Então, a escola recebeu cinco novas crianças, com cerca de dois anos de idade. Uma delas foi diagnosticada com hidrocefalia.3 Nessa época, a Secretaria de Educação resolveu mandar para essa turma uma professora

2

Música infantil- A canoa virou – DVD infantil Galinha Pintadinha 3

A hidrocefalia é o acúmulo excessivo de líquido cefalorraquidiano dentro do crânio, que leva ao inchaço cerebral, acontece quando a quantidade desse líquido aumenta dentro do crânio. Este aumento anormal do volume de liquido pode causar vômitos, sonolência, irritabilidade, má alimentação, convulsões, olhos fixos voltados para baixo, déficits no tônus muscular e pouca força muscular (2006).

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13 auxiliar, formada em pedagogia. Desde então, a turma contou com a professora titular, uma professora auxiliar, um professor de jogos e recreação e uma estagiária, encarregada do ensino de artes e movimentos. Esses últimos educadores contavam com ajuda da professora auxiliar nas suas aulas, enquanto a professora titular se retirava da sala de aula, para desenvolver o planejamento da sala junto com a coordenação.

A turma mostrou um ótimo ritmo, adaptando-se facilmente às rotinas destinadas àquela faixa etária. As crianças podiam chegar à escola até às 7h30min, quando era servido o desjejum. Após dirigiam-se ao parque da escola, onde era feita a recreação. Às 8h30min eles voltavam para a sala, onde era feita a roda de conversa, contação de histórias. Após essas atividades, às 9h30min era servido o lanche principal: a grande maioria das crianças já tinha autonomia e se alimentavam sozinhos. Após o lanche, elas podiam participar em brincadeiras dirigidas, enquanto esperavam os pais, que as pegavam, às 11h.

Durante o meu estágio, percebi a importância de inserir a rotina aos poucos. Compreendi a necessidade de que toda a comunidade escolar, desde diretor à merendeira, também precisa se adaptar às novas crianças, muitas vezes sendo preciso adiantar ou atrasar um lanche, porque a criança se negava a se alimentar no horário proposto. Igualmente, seria importante a presença de mais uma pessoa na sala de aula, ou de outros serviços, como uma limpeza extra. O nosso objetivo maior, a equipe de professores, era deixar a criança à vontade nas primeiras semanas e assim fizemos. Porém, como na escola não tinha uma sala específica para essas crianças, elas ficavam com as outras crianças que já vinham juntas desde começo do ano, então, confundiam-se com a rotina que já se acontecia na sala. Com isso, as crianças veteranas, por sua vez, sentiam-se inseguras. Nessa situação, começavam as birras, a incontinência urinária, a recusa a se alimentar e só querer brincar. Foi uma fase complexa, com muitos desafios para os educadores, mas também nós, adultos, fomos nos adaptando às crianças, assim como elas a nós, com um rico aprendizado sobre as condições da infância na vida escolar.

Todavia, durante esse período de adaptação, as crianças sempre costumavam perguntar quando os pais iriam chegar. Dizer-lhes o momento

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14 exato geralmente acalmava a criança. Como os pais chegavam logo após o lanche, nos primeiros quinze dias o período reduzido da criança na escola foi muito importante, para aliviar a tensão dos familiares e a angústia dos filhos.

Outro episódio que me chamou a atenção foi a volta das chupetas, bem como os apegos pelos brinquedos trazidos de casa, das crianças que já estavam na escola havia mais tempo. Para as crianças em período de adaptação, deixamos eles com algum objeto que lembrasse a casa familiar, para que não se sentissem tão “sozinhos” nessa nova etapa. À medida que as crianças foram se sentindo mais seguras na escola, elas foram abandonando por elas mesmas esses objetos. Com a esse reforço na autoconfiança, crianças que não falavam começaram a falar. Na entrevista com os pais, eles nos informaram que elas tinham uma boa comunicação com os familiares, porém, na escola percebemos que não existia essa interação entre a criança e os professores. Esse tipo de criança gostava de ficar no colo, buscando proteção, sempre perto, já outra criança, que tinha um irmão que já estudava na escola, se sentia mais segura em estar ali, brincava tranquilamente e participava das aulas sem nenhum tipo de problemas.

Tivemos em nossa sala de aula também uma criança pelo qual a família muito se orgulhava e elogiava. Afirmavam que a criança falava em outras línguas com apenas dois anos, sabia todas as cores e numerais, em inglês e português, porém, na sala de aula ao ser perguntada a criança sempre dizia que não sabia. Essa criança específica entrou no começo do ano e passou por um período de adaptação de fevereiro a novembro; chorava para ficar na escola, não ficava na sala sozinha com os outros colegas; não ia para passeios escolares, pois sempre chorava; na hora da recreação ficava sempre sentado, olhando os coleguinhas brincar; não usava fraldas, porque tinha medo da fralda, mas também não sabia usar o banheiro. Mais tarde, no final do ano, depois da chegada dos novos colegas, recebendo menos atenção; já saia do banquinho na hora da recreação para brincar; mas, com seus limites, não quer brincar nos brinquedos que a escola oferece e nem com os colegas. Já dizia algumas cores em inglês, porém em português ainda não identificava. A família foi alertada sobre tal situação, porém não se sensibilizou com o fato. Entretanto ficamos bastante felizes com os avanços que ele apresentou, quando pudemos

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15 perceber que a proteção demais às vezes atrapalha no desenvolvimento infantil.

Notamos que as crianças na faixa etária dos dois anos ainda não construíam internamente as regras de convivência social, encontrando-se em uma fase autocentrada. Exemplo desse egocentrismo infantil, quando ao pedir para dividir o brinquedo há de início uma negação, depois uma reação agressiva, era quando redobrávamos a atenção com eles, mas ameaças e punição não faziam parte da nossa rotina. Aconselhar para que pudesse brincar junto com o colega ou até esperar o outro brincar um pouco, fazem parte da rotina da sala de aula. O mais importante era respeitar o jeito de cada criança e tentar encontrar maneiras de inseri-las (PEREIRA et al., 2011).

Percebemos que a experiência da professora titular deixava os pais e alunos mais seguros em relação ao cuidado com as crianças, a distribuição do tempo com atividades dirigidas era rigorosamente seguida, e com isso com o passar dos meses, vimos que ao sair da rotina, toda a sala entrava em conflito, não conseguindo então realizar atividades posteriores, ao adentrar na sala uma das maiores recomendações da professora foi que: Não saia da rotina. Existia um momento de planejamento com a coordenação da escola toda sexta feira onde eram planejadas atividades relacionadas com o que estava sendo realizado em sala.

5. O SENTIDO DA ADAPTAÇÃO ESCOLAR E AS MEDIAÇÕES NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Acredito que o professor deve oportunizar em sua mediação pedagógica, a autonomia necessária às crianças para que sejam protagonistas de sua aprendizagem. Contudo, quando falo de aprendizagem não me refiro apenas a aprendizagem dos conteúdos, mas, aprendizagem de questões éticas, sociais, de atitudes e valores que por vezes são conflitavas perante a vida em sociedade. Sobre isso, Masseto (2000, p. 45) discorre que:

“A mediação pedagógica busca abrir um caminho a novas relações do estudante: com materiais, com o próprio contexto, com outros textos, com seus companheiros de aprendizagem, incluído o professor, consigo mesmo e com o seu futuro”.

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16 Ao adentrar na escola, percebi que não existiam informações suficientes sobre as crianças ali matriculadas, resolvemos, então, realizar uma pesquisa com alguns pais da referida escola, mais especificamente com aqueles que estavam com seus filhos em adaptação na Creche.

Percebi que, ao questionar sobre as atitudes das crianças, as respostas eram muito parecidas: a contradição das respostas com a realidade era clara. Ao serem perguntados sobre a convivência dos seus filhos com outras crianças, os responsáveis relatavam que parecia ser uma boa experiência. Contudo, a experiência das crianças não era tão tranquila no cotidiano da escola: se negavam a brincar juntos, não dividiam os brinquedos e mostravam dificuldades no convívio com os colegas. Porém, depois de alguns meses, vimos que na realidade as crianças construíam relações afetivas com os adultos que as cuidavam. Poderíamos chamar esses vínculos de relações de apego com as pessoas mais próximas das crianças, dando-lhes segurança e apoio na exploração do ambiente escolar. Na sua ausência, as crianças costumavam diminuir as iniciativas de exploração do ambiente e permaneciam mais quietas. É por conta dessas relações que as crianças distinguiam algumas pessoas no seu entorno, reagindo de modo diferente às conhecidas em comparação com as desconhecidas.

Diferente da escola, a rotina das crianças em suas casas era mais repetitiva e semelhante: acordavam quando desejavam, assistiam à televisão ou se distraiam com aparelhos eletrônicos. Vimos que os pais relatavam apenas uma refeição como rotina, que seria o almoço, durante a noite costumava assistir televisão e adormecer brincando com aparelhos eletrônicos. Ao perguntamos sobre as refeições que as crianças realizavam, os pais relatavam uma boa alimentação. Porém, na escola percebemos que não acontecia o mesmo, muitas vezes precisavam de um cuidado especial, como, por exemplo, a ajuda da auxiliar para se alimentar outras crianças que se negavam a se alimentar para não se sujarem. Sobre uma das crianças, que os pais foram entrevistados, vimos que o comportamento da criança na escola era muito diferente do seu comportamento em casa. Então, chegamos a acreditar que a maneira como os pais se dirigiam à criança, como ela é tratada na rotina familiar tinha grande impacto na sua adaptação escolar. Certamente, ela não

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17 iria gostar de sair da sua casa sem regras e sem horários, para vir para a escola, um ambiente onde existem limites e regras a serem seguidas.

Percebi que para compreender a adaptação não se podia ver somente aquele longo período no início de ano, mas se tratava também de muitas adaptações recorrentes, após os finais de semana, feriados prolongados e todos os momentos em que existe um contato prolongado com a família longe da escola. Identificarmos também que não eram apenas os momentos de choro que revelavam a falta de adaptação, mostrando a criança estressada, com sua condição emocional abalada. Constatava-se que até as suas idas ao banheiro se tornavam mais frequentes, demonstrando carência afetiva com essa forma de chamar a atenção.

É evidente que não era só a criança que estava em processo de adaptação, mas também os próprios pais e os professores, uns com a rotina da escola e outros com a personalidade das crianças. Um dos problemas que detectamos, como fonte de resistência e prejuízo para o trabalho de adaptação na escola, é o excesso de proteção sobre as crianças no ambiente familiar, vinda dos pais, avós e outros adultos na casa. A forma como a criança é recebida no novo ambiente de convívio coletivo que é a escola tem, é lógico, reflexo no seu desenvolvimento, por esse motivo é importante que no meio escolar a família seja acolhida tanto quanto a criança.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Quais as melhores formas de mediações com as crianças em processo de adaptação? Que meios que os professores usam ou poderiam usar para conseguir essa adaptação na Educação Infantil? Logo ao chegar à escola, senti a necessidade de saber mais sobre as crianças. De onde vêm? Qual a profissão dos pais, como eles vivem? Em primeiro lugar, temos que criar um ambiente satisfatório, o espaço em que as pessoas se deparam ao entrar na creche precisa ser pensado com cuidado. A imagem passa muita informação do que ela realmente é sendo essa mensagem que ela deixa. Na creche onde

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18 foi realizada a pesquisa era uma creche sem cor, as paredes brancas, sem alegria. Posteriormente, foram realizadas melhorias, como a pintura das paredes, trazendo alegria e aconchego para quem ali entrasse. O resultado pode ser visto nas matriculas que têm aumentando consideravelmente. A recepção das crianças é muito importante, elas se sentiriam bem acolhidas, assim como mais à vontade elas e a família teriam mais confiança nesse período decisivo de adaptação ao ambiente escolar.

A organização do tempo também se torna crucial nesse momento. Uma rotina bem organizada dá segurança às crianças, mesmo que não seja uma rotina fixa para as crianças, mas estabelecem um horário, que ultrapasse uma hora ou meia hora, ajudando a desenvolver melhor o dia deles. Ao contrário, percebi que as crianças fugiram totalmente da rotina, comparadas àquelas que já estavam adaptadas na sala de aula, a recusa a se alimentar aumentava, além de ficarem mais agressivas com as outras crianças.

O valor educacional e lúdico de uma creche, por mais bem projetada que esteja, dependerá muito também de como os adultos se comportarão diante das crianças. Esse é o momento em que os professores e cuidadores deveriam se colocar no lugar das crianças e de suas famílias. A creche tem que deixar claro o que oferece à criança, para que não gere transtornos futuros. Devido as creches serem há tanto tempo vistas como um serviço compensatório ou correcional, talvez se requeira uma mudança de perspectiva para que se mude esse tipo de pensamento. Poderiam ser organizados eventos na escola, como palestras, reuniões de pais e mestres, oficinas, mas nada cansativo para os pais que já vêm de uma rotina de trabalho muito extensa, e por isso, muitas vezes não vão nem à creche.

Acredito que não acharemos uma resposta concreta e definitiva para a adaptação das crianças no ambiente escolar, porém vimos que existem inúmeros meios de se tentar amenizar um sofrimento, nem sempre inevitável, caso a criança seja recebida com afeto e sinta confiança na instituição escolar. Nesse sentido, esperamos ter contribuído para o entendimento das expectativas, familiares e escolares, sobre a adaptação da criança. Enfim, cheguei à conclusão que a adaptação escolar é o esforço constante que a criança realiza, para chegar à segurança e à satisfação em um ambiente

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coletivo, povoado de pessoas que nunca fizeram parte do seu convívio familiar de origem, onde as regras, relações e limites são bem diferente da realidade educacional do Ensino Infantil.

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REFERÊENCIAS

AURELIO. Dicionário Aurélio. Disponível em:

<https://dicionariodoaurelio.com/adaptacao>. Acesso em: 22 nov. 2017 DAVINI, Juliana e FREIRE, Madalena (org.). Adaptação pais, educadores e crianças enfrentando mudanças. (Série Cadernos de Reflexão). São Paulo: Espaço Pedagógico, 1999.

BORGES, M. F. S. T. e SOUZA, R. C. de (org.). A práxis na formação de educadores de educação infantil. Rio de Janeiro: DP&A, 2002

ROSSETI–FERREIRA, Maria Clotilde (org.). Os fazeres na educação infantil. 7. ed. São Paulo: Brasil 2005.

GOLDSCHMIED, Elinor; JACKSON, Sonia. Educação de 0 a 3 anos: O atendimento na creche. 2. ed. Porto Alegre: Grupo A, 2006.

BRASIL. CONGRESSO NACIONAL. (Ed.). CONSTITUIÇÃO DA REPUBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. 1988. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/emendas/emc/emc59.htm>. Acesso em: 22 nov. 17.

PEREIRA, Arlete de Costa et al. O educador no cotidiano: organizador e problematizador. 3. ed. Brasilia: Gerdau, 2011. (Mesa educadora para a primeira infancia). Disponível em:

<http://unesdoc.unesco.org/images/0021/002147/214769por.pdf>. Acesso em: 22 nov. 2017.

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da Criança e do Adolescente. BRASILIA, DF, Disponível em:

Referências

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