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PROGRAMA DRENURBS: uma discussão sobre a constituição de alianças de aprendizagem na Política de Saneamento de Belo Horizonte

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PROGRAMA DRENURBS: uma discussão sobre a constituição de

alianças de aprendizagem na Política de Saneamento de Belo Horizonte

Heloisa Soares de Moura CostaValdete BontempoSonia Knauer

Palavras-chave: política pública; saneamento ambiental; alianças de aprendizagem; participação

Resumo

O texto apresenta uma discussão preliminar sobre as alianças de aprendizagem associadas à implementação do DRENURBS – Programa de Recuperação Ambiental de Belo Horizonte – um programa que busca reverter a degradação dos cursos d’água ainda em leito natural no município e inovar conceitualmente no tratamento do saneamento ambiental e de processos participativos de gestão. A recuperação ambiental, além de aspectos sanitários, envolve a renovação urbanística da área e, usualmente, conflitos de apropriação do espaço pelos diversos sujeitos sociais. Enfocando como estudo de caso a intervenção no Córrego 1º de Maio, são discutidas as formas de participação da população, as principais virtudes e limitações do processo, os instrumentos de planejamento e política pública utilizados para implementar e avaliar o comprometimento com os princípios do programa. É feita uma breve análise da concepção e funcionamento do Programa, ressaltando-se a existência de um delicado equilíbrio entre requisitos técnicos da gestão do saneamento ambiental e imperativos de políticas sociais inclusivas no nível da (sub)bacia hidrográfica. Assume-se que o DRENURBS, como um programa ambiental urbano, beneficia-se de e contribui para consolidar avanços e entraves de outras políticas urbanas de caráter participativo. O estudo de caso concentra-se nos principais sujeitos sociais do processo: suas percepções do Programa, o papel que nele desempenham, a propensão a participar, o tratamento dos principais conflitos. Discute-se até que ponto a população envolvida altera sua percepção da política ao relacionar elementos da cidadania com valores de saneamento ambiental, mas também como políticas públicas podem ser transformadas ao incorporarem elementos de aprendizagem social.

Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Caxambu- MG – Brasil, de 29 de setembro a 03 de outubro de 2008.

Programa de Pós-Graduação em Geografia – IGC/UFMG e pesquisadora do CNPq.

Prefeitura Municipal de Belo Horizonte.

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PROGRAMA DRENURBS: uma discussão sobre a constituição de

alianças de aprendizagem na Política de Saneamento de Belo Horizonte

Heloisa Soares de Moura CostaValdete BontempoSonia Knauer

Introdução: sobre população, urbanização e políticas ambientais

O objetivo deste trabalho é, a partir de um estudo de caso, discutir as possibilidades e, eventualmente, as limitações, de implementação de uma intervenção pública que pode ser definida como simultaneamente urbana, ambiental e social, construída a partir de pressupostos da participação social e que busca gerar um conhecimento emancipatório a partir das chamadas alianças de aprendizagem. A intervenção pública em questão, o Programa de DRENURBS, é parte do que vem sendo chamado de gestão integrada das águas urbanas, uma concepção progressivamente adotada pelo Estado em várias escalas geográficas, que se articula com a concepção de saneamento ambiental como um direito social a ser garantido de forma universal. Neste trabalho privilegiamos a discussão sobre as alianças de aprendizagem associadas à implementação do DRENURBS – Programa de Recuperação Ambiental de Belo Horizonte – um programa que busca reverter a degradação dos cursos d’água do município que ainda estão em seus leitos naturais e conceitualmente, busca inovar no tratamento do saneamento ambiental e de processos participativos de gestão.

A recuperação ambiental, além dos aspectos sanitários propriamente ditos, envolve a renovação urbanística da área, esta usualmente ocupada por população de baixa renda que veio a se assentar nas margens dos cursos d’água urbanos, movidas pela lógica da necessidade (Abramo, 2003). Ao incidir sobre bacias hidrográficas urbanas, logo inseridas na dinâmica sócio-espacial metropolitana, a implementação da intervenção pública pressupõe a compreensão dos processos mais amplos de produção e apropriação do espaço, estes últimos fortemente marcados pela desigualdade social, pelo descompromisso ambiental e pela excludente dinâmica fundiária-imobiliária, típicos da urbanização brasileira.(Costa; Monte-Mór, 2002). Partes de tais áreas são inapropriadas para o assentamento habitacional permanente, seja por envolverem situação de risco e/ou por constituírem áreas protegidas pela regulação ambiental. Tem-se desta forma uma situação potencial de conflito ambiental, que se expressa em torno tanto das características dos assentamentos envolvidos, quanto do conjunto de ações de implementação do programa. Tais ações apontam para o debate em torno das formas de uso e de apropriação do espaço pelos agentes sociais direta ou indiretamente envolvidos, uma vez que os conflitos ambientais nos remetem aos “espaços de apropriação material e simbólica dos recursos do território” (Acselrad: 2004, p.23).

Enfocando como estudo de caso a intervenção do Programa DRENURBS no Córrego 1º de Maio, o trabalho discute as formas nas quais se dá a participação da população, as principais virtudes e limitações do processo, os instrumentos de planejamento e política

Trabalho apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Caxambu- MG – Brasil, de 29 de setembro a 03 de outubro de 2008.

Programa de Pós-Graduação em Geografia – IGC/UFMG e pesquisadora do CNPq.

Prefeitura Municipal de Belo Horizonte.

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pública utilizados para implementar e avaliar o comprometimento com os princípios que orientam o programa. Para tanto o trabalho faz inicialmente uma breve análise da concepção e funcionamento do Programa, enfatizando a necessidade de manutenção do delicado equilíbrio entre os requisitos técnicos da gestão do saneamento ambiental e os imperativos de políticas sociais inclusivas no nível local, da (sub)bacia hidrográfica.

O estudo de caso se concentra nos principais sujeitos sociais do processo, identificando suas percepções do Programa, o papel que nele desempenham, a propensão a participar, os principais conflitos e como vem sendo tratados. Procura-se discutir não apenas até que ponto a população envolvida altera sua percepção da política ao relacionar elementos da cidadania com valores de saneamento ambiental, como também até que ponto políticas públicas podem ser transformadas ao incorporarem elementos de aprendizagem social.

Finalmente cabe ressaltar que esta conceituação de alianças de aprendizagem foi desenvolvida no âmbito do Projeto SWITCH – Sustainable Urban Waters for Tomorrow Cities’ Health, uma rede internacional de pesquisa liderada pelo IHD na Holanda e da qual participam várias cidades ao redor do mundo. Em Belo Horizonte o Projeto SWITCH é desenvolvido por meio de uma parceria entre a Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG – e a Prefeitura de Belo Horizonte2, tendo no Programa DRENURBS um importante referencial empírico para análise e demonstração. O projeto tem entre seus objetivos, o desenvolvimento de experimentos de demonstração no campo do que vem sendo chamado de governança das águas e de gestão integrada das águas urbanas como explicitado anteriormente, e tem como um importante elemento de ligação entre os diversos componentes, as chamadas alianças de aprendizagem (learning alliances, em inglês), para a difusão de conhecimentos, a formação e o treinamento3. Em sentido ampliado pode ser entendido como um elemento metodológico que articula o resultado de experiências bastante consolidadas na praxis urbana brasileira como o conjunto de projetos e metodologias participativas, com as noções de aprender fazendo e fazer aprendendo, incorporando os principais agentes sociais e representantes de grupos de interesse envolvidos (stakeholders, em inglês no projeto), assim como o saber técnico às práticas cotidianas, eventualmente também aos chamados saberes tradicionais. Embora não tenha sido formulado desta maneira, compreendemos que o conceito de alianças de aprendizagem, numa perspectiva emancipatória, pode se aproximar do conceito de dupla ruptura epistemológica proposto por Sousa Santos (2006).

Dentro de tal perspectiva assume-se como pressuposto que o DRENURBS, como um programa de caráter social e ambiental no meio urbano, beneficia-se de e contribui para consolidar os avanços e entraves de outras políticas urbanas locais de caráter participativo.

Contexto da urbanização e da intervenção do estado no nível local

A dificuldade do acesso à terra tem sido fator determinante das carências e desigualdades sociais brasileiras. Nas áreas urbanas, o alto preço do solo provido dos serviços

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Na UFMG o projeto tem sido desenvolvido principalmente na Escola de Engenharia - no Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos onde se localiza a coordenação geral e Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental – e no Instituto de Geociências no Departamento de Geografia. Na Prefeitura de Belo Horizonte a Coordenação do Projeto SWITCH encontra-se na SUDECAP – Superintendência de Desenvolvimento da Capital, órgão integrante da Secretaria Municipal de Coordenação das Políticas Urbanas.

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básicos elementares é um elemento central na compreensão da segregação sócio-espacial que impõem sobre os segmentos populacionais mais pobres, grande parte do ônus da habitação insalubre e inadequada, localizada em áreas distantes, aumentando os custos de transporte e de acesso a bens e serviços urbanos. Esta lógica perversa já sobejamente documentada pela literatura urbana há décadas, mas exemplarmente sintetizada por Maricato (2000), quando vista pela ótica do poder público, implica em reconhecer que as regiões e populações que arcam com os maiores ônus socioambientais são também aquelas com menor capacidade de pagamento ou de retorno do investimento público realizado em urbanização.

As origens de tais desigualdades são, em grande medida, explicadas pelo processo de produção do espaço, pois assim como outras grandes cidades brasileiras, Belo Horizonte teve uma urbanização largamente comandada pelo mercado de terras que acompanhou os investimentos públicos em infra-estrutura urbana e econômica (Costa, 1994), materializando-se em uma ocupação precocemente estendida na direção das áreas periféricas e relativamente ociosa nas áreas mais centrais, levando as sucessivas administrações municipais a grandes investimentos em redes de infraestrutura – pavimentação, saneamento, iluminação, transporte – principalmente para as camadas solváveis da população e, principalmente, relegando partes consideráveis desta mesma população a viver em situação de permanente precariedade.

O processo de expansão urbana em Belo Horizonte, principalmente na década de 70, fruto de um intenso êxodo rural, das disparidades regionais de renda, bem como da atuação do chamado mercado imobiliário popular que molda a expansão periférica, condicionou a ocupação inadequada de extensas áreas pelas populações de baixa renda, que, em seguida, por meio de movimentos populares organizados passaram a pressionar o Estado no nível local pela implantação de infra-estrutura e serviços (educação, saúde, habitação, abastecimento de água, saneamento, transporte, drenagem, limpeza urbana, segurança, lazer). Como se sabe, esse processo coincidiu com a deterioração progressiva das finanças públicas municipais, levando ao não atendimento da maior parte das demandas e a uma situação de grande gravidade, já que interesses políticos e econômicos contribuíram muitas vezes para a legalização dessa expansão, gerando direitos sociais não atendidos.

Nas últimas décadas, algumas políticas de reversão deste quadro têm sido implementadas por administrações municipais, entre as quais aquela do município de Belo Horizonte, identificadas com um ideário político progressista. Entre tais políticas cabe apontar as experiências de orçamentos-participativos, iniciativas auto-gestionárias de produção habitacional e de serviços urbanos, projetos diversos que incorporam metodologias participativas, além de um amplo espectro de instâncias de discussão e deliberação sobre políticas sociais, ambientais e urbanas, a exemplo de conselhos, comissões de acompanhamento de projetos, entre outras.

Considera-se que a cidade cumpre sua função social e ambiental quando garante a todos o direito a um meio ambiente urbano ecologicamente equilibrado e não haverá como reverter o quadro dramático dos problemas que afetam Belo Horizonte sem dotar as áreas carentes das infra-estruturas sociais que ali faltam, a começar pelo saneamento ambiental. Existem hoje, em Belo Horizonte, cerca de 10 mil pessoas sem abastecimento oficial de água, ainda que o índice de atendimento seja de 99,9% e que o serviço seja considerado universalizado, sendo as áreas não atendidas principalmente aquelas consideradas de risco nas quais “a ação a ser implementada é a de remoção e reassentamento da população” (Champs et alli, 2005: 41). São também 200 mil habitantes sem coleta de esgotos e cerca de 100 mil sem coleta de lixo, segundo dados. Além disso, quase metade dos esgotos coletados não chega às estações de tratamento, tornando poluídos todos os córregos da cidade. É dentro de tal quadro que são redesenhados os programas e projetos municipais na área do saneamento ambiental,

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particularmente aqueles voltados para as intervenções em fundos de vale, como o Programa DRENURBS/Nascentes, como passou a ser chamado recentemente.

Políticas de saneamento ambiental e o Programa DRENURBS

Milton Santos nos chama a atenção para a importância de pensar a cidade, analisar a dinâmica urbana como um todo e não apenas postular soluções urbanísticas, onde o conteúdo da cidade é deixado à margem e as propostas de planejadores urbanos tomam a frente da cena (Santos, 2001). Esta reflexão, associada às mudanças sócio-políticas ocorridas no Brasil, nas últimas décadas - onde o Estado não é mais o único responsável por pensar políticas públicas, mas também a sociedade civil participa ativamente na gestão urbana – configura um caminho almejado por muitas administrações municipais, entre as quais Belo Horizonte, na elaboração e na implantação de intervenções e programas urbanos.

Contribuem também para a construção desta perspectiva de política pública, importantes mudanças ocorridas no nível nacional na última década, no que se refere à concepção de saneamento ambiental, entre as quais duas merecem destaque para a discussão proposta neste trabalho: a primeira diz respeito ao alargamento da concepção de saneamento, englobando não somente o abastecimento de água e a coleta, tratamento e disposição de esgotos, como também a inclusão do manejo integrado das águas pluviais urbanas, da coleta, disposição e tratamento de resíduos sólidos e do controle de vetores. A segunda mudança, de grande importância em termos conceituais e políticos, refere-se à substituição da concepção de saneamento básico como serviço por um reconhecimento do saneamento como um direito social. Estas concepções embasam a nova regulamentação federal conhecida como o Marco Regulatório do Saneamento, fruto de uma longa trajetória legislativa e de um igualmente longo processo de debate nacional configurando assim um campo de lutas pelo saneamento ambiental (Bourdieu, 2006).

Dentro da perspectiva de manejo integrado de águas pluviais urbanas, foi concluído em 2001, pelo executivo municipal, um Plano Diretor de Drenagem – PDD – e a seguir, proposto o Programa de Recuperação Ambiental de Belo Horizonte – DRENURBS – que tem como objetivo melhorar a qualidade de vida dos moradores da cidade, por meio da recuperação e preservação dos cursos d’água do município que ainda estão em leito natural. Para tanto, propõe o tratamento integrado dos problemas sanitários e ambientais e o incentivo à organização comunitária local (PMBH, 2001).

Trata-se de um programa que pretende consolidar a apropriação dos espaços criados e/ou revitalizados, por parte da população residente na bacia hidrográfica, por meio de intervenções físicas, mas também pela articulação com os moradores e as instituições da localidade, especialmente, aquelas responsáveis pelas políticas setoriais. A intenção é transformar a obra e demais melhorias realizadas em uma oportunidade de se discutir a interação entre o homem e o espaço em geral (o ambiente), bem como em uma possibilidade de contribuir para o empoderamento da comunidade local.

Entretanto, se considerarmos a diversidade cultural e os vários interesses dos atores sociais envolvidos na dinâmica urbana, muitos são os desafios a serem enfrentados para se alcançar os objetivos almejados com a implantação do DRENURBS, pois há diferentes formas dos segmentos sociais se relacionarem com as questões ambientais e com o espaço de forma em geral. Neste viés, concorda-se com Acselrad (2004, p.7) que aponta a impossibilidade de se “separar a sociedade e seu meio ambiente, pois trata-se de pensar um

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mundo material socializado e dotado de significados” onde os segmentos sociais tem diferentes projetos de uso e significação para os espaços urbanos.

Assim, neste trabalho, faz-se uma reflexão sobre os resultados alcançados, até o momento, com a implantação do Programa DRENURBS, tendo como referência as intervenções em andamento na sub-bacia do córrego 1o de Maio. Busca-se compreender como o Programa beneficia-se de e contribui para consolidar os avanços e entraves de outras políticas urbanas locais de caráter participativo. Para tanto, faz-se a seguir, uma breve descrição do Programa.

O Programa DRENURBS

O DRENURBS é o primeiro programa resultante do Plano Diretor de Drenagem de Belo Horizonte, instrumento de planejamento que contém o diagnóstico sobre as condições dos córregos existentes em leito natural na cidade e as proposições para os serviços de drenagem pluvial no município. Na formulação do PDD observa-se uma concepção inovadora em relação aos recursos hídricos no meio urbano, que se voltou para a reintegração dos cursos d’água à paisagem urbana, descartando, deste modo, a canalização como única solução para a drenagem.

A proposta do DRENURBS levou também em consideração a capacidade financeira e operacional do município, por isto o Programa foi elaborado para ser implementado em fases sucessivas, cujas metas são a despoluição de 140 km de cursos d’água, abrangendo 73 córregos de 47 bacias hidrográficas, o que corresponde a 30% do número de córregos em leito natural, ou seja, não canalizados. É importante destacar o alcance social e espacial do Programa, uma vez que a área de abrangência do programa é de 177 km² (51% da área total do Município) e a população contemplada é de aproximadamente 1.011.000 habitantes, cerca de 45% da população da cidade (PMBH, 2001).

Atualmente (abril de 2008) estão sendo realizadas intervenções nas sub-bacias dos córregos 1o de Maio, Nossa Senhora da Piedade e Baleares. Além dessas áreas, na primeira etapa do DRENURBS, serão executadas intervenções nas bacias dos córregos Bonsucesso e Engenho Nogueira.

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Localização das atuais áreas de intervenção do Programa DRENURBS Fonte: SMURBE/UEP-DRENURBS

Entre as intervenções definidas para as sub-bacias/bacias destacam-se a interceptação de esgotos, o tratamento e a recuperação das margens dos córregos, a implantação de reservatórios para controle de inundações, a ampliação dos sistemas de limpeza urbana, conservação de nascentes, a recomposição da vegetação, a desapropriação e relocalização de famílias em situação de risco ou com interferência direta com a obra e a implantação de planos locais de educação ambiental e de mobilização social. Como parte das intervenções sanitárias e urbanísticas, estão sendo criados parques lineares e/ou áreas verdes para o lazer da população local.

A preservação dos córregos em leito natural, definida para o DRENURBS, é uma mudança significativa no conceito de drenagem urbana. Durante várias décadas, a construção de canais de concreto foi apresentada como a solução técnica privilegiada para tratar as situações de insalubridade e todas as formas de degradação dos cursos d’água, assim transformados em meios receptores de esgotos e lixo, no decorrer do processo de expansão urbana acelerada das cidades brasileiras. Esta situação de insalubridade tornava-se mais grave face à escassez de recursos financeiros públicos para o investimento em infra-estrutura básica e mesmo, pela falta de interesse por parte de algumas administrações em investir em melhorias nestas áreas.

Diante deste quadro, a exclusão dos córregos e ribeirões da paisagem urbana, na maioria dos casos, passa a ser vista como o caminho mais apropriado, tanto pelo poder público quanto pelos moradores das suas margens para melhorar as condições locais. Por um lado, é fácil associar a opção pela canalização a uma certa hegemonia da técnica exercendo

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controle sobre o ambiente físico, dominando e moldando a natureza aos imperativos da urbanização, a exemplo da contundente análise de Davis sobre Los Angeles, levando-o a cunhar a expressão “a revanche da natureza” para referir-se aos desastres causados pela não observância dos fluxos dos elementos naturais no espaço urbano. Por outro lado, há que se reconhecer que grandes obras viárias e sanitárias constituem objetos de licitação e contrato de vultosos valores, usualmente superiores aos valores de projetos envolvendo alternativas mais ecológicas, fazendo com que seja também necessário vencer a resistência das empreiteiras e construtoras quanto à nova concepção de tratamento dos cursos d’água.

Outro desafio importante refere-se à mudança de concepção da população residente, que usualmente vê na canalização e eventual ocultamento do curso d’água uma forma garantida de se ver livre dos problemas sanitários e de saúde pública associados. Há um curso d’água poluído. Alternativas mais ecológicas, que mantenham o leito natural e preservem as margens do curso d’água requerem não somente ações permanentes de manutenção por parte do poder público, nem sempre garantidas principalmente em áreas mais pobres, de menor visibilidade, nas quais a população tem menor poder de pressão política; como também pressupõem uma série de ações e desenvolvimento de novas posturas ambientalmente mais sensíveis por parte da população residente e/ou usuária de suas margens, ou seja, requer sempre mais trabalho coletivo para que haja um usufruto social.

Entretanto, a priorização da canalização de córregos e ribeirões urbanos tem sido uma solução isolada e corretiva na política de saneamento, que não favorece a integração com os diversos problemas que afligem as grandes cidades e com as especificidades das bacias elementares. Nesta prática, os problemas urbanos e ambientais, como, por exemplo, o acúmulo de lixo, são apenas deslocados de um ponto a outro nos cursos d’águas, provocando, inclusive, enchentes à jusante devido a evacuação rápida das águas. Também no que se refere à saúde pública, podemos ver que a canalização é vista como uma alternativa para o combate às doenças em detrimento da promoção da saúde e a manutenção de um ambiente saudável.

Assim, o DRENURBS é apresentado pelos seus idealizadores como uma alternativa inovadora na gestão dos cursos d’água, criando uma nova perspectiva de intervenção sistêmica, utilizando a bacia hidrográfica como unidade de planejamento das ações. Busca-se a valorização das peculiaridades de cada sub-bacia, bem como contribuir para uma reflexão sobre a interação dos vários segmentos sociais com o espaço em geral, por meio da implantação dos planos de educação ambiental e de mobilização e comunicação social no âmbito do DRENURBS.

Estes dois planos de cunho social têm a intenção de contribuir para o envolvimento da população beneficiada nas várias etapas do Programa e o fortalecimento da organização política das comissões comunitárias nas sub-bacias/bacias hidrográficas, de forma articulada à rede de serviços existentes nas suas áreas de abrangência. Conforme já mencionado, o estudo de caso está focado nas intervenções realizadas na sub-bacia do córrego 1o de Maio.

O Córrego 1o de Maio é um afluente da margem esquerda do Ribeirão Pampulha, com área de influência de 0,48 km2 e situa-se na região norte de Belo Horizonte. A população residente nesta sub-bacia é de aproximadamente 3000 habitantes. As intervenções realizadas nesta sub-bacia foram: tratamento de fundo e contenção das margens do córrego, implantação de redes de esgoto sanitário e de interceptores; tratamento de focos erosivos; pavimentação de vias; implantação de áreas de uso social, implantação do sistema de drenagem e melhoria do

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já existente; recomposição e tratamento de taludes; implantação de bacia de detenção com barragem e vertedouro e a desapropriação da área do entorno do córrego4 (PMBH, 2001).

Fonte: SMURBE/UEP-DRENURBS

No desenvolvimento do Plano de Educação Ambiental na sub-bacia do córrego 1o de Maio, buscou-se, primeiramente, o conhecimento das suas especificidades. Para tanto, foi realizado o Diagnóstico de Percepção Socioambiental, sendo identificados, na ótica da população, os aspectos positivos e negativos em relação à conservação dos cursos d’água e das condições ambientais da mesma. O objetivo foi conhecer atitudes, valores e comportamentos dos moradores no momento anterior ao início das intervenções físicas e sociais, possibilitando a implantação de um processo educativo calcado na realidade vivida e experimentada, além de permitir avaliar as mudanças ocorridas após a conclusão das intervenções na área, a partir de uma análise comparativa com os resultados a serem coletados em novas pesquisas.

Para a realização do Diagnóstico de Percepção Socioambiental foi aplicado questionário semi-estruturado junto aos moradores da sub-bacia. Em seguida, houve a complementação dos dados através da realização de grupos focais, técnica de metodologia qualitativa que utilizou a interação do grupo de pesquisados para produção de dados e insights

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Trata-se de um terreno de espólio que abrigava 4 famílias de herdeiros, além de 09 famílias que compraram imóveis dos herdeiros e 3 ocupantes, totalizando 16 famílias. Deste total 8 foram relocalizadas, ou seja, mudaram da área (PMBH, 2007c, p.19).

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sobre a percepção socioambiental dos moradores e que seriam menos acessíveis num contexto de entrevista individual.

Os resultados do diagnóstico (PMBH, 2007a) indicaram que a maioria das famílias possui imóvel próprio e reside na região há mais de 20 anos (56% dos entrevistados), o que entendemos contribuir para fortalecer o sentimento de satisfação e pertencimento ao bairro. Entretanto, o mesmo não pode se afirmar em relação ao território da sub-bacia em análise. Ao que parece, a localização geográfica do córrego, em área periférica do bairro e não sendo local de passagem dos moradores, contribuiu para que grande parte dos entrevistados afirmasse, no momento da pesquisa, desconhecê-lo.

Por outro lado, aqueles moradores entrevistados que conheceram o córrego quando ainda era limpo, demonstraram um forte sentimento de nostalgia e de saudade, deixando transparecer sua identidade com o local, fato muito reforçado na discussão do grupo focal. Esses moradores se referiram aos maus hábitos e atitudes “de vizinhos” com relação à deposição inadequada do lixo e, em especial, com relação ao córrego. Por outro lado ressaltaram também a parcela de responsabilidade do poder público em relação à situação de degradação ambiental em que o córrego se encontrava, o que demonstra uma boa compreensão dos entrevistados em relação à necessidade do trabalho conjunto para revitalizar a área e mantê-la posteriormente.

Constatou-se nas entrevistas e no grupo focal, um sentimento geral de que a comunidade irá mudar os seus comportamentos e hábitos com relação ao córrego após a finalização das intervenções do DRENURBS, revelando uma expectativa positiva e disponibilidade para a preservação das mesmas. Destacaram também a importância de ações educativas para o envolvimento dos moradores no decorrer das intervenções, salientando o importante papel desempenhado pelas crianças e mulheres no processo.

O diagnóstico mostrou que grande parte dos entrevistados entende que o principal problema da região é a insegurança/violência. Assim, apesar de desejarem e acreditarem na recuperação do córrego e seu entorno, demonstraram muita preocupação quanto à segurança e manutenção do parque linear a ser construído na região.

Após a finalização do diagnóstico na sub-bacia do córrego 1o de Maio, foi constituída a comissão comunitária local - Comissão DRENURBS -, formada por representantes dos moradores, dos serviços públicos, das forças sociais e políticas existentes na localidade. Destaca-se que a Comissão DRENURBS tem papel fundamental no processo de envolvimento dos demais moradores nas ações educativas e de mobilização social, assim como na apropriação e uso do espaço revitalizado. Acredita-se que o fortalecimento deste grupo é decisivo para a sua atuação efetiva na gestão compartilhada5 do parque linear objeto do projeto e atualmente em construção.

Este grupo participou ativamente da elaboração do Plano Local de Educação Ambiental - PLEA -, plano específico que segue as diretrizes gerais para a educação ambiental do DRENURBS, mas que foca também as especificidades de cada área contemplada, tendo como subsídio os resultados do Diagnóstico de Percepção Sócioambiental.

Para a construção do PLEA, primeiramente, foram apresentados os dados constantes do Diagnóstico de Percepção Socioambiental, permitindo a reflexão conjunta sobre os

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Consideramos aqui o conceito de gestão compartilhada para nos referirmos às definições e ações decididas conjuntamente entre poder público e população local para o uso e apropriação dos espaços e/ou recuperados,

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mesmos. Na seqüência, foram discutidas e aprovadas pelo referido grupo, diversas propostas e ações para resolver as questões citadas, bem como para potencializar os aspectos positivos revelados pela pesquisa. Para finalizar o trabalho, o Grupo nomeou o público alvo das ações e os colaboradores para cada uma das propostas, compondo uma planilha final de atividades. Elas foram direcionadas à própria Comissão DRENURBS, ao público escolar e à comunidade em geral.

No trabalho junto à Comissão DRENURBS, as atividades educativas definidas no PLEA, visam o debate com os seus integrantes sobre as questões atinentes ao meio ambiente, favorecendo o fortalecimento do grupo. Neste sentido, são realizados diversos encontros para a reflexão sobre temas relevantes na defesa da qualidade ambiental do espaço urbano e também visitas monitoradas a experiências significativas que contribuem para que seus integrantes exerçam papel ativo na gestão urbana e ambiental.

Já as atividades direcionadas ao público escolar, se propõem a incentivar a implantação de projetos ambientais nas escolas e a articular e contribuir para a estruturação de conteúdos e metodologias de educação ambiental voltada para a abordagem da gestão das águas com enfoque na sub-bacia do 1º de Maio, possibilitando uma leitura ambiental crítica da sua situação socioambiental.

É importante mencionar que, além dos membros da Comissão, foi feito o mapeamento das instituições da localidade e estas também foram convidadas a participar do grupo de trabalho para a formulação do PLEA.

Ressalte-se que as atividades previstas no PLEA 1º de Maio são integradas com o trabalho proposto no Plano de Mobilização Social do DRENURBS, que tem como objetivo:

A sensibilização da população beneficiada direta e indiretamente com o Programa, de forma que as intervenções sejam apreendidas, quanto à necessidade de preservação das intervenções estruturais, ambientais e sociais, criando uma nova percepção e apropriação do espaço coletivo. Constitui-se no principal veículo de informação sobre as diversas etapas das obras buscando junto aos moradores residentes nas áreas de intervenções, soluções de convivência e tratamento para os impactos conseqüentes da implementação do programa. (PMBH, 2007b, p.36).

No desenvolvimento deste plano são implementadas, entre outras, as seguintes ações: apresentações teatrais; realização de “plantão social” nas áreas de abrangência para o encaminhamento de sugestões e dúvidas dos moradores em relação às intervenções; criação do “Espaço Participação Drenurbs”, como um local para receber os moradores interessados em ter acesso às atas das reuniões e assembléias e ao cronograma de obras e à exposição de maquetes e fotos das ações realizadas; realização de assembléias ordinárias e extraordinárias com a Comissão DRENURBS para o acompanhamento das intervenções e busca coletiva de soluções para os possíveis impactos ocasionados pelas obras, construção de proposições para a gestão e manutenção do futuro parque; campanha para prevenção de acidentes nas áreas das obras em escolas do entorno das intervenções e visitas monitoradas às obras da sub-bacia do córrego 1º de Maio com a Comissão DRENURBS para acompanhamento da execução das obras e possibilitar maior compreensão dos métodos e procedimentos construtivos, e principalmente, promover a oportunidade de intervenção nestes processos. (PMBH, 2007b).

Ressalte-se que as ações de mobilização iniciaram-se na fase de elaboração do projeto básico para as intervenções na sub-bacia do córrego 1o de Maio, tendo sido realizadas reuniões para levantamento de proposições para a área do parque e para a apresentação e aprovação do mesmo por representantes dos moradores e entidades locais.

Assim, os Planos de Educação Ambiental e de Mobilização Social visam o envolvimento e participação das comunidades locais em todas as etapas do Programa DRENURBS, mas também apostam em estratégias e ações que estimulem a participação

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comunitária na gestão das águas urbanas e do parque linear, após a sua conclusão. Neste sentido, o trabalho não se restringe à reflexão sobre à “problemática ecológica em si”6, mas interessa também tratar a dimensão social e política que deve ser inerente ao processo educativo, visando a consolidação de relações mais justas e igualitárias na apropriação dos recursos e serviços urbanos e ambientais (Pacheco et al., 1992).

Especificamente em relação à gestão dos recursos hídricos, há uma preocupação desses planos em tratar os conceitos e as informações gerais a partir da realidade e práticas ambientais observadas nas bacias elementares, fazendo juntamente com os moradores, inclusive, um resgate histórico das condições ambientais dos córregos, encontradas no período das primeiras ocupações de suas margens. São realizadas atividades educativas nas escolas, onde representantes da Comissão DRENURBS são convidados a fazerem relatos sobre as experiências vividas numa época em que a água do córrego era limpa e usada para os trabalhos domésticos. A intenção é que o córrego faça parte do imaginário popular, como um ambiente saudável, que pode ser novamente reintegrado à paisagem local.

Foram também avaliadas as possibilidades de articulação de integrantes da Comissão com as instâncias participativas que compõem o sistema de gestão de recursos hídricos. Neste sentido, foram apresentadas as ações dos comitês de bacias hidrográficas e também os instrumentos da Política de Saneamento de Belo Horizonte: o Plano Municipal de Saneamento – PMS – e o Conselho Municipal de Saneamento – COMUSA. Enfatizou-se a importância de se pensar a dimensão política dos problemas ambientais, e a necessária inversão de prioridades nos investimentos públicos para o tratamento de áreas degradadas na periferia das cidades.

Rolnik (2002) observa, entretanto, que essa inversão de prioridades, em contraposição a uma política urbana que privilegia a área central das cidades, não deve perder de vista a necessária e complexa articulação entre o centro e a periferia. É preciso pensar a cidade como um todo, de forma global e não apenas aquilo que é prioritário.

Neste viés, utilizar a bacia hidrográfica como unidade de planejamento para as intervenções urbanas, impõe necessariamente essa visão sistêmica, onde os problemas socioambientais não podem ser somente transferidos para adiante. Assim, as Comissões DRENURBS são estimuladas a integrarem as discussões sobre a gestão dos espaços criados e/ou revitalizados, mas também a se articularem com as instâncias participativas que deliberaram sobre a gestão urbana e ambiental e, deste modo, sustentarem os seus interesses.

Para tanto, as Comissões são subsidiadas com um repertório teórico – abordando temas, tais como: gestão de bacia hidrográfica, cidadania e meio ambiente, preservação dos recursos hídricos, ciclo hidrológico, disposição de resíduos sólidos e saúde pública, etc. – e são realizadas visitas orientadas aos locais com experiências positivas em relação ao tratamento das questões socioambientais, tais como: aterro sanitário, estação de tratamento de esgoto, associação de catadores de materiais recicláveis e parques urbanos. A idéia é propiciar um maior conhecimento sobre a dinâmica urbana e, deste modo, favorecer a interlocução entre os interesses da comunidade local e os projetos a serem desenvolvidos nos parques lineares que incluam os diversos segmentos sociais.

Há também uma articulação com as políticas setoriais desenvolvidas nas áreas de abrangência do DRENURBS, valorizando a referência que as mesmas representam para os

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Pacheco et al. (1992) utilizam a expressão “problemática ecológica em si” como um recurso de argumentação para diferenciar os problemas ecológicos da abordagem proposta pelos autores de análise de conflitos de interesses nas questões urbanas e ambientais. Reconhecem, no entanto, que a rigor, a questão ecológica não é

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moradores, e estimulando a participação dos usuários em ações educativas, tais como: caminhadas de percepção socioambiental, oficinas de reutilização de materiais recicláveis, plantio simbólico de mudas na área do parque, palestras sobre a gestão das águas urbanas e sobre meio ambiente e saúde, etc. Deste modo, busca-se inserir as questões ambientais como tema transversal para discutir a complexidade das ações necessárias para a construção de um ambiente saudável e de solidariedade social. Destaca-se a articulação com os serviços de educação, saúde, limpeza urbana e assistência social.

Fundamentando-nos nesta descrição das ações participativas realizadas pelo DRENURBS na sub-bacia 1o de Maio, constata-se que dois pontos são essenciais: a interação permanente entre representantes do poder público e da comunidade local, valorizando a percepção ambiental dos moradores nas intervenções realizadas naquele espaço e a articulação com as políticas setoriais existentes na sub-bacias/bacias para a consolidação das intervenções executadas.

Em relação à percepção ambiental dos moradores concordamos com Del Rio e Oliveira, que observam:

o estudo dos processos mentais relativos à percepção ambiental é fundamental para compreendermos melhor as inter-relações entre o homem e o meio ambiente, suas expectativas, julgamentos, e condutas. Quantas vezes as nossas ações sobre o meio ambiente, seja ele natural ou construído, geram conseqüências que ignorávamos por completo e que afetarão a qualidade de vida das várias gerações? Quantas vezes os ambientes resultantes de projetos arquitetônicos ou planos urbanísticos afetam de maneira imprevisível as respostas dos seus moradores? E não se trata apenas de respostas emocionais, que dependem do nosso humor ou predisposição do momento, mas da nossa própria satisfação psicológica com o ambiente (1996, p. IX. Grifos acrescidos).

No que se refere à articulação com as políticas setoriais, na atual fase de conclusão dos trabalhos do DRENURBS na sub-bacia do córrego 1º de Maio considera-se fundamental o aprofundamento do debate com os segmentos sociais que foram alvo das ações de educativas no decorrer da implantação do Programa.

Deste modo, esta etapa de transição tem considerado as alianças de aprendizagem coletiva promovidas em cada uma das áreas. Merece destaque aqui, a incorporação de orientações sobre as questões ambientais na rotina de trabalho dos agentes comunitários de saúde – ACS – e que foram participativos e facilitadores do processo educativo nas áreas de abrangência. Também a incorporação de temas e projetos ambientais no conteúdo programático das escolas, resulta em um aprendizado significativo na interação dos alunos com o ambiente e com os espaços públicos recuperados.

Pode-se dizer que as ações desenvolvidas nos Planos de Educação Ambiental e de Mobilização Social estão afinadas com a proposta de constituição de “alianças de aprendizagem” para a gestão de águas urbanas, previstas no Projeto SWITCH.

O SWITCH considera a idéia de alianças de aprendizagem como sendo “a series of interconnected multi-stakeholders platforms at different institutional levels (national, district, community, etc.), aiming to speed up the process of identification, development and scaling up of innovations” (Smits et al., 2007, p.7)7. Neste sentido, as ações do DRENURBS desenvolvidas junto à comunidade local, tanto no que se refere ao acompanhamento das obras quanto na implantação das atividades de educação ambiental, buscam incluir participantes do setor público

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“uma série plataformas com múltiplos atores relevantes interconectados em diferentes níveis institucionais (nacional, distrital, comunitário, etc.), com o objetivo de agilizar o processo de identificação, desenvolvimento e priorização de inovações”(tradução aproximada nossa). Tendo em vista a dificuldade de identificar uma palavra única em português para traduzir stakeholders, e considerando a centralidade dos mesmos para a discussão das alianças de aprendizagem, optamos neste trabalho por utilizar a expressão original em inglês.

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(servidores dos serviços de educação, saúde e assistência social, etc), de entidades civis e dos moradores.

Busca-se a formação de uma rede social, onde a preservação da qualidade das águas aparece como tema transversal no decorrer da implantação de políticas setoriais nas sub-bacias/bacias, favorecendo uma unicidade nos projetos e ações que contribuem para o empoderamento da comunidade local na gestão dos espaços revitalizados. Trata-se, no caso, da consolidação de uma plataforma de stakeholders no nível da vizinhança.

Na perspectiva de continuidade do trabalho, avalia-se a necessidade do processo educativo facilitar a participação das Comissões DRENURBS também na constituição de alianças de aprendizagem no sentido vertical, estimulando uma articulação com as instâncias participativas já consolidadas em outros níveis, tais como o conselho municipal de saneamento (COMUSA) e os sub-comitês de bacias hidrográficas, entre outros. Entende-se, assim, que o papel da Comissão não se restringe à preservação das intervenções realizadas pelo DRENURBS, mas é fundamental a valorização da dimensão política do processo, onde diferentes segmentos sociais representados nas Comissões possam se organizar para a conquista de seus interesses.

A proposta da formação de alianças de aprendizagem permite a integração de papéis e responsabilidades para o alcance de resultados positivos na solução dos problemas que afetam o conjunto de stakeholders, nos diferentes níveis de atuação. Por outro lado, permitem a disseminação e compartilhamento dos resultados positivos de experiências inovadoras na gestão das águas urbanas. No caso do DRENURBS, a experiência de acompanhamento cotidiano das diversas etapas das obras, por meio do Plano de Mobilização Social, bem como a elaboração e implantação do Plano Local de Educação Ambiental com a participação efetiva das Comissões DRENURBS, valorizando as especificidades de cada sub-bacia/bacia e a intersetoriedade, ao que parece, será determinante para a gestão das áreas revitalizadas, considerando as diferenças e percepções do conjunto de stakeholders.

Considerações Finais

As ações realizadas em conjunto com a população, tendo como referência saberes e percepções locais, apontam para a continuidade e aperfeiçoamento de trabalhos de assessoria e mobilização social no Programa DRENURBS e na política de saneamento ambiental de forma mais ampla. Tais resultados são fundamentais tanto para a continuidade do Programa em outras bacias, como para a sempre difícil tarefa de permanente manutenção física e institucional dos investimentos já realizados. Nesta tarefa, de fato depende fundamentalmente do envolvimento permanente da população da região, já que dificilmente o poder público poderá investir recursos adicionais tão disputados por outros projetos e/ou bacias dentro deste programa, além daqueles originalmente previstos. Nestas circunstâncias, as alianças de aprendizagem, tal como discutidas, deixam de ser apenas uma metodologia de envolvimento de stakeholders, para se tornar um mecanismo permanente de mobilização da sociedade no nível dos lugares. Este desafio está presente também na continuidade do programa que precisará garantir que as demais intervenções nas bacias priorizadas possam aprender com e aprimorar a experiência aqui abordada.

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