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Movimentos Migratórios da População Sateré-Mawé – Povo Indígena da Amazônia Brasileira

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Academic year: 2021

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Movimentos Migratórios da População Sateré-Mawé – Povo

Indígena da Amazônia Brasileira.

Raylene Rodrigues de Sena

Pery Teixeira

Palavras-chave: migração; movimentos migratórios; demografia indígena; Sateré-Mawé.

Este trabalho busca contribuir para o conhecimento das características essenciais dos movimentos migratórios dos Sateré-Mawé, moradores da Terra Indígena Andirá-Marau, como também dos que emigraram para as áreas urbanas dos municípios próximos como Parintins, Maués e Barreirinha. Com base nas informações sobre migrações levantadas pelo Censo Sateré-Mawé, realizado em 2002 e 2003. Nas análises empreendidas, constatou-se que o povo Sateré-Mawé tem uma forte propensão a migrar, quer de uma aldeia a outra, quer em direção às cidades próximas, sendo que nesta última, implica sérios problemas de adaptação à outra cultura bastante diversa, podendo provocar grandes mudanças culturais dos Sateré-Mawé, como por exemplo, perda do idioma sateré-mawé, dos rituais e da sua forma de vida comunitária; Mais de 10% da população Sateré-Mawé mora em área urbana; Muitas são os motivos para migrar. Os mais importantes são: a procura de trabalho, a necessidade de estudar e a constituição de família. Os conflitos internos nas comunidades também foram mencionados, porém, com uma importância menor; Acredita-se que a incorporação de valores não indígenas, como por exemplo: “busca por trabalho” e “busca de educação para os filhos”, atuam diretamente nas “origens” do processo migratório do povo Sateré-Mawé.”

Trabalho apresentado no XV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambu-MG – Brasil, de 18 a 22 de setembro de 2006.

UFAM/FAPEAM.

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Movimentos Migratórios da População Sateré-Mawé – Povo

Indígena da Amazônia Brasileira.

Raylene Rodrigues de Sena

Pery Teixeira

1. Introdução

Os índios sateré-mawé habitam uma área de 788.5288 hectares, na terra indígena Andirá-Marau. São conhecidos regionalmente como “Maués”, no entanto, autodenominam-se Sateré-Mawé, sendo que Sateré quer dizer “lagarta de fogo” e Mawé significa “papagaio inteligente e curioso”. São eles os inventores da cultura do guaraná, visto que domesticaram uma trepadeira silvestre e criaram o processo de beneficiamento desta planta. Deste modo, o guaraná está fundamentalmente ligado à cultura sateré-mawé.

O artigo procura analisar as características essenciais dos movimentos migratório dos Sateré-Mawé, que vive na Terra Indígena Andirá-Marau, situado na Amazônia Brasileira, tendo em conta, sobretudo os deslocamentos que se dão em direção às três cidades mais próximas do seu território: Parintins, Barreirinha e Maués.

Com base nas informações sobre migrações levantadas pelo Diagnóstico Sócio-Demográfico Participativo da População Sateré-Mawé, realizado em 2002 e 2003 pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM, com a participação indígena em todas as etapas da investigação.

As informações sobre migração foram obtidas através de perguntas feitas a todas as pessoas com 10 anos e mais de idade, e considerou-se como morador Sateré-Mawé aquele que tem residência fixa e declarada nas terras indígenas, ou nas cidades pesquisadas. O diagnóstico identificou como Migrante, quem não nasceu no local de residência ou que nasceu, mas já morou em outros locais. Enquanto que o Não-Migrante é quem nasceu no local de residência e que nunca residiu em outros locais.

A população indígena na Região Amazônica é extremamente móvel, e com os Sateré-Mawé não é diferente. Esse povo apresenta uma expressiva mobilidade, cujas razões estão freqüentemente associadas: à visita a parentes; conflitos internos nas comunidades; constituição de família; períodos de festas tradicionais dos Sateré-Mawé (dança da Tucandeira...), etc.

Muitos Sateré-Mawé vivem em área urbana. O que reflete uma tendência observada em muitas cidades brasileiras. Como por exemplo, os 920 índios Pankararu que vivem na capital de São Paulo, e das 135 famílias dos Terena que vivem em Campo Grande (MS). Em Manaus

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Esse fenômeno vem sendo denominado “índios urbanos”, sendo que no caso Sateré-Mawé, não se dá uma ruptura completa, visto que os que vivem nas cidades pesquisadas não perdem completamente o contato com as áreas indígenas. Isso se dá graças à relativa proximidade entre as áreas envolvidas.

2. As migrações do povo sateré-mawé

O censo da população Sateré-Mawé entrevistou 8.500 habitantes no total, sendo que 7.502 vivem nas Terras Indígenas e 998 nas cidades de Maués, Barreirinha, Parintins e Nova Olinda do Norte. Isto significa que cerca de 12% deles vivem nas áreas urbanas pesquisadas.

Gráfico 1

População Sateré-Mawé segundo o quadro de residência 2002-2003.

3.795 3.288 292 127 7.502 512 276 200 10 998 Andi rá Mar au Uaicu rapá Koat á-La ranj al Total Ter ra Indí gena Parint ins Barr eirinh a Maués Nov a O linda do N orte Tota l Área urban a

Fonte: Sateré-Mawé – Retrato de um Povo Indígena.

Considerando a população sateré-mawé total, verifica-se que 56% constitui-se de migrantes, ou seja, de pessoas que saíram de seus locais de nascimento e fixaram residência em outras localidades.

Quanto ao local de nascimento da população total sateré-mawé recenseada, cerca de 95% nasceu em terra indígena.

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Gráfico 2

Local de Nascimento dos moradores (%) – Terra Indígena – 2002/2003.

Terra Indígena; 96,8 Área urbana; 1,5 Área rural; 1,6 Não sabe/informou; 0,1

Fonte: Sateré-Mawé – Retrato de um Povo Indígena.

Da mesma forma, se considerarmos apenas às áreas urbanas, observa-se uma situação completamente diferente, onde apenas 16% declarou ter nascido na cidade em que vive, e uma parcela significativa, 13%, declarou ter nascido em terra rural, enquanto que mais da metade (66%) declarou ter nascido em terra indígena. Assim, esses dados parecem indicar que a migração Sateré-Mawé para as cidades é um fenômeno recente.

Gráfico 3

Local de Nascimento dos moradores (%) – Área urbana – 2002/2003.

Terra indígena; 66% Área rural; 13% Não sabe; 1% Cidade de residência; 16% Outra cidade; 4%

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mesmo fazer compras. Contudo, retornavam às áreas indígenas tão logo findasse a causa do deslocamento.

3 - Fatores que influem na migração.

Como foi dito anteriormente, o povo sateré-mawé apresenta uma propensão bastante elevada para migrar, e um fator facilitador foi o relativo progresso alcançado nos meios de transportes da região, com a utilização com maior freqüência de “rabetas”, “voadeira” e barcos de pequeno porte.

Gráfico 4

Migrantes das terras indígenas segundo o motivo da migração – 2003.

Acompanhando familiares; 54% Educação para os filhos; 13% Constituição de família; 9% Conflitos na comunidade; 7% Procura de trabalho; 6% Outros; 11%

Fonte: Sateré-Mawé – Retrato de um Povo Indígena.

Com base na pesquisa, dentre os motivos mais comuns são: acompanhamento de familiares – pais e cônjuges (54%); procura de melhores condições de educação para os filhos (13%); constituição de família (9%); conflitos na comunidade (7%) e procura de trabalho (6%).

Pode-se dizer que, os motivos de procura de trabalho e busca por educação para os filhos, assinalados pelos entrevistados configuram como “decisões econômicas”, são portanto, necessidades estas criadas a partir do contato com a sociedade não-indígena.

Outra informação relevante ainda em relação ao gráfico 4, é acerca do significativo percentual de 13% que declarou o motivo “educação para os filhos”. Uma possível explicação é que nas áreas indígenas são oferecidas nas escolas indígenas apenas o Ensino Fundamental. Assim, para que o estudante sateré-mawé possa dar prosseguimento aos estudos faz-se necessário a migração para as cidades. Desta feita, acredita-se que, caso fosse oferecido o Ensino Médio nas aldeias (que é, aliás, reivindicação antiga da comunidade), o contingente de migrantes para as cidades poderia ser menor.

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Gráfico 5

População Migrante por sexo e idade – Terra indígena – 2003.

Fonte: Sateré-Mawé – Retrato de um Povo Indígena.

No gráfico 5, pirâmide da população migrante da terra indígena, observa-se que o fluxo é composto por indivíduos jovens e adultos de ambos os sexos, que é a população potencialmente ativa para o trabalho.

Diferentemente do gráfico 6, da população não-migrante terra indígena, na qual a pirâmide apresenta uma base extremamente larga, o que significa que a população está composta na sua esmagadora maioria por indivíduos jovens de menos de 15 anos de ambos os sexos.

Gráfico 6

População Não-Migrante por sexo e idade – Terra indígena – 2003.

- 2 0 ,0 - 1 5 ,0 - 1 0 ,0 - 5 ,0 0 ,0 5 ,0 1 0 ,0 1 5 ,0 2 0 ,0 1 0 1 5 2 0 2 5 3 0 3 5 4 0 4 5 5 0 5 5 6 0 6 5 7 0 7 5 8 0 + H o m e n s M u lh e r e s - 2 0 ,0 - 1 5 ,0 - 1 0 ,0 - 5 , 0 0 , 0 5 , 0 1 0 , 0 1 5 , 0 2 0 , 0 1 0 1 5 2 0 2 5 3 0 3 5 4 0 4 5 5 0 5 5 6 0 6 5 7 0 7 5 8 0 + H o m e n s M u lh e r e s

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Gráfico 7

População migrante por sexo e idade – Área urbana – 2002/2003.

Fonte: Sateré-Mawé – Retrato de um Povo Indígena.

Por outro lado, a pirâmide da população migrante terra urbana (gráfico 6), revela uma predominância de mulheres nos grupos etários de 25 anos e mais, supostamente em razão do maior aproveitamento da mão-de-obra feminina sateré-mawé como trabalhadoras domésticas. Outro fator a destacar é sua base larga, com uma expansão elevada no grupo etário de 14 a 19 anos, possivelmente em razão do grande número de jovens que migram com o objetivo de estudar.

Neste sentido, pode-se dizer que a partir do momento que o ensino primário foi oferecido nas terras indígenas, criou-se um novo sistema de prestígio para as novas gerações, e muitas vezes, a possibilidade de obtenção de um emprego estável e assalariado em terra indígena, faz com que o Sateré-Mawé migrem para as cidades em busca de instrução.

4 - Considerações Finais

As comunidades indígenas, assim como as demais, buscam um equilíbrio que lhe proporcione os meios para suprir suas necessidades, sejam elas relacionadas a sua subsistência, segurança e outros.

Nas análises empreendidas, constatou-se que o povo Sateré-Mawé tem uma forte propensão a migrar, quer de uma aldeia a outra, quer em direção às cidades próximas, sendo que nesta última, implica sérios problemas de adaptação à outra cultura bastante diversa, podendo provocar grandes mudanças culturais dos Sateré-Mawé, como por exemplo, perda do idioma sateré-mawé, dos rituais e da sua forma de vida comunitária.

As razões dessa significativa mobilidade estão freqüentemente associadas às tradições culturais, à constituição de família, à pequena distância entre as diversas aldeias e entre estas às áreas urbanas circunvizinhas, além do progresso havido nos meios de transporte.

- 2 0 ,0 -1 5 ,0 - 1 0 ,0 -5 , 0 0 ,0 5 ,0 1 0 ,0 1 5 ,0 2 0 ,0 1 0 1 5 2 0 2 5 3 0 3 5 4 0 4 5 5 0 5 5 6 0 6 5 7 0 7 5 8 0 + H o m e n s M u lh e re s

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Aproximadamente 95% da população total sateré-mawé nasceu em terra indígena. Assim, a maioria dos moradores sateré-mawé de Parintins, Barreirinha e Maués nasceram nas áreas indígenas, mas muitos nasceram nas cidades mesmo, principalmente os moradores mais jovens e crianças. O que pode sugerir que o movimento migratório Sateré-Mawé rumo às cidades pesquisadas é um fenômeno recente.

As mudanças de domicílio são muito comuns entre os Sateré-Mawé, mesmo na área indígena. Ali, há quase um equilíbrio entre o número de pessoas que nunca saíram de sua comunidade de nascimento e aquelas que já fizeram alguma mudança residencial (52%).

Cerca de 12% da população Sateré-Mawé mora em área urbana e muitos são os motivos declarados para migrar. Os mais importantes são: a procura de trabalho, a necessidade de estudar e a constituição de família (esta última, principalmente nas áreas indígenas). Os conflitos internos nas comunidades também foram mencionados, porém, com uma importância menor.

Acredita-se que a incorporação de valores não indígenas, como por exemplo: “busca por trabalho” e “busca de educação para os filhos”, atuam diretamente nas “origens” do processo migratório do povo Sateré-Mawé”.

6 - Bibliografia

FREIRE, José Ribamar Bessa. A Escola e os Índios Urbanos. Jornal Diário do Amazonas 02/01/2005. Disponível na Internet.

http://www.taquiprati.com.br/apresenta-cronica.php3?cronica=cronica02-01-2005

FIGOLI, Leonardo H., 1982. Identidad Étnica y Regional: Trayecto Constitutivo de uma Identidad Social. [Dissertação de Mestrado apresentada na UnB]

FUNDO DE POPULAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. Sateré-Mawé – Retrato de um Povo Indígena. Manaus, 2005.

INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo Demográficos. Disponível em www.ibge.gov.br/ link SIDRA. Acesso em 15/02/2005.

LORENZ, Sônia. Sateré-Mawé: Os filhos do guaraná. São Paulo: Centro de Trabalho Indigenista, 1992.

MATOS, Maria do Socorro Pacó., 2003. O Olhar das Mulheres Sateré-Mawé sobre o Lixo. [Dissertação de Mestrado apresentada na UFAM]

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ROMANO, Jorge Osvaldo., 1982. Índios citaditos: o caso dos Sateré-Mawé proletariado. [Dissertação de Mestrado apresentada na UnB]

ROSHA, J. Indígenas nas áreas urbanas. Porantim (2000). Disponível na Internet. http://www.indio.org.br/003-Atualidades/Povos_ressurgidos.htm

TEIXEIRA, Pery. Estudo demográfico da população sateré-mawé residente em terras indígenas e em áreas urbanas. Trabalho apresentado no XIV Encontro Nacional de Estudos Populacionais, ABEP, realizado em Caxambu- MG- Brasil, de 20-24 de setembro de 2004.

TEIXEIRA, Pery. Metodologia de uma pesquisa censitária participativa realizada junto a uma comunidade indígena da Amazônia. Trabalho apresentado no I Congreso de la Asociación Latino-Americana de Población, ALAP, realizado em Caxambu- MG- Brasil, de 18-20 de setembro de 2004.

UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS, FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO, FUNDAÇÃO ESTADUAL DE POLÍTICA INDIGENISTA, SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO ESTADO DO AMAZONAS. Relatório Técnico do Diagnóstico

Sócio-DemográficoParticipativo da população Sateré-Mawé das áreas indígenas Andirá –Marau (Municípios de Barreirinha, Parintins e Maués) e Koatá-Laranjal (Município de Borba).

Referências

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