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Estado e soberania na era do know-ware

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Academic year: 2020

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E

s t a d o

e

s o b e r a n ia

n a

ERA DO KNOW-WARE

G ils o n S c h w a rtz

E

m oposição ao mundo velho onde importavam m ais o “hardware”ou o “software”, emerge uma economia de conhe­ cimento, “knowledge” ou “know- ware”. O traço mais visível dessa econom ia é ser in ten siva em tecnologia. O mais importante, entretanto, é menos vísivel. É uma transformação na ordem social e política: a form ação de redes através das quais a informação flu a livremente.

A d efinição d a estrutura de cla sse s e , portanto, do

esq ueleto d a so cied a d e

p a s sa ho je, m ais que nunca, pelo cam po simbólico.

N

o seu livro “The Work o f N ations” (“O Trabalho das Na­ ç õ es”, p u b lic a d o p o r V intage Books, New York, 1992), RobertB. Reich co loca em evid ência o surgimento da “rede global” (glo­ bal web). A rede é, aí, a miríade d e s c e n tra liz a d a de g ru p o s e su b g ru p o s eco n ô m ico s co ­ nectados por todo mundo. A so­ brevivência das empresas, nessa ordem de coisas, depende da sua capacidade de passar da produção de altos volumes para a produção de alto valor.

Os mercados tornaram-se cada vez mais extensos e diversificados, mas au m en taram tam bém a n eces­ s id a d e e a p o ssib ilid a d e de fragmentação. E num mundo de unidades produtivas fragmentadas o cu sto da sobrevivência é a capacidade de gerar produtos de alto valor. Assim, a fronteira do progresso econômico desloca-se da produção de aços para a de

especiais ou, num exem plo da indústria petroquímica, os maiores lucros estão na fabricação de produtos altamente diferenciados (química fina). Para chegar ao produto de alto valor é preciso diferenciá-lo da massificação típica da produção em grande escala. Os exem plos po deriam m u lti­ plicar-se. Reich refere-se a um mundo descrito por Stan Davis e Jim Botkin no último número da H arvard B usiness Review: o m undo em que as fronteiras do crescim en to eco n ô m ico são vencidas por negócios intensivos em conhecimento (“Knowledge- based business”). Um pneu que

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informa a pressão do ar interior ou roupas cuja temperatura se altera de acordo com as variações do a m b ien te já são exem plos primários dessa nova economia. A eco n o m ia em q u e ta n to para produzir como para consumir é preciso estar informado. O nde consumir é sinônimo de passar por um aprendizado, é ser educado. O alto valor é um resultado direto da

sofisticação dos produtos. Mas sofisticação não é sinônim o de luxo. É um a am pliação das fronteiras da utilidade, como na fralda que muda de cor quando fica molhada.

A informação e a educação fazem p a rte , p o rta n to , d o coração p u lsa n te da nova era de desenvolvim ento ind ustrial. É n ec e ssário ta n to gerar consumidores (criando emprego, estimulando a atividade produtiva) quanto gerar os meios para que eles sejam educados e informados. Educação e cultura são aspectos essenciais da economia em “rede g lo b a l”. São a chave da globalização atual e signo do capitalismo do século 21.

A empresa de alto valor não pode ser organizada como as antigas pirâmides: trabalho mecânico e em brutecido, repressão, hierar­ qu ias en o rm es e incontáveis exércitos de trabalhadores. Reich indica três grupos que agregam mais valor à empresa global: os

“problem-solvers” (resolução de problemas), “problem-identifier” (identificação de problem as) e “strategicbrokers” (intermediários estratégicos). Identificar e resolver problemas depende da construção de redes de comunicação cada vez mais ágeis e sofisticadas. O “team work” (trabalho em equipe) toma- se fu n d am en tal. As so lu çõ es estratég icas são en c o n tra d a s apenas m ediante um processo in te r-d e p a rta m e n ta l e in ter- disciplinar. Dependem, portanto, da operação de redes.

Km oposição ao mundo velho onde importavam mais o “hardw are” (infraestrutura) ou o “software” (form as p ad ro n iz ad as de o rganização), em erg e um a econom ia de co n h ec im e n to , “kn o w ledg e-w are” ou “know - ware”. O traço mais visível dessa econom ia é ser inten siv a em tecnologia. O mais im portante, entretanto, é menos visível. É uma transformação na ordem social e política: a form ação d e red es através das quais a informação flua livremente. Ou seja, em que não exista um centro fixo. O centro pode estarem qualquer. Nowhere (lugar nenhum ): o espaço é virtual e o que interessa é estar “on-line”, em “tempo-real”. Nesse contexto todas as direções são possíveis, se o organismo social tivera agilidade e a flexibilidades suficientes.

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ificilmente alguém poderá re d u z ir essa eco no m ia operando em redes de co­

nhecimento compartilhado a algo mecânico e determinado. Ao con­

trário, a sua operação depende com o n u n ca de fatores informacionais. Daí a relevância da política, que muita gente pensava abolida pela tecnologia. Fazer po­ lítica, por exemplo, industrial, é produzir informação relevante e consistente para a tomada de de­ cisões em presariais. Ao mundo global associa-se, portanto, uma nova economia política das redes. A nova o n d a de inovação tecnológica, talvez ao contrário das anteriores, coloca cm prim eiro p la n o um a rep o litização ou ressocialização dos processos econôm icos. A velha tem ática marxista da alienação do trabalho no processo produtivo precisa, portanto, de uma revisão extensa, fim co n tra p o n to às teorias do valor-trabalho e do valor-utilidade, abre-se cada vez mais o campo de uma teoria do valor-informação.1

A o rg a n iza ção social requer a m ultiplicação de instâncias terapêu ticas

^ ^ e s d e Freud abrem-se novas fronteiras que redimensionam o alcance da humanidade. O que há

de comum nas várias formulações e a multiplicação de instâncias te­ rapêuticas-. da conformação de po­ líticas industriais que passam pela constituição de câmaras setoriais à proliferação dos^wrwí de admi­ nistração inovadora e participativa nas organizações, passando pelas inúmeras teorias que examinam o u n iv erso das c u ltu ra s organizacionais e pela acumulação de Organizações Não-Governa- mentais (que praticamente defi­ nem um novo paradigma de orga­ nização da cidadania).

Trata-se de instâncias terapêuticas na medida em que a regulação do processo já não ocorre a partir de uma autoridade pressuposta ou im posta mas sim através da ren egociação p e rm a n e n te d e códigos e regras. Essa renegociação instaura comunidades lingüísticas a p are n ta d as à lógica da ação com unicativa d e fe n d id a p o r Ilaberm as, em c o n tra p o n to à lógica estritamente instrumental que caracterizou a fase anterior de desenvolvimento capitalista. Os processos de democratização têm sido especialmente relevantes na am pliação desses esp aço s de reprodução social.

1 Cf. Schwartz, G (1993), J.M. Keyncs c a Lógica da Política Econômica, tese de d outoram ento, Unicamp, mimeo, para uma discussão do cam po simbólico na teoria eco­ nômica. especialm ente para a consideração das políticas econômicas com o exem plos próxim os ao q u e Wittgenstein entendia p o r “jogos de linguagem".__________________

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As questões do Estado e da so b e ra n ia devem ser resposta n esse contexto de g lo b alixação e

in fo rm atização terapêutica

A s regulações de Estado conhe­ cidas nas últimas décadas foram: - welfare system

- substituição de importações - regulação financeira

Esses elem entos do sistema de regulação econôm ica, vigentes desde o pós-guerra, estão todos em crise. As novas políticas de Es­ tado devem passar pelo reconhe­ cimento e percepção progressivos d o novo p arad ig m a o rg a n i­ zacional do tipo “Know-ware”. Isso inclui grande prioridade a políticas de informação, educação, renda mínima, políticas industri­ ais setoriais e regulamentação fi­ nanceira. Cada um desses tópicos c o m p o rta ria ex ten sa análise, inviável nesses espaço. É oportu­ no, entretanto, sublinhar a impor­ tância que ainda terão as novas regulações de Estado, mais flexí­ veis e internacionalizadas. Em es­ pecial, o coração macro-econômi- co desse novo modelo passa pelo redesenho dos sistemas fiscais. Finalmente, é óbvio que muito dessas avaliações carregam um c e rto ar fu tu r is ta ou m esm o especulativo. Parecem definições

muito abstratas, convivendo com um sistema (não apenas no Brasil) mergulhado em desequilíbrios de toda ordem (monetários, cambiais, financeiros, produtivos, sociais etc.). Como sempre, a fronteira entre o velho e novo não é precisa.

Resumen

ESTADO Y SOBERANÍA EN LA ERA DEL KNOW-WARE

En oposición al mundo viejo donde importaban más cl "hardware” o el "software”, emerge una economia de conocimento, "knowledge” o "know-ware”. El rasgo más visible de esa economia es ser intensiva en tecnologia. Lo más importante, sin embargo, es menos visible. Es un cambio en el orden social y político: la formación de redes a través de las cuales la inform ación fluya libremente.

Abstract

STATE AND SOVEREIGNTY IN THE KNOW-WARE ERA

In oppositon to the the past, when "hardware" or "software" were given more im portance, an econom y based on knowledge is rising. It is the “know-ware era”, o r simply “knowledge era”. The strongest characteristic of this economy is that it is intense in tecnology issues.

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Ilowever, what is more important is not a vcry strong characteristic. It is the changc in social and political order: the constitution of nets through which information can flow freely.

Gilson Schwartz é professor do Instituto de Economia da Uni­ versidade Estadual de Campi­ nas.

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