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PE-MIGUELETGESRODRIGUES
ANDANTE,CAMINHANTE,PASSANTE,PEDESTRE
ENSAIOFOTOGRÁFICODEPASSAGEIROSURBANOS
R696Rodrigues,MiguelEtges
Andante,caminhante,passante,pedestreensaiofotográ-ficodepassageirosurbanos/MiguelEtgesRodrigues–2009.
80p.:37il.;20x20cm Bibliografia:p.78-79
Dissertação (mestrado) – Universidade do Estado de SantaCatarina,CentrodeArtes,ProgramadePós-Graduação emArtesVisuais,Florianópolis,2009.
Orientadora:CéliaMariaAntonacciRamos
1. Urbanização – Florianópolis (SC) 2. Fotografia. – 3. Impressionismo (Arte). I. Rramos, Célia Maria Antonacci II. UniversidadedoEstadodeSantaCatarina.MestradoemArtes Visuais.III.Título.
UNIVESIDADEDOESTADODESANTACATARINA–UDESC
CENTRODEARTES–CEART
PROGRAMADEPÓS-GRADUAÇÃOEMARTESVISUAIS
MIGUELETGESRODRIGUES
ANDANTE,CAMINHANTE,PASSANTE,PEDESTRE
ENSAIOFOTOGRÁFICODEPASSAGEIROSURBANOS
DissertaçãodeMestradoelaboradajuntoaoPrograma dePós-GraduaçãoemArtesVisuaisdoCEART/UDESC, paraobtençãodotítulodeMestreemArtesVisuais.
Orientadora:Profª.Drª.CéliaMariaAntonacciRamos
MIGUELETGESRODRIGUES
ANDANTE,CAMINHANTE,PASSANTE,PEDESTRE
ENSAIOFOTOGRÁFICODEPASSAGEIROSURBANOS
Dissertação de Mestrado elaborada junto ao Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais do CEART/UDESC, paraobtençãodotítulodeMestreemArtesVisuais,nalinhadepesquisadeProcessosArtísticosContemporâneos.
BancaExaminadora:
Orientador: ____________________________________
Profª.Drª.CéliaMariaAntonacciRamos
PPGAV-UDESC
Membro: ____________________________________
Profª.Drª.NeliKlixFreitas
PPGAV-UDESC
Membro: ____________________________________
Profª.Drª.MariaIvonedosSantos
PPGAV-UFRGS
AgrAdecimentos
AgradeçoaUniversidadedoEstadodeSantaCatarina,porcorroboraraimportânciadoEnsino Públicoedequalidade.
AoProgramadePós-GraduaçãoemArtesVisuais-MestradodoCentrodeArtes,pelaoportuni-dadeconcedida.
ÀProfª.CéliaMariaAntonacciRamosportodaadedicaçãoecompetênciacomoprofessoraOrien-tadoracontribuindoeincentivandoaconstruçãodestapesquisa.
AoProf.BorisKossoyeProfª.NeliKlixFreitas,professoresdabancaexaminadorapelasconside-raçõesecontribuiçõesàpesquisa.
Oprocessodecriaçãodofotógrafoenglobaaaventura estética,culturaletécnicaqueiráoriginararepresen-taçãofotográfica,tornarmaterialaimagemfugazdas coisasdomundo,torná-la,enfimumdocumento.
sUmÁrio
resUmo... 15
ABstrAct... 17
introdUÇÃo...19
1. oesPAÇodAcidAdenosnoVostemPos...27
2. ArteerePresentAÇÃodAcidAde moneteosimpressionistas–pinturaluz... 43
2.1 FotogrAFiA realidadeimaginada...47
3. PAssAgeirosUrBAnos...61
notAs...77
15
o
sprojetosdeurbanizaçãodosgrandescentros urbanosdofimdoséculoXIXeiníciodoXXcon-dicionaramnovasmaneirasdeocupaçãodoespaço urbano para seus habitantes. Com isso, o presente trabalho tem como objetivo realizar um estudo fo-tográficodofluxodetranseuntesnoespaçourbano selecionadoparaessetrabalho–afaixadesegurança parapedestresemdireçãoaoTerminaldeTranspor- teUrbano-TICENouaocentrodacidadedeFloria-nópolis.Paraisso,utilizou-seaestéticadesequência fotográficademúltiplasexposiçõesemanalogiaaos borrõespictóricosutilizadoscomorepresentaçãoda figurahumanapelaescoladepinturaimpressionista. Comessatécnicadepintura,osartistasiniciam um possível processo de denúncia do apagamento dafigurahumanaperanteasproporçõesdasnovas configurações do espaço urbano. As sequências fo-tográficas,apresentadasnessetrabalho,possuemo propósitoderepresentardemaneiracontemporânea esseapagamentodotranseuntenoespaçoselecio-nadodacidadeatravésdatransparênciaproduzida pelas sequências de quadros fotográficos justapos-tos.Essajustaposiçãodeimagenstambémsugerea sobreposiçãoderealidadeseochoquedeindivíduos notempofotográfico.Apósreferenciarosartistasim-pressionistas,utilizooutrosartistasquelançammão dométodopictóricooufotográficopararepresentar oespaçourbano.Vistoquesuasobrasauxiliaramna ampliaçãodapercepçãoeconstruçãodofazerfoto-gráficosobreosfluxosdepedestresdoemaranhado deviasdacidade.17
t
heurbanprojetctsforlargeurbancentersatthe endofthenineteenthcenturyandbeginningof XXconditionednewwaysfortheoccupationofurban spaceforitsinhabitants.Thisworkaimstoconducta photographicstudyoftheflowofpedestrianinthe urban area selected for this work ñ the crosswalk towards to Urban Transport Terminal (TICEN) or to downtown of Florianopolis city. For this, we used the multiple exposures of photographic sequence aestheticasananalogytoblotsthatwasusedasa pictorialrepresentationofthehumanfigurebythe impressionistschoolofpainting.With this technique, the artists began a possible process to reveal the erasement of the human figureinthepresenceoftheproportionsofthenew configurations for urban space. The photographic sequences, presented in this work, have as aim to represent, in a contemporary way, this erasement of the pedestrian into the selected area of the city through the transparency generated by the sequence of photographic frames superimposed. This superimposition of images also suggests the overlappingofrealitiesandimpactofindividualsin thephotographytime.Aftermakereferencetothe Impressionist artists, I use other artists that take
advantage of the pictorial or photografic method to represent the urban space. Therefore their works helped in the broand of the perception and construction“tomakephoto”aboutthepedestrian flowonthetangleofcityroads.
The present study is divided into three chapters, thefirstonehasthecityasitsmaintopic,exposing theurbanplanningfromthemiddleofnineteenth centuryandbeginningofXX,inEurope,throughits applicationsinBraziluntiltoreachattheFlorianopolis city. The second chapter is concerned about the representing art of the city from the impressionist schoolofpaintersaswellassomeartistsworksthat use the sequential photography to express their urban spaces representations. The third chapter presents the photographic series produced in the studyarea.Wecansee,onthem,thesuperpositionof thephotographicframes,thepedestrianmovement, the change of time and convergence of different realitiesintheimagestransparence.
KEYWORDS
Photograhy;UrbanFlow;City;Impressionism.
19
o
fazerfotográfico,nãoapenascomoumregis-trodocumental,jornalísticooudememórias paraálbunsdefamília,mascomopesquisaestéti- cadasgrandesaglomeraçõesdepessoasnascida-des contemporâneas instigam meu interesse em realizarestetrabalho.No decorrer dos anos que comecei a fotografar, meumétododetrabalhoconsistiaemrealizaruma
provadecontato1dofilmefotográficoapósrealizar todasasfotospretendidas.Comonaprovadecontato asimagensnegativasdofilmefotográficoaparecem deformapositivaenaordememqueforamprodu-zidas,pudeobservarqueasimagensqueformavam sequênciasdespertavamaminhaatençãoeaumen-tavamaminhapercepçãodoelementofotografado. Comotempo,cadavezmaissentiaanecessidadede buscartaisimagens.Porfim,aestéticapreferidapas-souaseressadeproduzirimagenscomnarrativas sequenciais.Aintençãoeraabarcaremmaisdeum quadroodesenrolardoacontecimentoquesedesdo-bravanoespaçoaomeuredor. Em2003,morandoemSãoPaulo,realizeiospri-meirosensaiosfotográficossequênciaisdocotidiano UrbanodeSãoPaulo.Omeucotidiano,a“impressão de solidão”, tornou-se a minha temática. Grandes
20 Andante,Caminhante,Passante,Pedestre–EnsaioFotográficodePassageirosUrbanos
21
introdução
fotográfico desse fluxo produzido pelo habitante-passante intrinseco à cidade, sujeito que habita a cidade contemporânea. Para isso, fez-se necessário uma contextualização da cidade contemporânea e suastransformaçõesestéticasapartirdosnovospla-nejamentosurbanos.
Assim, parti em busca de um entendimento maiorsobreascidadescontemporâneaseàrelação deseushabitantescomelas;quaissãoaspolíticas públicaspriorizadasecomoelasalteramàestética dacidade,equalseriaapoéticamaisadequada,a partirdatécnicafotográfica,pararegistrarasalte-raçõesdosgrandesdeslocamentosdaspessoasno espaço urbano. Então, tinha os deslocamentos ur-banos como tema de representação e a fotografia sequencialjustapostacomoestética.Faltavadefinir ametodologiaparainformarmaisprecisamentea narratividadedesejada.
Essaestéticadefotografiasequencialedesobre-posições ou borrões que sugerem movimento já foi testadaporoutrosartistasnoséculoXX,especialmen- teDuaneMichals.Antesdeles,ahistóriadaarteregis-tracomposiçõesdeimagenscomestéticasequenciale justapostadesdeoperíododapré-história. Em2006,morandonoJapão,trabalheinaFujifilm, nosetordemontagemdecâmerasdigitaisparace- lulares.Nessaocasião,percebiqueascâmerasdigi-tais popularizam e democratizam as imagens, mas tambémasmassificam.Assim,aprofusãodecâme- rasdigitais,especialmenteacopladasacelulares,dis-poníveisatodoseatodahora,mefezpensarnessa massificaçãodaestéticafotográficaemeinduziua pensaremoutrasestéticasdofazerfotográfico. DevoltadoJapão,ingresseinoMestradoemAr- tesVisuaiscomvistasadesenvolverumensaiofoto- gráficosobreumpontodeaglomeraçãourbanacon-temporânea,masseguidodeumareflexãoteórica,a fimdequenãosepercanemmeuobjetoenemmeu objetivoemmeioaoscolecionismoscaseirosvendi-dos ou esqueciobjetivoemmeioaoscolecionismoscaseirosvendi-dos como “fantasmas da memória, sempassadoesemfuturo”,comobemdefineKossoy (2002,p.129),arespeitodefotosdesconhecidasejo-gadas ao acaso nas feiras populares. Completando nassuaspalavras,
A fotografia conecta-se com a realidade primeira que a gerou em algum lugar e época. Porém per-dendo-seosdadossobreaquelepassado,oumelhor, nãoexistindoinformaçõesacercadoreferenteque aoriginou,oquemaisresta?Umaimagemperdi-da,semidentificação,semidentidade…semhistória. (KOSSOY,2002,p.129).
tenoaparelhofotográfico,produzindoumasequên-22 Andante,Caminhante,Passante,Pedestre–EnsaioFotográficodePassageirosUrbanos
ciadeimagenssobrepostas,quelembreasobreposi-çãodaspessoasnosaglomeradosurbanos.Intento, assim,umafotografiadocumentaldeumasituação urbana de Florianópolis, mas com valores estéticos mais próximos das propostas nas Artes Visuaisdo quedasdocumentaristas.
Afotografiatemumdestinoduplo…Elaéfilhado mundo do aparente, do instante vivido, e como talguardarásemprealgododocumentohistóri-cooucentíficosobreele;maselaétambémfilha doretângulo,umprodutodasbelas-artes,oqual requeropreenchimentoagradávelouharmonio-sodoespaçocommanchasempretoebrancoou emcores.Nestesentido,afotografiaterásempre umpénocampodasartesgráficasenuncaserá suscetível de escapar deste fato. (BRASSAÏ apud KOSSOY,2001,p.48). EKossoy(2001,p.49).completa: Afotografia,porserummeiodeexpressãoindividual, sempreseprestouaincursõespuramenteestéticas; aimaginaçãocriadoraépoisinerenteaessaforma deexpressão;nãopodeserentendidaapenascomo registrodarealidadeditafactual.Adeformaçãoin-tencional dos assuntos através da possibilidade de efeitosópticosequímicos,assimcomoaabstração, montagemealteraçãovisualdaordemnaturaldas coisas,acriaçãoenfimdenovasrealidadestêmsido exploradasconstantementepelosfotógrafos.Nesse sentido, o assunto teatralmente construído segun-doumapropostadramática,psicológica,surrealista, romântica,política,caricaturescaetc.,emborafruto doimagináriodoautor,nãodeixadeserumvisível fotográfico captado de uma realidade imaginada.
Seurespectivoregistrovisualdocumentaaatividade criativadoautor,alémdeser,emsimesmo,umama-nifestaçãodearte. Paratestarqualtécnicamaisseadequavaàesté-ticaqueimaginava,utilizeitrêsmodelosdecâmeras fotográficas.Umadelas,omodelodigital SonyDSC-S40Compacta2 ,maiscomumenteutilizadaparare- gistraros“momentosdefamília”ouinstantescole-cionáveisdavidacotidiana.Outracâmeratestadafoi umadigitalSlR3CanonEOSRebelXSi.E,umaterceira, selecionadaparaoensaiofotográficoqueapresento nestadissertação,foiacâmeraanalógicaHolgade filmefotográficoformato120(6x6cm),quesegueo mesmoprincípiodaSlR,entretanto,suaoperaçãoé totalmentemanual.
23
introdução
SeguindoométododeMonetemseuestudoso-breACatedraldeRouenem1893,naFrança,quando oartistapesquisouaincidênciadaluzdosolsobre osobjetoseaalteraçãodacoremrelaçãoàluzsolar sobreummesmoobjetoemdiferenteshorasdodia, naminhaproduçãodesériesfotográficasjustapos-tas,pretendoverificarcomoamassadetranseuntes influenciaesteticamentenoespaçourbanodeuma grandecidadedeacordocomasuaocupaçãoecircu-laçãoemdiferenteshorasediasdasemana. AlémdaspesquisasdeMonet,osimpressionistas aosairemdeseusateliêscomeçaramapercebernão sóosefeitosdaluznasarquiteturas,objetosounatu-reza,mastambémacirculaçãodepessoasnasruas epraças.Sãoelesosprimeirosquevãoretrataroho-memcomoumpersonagemanônimo,otranseunte. Otranseunteocupaoespaçoquelheénecessário emseucotidianocommovimentosdeirevirrepeti-tivos,segundosuasnecessidadesdesedeslocarna cidadeparatrabalhar,flanarousedivertir,massujei-toaosplanejamentosurbanosqueestipulamasvias deacessoaoslocaiseaostransportesurbanos.Ain- tençãoserárepresentaremsériesfotográficasjusta-postasodesenrolardessesdeslocamentose,assim, analisarerefletirsobreosmeandrosdeumespaço urbanocontemporâneoemdiferentesdiasehoras. Observandoosplanejamentosurbanosrecentesda cidadedeFlorianópolis,percebiqueafaixadepedestres daAv.PauloFontes,nocentro,próximoaoMercadoMu-nicipal,quedáacessoaoTerminaldeIntegraçãoCentro –TICEN–construídocomopartedoprojetodeSistema IntegradodeTransporte–SIT,realizadopelaprefeitura em2003,provocouumatransformaçãoestéticanesse pontodacidade,devidoàmassadepessoasapressadas quecruzaessaavenidaemdireçãoaoTICEN. Comointeressenoambiente,passeianotarque alémdemostrarapenasumrecortedoreal,gosta-riadeampliaracaptaçãodoespaço-acontecimento.
24 Andante,Caminhante,Passante,Pedestre–EnsaioFotográficodePassageirosUrbanos
Afotografiacega,recursoqueutilizocomométo-dodeproduçãofotográfica,nãoéumrecursonovo,o fotógrafoClóvisloureiroJr.eocineastaWinWenders emOCéudeLisboa (1995)jáutilizavamtécnicassimi- lares.Analisandoostrabalhosdessesartistas,pode-mosobservarqueorecursodafotografiacegapode serumdesejodelibertaropróprioolhar. Nãopretendocomestetrabalhofazerreconhecer osindivíduosregistradosecadaumadesuasparticu- laridadesesimasparticularidadesdeseumovimen-tofluído;umatentativadeapresentarosindivíduos emviasdedesapariçãonamultidãoenasestruturas dourbano.Tambémnãoentrevistareiaspessoas.Não interessaparaesteestudoavidaprivadadaspesso-as,deondeelasvêmeparaondevãoouoquefazem ao se conduzirem ao centro ou aos bairros. Estarei representando esses indivíduos que são para mim, etalveztambémparaacidade,anônimosurbanos, umamassadeindivíduos,aindaquepartesforma-dorasdacidadecomo“organismovivo”,definiçãojá observadaporMiltonSantos(2002,p.24).
Meupontodepartidafoirevisitaramaneirade representação dos pintores impressionistas e sua pintura-luz relacionada à teoria científica da cor e dainvensãodaluzelétricaeseusefeitosnacidade. Emoutraspalavras,comoosestudosdafísicaeda engenhariapropiciaramnovasconfiguraçõesàcida-de,provocaramumrepensarurbanísticoparaelas,e comoessasmudançasinstigaramosartistasanovas eousadasexperiênciasestéticas.
Sevcenko (2001), em seu livroLiteratura como Missão,salientaqueapartirdaRevoluçãoIndustrial surgemnovasformasdelidarcomavidacotidiana emumametrópole.Aacerelaçãodavidanacidade proporciona o aguçamento das percepções senso-riaisforçandoossentidosdohomemaestabelecer nexosimediatoscomosfluxosurbanosesistemas deenergiaelétrica.Então,apercepçãosensorialde um novo mundo, mais dinâmico e visual, aumenta aexperiênciaacumuladadohomemedesenvolvea suaimaginação.ParaVygotsky(2003,p.17),“Quanto maisricaéaexperiênciahumana,tantomaiorseráo materialquedispõesuaimaginação”. Paraumamaiorcompreensãodomeuobjetode estudo,discorronoprimeirocapítulo–oespaçoda cidadenosnovostempos –,sobreacidadecontem- porâneaapartirdosprojetosdeplanejamentourba-noque,segundoCardoso,ocorremcompretensões deumsaberintelectual,científico.ParaCardosoapud lima(2007,p.42),
(…) a cidade, nessa abordagem, deixa de ser pensada comofrutodahistóriapropriamentehumana,epassa a ser vista de um olhar evolucionista e naturalizador, privilegiando-seaspectosfísicosetrocasdeenergia(…).
acidadedeParis,em1853,peloentãoprefeitodes-25
introdução
sa cidade, o Barão haussmann, durante o reinado deNapoleãoIII,eseusdesdobramentosnoBrasil,a partirdaReformaPassos,propostapeloBarãoPereira Passos,prefeitodacidadedoRiodeJaneiro,comfins deordenaressacidadenoiníciodoséculoXX.Eas subsequentes propostas de zoneamento debatidas noCongressodeAthenas,1933,queteveleCorbusier comoumgrandelíder,equeforamessastambémin- corporadasaosplanejamentosdascidadesbrasilei-ras.Analisoasrepercusõesdessesprojetosàsnossas cidades,comdestaqueparaFlorianópolis,emespe-cialnomaisrecenteplanejamentourbano,quando dacriaçãodoespaçopesquisadoparaestetrabalho, o cruzamento de acesso ao terminal de transporte urbanoviário–TICEN.
Nosegundocapítulo,arteerepresentaçãoda
cidade,subdivididoem
fotografia:realidadeima-ginada
,exemplifico,apartirdaexperiênciadopin- torimpressionistaMonet,artistasquesepreocupa-ramcomatemáticadacidadeesuasestéticaspara representá-laatravésdemétodospictóricosoufo- tográficos,salientandoofotógrafojáanteriormen-tecitado,DuaneMichals.Essasreferênciasservem como auxilio para ampliar a minha percepção fo- tográficadofluxodamultidãoemmeioaosmean- drosurbanos.Comoauxiliodessareflexãofotográ-fica,algunstextosdepensadoresepesquisadores sobrecidadeefotografiasãodegrandevaliapara aconsolidaçãodotrabalho.Nasreflexõessobreci-dadecitoWalterBenjamim,MiltonSantoseNelson Brissac,esobreatécnicaeaestéticadafotografia citoPhilippeDubois,SusanSontageBorisKossoy. OstextosefotografiasdeKossoynosauxiliamna compreensãodaestéticafotográfica,mastambém sua obra literária nos apresenta uma importante documentaçãosobreasalteraçõesurbanísticasda cidadedeSãoPaulo,noiníciodoséculo,especial-mente o livroSão Paulo, 1900, onde encontramos umaanálisedaobradofotógrafosuíçoGuilherme Gaensly,quedocumentouessacidadenoiníciodo século,períododaimplantaçãodosprojetosurba-nísticosdeinteressedestapesquisa.
26 Andante,Caminhante,Passante,Pedestre–EnsaioFotográficodePassageirosUrbanos acidadeesuarelaçãocomosfixosefluxosurbanos constituintesdagrandecidade,easnovasformasde olharparaessarelação. Nacompreensãodafotografiatranscodificadaem conceitoseimagens,pontosdevistamaistécnicos, estilísticosehistóricosabordoconceitosdofotógrafo epesquisadorBorisKossoy,jáanteriormentecitado.
Esses conceitos contracenam com a visão de ci-dadedeWalterBenjamineincentivamaprodução deimagensnarrativascomofazoartistafotográfico DuaneMichalsemsuassériesfotográficasquedes- pertamaimaginaçãodoobservadoretentamtrans-mitirvaloresalémdosvisíveis. Fotografarparamimtornou-seumabuscadeima-genspróximasaomeucotidiano.Amaneiradecompor minhaspercepçõesdosambientesvividos.Abuscade taisimagensnãopartedocolecionismodeimagense simdeinserirrecortesecaptaçõesvariadaseinstantâ-neasdedeterminadosmomentosdemeucotidiano. Acreditoqueessemeupensamentovisualasse-melha-seaodeCézanneapudAumont(2002,p.235), transposto para o suporte fotográfico, quando diz: “aumentarospontosdevistadiferentessobreomes-mosujeitonointeriordeumúnicoquadro”.Assim comoMonetrealizouacapturadainstantaneidade emvariaçõessobreomesmotema,tentareiampliar a percepção do ponto de vista sobre uma mesma açãoemmaisdeumacenafotográficasobomesmo enquadramento.
Nessaperspectiva,apresentonoterceirocapítulo
–passageirosurbanos
–asériefotográficapesqui- sadaparaestetrabalho,demodoqueasminhasfo- tografiasnarremopercursodapesquisa.Nelapode-mosverificartantoodeslocamentodostranseuntes, quantoavariaçãodotempo;domesmomodopode-mosverificarpeloefeitodasmultiplasexposições,a justaposiçãoderealidadesedefatosocorrendoem um mesmo instante dentro de um mesmo espaço. Nas palavras de Boris Kossoy (informação verbal), “umaconvergênciadedistintasrealidades.”5
27
N
o artigoPolíticas e Poéticas das transgressões urbanas, CeliaAntonacci(2006,p.54),assimde-fineacidade,Ao longo dos anos, a cidade vai se organizando como um espaço semiótico, de produção, armaze- namento,consumoetrocadeinformaçõeseservi-çosfundadosnaarbitrariedadedesuasignificação. Também o lugar, o território da cidade, é produto dessasignificaçãoarbitrária.Dessaforma,oespaço dacidadeéumcampodeluta,defantasia,dedomi-naçãoedeapropriação;mastambémdeviolência simbólica e material. O território da cidade não é apenasreceptor,maséessencialmenteator,como enfatizaMiltonSantos. Ahumanidadetendeaseaglomeraremespaços específicosdoglobo,aviverumagrandemisturahu- manaeénacidadequeesseprocessovemseacen-tuando.Osavançosdamedicinaedasengenharias viabilizamumavidaemmultidõeseamodificação daescaladacidade.Fixosnovos,maisimponentes ecomoutrassimbologiaseserventiasprovocamo aumentoeocontroledosfluxosurbanos,tantode pessoasquantodeveículoseexigemdasautorida-des novos planejamentos urbanos, e das pessoas, novasformasdeviveracidade.
Com o desenvolvimento do transporte terrestre, aéreo e marítimo, o mundo torna-se cosmopolita, ninguémmaispertenceaumsólugarenemtampou-copermaneceemumlugarfixo,quersejanaescala dacidadequantodoglobo.Comisso,oséculoXIXé operíododahistóriaemqueascidadesassumemdi-mensõesmonumentaisecomeçamaexigirsoluções rápidaseeficientesquefacilitemodeslocamentodas pessoas,mastambémnormatizeessedeslocamento e controle a presença das pessoas no meio urbano. ComodizCéliaRamos(2009),entraemcenanascida-desocientificismoiluministaondetudotemqueser previsível,eosplanejamentospassamaapresentar uma racionalidade com vistas a favorecer o capita- lismoaceleradoemuitasvezessemconsideraroele-mentoprincipaldacidade,oserhumano,queacaba mudandotambémsuamaneiradeestarnacidade.
Ahistóriaassinalaqueopontodepartidaparao processodedesumanizaçãodoindivíduonagrande cidadeéaaçãochamadadehaussmanização .Ideali-zadoduranteoimpériodeNapoleãoIIIeexecutado peloBarãohaussmann,entãoprefeitodacidade,no anode1853,esseprojetofoiintensamenteexecuta-dopordezesseteanos.
28 oespaçodacidadenosnovostempos
Antesdosprojetosdehaussmann,Parismanti-nha características de uma cidade medieval, com pequenasvielas,casascontínuasecirculaçãodepe-destres,oquefacilitavaoencontrodaspessoas.Com odiscursodesanearacidadeemanteraordempú- manteraordempú-blica evitando possíveis barricadas, haussmman propos a abertura de grandes e largas avenidas e obras pensadas para suportar décadas de cresci-mentopopulacional, alémdepossibilitaraconstru-çãodeedifíciospúblicosqueatendessemàsnovas demandasdoEstado.
Comseuplanejamentopara(re)modelarParis,ou seja,daraelaumnovomodelo,oquehaussmann construiu foi um novo sistema de classes sociais, surgindoassim,umacenatípicaparase(re)tratar– reproduzirumanovaimagem,pormeiododesenho oudafotografia–,anovacidadecomacoexistência de classes, que pareciam nunca se encontrar. Clark (2004)nosmostraqueacidadetornou-setãoimen-saqueopedestrealcançamenosimportância. Oprojetourbanísticodehaussmann(re)configu- rouaestruturafísicadacidadedePariscontemporâ-neaeserviudemodeloparaasdemaismetrópoles daépoca,determinandoosplanejamentosdequase todasascidadescontemporâneas.
Com esse tipo de planejamento, especialmente nasgrandescidades,oindivíduodeixadeexistirem favordasmassas.Nessemomentodahistória,atra-
vésdoprocessodenormatizaçãoimpostopelaad-ministraçãonapoleônica,oserhumanopassaaser identificado como um número obrigatório. Casas e pessoasforamsubmetidasaumcadastramentopara facilitarsuaidentificação.(BENJAMIN,1989).
Essa normatização possibilitava a identificação dosdomicílios,portanto,oestrangulamentodavida civil.OqueBenjamin(1989)notaemseulivrosobre Baudelaireéqueoesforçodeidentificaçãodasresi- dênciasedaspessoasatravésdasequencialidadenu-méricaocasionaodesaparecimentodoserhumano nasmassasdascidadesgrandes. Comisso,Baudelai-re,paraescapardeseuscredores,passaa“vaguear pelacidade,quehámuitojánãoeraapátriadoflâ-neur.”(BENJAMIN,1989,p.44).
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ambienteurbanojáquenessatransiçãonãohámais oritmodapenumbra.Surgeassim,todaumanova concepçãodehabitaracidadeenelasedeslocar.
Entretanto, foi a partir da década de 1950, no pós-guerra,queseintensificaosurgimentodosmo-vimentos urbanos e nota-se na imagem da cidade anoçãodeserialidadedeumasociedadedemassa. Nessa década, nas imagens fotográficas podemos
notar a temática de segmentação profissional dos usuáriosurbanoseasnovasedificações,provocando anoçãodevalorizaçãoeacumulodebens.Nasfo-tografiasdopós-guerra,oshomens,oscidadãos,são apresentadoscomomultidõesemmovimento,sím-bolodoprogressodacidademoderna.Aspessoassão vistascomoblocosquesedeslocameaforçavisual que essa massa apresenta é salientada pela vesti-mentadaépoca,oterno,acaracterísticadohomem ematividade.(lIMA,1997).Eupoucasvezesviameu avôsemseuternomarrom,somenteaosdomingos ounocafédamanhã.
Era um processo homogenizador com ideais de trabalhoeprogresso.Oserhumanoéretratadonas imagensemestadodetransiçãoeacidadepassade mercadoamercadoria.
hoje,acidadeéumespaçodeumahumanidade misturadaquetransitapeloslabirintosdacidadepor diferentesmotivaçõesounecessidades.
A grande cidade é um fixo enorme cruzado por fluxos enormes (homens, produtos, mercadorias, ordens,idéias...),diversosemvolume,intensidade, ritmo, duração e sentido. Aliás, as cidades se dis-tinguem uma das outras por esses fixos e fluxos. Mudá-los é mudar a sua própria significação para osprópriosmoradores,segundoasclassessociais. (MIlTONSANTOS,2002,p.124).
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nhamqueseporemmovimento,deslocar-senoes-paço,porentreasruasdacidade,percorrerosfixose traçarfluxos.ParaSingerapudDeSá(2001,p.116),
A modernidade implicou um mundo fenomenal – especificamente urbano – que era marcadamente maisrápido,caótico,fragmentadoedesorientador doqueasfasesanterioresdaculturahumana.Em meioàturbulênciasemprecedentesdotráfego,ba-rulho,painéis,sinaisdetrânsito,multidõesquese acotovelam,vitrineseanúnciosdacidadegrande,o indivíduodefrontou-secomumanovaintensidade deestimulaçãosensorial.Ametrópolesujeitouoin-divíduoaumbombardeiodeimpressões,choques esobressaltos.Oritmodevidatambémsetornou mais frenético acelerado pelas novas formas de transporterápido,peloshoráriosprementesdoca- pitalismomodernoepelavelocidadesempreacele-radadalinhademontagem. SegundoDeSá(2001),paraBenjaminoqueos desenvolvimentostecnológicosdísparestaiscomo aluzelétrica,otelefone,osautomóveis,ocinemae afotografiatêmemcomuméaproduçãodeuma violenta reestruturação da percepção e da intera-ção humana – a experiência do choque, do risco corporaledoinstante. Essasexperiênciasvividasapartirdasnovastec-nologiasdesenvolvidasprincipalmentenametadedo séculoXIXmarcameconsolidamaculturademassa comatecnologiadereprodutibilidade.Aesserespei-to,Benjaminobservaatecnologiadocinemacomo umexemplo.DizBenjamin(1994,p.192),
O cinema é a forma de arte correspondente aos perigos existenciais mais intensos com os quais se confrontaohomemcontemporâneo.Elecorresponde ametamorfosesprofundasdoaparelhoperceptivo, comoasqueexperimentamopassante,numaescala individual,quandoenfrentaotráfico. Tambémimportanteobservaçãoencontramosno poetaEdgardAllanPoe,quandoemseuromancepo-licialOHomemdaMultidão ,mostraaperdadaindivi-dualizaçãodohomemnamultidãometrópolitanana frase:“ondeninguéméparaooutronemtotalmente nítidonemtotalmenteopaco”.(POEapudBENJAMIN, 1989,p.46),istoé,todossetornamsuspeitosname-didaemquenãopodemosidentificá-los. ContinuandocomEdgardAllanPoe,emsuades-criçãodamultidãolondrinanaquelaépoca,elediz, Amaioriadosquepassavampareciagentesatis-feitaconsigomesma,ecomosdoispésnochão. Pareciam apenas pensar em abrir caminho atra-vés da multidão. Se recebiam um encontrão de outros transeuntes, não se mostravam mais irri-tados; ajeitavam a roupa e seguiam apressados. Outros,falavamconsigomesmosegesticulavam, como se se sentissem sozinhos exatamente por causadaincontávelmultidãoaoseuredor.(POE apudBENJAMIN,1989,p.48).
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nea.Entretanto,hojeamultidãocitadinapossuium ritmoaindamaisvelozeseusolharestendemaoin-finito.Omovimentocontínuodosindivíduossóvem aserinterrompidoquandoháoencontroentreoutra multidão em sentido contrário, esse embate pode serobservadonoespaçodetrânsitoestudadoeserá apresentadonoterceirocapítulo. EmVictorhugo,amultidãoaoaglomerar-senas ruaspermaneceabstrataindependentedesuaclasse social,jáBenjamimressaltaqueamultidãoocultao quehádemaistemidonaaglomeraçãodepessoas, “amassificaçãodosindivíduospormeiodoacasode seus interesses privados.” (BENJAMIN, 1989, p. 58). Dessemodo,areuniãodepessoasnomeiourbano, comobjetivocomum,podetransformaramultidão emumaformaindefinida,emmassa.
AreformaurbanistadeParis,aformacomoela foi desenvolvida, bem como seus objetivos, servi-ramdemodeloparaoscentrosurbanosocidentais edascolôniaseuropéias.OBrasilsegueosmoldes parisiense.Porexemplo,acidadedoRiodeJaneiro, conhecida como “Paris dos Trópicos”, passou pelo mesmoprocessodeurbanizaçãoaquefoisubmeti-daParisparaassemelhar-seaosideaiseuropeusde constituiçãourbana.“Acidadevelha,feiaesuja,tem os seus dias contados”, escreveu Olavo Bilac apud Sevcenko(1999,p.30),poisnãotraziaincentivoaos investimentoseuropeus.Oprogressosignificavaso-
menteumacoisa:alinhar-secomospadrõeseorit-modaeconomiaeuropéia.Aremodelaçãodacidade doRiodeJaneiroeranecessáriaparaporfimaima-gem de insalubridade e insegurança que oferecia, “prontaparaarmarembarricadasasvielasestrei-tasdocentroaosomdoprimeirogritodemotim.” (SEVCENKO,1999,p.29).
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Mas, enquanto em Paris alguns moradores conse-guirampermanecernoespaçodesuasantigascasas ealicontinuarprestandoseusserviços,noRiodeJa-neiro,osmoradoresocuparamosmorrospróximos aocentrodacidade,formandoasprimeirasfavelas. (SChETINO,2008).Anovacidaderompecomacida-deantigaerecebesímbolosdopoderdocapital.
SegundoSevcenko(1999,p.33-34),
Oresultadomaisconcretodesseprocessodeabur- guesamentointensivodapaisagemcariocafoiacria- çãodeumespaçopúblicocentralnacidade,comple- tamenteremodelado,embelezado,ajardinadoeeu-ropeizado,quesedesejougarantircomexclusividade paraoconvíviodos‘argentários’.
Alémdadocumentaçãoescritaeanalisadaporal- gunsteóricos,aeuropeizaçãodacidadedoRiodeJanei-
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ficos,especialmentecitoofotógrafoMarcFerrez,que de1903a1906produziuoAlbumdaAvenidaCentral, umsignificativoregistrodanovaavenidacentraldaci-dadedoRiodeJaneiro,quevinhasetransformandoa partirdeumaurbanizaçãoaoestiloeuropeu,liderada peloentãoprefeito,FranciscoPereiraPassos,jáanterior-mentecitado.Afotografia(p.32)mostraessaavenidae salientaoTeatroMunicipalemestiloeuropeu.
Ferrez,intitulado PhotographodaMarinhaImpe-rial, além de documentar a paisagem carioca foto-grafouemmaisdeumaregiãobrasileira.Seutema
principaleraanaturezaeespecializou-senaprodu-ção de fotografias panorâmicas. Conforme laurent Gervereau(2005)notextoDafotoaofilmedolivroO BrasildeMarcFerrez,essefoiumfotógrafoversátile abertoasinovaçõestecnológicas,masqueconserva oseuolhar“eminentementeocidental,ancoradoem séculos de composição” (GERVEREAU, 2005, p. 115). Então,comooutrosfotógrafosdaépoca,éinovador tecnicamente,maseurocêntricoemseusenquadra-mentosfotográficos.
Outro fotógrafo importante na documentação dessa época no Rio de Janeiro foi Augusto Malta. Brasileiro de Alagoas, Malta em 1888 transfere-se
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para o Rio de Janeiro, e nos anos de 1900 entrou emcontatocomafotografia,chegandoaocuparo cargodefotógrafodocumentaristadaPrefeiturade FranciscoPereiraPassos,criadoespecialmentepara ele.Aesserespeito,ohistoriadorPauloBergerapud Moreira(2008,p.3)escreveu,
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ApesardoesforçoconjuntodaPrefeituraedogo-vernofederalparaatransformaçãodoRiodeJaneiro emumametrópolenosmoldeseuropeus,Maltanos permitevisualizarascaracterísticashumildesdeseus habitantesetranseuntesdomeiourbanodaépoca, commostraafotografiaabaixo.
MasnãoapenasacidadedoRiodeJaneirocres-cia aos moldes de Paris e de outros centros euro-peus.NaprimeiradécadadoséculoXX,fotógrafos
registraramoprocessoderemodelaçãourbanatam-bémnacidadedeSãoPaulo,capitaldoEstadodeSão Paulo. Nessa época, segundo Kossoy, o Brasil deti-nha2/3daproduçãomundialdecafé,eSãoPaulo abre-separaesseinvestimentoeconômico,poisreu-niaascondiçõesbásicasdeindustrialização,como concentraçãodecapitalemão-de-obra–principal-mente imigrantes após a abolição da escravatura em1888eaquedadamonarquiaeconstituíçãode 1891–alémdaenergiaelétrica,oqueacaracterizará comocidadeindustrial.
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Um exemplo da rápida transformação dessa ci- dadeestáregistradonoconjuntodefotografiasdei-xadaspelofotógrafosuíçoGuilhermeGaensly.Boris Kossoy,emseulivroSãoPaulo,1900,aoanalisaras imagensdessefotógrafo,escreveu:
Tratam-sedecenasesteticamenteequilibradasque enfatizamatransformaçãourbanaqueseprocessa nacidadeque,emapenasumadécada,quasequa-druplicava sua população atingindo o ano de 1900 com 240 mil habitantes. Imagens que exploram a nova feição das velhas ruas centrais, bem como os novosbairroscriadosàsemelhançadosboulevards. Noespaçosecularcomonorecenteresplandecemas novasedificaçõesconstruídassegundopadrõescon-sagradosdecivilização.Acidadecolonialdesaparece. Acapitalressurgeemnovocenário.Ofotógrafocapta sua‘nova’imagemqueagoralembraumavelhacida-deeuropéia.(KOSSOY,1988,p.9).
Ainda segundo Kossoy, Guilherme Gaensly pos-suia um estúdio fotográfico na principal artéria de São Paulo: a Rua Quinze de Novembro. Suas fotos apresentamastransformaçõesnessarua,bemcomo nasdemaisimediações,eosmelhoramentosurbanos donovoséculoXX,comoaimplantaçãodailumina-çãoelétricapelacompania TheSãoPauloTramwayLi-ghtandPowerCompanyLtda,conhecidacomoLight, hojeEletropaulo,queocasionouodesaparecimento dos bondes à tração animal, substituídos por um novoveículoelétrico.
Gaensly produziu um estudo fotográfico
impor-tantequecontribuiuparaonossoentendimentoda transformação da paisagem urbana paulistana se-gundomodeloseuropeus,aindaque,comosalienta Kossoy, sua documentação fotográfica não seja ex-tensiva.“Nestacoleção,pelomenos”,dizKossoy(1988, p.17),“nãoconstamfotografiasdasatividadesindus- triais,oudosbairrosoperáriosesuasmoradias.Aau- sênciadessasimagensnosprivadeumadocumenta-çãovisualimprescindívelparaoestudodascondições dehabitação–e,portanto–dapopulação.” Entretanto,atemáticafotográficadeGaenslynos contaaremodelaçãourbanadacidadeemsuaforma moderna.Suasfotosregistramosedifícioseasruas desalinhadasquedavamlugaràsnovasconstruções ecléticas.“Suasimagensdocentrodacidadecaptam emdetalheafisionomiadasruastransformadase dos personagens anônimos que nelas transitam”, dizKossoy(1988,p.15).
A documentação fotográfica na virada so século XIXparaoXXrealizadoporGuilhermeGaenslyformaa iconografiadoEstadodeSãoPaulodessaépoca.Aoler-mosolivroSãoPaulo:1900, deBorisKossoy(1988),per-cebemosaimportânciadasimagensdessefotógrafo tantopelorigortécnicoeseuprimorestético,quanto documentaçãosobreastransformaçõesurbanas.
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