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Estratégias de comunicação das deputadas parlamentares nas redes sociais

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Março, 2012

Trabalho de Projecto de Mestrado em

Novos Media e Práticas Web

Pa trícia Co n tr eir as, Es tra tégias d e co m u n ic ação d as D ep u tad as Pa rlam en tare s n as Red es So ciais, 2 01 2 )

Estratégias de comunicação das Deputadas Parlamentares

nas Redes Sociais

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2 Trabalho de Projecto apresentado para cumprimento dos requisitos necessários à

obtenção do grau de Mestre em Novos Media e Prática Web realizado sob a orientação científica de Prof. Doutor Francisco Rui Cádima

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3 AGRADECIMENTOS

A minha primeira palavra é dirigida ao professor Doutor Francisco Rui Cádima , orientador do presente projecto de trabalho.

Expresso igualmente o meu agradecimento à equipa do projecto “Política no Feminino” (Carla Martins, Teresa Flores e Rosangela Borges em especial) porque sem ela, este projecto teria outra forma, razão e cor; à Isabel Lousada pelo esclarecimento de variadíssimas questões relacionadas com género e que me levou a presenciar muitas iniciativas de carácter pedagógico.

A minha palavra de reconhecimento é igualmente estendida a todas as Mulheres que lutam pelos seus direitos.

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5 ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO DAS DEPUTADAS PARLAMENTARES NAS REDES

SOCIAIS

PATRÍCIA ALEXANDRA HONÓRIO CONTREIRAS MANSO

RESUMO

O objectivo deste trabalho de projecto consistiu em procurar investigar as Redes Sociais utilizadas pelas deputadas parlamentares da XII legislatura (2011-…), tentando identificar se correspondiam, ou não, a estratégias de comunicação visando potenciar a sua visibilidade. Partimos de uma série de perguntas, suscitadas ainda no decorrer da parte escolar do mestrado em Novos Media e Práticas Web, tais como: Serão as Redes Sociais utilizadas, como ferramentas impulsionadoras de uma maior democracia digital? Serão as Redes Sociais mobilizadoras, incentivando a uma participação política mais activa? Outras surgiram entretanto: Será que as mulheres deputadas parlamentares utilizam essas ferramentas? Estarão as mulheres deputadas conscientes do potencial e poder que estas Redes Sociais oferecem?

Ancorámos o nosso estudo tendo por base três eixos fundamentais que fizemos corresponder a 3 grandes blocos, a saber, deputadas parlamentares, política e redes sociais. Procurámos pois com este trabalho obter respostas às perguntas colocadas e identificar algumas tendências.

Assim, com base na revisão da literatura selecionámos autores e obras de modo a permitir um enquadramento teórico consentâneo com as áreas implicadas, estudos de género, de política parlamentar, e de relação das mulheres com as redes sociais. De modo a inquirir procurando obter dados concretos criámos um dispositivo específico para o efeito. O instrumento utilizado foi um inquérito online, o qual permitiu avaliar e compreender os usos, hábitos e práticas das deputadas parlamentares portuguesas no Facebook. As respostas foram tratadas e alguns dos dados mais relevantes integrados no corpo do trabalho, apresentados em forma de gráficos, quadros, permitindo uma análise estatística que disponibilizámos.

A investigação por nós conduzida permitiu responder às questões formuladas. O Facebook foi a Rede Social eleita pelas inquiridas.

Os resultados obtidos apontam para o reconhecimento de que o Facebook é um instrumento de poder, apesar de ser utilizado do mesmo modo nas estratégias comunicacionais que já mobilizavam as deputadas parlamentares para as formas tradicionais de comunicação de massas, assentes numa difusão unilateral. Donde, nos permitimos constatar estarem a ser ainda subestimadas, ou melhor, subaproveitadas, as Redes Sociais por parte das deputadas parlamentares portuguesas, que nelas poderiam ter as suas melhores aliadas, quer na promoção de causas, quer como mecanismo de recurso capaz de alavancar a visibilidade desejada e a interacção com o(s) público(s) desejável (eis).

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6 COMUNICATION STRATEGIES BY FEMALE M.P.S AT THE ONLINE SOCIAL NETWORKS

PATRÍCIA ALEXANDRA HONÓRIO CONTREIRAS MANSO

ABSTRACT

The goal of this project work consisted in seeking to research the online social networks used by female MPs of the 12th legislative term (2011-…), while undertaking to determine if they revealed particular communication strategies aimed at fostering their visibility. We set out from a series of questions, brought about during the first stage of our master’s studies in New Media and Web Practices, such as: Can the social networks that are used be deemed tools that encourage greater digital democracy? Do these social networks play a mobilising role, contributing towards a more active political participation? Others arose in the meantime: Are female MPs using these tools? Are female MPs aware of the power and potential of these social networks? We have rooted our study on three major axes which correspond to the following 3 great blocs: female MPs, politics and social networks. Throughout our research we sought to obtain answers to the questions that we have placed and identify individual tendencies.

Thus, based on our revision of literature we have selected authors and oeuvres in order to make room for a theoretical framework that is coherent with the fields involved, including gender studies, parliamentary politics, and relations between women and social networks.

In order to investigate specific data we created a specific method for that purpose. The tool of choice was an online inquiry that has enabled us to assess and apprehend the uses, habits and common practices of Portuguese female MPs on facebook. The replies have been processed and some of the more relevant data were included in the work and present as graphics and tables, allowing us to draw a statistical analysis, which is also featured.

The research undertaken has enabled us to provide answers to our fundamental questions on the subject. Facebook has been the social network of choice by the inquired parties.

The results obtained point toward the acknowledgment of facebook as an instrument of power, in spite of being used similarly to the communication strategies that already mobilised female MPs toward the traditional means of mass communication, grounded on unilateral transmission. From there, we can conclude that social networks are still somewhat underestimated, or at least underused by the Portuguese female MPs, who could have them as their greatest allies, both in the promotion of causes, and as resources capable of leveraging their visibility and interaction with their intended audience(s).

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ÍNDICE

Introdução ... 1

Capítulo I: Fundamentação teórica ... 5

I. 1. Objectivos gerais e especificos ... 5

I. 2. Metodologia ... 6

Capítulo II Política e Democracia Digital ... 15

II. 1. Internet ... 18

II. 2. Redes Sociais ... 21

II. 2.1.Redes Sociais: Espaços de “Representaação do eu” e Espaços Público………..23

II. 2.2.Redes Sociais: Diferentes audiências no Mundo e no Parlamento 26 II. 3. Mulheres Deputadas ... 48

Capítulo III: Parlamento e as deputadas parlamentares ... 32

III. 1. O Parlamento Português ... 32

III. 1.1 Parlamento Português online. ... 33

III. 1.2. Contextualização política ... 3

III. 1.3. Caracterização da composição político-partidária da XII legislatura ... 37

III. 2. Análise dos Resultados ... 71

III. 2. Análise dos Resultados do Inquérito ... 48

Conclusão ... 71

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8 Anexos Anexo 1 Anexo 2 Anexo 3 Anexo 4 Anexo 5

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9 “ESTRATÉGIAS DE COMUNICAÇÃO DAS DEPUTADAS PARLAMENTARES NAS REDES

SOCIAIS”

INTRODUÇÃO

A ideia de desenvolvimento deste trabalho surge no contexto da minha participação como bolseira no projecto de investigação PTDC/CCI-COM/102393/2008 «Política no Feminino – políticas de género e estratégias de visibilidade das deputadas parlamentares1», financiado pela FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia, e integrado no CIMJ - Centro de Investigação Media e Jornalismo2. O facto de ter integrado este projecto sensibilizou-me para o estudo das mulheres deputadas parlamentares portuguesas nos novos media e motivou-me para avançar no sentido do aprofundamento da temática.

Apesar de ter já colaborado em várias iniciativas análogas, o referido projecto foi uma mais-valia ao nível da minha formação, ampliou em grande medida os meus conceitos e suportes teórico-práticos no que diz respeito à linha tangível entre género e media. Durante o período em que fui bolseira desenvolvi as minhas competências em termos de aperfeiçoamento na utilização de ferramentas metodológicas estruturais para a elaboração do presente estudo, nomeadamente concepção e organização de bases de dados, pesquisa em arquivos, elaboração de questionários nas metodologias quantitativas bem como alguma experiência na implementação de

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O projecto PTDC/CCI-COM/102393/2008 Política no Feminino tem como enfoque a representação das mulheres e das questões de género no Parlamento em quatro ciclos políticos da vida democrática portuguesa, recortados entre 1975 e 2002: PREC (1975-1976), Soarismo (1984), Cavaquismo 1985-1995 e Guterrismo (1995-2002). Estes ciclos políticos, na sua singularidade histórica, serão interpelados através de um feixe de questões tendo em vista alcançar os seguintes objectivos de investigação: 1. Sistematizar a presença feminina na instituição parlamentar, traçando funções, perfis e percursos das deputadas;

2. Identificar iniciativas e propostas relevantes das deputadas no que respeita a questões de género, reconhecendo e aprofundando os temas mais recorrentes da sua intervenção;

3. Conhecer as estratégias de visibilidade das deputadas, designadamente, os mecanismos de promoção das suas ideias e acções no relacionamento com os jornalistas;

4. Compreender em que medida a valorização editorial das questões de género está ancorada na sensibilidade dos jornalistas para esta problemática e nos constrangimentos profissionais e organizacionais dos meios de comunicação onde operam;

5. Analisar a cobertura jornalística focada em algumas iniciativas relevantes de deputadas em três periódicos de referência. (Informação cedida pela equipa do projecto).

2 O Centro de Investigação Media e Jornalismo é um centro que desde 1997 se dedica à investigação científica e à promoção do debate sobre temas relacionados com os media e o jornalismo.

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entrevistas exploratórias e em profundidade. Por outro lado, importa referir a actividade do tema. Não obstante os vários esforços empreendidos, procurando maximizar a igualdade de direitos e oportunidades bem como a emancipação da mulher, subsistem ainda, várias assimetrias, quando considerado o panorama universal. Ainda que no projecto supramencionado o campo de observação tenha sido limitado a Portugal, este aspecto não deixou de ser notado. Cumpre-me alertar portanto, também, esse facto. Lembro que as desigualdades se verificam aos mais diversos níveis e são muito diferentes consoante os pontos do globo em que focamos a nossa análise e atenção. Há por um lado sociedades onde esses direitos e liberdades (das mulheres) ainda não são aplicados e outros em que nem o próprio Estado os reconhece ainda como integrando o leque de matéria elegível ao abrigo dos Direitos Humanos internacionalmente consagrados. Por outro lado, há a considerar variadíssimos quadros sociais e económicos mais ou menos estudados alterando as variáveis de análise em maior ou menor grau; a título de exemplo refira-se que, mesmo quando o Estado garante alguns desses direitos, se reconhece existir um longo caminho a percorrer, para serem criadas condições, isto é, leis que, uma vez aplicadas eliminem por completo a discriminação. Inúmeros factores concorrem para a alteração dessas variáveis e não será objecto do nosso estudo a sua análise detalhada, por razões que se prendem com a natureza do trabalho e com os prazos a respeitar. Mas, ainda assim, e em contrapartida, não pode ser ignorado o facto de que também nos media essa discriminação é directa ou indirectamente identificável, bem visível, em algumas sociedades, no momento presente.

Os resultados deste trabalho apontam no sentido de uma fraca visibilidade das deputadas nos media tradicionais (jornais) quebrada esporadicamente cada vez que surge no parlamento um debate relacionado com questões que dizem particularmente respeito às mulheres (Cabrera, Baptista, Martins, Borges, Flores Mata, Pratas, Adão). Interessa pois averiguar se o mesmo se passa com as Redes Sociais e quais as interações que as deputadas realizam.

Pretendemos deixar clara a intenção subjacente ao longo do nosso estudo e à qual procurámos ser atinentes, de focar a investigação nas mulheres deputadas

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parlamentares portuguesas, visando contribuir para a ultrapassagem das questões anteriormente identificadas.

De modo a precisar o corpus da pesquisa decidimos circunscrever o nosso estudo tomando a presença das mulheres deputadas parlamentares nos, hoje designados, Novos Media.

Um dos reptos latentes e a que não fui permeável dizia respeito à formação de um juízo (para o qual não detenho ciência bastante e, ainda que a tivesse, constituiria somente uma questão lateral, embora pretenda deixá-la equacionada pois poderá servir de semente para estudos ulteriores) demonstrativo da relação entre a experiência de vida das deputadas, e as causas ditas “feministas” em que mais se empenham durante o exercício do seu mandato. Questões como as seguintes:

Estas mulheres que exercem, grande parte delas, pela primeira vez, o seu mandato, estarão cientes da discriminação? Da abrangência dessa flagrante desigualdade?

Maioritariamente vindas da Universidade para o Parlamento sem terem que passar pelo processo de acesso ao mercado de trabalho, em moldes tradicionais, e não por mecanismos de funcionamento democrático político, com tudo o que isso implica, serão realmente as mulheres capazes de identificar a discriminação?

Estarão elas, representantes dos portugueses(as) que as(os) elegeram, sensíveis para estas questões que não são desprezíveis para a grande maioria da população?

Deixamos registadas estas interrogações pois estamos em crer poderem vir a ser retomadas numa outra ocasião.

Passando aos aspectos fundamentais da análise desenvolvida para efeitos académicos no Mestrado, importa precisar, para além do que já foi explicitado, qual o universo de análise? Que critérios elegemos para a definição do objecto de estudo, “deputadas parlamentares portuguesas” vs “Facebook”?

Optámos por estudar as deputadas parlamentares e não os deputados parlamentares pelo já exposto, não aleatoriamente, sendo em certa medida uma continuação, permitindo aprofundar um tema com o qual estava familiarizada, mas

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simultaneamente me permitia explorar outras direcções com tendências mais recentes, como é o caso das Redes Sociais e muito em particular do Facebook.

Não queremos terminar este ponto, finda a visão prospectiva elaborada, sem deixar a perspectiva desafiante de no futuro (visto que as Redes Sociais têm o seu tempo de vida e são também regidas por fenómenos como os da moda, com fases de ascensão e afirmação não sendo possível antever o seu declínio, desvanecimento ou o fim) fazer um estudo que comparativo entre o Facebook e outras redes emergentes.

Por último notamos que seria desejável fazer uma análise diacrónica tomando diversos momentos da vida política parlamentar portuguesa ou americana, por exemplo, e que de momento é extemporâneo.

O trabalho de projecto que agora se apresenta está dividido em três capítulos subdivididos em vários sub-capítulos, contemplando por um lado, uma parte de enquadramento e fundamentação teórica, ancorado no estado da arte, incluindo a revisão da literatura transversal aos três eixos fundamentais: mulheres, política e Redes Sociais; e por outro, um terceiro capítulo – em que se desenvolve um estudo empírico sobre as práticas web das deputadas parlamentares portuguesas nas Redes Sociais, na qual são debatidas e evidenciadas algumas tendências.

O plano de trabalho foi gizado tendo em conta os diferentes momentos para a sua mais ajustada concretização e, consequentemente, foi sujeito a várias alterações ao longo do nosso estudo.

CAPÍTULO I

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 1. OBJECTIVOS GERAIS E ESPECÍFICOS

O trabalho prático teve como objectivo operacionalizar e aplicar os conceitos, métodos e técnicas ministradas no «Curso de Mestrado em Novos Media e Práticas Web», frequentado. A componente teórica desenvolvida no decorrer do referido curso

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e à qual tivemos acesso assegurou o enquadramento e a sustentabilidade do presente estudo.

Procurámos desenvolver um trabalho que relacionasse a política parlamentar, em especial no que se refere às deputadas parlamentares portuguesas, no respeitante à sua acção nas Redes Sociais, para procurar compreender as estratégias de comunicabilidade promotoras de uma maior democraticidade, pretendemos conhecer quais as estratégias comunicacionais utilizadas pelas deputadas parlamentares portuguesas, durante a XII legislatura (2011-…), num espaço público emergente como é o caso do Facebook. Para além desses aspectos sondámos se haveria participação e interacção com o eleitorado através de práticas ditas “inclusivas” permitindo/incentivando o debate com múltiplos interlocutores (as).

Os objectivos desta pesquisa visaram fundamentalmente:

 Conhecer o perfil das deputadas parlamentares da XII legislatura;

 Identificar as deputadas parlamentares integradas em Redes Sociais;

 Analisar as estratégias de comunicabilidade que elegem;

 Identificar possíveis interações com os públicos.

Sendo assim, nesta pesquisa apresentam-se algumas considerações gerais, sobre as estratégias comunicacionais promotoras de visibilidade das deputadas parlamentares portuguesas nas Redes Sociais. Elabora-se numa primeira parte o estado da arte, das mulheres, política e Redes Sociais. Define-se a acepção em que é utilizada a expressão Redes Sociais, e a importância destas plataformas na participação e interacção entre as deputadas e os eleitores, com especial incidência para a rede social Facebook. Descrevem-se igualmente os objectivos, hipóteses e metodologias. Procede-se aos resultados do inquérito realizado pelo Google Docs3. Fez-se igualmente, um mapeamento das deputadas para perceber o tipo de perfil oferecido a um eleitorado que não consta do seu círculo de amigos nomeadamente: se permite

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O Google Docs é um pacote de aplicativos do Google baseado em AJAX que possibilita editar, criar e desenvolver documentos em word, tabelas, inquéritos online, entre outros, colaborando em tempo real com outros utilizadores (Wikipédia).

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adicionar informação, se permite mandar mensagens, se permite publicar no seu mural, ter acesso à sua informação, entre outras variáveis.

Como antes aludimos, ao invés de uma conclusão, este trabalho irá levantar algumas questões para discussão, avaliar pesquisas atuais sobre essas mesmas questões examinando os resultados dos dados do inquérito dirigido às deputadas parlamentares portuguesas. A nota final é, no fundo, uma síntese conclusiva em que se chamam à colação os diversos pontos-chave identificados e analisados no inquérito.

2. METODOLOGIA

A pergunta central ao nosso estudo decorre da constatação oportunamente expressa pela especialista americana Pippa Norris de que a Internet não é o meio democrático que se esperava, reportando-se ao início e disseminação da Internet (meados da década de 1990) que suscitou várias reflexões sobre o seu impacto latu sensu, na economia, na sociedade e na política. Especula-se procurando apurar se a Internet é uma ferramenta poderosa capaz de transformar padrões existentes de desigualdade social, fortalecendo vínculos entre cidadãos e representantes, facilitando novas formas de envolvimento público e de participação e comunicação, capaz de ampliar as oportunidades para o desenvolvimento de uma sociedade global cívica e democrática (Norris,2000).

Porém, é neste ponto que se nos colocam dúvidas. Será que as Redes Sociais podem transformar formas convencionais de activismo democrático, ou será que apenas servem para reforçar a lacuna existente entre os tecnologicamente mais ricos e mais pobres? Donde as assimetrias acabam por se manter?

E o Estado, os líderes parlamentares, será que utilizam as Redes Sociais para incentivar a participação interactiva ou, pelo contrário, será que a utilizam como uma outra forma de comunicação top down?

Já Cardoso, Cunha e Nascimento (2003) equacionam, num sólido e aprofundado estudo intitulado, “O parlamento português na construção de uma democracia digital” alguns aspectos centrais ao debate que agora circunscrevemos a outra arena - não as práticas e representações relativas à utilização das Tecnologias de

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Informação e Comunicação (TIC’s) e da Internet em particular - mas as Redes Sociais, à época ainda incipientes no universo nacional.

O corpus onde o estudo se alicerça reporta-se à XII legislatura (2011-…) durante o período após as eleições de 5 de Junho de 2011, até á aprovação do Orçamento de Estado 2011 (OE2012), ou seja, até dia 30 de Novembro de 2011.

A nossa pesquisa procura responder às seguintes questões:

1. Em que medida as deputadas parlamentares usam as Redes Sociais; (nomeadamente o Facebook)

2. Com que finalidade? 3. Que assuntos elegem?

4. A que públicos pretendem chegar? 5. Como interagem?

Relativamente aos critérios de amostragem, a amostra foi constituída tendo em conta as Deputadas Parlamentares da XII Legislatura, que mantenham uma conta activa numa das Rede Sociais eleitas por este trabalho: o Facebook e o Twitter. Os critérios de escolha para a selecção de uma das Redes Sociais, tendo em conta que hoje existem mais de 200 sistemas de redes disponíveis na Internet, prende-se com variadas ordens de razões, sendo a primeira delas respeitante à sua maior aceitação e utilização; o Facebook foi por nós eleito visto tratar-se daquele que era, à data de fixação dos nossos critérios, o mais representativo no universo das Redes Sociais. É, em rigor, a rede em que se regista mais comunicação fazendo circular o maior fluxo de informação, o de maior tráfego de acesso ao sistema em Portugal, e no mundo; por seu turno, o segundo critério teve em conta o maior número de funcionalidades oferecidas na plataforma correspondente, permitindo uma interacção eficaz e mediática, aspectos por nós valorizados. Em suma, elegemos a rede cuja oferta disponibilizava um vasto conjunto de aplicações textuais e de multimédia, em constante renovação e consequentemente promovia uma maior diversidade de funcionalidades facilitando a inserção de conteúdos textuais e de multimédia e a interacção das deputadas parlamentares com os eleitores.

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Finalmente o terceiro critério, depois de Identificadas e seleccionadas as deputadas ligadas a Redes Sociais, foi o de garantir a integração na amostra de representantes de todos os partidos políticos com assento parlamentar;

No que diz respeito à metodologia, foram utilizadas metodologias quantitativas e qualitativas:

Analisar as agendas públicas das deputadas através do site da Assembleia da República para identificar as Redes Sociais onde estão integradas;

 Para conhecer o perfil das deputadas desta legislatura recorremos à elaboração de uma Base de Dados das mulheres deputadas parlamentares desenhada para este fim.4 A BD permite inúmeras utilizações e responde à necessidade de cruzar dados relativos às deputadas como os que em seguida se enumeram: o estatuto, a idade, a escolaridade, profissão, o círculo eleitoral, o partido político, a participação em comissões parlamentares, o mandato e a actividade parlamentar.

 Proceder à análise de conteúdo qualitativas das redes procurando respostas plausíveis (uma vez que não foi feita análise métrica) inferir acerca dos temas abordados, se são mais centrados na sua ação política, ou na do partido a que pertencem; quando são centrados na sua ação política, que assuntos elegem; quais os procedimentos técnicos que usam para prestar essa informação; verificar se, sobre os temas políticos, existem interações com o público.

Elaboração de um inquérito online por questionário para respostas já delineadas.

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Por uma questão de economia de recursos, e pela sua adequabilidade, optámos por usar as mesmas variáveis do projeto «Política no Feminino – políticas de género e estratégias de visibilidade das

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A fonte primária por nós eleita foi o site da Assembleia da República, entre outras pontualmente capazes de tornar mais precisas as informações requeridas5.

Foi desenhada e concebida uma primeira base de dados capaz de servir o propósito de organização e estrutura dos dados a obter. Optámos para esse fim pelo PASW6, sendo que esta BD contemplou três momentos de análise para os quais recorremos a diferentes variáveis, de modo a albergar a informação a registar nos diferentes propósitos da forma mais ajustada. A saber, num primeiro momento o perfil, depois a análise de observação da actividade das deputadas na rede, e por fim os dados resultantes da inquérito.

Tendo o objectivo do trabalho consistido em determinar o perfil das mulheres deputadas em função da sua formação académica, experiência profissional, participação em comissões, para além de outras, estes pontos foram por nós contemplados a fim de cumprir o primeiro momento a que aludimos.

Em seguida, num segundo momento foi feito uma pesquisa através do nome parlamentar [termo da AR] de cada deputada parlamentar, a fim de apurar se existiam registadas no Facebook contas por si geridas. A partir daqui, o passo seguinte implicou a impressão das páginas relativas à actividade registada no período em análise (primeira sessão no parlamento após as eleições - 5 de Julho 2011 / 30 de Novembro de 2011 – data em que foi aprovado o Orçamento de Estado 2011). Este momento permitiu compreender/ perceber a que nível (que tipo) de informação estava disponível para um utilizador sem pertencer ao seu círculo mais próximo, na expressão vulgarizada pelo Facebook “ser sua/seu ‘amigo(a)’, ou seja, quantificar e qualificar dados como os seguintes: Foto/imagem de reconhecimento da deputada; o tipo de participação; o número de amigos(as); o número de fotos, de subscritores; precisar o tipo de informação, se é de carácter pessoal/académico/ político.

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A título de exemplo: o site da Comissão Nacional de Eleições, o da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, o da União Inter Parlamentar, o da Pordata, o do Governo de Portugal, o do Facebook Statistics, o do Social Media Agencies.

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O Predictive Analytics Software (PASW) (anteriormente conhecido por SPSS Statistics) é uma poderosa ferramenta informática que permite realizar cálculos estatísticos quantitativos. Não obstante porém agrega uma forte componente qualitativa em função dos próprios procedimentos teóricos que se encontram na base da criação de variáveis desenvolvidas por cada investigador e adaptadas sempre à realidade das necessidades apresentadas no decorrer do próprio trabalho de investigação (Cunha, 2007).

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O terceiro momento, respeitante aos resultados do inquérito, permitiu quantificar em que medida as deputadas parlamentares usam o Facebook, com que finalidade, que assuntos elegem, a que públicos pretendem chegar e como interagem.

Para esse efeito o inquérito foi estruturado em 7 partes, sendo uma de identificação, usos e hábitos, privacidade da conta, participação e/ou interacção com o público, política e género (ver Anexo 1).

Contendo um total de 82 perguntas (abertas e fechadas), o inquérito foi elaborado online, utilizando o Google Docs, visto que, por economia de tempo, permitia que fosse preenchido e submetido online.Posteriormente contactaram-se os grupos parlamentares do Parlamento Português para obter os endereços electrónicos (E-mails) de cada uma das deputadas. O inquérito foi por fim enviado conjuntamente com uma sucinta explicação em torno do objectivo do trabalho.

3. ESTADO DA ARTE

O tema que nos propusemos estudar, “As estratégias de comunicação das deputadas parlamentares nas Redes Sociais” pareceu-nos sobretudo pertinente face à (R)evolução digital7 que vivemos atualmente, e também à escassez de estudos nacionais e internacionais que relacionem as Mulheres Parlamentares e os Novos Media. Não obstante, existe um conjunto deles dignos de registo que importa referir, pois focam e estudam a Mulher e os Media na perspectiva do Género, da Política e dos públicos.

Assume particular relevância a obra de Maria Amélia Campos As Mulheres Deputadas e o exercício do poder político representativo em Portugal do pós-25 de Abril aos anos noventa publicado em 2001, resultante da dissertação de mestrado da

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Esta Revolução digital advém do desenvolvimento das tecnologias que utilizam como pilar a internet – as Redes Sociais, os blogues, etc – e dos canais de acesso a essas redes ou blogues – os tablets, os ipod, a televisão interativa, etc.

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autora8. Este trabalho veio reforçar a ideia de que é urgente combater os obstáculos no acesso das mulheres ao poder representativo. A perspectiva defendida pela autora, que partilhamos na íntegra, aponta para um “cenário que passaria por uma reorganização das estruturas partidárias e por uma maior cidadania (“envolvimento da educação nas comunidade”).

Por seu turno, o estudo de Isabel Espada, Género e Comportamento Eleitoral, O Eleitorado Português e a Actividade Política das Mulheres, de Fevereiro de 20029 consiste num estudo nacional feito aos eleitorados sobre as suas visões acerca da «Igualdade de Oportunidades entre Mulheres e Homens» na esfera política. Assume centralidade a questão equacionada visto que a própria opinião do eleitorado poderá fornecer pistas à acção política; para usar as palavras da autora “…num estudo empírico com utilidade prática, baseada no interesse em fornecer orientações aos decisores políticos que carecem de adaptar as suas estratégias eleitorais, os seus modos de funcionamento interno e os seus processos de seleção de candidatos às expectativas do eleitorado…” (Espada, 2002, p.7) Transportando, como se depreende, para o presente estudo, a dimensão prospectiva. Isto é, como poderia ser maximizada a equidade se ela correspondesse a uma tendência do eleitorado e, atendendo à natureza do nosso trabalho, se esses indicadores fossem obtidos por uma “adequada” utilização por parte das deputadas parlamentares portuguesas, oriunda da interacção permitida pelas Redes Sociais .

A autora brasileira Raquel Paiva assina em 2008, Política feminina: palavra feminina - a primeira pesquisa no Brasil sobre a cobertura dos media das candidaturas femininas a postos legislativos e executivos durante um ano eleitoral – 2006. Saliente-se o facto de que 2006 assinala a 1.ª candidatura a Presidente do Brasil por parte de uma mulher. Esta autora advoga que as mulheres em posições /cargos considerados próprios para as mulheres (na visão estereotipada ditas próprias para o perfil feminino, com cargos de domésticas, escriturárias, professoras, entre outras profissões), nunca

8 Esta obra aborda a evolução das mulheres desde 1975 até à VIII legislatura, período em que se debate a Lei das Quotas (4 Março 1999), e a lei da Paridade (2001).

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Elaborado no âmbito do projeto apresentado a Concurso Público para Financiamento da linha ”Projectos de Investigação Cientifica no Domínio das Relações sociais de Género e das Politicas para a Igualdade entre Homens e Mulheres em Portugal”

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se sentiram agredidas, despromovidas, mal tratadas, ao contrário das mulheres que ocupam posições na política, ou que sonham ser deputadas, vereadoras, governadoras, presidentes da república, ministras. No seu livro, Paiva pretende estudar as relações de género por meio da representação mediática das mulheres candidatas nas eleições de 2006. Conceitos como minoria, hegemonia, estereótipo, senso comum, esfera pública, e política, são considerados como elementos chave neste estudo. As metodologias utilizadas por esta autora foram extremamente relevantes para a construção da presente investigação:

- o acompanhamento/análise diária da mulher candidata, ao longo de um ano, nos maiores jornais impressos de circulação nacional do Rio de Janeiro e de São Paulo: O Globo e a Folha de S. Paulo, respectivamente, e Entrevistas personalizadas às candidatas eleitas. Este estudo revelou-se bastante motivador para o desenvolvimento do levantamento a que procedíamos visto reconhecer o pioneirismo num trabalho desta natureza.

O título que em seguida destaco alerta para a flagrante invisibilidade das mulheres nos media sobretudo se/quando em instâncias de poder. Debaixo do título - A Amarga relação da mulher com os meios de comunicação de massa, Maria Cecília Garcia10 analisa a mulher, os media e o discurso, considerando o discurso neles exarado: “consagra o papel subalterno que a mulher deve cumprir na sociedade e a sua condição de suposta inferioridade congénita; uma mídia controlada por grandes grupos económicos com interesses opostos ao da plena emancipação da mulher feminina”. A autora considera o discurso dos media face à mulher um discurso de dominação, sendo regra geral a mulher vista como um ser insuficiente e que, portanto, requer protecção, controle e vigilância, traduzindo-se tal facto num grande retrocesso civilizacional.

O funcionamento dos partidos e a participação das mulheres na vida política e partidária em Portugal, de Manuel Meirinho Martins e Conceição Pequito Teixeira (CIG-PCM, 2005), resultado de um projecto de investigação elaborado no Instituto

10 Professora e investigadora no Centro de Comunicações e Letras da Universidade de Presbiteriana Mackenzie, São Paulo.

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Superior de Ciências Sociais e Políticas para a Comissão para a Igualdade e para os Direitos das Mulheres, aborda as desigualdades de género nas atitudes e comportamentos políticos em Portugal. O estudo analisa a composição social dos órgãos nacionais e dos partidos políticos, os quais são importantes para a compreensão dos constrangimentos que condicionam o modo e o grau de intervenção das mulheres na vida política e partidária no nosso país.

A obra sobre As Mulheres e os Media, assim como os diversos artigos sobre Género, Media e Espaço Público de Maria João Silveirinha, uma notável especialista nacional que nos alertou para a posição das mulheres, ao longo dos anos, no espaço público e privado, assim como para a posição feminista sobre a teoria de espaço público de Habermas.

As diversas obras e artigos de André Freire sobre a representação política portuguesa, que nos deram um visão temporal e fundamentada, quer da história quer do seu estado; destacamos a Representação política em Portugal, importante também para a concepção, e estruturação das nossas fontes e bases de dados.

Ainda no contexto português salientamos os autores Gustavo Cardoso, Carlos Cunha e Susana Nascimento, no estudo sobre o “Parlamento Português na construção de uma democracia digital”, alertando acerca dos entraves ao desenvolvimento de uma democracia digital em Portugal. Sendo um deles, como citam os autores, a “falta de um sistema parlamentar que não promove o contato com os eleitores”. Este estudo analisou as práticas dos deputados parlamentares portugueses, na internet.

A Galáxia da Internet de Manuel Castells, imprescindível, apesar de datada, porque nos conta a história da Internet, e nos fez reflectir sobre os desafios adjacentes desta, na aldeia global.

Os inúmeros artigos de Pippa Norris, a célebre autora de Women, Media and Politics (editado em 1997), facultam uma moldura específica para o quadro norte-americano que todavia nos foi bastante útil, desde logo tendo-nos alertado para as questões que se prendem com as duplas discriminações. Numa sociedade como

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aquela que analisa é fundamental atender ao factor “Raça/Género” de modo a equacionar o posicionamento “Mulheres/Poder”. As inúmeras implicações decorrentes destes factores concorreram para um percurso árduo e sinuoso, pela extrema dificuldade e morosidade, como a autora tão bem faz saber, com que chegam a ser objecto de atenção nos meios de comunicação social. Lembramos em particular os textos, Virtuals Circle? (2004), Digital Divides (2000),“Preaching to the converted? Pluralism, participation and party websites” (2003) e “Online Parliaments” (2000), qualquer deles assinalável, deixando-nos a visão de uma sociedade americana (ainda) conservadora em relação às mulheres e o poder.

Qualquer das obras mencionadas esteve subjacente à elaboração das reflexões que estruturam o nosso trabalho e que quisemos destacar, salvaguardando as devidas diferenças.

No campo das Redes Sociais, Política e Género salientamos: o artigo de Alexis Gelber11, “Digital Divas: Women, Politics and the Social Network”, assinado em Junho de 2011, no qual equaciona um conjunto de questões relativas aos efeitos da comunicação política sobre as mulheres, a política, e os meios de comunicação social; fundamentalmente reflecte em torno de questões de maior importância para o nosso trabalho: Podem os media sociais oferecer oportunidades especiais à mulher na política? As mulheres políticas usam os media sociais da mesma forma que os homens políticos? A popularidade de um político em sites de media social têm uma correlação com o sucesso do resultado eleitoral? Concluindo a diferenciação de género tem um papel distintivo. Por outro lado a autora12 não deixa de notar que “Social networking favors outsiders and newcomers to politics, so it can be an asset for women candidates and activists […]" (Gelber,2011, pg.4).

Parliaments and the Media: A Changing Relationship? É o título dado por Ralph Negrine à obra editada em 2011, focando o modo como a cobertura dos media feita ao

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Alexis Gelber é consultora editorial e professora adjunta da Arthur Universidade de Nova York L. Carter Journalism Institute.

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Gelber também analisa a proeminência relativa online de mulheres conservadoras, em comparação com figuras políticas liberais, e examina a medida em que o sucesso dos políticos nos media sociais se correlacionam com o sucesso das eleições.

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Parlamento e a política se transformou nos últimos tempos. É um estudo feito na Grã-Bretanha e na Alemanha, durante o período de 1986 a 1996. Por este facto, para além de englobar, naturalmente, questões sobre a democracia e a cidadania se revelou importante para o enquadramento que procurávamos. A relação do parlamento e dos media é quase paradoxal. Refira-se a este propósito o estarmos conscientes de uma relação suigeneris. Se não existissem os media não teríamos acesso ao “hemiciclo”, por outro lado, o modo como essa cobertura se processa não faz jus ao que lá se passa, visto que a realidade é sempre vista por um ângulo.

The Power of Social Networking For Women Research Study, é um estudo feito pela Agência de Multimedia «Shes Connected Multimedia» publicado em Julho de 2009. O objectivo deste trabalho é fornecer dados e tendências dos usos e práticas das mulheres nas Redes Sociais, que por sua vez permitem a outras agências de marketing e media social desenvolverem eficazmente as suas campanhas e produtos. Algumas das conclusões deste trabalho aponta no sentido de que as mulheres superam os homens na maioria das Redes Sociais. Há uma disparidade entre os sexos em termos de suas atitudes, comportamentos e necessidades. Enquanto os homens têm uma maior tendência a usar a Internet para tarefas funcionais (obter informações ou fazer download), as mulheres usam a Internet de um modo mais rico e envolvente visando obter informações, manter e fortalecer as conexões familiares, partilhando notícias.

Realço também Nosotras 2.0 Mujeres y Redes Sociales13, coordenado e editado pelo professor Itziar Elizondo com a colaboração de outros especialistas como Itziar Elizondo Iriarte, Angustias Bertomeu Martinez, Marta Jimenez e Milena Zafra Recio Silva. Esta publicação integra a colecção “Género e comunicação” da Associação Espanhola de Mulheres Profissionais do Media (AMECO),e nela se constata que as redes electrónicas estão a alterar os padrões de participação de comunicação, favorecendo o acesso das mulheres ao Poder, em contraste aos resultados de muitos dos estudos a que referimos.

Serão as Redes Sociais boas ferramentas para discutir política e influenciar o público? Esta questão faz parte de um estudo realizado pela Microsoft e pela

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Logica em França, que o Le Monde online publicou a 16 de Novembro de 2011. Este trabalho intitulado “un bom outil pour discuter de politique”, selon un sondage” analisou se as Redes Sociais em França são consideradas uma boa ferramenta para se discutir política. O resultado desta pesquisa conclui que “…seuls 16% dês internautes sondées apprécient les discussions politiques sur Facebook our Twitter…”, ou seja, os utilizadores da Internet consideram que as Redes Sociais não são uma boa forma de participação e interacção.

Não pretendemos afirmar a exaustividade neste campo, contudo, qualquer destas obras por nós integradas repercutem a tónica na temática por nós eleita relativamente aos eixos mulher - política e media/novos media. O estudo nascente beneficiou essencialmente das análises através deles facultadas e às quais pretendemos dar visibilidade. Em Portugal assiste-se a um interesse crescente neste cruzamento de perspectivas.

CAPÍTULO II

1. POLÍTICA E DEMOCRACIA DIGITAL

A ausência de participação e o desinteresse dos cidadãos(ãs) espelha um deficit democrático, na medida em que à própria ideia de democracia subjaz o direito e a prática de uma cidadania activa e plena em que os sujeitos individuais se sintam representados e sejam intervenientes nas esferas institucionais, para esse efeito criadas (Norris, 2000; Cardoso, 2006).O afastamento dos cidadãos(ãs) das instâncias referidas traduz uma relação de desigualdade em que o poder é exercido arbitrária e independentemente da intervenção dos actores sobre os quais recaem as medidas legisladas; mostrando-se incapazes de contemplar uma arbitragem assegurando a vivência em liberdade harmoniosa, visto existir um grupo que é alvo de exclusão. Se uma democracia não valoriza a opinião das pessoas deixa de poder ser de facto uma democracia. Ora é precisamente nesta constatação que Robert Entman postula o seu “paradoxo de democracia sem cidadãos” (Entman, 1990)14. A ideia de que se uma

14 ENTMAN, Robert M. (1990), Democracy without Citizens Media and the Decay of American Politics, Oxford University Press, USA.

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sociedade não acolhe a expressão dos indivíduos, o sistema democrático capitula na sua essência; deixa de ser efectiva a vivência em democracia ao ser (directa ou indirectamente) afastado um dos seus pilares fundacionais.

Serve esta consideração inicial acerca do sistema democrático das sociedades para a abordagem que pretendemos estabelecer, por analogia, respeitante aos meios em que a comunicação se efectiva quando nos situamos em ambiente “digital” no qual este trabalho se circunscreve.

Assim, se atendermos à acepção de “democracia digital” tal como foi formulada por autores portugueses dos quais citamos o sociólogo Gustavo Cardoso (2003) e estrangeiros como Barry Hague e Brian Loader (2009) ela define-se como:

“ um conjunto de experiências de prática democrática sem limites de tempo, espaço ou outras condições físicas, recorrendo às TIC , como um complemento e não como uma substituição de práticas políticas ‘análogas’” (Cardoso, 2001; Hague e Loader, 1999).15

Aliás, Matthew Hindman (2009) emprega a expressão dilatando-lhe desde logo o sentido quando se refere ao “mito da democracia digital”; e é justamente esse o sentido que nos pretendemos apropriar. Ou seja, em última análise declinamos a possibilidade de existir tal democracia na prática. Pois, se por um lado temos a virtualidade de, tendo por base uma plataforma muito amigável, podendo o(a) cidadão(ã) usar esses meios para expressar a sua vontade, e intervir, participando mais activamente e como consequência afastando o alheamento que se vinha fazendo sentir (quando os novos media não eram tão acessíveis), temos por outro lado a constatação de que, apesar de estarem mais “próximos” do(a) cidadão(ã), estes meios não são, ainda assim, capazes de contrariar a tendência para a ausência de participação equitativa. Querendo com isto dizer que os índices de participação não são transversais. Estes índices implicam que:

15 Hague, Barry N., e Brian D. Loader (orgs.)(2000), Digital Democracy: Discourse and Decision Making in the information Age, Londres e Nova Iorque, Routledge.

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1. Existam disponíveis os meios - e a divisão por grupos sociais diferenciados é também ela muito diferente entre regiões, grupos etários e géneros;

2. Sejam os indivíduos capazes de manusear as ferramentas ao seu dispor – atendendo aos níveis elevadíssimos registados no comummente designado por fosso digital, ainda sentidos por grande parte da população de meios sociais mais desfavorecidos.

Ora essa grande assimetria compromete a própria ideia de democracia digital, considerando nós também ser correcta a forma como Hindman a ela se refere enquanto mito – longe de consubstanciar a vivência de uma expressão livre e igualitária dos diferentes actores sociais.

É diferente a leitura que nos permite reflectir no aumento considerável das ligações via Internet para acesso a sites de política, que é de facto assinalável, da leitura em torno de dados capazes de identificarem os utilizadores desses espaços, visto detectarmos que o mero indicador “interesse” por determinados assuntos é maioritariamente identificável com elites. Trata-se, regra geral, de grupos restritos, com habilitações, gostos e recursos particulares, capazes de potenciar a participação, novamente a alguns, e só a alguns indivíduos, não conseguindo pois anular a exclusão de uma grande parte dos cidadãos(ãs) e consequentemente inibindo a designação de democracia que o mundo digital poderia fazer supor. Desejavelmente, diríamos.

Consideramos a situação presente como um ponto de charneira em que o caminho para a “democratização” dos meios digitais é já efectivo mas que tem por diante novos desafios a serem colocados caso se pretenda ampliar a voz de participação a um desejável e cada vez maior número de indivíduos. Sabemos ser, latu senso, impeditiva a barreira situada ao nível do poder de compra. Ultrapassada essa limitação poderiam ver-se ampliados os instrumentos de acesso à via digital, quer em termos individuais quer também colectivos (associações, academias).

Dever-se-á seguir ao grosso da coluna que se traduziu no input de informação à qual se pode aceder livremente, e sem custos, em pleno livre acesso, uma

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“qualificação” capaz de surtir o efeito desejável no incremento participativo face aos recursos. Equipamentos e formação disseminados de modo a servirem outros grupos sobre os quais ainda pesam grandes restrições constituam uma nova etapa a considerar efectiva num futuro próximo. Ora é pensando no actual contexto, nacional e internacional que, poderia ser equacionada a possibilidade de viabilizar projectos, combinando a premência e o pragmatismo no corrente Ano Europeu do Envelhecimento Activo e da Solidariedade em Gerações aliando a um quadro social elegível uma favorável conjuntura política vigente.

1.1. INTERNET

“…the Internet promises to provide new forms of horizontal and vertical communication that will facilitate and enrich engagement, deliberation and democracy in the public sphere.”

Digital Divides, Norris, 2000

Sendo certo que a Internet e as novas tecnologias ao desenharem novas formas de comunicação, vieram revolucionar a política e os políticos, não deixa de ser notado paralelamente um outro facto, desta feita, preocupante. Tal diz respeito ao receio de alguns estudiosos em que possamos cair, a breve trecho, num espaço digital “pré-formatado” organizado em zonas de conteúdos com os quais o utilizador tem maior afinidade, ou seja, vem ao encontro do utilizador, tendo por base escolhas feitas no “histórico” do indivíduo, surgindo com a aparência de uma naturalidade que não é genuína e conduzindo por isso mesmo a caminhos previamente trilhados, ou muito semelhantes, excluindo o debate de ideias característico do espaço público, a par de uma recorrente condicionante a rotas alternativas capazes de providenciar o contacto com a alteridade. Em última análise, condicionando o utilizador ao ponto de um isolamento virtual em nome do chamado “marketing” dirigido e/ou intuitivo. A escolha não parece, a dado passo, ser uma opção pois já se coloca na forma de sugestão, donde se poderá equacionar se o espaço de reflexão e liberdade está verdadeiramente

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assegurado nestes novos mundos digitais. Responder a esta questão ficará para uma outra oportunidade pois em muito transcende o objecto do nosso estudo.

Emergiu um novo ciclo político tendo por base novas formas de comunicação e interacção, revolucionando as estruturas sociais, os estilos e modos de vida e o modo como interagem os indivíduos, como bem nota Cardoso (2008).

As novas formas de comunicação acarretam vantagens e desvantagens, potencialidades e constrangimentos. Uma das potencialidades deste desenvolvimento está ligada (entre outras como a velocidade, redução de custos, economia de acesso) à gestão do espaço temporal, pois reduz a distância entre os indivíduos, ou num contexto político, entre os representantes e representados, permitindo ao outrora cidadão passivo, tornar-se protagonista no processo de decisões políticas. De inactivo passa a interveniente.

Seguindo a reflexão do autor atrás mencionado, esse mesmo desenvolvimento poderá mutatis mutandis, potenciar a “crise representativa das instituições, e da política”. Esta “crise representativa” traduz-se, como antes aflorámos, num baixíssimo nível de participação, na credibilidade por parte dos cidadãos, na redução das actividades e iniciativas políticas dos cidadãos, na taxa de abstenção, na falta de confiança).

Cardoso refere que para se compreender as consequências da Internet na comunicação política, há que ter em conta duas hipóteses;

- a primeira, dita revolucionária, segundo a qual a Internet irá mudar completamente as regras do jogo, afectando todos os actores ;

- uma outra deixando antever uma esfera de normalização, na qual os partidos políticos continuam a utilizar a Internet como mais um espaço de competição interpartidária.

Voltando agora a nossa atenção para as Redes Sociais importa salientar o facto de que estas representam potencialidades para os diversos interlocutores interagirem.

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Para os representantes de organismos, organizações políticas, movimentos, torna-se fundamental esse, ainda que, e se, virtual, contacto directo, do mesmo modo, como naturalmente se compreenderá, para os políticos. Assegurar presença num canal em que o contacto directo é viável simultaneamente para grandes massas, a baixo custo, embora não isentos do confronto, oferece matéria muito atractiva para os políticos poderem promover as suas causas. Ora o contacto em discurso directo por parte dos políticos e seus eleitores, por exemplo, sem outro tipo de mediação é, em suma, uma grande mais-valia, que outrora os meios de comunicação tradicionais não garantiam. Por outras palavras trata-se do que Bentivega (2000) e Cardoso (2008) denominam de efeito de participação/interacção mais directo e transparente assegurado pela triangulação entre representantes-representados-informação16.

Na verdade, a comunicação anteriormente concebida num modelo vertical no qual a informação era veiculada de cima para baixo, dos representantes (emissores) para os Eleitores (receptores). Passa, desta feita, a ser efectiva num desenho horizontal. Não só há passagem de informação, nesse sentido, de um para dois, i.e., do emissor para o receptor, e/ou vice-versa, mas de todos/as aqueles/as que pretendam interpelar outrem, podendo inclusivamente atingir o patamar da interactividade. Uma comunicação horizontal/interactiva entre os representantes e os representados.

A Internet e as Redes virtuais podem, como afirmámos, tornar mais democráticos os sistemas políticos se houver a priori participação dos cidadãos e interacção entre estes e os representantes, ou seja, se os cidadãos puderem integrar e participar, aos diversos níveis, problemas e temas do país/mundo. Caso contrário, o risco de serem dominadas pelos representantes é manifesto. Foi Cardoso (2008) quem a este respeito sinalizou a problemática alertando, em síntese para os seguintes aspectos: As Redes Sociais promovem a participação cívica dos cidadãos – afastando a ideia que só são necessários para sufragar o acto eleitoral – e acentuando que, ainda que virtual, o contacto com o eleitorado, confere um sentido de maior pertença, proporcionando aquilatar do interesse pela política e a ideia de que os seus problemas são ouvidos e podem até ser resolvidos.

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Concomitante ao pensamento de Castells “Esperava-se que a Internet [acrescentaria também as Redes Sociais online] pudesse ser um instrumento ideal para fomentar a democracia (e ainda pode sê-lo)”(2007; pg.186). Ainda segundo o autor, estes espaços públicos são espaços onde se privilegia a “política informacional”, ou seja, os políticos/parlamentares, ainda utilizam estes meios puramente para a divulgação de informação, colocando de lado a potencialidade destas ferramentas no que se refere à interacção social. Representantes, líderes e grupos parlamentares, ainda não prestam a atenção devida aos websites que possuem, mesmo sabendo que vivemos numa época em que os cidadãos estão cada vez mais afastados e desencantados com a política e os seus representantes.

A publicidade electrónica para divulgar informação é tanto visível nas páginas pessoais, como nos blogues, microblogues (Twitter) e Facebook embora as primeiras sejam normalmente, geridas por “mandatários digitais” e as segundas pelos próprios.

1.2. REDES SOCIAIS

As Redes Sociais caracterizam-se por serem elementos intemporais da vida em sociedade e da realização humana (Lopes & Cunha, 2011) que com o surgimento da Internet e a sua evolução (nomeadamente com a Web 2.0) ganharam/visaram uma nova dinâmica, ao tornarem-se por um lado redes de informação e por outro de conhecimento ao nível planetário.

As Redes Sociais, conceito que neste século têm sido alvo de grande mediatismo por parte de investigadores de diversas áreas, consistem em “serviços baseados na web que permitem aos indivíduos (1) construir um perfil público ou semi-público dentro de um sistema limitado, (2) articular uma lista de outros usuários com quem compartilhar uma conexão, e (3) ver e pesquisar sua lista de conexões e aquelas feitas por outros dentro do sistema. A natureza e a nomenclatura dessas conexões podem variar de site para site” (Boyd, D.M.; Ellison, N.B.; 2007; online). De acordo com Raquel Recuero (2004) as Redes Sociais “são sistemas que funcionam com o primado fundamental da interacção social”, i.e, com o objectivo primordial de proporcionar a comunicação que permite fortalecer os laços sociais.

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Na sua obra “O efeito do Facebook” Kirkpatrick (2011) conta como as Redes Sociais surgiram a partir de 1997, com o Six Degrees e sua posterior popularização. A partir de 2002, com o Friendster, o uso do termo "Rede Social" começou a ser banalizado para os grupos formados na Internet. É nesta altura que as Redes Sociais no contexto do ciberespaço começaram a ter uma grande disseminação, constituindo-se em espaços contínuos de trocas e interacção de e para os actores sociais. Esta dissiminação pela aldeia global, propiciou novas abordagens em vários campos de investigação científica, como a etnografia, a sociologia, a antropologia, a linguística, e a própria comunicação social, com a finalidade de compreender as suas práticas, o seu contexto cultural e o relacionamento dos sujeitos mediados pelas Redes Sociais.

Assim, mais do que proporcionar o aparecimento de novos grupos, as Redes Sociais online expressam a complexificação de relações sociais já existentes, ou seja, as Redes Sociais offline.

As Redes Sociais consistem na conexão de vários indivíduos, separados geograficamente e que partilham os mesmos interesses.

Esta ferramenta de comunicação ao possibilitar a interacção entre os indivíduos e a partilha de informação, veio “mudar/transformar” os usos, hábitos, costumes dos indivíduos das sociedades actuais.

Pelas razões atrás mencionadas, e por outros inúmeros factores como a disseminação de informação, conversação, discussão, participação e por serem plataformas onde a comunicação é feita no momento e de forma gratuita, também passaram a ser foco de interesse, entre outros, dos políticos, dos governos, e dos(as) parlamentares, que viram nas Redes Sociais mais uma estratégia de comunicação para angariar novos eleitores, com a primazia de poderem fazê-lo sem o intermédio dos media tradicionais.

Outra questão relevante das Redes Sociais online é serem espaços públicos que podem promover a mobilização social, através da conexão entre pessoas com os mesmos interesses. Algumas destas mobilizações, nascidas nestes espaços online,

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posteriormente tem cobertura nos media tradicionais, por exemplo, o “MOVIMENTO 12 de Março”, em Portugal, começou com um “Protesto da Geração à Rasca”17, que uniu cerca de 500 mil pessoas nas ruas de todo o país e no estrangeiro, através da Internet, mais precisamente das Redes Sociais, fruto da iniciativa de quatro amigos, aos quais se juntaram outras pessoas. (M12M Facebook)18 com o objectivo da promoção de uma cidadania cada vez mais activa como resultado da democratização do acesso à política, dinamização da promoção do diálogo, e sinergias e solidariedade entre movimentos e cidadãos.

Como refere Castells (2007; pg.167) a Internet:

"…está a converter num meio essencial de comunicação e organização em todas as âmbitos da atividade; é óbvio que também os movimentos sociais e o processo político a utilizam, e o utilizarão, cada vez mais, transformando-a numa ferramenta privilegiada para actuar, informar, recrutar, organizar, dominar e contradominar."

Seja pelas múltiplas formas de incorporação com outras ferramentas de comunicação, como as fotografias, o vídeo, a conectividade móvel; pelo tema, pela causa ou interesse, pelo design, pela interface, pela conexão a outras pessoas ou pela circulação de informação as Redes Sociais atingiram números elevadíssimos e vieram dar ênfase a novos/outros modelos no processo de comunicação.

O processo de interacção19 que caracteriza a comunicação nas Redes Sociais é mais perceptível do que nos meios de comunicação tradicionais (Rádio, TV, Jornais, cinema, teatro, etc).

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O Protesto da Geração à Rasca, foi a denominação dada pelo grupo M12M, aos jovens portugueses licenciados que estão desempregados, e de todos que sofrem da precariedade do sistema de empregabilidade.

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Disponível em http://www.facebook.com/movimento12m?sk=info, acedido em 15/Nov./2011. 19 Entenda-se que processo de interacção é a relação biunívoca entre emissor/receptor e repctor/emissor mediada por mensagem.

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1.2.1. REDES SOCIAIS: ESPAÇOS DE “REPRESENTAÇÃO DO EU” E ESPAÇOS

PÚBLICOS

Sabemos que o crescimento e a globalização das Tecnologias de informação e Comunicação promoveram a alteração de uma série de conceitos até então definidos. Um deles foi o de poder colocar as Redes Sociais offline, num novo espaço público.

Sobre esta questão, acreditamos que estes novos espaços públicos virtuais, constituem lugares de discussão e debate, permitindo a inclusão de cidadão(ãs) comuns, onde as mulheres se podem destacar.

No nosso caso, a representatividade das deputadas parlamentares nas Redes Sociais, e a sua participação/interacção com o público, que é feita por uma comunicação tipo horizontal e interactiva, poderá ser um contributo, e um passo para uma democracia digital de género.

Para Maria João Silveirinha,

Assim, em termos gerais, poder-se-á dizer que uma parte da acção feminista consiste, por um lado, em avaliar criticamente os discursos construtores de uma teia de significado, de uma visão do mundo socialmente construída, que historicamente têm excluído os secundarizado a experiência das mulheres e, por outro, em avaliar aquilo que, nos seus termos, pode ser considerado “o mito do acesso universal” à esfera pública” (Silveirinha 1997, cit. por Cláudia Álvares. Revista media e jornalismo nº.15, pag. 57).

Muito pela ausência do conceito de identidade de género, porque se propõe um espaço público universal.

Contudo, encontramos na obra de Habermas (1989) lugar à discussão do fenómeno da emancipação feminina através do seu estudo sobre as origens do espaço público político como tendo evoluído a partir do espaço público literário. Esta primeira forma do espaço público burguês admitia e apoiava, até, a participação feminina pela temática, considerada própria à sensibilidade feminina, mas também porque

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decorriam, muitas vezes, em espaços privados dos salões das casas particulares da burguesia.

As Redes Sociais constituem-se também como espaços que permitem a representação e a “expressão do eu”20 (Goffman, 1999), e actuam como uma ferramenta da comunicação em que há fluxos diversificados de informação, conversação e mobilização, utilizadas como forma diferenciada de apropriação pelos sujeitos e pelos grupos sociais, proporcionando a mediação entre os indivíduos potencialmente distantes (afastados) e os factos.

As Redes Sociais possibilitam a construção da “representação do eu”, sendo que cada pessoa, pode utilizar essa representação ou auto representação de diferentes formas.

A “construção do eu”, pelas deputadas parlamentares, manifesta através das escolhas das deputadas a propósito dos elementos como: a escolha da fotografia, de determinada informação, uma comunicação mais formal, ou seja, a forma de apresentação de si, está dependente, neste caso, da posição profissional partidária das deputadas. A informação que é divulgada e a possível interacção da mesma com o público também depende em geral nas Redes Sociais online, da posição em que o sujeito se encontra, à semelhança dos outros veículos de comunicação tradicionais.

Outro exemplo que as Redes Sociais potencializam essa representação, é a articulação das pessoas aos laços de amizade “definidos”. O ser amigo, namorado, companheiro, pai, são marcas de identidade.

20 A noção de sujeito que utilizaremos neste trabalho, aplica-se à apresentação do Eu no espaço da Internet, mais especificamente nas Redes Sociais online.

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1.2.2. REDES SOCIAIS: DIFERENTES AUDIÊNCIAS NO MUNDO

A nível global o Facebook e o Twitter são as Redes Sociais mais utilizadas e mais populares entre o público. Para ilustrar isto, reporto a figura que o Jornal da Rússia publicou online em 2011, onde é possível constatar que apesar das diferenças de audiências dependendo do continente, o Facebook é a Rede Social que mais utilizadores comporta.

Figura nº. 1 - The Word map of social networks 2011 Fonte: http://en.rian.ru/infographics/20110228/162792394.html

Os dados da Social Media Statistics by SocialBakers apontam que o Facebook a nível mundial conta com 854 750 560 utilizadores, sendo o Norte da América – 241698860 o Continente onde a penetração de indivíduos e maior. A Europa possui 231920440 utilizadores (Ver Anexo 2). Em Portugal, 49,56% das mulheres utilizam o Facebook, e 51% são homens.

Em Portugal existem segundo a mesma fonte, cerca de 4 294 280 utilizadores21, sendo que, conforme o Figura seguinte, existem 2165 800 Homens (50,8%), e 2097220 (49,2% de mulheres. A Faixa etária de 25-34 anos é a (1164560) correspondendo a 27,1%, seguindo-se a faixa dos 18-24 anos com 980820 (22,8%).

21 Estes dados foram retirados da Social Media Agencies em 20 de Março de 2012, disponível em http://www.socialbakers.com/

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36 Figura nº. 2 – Representação do total Mulheres e Homens em Portugal no Facebook/

Representação dos utilizadores por faixa etária em Portugal Fonte: Social Media Statistics

2. MULHERES DEPUTADAS

Segundo a politóloga basca Arantxa Elizondo Lopetegi, são inúmeras as linhas teóricas e argumentativas apoiando a importância da participação das mulheres em cargos de responsabilidade política (Elizondo, 2008)22. Seguindo o seu raciocínio pretendemos reter a explicitação que a autora faz no sentido de legitimar a participação plena das mulheres nas instâncias políticas. Elizondo afirma ser a presença das mulheres na vida política uma condição indispensável para que se possa falar verdadeiramente de igualdade e respeito pelos princípios básicos da democracia, pois todos os grupos que integram a sociedade têm o direito de estar presente em áreas onde as decisões colectivas incidem sobre eles. Também uma lógica “utilitarista” defendendo o aproveitamento do capital humano integrando as mulheres em cargos de responsabilidade. É um aspecto a não descurar na argumentação feita por Arantxa.

22ELIZONDO, Arancha (2008) “Las mujeres en las instituciones políticas” en VV.AA.: Mujeres, política y medios de comunicación. Homenaje a Clara Campoamor. Sevilla: Fundación Audiovisual de Andalucía.

Referências

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