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OS AGENTES ENVOLVIDOS NA PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO

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Academic year: 2019

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A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO

Elizete Besagio CALEGARI Universidade Estadual de Maringá – UEM, mestranda (bolsista -

PNPG-CAPES/PGE-UEM-PR). Av. Colombo, 5790, 87020-900, Maringá – PR. zeteturismo@hotmail.com Rose Hélida Astolfo FREIRE Universidade Estadual de Maringá - UEM, mestranda (bolsista-CNPq). Av. Colombo, 5790, 87020-900, Maringá – PR.

helidafreire@hotmail.com Vicente Rocha SILVA Universidade Estadual de Maringá - UEM, (bolsista - PNPD/CAPES-PGE), Av. Colombo, 5790, 87020-900, Maringá – PR. vicenters@usp.br Resumo: A cidade é uma materialização muito antiga que marca a sua presença na história através de elementos que assinalam o advento do que se considera civilização. Mas é, sobretudo com o advento do capitalismo que se impõe a questão urbana, colocando diante do Estado a exigência de um normalizador do viver em cidades. Processos econômicos, políticos e sociais delineiam-se, para transformar e produzir o espaço urbano, assim como, balizar o crescimento e configuração das cidades. O objetivo deste artigo é externalizar a atuação dos agentes de produção do espaço urbano, especificamente dos proprietários fundiários cujas dimensões políticas e econômicas na organização do espaço, observado o processo de segregação sócio-espacial nas cidades, entende-se que se trata de um fenômeno resultante de vários modelos de capital, seja ele, fundiário, incorporador, imobiliário ou financeiro. Estas categorias de análises são essenciais na apreensão das espacialidades da cidade capitalista. Serão apresentadas questões fundiárias relativo à cidade de Maringá no Paraná, na busca de abranger a lógica deste agente territorial.

Palavras-chave: Espaço urbano, proprietários fundiários, cidade capitalista.

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will be presented about the municipality of Maringa, Parana, in order to enclose the logic of this territorial agent.

The urban space production

Key words: Urban space. large agrarian producers, capitalist city. INTRODUÇÃO

No século XIX, emerge a grande cidade, que coloca para os governos a necessidade de intervir no espaço, ordenando a vida, normatizando a sociedade. O tema “urbano” aparece assim como um problema posto, derivado das transformações econômico sociais da época, e que tem na cidade o seu locus privilegiado de realização.

Surgem os "produtores do espaço", os quais idealizam uma forma de construir e/ou transformar a cidade, através de práticas definidas, mas também constroem um modo de pensá-la e vivê-la.

Uma das formas de consolidação da civilização é através da cidade. A cidade, enquanto uma concretização espacial é condição, meio e produto da reprodução social. Hoje sua produção, que é sempre contínua e resultado de um processo histórico, tem sido formalmente marcada pelas ações de agentes que representam o poder público e os empreendimentos privados. Mas a produção da cidade não pode ser resumida a ação desses dois agentes. A população, articulada ou não, representada ou não por movimentos sociais, a partir de seu cotidiano, interfere e produz o espaço, gerando constantemente os conflitos, pois o Estado, o qual viabiliza as condições de produção e reprodução do capital precisa também manter as condições, pelo menos mínimas, de saneamento, transporte e moradia para a população (mão-de-obra) da qual necessita o capital.

A dinâmica dos grandes centros urbanos vem seguindo a tendência da concentração populacional, fazendo com que as estruturas preexistentes nas médias e grandes cidades se adaptem a essa tendência, trazendo transformações territoriais, além de impactos na urbanização, impactos estes provocados direta ou indiretamente pela ação dos agentes da reprodução territorial da cidade, ou seja, os proprietários dos meios de produção, os quais estarão sendo externalizados neste artigo, com ênfase aos agentes proprietários fundiários. Finalizando com questões fundiárias relativo à cidade de Maringá no Paraná.

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Entender o espaço urbano é uma condição prévia antes de adentrar especificamente nos agentes envolvidos na sua produção, “muitas reorganizações do espaço se deram e continuam acontecendo, atendendo aos reclamos da produção da qual é arcabouço” (SANTOS, 1988, p. 17). Ademais, “a análise, a pratica espacial de uma sociedade se descobre decifrando seu espaço” (LEFEBVRE, 1974, p. 29).

De acordo com Harvey (1980, p. 146 apud BOTELHO, 2007, p. 22) para o entendimento da produção do espaço urbano, deve-se levar em consideração, o monopólio de uma classe sobre o espaço - a alta burguesia, no caso do capitalismo -, o que exclui principalmente as classes menos favorecidas da propriedade fundiária. “Isso porque a classe que detém a maior parte dos recursos pode, através do dinheiro, ocupar, modelar e fragmentar o espaço da forma que melhor lhe convém” (BOTELHO, 2007, p.22). Ou seja, a maximização dos valores de troca produz benefícios desproporcionais para alguns grupos e restringe as oportunidades para outros. “O espaço dominante aquele de riqueza e de poder, se esforça a elaborar os espaços dominados, aqueles de periferias. Ele reduz por uma ação frequentemente violenta os obstáculos e resistências” (LEFEBVRE, 1974, p. 36)

Botelho (2007, p. 22-23) trás em seus estudos a relação entre a produção do espaço, particularmente do espaço urbano, como modo de produção capitalista, assenta que não é uma tarefa fácil encarar esta relação por dois motivos: 1º) é uma relação dialética e complexa, devendo ser vista como uma via de mão dupla; 2º) o domínio do espaço por uma classe dominante, gerando conflitos principalmente com o Estado que precisa pensar na coletividade.

A dinâmica dos grandes centros urbanos vem seguindo a tendência da concentração populacional, fazendo com que as estruturas preexistentes nas médias e grandes cidades se adaptem a essa tendência, trazendo transformações territoriais, além de impactos na urbanização, impactos estes provocados direta ou indiretamente pela ação dos agentes envolvidos na produção e reprodução territorial do espaço urbano, mais especificamente, os proprietários dos meios de produção.

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cidade, berço da acumulação, lugar das riquezas, sujeito da história, centro do espaço histórico, tem estourado. (LEFEBVRE, 1974, p. 39).

De acordo com Azevedo (1982 apud LEITÃO, 1999, p. 27-28), as características fundamentais do sistema de produção imobiliária seriam: de um lado - a separação entre produção e consumo, o que significa a transformação da habitação em mercadoria; e por outro lado - o surgimento do incorporador imobiliário como personagem distinta do proprietário do terreno, o que leva o solo urbano se transformar, também em mercadoria.

São apresentadas quatro formas de produção de moradias por Leitão (1999, p. 28-29): 1ª) Para população de baixa renda - produzida de forma não mercantil, normalmente pelo processo de autoconstrução; 2ª) Classe média e alta - constroem em seus próprios terrenos, contratando construtora, e algumas vezes, recorrem aos serviços de um engenheiro ou arquiteto; 3ª) Com objetivo de transformar a moradia em mercadoria - o proprietário do terreno assume o papel de incorporador imobiliário, tentando alcançar uma maior valorização de sua área; 4ª) Promoção imobiliária - é o sistema mais avançado de produção de imóveis destinados à habitação, em que ocorre uma nítida “separação entre o capital de promoção e a propriedade do solo, {...} fazendo com que surja o ‘mercado de terras’ e, consequentemente, a disputa entre o incorporador e o proprietário urbano pela apropriação da renda da terra” (AZEVEDO, 1982, p. 72-73 apud LEITÃO, 1999, p. 28-29).

Esta quarta forma de produção de moradia é foco na análise de Leitão. Cada autor possui uma leitura para os agentes, mas todos possuem de certa forma o mesmo sentido. Leitão (1999, p. 27) caracteriza quem são os agentes que intervêm na produção e no consumo do espaço urbano, e o que cada um deles pretende como grupo ativo, obter na construção da cidade:

- O proprietário do solo - toda atividade econômica precisa de uma base física que lhe dê sustentação. Para a agricultura a terra é absoluta na produção agrícola; para indústrias e estabelecimentos comerciais tem no solo, uma base de produção. O setor imobiliário é o único que para prosseguir suas funções exige ao fim de cada construção um novo terreno disponível. Aqui surge o obstáculo, e o solo é transformado em mercadoria que se valoriza de acordo com: sua localização e acessibilidade, melhorias de urbanização (infra-estrutura) e transformação de uso agrícola em urbano.

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alto capital variável, devido a pouca automação, comparada com atividades industriais; c) atuam de acordo com as encomendas que lhe são feitas; d) há um pequeno número de grandes empresas e um grande número de pequenas e médias empresas.

- Os escritórios de planejamento e projetos/a atuação dos técnicos - com função bem definida: transformar idéias e decisões do incorporador sobre a destinação de uma determinada área em projetos viáveis, de acordo com parâmetros técnicos, restrições legais e limitações orçamentárias.

- Os agentes financeiros - bancos privados ou agências governamentais que possuem linhas de crédito especiais. Só terão acesso aos financiamentos os empreendimentos que se revelarem rentáveis, por isso os bancos são grandes estimuladores e beneficiários da especulação do solo (possuem a garantia das hipotecas imobiliárias).

- O corretor de imóveis - faz a intermediação entre quem quer comprar com quem quer vender. Seus serviços são pagos por uma taxa proporcional ao valor do imóvel. Essa atividade pode ser assumida pelo próprio incorporador imobiliário, o mais comum, porém, é que este recorra a agências de comercialização criadas para este objetivo e capazes de conquistar um maior número de clientes em menor tempo.

- O comprador de imóveis / o usuário da cidade - é o consumidor, que no modelo de urbanização capitalista, há uma desigualdade social quanto à satisfação de suas necessidades. Observa-se, um confronto entre os interesses dos diversos agentes, gerado pela primazia do valor de troca sobre o valor de uso.

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- A ação do Estado como agente modelador do espaço da cidade - no planejamento urbano, o Estado é um agente que deve receber especial atenção, não possui características bem definidas, ele apresenta diversas faces em diferentes momentos e diferentes lugares. A produção do espaço urbano, além da construção de edificações, envolve também diferentes operações, tais como: apropriação e parcelamento do solo, implantação da infra-estrutura de saneamento básico e equipamentos de consumo coletivo, construção de sistema viário, entre outros. O capital privado não tem interesse em implantar esses bens de consumo coletivo, por não serem suficientemente rentáveis. Ficando para o Estado o papel de principal agente de produção, distribuição e gestão dos meios de consumo coletivo, se responsabilizando também pela organização espacial desses serviços. O Estado, inábil em atender às diferentes demandas sociais, acaba privilegiando os interesses de determinados grupos econômicos, colocando de lado as necessidades de moradia, transporte e equipamentos sociais da maioria da população. Assim, nos conflitos são escamoteadas as reais origens dos mesmos.

Quanto maior a cidade maior o número de agentes, a escala de mercado cria os subagentes. Convém lembrar, que “um mesmo agente não só pode como costuma desempenhar simultaneamente mais de um papel” (AZEVEDO, 1982, p. 70 apud LEITÃO, 1999, p. 27).

O espaço é uma condição geral de existência e reprodução da sociedade. No modo de produção capitalista, ele é utilizado como meio de produção para a geração de mais-valia (além de propiciar a obtenção de uma renda por parte dos proprietários fundiários), sendo neste sentido, consumido produtivamente. O consumo produtivo sempre faz desaparecer uma realidade material ou natural - uma energia, uma força de trabalho, um instrumento, por exemplo, para transformar-se em valor adicionado à mercadoria. O consumo produtivo usa: é um uso e um valor de uso. Ele também produz (LEFEBVRE, 1991, p. 34 apud BOTELHO, 2007, p. 22-23).

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No modo de produção capitalista todo o espaço produzido e consumido está repleto de contradições, especialmente no espaço urbano. O que marca ainda mais esta contradição é a concorrência capitalista. “A concorrência estimula os avanços tecnológicos, e estes levam a uma constante desvalorização do capital fixo” (BOTELHO, 2007, p. 29). Por exemplo, as inovações tecnológicas nos meios de comunicação, na informática, na organização do trabalho nos escritórios, criam novas necessidades de infra-estrutura que desvalorizam os edifícios mais antigos em comparação com os edifícios novos, mais bem-adaptados às inovações que são constantes e não param.

Estas inovações atraem o capital e as classes dominantes aumentanto a segregação das camadas populares. Ficando nítido as contradições do e no espaço decorrentes da dinâmica capitalista, principalmente no urbano. Por este motivo, Botelho (2007, p. 32-33) procura esclarecer o que se entende por urbanização e por urbano.

A urbanização é o ato de urbanizar, o processo de industrialização faz a cidade “explodir”, sempre esteve presente na lógica da acumulação capitalista como forma específica de reprodução do capital, assumindo um sentido particular.

O urbano na abordagem de Lefebvre (1999 apud BOTELHO, 2007, p. 33) , deve ser visto não apenas como centro de produção e acumulação industrial, mas também como um elemento de controle da reprodução da socidade capitalista em termos da força de trabalho, da troca e dos padrões de consumo.

Em síntese, a produção do espaço urbano, se explica em grande parte, pela estrutura produtiva, pelas ações do poder público e por fatores culturais que permeiam esse processo. O espaço é uma condição geral da existência e reprodução da sociedade. Sendo o poder público, um dos fortes elementos produtores da segregação espacial, visto que seus investimentos geralmente são realizados na cidade formal, sendo inoperante ou ignorando a parte informal, que necessita de saneamento básico, postos de saúde, escolas, infra-estrutura de forma geral.

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Dentro dessa lógica capitalista que de forma equilibrada traria uma melhor condição de vida àquele que habita a cidade, o que na verdade interessa é viabilizar economicamente os novos empreendimentos. Para tanto, as atividades produtivas capitalistas agem como determinantes na conformação dos espaços, impondo aos habitantes, sobretudo nas periferias, seus objetivos, seu ritmo, seus interesses.

O valor de troca se impõe historicamente ao valor de uso, o que estabelece que, para usufruir determinados atributos do lugar é preciso que se realize, antes de tudo, seu valor de troca. Botelho (2007, p. 23) coloca de forma mais abrangente que a produção e o consumo do espaço, assim como a urbanização, estão inseridos no amplo processo de reprodução das relações de produção capitalistas, na medida em que são guiados pelos ditames da propriedade privada, e são regulados pelas necessidades do capital de gerar valor excedente. “São exemplos desse espaço produzido, em consonância com o capital financeiro, a construção de shopping centers, empreendimentos de turismo e lazer, centros empresariais, grandes condomínios verticais e horizontais, hotéis e flats” (BOTELHO, 2007, p. 23).

Buscando entender como os processos contemporâneos de globalização econômica se relacionam com as localidades Harvey coloca que “toda renda se baseia no poder monopolista dos proprietários privados de determinadas porções do planeta. A renda monopolista surge porque os atores1 sociais podem aumentar seu fluxo de renda por muito tempo, em virtude do controle exclusivo sobre algum item, direta ou indiretamente, comercializável” (HARVEY, 2006, p.222).

A PRODUÇÃO DAS CIDADES

Com a consolidação da sociedade urbano-industrial e do processo técnico científico, permitiu-se a produção e reprodução do sistema sócio econômico predominante de um lado, por outro gerou e multiplicou os problemas enfrentados em uma cidade: concentração das propriedades, infra-estrutura, condições de habitação da população operária, saneamento básico, a quantidade crescente de prestação de serviços, questões ambientais entre outros.

Entender a lógica da produção da cidade presume o que se entende por espaço geográfico.

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O espaço pode ser pensado como densidade irredutível à mera forma, como vida, como uma dimensão com valor ativo na vida social, em movimento e permanente mudança. Se pensarmos essas novas energias do espaço dentro da lógica dos simulacros que caracterizam o mundo da técnica e dos meios de comunicação, este movimento se torna ainda mais real (SANCHEZ, 2003, p.83).

Sendo o espaço uma construção social, ou seja, não existe a priori. Ao mesmo tempo em que é construção, o espaço é condição para o desenvolvimento social, e interfere também na produção da sociedade, “é a cidade lugar de ebulição permanente” (SANTOS, 1988, p. 19)

Outra abordagem é que “as cidades e, em particular suas espacializações sociais são, atualmente - como tem sido nos últimos 12 mil anos -, a força primária de criatividade artística, inovação econômica, mudança tecnológica e desenvolvimento social” (SOJA, 2008, p.46).

Na verdade, a própria cidade tornada produto, é alavanca mercadológica para os demais produtos. Aqui pode ser identificado o valor ativo do espaço no movimento de reorganização da nova sociedade urbano-metropolitana. O espaço como instância, participando desse movimento que não se realiza sem ele. Não é o espaço como palco da sociedade em transformação, mas propriamente, o espaço como fator propulsor e organizador desta transformação (SANCHEZ, 2003, p.105).

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Mendes (2000, p. 211) cita que o espaço dentro do capitalismo, enquanto mercadoria apresenta diversos usos, onde a cidade dá ao seu solo ao mesmo tempo, a condição de valor de uso e valor de troca. Mendes ainda analisa o caráter do solo como mercadoria não substituível no processo de produção de mercadorias e reprodução da força de trabalho, que dá a terra, basicamente no meio urbano, um valor que não é só dimensionado pelas qualidades intrínsecas (por exemplo: topografia, localização, tamanho, fertilidade, etc.), nem pela quantidade de capital dispendido para a sua produção (no sentido de aquisição de bens de produção e pagamento da força de trabalho).

De acordo com Fresca (2009, p.10) há uma capacidade de investimento e produção nos mais distintos lugares, mas que podem ou não ser realizadas. Isso se liga à capacidade de agentes locais, sejam eles representantes da elite ou não, em perceber e capturar processos gerais que permitam a realização de uma dada produção no lugar.

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da industrialização, chegando ao aumento das atividades financeiras, os meios de produção todo o tempo esteve no domínio da limitada parcela da população nacional. Pochmann (2009, p. 12) declara que, de cada 20 brasileiros, apenas um é dono de alguma propriedade geradora de renda: empresa, imóvel, propriedade rural ou até mesmo conhecimento - também considerado um bem em sua pesquisa - Sua análise também revelou que os proprietários brasileiros possuem um perfil específico comum, a maioria tem entre 30 e 50 anos de idade, é de cor branca, concluiu o ensino superior e não possuem sócios. Outro dado apresentado é que os meios de produção de riqueza do país estão concentrados nas mãos de 6% dos brasileiros. Ele também afirma que o Brasil vêem fazendo reforma agrária desde os anos 50 e sua distribuição fundiária é pior do que há de 50 anos atrás; sua carga tributária onera os mais pobres; o único fator que melhorou foi a educação, o percentual dos jovens que frequentam a universidade passou de 5,6%, em 1995, para 12%, em 2007, porém mesmo com o aumento dos índices, ainda está muito aquém do encontrado na Europa, onde 40% dos jovens têm diploma universitário.

En una sociedad capitalista, la ciudad y el espacio en general no pertenecen a sus habitantes y no son modelados en función de sus interesses, sino de acuerdo con los intereses, a veces contradictorios, de una serie de agentes. En esencia estos agentes son: los proprietarios del suelo; los promotores inmobiliarios y las empresas de la construcción; y, por último, los organismos públicos, agentes y árbitros a la vez en el processo de producción del espacio urbano – agentes en cuanto que realizan operaciones concretas que contribuyen a modelar la ciudad, y árbitros en cuanto que intervienen en los conflictos surgidos entre los otros agentes contribuyendo a superar sus contradicciones (CAPEL, 1990, p.83).

Pensando os espaços da cidade sob a expansão, no atual estágio da reprodução do capital, pode-se observar que o processo de (re)construção do espaço urbano, do qual a cidade é uma de suas expressões, traz paralelamente a desigualdade espacial que retrata a desigualdade social, política e econômica.

OS AGENTES FUNDIÁRIOS

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renovação urbana e na manutenção da infra-estrutura, visto o papel que esses elementos apresentam no sentido de estimular e impulsionar a valorização de suas propriedades a partir de planos diferenciados conforme a situação do próprio imóvel.

Os proprietários rentistas possuem o imóvel como valor de troca produzindo e cuidando deles como valor de troca e não valor de uso para si próprio. Diferente dos proprietários usuários da moradia que procuram satisfazer essencialmente as suas necessidades e desejos, por isso tem na habitação um valor de uso, agindo de acordo com esta condição.

Esta questão da “renda da terra, ou renda fundiária, tem sua origem em modos de produção anteriores ao capitalista. Porém, ela encontra seu lugar nas articulações sociais desse modo de produção, fazendo parte, inclusive, de seu processo de reprodução de relações de produção” (BOTELHO, 2007, p.67).

Marx (1989, p. 728. Apud, Botelho, 2007, p. 69) relata que toda a renda fundiária capitalista é mais valia, produto de trabalho excedente, e não uma propriedade inerente ao solo. Ou seja: a renda fundiária é uma parcela do excedente global produzido pela classe trabalhadora, e que é apropriada pela classe dos proprietários fundiários devido ao monopólio que exercem sobre a propriedade da terra.

Martins (1983, p. 164. Apud, Botelho, 2007, p. 69) complementa que os proprietários recebem a renda não por faculdade inerente a terra, mas por causa do monopólio que exercem sobre ela, cobrando um tributo que é pago pela sociedade inteira.

O objetivo do proprietário privado é transformar a terra que possui em mercadoria. Na produção capitalista imobiliária, o solo representa um capital fixo que se valoriza segundo os seguintes fatores: a) sua localização, acessibilidade ou distância relativa ao centro urbano; b) melhorias de urbanização que possui (infra-estrutura) ou aproveitamento urbanístico e c) transformação de uso agrícola em urbano (renda absoluta).

As estratégias utilizadas pelos proprietários do solo para valorizar suas áreas podem ser divididas em duas áreas: a primeira consiste em procurar, através dos planos urbanísticos, fazer com que haja um incremento no potencial edificável ou no aproveitamento volumétrico do terreno que possui; a segunda seria fazer com que o planejamento municipal transforme os terrenos rurais que possui e/ou adquiriu em áreas urbanas, garantindo altos lucros (renda absoluta).

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proprietário-agricultor que tenha, por exemplo, suas terras localizadas em uma área periférica da cidade, mais bem dotada de infra-estrutura urbana, de serviços públicos e de equipamentos comunitários, e que, portanto atrairá os estratos de renda mais alta, capazes de pagar por essas externalidades conseguirá melhores preços para esse terreno do que outro proprietário-agricultor cujas terras, mesmo proporcionando melhores colheitas, estejam situadas junto a zonas da cidade que não dispõem das externalidades citadas. Para que o último proprietário obtenha melhores preços, restam alternativas como; a) reter a área, até o momento em que seja beneficiada por investimentos decorrentes da expansão urbana, atraindo dessa forma, classes de renda mais elevada; b) obter uma modificação na legislação urbanística, de modo a alterar as condições de edificação no terreno, ampliando, por exemplo, o número de unidades habitacionais construídas. Ao tentar obter melhor preço possível para suas terras, o proprietário recorre a uma série de práticas que envolvem questões objetivas e, até mesmo, subjetivas, para tirar o maior proveito possível das qualidades de seu terreno.

Complementando, “a sobrevivência dos proprietários fundiários se dá à custa de capitalistas, embora esta parceria passe a se concretizar indiretamente via salários dispendido em moradias” (MENDES, 2000, p.217).

Os proprietários fundiários procuram extrair a maior renda possível de seus terrenos (especulação), os produtores obter o maior lucro possível de suas construções, a burguesia almeja a maior quantia de juros possível, o Estado, tenta organizar o mercado, para reduzir os conflitos sociais entre as diversas classes presentes no espaço urbano. A cidade ao mesmo tempo gera e rejeita o território popular precário, a indústria requer força de trabalho a baixo custo, e a cidade grande é um enorme mercado de reserva de mão de obra. Mas a heterogeneidade e segregação da cidade fazem do território popular uma região explosiva: a história das grandes cidades é marcada pela violência e, esta é a expressão viva do caráter contraditório da cidade.

Quando observado o processo de segregação sócio-espacial nas cidades, entende-se que este fenômeno é resultante de vários modelos de capital, seja ele, fundiário, incorporador, imobiliário ou financeiro.

QUESTÃO FUNDIÁRIA EM MARINGÁ

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Melhoramentos Norte do Paraná (CMNP), fundada por um grupo de ingleses que possuíam uma subsidiária brasileira. Com o início da 2ª Guerra Mundial, a Companhia foi vendida em 1944, para um grupo de empresários paulistas que continuaram a colonização nos mesmos moldes da companhia inglesa. A Companhia juntamente com outros agentes imobiliários fazia propagandas planejadas com o objetivo de “construir uma imagem para a qual, por vezes, utilizavam-se expressões pitorescas, como por exemplo, ‘Nova Canaã’, ‘Eldorado’ e ‘Terra onde se anda sobre dinheiro’” (GONÇALVES, 1999, p. 118), ressaltando e promovendo a terra que se desbravava. Evidencia-se que a concepção da cidade foi sustentada a partir de tal discurso, o qual dilatou a imagem e a produção do espaço desde a sua gênese. A cidade nasce carregada de um forte apelo publicitário, o qual carrega até os dias de hoje, como cidade verde, agradável com serviços eficientes.

O município situa-se em uma zona de altitude compreendida entre as cotas 500 e 600 metros em relação ao nível do mar. É cortado pelo Trópico de Capricórnio, tendo longitude de 51º57’ W e latitude de 23º25’ S.

O plano urbano de Maringá foi utilizado como recurso para o destaque de um núcleo regional que se criava, localizado no centro geográfico de uma extensa área planificada e com boa acessibilidade. O plano urbanístico foi constituído por amplas avenidas, praças e ruas.

Nos primeiros anos de vida Maringá, apresentou-se como mercadoria que precisava garantir a fluidez e a ordem do ciclo de produção, circulação e consumo. Condição para garantir o sucesso financeiro do empreendimento.

Eram ressaltados os grandes benefícios que os compradores dos terrenos teriam. A política colonizadora exercida por uma empresa privada instituiu uma nova realidade, a partir de um processo civilizatório, com o controle do espaço de forma imposta.

A primeira legislação urbanística, na forma de Código de Posturas e Obras, a Lei nº 34/59, foi aprovada em 31/10/59 e constituiu-se em importante indicação para a expansão urbana que se verificou a partir da década de 60. A Lei também orienta para incorporação indiscriminada de novos loteamentos nos limites da cidade, ou seja, para além do perímetro urbano, embora ainda existissem inúmeros espaços vazios no plano inicial.

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A expansão do perímetro urbano e o acelerado crescimento resultaram no nascimento do Jardim Alvorada (hoje o maior bairro da cidade) e na abertura da avenida que lhe dá acesso, a Avenida Morangueira. Naquele momento houve um aumento de áreas vazias, ficando desocupadas extensas áreas com infra-estrutura, com objetivo de valorização do espaço. A CMNP era e inda hoje é proprietária de vários terrenos.

A fundação da Universidade Estadual de Maringá (UEM), na década de 70, na parte norte, contribuiu para densificar e intensificar os deslocamentos entre o norte e o sul da cidade.

Os proprietários fundiários de Maringá, titulados como proprietários de terras e dos imóveis construídos sobre os terrenos limitaram os interesses da incorporação imobiliária, ao renegarem a venda de seus imóveis e terras ou especularem, propondo preços inacessíveis ao colocarem à venda. Isso ocorre até os dias atuais. Por exemplo, a incorporação imobiliária, não se interessa em comprar terrenos na Avenida Brasil dentre os fatores, à dificuldade de negociação, deslocando os interesses imobiliários para outros locais da cidade.

Outro fato é o alto número de terrenos desocupados (vazios urbanos), sendo objetos da especulação fundiária e imobiliária. O uso do solo urbano, no qual a terra é mercadoria cujo valor depende principalmente da sua localização estratégica.

Com suas políticas voltadas em promover a cidade, sem a ativa participação popular, a idéia da modernidade leva Maringá com seus sessenta e três anos, a constituir novos espaços, nova paisagem que transtornam a memória e sua curta história urbana em projetos que reconduzem à especulação de seu espaço.

A história da formação, ocupação, transformação e expansão da cidade, sempre estiveram relacionadas a questões financeiras, expressas nos investimentos empresariais. Resultando na estilização e segmentação dos espaços. A obsessão pela modernidade leva à construção sistemática de novos espaços que substituem a memória e a história urbana em projetos sempre voltados para a promoção imobiliária.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A dimensão do espaço concebido tende a se sobrepor às outras dimensões do espaço. Se há o intuito em construir uma sociedade mais justa deve-se levar em conta que a sociedade não é um todo homogêneo, ao contrário, se constitui de diferentes grupos sociais, econômicos, culturais ou políticos e que a opção por esta ou aquela estratégia espacial implica em uma opção por um ou outro desses grupos.

A mudança da distribuição das propriedades por meio da educação, embora seja a forma mais lenta de justiça, é a mais eficaz, é a que pode dinamizar com integridade uma nação.

Aquilo que antes representaria elementos de perturbação e descaracterização, a impessoalidade, a diferença entre o privado e o público pode se tornar o elemento de reeducação social, oportunizando uma revelação e uma nova coerência para o mundo.

REFERÊNCIAS

BOTELHO, Adriano. O urbano em fragmentos. São Paulo: Annablume, FAPESP, 2007.

CAPEL, Horácio. La produccion del espacio urbano. In.: Capitalismo y Morfologia Urbana en Espana. Barcelona: Circulo de Lectores, 1990, p. 83-135.

FRESCA, Tânia M. Rede urbana, níveis de centralidade e produção industrial: perspectivas para um debate. In: Encuentro de Geografos de America Latina, 2009. Montevideo. Encuentro de Geografos de America Latina, 2009.

GONÇALVES, J.H.R. Maringá e o Norte do Paraná. Maringá: Eduem, 1999, p. 88-121.

HARVEY, David. A produção capitalista do espaço. São Paulo: Annablume, 2006 LEFEBVRE, Henri. La production de L´espace. Paris: Anthropus, 1974. Tradução: Ivaneti Pereira Martins da Silva, 2000.

LEITÃO, Gerônimo E. A. A Construção do Eldorado Urbano. Niterói: Eduff, 1999. MENDES, César Miranda. O capital e o governo na produção do espaço. Acta Scientiarum 22(1), ISSN 1415-6814, 2000, p. 211-222.

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SANCHEZ, Fernanda. A reinvenção das cidades para um mercado mundial. Chapecó: Argos, 2003.

SANTOS, Milton. Metamorfoses do Espaço Habitado, fundamentos teórico e metodológico da geografia. São Paulo: Hucitec, 1988.

Referências

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