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PANORAMA DO MONITORAMENTO DE QUALIDADE DA ÁGUA NO LAGO PARANOÁ - UMA ANÁLISE PRELIMINAR

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PANORAMA DO MONITORAMENTO DE QUALIDADE DA ÁGUA NO LAGO PARANOÁ - UMA ANÁLISE PRELIMINAR

Isabel Cristina HIPÓLITO CARVALHO Universidade de Brasília, Aluna de Mestrado em Geografia, Campus Darcy Ribeiro - ICC Norte - Subsolo - Módulo 23, CEP: 70.910-900 - Brasília-DF, email: icristina@unb.br.

Ruth Elias de Paula LARANJA Universidade de Brasília, Profa. Dra. do Instituto de Ciências Humanas, Campus Darcy Ribeiro - Dept. Geografia, CEP: 70.910-900 - Brasília-DF, email: laranja@unb.br.

Resumo

Neste trabalho procurou-se apresentar o que se tem sido feito no âmbito do monitoramento e recuperação da qualidade da água do lago Paranoá. Foram citados alguns tipos de indicadores da qualidade do lago, bem como as principais ações e programas que vem sendo aplicados no manejo ambiental do lago Paranoá.

Palavras-chave: Recursos Hídricos, lago Paranoá, qualidade da água, despoluição.

CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES

A água doce é um elemento essencial para o abastecimento e o consumo humano, para o desenvolvimento de atividades industriais e agrícolas, e de importância vital na manutenção da biodiversidade dos ecossistemas terrestres. Cada vez mais existe a preocupação com o bem água, não só com relação a sua quantidade, mas principalmente com relação a qualidade. O acentuado crescimento demográfico no planeta, o desenvolvimento industrial e das atividades agrícolas, associados à degradação da qualidade da água devido ao mau uso desse recurso, têm ocasionado situações de escassez, gerando conflitos das mais variadas proporções. Em função desses problemas, a gestão de recursos hídricos vem assumindo importância fundamental nas discussões técnico-científicas, políticas e socioeconômicas promovidas por agentes governamentais e da sociedade.

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água. O gerenciamento dos recursos hídricos do DF é uma tarefa conjunta de diferentes órgãos estaduais e federais. Entre os atores governamentais que estão relacionados diretamente com a exploração e conservação da bacia do Paranoá estão a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal - CAESB, a Agência Reguladora de Águas e Saneamento do Distrito Federal - ADASA, o Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do Distrito Federal – Brasília Ambiental – IBRAM, a Agência Nacional de Águas – ANA e o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis – IBAMA.

A CAESB participa das atividades de proteção, recuperação e preservação das unidades de conservação no território do DF, com diferentes critérios de destinação, cuidando das áreas de proteção de suas captações e promovendo campanhas de valorização e uso racional da água. Além disso, a CAESB é responsável pela conservação, proteção e fiscalização das bacias hidrográficas utilizadas ou reservadas para abastecimento e pelo controle da poluição dos corpos d’água usados como receptores de efluentes de esgotos sanitários tratados (CAESB, 2007). A ADASA foi criada pela Lei N° 3.365, de 16 de junho de 2004, tendo como finalidades básicas, regular, controlar, fiscalizar a qualidade e quantidade das águas dos corpos hídricos de domínio distrital ou delegados pela União e Estados, bem como os serviços públicos de abastecimento de água e esgotamento sanitário do Distrito Federal. Sendo a responsável pela implementação da lei das águas (lei n. 2725/2001) para o Distrito Federal (ADASA, 2007). O IBRAM foi criado em 28 de maio de 2007 por meio da Lei nº 3.984, para ser o órgão executor de políticas públicas ambientais e de recursos hídricos no Distrito Federal. O IBAMA atua na proteção e fiscalização de áreas ambientais onde estão localizados importantes mananciais da bacia do Paranoá (IBAMA, 2007). A ANA, órgão pertencente ao Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, tem por principal atribuição implementar a Política Nacional de Recursos Hídricos; lei 9433/1997, conhecida por lei das águas (Setti, 2001 e ANA, 2007).

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passando pelo período critico na década de 80 e início de 90, até a recuperação gradual que está ocorrendo atualmente.

Caracterização do lago Paranoá e bacia hidrográfica

A região do Distrito Federal, com uma área de 5.789,16 km2, é drenada por cursos d’água pertencentes a três das mais importantes bacias hidrográficas brasileiras: São Francisco (Rio Preto), Tocantins/Araguaia (Rio Maranhão) e Paraná (rios São Bartolomeu e Descoberto), essas bacias são denominadas Regiões Hidrográficas.

A Região Hidrográfica do Paraná é responsável pela maior área drenada do Distrito Federal, ocupando, aproximadamente, uma área de 3.658 Km2 com uma descarga média de 64 m3/s. É constituída pelas bacias hidrográficas do Rio São Bartolomeu, do Rio Paranoá, do Rio Descoberto, do Rio Corumbá e do Rio São Marcos.

O lago Paranoá foi criado em 1959, sobretudo para atender a propósitos recreacionais e paisagísticos quando da criação de Brasília. O lago, compreendido entre 15º48’S e 47º50’W, está inserido na bacia de drenagem do Rio Paranoá de 1015 km2, possui 38 km2 de área superficial, 498.106 m3 de volume de acumulação, 13m de profundidade média e tempo de residência de 299 dias. Seus principais formadores são os córregos Bananal e Torto ao Norte e Gama, Cabeça do Veado e Riacho Fundo ao Sul. O enchimento do lago criou um microclima ao seu redor e ofereceu alternativas de lazer e recreação para a população, transformando-se em um dos mais belos locais da cidade de Brasília (Fonseca, 2001). A Figura 1 apresenta uma visão completa do lago Paranoá e seus principais tributários a partir de uma imagem do satélite Spot (Google Earth, 2007).

Uma série de estudos limnológicos básicos, conduzidos nas décadas de 70 e 80 possibilitaram caracterizar o lago Paranoá como tipicamente monomítico quente, com circulação completa da coluna d’água no inverno (entre os meses de maio e julho) e estratificação com formação de hipolímnion anóxico (camada de água no fundo do lago sem circulação e ausência de oxigênio), durante o resto do ano nas áreas mais profundas (Starling et al., 2002).

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(junho/julho/agosto), a precipitação representa somente 2% do total anual. Em termos de totais anuais, a precipitação média interanual, no Distrito Federal, varia entre 1200 mm a 1700 mm. Curiosamente, sobre o lago Paranoá, localiza-se uma área com os mais baixos índices pluviométricos, de 1.250 a 1.300 mm/ano. A temperatura média anual varia de 18º a 22º C, sendo os meses de setembro e outubro os mais quentes, com médias superiores a 22º C. Considera-se o mês de julho o mais frio, com temperaturas médias que variam entre 16º e 18º C. As temperaturas absolutas mínimas de até 2º C e máximas de 33º C são registradas, respectivamente, no Inverno e no início do Verão. A umidade relativa do ar cai de valores superiores a 70%, no início da seca, para menos de 20%, no final do período. Coincidindo com o período mais quente, nos meses de agosto e setembro, a umidade pode chegar a 12%, secura típica de deserto (Fonseca, 2001).

Figura 1 – Lago Paranoá e seus principais tributários vistos do espaço Fonte: Google Earth, 2010.

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predomínio de Latossolos Vermelho-Escuro e de Cambissolos, outras classes de solos também são encontradas, porém em menor percentagem. Existe, ainda, na bacia do lago Paranoá uma grande área de cobertura urbanizada, com construções e pavimentação que causam a impermeabilização do solo (Fonseca, 2001).

O planalto central é região de nascentes e de rios pouco caudalosos. Na bacia encontram-se áreas de preservação ambiental e cultural de grande importância para o país. Ali estão o Parque Nacional de Brasília e a Área de Proteção Ambiental dos Ribeirões do Gama e Cabeça do Veado, zonas núcleo da Reserva da Biosfera de Cerrado, e o Plano Piloto de Brasília, área declarada Patrimônio Cultural da Humanidade.

A principal característica do lago Paranoá é o uso múltiplo de suas águas: hidroeletricidade, lazer, turismo, pesca, navegação, lançamentos de efluentes tratados, beleza paisagística e conforto ambiental. Esses usos têm favorecido um constante aumento da demanda e consequentemente uso intensivo dos Recursos Hídricos. Esta pressão sobre o lago Paranoá e toda sua bacia tem resultado em sérios problemas ambientais, que têm mobilizado a população. Áreas de proteção ambiental tornaram-se aglomerados urbanos, fazendo desaparecer inúmeras nascentes. Desmatamento, erosão e assoreamento diminuem a vazão de muitos cursos d’água. Verifica-se a super-exploração dos recursos hídricos subterrâneos, e a impermeabilização do solo urbanizado reduz a capacidade de recarga (Fonseca, 2001).

A QUALIDADE DA ÁGUA DO LAGO PARANOÁ

São muitos os fatores que podem contribuir para a degradação do ambiente aquático do lago Paranoá: entrada de efluentes, carregamento de agrotóxicos e substâncias tóxicas, assoreamento, e até mesmo fatores endógenos, que estão associados às próprias características do lago, como estratificação, tempo de residência, etc. Da mesma forma, existem diferentes métodos e critérios que podem se utilizados para se avaliar o estado de degradação de um corpo d’água, tais como:

- analise biológica e química da qualidade da água, como medição da concentração de clorofila e de nutrientes como o fósforo e nitrogênio;

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Neta seção é feita uma analise preliminar de alguns indicadores da qualidade do lago Paranoá.

Indicadores de qualidade da água

Estudos da comunidade de macrófitas do lago Paranoá são extremamente importantes, e sua presença são usualmente sintomas e não causas de problemas. Em muitos lagos e represas do Brasil, a proliferação de algumas espécies já é considerada uma verdadeira “praga”. Portanto, informações básicas sobre a biologia e ecologia das espécies presentes são relevantes no sentido de fornecer subsídios para o gerenciamento adequado da bacia do lago Paranoá.

O aguapé (Eichhornia crassipes) é a macrófita aquática mais abundante encontrada no lago Paranoá. É uma planta aquática emersa e flutuante, nativa da região amazônica, que apresenta altas taxas de crescimento. Essa espécie prolifera rapidamente em lagos com elevadas concentrações de nutrientes, que a planta utiliza para o seu metabolismo. Além da possibilidade de absorção dos nutrientes presentes na água, o que é extremamente útil em ambientes eutrofizados, o aguapé também tem a capacidade de remover metais pesados e outros contaminantes da água. Contudo, durante sua senescência (período de envelhecimento da planta), os nutrientes absorvidos e metais pesados são liberados para o meio novamente, através do processo de decomposição. Assim, as plantas devem ser removidas do ambiente aquático antes que entrem nessa fase (Esteves, 1998).

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flutuantes, encontradas principalmente nas margens e em pequena quantidade. As duas espécies são características de ambientes com maiores concentrações de nutrientes (eutrofizados ou poluídos), onde proliferam rapidamente (Fonseca et al, 2001).

(a) (b) (c)

Figura 2 - Tipos de macrófitas mais presentes no lago Paranoá: a) Eichhornia crassipes, b) Spirodela polyhiza e c) Pistia stratiotes.

Fonte: http:// www.botanic.jp, em 21/10/2007.

Do mesmo modo que ocorre com as macrófitas, os organismos bentônicos também podem ser utilizados como bioindicadores do nível de poluição do corpo aquático. Estes organismos vivem no substrato de fundo de ecossistemas aquáticos, formado por sedimento, pedaços de madeira, folhas, algas, rochas, etc, são organismos Os macroinvertebrados bentônicos ou simplesmente zoobentos, são os animais que ficam retidos em redes com, malha de 200 a 500 mm. Estes organismos são sedentários, não podendo evitar, rapidamente mudanças ambientais prejudiciais e existem variados graus de tolerância à poluição. Por essas razões eles têm sido amplamente utilizados como bioindicadores de qualidade da água, do nível de poluição e/ou alterações de ambientes aquáticos (Martins Silva et al, 2001).

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1993 e 1994, respectivamente. Embora tenha sido controlada desde a época de ocorrência do bloom, e os estudos apontarem que sua concentração continua diminuindo gradualmente, existe um risco constante de que a população volte a aumentar devido a um aumento brusco no nível de fósforo na água (Mattos e Starling, 2001).

A medida da concentração de clorofila, nutrientes, e alguns parâmetros físicos da água, são utilizados como métodos simples de monitoramento da qualidade do corpo hídrico. O fósforo total, medido geralmente em miligramas por litro (mg/l), é um nutriente e não traz problemas de ordem sanitária para a água. Contudo, a presença de fósforo na água é um indicador da existência, no corpo d’água, de despejos domésticos e/ou industriais, detergentes, excrementos de animais e fertilizantes. Similarmente ao que acontece com o nitrogênio, concentrações elevadas de fósforo podem contribuir para a proliferação de algas e acelerar, indesejavelmente, em determinadas condições, o processo de eutrofização.

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Programas de Monitoramento e Recuperação do Lago Paranoá

A preocupação com o problema de monitoramento da qualidade da água do lago Paranoá remonta sua própria formação. Devido ao ritmo acelerado das obras de construção da nova capital, não foi retirada a biomassa do local (vegetação, restos de construção, etc) onde se formaria o espelho d’água, nem as fossas sépticas construídas pra coletar os esgotos dos trabalhadores das obras. Desta forma, o lago já nascera poluído. Contudo, as ações tomadas para melhorar a qualidade da água demoraram a acontecer. Uma das primeiras ações concretas foi a construção das Estações de Tratamento de Esgoto Sul e Norte, no início da década de 60. Outros programas da época tiveram apenas caráter emergencial, como o uso de algicida para controle da biomassa. No início da década de 90, algumas ações mais efetivas foram tomadas o que resultou em uma reversão no quadro de degradação da qualidade da água do lago, com uma redução considerável nos índices de poluição.

Dentre as possibilidades de ações no lago Paranoá para reverter um eventual quadro de risco, em função do teor de nutrientes, podem ser citados: os métodos físicos como dragagem e sucção do sedimento, substituição seletiva da água do hipolimnio, aeração e retirada de biomassa vegetal, inclusive algas; os métodos químicos como oxidação química, algicidas e floculantes; e os métodos biológicos como introdução de peixes e molúsculos. Todos esses métodos requerem estudos de viabilidade e disponibilidade financeira.

Atualmente a bacia do lago Paranoá possui quatro estações de tratamento de esgoto: • ETE Sul atende as regiões de Brasília Sul, Guará, Cruzeiro, Núcleo Bandeirante, Candangolândia, Lago Sul e parte do Riacho Fundo. Esta estação utiliza a técnica de tratamento por iodo ativado com remoção biológica de nutrientes, seguido de polimento químico final. Os efluentes são lançados no lago Paranoá.

• ETE Norte atende as regiões de Brasília Norte e parte do Lago Norte. Os efluentes são lançados no lago Paranoá e possui tratamento idêntica a da ETE SUL.

• ETE Torto atende a Vila do Varjão do Torto. Utiliza o tratamento por infiltração em leito de areia e cloração. Os efluentes são lançados no solo.

• ETE Riacho Fundo parte do Riacho fundo. Utiliza a técnica de tratamento por iodo ativado com remoção biológica de nutrientes, seguido de polimento químico final. Os efluentes são lançados no Riacho Fundo.

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parâmetros monitorados tem-se a concentração de clorofila, fósforo total, concentração de oxigênio dissolvido e transparência da água. Os dados são coletados com freqüência mensal na profundidade de 1 metro em 5 pontos no lago Paranoá sendo assim distribuídos:

• Braço A, que recebe o aporte do tributário Riacho Fundo e das ETEs Sul e Riacho Fundo;

• Braço B, que recebe os tributários Ribeirão do Gama e Cabeça do Veado; • Braço C, na região central do lago, mais próximo a barragem;

• Braço D, que recebe o Ribeirão do Torto e;

• Braço E, que recebe o aporte da ETE Norte e do Ribeirão Bananal.

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Figura 3 - Média anual de concentração de Clorofila no lago Paranoá. Fonte: Caesb, 2007.

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Figura 5 – Média anual de Transparência da água no lago Paranoá. Fonte: Caesb, 2007.

A análise da concentração do oxigênio dissolvido na água, apresentada na Figura 6, mostra que houve pouca alteração deste parâmetro durante o período avaliado, com os menores valores observados entre os anos de 1999 e 2001, quando os valores registrados estiveram abaixo de 6 mg/l. Atualmente a concentração de oxigênio dissolvido se encontra em torno de 7 mg/l. Estes dados mostram que o lago possui uma grande capacidade de renovação e aeração das águas e, na média, apresenta boas condições para a sobrevivência e proliferação de vida aquática.

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A Figura 7 mostra a quantidade do algicida sulfato de cobre aplicado nas águas do lago Paranoá. No período avaliado, a maior aplicação ocorreu em 1992, quando foi lançado em torno de 10 toneladas de sulfato de cobre no lago. Com a modernização do tratamento de efluentes da ETE Sul e Norte reduziu-se fortemente a necessidade de aplicação do produto. Contudo, verifica-se que a opção pelo tratamento químico não deixou de ser utilizada totalmente. No ano de 2000, por exemplo, foi aplicada grande quantidade do produto no braço C (próximo a barragem). A aplicação do produto também tem sido freqüentemente realizada no Braço A (Riacho Fundo), local de maior quantidade de lançamento de efluentes no lago Paranoá.

Figura 7 – Quantidade do algicida Sulfato de Cobre aplicado nas águas do Paranoá. Fonte: Caesb, 2007.

Nota-se, a partir dos dados apresentados acima, que existe uma grande correlação entre a diminuição na concentração de clorofila e a diminuição na quantidade de fósforo, e também uma correlação inversa entre estes parâmetros e o aumento na transparência da água. Estes resultados levam a conclusão de que houve um processo continuo de melhoria da qualidade da água do lago Paranoá no período avaliado. Isto está associado, a um maior controle sobre a descarga de efluentes no lago e a melhoria das estações de tratamento de esgoto, associado a um controle mais rígido dos diversos fatores que influenciam na qualidade da água. Contudo, o fator decisivo para a melhora da qualidade da água está associado à mudança na operação da barragem, com o deplecionamento (redução da cota) do lago.

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significativa da qualidade das águas do lago, tanto em termos da transparência quanto em termos da população de algas, que foram, naquela ocasião, lançados fora do lago com a descarga que antecedeu a chegada das águas limpas das chuvas. Desde então, a operação de redução da cota do lago para aguardar as chuvas de final de ano repetida anualmente, passou a ser vista como um importante procedimento de manejo do lago, com a finalidade de controle da qualidade ambiental. Atualmente a operação de depleciamento passou a ser uma ação integrada de manejo do lago Paranoá, coordenada pela Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, contando com a participação de diversos órgãos do governo, que promovem atividades como a limpeza das margens e de seus tributários, fiscalização de ligações clandestinas de captação de água e de lançamentos de esgotos, campanha de esclarecimento da população (Fonseca, 2007 & Souto Maior, 2001).

Outro programa de monitoramento mantido pela CAESB é o Programa de Balneabilidade do lago Paranoá, que visa estabelecer as áreas próprias à recreação de contato primário (natação, esqui aquático, mergulho, etc.). Atualmente são amostradas semanalmente 30 pontos de coleta distribuídos pela extensão do lago Paranoá. Os resultados de coliformes fecais, obtidos em cinco semanas consecutivas são analisados, possibilitando o enquadramento de cada um dos pontos de coleta como impróprio (>1000 NMP1/100ml) ou próprio (<1000 NMP/100ml), sendo que esta última classificação pode ser subdividida em Excelente, Muito Boa e Satisfatória. Semanalmente é produzido um mapa do lago Paranoá com os resultados das amostras. Vale lembrar que a medição do número de coliformes fecais em um corpo d’água é um indicador não só da contaminação por fezes de origem humana e animal, como também da possibilidade de coexistência de organismo patogênicos.

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Tabela 1 – Resumo estatístico dos resultados das amostras de condição de balneabilidade do lago Paranoá. Índices de coliformes termotolerantes (Fecais) em NMP11. Programa de Balneabilidade do Lago Paranoá: até julho de 2007 (parcial). Fonte: Adaptado de Caesb, 2007.

E B S I T E B S I T E B S I T

1 Ponte Gilberto Salomão 20 16 6 9 51 15 7 19 11 52 16 0 7 3 26 2 Clube Nipo Brasileiro 28 9 7 7 51 25 8 9 10 52 13 1 6 5 25 3 Trem do Lago 34 10 4 3 51 26 6 8 12 52 15 3 4 4 26 4 Prainha (ao lado da Ponte das Garças) 31 9 8 3 51 31 8 3 10 52 17 4 4 1 26 5 Cota Mil Iate Clube 37 7 4 3 51 28 3 12 9 52 19 0 4 3 26

6 Clube Naval 33 7 4 7 51 41 4 2 5 52 20 3 2 1 26

7 Clube de Golfe 50 1 0 0 51 50 1 1 0 52 25 1 0 0 26 8 Academia de Tênis 51 0 0 0 51 51 1 0 0 52 26 0 0 0 26 9 Lake Side - Casinha CAESB 49 2 0 0 51 49 0 1 2 52 25 0 1 0 26 10 Quiosques do Calçadão do Projeto Orla 49 1 1 0 51 46 3 1 2 52 23 0 2 1 26 11 Clube da Imprensa 45 4 0 3 52 36 2 7 7 52 18 1 7 0 26 12 Est.entre Cl.Motonáutica e Alm. Alexandrino 37 9 3 3 52 30 6 3 13 52 13 4 5 4 26 13 Iate Clube de Brasília 18 8 4 22 52 20 6 7 19 52 9 2 2 13 26 14 Baía Iate Clube de Brasília 38 7 6 1 52 31 5 5 11 52 17 4 2 3 26 15 Minas Brasília Tênis Clube 46 3 1 2 52 41 9 2 0 52 24 2 0 0 26 16 Clube Náutico de Brasília 40 6 2 4 52 34 5 6 7 52 21 0 4 1 26 17 Em frente a Estação Biológica da UnB 32 11 2 7 52 36 2 8 6 52 17 3 4 2 26 18 Área de Lazer Norte 38 10 1 3 52 32 9 6 5 52 21 1 3 1 26 19 Praia da ML 05/06 - Lago Norte 51 1 0 0 52 51 1 0 0 52 23 2 1 0 26 20 Praia da ML 07 - Lago Norte 52 0 0 0 52 52 0 0 0 52 25 0 1 0 26 21 Praia da ML 12 50 2 0 0 52 52 0 0 0 52 25 1 0 0 26 22 Praia da Ermida D. Bosco 51 1 0 0 52 52 0 0 0 52 25 1 0 0 26 23 Parque da QL 14 - Morro do ultra-leve 50 2 0 0 52 51 1 0 0 52 26 0 0 0 26 24 Ciclovia do Lago Sul 52 0 0 0 52 52 0 0 0 52 26 0 0 0 26 25 Baía do Pontão 46 5 0 1 52 47 3 2 0 52 23 1 2 0 26

26 Pontão 42 5 3 2 52 35 10 3 4 52 20 4 2 0 26

27 ETE Norte 36 6 6 4 52 36 9 3 4 52 20 1 3 2 26

28 ETE Sul 2 2 12 36 52 2 1 20 29 52 3 2 5 16 26

29 Centro Olímpico - UnB 42 6 1 3 52 34 3 12 3 52 21 1 2 2 26 30 Entrada do Ribeirão do Torto 51 0 0 1 52 49 1 2 0 52 22 2 2 0 26

TOTAL 1201 150 75 124 1550 1135 114 142 169 1560 598 44 75 62 779

2005 2006 1º Semestre/2007

Local de Amostragem

E = Excelente; B = Boa; S = Satisfatória; I = Imprópria; T = Total.

Os resultados apresentados no Tabela 1 mostram que os índices de contaminação por coliformes fecais do lago Paranoá são baixos, sobretudo se comparados a reservatórios localizados em outras regiões metropolitanas, como é o caso da represa Billings e Guarapiranga, em São Paulo. Na média apenas 8% 10,8 das amostras analisadas em 2005 apresentaram resultados insatisfatórios com relação às condições de balneabilidade, ou seja, com índice maior que 1000 NMP1/100ml. Em 2006 esse número aumentou para 10,8% e no 1° semestre de 2007 o percentual ficou em 8% das amostras. Por outro lado, a quantidade de amostras consideradas excelentes (> 250 NMP/100ml) foram 77,5%, 72,8% e 76,8%, respectivamente para os anos de 2005, 2006 e 1º semestre de 2007.

1NMP – Número Mais Provável, método para se quantificar a contaminação pela presença de

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Entretanto, quando os pontos de coleta são avaliados individualmente, nota-se que existe grande variabilidade espacial no que tange a variabilidade dos valores coletados. Enquanto as coletadas realizadas próximo à Academia de Tênis resultam em praticamente 100% de amostras com índice excelente, próximo à saída da estação de tratamento ETE Sul os resultados indicam, em mais da metade dos casos, que o local é impróprio para atividades balneárias. Isso sugere que apesar dos esforços que vem sendo empregado na modernização das estações de tratamento de esgoto, a ETE Sul não tem conseguido despoluir com eficiência os efluentes de sua área de captação, provavelmente pela sobrecarga de efluentes. Por outro lado, a estação de tratamento ETE Norte apresenta índices bem melhores, talvez pela menor quantidade de efluentes. Outros locais, como o Iate Clube, também apresentam alta concentração de coliformes fecais, chegando a 50% de amostras com índice > 1000 NMP/100ml, 1º semestre de 2007. Este resultado indica que não devem ser atacados somente os problemas das estações de esgoto, mas todo o entorno do lago deve ser monitorado e fiscalizado, para que toda sua extensão tenha resultados positivos.

O processo de biomanipulação pode ser utilizado como medida complementar de manejo para acelerar o processo de recuperação de ambientes eutrofizados. A biomanipulação da cadeia trófica pode ser entendida como sendo qualquer intervenção em um componente-chave da cadeia alimentar dos ecossistemas lacustres visando promover melhorias na qualidade de suas águas. Neste caso, merece destaque a manipulação das populações de peixes planctófagos filtradores, para o consumo das algas (Starling, 2002).

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(Starling, 2002). Soma-se a estas melhorias de caráter ambiental, importantes benefícios socioeconômicos à população de baixa renda do DF com a futura liberação da pesca profissional de tilápias próprias para consumo humano e aquicultura de carpas prateadas em tanques-redes (Starling, 2002).

A CAESB possui um programa que visa utilizar a introdução de peixes como forma de diminuir os níveis de poluição do lago, o Programa de Biomanipulação, coordenado pelo pesquisador da CAESB, Fernando Starling, que tem defendido a introdução de carpas chinesas capim e prateada, para combater a poluição orgânica e o povoamento com duas espécies brasileiras de elevado valor comercial, o pacu e o tambaqui. Contudo, a continuidade e aprofundamento deste programa depende de futuros povoamentos periódicos, previstos no Programa de Biomanipulação da CAESB (Ribeiro et al. 2001 & Projeto de Manejo, 2007).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Programa de Recuperação e Manutenção do lago Paranoá, ancorado no processo de tratamento terciário, com remoção biológica de nutrientes e polimento final do efluente, aplicado nas ETE , foi garantido pela ampliação e adequação das ETEs pioneiras. Entretanto, a qualidade das águas do lago depende da adoção de outras medidas, tais como: implantação e complementação da rede de coleta de esgoto em toda a bacia do lago Paranoá, controle das atividades poluidoras e remoção das fontes de poluição. Eliminação das ligações clandestinas de esgotos a rede de águas pluviais e limitação do crescimento populacional para a ocupação da bacia do Lago Paranoá.

Entre os programas de monitoramento e recuperação do lago Paranoá desenvolvidos atualmente, pode-se citar o manejo da operação da barragem e o Programa de Biomanipulação da CAESB. Estes são exemplos de medidas eficazes e com baixo impacto ambiental que podem ser utilizadas para reduzir os níveis de poluição, sem a necessidade de utilizar métodos mais drásticos, como o uso de produtos químicos que, apesar de serem eficazes na redução da biomassa, pode ser uma fonte de acumulação de metais pesados no fundo lago e conseqüentemente na cadeia alimentar, trazendo prejuízos ainda maiores para a população em um horizonte de longo prazo.

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apesar dos muitos problemas ainda à enfrentar, a recuperação do lago Paranoá tem tido bastante sucesso, sobretudo se comparado a outras regiões do pais. Após o começo desastroso, que culminou com o desastre ambiental de 1978 (episódio do bloom de algas), houve uma maior conscientização e mobilização de esforços na recuperação e manutenção do lago. Resta saber se a pressão pelo uso e ocupação do solo da bacia do Paranoá, sobretudo do setor imobiliário, não irá comprometer essa tendência de melhora. Nesse sentido, o processo de gestão dos recursos hídricos deve funcionar como uma ferramenta que contribua para a compatibilização do uso e ocupação do solo com a conservação das águas nas bacias hidrográficas.

REFERÊNCIAS

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Figura 1 – Lago Paranoá e seus principais tributários vistos do espaço  Fonte: Google Earth, 2010
Figura 2 - Tipos de macrófitas mais presentes no lago Paranoá: a) Eichhornia crassipes,  b) Spirodela polyhiza e c) Pistia stratiotes
Figura 3 - Média anual de concentração de Clorofila no lago Paranoá.
Figura 5 – Média anual de Transparência da água no lago Paranoá.
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