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O Partido Trabalhista Brasileiro e os dilemas dos partidos classistas

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(1)

CPDOC

M��ia Celi.r,j S0ar�� Drlr��jo -_/

FUIIDICãO GETULIO VIRGIS

CENTRO DE PESQUISA E DOCUMENT AçAO DE

HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL

(2)

t

D!LEMA3 DOS PARTIDOS CLASSISTAS

FUNDAÇlo GETOLIO VARGAS

CEN�RO DE PESQUISA E DOCUMENTAÇlo DE HISTÓRIA CONTEMPORÂNEA DO BRASIL

RIO DE JANEIRO 1991

(3)

Datilografia: Mircia de Azevedo Rodrigues e Dulcinéa Domingues de Souza

A663p

AraGjo, Maria Celina SOdres d'.

O Partido Trabalhista Brasileiro e os ãilemas dos partidos classistas/Mdria Celipa Soares d' AraGjo. Rio de Janeiro: CPDOC, 1991.

46 f. - (Textos CPDOC) Bibliografia: f. 42-44

1. Trabalhismo - Brasil. 2. Partido Trabalhis ta BrasileiLo. I. Centro de Pesquisa e Documen= tação de Hist6ria Contemporânea do Brasil. 11. Título.

CDD 329.981 CDU 329(81)

(4)

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03}06/91

(5)

1. O TRABA L H I SMO N UMA RETROSPECTIVA EURO-AMERI CANA - I nglat erra : o part i do trabalhis t a co�o federação

03

de sindica t os 05

- Alemanha : a van guarda partidária no trabalhismo

- Estados Uniõos: o trabalhismo sem partido

2. O TRABALHI SMO NO BRAS IL

- Relações entre sindicatos e partidos

- Integração e incorporAç5c da classe trabalhadora

- Trabalhismo e controle gov�rnampntal

3. CONCLUSCES BIBLIOGRAFIA 12 22 28 30 34 36 38 42

(6)

União Democrática Nacional (UDN).

Nos últimos anos surgiram vários estudos sobre o antigo

PTB, mas o projeto político trabalhista subjac�nte a proposta do parti.do continua pouco examinado. 1 Embora a proposta trabalhista no Bt:asil não fosse tema cativo do PTB, este partido, mais do que qualquer

outro, esteve a ela associado. Essa associação deccrre de várias

razões: associação à imagem de Getúlio Vargas, particularm�nLe va-lorizada por sua mística de patrono das leis sociais; filiação

prática e às propostas de intermediação entre interesses sindisais e intEresses do governo; formulação interna de uma idEologia nacio-nal.-reformista, e, finalmente, articulação pQIÍtica com

lideran-ças e entidades de trabalhadores para fortalecer a política de

mas-sas empreendida pelo partido.

Esses fatores articulados forjaram o projeto tra'::>alhista

brasileiro e alimentam a hi pótese de que, enquanto movimento polí

-tico-partidário, ele esteve mais articulado com um projeto global

1. Os trabalhos específicos sobre o PTB são: Miguel Bodea, Traba­ lhismo e populismo: o caso do Rio Grande do Sul (1984); Maria Victoria de Mesquita Benevides, O PTB e o trabalhismo: pa�tido

e sindicato em são Paulo (1989); Lucília de Almeida Neves Del­ gado, O PTB do getulismo ao reformismo (1945-1964), (1989); Vir­ gínia Maria Cristina pellegrini, O PTB em são Paulo (1945-1964) , (1989); e Maria Celina Soares D' Araújo, A ilusão trabalhista: o PTB de 1945 a 1965, (1989).

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de política nacional ditado pelo alto do que com um projeto especí­ fico de organização, participação e defesa dos trabalhadores.

A aceitação dessa hipótese nos leva a pensar outros ca-minhos possíveis para a incorpor.ação dos trabalhadores ao processo político. Torna necessário também sair dos marcos de nossas fron­ teiras para pensar outras experiências de projetos trabalhistas que incluíram a formação de organizações político-partidárias de traba­ lhadores.

A grande maioria dos países industriais passou por essa experiência, e o Brasil acompanhou, ainda que tardia e diferencidd� mente, a dinâmica dos tempos. Ou seja, a industrialização, em ge·· ral, se deu paralelamente à formação das classes trabalhadoras mo-dernas, que participaram desse processo reivindicando direitos e garantias compatíveis com as transformaçôes das institulçôes polí­ ticas e econômicas, e convertendo-se DO mp.smo tempo em âgentes im-portantes deD s as transformações. A organ i zação sindical, o surgi-mento de partidos socialistas e trabalhistas Dão i •• dicadores dessa

situação, mas a forma como se desenvolveram as relações entre lllovi­

mento operário, sindicato, part i do, classe trabalhadora e governo

teve um grau de diferenciação bastante p.levado.

Nesse sentido, tor.na-se necessário explicitar certos pa­ drões que regeram essas relações, e para tanto tomaremos dois exem­ plos clássicos de palses europeus - InglDterra e Alemanha -, aos quais será agregado o caso norte-americano. Ao fa«ê-Io, não temos

nenhuma pretensão de encontrar um modelo que cor responda exatamen-te ao movimento e à política trabalhista no Brasil. Por outro

la-do, seria ingênuo supor que o modelo brasileiro pautou-se por uma

(8)

encon-trar em outros exemplos h i stóri cos aspe ctos que ajudem a compreen­ são da e xper i ê n c i a do partido trabalh i sta mai s i mportante do Bra­ s i l até o golpe m ilitar de 1964.

1. O TRABA LHISMO NUMA RETROSPECTIVA EURO-AMERICANA

De modo g e r al , tende-se a def i n i r mov imento traba l h i sta como sendo esse n c i almente um c o n j unto de at ividades dos trabalhado­ res em so c i edades i ndustri a i s , v i sando a melh o r i a de suas c o nd ições de v i d3 e de trabalh o . Dessa ati v i dade resulta , em termos inst itu­ c i o n a i s , a formação de s i n d i c atos , cooperat i v as e outros órg ãos de c l asse , assim como a for mação de pa rtidos políti cos . Estes têm va­

ri ado n o est ilo de atuação política e na adoção de l i nhas ideoló-g i c as . Assi m , alguns partidos de tra balh adores , ou que se propõem

representi-los , e l eg em a atuação parlamentar como locus pr ivileg i a-do para as conquistas traba l h i stas dentro de uma perspectiva de

aperfe içoamento da ordem soc ial. Para outros , essas conqui stas de-v e m dar-se sob d i r etrizes i d e ológicas c u j os proj etos , alim de i n ­ cluir a defesa dos i nteresses da classe , visem uma r e formulação g e ­

ral d a sociedade , ta r e fa esta que é freqüentemente asso c i ada a um id e a l revoluc i on ir i o.

Tão importante quanto a direção i de ológ i c a assum i d a pelo

movime nto é a i nteração criada entre trabalh adores e s i nd i catos , as

s i m c omo as relações destes com os seus part i d os . Par alelamente , hi que considerar o papel desses partidos dentro d a pol í t i c a i n st i ­ tuc i o n a l e d e que fo rma eles têm c olaborado n a formação d e um pro­ ces so de d esenvolvime nto ass o c i ado à democ r ac i a .

(9)

tre sindic a t o e p artido . A segunda re fere-se à inserção d e s s e

mo-vimento nas r e l ações de poder , ate ntando nesse caso para o tipo d e

in t egração, que pode ser tanto positiva quanto neg ativa . 2 A esse

respeito , segun o S c w e 1 n 1 t z , d h · · 3 d epen e n o a orma d e d d d f inserção dos trabalh adores no jogo polí tico de um sist ema indu strial, o prod uto

para o f u t uro democrá tico da sociedade pode ser qualit a t ivamen t e d i

-fere nte . Se o crescime n t o econômic o tem g erado ben e f í cios divers

l

ficados , t em sido também f o n t e de con flito . A forma de ger i - l o de modo a man t e r a ordem pode variar de uma política de con t role per-missivo até o contro l e autorit ário por part e do govern o .

S c hwe i nitz e n t e n d e por c o ntrole permis s ivo a situação na

qual a questão trabalhista está sob um controle winimo do governo, em que os trabalh adores formam s o c i edades , sind icatos e parti d os e os usam visando a d e f e s a d e seus interes s e s , ainda que existam

res-tr ições leg ais e coer c i tivas quanto ao uso des ses i n sres-trumentes . Por out ro lado , o controle a u t orit ári o está remet i do à s i t u ação n a qual o governo controla dire t ame nte a questão d o trabalho . Os modelos inglês, amer i c ano e francês são , para esse aut or, exemp los de um controle permissivo - d i f e r e nte da Rússia , por exempIo - e são t am-bém exemplos de democracias bem s u c e didas . A questão para ele é, portan t o, como res o l ver o pro b l ema da distribuição sem prejudicar a a cumulaçã o e s em impedir a d emocra c i a .

2 . Guent her Roth, 1979.

(10)

A preocupação de Schweinitz com a questão democrática e

fundame n t al , e nesse sentido ele nos apre s e n t a claramente urna ter-ceira dime nsão a ser con sid erada , ou se j a , o tipo de con trole que o

governo in s t itui sobre os movime n t o s trab a l histas e as implicaçõ es desse cont role.

Perseguindo essas trê s dime ns ões, serão s umariadas algumas experiências his tóricas reconh ecidamente sig nificativas com vista o o b j e tivo d e re t e r aqueles elementos que nos pareçam mais pertin e n

-tes para o estudo d o PTB e do trabal hismo brasil eiro .

I nglaterra: o partido trabal h i sta corno federação de sindicatos

Desde o final do s�culo XVIII, a Inglaterra con t ava com um forte movimento de trabalhad ores em c u j a agenda se colocava

priori-tariamente a questão da participação pol ítica. A influência do radica l ismo francês , ass ociada às tradições obr iras de inconformis

mo , de ideal de cidadão inglês e de motim plebeu , 4

Thompson , precipitar a agitação d aqueles tempos .

iria, segundo

A l iberdade de consciência e a tradição associativa ,

valo-res herdados do passado , permitiram que se e fetuassem articulações entre os trabalhadores , apesar dd inte nsa repressão do governo . Thompson observa que o associativismo , a r eligião , os protestos e a

repressão tiveram urna f unção educadora d a maior importância para a classe operária , pois a impeliram a inovações n a s f ormas

(11)

tivas e à pr e s erva ç ão de t r adições própr i a s . A atividade sindical

f o i c l a rame n t e um produto dessa expe riência .

o mov i me n t o de t r abalhado r e s n a Ing l at e rra n ã o f oi t ã o f o r t e a pon t o de comprome t e r o proc esso d e a cumulação , mas , d e out r a pa r t e , foi f o r t e o bas t a n t e pa r a abalar a capacidade d o g overno de

f , 1 x a r - s e em reg r as nao emo c r a t 1 c as . - d " 5 Esta in t e rp r e t a ç ã o de Sch wei n i tz é c o e r e n t e com a de Thompson quando a firma qua a p r e s e n ç a da class e t r abalh adora r epresentou o fenômeno pol í t i c o mais impor t ah t e n a I n g l a t e r r a e n tt:e ine ados dos séculos XVIII e X I X , pois que f o ram os próprios t r a b a 1 h adot:es que , n o s p r i mórdios da indus tt:i a liza ção

ing l esa , c o n t ribu í r am dec i sivamente pa r a molda r a cara e o feitio da burgues i a e das i n s tit uições pol í ticas bri táni cas.

p a r a l e1ame�t e à org a n i za ç ã o sindical, a Inglat erra vi ven-ciou dur an t e o século XIX dema ndas sucessivas dos traba1h ad�t:es por maiores dire itos polí ticos , c omo foi o c aso do cartismo, Não obs-'

t ante isso , a influên cia socialis ta ne s s e pa í s n50 esteve, como na A l emanha, t ão próxima dos s i nd i c a tos . Se h avia um interesse cada

vez ma i s man ife s t o das ot:ganizações sindicais no sentido de se f a-zen'm repr e s e n t a r dir e t amen t e n o parlamen t o - de f o rma

independen-t e - e de , a independen-t r avés dessa r epresenindependen-taç ão, luindependen-t a r por mais c onqui sindependen-tas pa ra os t rabalhado r e s ot:ga nizados , n ã o é vet:dade que uma ideologia soc i alista acompan h asse pat:i-pa ssu esse movime n t o . A rig or , as

vá-t:ias organizações s o c i alistas que sut:g i r am na Inglatet:ra n o sécul o X I X estavam mais pt:óximas d a s cla sses médi a3 e dos int e l e ctuais do

6

que dos t t:abalhado r e s . Sua impot:t â n c i a não pode ,

5 . Kat'l Schwe i nitz J r . , 1964 .

6 . Hent:y P ellin g , 1 965 .

(12)

minimizada na criação do Labour Party. Ou seja. os dois

movimen-tos. o sindical e o socialista. vão encontrar seus pontos de

con-tato. o que seri crucial para o formato Gltimo da

partido trabalhista.

criação de um

Ambos concordavam. com maior ou menor ênfase. que os tr3-balhadores precisavam de um canal próprio de representação par la·-mentar. As dificuldades para tanto levaram a que. na segu'lda

me-tade do século XIX • se solidificasse também a aliança com o Par­ tido Liberal. agremiação m3is permeivel is demandas do labour move-ment. consagrando com isso uma fórmula eleitoral conhecida como

Lib-Lab. Por outro lado. 6s esforços do Partido Conservador

tam-bém foram grandes no sentido de apresentar um programa re formista

que absorvesse as ambiç5es do movimento trabalhisLa. Esta ofensi-vai associada ã postu�a do Partido Conservedor de se mBnter como porta-voz maior de uma pr.oposta ideológica só} iela de cnfx-entamento das novas questões dentro de uma visão conservadora de coes�o e ele

ordem social. sera fundamental para explicar o fato de que praticc mente metade da votação desse partido tenha advilldo. i:lté recente-mente. das classes trabalhadoras. que constituem cerca de dois

ter-ços de eleitorado. Isso significa que. desse contingente. um ter-ço em tradicionalmente votando com os conservadores.7 1\

inclina--ç�o dessa parcela dos trabalhadores pelo voto conservador não des­ caracteriza contudo o significado elo Labour P arty enquanto par-tidO trabalhista de bases sindicais e com orientação socialista refor­ mista.

(13)

o surgi.mer.::o do Labour Party está circunscrito ao período que caracteriza a moderna história eleitoral inglesa, que começa a partir de 1886, após o 32 Ato da Reforma de 1884 e a redistribuição de cadeiras em 1885, que fazem vigorar as premissas de na cada um, um voto'l e lia cada voto o mesmo valor':. o móvel maior para a cria

-ção do parti do foi a insistência com que vários líderes trabalhis­

tas, principalmente Keir Hardie e Henry Hyndman, defenderam a idiia de uma representação aut6noma para sua classe. Essa autonomia nao

dizia respeito apenas a um organismo político, mas tambim a

ques-tões financeira s. Estava em jogo principalment. o desDfio de que o

movimento conseguisse arrecadar fundos para suas campanhas

eleito-rais para sustentar seus representant e s no Congresso, deixando, com isso, de depender dos outros partijos existentes.

Em linhas gerais, portanto, o partido trabalhista inglês originou-se da ütiva propaganda socialista no sbculo XIX e da

ne-cessidade de complementar as atividades sindicais e grevistas com a

ação par'lamentar.8 várias iniciativas foram tOP.lauê:s nesse sent.i.­

do, sendo as mais importantes, du ponto de vista da atuação sindi­

cal, a criação, em fins do siculo, do Trade Unior: Congress e do

La-bour Representation Committee. Este último, criado em 1900, foi o embri.ão do Labour party, criado em 1906, enquanto o primeiro con­

tinuou como expressão maior da articulação sindical em nlvel fede­

ral, reunindo-se an ualment e para definir as diretrizes da atuação

do partido.

Para a formação do Labour Party três organizações

socia-listas foram tambim da maior importância. A Social Democratic;

(14)

dera t ion , liderada por Hyndma n , com orie n t a ç ã o mar xis t a mas de ade­ são restrita; a Fabian Socie t y , que con t ou com emin e n t es int electu­ ais como o casal Webb e Be r n ard Shaw e que propugnava por um soc i a ­ lismo evolutivo; e o I ndepende n t L abour Party , d e Hardie , que , pos-tulando um soc i a l i smo n ã o dog mático e n ã o exclu s i vis t a ,

e x pandir o ide ário socialis t a e n t r e os sindicat o s . 9

con seguiu

Só em 1 918 o Labour P a r t y se aut ode f i niu como socialis t a , data em que passou a admitir tambim a filiação individual , vis t o

qu e , a t i e n t ã o , a filiação se f a zia exclus ivame n t e a t r avis dos sin-dicat o s . De finido como uma fede ração de sindic a t os e de org aniza-ções socialistas a ele filiada s , o partido teve um crescimen t o e lei tor a l significativo , t ra n s forma ndo-se ao f i m da P r imeira Gue�ra num

dos maiores do pa í s ao l ado do P a r t ido Conse rvador . Seu

crescimen-t o subscrescimen-ticrescimen-t uiu, nessa ipoca , o bipar crescimen-t idarismo de liberais e conserva

do res pe l o de trab a l histas e co n s ervado r e s . Isso lhe permitiu f

or-mar governos min oritá rios em 1 9 24 e de 1 9 2 9 a 1 9 31 , até obter a

maioria em 1 945 , permanecendo n o poder a t i 1 9 51 , e a ele r e t ornando mais t arde , nos pe r í odos de 1964-70 e 1 974 -79 . 10

Embora ace itando a filia ç ã o individual , 90% de seus filia-dos continuaram sendo os sindicalizafilia-dos , e mesmo se defi nido como

"resu l t an t e mais da evolução his t órica do que de um plane j amento l

gico" 11 o L abour Part y con t i n uou a ter suas bases eleitorais pri� cipalmente nas classes t r abalhadoras . Como já foi observado , iat o

9 . Egon Werth eimer , 1 930; Cl ement A t tlees , s/do

10. A social democracia alemã e o trabalhismo i ng lês , 1 983 . 1 1 . Clement At t l ee s/d , p . 7 1 .

(15)

não significa que o partido tenha tido o monopólio dessa represen­

_ 12

taçao.

o exemplo britânico é marcante quanto à articulação e sim-biose entre partido e sindicato. o sindicalismo inglês, que em

fins do século X I X conseguiu absorver a massa industrial não

espe-cializada, trans formou-se num poderoso instrumento de pressão polí-tica que atuou em duas direções. De um lado, forçou o governo e os partidos conservadores a implementarem importantes medidas do ponto de vista político e social - e dentro de uma tradição britânica de

conciliação entre mudanças e tradição, tal como postulada por Bur-ke, o país conseguiu absorver, de forma legítima e integrativa, as demandas trabalhistas oriundas da nova ordem industrial. De outro lado, o movimento sindical trans formou-se no leito mais propício a

organização político-partidária dos trabalhadores dentro do sistema

representativo.

Diferentemente da Alemanha, a direção da influência tomou

o rumo dos sindicatos para o partido. Este continuou sendo essen-cialmente um órgão político de uma federação de sindicatos. En-quanto partido, sua organização interna e seu comportamento polí-tico não têm diferido muito do Partido conservador, 13 o que é indi

cativo também do grau com que tem partilhado das regras

estabele-cidas dentro da democracia inglesa. Importante ainda foi a compre-ensao de vários líderes trabalhistas de que o Estado inglês não era um inimigo da classe trabalhadora, podendo portanto ser considera-do um aliaconsidera-do importante nas lutas considera-dos trabalhaconsidera-dores. Essa posição,

12. R. Robert Alford, 1967.

(16)

con t udo , n ão implicou que s e abrisse mão da de fesa das l iberdades

c i vis e individua i s . Nesse sentido , o próprio pert e n c i m e n t o ao si�

d i c a t o não forçou o trabalh ador a obrig ações e t are f a s c ultura i s ou pol í t i cas obrig a t órias . Ou se j a , n ão houve , como n a A l eman h a , a

preocupação em for j a r uma comunidade de trabalh adore s , que f e z com que os s i ndic atos e o part ido alemães tive ssem como a tiv idade preci pua a socializ ação dos traba l h adores den tro de det erminados pri n c í

-pios ideol ógicos que l h es permitis sem cr i ar uma c u l t ura própria.

A Inglaterra foi mais f l e x ível a esse respeito. As

orlen-t a ç õcs do Labour Parorlen-t y , foram sempre m u i orlen-t o elásorlen-ticas , e i s orlen-to

permi-t i u a convivên cia in permi-t erna de várias orie n permi-t açõe s . Alirn di sso , o pa� t i do t eve ainda como cara c t er í s t ica básica o f a to de ter se formado e crescido na prática antes de t er defin ido para si um corpo de pr� posições programá t i c a s a s erem seg uidas . 1 4 Por t udo isso , i

per-f eit amente compre ens ível a opi nião de C l ement At t l e e , primeiro -mi-nistro de 1945 a 1951 , de que "o Partido Trabalhista Bcitânico e uma expressão do movimento soc i a lis t a adaptada às condições britâ-n i cas", cobritâ-ndições essas que têm sido h i storic amebritâ-nt e marcadas pela

, 1 f 1 d' - 1 5

cont1nuidade , pe a re orma e pe a tra 1 ç a o .

Est a visão burkeana parece crucial para ente nder o compor.-tamento e a org anização pol í tica dos trabalhadores ingleses , na

me-d'd 1 a e m que e 1 es t am em a part 1 amo b' 'Ih 1 6 Por todas essas in junções ,

o partido traba l hista i n g lês con s t it u i o exemplo c l áss ico de um paE

1 4 . Egon Wer.t h eimer , 1 930 .

1 5 . Clement A t t lee , s/d , p . 1 5.'

(17)

tido que fluiu do movimento sindical e que cont inua mantendo com

ele estreita relação de dependência, o que se expressa, na prát ica, através do Congresso Sindical realizado anualmente para ditar as linhas de conduta do part ido. Por outro lado, o Labour Par t y não perdeu de vista o pertencimento integrativo ao país, ou seja, nao fez da oposição ou de um projeto de classe excludente o móvel maior de sua ação e, por isso mesmo, não sofreu um controle limitativo ou impeditivo por parte do governo.

do da sociedade inglesa.

o Labour Party tornou-se um part�

Alemanha: a vanguarda partidária no trabalhismo

País t ardiamente industrializado em relação à Inglaterra e

à França, a Alemanha foi palco de um movimento sindical e trabalhis t a de matiz socialist a e marxista inédito. Experimentou t ambém, desde fins do século XIX, a atuação de um forte partido socialist a

junto ao sindicalismo, o Partido Social Democrata ( SPD) , qUG, de oposição intransigente à política imperial, passou ao governo em outubro de 1918 com a inst auração da República de Weimar.

De t radição conservadora, dominada politicamente por uma aristocracia rural - os Junkers -, com um Estado Nacional recem criado e tendo convivido com a servidão até meados do século XIX, a Alemanha passou em 1918 a se constit uir em uma república chefiada pela social-democracia para, cerca de quinze anos depois, t ransfor­ mar-se num exper iment o pol í t ico insól i t o sob a 1 iderança de Hitler. Com o fim da Segunda Guerra, a social-democracia voltou a ser uma das principais forças políticas, e o país entrou no rol daquelas

(18)

so-ciedades caracterizadas pelo Welfare State, que traz embutida a idéia de

amplos benefícios sociais e econômicos extensivos às classes trabalha

doras.

A bibliografia marca o surgimento da classe trabalhadora

na Alemanha enquanto ator político no momento concomitante à

forma-ção do Estado Nacional e ao desenvolvimento industrial. A industria

lização neste país não se constituiu em obstáculo econômico à or-ganização dos interesses das classes, posto que a indústria foi si-nônimo de uma acelerada mudança social mas também de mais emp�egos

e mais oportunidades. Desde 1870 até o início da primeira Guerra Mundial, houve um aumento real da renda dos trabalhadores.

Se a industrialização não foi sinônimo de empobrecimento

para as classes trabalhadoras, gerou, contudo, intensos

para as associações (guilds) que, como mostra Barrington

conflitos

17

Moore, eram fortes organizações que detinham o monopólio das profissões. O desenvolvimento industrial criou novas regras de racionalização da divisão do trabalho e de organização das classes e impôs para os

trabalhadores o desa fio de inovar na sua própria organização. Essa

tarefa organizativa será tão mais intrincada na medida em que os

trabalhadores constituam uma categoria extremamente diversificada, como era o caso alemão onde, ao lado de diferenças regionais em te� mos de desenvolvimento, de atividades econômicas e de organização, coexistia uma classe trabalhadora que era muitas coisas ao mesmo

tempo: ex-servos, camponeses conservadores, mineiros rebeldes, op�

. , d" t 18

rarlOS ra lcalS, e c.

17. Barrington Moore, 1979.

(19)

Passar da herança institucional das associações poderosas aos sindicatos, política e economicamente atuantes, mas não necessa riamente revolucionários, cor respondeu a um intenso processo que tl nha como interlocutor não apenas os setores dominantes, mas formas

antigas e novas de organização entre os trabalhadores.

Diferente-mente da Inglaterra, esse processo não cor respondeu na Alemanha à formação de uma forte e inovadora burguesia industrial de cunho li-beral. Embora tivesse havido a disseminação dos valores e da men-tal idade burguesa, a classe que conduziu a industrialização era tam bém e principalmente uma classe rural politicamente dominante. Sem uma burguesia industrial forte, a Alemanha assistia a formação de um forte movimento sindical ideologicamente dirigido por um partido contra a dominação burguesa e na prática com posições

rias.19

contraditó-Conforme saliente Moore, os trabalhadores alemães resguar-daram do passado um grande respeito à autoridade. Isso não foi obs táculo para a revolta e movimentos grevistas, aliás intensos no iní cio do século XX, mas foi fator importante nas relações do movimen­ to com o governo. Este era um interlocutor privilegiado nas

deman-das grevistas e agia diretamente através da repressao, mas também

formulando textos legais e gerando medidas efetivas de amparo e

re-gulamentação do mercado de trabalho. Barrington Moore lembra o

respeito à autoridade que, quando não é benevolente, produz a revol ta. Roth20 salienta que, antes da Inglaterra, Bismark estava assr mindo compromissos com os t rabal hadores. Ou seja, o respeito

secu-19. Carl Schorske, 1983.

(20)

l a r i a u t o r i dade e v i d e n c i ava a l eg i t i m i dade do " se n h o r " para mandar na med i d a em que ele t ambém forn e c i a proteção e f e t i v a .

O sen t i do d e a u t o r i dade c o n s t i t u í d a e h i e rarqu i c am e n t e s u -pe r i o r t eria uma f o r t e i n f l uê n c i a d e n t r o do mov i me n t o t r aba l h i s t a a l emão e n o SPD. Os autores c h amam a a t e n ç ã o para a n í t i d a separa-ção que se obs e r v a no caso a l emão e n t r e l i d e r a n ç a e mass a . v á r i o s f a t o res con t r i buí ram p a r a i s s o , como o ba ixo n í v e l de e d u c a ç ã o dos

t rabal hadores , que os impe l i a a d e l ega r a uns poucos ma i s e s c l a r ec�

dos a t a re f a de represen t á - l o s em suas reiv i n d i cações . A próp r i a

orga n i z a ç ã o d o SPD , q u e s e dava d e forma al t amente buroc r a t i zada e

ce n t ra l i zadora , como mos t r a Schorske , 21 dava margem i formação de uma ol iga rqu i a i n t e r n a , modelo esse que f o i grad a t i vame n t e copi� do pelos s i nd i c a tos. A ol igarqu i z ação do par t i d o é i mpo r t an t e , v i�

t o s e r essa a i n s t i t u i ç ã o pol í t i c a que r e i v i n d i c ava p a ro si a r epr� sentação dos t rabalhadores e que aco l h i a d e n t r o de s i uma grande de l egação s i n d i ca l .

Hav i a t ambém o f a t o de que a dout r i na i d eológ i c a q u e deve­ r i a o r i e n t a r o mov i m e n t o t r aba l h ador hav i a s i do prod u z i d a fora do â mb i t o da c l asse . Era uma dout r i n a fo rmulada por i nt e l e c t u a i s e i n acess í v e l i compreensão do t r abal hador a t r avés de u m contato d i r e t o com os l i vros ou pa n f l e t o s , quando soubesse le r . Era ne cessá r i o

po rtan t o a exi s t ê n c i a d e " t r a d u t o res" capazes d e t ra nsm i t i r o que "a c l asse pensava" , e e s t e s dev e r i a m f a z ê - l o t r ad u z i ndo os t extos

nobres para a l i nguagem cor r i q u e i r a sem v u lgariz á - l o s . Roth l embra, por ex emplo, que o Capi t a l d e Karl Marx t r a n sformou-se numa obra

(21)

da m a i o� i mpo�tâ n c i a pa�a o movime nto s i n d i c a l soc i a l ista n ã o po�­ que f osse l i do pelos t�ab a l h ado�es , mas po�que estes f i ca�am saben-do que o l iv�o e x i st i a e cont i n h a p�oposições impo�tantes ace�ca dos i nte�esses h i stó� i c os da c l asse . Cont i n h a a e xpl i cação c i en t í

-f i c a do -f i m do c a p i ta l i smo. Lemb�e -se também que as g�andes pol êm

l

cas sob�e tát i c a e est�atégia no movime nto �evo l u c ioná�io dos t�aba l h ado�e s , que ta nto ma�c a�iam a so c i a l -democ ra c i a , se de�am num l i-mitado c i �cu ito de i nte l ectu a i s e se t�ansfo�maram em l ivros ou a�tigos de pe�i ódi cos também i n acessíve i s à comp�e ensão do grande p ú -bl i c o . Em que pese a be l e z a e a a c u i dade i ntelectual

cas ent�e Rosa Luxemburgo , Le n i n , Kautsky , Ber enste i n ,

das p o l ê m i -entre

ou-t�os , f i c a c l a�o que a m i ssão pen sado�a do movimento f i c ava muito

d i sta nte da possi b i l i d ade ob j et iva da massa ou da capa c i dade desta de ass i m i l á - l a .

Não obsta nte a buroc�at i z ação pa�t i d á r i a e o status reve­ �e n c i a l das l i dera nças, f o i n í t i d a a �ecor�ên c i a d e movi mentos es­ pontân eos ent�e os t�aba l h ado�es , que� at�avés de greves , quer at��

vés de �evoltas ( po� exemplo , 1905 e 1920, n o Ruh� ) . 22 v á r i os

mo-v i me ntos oco��e�am em o c a s i õ e s em que o partido se pos i c i o nou con-t�a sua d e f l agração e em que as l i d e r anças os desa conse l h a�am .

E sta capac i d ade espontânea de man i f estação f o i p�obl emát i

-ca p a r a o SPD, que s e opôs não ape n a s aos movime ntos dos t�abal hado�es, mas também àqu e l es mais �ad i c a i s .

r eformi stas Isso remete a

uma d i sc ussão a r dente n a época entre reformistas ( Be re n ste i n) e re-vol u c i on ários ( Rosa L uxemburgo , por exemplo ) . A causa j usta para

(22)

os ú l t i mos e r a a t omada do poder p e l a c l asse a t ra vés de seu pa r t i

-do , resp e i t an-do-se aqu i a s d i v e rgên c i a s e n t r e L e n i n e Rosa

Luxem-b u r g o. Para os r e f o rm i s t a s , a m e l h o r e s t r a t ég i a e r a conceber a g r ande mudança c omo um con t í n u o s u c e d e r de r e formas . I s t o porqu e , se a chegada ao poder da c l a sse t r abal hadora era um r esult ado normal decorren t e das forças que reg i am a h i s t ó r i a , e r a uma c on t r a d i

-ç ã o querer c r i a r aqu i l o que e r a i n e v i t á v e l que aconte cesse. A

revo-l u ç ão era , para os r e f o rm i s t a s , uma que s t ã o de t erevo-lnpo , e foi em nome desse argumento que mu i t as vezes se desaconselhou mov i me n t os de

t r abalh adores sob o argumento de que a cl asse d e v i a esperar a sua v e z , que pod e r i a até t a r d a r , mas n ã o f a l h a r i a .

Reform i s t a s e rad i c a i s não f ug i ram cont udo d a i d é i a de r e -vol ução , embora adotas sem d i f e re n t e s t á t i c a s a esse respe i t o num d e ba t e qu ase rest r i t o às l i d e r anças part i d á r i a s . Muito pr ovavelme�

te f o i esse h i a t o ent r e as perspe c t i vas de quem elaborava i n t e l e c t � a l m e n t e a s p ropos t as revo l uc i onár i as e de quem f a z i a e f e t i vamente as

g reves e as man i f e s t ações de prot esto que l e vou a que , n o desenro-l ar dos acon t e c iment os , os t ra b a desenro-l h a d o r e s acabassem f i cando ao desenro-l ado da autoridade do "senhor ", E r a es t e , em ú l t i m a i n stân c i a , quem po-d i a a t enpo-de r , mu i t as v e z e s após v i olên c i a , às re i v i n po-d i cações p l e i t e� d a s . Mais d o que i ss o , o part i d o n ã o se apresentou aos t ra b a l h

adores como um supo r t e e f e t i v o de a p o i o nos momen t o s em que o mov i me n

-t o se apresentou m a 1 S ra 1 c a . . d' 1 23 •

Desde o i n íc i o , o SPD adotou um programa ambíguo que pos-s i b i l i t a v a m u i t a pos-s c o n t r a d i çõepos-s : um prog rama revo l uc i on á r i o o r t odoxo

(23)

do pon t o d e v i s t a econômico ma s , do pon t o de v i s t a pol í t ic o , propo� do a r e v o l u ç ã o a t r avés da democ r a c i a . A o mesmo t empo mantinha um d i s c u rso radic a l e era bast a n t e mode rado na prá tica.

Toma ndo em r e t rospec tiva a c r i a ç ã o do part ido no séc u l o X I X , Scho rske mos t r a as ambi güid ades dos programas de Got h a ( 1 87 5 ) e de E r f u r t h ( 1895 ) que , propondo- s e revo l u c i onários do pon t o de vis t a econômico , f i c a ram f iéis à i déia de democracia como rota para a r e v o l u ç ão . Se essa ambigüidade permi t i a compos i ções d e n t r o do

partido , foi respons á v e l t a mbém por i n t e nsos conf litos e n t r e as l

i-de ranças soc i a l is t a s , que muito rapidamente foram ii-den t i ficadas

co-mo duas c o r r e n t e s bá sicas : r e f ormis t a s - uma maioria mais coesa

e r adic ais - uma mino ria destoant e e n t r e s i . Acrescen t e - s e que o f a t o de o suc esso e l e i t or a l do p a r t i do depender em muit o d a c l a s s e média também d i fic u l t ava a radica l i z ação .

Em t e rmos da prática pol í t i c o-parlame n t a r , o SPD adotou uma pos t u r a de iso l a cionismo , d e f i nindo-se como opos i ç ã o i n t r ansi-ge n t e ao gov e rno até a e c l o s ã o da p r imeira Guer r a. o pa r t ido , em-bora discip l inado e c e n t r a l izad o , abr igava t e ndên c i a s d i f e r e n t e s q u e expressavam i n t en s os con f l it os i n t e r nos no q u e d i z resp e i t o t a n

t o à a t u a ç ã o j un t o aos t raba l h adores como jun t o ao gove r n o. Ta l si-t u a ç ã o res u l si-t a r i a no cisma de 1 917 , com a criação do P a r t i d o

Inde-penden t e d a Social Democr acia ( USPD ) , que por s u a vez d a ria origem

ao Part ido Comun i s t a . A revol ução d e 1918- 1 9 20 colocou expl i c i t a-mente o f im d a u t o p i a soc i a l demo c r á t ica. A r adic a l i z a ç ã o não f oi ma i s con t i da pelo part i d o , e e st e , enquanto gov e rno , reprimiu b r u-

l

t a lmente os movime n t os de r u a .

N o que se r e f e r e à vin c u l a ç ão e n t r e a s formas d e i n

(24)

e-mão e a q u e s t ã o da democra c i a , a pos i ç ão de Roth é f undamen t a l . Se­ g u ndo e l e, i n dust r i a l i z a ç ã o e democ r a c i a con s t i t uem processos d i s­ t i nt os, e a i n corporação de uma c l asse - no caso a t r abalh adora a o s i stema pol í t i co pode s e dar de forma n eg a t i v a. E s t e f o i o t i po de i n t eg r a ç ã o o c o r r i d o na Al emanha, cont r i bu i ndo p a r a isso a at ua­ ção do SPD, que, ob j e t i v a ndo org a n i z a r e representar a c l asse, en­ caps u l oua d e n t r o de uma d e t e r m i nada propos t a dou t r i n á r i a e o r g a -n izat i v a . Ao i n vés de prod u z i r um a t o r pol í t i c o d e n t r o do s i s t ema,

Roth mos t ra que a i n t eg r aç ão se d e u de forma n e g a t i v a com a c r i a ç ã o d e u m a s u bc u l t u ra isol ada . A i d e n t i dade polít i c a da c l a sse t r aba­ l h adora não passou pelo c r i vo do cont r a s t e e da conv i v ê n c i a com ou­ t ros i n t e resses de c l asse, nem t ev e como base a r e f e r ê n c i a d e como e l a e s t a v a sendo e f e t i vamen t e v i s t a pelas o u t r a s c l a s ses , fa tor f u n

dame n t a l no processo de formação de i d e n t i dade . Fo rmou-se para den t r o, t endo como fo r t e g u i a de ação para t a n t o a própria l i d e r a n ç a par t i d á r i a.

N o fundame n t a l, e s t a i n t egração n e g a t i v a t e v e repercurs­ sões impo r t a n t es para a democ rac i a a l emã e para a soc i a l - d

emocra-Esta, por suas amb i g ü i dades e por s e u i so l amento de subcultu-ra, e n f ren t a r i a probl emas para impor-se i n s t i t ucio n a l m e n t e como

part ido de g ov e rn o, mas t a mbém para assegurar o monopól i o d e s s a su� c u l t u ra, que passou a s e r par t i l h a d a pelos g r u pos radi c a i s , os quais ques t i onando o re formi smo do pa r t i do, t r a z iam para s i a c a u s a da mu d a n ç a revol u c i o ná r i a.

A forma ma r g i n a l como se d e u a i n corporação da c l a sse é para Rot h um ponto i mpor t an t e nos r umos da democrac i a a l emã. Ao man t e r - s e i solada, e l a as s i m i lou o j ogo de B i smark de não a br i r o pro­ cesso de democ r a t i z ação e de osc i l a r e n t r e uma pol í t i c a repress i v a

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e o u t r a ma i s t ol e rant e . Ou s e j a, o SPD não quest i onou e não e n f r e n

t o u a e s t r u t ura b i smarkiana d e poder e , n a med i d a e m q u e s e i s o l o u desse processo, não obs t r u i u o c r e s c i me n t o de out ras f o r ç a s polí t i ­ c a s ma i s conservadoras e não col ocou e f e t ivame n t e para o governo a i n d e s e j á v e l quest ã o, par a e l e, da i n corporação e f e t i v a da classe t raba l h ador a . A condi ção de subc u l t ura do mov imento t rabalhador

permi t i u a manipu l ação repr e s s i v a por pa r t e do governo, que f reqüe� teme n t e o apon t ou como ame a ç a à ordem soc i a l e po l í t i c a .

Schorske, por s u a v e z, d e s t a c a a s cont rové r s i a s b á s i c a s que l e v a ram à c i s ão d e n t ro d a soc i a l-democra c i a e n t r e re formi s t a s e r a d i c a i s e a s condi ções que l e v a r am à expansão do le n i n i smo n a

Ale-man h a . H i s t o r i c ame n t e, a s t endênc i a s re fo rmi s t a s e revoluc i o n á r i a s

est i ve r am abrigadas n u m mesmo par t i do. O acent uar c i a s e n t r e elas l evou não só ao c i sma pa r t id á r i o mas

das d ivergên­ t ambém à d i s-s olução do mov imento de

soc i a l i s t as.

t r a b a l h adores na Al emanha sob a égi d e dos

Outro pon t o a s e r menci onado d i z respe i t o à r e l a ç ã o e s t

a-bele c i d a e n t r e os s i n d i c at os, o part i d o e o governo . Schorske, numa perspe c t i v a s i m i l ar à de Roth, d i sc u t e a i ntegr ação negat iva, não d a c l asse, mas do SPD no processo pol í t i c o . O isolac ioni smo delibera­ do do pa r t i d o ser i a alterado com a perspec t i v a d a guer ra, quando se v i u obr igado a se d e f ro n t a r com a " qu e s t ã o n a c i o n a l " e a c a bou c o l a ­ borando com o gov erno d e f orma d e c i s i v a .

D i f e r ent emente da I ngla t e r r a, por t a n t o, o movimen t o t r aba­ lh i s t a a l emão em sua expressão s i n d i ca l e em suas t e n t a t i vas de en­ caps u l a r a classe t rabalhadora dentro do part ido n ã o consegu i u a l ­ cançar a mesma l eg i t i mi d ade e i n t egração . Embora o S P D t e n h a obt i ­ do sucesso e l e i t or al ma i or a n t e s d o Labour P a r t y i ng l ê s, i s so não

(26)

f o i su f i c i en t e para mo l d a r uma rota ma i s seg u r a para a d emoc r a c i a s oc i a l e pol í t i c a . A Al emanha contou com o movimento p ar t i d á r i o ma r x i s t a ma i s f o r t e em t odo o mundo , o que representou uma e

xpres-s i v a c o n t e xpres-s t a ç ão à ordem e x i xpres-st e n t e . Esse f at o r , al i ado a o i s o l a

c i on i smo da pol í t i ca part i d á r i a e t r abal h i s t a , ent rou em c o n t r ad i

-ção gr i t an t e com a t r a d i -ção me n c i onada d o resp e i t o das massas pe l a

a u t o r i d a d e const i t u í d a . Adema i s , o peso e a i mpor t â n c i a d o Estado para a soc i e dade a l emã e ram bast a n t e d i fe r e n t e s do caso b r i t â n i c o . Todos esses f a t o r e s , j u n t amen t e com a ascensão d o n a z i smo, com a c i são da soc i a l -democrac i a e com a derrota d a A l ema nha na P r i me i r a

Guerra Mun d i a l , s ã o cen t r a i s para se ent ender o ocaso desse mov i

-men t o .

Quando d a r e c ons t r u ç ã o d o mov ime n t o s i n d i c al após a

Segun-da Gu erra Mund i a l , a ma i o r i a dos l í d e r es do SPD r e j e i t ou a

propos-ta de ree d i t a r a exper i ê n c i a ant e r i o r de uma est r e i t a l i g a ç ã o do

pa r t i do com o mov imento s i nd i c a l . Essas r e l ações cont i n u aram sendo

import antes para o Labour P a r t y, que f i nance i r amen t e depende dos si� d i c a t os , enquanto na A l ema n h a p a r t e s u b s t an t i v a dos c ustos d o s

par-24 t i dos passou a s e r prov i d a pelo E s t ad o .

A r igor , para a Europa do pós-guer r a , a d i v i s ã o e n t r e par-t i d os par-t rabal h i spar-tas e soc i a l - demo c r a par-t a s par-tornou-se b a s par-t a n par-t e par-t ê nue no que concerne às r e l ações com os s i n d i catos . A grande e x ceçao nes-se pon t o con t i nu a nes-sendo a I ngl a t e r r a . No que s e r e f e r e à f l ex i b i

-l i dade i deo-l óg i c a , o s a t u a i s pa r t i dos a-l emães n ã o s e const i t u em em l i n h as expl í c i t as de d i f e renc i ação pOl í t i ca. 2 5

24 . D a v i d Owen , 1 9 80 ; W i l l i am P a t erson e I an Campbe l l , 1 9 7 4 . 2 5 . Juan L i n s , 1 9 67 .

(27)

Estados Un idos : o t rabal h i s mo s e m par t i d o

Ao c o n t r á r i o d o s c a s o s a n t e r i o res , o m o v i m e n t o t rab a l h i s t a n o r t e - am e r i c a n o n ã o se ateve a t é h o j e à g u a r d a e x c l u s i v a de u m

par-t i d o par-t r a ba l h i s par-t a , comu n i s par-t a ou soc i al - d emocra par-t a . o mesmo pode -se observar n a França a t é o pós-g u e r r a , quando o p c r passou a ter um c on t ro l e e x p r es s i v o sobre a CGT.

Embor a desde 1936 o s s i n d i c a t o s ame r i canos t e n h a m dado a m a i o r parte de s e u apo i o aos democ r a t a s , o traba l h i smo manteve-se in dependente de l a ç o s forma i s com par t idos . Para essa postu ra , é maE c a n t e , e n t r e o u t r a s c o i s a s , a i n f l u ê n c i a da f i l o s o f i a s i nd i c a l d i t a da p o r Samuel Gompers desde o s f i n s d o s é c u l o X I X , segundo a qual o s i n d i c a l i smo d e v e r i a r e s t r i ng i r - s e àque l a s a t i v i dades que f o r t a l e c es s em o s s i n d i c a t o s enqu a n t o i n s t rumentos de negoc i a ç ã o c o m o s empregadores . Essa v i são se adequa por s u a v e z à pos i ç ã o de s e t o

-r e s emp-re s a -r i a i s e c o n s e -rvado-res que -r e l utam em a c e i t a -r os s i n d i ca­ tos c omo e n t i d ad e s v i t a i s para o f o r t a l e c imento da democrac i a .

A b i b l i og r a f i a c os t u ma i n s i s t i r n a t e s e de que a c l a s s e t r abalhadora ame r i c a n a d e v e s e r v i s t a como u m a ent i d ade d i f e r e n c i a ­ d a em r e l a ç ã o à e xper i ên c i a e u ropé i a e de que s u a c ompr e e n s ã o deve l e v a r em con t a os aspectos econôm i c o s , r eg i o n a i s , é t n i c o s , pol í t i

-c o s e s o-c i a i s daque l a s o -c i edade . I s t o é e n f at i z ad o t en d o e m v i s t a

p r i n c i p a l m e n t e t r a t a r - s e de u m pa í s r i camente prov i d o de r e c u rsos , c o l on i z ado por i m i g r a n t es , e que adotou o s i s t ema e s c r av i s t a .

Pe l l i ng , por e x empl o , 2 6 p a r t e do supos t o de que a h i s t ó ­ r i a da c l asse t r abal h ad o r a amer i c a n a e s t á m a i s l i g ada à h i s t ó r i a da

(28)

c i v i l i z a ç ã o ame r i c ana do que a o processo d e i ndust r i a l i z a ç ã o , e pa-r a expl i c a pa-r suas o pa-r i g e n s pa-r e c u a a t é o i n í c i o d a c o l o n i z a ç ão . Nesse longo pe r c u r s o , estabelece uma s é r i e d e per i od i z ações que corres­ pondem em c e r t o s mom e n t o s a eventos i mp o r t a n t e s da h i s t ó r i a ame r i c a n a ( I n d epend ê n c i a , G u e r r a d e Secessão , g u e r r a s mund i a i s ) e e m ou­ t ros à d i n â m i c a i nt e r n a do s i n d i c al ismo e ao mov i m e n t o i n t e r no da c l a sse ( or i g em e c on s o l i da ç ã o da A F L - Ame r i can Federat i o n of Labcur - por e x e mpl o ) .

Há ampla con c o r d â n c i a quanto ao f a t o de que as r i v a l i d ades e d i v e r s i d ades e n t r e os i m i g r a n t e s co n s t i t u í ram um pano c e fundo

impo r t a n t e para os c on f l i t os i n t e r nos à c l asse t r abalhado r a . R e l e -v a n t e t ambém é a c i r c un s t â n c i a de h a -v e r e s c a s s e z d e mão- d � -cbra e d e esta ser ocupa d a pr i o r i t a r i am e n t e no campo , pos t o que a t é f i ns do s é c u l o XIX a ag r i c u l t u r a e a e x t r a ç ã o de r i quezas da t e r � a foram as p r i nc i p a i s at i v idades eco nôm i c a s do pa í s . Com o surg i � e � t o das c i d ades cresce a demanda por t r abalhadores qual i f i cados para a i n ­

dú s t r i a e v i d e n c i ando-se um quadro de c ompe t i ç ã o expl í c i t a e n t r e o c ampo e a c i dade em f un ç ã o dessa escassez de mão-de -obr a .

O t r abalhador u rbano qu a l i f i c a d o , a i nda n o pe r í oào c o l o­ n i a l , o r g a n i zouse em qu i l d s , repr o d u z i ndo a org a n i z a ç ã o d os a r t e

-s ã o -s europeu-s . E s t a ser i a uma marca i mpor t a n t e para o mov imen t o

t r abal h i s t a amer i c ano , q u e l e va r i a para o f u t u r o a c o n c e p ç ã o d e s i� d i c a t o s como i nst rumentos para a a r i s t o c r a t i z aç ã o dos t r a b a l h a do­ res - i s t o é , aq u e l e s que têm o f í c i o , bons s a l á r i os e que não a ce i ­ t a m a pro l e t a r i zação . A t e s e d a a s c e n s ã o s o c i a l f o i f u n d a m e n t a l p�

r a e s t a compreens a o . A e s t r u t u r a s i n d i ca l passou a espe l h a r a h i e­ r a r q u i a dos o f í c i o s e , i n c o rporando p r i o r i t a r i am e n t e os espec i a l i z� d o s , montou uma f o r t e corporação d e s i n d i c a t o s d e n t r o dos m o l d e s

(29)

empresar i a i s modern o s , apt a a c ompe t i r e a r i v a l i z ar com as

cor-_ . 27

poraçoes patrona 1 s .

A t é o s u r g i m e n t o da AFL , e m 1 8 8 6 , i n e x i s t i am n o s Estados

U n i do s e x pe r i ê n c i as c o n t í n uas de o r g a n i z aç ã o ope r ár i a . N o i n í c i o d o s é c u l o X I X o mov i me n t o t r aba l h i s t a g anhou impu l s o com o s u r g i me� t o de v á r i a s federações , s i n d i c a t o s e de a l g u n s part idos ope r á r i o s

l oc a i s que t ambém n ã o conseg u i r i am t e r qualquer l on g e v i dade . O

pro-g r ama desses e f êmeros pa rt idos ope r á r i os n ã o propupro-gnava pelo f i m do s i s t ema de s a l á r i o s ou pe l a propr i edade soc i a l i z ad a , mas precon i z

a-v a g a r a n t i a s e d i r e i t o s para o s t r a b a l h adores frente aos g r andes c a

p i t a l i s t a s .

A h o s t i l idade para com os i m i g r a n t e s e a prec a r i edade o r -g a n i z a c i onal s e r i a m c o n s t a n t e s , a s s i m c omo a d u p l a d i s c r i m i n a ç ã o e m r e l a ç ã o ao neg r o . E s t e e r a d i s c r i m i nado e t n i c ame n t e , mas t ambém em f u n ç ã o de con s t i t u i r um c o n t i n g e n t e pot e n c i a l de mãode obra f o r ç a -da que pode r i a s ubst i t u i r o branco em momen t o s d e g reve e e f e t i va:'"

mente c ompet i r com e l e n o mercado de t r aba l h o , aba i xan d o o s s a l á

-r i os , c a s o a e s c r a v i d ã o f o s s e abo l i d a .

A Guerra de Secessão s e r i a impo r t a n t e d o pon t o de v i s t a d a

ampl i a ç ã o d o parque i n d u s t r i a l ame r i c a n o e d a expansão d o s i s t ema

de comu n i ca ç õe s , seg u i ndo-se contudo uma forte depre s s ã o econôm i c a

no pa í s q u e g e rou desempreg o , perdas s a l a r i a i s , f o r t e desa r t i c u l

aç ã o s i nd i c a l e , ao mesmo t empo , i n t ensos c on f l i t o s e n t r e t r abal h a

-dores , p a t r õ e s e g ov e r n o , c omo p o r e x empl o , os p r o t e s t o s do l º de

ma i o . ! no bojo desse cont e x t o do p6s-guerra qU& se observa um

(30)

v o i n t e r e s s e dos t rabalhadores p e l a a ç ã o pol í t i c a e uma i n t ens i f i c a ç ã o d a l u t a cont r a os i m i g ra n t e s . 2 8

F a t o impo r t a n t e n e s s e pe r í od o f o i a c r i a ç ã o d o Kn i g h t s o f Labo u r , e n t idade t raba l h i s t a d e c u n h o s e c r e t o com f o r t e esquema de org a n i za ç ã o , cong r eg ando d e n t r o de s i v á r i os i n t e r e s s e s c o rporat i ­ vos , que adot a r i a uma pos t u r a d e b o i c o t e , a q u a l s e r i a m a i s bem­ s u c e d i d a como t á t i c a o pe r á r i a do que as g r eves l evadas a c abo

pe-l os s i n d i c a t os . o d e s t i n o d e s t a e n t idade se r i a l og o ameaçado c om a

c r i a ç ã o da Ame r i can Federat ion o f Labour em 1 8 8 6 , após os c o n f l i t os s ang r e n t o s de Chi cago e em o u t r a s r e g i õ e s p e l a j ornada a e o i t o h o

-r a s o

Após e s s a data , a h i s t ó r i a do m o v i m e n t o t rabal h i s t a ame­ r i cano e s t a r á obr i g a t o r i amen t e v i n c u l ada i AFL qu e , por sua vez , e� t a r á r e f e r en c i ada i f i g u r a d e Samu� l Gompe r s , s e u p r e s i d e n t e d ur a n -t e q u a -t r o décadas . A AFL e s t r u t u rou-se respe i t ando a a u t o n o m i a 1 0-c a l dos s i nd i 0-c a t o s , pr i v i l eg i an d o o s t ra b a l h adores espe 0-c i a l i zados é i n s t i t u i nd o um s i stema de cont r i b u i ções s i nd i c a i s p a r a s e u s f i l i a-d o s que permi t i u c ompor u m f u n a-d o s i n a-d i c a l poa-de roso . Seu papel f o i

impo r t a n t e t ambém a o e s t abe l e c e r u m a pol í t i c a de negoc i a ç ã o c o m o s empre s á r i o s e a o desaprovar u m a prát i c a s i n d i c a l .que i n c o rporasse a

m a s s a i nd u s t r i a l não espec i a l i z ada . Ao i n i c i ar - s e o s é c u l o XX , a

A F L e r a a m a i o r o rg a n i za ç ão de t rabal hadores n o s Est ados U n i dos ( u m m i l h ã o de f i l i ados em 1 9 0 1 ) e t e r i a papel f undament a l j u n t o i c l as­ s e empr e sa r i al no sen t i d o d e t e n t a r conve n c ê - l a de q u e o s s i nd i ca­ tos ame r i c anos s a b i am ag i r r esponsavelmente na busca de seus d i r e i -t o s e i n -t e r ess es . N ã o obs t a n t e i s s o , a at i v i dade s i nd i c a l nao e r a t ol e rada pe l o s patrõe s .

(31)

As d i scordâ n c i as e m t o r n o d o e n c am i nhame n t o d o mov i m e n t o

e s t imula ram o a p a r e c i m e n t o de o u t r a s a l t e r n a t ivas pol í t i c as , t a i s

corno o P a r t i d o Soc i a l i s t a e a IWW ( I n d u s t r i a l Workers o f Wo r l d )

1 905. E s t a ú l t ima , de i n f l u ê n c i a ma r x i st a , não sobrev i v e u à P r i m e i

r a G u e r r a Mundi a l .

A p r i me i r a G u e r r a Mund i a l t e v e e f e i t os pos i t i v o s sobre a e c onomia ame r i c a n a , com me l h o r i as s a l a r i a i s subs t an c i a i s de f o rma t a l que ao f i n a l dos anos 20 a s i t u a ç ã o era de p r ospe r idade e amp l a c o l aboração dos s i n d i c a t os com o g ov e r n o . A c r i s e de 1 9 2 9 i n v e r t e u essa s i t uação d e f o rma t ã o d r á s t i c a q u e s ó após a Segunda G u e r r a M u n d i a l o pa í s conseg u i u novame n t e a t i ng i r o p l e n o empreg o . O pe­ r í odo Roos evel t ( 1 933- 4 5 ) é t i d o c omo uma nova fase no s i nd i c a l i s ­ mo ame r i c ano , part i c u l a rmente n o q u e d i z respe i t o a reg u l aç ã o d o mercado d e t r abalho pe l o E s t ad o , n a o obs t an t e a t r ad i c i o n a l r e s i s -t ên c i a do mov i men -t o q u a n -t o a essa i n f l u ê n c i a . A AFL , c o laborando com o g o v e r n o , i n s i s t i r i a t ambém n a prá t i c a volu n t á r i a d o s i n d i c a � l i smo que c o n t i n u a v a prest i g i a n d o a p e n a s os t r abal hadores qual i f i -cados . O el i t i smo da A F L deu margem à c r i a ç ã o d e ma i s uma organ i z� ç ã o n a c i o n a l que , a e x emp l o d a I WW - embo r a menos rad i c a l - p r o c u r�

r i a s i n d i c a l i z a r a massa i n d u s t r i a l : o C I O . L i d e r ado por J . Lew i s ,

o Comm i t t e e f o r I ndust r i al Org an i z a t i o n , c r i ado em 1 93 5 , p a r t i c ipou a t i v ame n t e da p o l í t i c a i n s t i t uc i o n a l e empenhouse t ambém na s i n d i

-c a l i z a ç ã o d o p r o l e t a r i ado urbano ( os n ã o qual i f i -c a dos ) t át i c a s pac í f i cas sempre que pos s í ve l .

a t ravés d e

A c r i aç ã o da l e g i s l a çã o so c i a l e o s i n d i c a l i smo d u a l ( A FL e C I O ) f oram concomi t an t e s a um c re s c i m e n t o expressivo de t r aba l h a ­ r e s s i n d i c a l i zados , q u e p a s s a r am d e 3 p a r a 9 m i l hões e n t r e 1 9 3 3 e

(32)

1938 e se distribuíram i g u a l m e n t e e n t r e as duas o r g a n i zações . 2 9 G r a

d a t i vamen t e o C I O , q u e de i n í c i o se apresent ava como uma a l t e r n a t i -v a ma i s rad i ca l para o s t rabalhadores , i r i a s e t r a n s f o rmar e m uma e n t i dade mod e rada e c on c i l i a d o r a a p o n t o de , a par t i r dos anos 4 0 , d i s c u t i r s u a f u s ã o com a AFL , o que a c abou acont ecendo em 1 9 5 5 . De qualquer forma , o s i n d i c a l i sm o amer i can o , na t e r m i n o l og i a de Bea­ t r i c e e S i d ney webb , 30 t ev e um cunho e x c l ud e n t e mu i t o marc a n t e .

Do pon t o de v i s t a part i d á r i o , n e n h um pa rt i d o t ra ba l h i s t a

l og rou obter s u c e s s o j u n t o à área s i n d i c al . v á r i a s e xpl i c a ç ões s ã o

poss í v e i s n e s s e c as o . Men c i on a - s e f r eqü e n t emente o f a t o d e q u e

e x i s t i r i a u m a o a s e c o n s e r v a d o r a i n a t a à c l asse ame r i c a n a que n ã o

c on t ou , p o r s u a v e z , c o m i n t e l e c t u a i s s o c i a l i s t a s p a r a l i d e r arem o mov i ment o . � importante t ambém o peso que se at ribui à i m i g r a ç ã o c o m o f a t o r desagregador d e u m a propos t a pol í t i c a m a i s u n i t ár i a . 3 1

A l g umas e n t idades s i n d i c a i s c ompostas por t r a b a l h adores de

o r i g em amer i c a n a c h e g a ram a d e f e nder a c r i a ç ã o d o " t er c e i r o pa r t i

-d o " c on t r a r i a n-do a s s i m a i -d é i a -d e que apenas o s i m i g r a n t e s t e r i am esposado t eses pol i t i c am e n t e m a i s org a n i zad as . 3 2 O p r a g mat i sm o

t e m s i d o apont ado t a mbém c o m o um f a t o r e x p l i cat i vo b á s i c o a e s s e

respe i t o . A d i s c u s s ã o d o t e r c e i r o par t ido s e r i a d e f i n i t i v ame n t e d e s c a r t ada e m f i n s da d é c ada de 40 quando t a n t o o C I O qu a n t o a AFL r e f orçaram o argumento d e que um part i d o t r ab a l h i s t a n ã o t e r i a

con-o - o o

d o o d o t 3 3

d 1 ço e s de c ompet 1 r e l e 1 t or a l m e n t e com o s 0 1 S part 1 o s e X 1 s t en e s .

2 9 . R . Howard pen n i ma n , 1 9 5 2 .

3 0 . S i d n e y Webb e Bea t r i c e Webb , 1 9 20 .

31 - H . M . J ohn L a s l et t , 1 9 7 0 .

3 2 . Idem .

(33)

o que se obs e rv a i p o r t a n t o I é que um f o r t e movimento t rab�

l h i s t a redundou numa podero s a org a n i z a ç ã o s i nd i c a l de t i po empresa­ r i a l l e t a l v e z I por i s so mesmo n ã o cor respondeu à formação de um

par t i do de t rabal h ado r e s . I s s o toda v i a não f o i obs t á c u l o à i n t eg r� ç ã o po l í t i c a dos t ra b a l hadores que p a r a t a n t o r e c o r r er am I e n t r e ou­ tras c o i s a s l ao s i s t ema b i pa r t i d á r i o e x i st e n t e e à l eg i t i mação de s u a s e n t i d ades s i nd i c a i s mais represent at i v a s .

No que se r e f e r e ao t i po de cont r o l e e x e r c i d o pelo governo I

a autonom i a do mov imento e s u a i n depend ê n c i a f r e n t e ao s i s t ema po­ l í t i c o pa rt i d á r i o o pouparam de um cont r o l e d i re t o .

2 . O TRABALHISMO N O BRA S I L

O B r a s i l n u n c a cont o u l a r i g or l com qua lquer part ido so­ c i a l i s t a l t r abal h i s ta ou comu n i st a e x p r e s s i v o que t i vesse ampla

re-presen t a t i v i d ade j u n t o aos t r a b a l h a d o re s . Por outro l ado l a l i v r e org a n i zação t r a ba l h i s t a e s i n d i c al f o i g randemen te obst a c u l i zada p� l a a ç ã o dos empre s á r i os e do E s t ado desde o i n í c i o da i n d u st r i a l i ­ z a ç ã o .

A e x empl o dos Est ados U n idos l d u r a n t e m u i t o t empo o p a í s não t e v e o r g a n i zações d u r áve i s v i n c u l adas à c l a s s e t raba l h adora que por t av a dentro de si v á r i as d i f e r e n c i a ç ões . Aqu i t ambém a i m i g r a

-ç ã o l as di f e r e n -ç a s reg i o n a i s I a e s c r a v idão e a escassez de mão

-de-obra são freqUentemente l embradas como fat ores i n i b idores para a

formação de uma c l as s e ope r á r i a ma i s a g r es s i va . D i ferent emen t e dos

Est ados U n i dos I contudo I n ã o houve no Bra s i l uma r e s i s t ê n c i a cont í ­ n u a e a c i r rada à i n f l u ê n c i a do E s t a d o n a r eg u l amentação d o mercado

(34)

de t r aba l h o . Ao cont r ár i o , é quase consensual e n t r e o s anal i s t as a v i s ã o de que o E s t ad o bras i l e i r o t eve papel dom i n a n t e e i n o v ador na

regul ament ação do mercado de t ra b a l h o e nas mod a l i d ades a s so c i a t i � vas dos t rabal hadores .

A presença d o E s t ad o no caso bras i l e i ro o fe r e c e port a n t o d i s t i nções e m r e l a ção aos o u t r o s casos . o Est ado i n g l ê s não chegou a ser e n t e n d i d o pelo mov i m e n t o t r aba l h i s t a como um ator destoante

d a s o c i edade . F o i e n t e n d i d o como p a r t e de l a , e o s t rabalhadores

a ele recorreram porque o cons i d e r a vam um a l i ado i mport a n t e para suas conqu i s t as . Era e n t e n d i d o como um protetor e como uma e x pre�

- d . d d 34

s a o a SOC 1 e a e . Nos c as o s bras i l e i r os e a l emão essa d i f e r e n ç a ent re E s t a d o e s o c i edade f o i m a i s e v i d e n t e e marcou o mov i m e n t o t raba l h i s t a de forma di f e r e n c i ada . No B r a s i 1 , embora se recorres-s e à idé i a de um Erecorres-stado a l i a d o dorecorres-s t r a b a l h ado r e recorres-s , formo u - recorres-s e na

prá-t i ca a sup rema c i a do Esprá-t ado , num processo s i m i l a r ao mode l o germân�

c o . Coube , por e x empl o , ao Est ado bras i l e i ro d e f i n i r desde as

regras de f u n c i onamento i n t e r n o do s i n d i c at o a t é o número e as c a t e

-. d . d ' . d 3 5

g o r 1 a s e S 1 n 1 c a t o s a serem c r 1 a os . Pos t e r i orment e , coube a i n

-da ao Estado impo r , d e n t r o d a l e g i s l a ç ã o par t i dá r i a de 1 94 5 , O t i po

de par t i do m a i s c o n v e n i e n t e para a org a n i z ação pol í t i c a dos s i n d i -c at o s .

I s t o pos t o , convém rev i s i t a r a s t r ê s d i me n sões " apontadas

no i n í c i o deste t r abalho ( re l a ções entre s i n d i cato e part i do ; t i po de i nteg ração pol í t i c a propi c i ada à c l asse t rabalhadora e t i po de

34 . A s o c i a l democ r a c i a e o t r a b a l h i smo i n g l ês , 1 9 8 3 .

(35)

cont r o l e e x e r c i do p e l o g o v e r n o ) e acompa n h á l a s n o que t o c a à e x

-pe r i ên c i a t r a ba l h i s t a do PTB .

Relações entre sindicatos e par t i dos

N o que concerne est r i t amente às r e l ações entre s i nd i c a t o e

par t ido , o B r a s i l se a f a s t a d e t odos os mode l os an t e r iores . Teve um

par t i d o t r aba l h i s t a ( ao c on t r á r i o dos EUA ) , mas esse pa r t ido n ã o f o i um desaguadouro d a s necess i d ades e d a vontade pol í t i c a d o s s i

n-d i c a t os ( ca s o i n g l ês ) , nem t e v e o papel n-de vanguarn-da soc i a l i s t a

pa-ra o movimento s i nd i c a l ( c aso a l emão ) .

o PTB f o i c o n c e b i d o para s e r um par t i d o est r i t ame n t e d i r e

-' d " d ' 1 36

C 10na o para o me 1 0 S 1 n 1 c a . T r a t ava-se de art i c u l a r um par t i do

de permeação e l i derança j un t o a uma e s f e r a s i nd i c a l que f o ra por

sua vez obra e c r i a ç ã o d o g ov e r n o . o part i d o n ã o surg i u C O D O u m i�

t e r l oc u t o r pol í t i c o na o r d e n a ç ã o das r e g r a s e dos d i r e i t o s soci a i s d a soc i edade i nd u s t r i a l . Surg i u quando est e processo j á e s t ava d e

-f i n i d o e q u a n d o o m e r c a d o de t r a b a l h o u r b a n o j á e s t a v a d e \' i d amen t e

r eg u l a d o . P o r i s s o , em seus pr i m e i ros anos d e e x i s t ên c i a , t eve co-mo meta a manutenção da l eg i sl aç ã o t rabal h i s t a , a p r e s e r v a ç ã o dos

d i r e i t o s soc i a i s obt i dos e a i n c o rporação dos d i r i g e n t e s s i nd i c a i s

a l ç ados a essa pos i ç ã o d u r a n t e a d i t ad u r a . N ã o t e v e p o r t a n t o a t u�

ç ã o pione i ra n a f ormação e n a c o n s t r u ç ã o d a i d e n t i d a d e d a c l asse

t rabalhadora d o ponto de v i s t a d o r e o o n h e c i m e n t o eoonômico de suas

t ' ' d d 37 a 1V1 a e s .

36 . Ange l a de C a s t r o G omes , 1988 .

37 . Para c o n f e r i r i n f o rmações e dados d o r e s t a n t e

Referências

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