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MOBILIZAÇÃO NACIONAL PARA QUÊ?

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Revista da Escola Superior de Guerra, v. 26, n. 53, p. 98-107, jul./dez. 2011

MObIlIzaçãO nacIOnal paRa qUê?

Heleno Moreira*

Se quiseres a paz, prepara-te para a guerra.

Flavius Renatus Vegetius in De Rei Militaris

RESUMO

Este trabalho tem por finalidade chamar a atenção da importância da mobilização nacional para o Brasil, país de dimensões continentais, com riquezas incomensuráveis e que está em acelerado processo de desenvolvimento, mostrando que não se pode pensar em defesa sem se preocupar com este tema. Defesa é um problema de toda a sociedade brasileira e não apenas das Forças Armadas, como muitos pensam. Numa breve análise, mostrar que, nos últimos quatro anos, surgiu um arcabouço jurídico que permite realizar ações para a mobilização nacional. Este artigo está dividido em cinco partes, incluindo uma conclusão e trazendo as considerações iniciais na introdução. Inicialmente, discorre-se sobre debates conceituais. A terceira seção apresenta a legitimação jurídica da mobilização nacional. A quarta parte apresenta as fases da mobilização. E finalizando, a conclusão, mostrando que quanto melhor for a sua preparação, menor serão os transtornos à população quando da sua decretação, ao mesmo tempo em que irá contribuir de forma determinante para o desenvolvimento nacional.

palavras-chave: Mobilização Nacional. Desenvolvimento. abStRact

This work is intended to draw attention to the importance of national mobilization to Brazil, a country of continental dimensions, with immeasurable wealth and which is undergoing rapid development, showing that one can not think of defense without worrying about this issue, and that defense is a problem throughout Brazilian society and not just the military, as many think. In a brief analysis, show that in the last four years came a legal framework that allows you to perform actions for national mobilization. This article is divided into five parts, including a conclusion and bringing the initial considerations in the introduction. Initially, it talks about is conceptual debates. The third section presents the legal legitimacy of national mobilization. The fourth part presents the phases of mobilization. And finally, the conclusion, showing that the better the preparation, the lower will be the

______________

* Coronel do Exército Brasileiro, Estagiário do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia, em

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inconvenience to the public upon its enactment, while it will contribute decisively to national development.

Keywords: National Mobilization. Development. 1 IntROdUçãO

Conforme aponta Bobbio (1986, p. 765), a proclamação de um estado de mobilização é, normalmente, usada como meio de pressão sobre países adversários a fim de ostentar uma clara vontade de intervir com a força, como forma de solucionar as controvérsias pendentes.

Cabe destacar que mobilização nacional é bem diferente de mobilização cívica.

Mas o Brasil está prestes a entrar em guerra? O Brasil tem algum inimigo declarado? Com certeza, a resposta será negativa.

Em um cenário de curto e médio prazo, repetem-se as perguntas anteriores. E num cenário de longo prazo? Acredita-se que as respostas continuarão negativas.

Então, para que se preocupar com mobilização nacional, se há outras medidas bem mais importantes e necessárias a serem providenciadas?

O Brasil é um país de dimensões continentais que ocupa uma área de 8.514.876,599 km² (47% da América do Sul) e possui inúmeras riquezas. Pode-se destacar a Amazônia, com sua fauna, flora, biodiversidade, recursos minerais, além de possuir o maior banco genético do planeta.

O Brasil é banhado pelo oceano Atlântico, também denominado Amazônia Azul, com suas riquezas incomensuráveis, sendo que o chamado pré-sal está hoje em evidência. Cerca de 95% das trocas comerciais brasileiras são realizadas pelo oceano Atlântico.

Existe muita água doce no país. Há inúmeros rios, além dos aquíferos Alter do Chão e Guarani. Dizem alguns analistas que a água doce será causa de guerras no futuro.

A população mundial está crescendo e, com isso, necessita-se cada vez mais de alimentos. O Brasil possui bastante área agricultável, em condições de atender às demandas, a cada vez que os países vão se desenvolvendo e necessitando, consequentemente, de mais alimentos para seus habitantes. E também muita energia considerada limpa: muita água, muito sol, muitos ventos.

Acredita-se que esses motivos já justificam essa necessidade de se preocupar com mobilização, uma vez que o país está em pleno desenvolvimento, com objetivos claros de chegar ao patamar do Primeiro Mundo. Rui Barbosa (1946, p. 161) já dizia que: “A fragilidade dos meios de resistência de um povo acorda nos vizinhos mais benévolos veleidades inopinadas; converte contra ele: os desinteressados em ambiciosos, os fracos em fortes, os mansos em agressivos”.

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Revista da Escola Superior de Guerra, v. 26, n. 53, p. 98-107, jul./dez. 2011

Corroborando as palavras de Rui Barbosa, o general italiano Giulio Douhet, um dos pais da teoria geopolítica do poder aéreo, disse, por ocasião da Primeira

Guerra Mundial: “A vitória sorri para aqueles que antecipam as mudanças no caráter da guerra, não para aqueles que esperam se adaptar depois que as mudanças ocorram” (Citado em MAFRA, 2006, p. 129) .

Assim, serão descritos alguns conceitos básicos para melhor entendimento do tema, bem como seu amparo legal e as fases da mobilização nacional, mostrando a importância da mobilização nacional para o Brasil.

2 alGUnS cOncEItOS

O Manual Básico da Escola Superior de Guerra (ESG) no seu volume I, diz que Poder Nacional “é a capacidade que tem o conjunto de homens e meios que constituem a nação, para alcançar e manter os objetivos nacionais, em conformidade com a vontade nacional.”

Já o Sistema Nacional de Mobilização (SINAMOB), conforme prescrito na Lei no 1161, define a Mobilização Nacional como “o conjunto de atividades planejadas, orientadas e empreendidas pelo Estado, complementando a Logística Nacional, destinadas a capacitar o País a realizar ações estratégicas, no campo da Defesa Nacional, diante de agressão estrangeira”.

Agressão estrangeira não significa apenas ação militar, pode ser também um embargo econômico ou mesmo uma séria ameaça.

Um sistema político é composto pelos poderes Executivo, Judiciário e Legislativo, além do eleitorado, dos partidos políticos e dos grupos de pressão, como os ambientalistas, e ONGs, por exemplo.

Aqui, registro uma afirmação: o Brasil, um país em desenvolvimento, necessita de bastante energia. E está fazendo gestões para conquistar esse objetivo. Pode-se citar a hidrelétrica de Belo Monte, a ser construída no rio Xingu. Entretanto, devido às pressões, como as dos ambientalistas, por exemplo - até a Organização dos Estados Americanos resolveu tentar interferir num problema interno do país – as obras não avançam, com recursos jurídicos a toda hora. E essa fonte de energia é considerada limpa.

Agora, provoco os leitores com outra afirmação: a hidrelétrica de Itaipu é de fundamental importância energética para o Brasil. Para tal, imagine o Brasil sem essa hidrelétrica. E, se ela tivesse que ser construída nos dias atuais, provavelmente não seria construída, pela pressão de ONGs e de ambientalistas.

Quando se fala de guerra, imagina-se logo um problema dos militares. Essa ideia é totalmente equivocada, uma vez que é uma questão de toda a sociedade, que terá que se esforçar para dotar os militares com os melhores meios para a defesa da pátria.

“A paz é demasiadamente importante para ser cuidada somente por civis”.

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“A guerra é uma coisa muito importante para ficar nas mãos só de generais”.

(Clemenceau) 3 aMpaRO lEGal

Garantir o desenvolvimento nacional está previsto no Inciso II do Art 3º da Constituição Federal de 1988.

Já o Inciso XXVIII do Art.22 dispõe que a defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa marítima, defesa civil e mobilização nacional é de competência privativa da União.

O Inciso XIX do Art. 84, dispõe que “declarar guerra, no caso de agressão estrangeira, autorizado pelo Congresso Nacional, ou referendado por ele, e, nas mesmas condições, decretar, total ou parcialmente, a mobilização nacional” é de competência privativa do Presidente da República.

O Dec Nº 5.484, de 30/06/2005 - Política de Defesa Nacional (PDN) define algumas orientações estratégicas. Dentre elas:

- a vertente preventiva da defesa nacional reside na valorização da ação diplomática como instrumento primeiro de solução de conflitos e em postura estratégica baseada na existência de capacidade militar com credibilidade, apta a gerar efeito dissuasório.

- o desenvolvimento de mentalidade de defesa no seio da sociedade brasileira é fundamental para sensibilizá-la acerca da importância das questões que envolvam ameaças à soberania, aos interesses nacionais e à integridade territorial do País.

Assim, fica bem claro a necessidade de disseminar e divulgar a importância da “defesa” na sociedade brasileira, mostrando que esse importante tema é de responsabilidade de todos os segmentos, de todas as expressões do poder nacional1, e não apenas dos militares, uma vez que eles dependem da política, da economia, da ciência e tecnologia. E que tudo isso será revertido para a população brasileira como um todo, seja de maneira negativa ou positiva, na denominada expressão psicossocial do poder nacional.

A mesma PDN traça alguma diretrizes, dentre elas: - implantar o Sinamob e aprimorar a logística militar;

- fortalecer a infraestrutura de valor estratégico para a Defesa Nacional, prioritariamente a de transporte, energia e comunicações;

- promover a interação das demais políticas governamentais com a Política de Defesa Nacional; e

- incentivar a conscientização da sociedade para os assuntos de Defesa Nacional.

Esta última diretriz corrobora a orientação estratégica da conscientização da sociedade para os assuntos de Defesa.

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Destaca-se também o fortalecimento da infraestrutura, prioritariamente a de transporte, energia e comunicações. Entendo isso como uma simples tradução de desenvolvimento nacional. A partir do momento em que o Brasil tiver todas as suas estradas em excelentes qualidades de pavimentação, com suas ferrovias em ótimas condições, interligando todo o território nacional, com sua estrutura aeroportuária em excelentes condições, com navegação de cabotagem de 1ª linha, com excesso de energia, com diversas plantas energéticas em pleno funcionamento, com excepcionais padrões de comunicações em todo o território nacional, sem depender de apoio estrangeiro, poderá ser dito que o Brasil está desenvolvido.

Dessa forma, a logística será muito aprimorada e se tornará mais eficiente, evitando os desperdícios causados pelas estradas em péssimas condições, diminuindo os custos de manutenção dos meios de transporte, proporcionando um frete competitivo.

Como um simples exemplo, o Brasil é atualmente o 6º maior produtor mundial de urânio, mineral estratégico que está em evidência devido ao acidente nuclear ocorrido no Japão, causado pelos terremotos e tsunamis. Mas ressalta-se que o país só tem 30% desse mineral prospectado. Ao alcançar sua totalidade de prospecção, atingirá a posição de 2º maior produtor.

Cabe destacar a teoria geopolítica do Limes ou do Limite, do francês Jean Christophe Rufin, na qual ele divide o mundo em norte e sul (o Brasil aqui incluído) numa linha imaginária. O norte é o império e no sul estão os novos bárbaros. Ele diz que os novos bárbaros serão eternos fornecedores de matéria-prima para o império. Quando se observa que o Brasil tem sua pauta de exportações baseadas em comodities, sem um planejamento estratégico para agregar valor aos grãos e ao minério de ferro, por exemplo, devemos nos preocupar em estarmos aportando conteúdo a essa teoria geopolítica.

A Lei Nº 11.631, de 27/12/2007 criou o Sinamob, cumprindo uma das diretrizes da PDN.

O Sinamob é composto pelos seguintes órgãos:

- Ministério da Defesa (MD), atuando como órgão central; - Ministério da Justiça (MJ);

- Ministério das Relações Exteriores (MRE);

- Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG); - Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT);

- Ministério da Fazenda (MF);

- Ministério da Integração Nacional (MIN); - Casa Civil da Presidência da República;

- Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI); e - Secretaria de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica da PR (SeCOM). Observam-se todas as expressões do Poder Nacional aqui representadas. Na política, a Casa Civil da Presidência da República e o MRE; na econômica, o MF; na psicossocial, o

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MJ e o MIN; na militar, o MD; e na científica e tecnológica, o MCT. Fica caracterizada a participação de todo o poder executivo nesse processo da mobilização nacional.

Dentre as competências do Sinamob, destaca-se: - formular a Política de Mobilização Nacional; e

- elaborar o Plano Nacional de Mobilização e os demais documentos relacionados com a Mobilização Nacional;

Menos de 01 (um) ano após a criação do Sinamob, o Dec. nº 6.592, de 02/10/2008, regulamentou-o. De sua composição e organização, encontram-se os Órgãos de Direção Setorial que serão organizados de acordo com os subsistemas, destacando-se na mobilização, o Subsistema Setorial de Mobilização Política, sob a direção, na área interna, da Casa Civil da Presidência da República e, na área externa, do Ministério das Relações Exteriores;

Os subsistemas destinam-se a coordenar as ações necessárias para a preparação dos planos, bem como a sua execução, com os seguintes Subsistemas na expressão política, objetivando:

- Subsistema Setorial de Mobilização de Política Interna: coordenar a adaptação do ordenamento jurídico, criando instrumentos legais que garantam ao Estado o atendimento das necessidades de Mobilização Nacional;

- Subsistema Setorial de Mobilização de Política Externa: desenvolver a cooperação internacional possibilitando obter apoio, recursos e meios fora dos limites territoriais do País;

O preparo da Mobilização Nacional é desenvolvido de modo contínuo, metódico e permanente, desde a situação de normalidade, ou seja, desde já, buscando-se o desenvolvimento do país. A expressão política é muito importante nesta fase de formulação de um arcabouço jurídico necessário para os assuntos de mobilização nacional, uma vez que é de responsabilidade de toda a sociedade. Política significa “o que fazer”, significa “definir objetivos”, demonstrando uma vez mais que o tema “defesa” não é exclusivo dos militares.

Ainda na regulamentação do Sinamob, propõe-se que o preparo também contemplará a execução de ações dirigidas à sociedade, destinadas ao esclarecimento a respeito da Mobilização Nacional.

Seu Art. 25 dispõe que as ações governamentais, durante o preparo, devem estimular o desenvolvimento da infra-estrutura nacional e incentivar a pesquisa e a inovação em setores que, também, atendam aos interesses da Defesa Nacional.

No parágrafo único do artigo acima, esclarece que as medidas de incentivo que trata o caput poderão contemplar, dentre outras, conforme previsto em lei, as seguintes modalidades:

I - condições favoráveis de crédito, financiamentos, juros e prazos de pagamento;

II - compensações, isenções e reduções tributárias; e

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Um simples exemplo para ilustrar os incisos acima: imagine que a Marinha do Brasil receba R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) para comprar aço para construir uma embarcação. Se este aço for adquirido no mercado brasileiro, na realidade não estará comprando um milhão, e sim, apenas R$ 600.000,00 (seiscentos mil), uma vez que cerca de 40% serão cobrados através de impostos. Já no mercado exterior, alguns países não cobrarão esse imposto. Isto tem que ser estudado e revertido para o bem da indústria de defesa brasileira, e para o Brasil como um todo, porque a mesma fonte que dá o recurso, toma-o na forma de impostos.

Para atenuar esse problema, foi aprovada a Lei no 12.598, em 22 de março de 2012, que estabelece normas especiais para as compras, as contratações e o desenvolvimento de produtos e de sistemas de defesa. A mesma está sendo regulamentada para começar a produzir os resultados esperados.

As relações internacionais são caracterizadas pela cooperação, competição e conflito. Em se tratando de desenvolvimento do país e do preparo da mobilização, o Brasil deverá buscar independência do exterior, para reduzir o hiato tecnológico existente quanto ao material de defesa em relação aos países desenvolvidos. Por isso, a compra dos aviões caça para a Força Aérea Brasileira deve estar associada à transferência de tecnologia, pois, em se tratando de material de defesa, não pode haver qualquer tipo de dúvidas com compras normais de outras áreas, determinando a dependência do país em relação aos países desenvolvidos.

Outro caso que está ocorrendo é a construção do submarino de propulsão nuclear, numa parceria com a França, que irá, pelo acordo, transferir a tecnologia necessária. O Brasil já domina totalmente o ciclo do urânio; entretanto, não possui recursos tecnológicos para construir tal meio de navegação. A partir dessa construção, terá condições de, no futuro, ficar independente de países desenvolvidos que já dominam essa tecnologia.

O Dec. nº 6.703, de 18 de dezembro de 2008, criou a Estratégia Nacional de Defesa (END), que na sua introdução, dispõe:

[...] se o Brasil quiser ocupar o lugar que lhe cabe no Mundo, precisará estar preparado para defender-se não somente das agressões, mas também das ameaças. Vive-se um Mundo em que a intimidação tripudia sobre a boa fé. Nada substitui o envolvimento do povo brasileiro no debate e na construção de sua própria defesa.

O Brasil está em franco desenvolvimento e tem objetivo de chegar ao nível de país desenvolvido. Assim, cabe destacar que a defesa dos interesses brasileiros e das riquezas nacionais só será possível, caso o país disponha de Forças Armadas capazes de respaldar seus posicionamentos, aptas a gerar efeito dissuasório diante das demais nações.

A END pauta-se, dentre outras, pela seguinte diretriz: desenvolver o potencial de mobilização militar e nacional para assegurar a capacidade dissuasória e operacional das Forças Armadas.

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O Dec. nº 7.294, de 06 de setembro de 2010, criou a Política de Mobilização Nacional (PMN), consistindo no conjunto de orientações do Governo Federal com o objetivo de impulsionar o Estado brasileiro para o preparo e a execução da mobilização nacional e da consequente desmobilização nacional. Ressalta-se também que é uma resposta a uma das competências do Sinamob.

Observa-se, ainda, o curto espaço de tempo em que toda essa legislação surgiu, proporcionando o amparo legal necessário para a mobilização nacional, que também significa superar a condição de país subdesenvolvido para a de desenvolvido, reduzindo esse hiato que é marcante, devendo ser ultrapassado para que o Brasil conquiste o nível de 1º mundo. A PMN prevê que para atingir o objetivo geral (o preparo e a execução da mobilização nacional), concorrem os seguintes objetivos específicos:

- implementação de ações que visem dotar a mobilização nacional de um arcabouço jurídico-institucional adequado às suas necessidades;

- desenvolvimento da cooperação internacional em proveito da mobilização nacional;

A mesma política ainda dispõe que as diretrizes governamentais de mobilização nacional deverão ser observadas para a elaboração das diretrizes e dos planos setoriais dos órgãos componentes do SINAMOB, conforme se seguem:

- incentivar a adequação de organizações públicas e privadas para a atividade de mobilização nacional;

- promover o desenvolvimento da doutrina de mobilização nacional.

A Portaria Normativa Nº 185/MD, de 27 de janeiro de 2012 aprovou a Doutrina de Mobilização Militar, cuja finalidade é estabelecer os fundamentos doutrinários a serem considerados pelo Ministério da Defesa e pelas Forças Armadas no preparo e na execução da mobilização militar, desde a situação de normalidade até a iminência ou efetivação de uma Hipótese de Emprego (HE) ou situações de crise (catástrofes, desastres naturais, etc.) e posterior retorno à normalidade.

Pode-se afirmar que, com todo esse arcabouço legal, o Brasil definiu a mobilização nacional como um dos seus objetivos prioritários. Agora já existem ferramentas para serem usadas nos assuntos relativos à mobilização nacional.

Fases da Mobilização Nacional

A Mobilização Nacional se realiza em duas fases:

- 1ª fase: o preparo, que é permanente, contribuirá de forma marcante para o atingimento do desenvolvimento nacional e

- 2ª fase: a execução, que será eventual, só ocorrendo em caso de agressão estrangeira, só podendo ser decretada pelo Presidente da República, referendado pelo Congresso Nacional.

O Manual Básico da ESG diz que o preparo da mobilização nacional é “o conjunto de atividades planejadas, empreendidas ou orientadas pelo Estado, desde a situação normal, visando a facilitar a Execução da Mobilização Nacional”.

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Revista da Escola Superior de Guerra, v. 26, n. 53, p. 98-107, jul./dez. 2011

Vale enfatizar que, quanto melhor se der este preparo, menos traumática será a execução da mobilização e maior será a resposta das Forças Armadas à agressão estrangeira. Isso pode ser observado nos países que enfrentaram guerra em seus territórios, onde ficou nítido os transtornos que a guerra levou à população.

Além disso, ao tornar público os empreendimentos do preparo da mobilização, a nação adquire, automaticamente, elevado poder dissuasório no cenário mundial. Em resumo: a preparação da nação para a guerra acaba por gerar condições mais favoráveis para a manutenção da paz, por mais paradoxal que isso possa parecer.

Ainda o Manual Básico da ESG diz que a execução da mobilização nacional é “ o conjunto de atividades que, após decretada a Mobilização, são empreendidas pelo Estado, de modo acelerado e compulsório, a fim de transferir meios existentes no Poder Nacional e promover a produção oportuna de meios adicionais”.

Cabe ressaltar que a execução da mobilização, por ato do poder executivo, devidamente referendado pelo Congresso Nacional, imporá medidas amargas à sociedade, quanto piores forem as ações do preparo da mobilização. As necessidades da expressão militar do poder nacional imporão a celeridade do processo.

Em síntese, se as forças armadas estiverem em estado de carência, com uma logística mal estruturada, a exigências do esforço de mobilização serão muito mais elevadas, o que, consequentemente, irá exigir um esforço nacional de enormes proporções.

4 cOnclUSãO

O Brasil é um país de dimensões continentais e em franco desenvolvimento, com objetivos de alcançar o chamado “Primeiro Mundo” num futuro bem próximo. Apesar de não ter inimigos declarados e nem hipóteses de guerra num cenário de médio ou longo prazo, é rico e abundante em água doce, terras agricultáveis e energia considerada limpa, além de sua fauna, flora, recursos minerais e biodiversidade, sendo o maior banco genético do planeta. Ou seja, está começando a incomodar seus concorrentes no cenário internacional, virando “vitrine”.

A mobilização nacional se divide em 2 fases: o preparo e a execução. Assim, é lícito que o Brasil se preocupe com mobilização nacional, particularmente no seu preparo. Desta forma, irá contribuir cada vez mais com o seu desenvolvimento do país. E a execução é de exclusiva competência do Presidente da República, referendado pelo Congresso Nacional.

Da mesma maneira, esse é um tema de toda a sociedade brasileira. Há que se quebrar o paradigma de que assuntos de guerra e de defesa, são exclusivos dos militares ou da expressão do poder nacional. Nada disso, pois somente a fase do preparo da mobilização nacional necessita do envolvimento de todos os brasileiros, que serão os principais beneficiários, uma vez que o país estará caminhando a passos largos para o seu desenvolvimento. Mas sem se descuidar da sua defesa.

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E no caso de uma provável execução da mobilização nacional, aí sim, o principal beneficiário serão as forças armadas que necessitam, desde o tempo de paz, de um poder dissuasório, para manter o país cada vez mais respeitado na comunidade internacional.

Nos últimos 4 anos, o governo federal proporcionou um arcabouço jurídico, um amparo legal do qual o Brasil necessitava para sua agenda de mobilização nacional. Torna-se imperioso informar e mudar o pensamento da sociedade, uma vez que deve ser uma preocupação de todos os brasileiros.

Quanto melhor for realizado o preparo da mobilização nacional, menor serão os transtornos causados pela sua decretação.

REfERêncIaS

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