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Auto perceção da função visual e acesso a cuidados visuais em lares de idosos no nordeste transmontano: estudo piloto

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Annie Afonso Teixeira

agosto de 2014

Auto perceção da função visual e acesso

a cuidados visuais em lares de idosos no

nordeste transmontano: estudo piloto

UMinho|20

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Auto perceção da função visual e acesso a cuidados visuais em lares de idosos no nordes

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Universidade do Minho

Escola de Ciências

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Annie Afonso Teixeira

agosto de 2014

Dissertação de Mestrado

Mestrado em Optometria Avançada

Auto perceção da função visual e acesso

a cuidados visuais em lares de idosos no

nordeste transmontano: estudo piloto

Universidade do Minho

Escola de Ciências

Trabalho realizado sob a orientação do

Professor Doutor António Filipe Teixeira Macedo

e do

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DECLARAÇÃO

Nome:

Annie Afonso Teixeira

Endereço eletrónico

:

annie_ocv@hotmail.com

Número do Bilhete de Identidade:

12529355

Título:

Auto perceção da função visual e acesso a cuidados visuais em lares de idosos no nordeste transmontano: estudo piloto

Orientador Principal:

Professor Doutor António Filipe Teixeira Macedo

Ano de conclusão:

2014

Designação do Mestrado:

Mestrado em Optometria Avançada

DE ACORDO COM A LEGISLAÇÃO EM VIGOR, NÃO É PERMITIDA A REPRODUÇÃO DE QUALQUER PARTE DESTA TESE.

Universidade do Minho, ___/___/______

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Agradecimentos

Ao Professor Doutor António Filipe Teixeira Macedo pela excelente orientação, disponibilidade incondicional e pelo apoio prestado mesmo nos momentos de maior dificuldade e algum desânimo.

Aos responsáveis e funcionários das instituições visitadas pela autorização na aplicação dos inquéritos aos seus clientes sabendo do risco e do desafio que isso lhes poderia causar.

Aos participantes deste estudo, pela disponibilidade e colaboração, e sem os quais não teria sido possível a realização deste trabalho.

À minha família, que nunca me deixaram desistir, apoiaram-me, ajudaram-me e acreditaram nas minhas capacidades, pela paciência e compreensão com que me presentearam ao longo deste tempo de trabalho.

Ao meu marido e filho pelo apoio incondicional, amor, carinho e presença em todos os momentos deste percurso tão árduo e que agora se concretiza, o meu agradecimento muito especial.

A todos aqueles que de algum modo contribuíram para que esta dissertação se tornasse uma realidade.

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Título:

Auto perceção da função visual e acesso a cuidados visuais em lares de idosos

no nordeste transmontano: estudo piloto

Resumo

O tema abordado prende-se com a autoperceção dos idosos acerca da sua função visual e de que forma se aproxima dos resultados da medição objetiva da acuidade visual e da sensibilidade ao contraste. Para tal foi elaborado um estudo-piloto, descritivo e quantitativo, de forma a perceber as diferenças entre as respostas subjetivas e as medições objetivas, com a aplicação de um instrumento de recolha de dados acerca da autoperceção dos participantes, bem como através da medição objetiva com a escala ETDRS e o teste MARS, para avaliar a acuidade visual e a sensibilidade ao contraste, a uma amostra de 73 participantes institucionalizados.

Os resultados obtidos permitiram concluir que a acuidade visual e a sensibilidade ao contraste e a perceção dos participantes relativamente ao estado da sua visão são diferentes. Paralelamente os participantes referiram que não possuíam patologias visuais, embora alguns refiram ter sido operados às cataratas, não frequentando regularmente a consulta da visão, assim como não terem razões para se dirigirem à consulta da visão. Estes resultados são indicadores da necessidade em sensibilizar os participantes do estudo, a população em geral, bem como as instituições, em valorizarem a vigilância da visão, como parte da manutenção da qualidade de vida.

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Title:

Self perception of visual function and access to visual care in elderly/nursing

homes in Nordeste Transmontano: a pilot study

Abstract

The topic relates to the elderly self perception about their visual function and how this self perception its close to the results of objective measurement of visual acuity and contrast sensitivity. For that it was made a pilot study, descriptive and quantitative in order to understand the differences between the subjective responses and objective measurements, with the implementation of a tool for collecting data about self perception of participants, , as well as by objective measurement with the ETDRS scale and the MARS test to assess visual acuity and contrast sensitivity in a sample of 73 participants institutionalized.

The results showed that visual acuity and contrast sensitivity, in the sample included in this research, and the perception of the participants regarding the status of its vision are diferente. Participants also refer not having visual pathologies, although some refer that were operated to cataract, not regularly attending the consultation of vision, as well as reasons for failing to address the query of vision. These results are indicative of the need to sensitize the study participants, the general population or institutions in enhancing the surveillance of vision, as part of maintaining quality of life.

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ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO ... 1

1.1. Visão ... 3

1.2. Visão e a idade ... 5

1.3. Consequências dos problemas de visão nos idosos ... 8

2. HIPÓTESE E OBJETIVOS ... 11 2.1. Formulação do problema ... 11 2.2. Objetivo ... 11 2.3. Hipóteses do estudo ... 12 3. MÉTODOS... 13 3.1. Participantes ... 13

3.2. Medição da acuidade visual ... 14

3.3. Medição da sensibilidade visual ao contraste ... 14

3.4. Questionário de perceção subjetiva ... 15

4. RESULTADOS ... 17

4.1. Dificuldade subjetiva reportada na visão de longe ... 18

4.1.1. Acuidade visual de longe medida com escala ETDRS ... 19

4.1.2. Correlação entre acuidade visual ao longe e as dificuldades reportadas ... 22

4.2. Diferença entre a qualidade da visão subjetiva e medida objetivamente ... 23

4.2.1. Correlação entre acuidade visual e as dificuldades reportadas ... 24

4.3. Quedas ou colisões referentes aos últimos 12 meses ... 25

4.3.1. Número médio de quedas reportadas ... 25

4.3.2. Correlação entre o número de quedas e a acuidade visual de longe ... 26

4.4. Sensibilidade visual ao contraste ... 27 4.4.1. Correlação entre a sensibilidade visual ao contraste e o número de quedas . 28 4.4.2. Correlação entre a sensibilidade visual ao contraste e a acuidade de longe . 29

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4.4.3. Correlação entre a sensibilidade visual ao contraste e a acuidade visual de

perto ... 29

4.5. Dados sobre cataratas ... 30

4.6. Acesso a cuidados visuais e razões para não os procurar ... 31

5. DISCUSSÃO ... 35

6. CONCLUSÕES E TRABALHO FUTURO ... 39

7. BIBLIOGRAFIA ... 41

8. ANEXOS ... 44

8.1. Anexo 1: Pedido de autorização para realização de Investigação de Mestrado .. 45

8.2. Anexo 2: Folheto Informativo ... 46

8.3. Anexo 3: Consentimento Informado ... 48

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Índice de Ilustrações

Ilustração 1 – Seção horizontal do olho humano direito ... 3 Ilustração 2 – Categorização da visão segundo a OMS... 4 Ilustração 3 - Distribuição dos participantes segundo o género ... 17 Ilustração 4 – Distribuição dos participantes segundo a última atualização de óculos .. 18 Ilustração 5 - Distribuição das percentagens de participantes à questão “Classifique a sua dificuldade, se a tiver, em reconhecer a cara de uma pessoa conhecida do outro lado da rua ou na televisão (com óculos)” ... 19 Ilustração 6 - Distribuição da percentagem de participantes segundo a acuidade visual ao longe ... 20 Ilustração 7 - Distribuição da percentagem de participantes segundo a acuidade visual monocular do melhor olho ... 21 Ilustração 8 - Distribuição da percentagem de participantes segundo a acuidade visual monocular do pior olho ... 22 Ilustração 9 - Correlação entre acuidade visual ao longe e dificuldades reportadas ... 23 Ilustração 10 - Distribuição dos participantes segundo a percentagem de respostas à questão 2 - “Classifique a sua dificuldade, se a tiver, a ler as notícias em jornais,

revistas, menus de restaurantes ou números de telefone ... 24 Ilustração 11 - Correlação entre acuidade visual ao perto e dificuldades reportadas ... 25 Ilustração 12 - Distribuição dos inquiridos segundo a percentagem de respostas à questão 3 - “Quantas vezes caiu ou embateu em objetos nos últimos 12 meses ... 26 Ilustração 13 - Correlação entre a acuidade visual ao longe e o número de

quedas/colisões nos últimos 12 meses ... 27 Ilustração 14 - Distribuição dos participantes segundo a sensibilidade visual ao contraste ... 28 Ilustração 15 - Correlação entre a sensibilidade visual ao contraste e o número de quedas/colisões nos últimos 12 meses ... 28 Ilustração 16 - Correlação entre a sensibilidade visual ao contraste e a acuidade visual ao longe ... 29 Ilustração 17 - Correlação entre a sensibilidade visual ao contraste e a acuidade visual ao perto ... 30

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Ilustração 18 - Distribuição dos participantes segundo a percentagem de respostas à questão 4 – “ALGUMA VEZ lhe foi dito pelo seu médico dos olhos ou outro doutor que no PRESENTE momento tem cataratas?” ... 31 Ilustração 19 - Distribuição dos participantes segundo a percentagem de respostas à questão 8 - “Quando foi a ultima vez que fez uma consulta aos olhos?” ... 32 Ilustração 20 - Distribuição dos participantes segundo a percentagem de respostas à questão 9 – “ Quando foi a ultima vez que fez uma consulta aos olhos com dilatação pupilar?” ... 33 Ilustração 21 - Distribuição dos participantes segundo a percentagem de respostas à questão 10 – “Se não fez consulta aos olhos nos últimos 12 meses, indique a principal razão:” ... 34

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1. INTRODUÇÃO

No âmbito da exigência pedagógica para efeitos de conclusão do Mestrado em Optometria Avançada, foi realizada a presente investigação, subordinada ao tema “Auto perceção da função visual e acesso a cuidados visuais em lares de idosos no nordeste transmontano: estudo piloto”, não só pela pertinência da temática em si, mas também pela importância de implementar conhecimentos teóricos na prática, numa área fundamental para a manutenção da qualidade de vida do idoso.

De facto, envelhecer não é sinónimo de declínio, essencialmente, pelas teorias, estudos, tecnologia e instrumentos de reabilitação que, ao longo dos últimos anos, têm vindo a ser construídas e aplicadas, no sentido de promover um envelhecimento ativo, saudável e equilibrado, em todos os contextos de vida (Pinto, 2006).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) é clara quando define que o envelhecimento não deve passar de mais uma fase do desenvolvimento do ser humano devendo ser vivenciada em condições que promovam a qualidade de vida dos idosos, em todos os seus níveis (físico, psicológico, financeiro, social, familiar, …). De acordo com Mota Pinto envelhecer não significa perder qualidade de vida, pelo contrário, o aumento da esperança de vida só constitui um progresso real da sociedade se não se acompanhar de uma diminuição da qualidade de vida das pessoas, surgindo o conceito de “esperança de vida sem incapacidade” que é aliás sintetizado na famosa frase da Organização Mundial de Saúde que nos diz: “dar mais vida aos anos e não apenas mais anos à vida”. A esperança de vida sem incapacidade traduz o número de anos que se espera sejam vividos sem incapacidade (Pinto, 2006).

Um fator importante para a qualidade de vida do idoso é a manutenção da sua independência e para a realização das atividades da vida diária, a aptidão funcional deve ser mantida em certos níveis para que determinadas tarefas possam ser executadas, como, por exemplo, subir e descer degraus, atravessar uma rua com uma velocidade segura e desviar-se de objetos e pessoas fora e dentro de casa, o que depende não só de capacidades físicas como a força, coordenação, equilíbrio, velocidade e agilidade mas também e essencialmente da qualidade da função visual (Miyasike-da-Silva et al, 2002).

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O acompanhamento feito pelas instituições aos idosos, na prevenção de situações de dependência, deve pautar-se pela frequência regular de consultas de oftalmologia e/ou optometria, ou pela sensibilização aos idosos para a frequência da referida consulta, no sentido de verificar o estado da visão e, em consequência promover a sua autonomia (Lança et al, 2011).

A presente investigação foi concretizada para analisar a autoperceção dos idosos acerca da sua função visual e de que forma se aproxima dos resultados da medição objetiva da acuidade visual e da sensibilidade ao contraste, em que se delinearam os seguintes objetivos:

- Identificar a autoperceção da função visual, da mobilidade, das doenças oculares e dos cuidados visuais dos idosos institucionalizados;

- Realizar medições concretas da acuidade visual e da sensibilidade ao contraste. - Analisar as diferenças entre a autoperceção da função dos idosos e as medições objetivas da acuidade visual e da sensibilidade ao contraste.

Para a concretização dos objetivos descritos, foi elaborado um estudo-piloto, descritivo e quantitativo, de forma a perceber as diferenças entre as respostas subjetivas e as medições objetivas.

Para organizar toda a investigação, dividiu-se em duas partes que, embora independentes, se relacionam mutuamente, uma primeira parte onde se elenca o enquadramento teórico necessário para justificar os resultados obtidos e uma segunda parte onde se incluem todas as fases metodológicas da investigação bem como as conclusões atingidas.

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3 1.1. Visão

A importância da visão foi evoluindo ao longo dos tempos, traduzindo-se atualmente num sentido do ser humano cujo significado social está relacionado diretamente com a comunicação relacional em todos os contextos vivenciais, pelo que a visão funcional aliada à acuidade visual devem ser protegidas e promovidas atitudes para a sua manutenção e preservação (DGS, 2005)

O olho é o órgão do corpo que possibilita a captação de imagens do ambiente que nos rodeia e onde se processa a visão, função essencial para absorver a maior parte da informação que necessitamos diariamente (Warwick & Williams, 1978).

A qualidade da visão depende das ações de diversas estruturas dentro e ao redor do globo ocular, assim como a complexidade do olho permite, quando observada qualquer imagem ou objeto, a sua identificação e reconhecimento, processo que se inicia quando a luz reflete no objeto, é refratada e focada pela córnea, cristalino e vítreo, de uma forma nítida (ilustração 1), embora se apresente invertida na retina, que transforma esta imagem em impulsos elétricos a serem transmitidos pelo nervo ótico para o cérebro para que a imagem seja interpretada pelo córtex cerebral (Vicario, 1996).

Ilustração 1 – Seção horizontal do olho humano direito

Fonte: Macedo, A.F.T. (2004)

No que diz respeito à acuidade visual, ou capacidade de distinguir detalhes e formas de objetos a curta e longa distância, a sua diminuição ou alteração, segundo dados quer da

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Organização Mundial de Saúde quer da Direção-Geral de Saúde é, na sua maioria, causada por problemas de refração acessíveis à correção ótica com ou sem intervenção cirúrgica, como é o caso da miopia, hipermetropia, astigmatismo e presbiopia e algumas doenças como a catarata, retinopatias, o glaucoma e as doenças maculares (DGS, 2005; Lança et al, 2011).

A acuidade visual é alvo de diversas definições associadas à categorização da visão, conforme se pode verificar da ilustração 2, essencialmente pelos diferentes graus de deficiência definidos pela Organização Mundial de Saúde, ou ainda pelos sinónimos e definições alternativas que foram sendo testados.

Categoria da visão OMS

Grau da deficiência

Acuidade visual (com a melhor correção possível)

Sinónimos e definicções alternativas

VISÃO NORMAL Nula

Ligeira

0.8 ou melhor (5/6, 6/7.5, 20/25, ou melhor)

Menos de 0.8 (<5/6, 6/7.5, ou 20/25)

Da ordem da visão normal

Visão quase normal

AMBLIOPIA Moderada Grave Menos de 0.3 (<5/15, 6/18 ou 6/20, ou 20/80 ou 20/70) Menos de 0.12 (<5/40, 6/48 ou 20/160) (<0.1, 5/50, 6/60, ou 20/200)* Ambliopia moderada

Ambliopia grave, cegueira legal em alguns países, contagem dos

dedos até 6 m ou menos CEGUEIRA ** Profunda Quase total Total Menos de 0.05 (-<5/100, 3/60, ou 20/400) Menos de 0.02 (<5/300, 1/60, ou 3/200)

Ausência da perceção da luz (APL)

Ambliopia profunda ou cegueira moderada – cegueira na CID-9; contagem de dedos a menos de 3

m – contagem de dedos SOE

Cegueira grave ou quase total; contagem de dedos até 1 m ou menos, ou movimentos das mãos

até 5 m, ou menos, ou movimentos das mãos SOE, ou

perceção da luz

Cegueira total (inclui ausência de olho)

* Este nível alternativo de acuidade visual é menos preciso nos quadros sem linhas, 0.16 e 0.12 significam efetivamente <0.2.

** Um ou dois olhos.

Ilustração 2 – Categorização da visão segundo a OMS

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A manutenção da acuidade visual, particularmente com o evoluir da idade, pode influenciar a qualidade de vida dos idosos, o seu declínio funcional e situações clínicas de depressão (Swanson et al, 2009), temática que de seguida se aborda.

1.2. Visão e a idade

Ao longo do tempo e com o envelhecimento, a visão vai sofrendo alterações, ao nível da acuidade visual, do campo visual periférico, da sensibilidade ao contraste, da discriminação das cores, da adaptação ao escuro, bem como na noção de profundidade, influenciando a capacidade visual dos indivíduos (Macedo et al, 2008).

Com a evolução científica e tecnológica associada à investigação acerca da função visual, verifica-se a necessidade de preservar esta função desde o nascimento, prevenindo e tratando a doença visual que pode diminuir a qualidade de vida, com repercussão negativa a nível pessoal, familiar e profissional, para além de causar elevados custos sociais (DGS, 2005).

Atualmente, em Portugal, verifica-se que mesmo com o acesso cada vez mais alargado aos cuidados visuais, as doenças do sistema visual são extremamente frequentes na população em geral e mais prevalentes na faixa mais envelhecida da população portuguesa, o que justificou a implementação de um Plano Nacional para a Saúde da Visão, em 2005, pela Direção-geral de Saúde, com o objetivo de melhorar o acesso a cuidados visuais adequados e atempados (DGS, 2005).

No âmbito dos custos económicos globais que as doenças visuais acarretam, Frick & Foster (2003) referem que com uma intervenção precoce para diminuir ou prevenir doenças visuais, se podem poupar aproximadamente 102 milhões de dólares para além de se evitar a cegueira de aproximadamente 429 milhões de pessoas, no período de 2003 a 2020 (Frick & Foster, 2003).

Ainda neste contexto, dados da Organização Mundial de Saúde (2007) permitiram ainda alertar para a necessidade de uma intervenção mais direta e abrangente na área da prestação destes cuidados, bem como na sensibilização da população para a adesão à consulta de vigilância visual atempadamente e de forma regular, essencialmente porque estimam que, no ano de 2020, existirão, em todo o mundo, aproximadamente 54

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milhões de pessoas cegas com idade superior ou igual a 60 anos (se entretanto não surgirem recursos adicionais), sendo que, dependendo da causa, mais de 80% da cegueira e da perda grave de visão poderá ser evitada, prevenindo-a ou tratando-a (OMS, 2007).

Paralelamente à investigação da OMS, foram sendo realizados diversos estudos sobre esta temática, em todo o mundo, que reforçam as orientações desta organização, no sentido de prevenir situações de alteração da acuidade visual e outras doenças visuais, pela promoção da consulta precoce e acompanhamento de cuidados visuais.

Em 2005, Tsai et al apresentaram resultados da investigação levada a cabo em Taiwan, que se relacionava com a disfuncionalidade da função visual na população idosa e cujos resultados referem a existência de diferenças geográficas na prevalência de doenças visuais, dificuldades visuais e cegueira, sendo necessárias medidas que respeitem estas diferenças e promovam a procura de cuidados de saúde visuais.

Outras conclusões retiradas deste estudo dizem respeito à confirmação que as dificuldades visuais e a cegueira são problemas graves de saúde, na população idosa de Taiwan, em que se concluiu também que a degeneração macular relacionada com a idade, as cataratas, as doenças relacionadas com a córnea, retinopatias miópicas e diabéticas, eram as maiores causas de disfuncionalidade visual, aconselhando intervenções de prevenção para os cuidados da função visual, a serem implementadas o mais precocemente possível (Tsai et al, 2005).

Por outro lado, Carcenac et al, em 2009, concluíram que, no Canadá, pertencendo 13% da população à faixa etária igual ou superior a 65 anos, considerando o processo normal de envelhecimento ao qual estão associadas diversas alterações da função visual, bem como patologias oculares cada vez mais prevalentes, sem uma intervenção rápida, que abranja esta camada da população, a maioria destes indivíduos tenderão a ser afetados não só pela progressiva perda de visão que poderá ir até à cegueira, mas também pelas dificuldades funcionais que estas limitações trarão à sua qualidade de vida. Referem ainda que esta intervenção poderá iniciar-se nas instituições de apoio aos idosos, pois os resultados atingidos permitiram ainda concluir que, no caso dos idosos institucionalizados, as alterações visuais medidas seriam facilmente tratadas e poderiam ter sido evitadas, caso tivessem sido frequentadas consultas de rotina visual (Carcenac

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A investigação permitiu também confirmar que é possível efetuar avaliações completas da função visual e da saúde ocular, em instituições de apoio aos idosos, independentemente das idades, do estado cognitivo ou de distúrbios de comunicação (Carcenac et al, 2009).

No sentido de construir mais um modelo de análise do nível de deficiência visual, aliado às medições da acuidade visual e da sensibilidade ao contraste, Swanson et al, em 2009, implementaram uma investigação no Alabama, direcionada para os idosos institucionalizados, cujos resultados referem que apenas o uso de um modelo como o Minimum Data Set (MDS 2.0) não seria suficiente para quantificar o nível de deficiência visual, uma vez que não ia de encontro às medições da acuidade visual e da sensibilidade ao contraste, particularmente na avaliação de indivíduos com deficiência mediana ou moderada e, em alguns casos, classificou indivíduos com visão adequada, como possuindo deficiência visual, pelo que se encontra em fase de reestruturação (Swanson et al, 2009).

No entanto estes investigadores referem ainda que existe uma associação muito positiva entre o modelo referido, a acuidade visual e a sensibilidade ao contraste, permitindo, no futuro e com as adequadas modificações, servir de instrumento de sensibilização para a implementação de cuidados de saúde visual, a idosos institucionalizados, já que as alterações visuais são frequentes (24% a 57% dos idosos institucionalizados na região têm deficiências visuais e entre 5% a 11% têm diagnosticada cegueira).

A maioria destas deficiências deve-se a erros refrativos não tratados e a cataratas que poderiam ser facilmente resolvidas, com a correção do erro refrativo e com intervenção cirúrgica, de forma a melhorar a função visual e, em consequência, a qualidade de vida, o que, em 50% dos casos, não acontece, porque os idosos, após a institucionalização, raramente frequentavam ou tinham acesso a cuidados de saúde da visão (Swanson et al, 2009). Já em 2012, Dev et al levaram a cabo uma investigação com idosos institucionalizados, no Nepal, cujos resultados indicam que os problemas visuais podem surgir ou agravar-se com o aumento da idade e que, em muitos casos, podem ser facilmente evitados ou prevenidos quer pelo simples uso de óculos quer através de cirurgia Os autores alertam para a necessidade de exames visuais de rotina pois as patologias são graduais e a cegueira ocorre em estados avançados, bem como para a

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formação específica do pessoal auxiliar no (re)conhecimento do impacto que os problemas visuais causam no dia a dia do idoso (Dev et al, 2012).

A prevalência de problemas visuais e da cegueira aumenta com a idade devido à elevada prevalência de patologias da retina, glaucoma, degeneração macular relacionada com a idade e de cataratas, em idosos que vivem em instituições. Muitos problemas visuais podem ser significativamente evitados com uso ou alteração na refração ou com cirurgia às cataratas (Eichenbaum et al, 1999; Tielsch et al, 2007).

Embora a idade e o envelhecimento estejam diretamente relacionados com a alteração da qualidade da visão, os estudos analisados são claros quando referem que as situações de doenças oculares ou diminuição da qualidade da visão, poderiam ser facilmente evitadas ou corrigidas, se a frequência das consultas de cuidados da saúde visual fosse precoce e constante e se o acompanhamento destes cuidados se mantivesse ao longo da vida, para que a qualidade de vida dos idosos se não sofresse diminuição quer no domicílio quer quando institucionalizados. A maioria dos estudos refere a necessidade de sensibilizar não só a população geral para a frequência de consultas de vigilância da saúde visual, mas também as instituições de apoio aos idosos, no sentido de promover a sua autonomia, independência e longevidade, bem como na prevenção de situações que podem prejudicar a saúde global do idoso, pela diminuição da qualidade da visão, temática que de seguida se aborda.

1.3. Consequências dos problemas de visão nos idosos

Ao longo de todo ciclo vital, o ser humano sofre alterações estruturais, fisiológicas, psicológicas, sociais, económicas e contextuais, que culminam nas denominadas terceira e quarta idades, com perdas várias e que, associadas ao declínio funcional, influenciam diretamente a qualidade de vida e a autonomia dos idosos (DGS, 2005; OMS, 2007). Associados ao declínio funcional, encontram-se processos de degeneração física que limitam a autonomia do indivíduo e que, quando não prevenidos nem intervencionados, promovem a institucionalização e a dependência dos idosos (Macedo et al, 2008). As alterações do equilíbrio na população idosa são problemas relativamente comuns e levam a importantes limitações na realização das atividades da vida diária, sendo a principal causa de queda nestes indivíduos, e por terem origem multifatorial é

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fundamental reconhecer quais os fatores que estão associados àquelas alterações (Wang

et al, 2012).

À medida que a população envelhece, a prevalência de problemas visuais aumenta, e paralelamente, há uma redução na qualidade de vida (Evans et al, 2009). Para além disto, os problemas visuais também limitam atividades da vida diária e interações sociais, podendo também ser um fator que agrava os estados depressivos (Lamoureux et

al, 2009). Estudos efetuados sobre a relação entre a redução da qualidade da visão e a

qualidade de vida do idoso, indicam que existe uma associação significativa entre a alteração da acuidade visual, a função visual relatada e a qualidade de vida, isto é, quanto mais baixa for a acuidade visual, maiores as limitações e perda de autonomia (McKean-Cowdin et al, 2010).

Relativamente às instituições de apoio aos idosos e tendo em conta as limitações que a diminuição da qualidade visual pode acarretar, é de todo pertinente que se sensibilizem para a adoção não apenas de infraestruturas físicas que respeitem a acessibilidade de todos os idosos mas essencialmente que acompanhem de forma mais individualizada, a saúde visual dos idosos, de forma a prevenir possíveis quedas ou acidentes que, em Portugal, continuam a ser uma das causas principais de morte nos idosos (DGS, 2012) (Marques Sibila et al, 2012). Wang et al (2012) realizaram um estudo que indica que as quedas e os seus efeitos diretos, como ferimentos, internamento de urgência ou mesmo morte e indiretos, como o medo de cair e a consequente limitação da realização de atividades de vida agradáveis e que promovem a sua independência, são um problema de saúde pública para os idosos, já que são situações que ocorrem com demasiada frequência (Wang et al, 2012). Harwood (2001) apresenta resultados semelhantes, no seu estudo, quando refere que a deficiência visual é um fator de risco para as quedas nos idosos, indicando que o risco de cair aumenta na mesma proporção que a qualidade da visão diminui, existindo uma relação causal, tendo em conta que a visão contribui para aproximadamente um quarto de todas as quedas. Neste sentido, o mesmo autor refere que as alterações visuais, em 70% ou mais dos idosos podem ser corrigidas com intervenções simples como a correção de erros refrativos ou a intervenção cirúrgica, concorrendo para que as quedas por alterações visuais diminuam (Harwood, 2001). O Plano Nacional de Saúde 2012-2016, considera que para prevenir as referidas situações de diminuição da autonomia, será de todo pertinente apostar na intervenção

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precoce nos fatores de risco, essencial para a prevenção da doença crónica e das complicações, pelo rastreio, diagnóstico precoce e promoção da adesão terapêutica, bem como pela reabilitação e/ou integração da pessoa com limitações funcionais (DGS, 2012). Neste sentido e tendo em conta que a própria Direção-Geral de Saúde refere não possuir dados suficientes que permitam a análise do nível de saúde da população institucionalizada em lares, bem como as respostas ao nível da saúde que as instituições oferecem, é de todo pertinente que se realizem cada vez mais estudos para que não sejam esquecidos os cidadãos que se encontram nestes locais e se sensibilizem as próprias instituições a adotar novas medidas de promoção da qualidade de vida, aliadas à prevenção precoce de patologias que diminuam a autonomia e qualidade de vida dos idosos (DGS, 2012).

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2. HIPÓTESE E OBJETIVOS

2.1. Formulação do problema

Tendo em conta a saúde da visão no idoso, para além de estudar as capacidades visuais de cada indivíduo, detetando alterações normais das estruturas oculares devidas à idade e alterações devido a patologias locais ou sistémicas, importa também conhecer a avaliação que cada um faz da sua saúde geral e visual, e qual o impacto das alterações da função visual na qualidade de vida relacionada com a saúde.

Assim, para a presente investigação o problema definido foi “Que perceção os idosos institucionalizados em lares de idosos no nordeste transmontano têm acerca da sua função visual e do acesso a cuidados visuais” e, neste sentido, foram planificados os objetivos a atingir para a sua concretização, tendo em conta o problema definido, que de seguida se descrevem.

2.2. Objetivo

De forma a poder ser concretizada a investigação proposta inicialmente, foram definidos os seguintes objetivos:

- Identificar a autoperceção da função visual, da mobilidade, das doenças oculares e dos cuidados visuais dos idosos institucionalizados;

- Realizar medições objetivas da acuidade visual e da sensibilidade ao contraste. - Analisar as diferenças entre a autoperceção da função dos idosos e as medições objetivas da acuidade visual e da sensibilidade ao contraste.

Para atingir os objetivos propostos foram realizadas as seguintes medidas: - Medir a acuidade visual e sensibilidade ao contraste;

- Identificar a perceção dos idosos institucionalizados acerca da sua função visual;

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- Identificar a frequência com que os idosos institucionalizados recorrem aos cuidados visuais.

2.3. Hipóteses do estudo

As hipóteses consideradas para a presente investigação foram as seguintes:

Hipótese 1 – A autoperceção da função visual dos idosos institucionalizados é diferente da medição visual obtida.

Hipótese 2 – Existe relação entre a acuidade visual ao perto e a sensibilidade ao contraste.

Hipótese 3 – Existe relação entre a acuidade visual ao longe e o número de quedas dos idosos institucionalizados.

Hipótese 4 - Existe relação entre a sensibilidade ao contraste e o número de quedas dos idosos institucionalizados.

(23)

13

3. MÉTODOS

De seguida se descrevem os procedimentos realizados na recolha dos dados, para posterior apresentação dos resultados.

3.1. Participantes

De forma a definir a amostra de participantes na investigação e tendo em conta o tema, foi solicitada autorização ao Exmo. Sr. Provedor da Santa Casa da Misericórdia e Diretor Técnico para a aplicação dos instrumentos de recolha de dados (anexo 1) e após a sua autorização, foram entregues panfletos informativos aos idosos a residir na referida instituição (anexo 2) no sentido de sensibilizar à participação no estudo, bem como o consentimento informado para ser assinado pelos participantes, como comprovativo da sua colaboração na investigação e de forma a salvaguardar as questões éticas que lhe estão inerentes (anexo 3).

Posteriormente e após indicação do número de participantes que aceitaram colaborar na investigação, foram organizadas as visitas às instituições, no sentido de aplicar os instrumentos de recolha de dados, para os meses de outubro e novembro de 2013, tendo em conta a disponibilidade referenciada pela instituição.

Os critérios de inclusão considerados para a seleção dos idosos foram os seguintes: i) idade acima dos 60 anos ii) capacidade de reconhecer letras (não era necessário saberem ler). Os critérios de exclusão foram: i) certeza ou suspeita de demência e ii) não ser capaz de realizar tarefas como andar, vestir ou comer sem a ajuda de outra pessoa. Utilizando este critério foram posteriormente considerados válidos para a presente investigação 73 casos.

Nas visitas foram aplicados os instrumentos de recolha de dados (anexo 5) em que a avaliação da função visual foi efetuada respeitando as condições necessárias e exigidas para a sua aplicação, com a correção habitual para longe e/ou perto. Os testes aplicados e os materiais utilizados para a sua execução, descrevem-se de seguida, traduzindo os resultados

(24)

14 3.2. Medição da acuidade visual

A acuidade visual (AV) é a habilidade para distinguir elementos separados num alvo e identificá-los como um todo (Kanski, 2007) isto é, permite analisar a capacidade discriminatória de optotipos com elevado contraste com o objetivo de obter uma unidade de medida para a visão de cada olho.

A acuidade visual é usada clinicamente para analisar a integridade do percurso visual central, assim como para monitorizar o tratamento ou progresso de várias condições oculares como a ambliopia, as cataratas ou degeneração macular. A análise da acuidade visual permite avaliar uma variedade de tratamentos oculares em adultos, envolvendo a córnea, o cristalino, a retina e o nervo óptico (Manny et al, 2003).

Ao longo do tempo foram feitos esforços para reduzir a variabilidade e aumentar a precisão da medição da acuidade visual, sendo que para uma medição clinicamente relevante e de resultados fiáveis aplica-se a escala ETDRS (Early Treatment Diabetic Retinopathy Study) logMAR (Bailey et al, 2013; Manny et al, 2003).

O resultado óptimo deste teste utilizando a escala decimal (Snellen) é de 10/10, com a escala ETDRS LogMAR (a ETDRS varia entre -0.3 e 1 unidades logMAR, sendo os valores mais aproximados a zero indicadores de uma acuidade visual alta e os valores mais aproximados a 1.2 unidades logMAR, indicadores de uma acuidade visual baixa) e na presente investigação foi registada a AV inicialmente alcançada em cada participante, aplicada a uma distância de 4 metros, para uma placa, com a escala ETDRS retro iluminada.

3.3. Medição da sensibilidade visual ao contraste

A sensibilidade visual ou sensibilidade ao contraste, é medida através da quantidade de contraste mínimo - que no caso visual se define como a diferença na luminância de um alvo contra o fundo - necessária para distinguir um objecto (Warwick & Williams, 1978), que pressupunha, até há pouco tempo atrás, uma medição com a utilização de padrões em barras pretas contra um fundo branco com diferentes frequências espaciais, em que resultados normais variavam com a idade e apresentavam-se graficamente na forma de u invertido (inverso do contraste).

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15

Este teste permite uma análise complexa cujo resultado se relaciona com as condições da aquisição, modulação, já que pode ser influenciado pelas caraterísticas dos objetos e da iluminação ambiente, da integridade dos meios transparentes, das vias visuais e do córtex visual, da existência de erros refrativos e da existência de patologias, sendo altamente sensível a alterações fisiopatológicas relacionadas também com o envelhecimento das estruturas do globo ocular e do sistema visual (Kanski, 2007; Adams et al, 1999; Warwick & Williams, 1978).

O teste utilizado foi o MARS Letter CS Test, cujos cartões medem aproximadamente 23x35,3 cm em plástico rígido, com 48 letras de 1,75 cm de altura, organizadas em oito colunas de seis letras cada, onde o contraste varia de 91% (-0,04 unidades logCS) a 1,2% (1,92 unidades logCS), e o contraste de cada letra vai diminuindo através do factor constante de 0,04 unidades CS e cuja pontuação se obtém através do conjunto de três letras mais esbatido em que 2 das 3 letras têm que ser lidas corretamente, sendo o resultado da sensibilidade ao contraste dado pelo número na folha de pontuações que fica mais próxima do conjunto das três letras (Dougherty et al, 2005). No caso de o participante terminar as letras todas corretas o resultado é o último quadro corretamente respondido. Para participantes com idades superiores a 60 anos, os valores normais monoculares são de 1.74 logCS até 1.62 logCS (anormal abaixo dos 1.50 logCS) (Swanson et al, 2009; Wang et al, 2012).

3.4. Questionário de perceção subjetiva

Para a análise da caraterização sócio demográfica dos participantes e da sua perceção da acuidade visual, foi aplicado um questionário que de seguida se carateriza. O questionário baseou-se no estudo implementado pelo Centro Nacional de Prevenção de Doenças Crónicas e Promoção da Saúde (National Center for Chronic Disease Prevention and Health Promotion – CDC), utilizando para o efeito o Sistema de Vigilância dos Fatores Comportamentais de Risco (Behavioral Risk Factor Surveillance System – BRFSS) associado ao Módulo de Cuidados da Visão (Vision Impairment and Access to Eye Care Module - Vision Module).

O questionário aplicado encontra-se dividido em três partes, na primeira parte identificam-se as caraterísticas sócio demográficas dos idosos, na segunda parte

(26)

16

encontram-se 10 questões cujas respostas permitem questionar os participantes acerca da auto perceção da função visual (questão 1 e 2), da mobilidade (questão 3), das doenças oculares (questões 4 a 7), do acesso a cuidados visuais (questões 8 e 9) e da razão para não procurar cuidados visuais (questão 10).

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17

4. RESULTADOS

De seguida se descrevem os resultados relacionados com a perceção dos idosos acerca das suas condições visuais, a medição da acuidade visual e a sensibilidade ao contraste, bem como as correlações entre estes itens e o número de quedas dos idosos.

Os dados foram reportados utilizando a média e o desvio padrão para cada uma das variáveis, e a análise de correlação, através do teste de Pearson, que mede o grau de correlação entre duas variáveis, no sentido de validar as hipóteses em estudo. Para tal, foi utilizada a ferramenta informática Satistical Package for Social Sciences (SPSS, versão 20)

Na ilustração 3 encontram-se os resultados para o género, em que 70% dos participantes eram do género feminino e 30% do género masculino. A idade média dos participantes foi de 83,8 anos de idade, sendo a idade mínima de 63 e a máxima de 99 anos. Relativamente à escolaridade verificou-se que 16% dos participantes referiram não ter concluído nenhum ano de escolaridade e 84% referiram ter concluído entre o 1º ano e o 4º ano de escolaridade, sendo a média de 3.1 anos de escolaridade para um desvio-padrão de 1.01 anos de escolaridade.

Ilustração 3 - Distribuição dos participantes segundo o género

30

70

Masculino Femino

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18

Questionados sobre o uso de óculos, verificou-se que 63% dos participantes referiram usar óculos e apenas 37% referiram não os usar.

Na ilustração 4 encontram-se os resultados de acordo com a última atualização de óculos, onde se verificou que em média, a maioria dos participantes teve a referida atualização, há aproximadamente 7 anos (Média=6,8 anos, Desvio-padrão=4,65).

Ilustração 4 – Distribuição dos participantes segundo a última atualização de óculos

4.1. Dificuldade subjetiva reportada na visão de longe

Na ilustração 5 encontram-se os resultados à questão 1 – “Classifique a sua dificuldade, se a tiver, em reconhecer a cara de uma pessoa conhecida do outro lado da rua ou na televisão (com óculos) ”, cuja categorização considerou os itens 1=Impossível, 2=Difícil, 3=Nem fácil nem difícil, 4=Fácil e 5=Muito Fácil. Verificou-se que a maioria da percentagem dos participantes (43%) indicou ser fácil reconhecer a cara de uma pessoa conhecida do outro lado da rua ou na televisão (com óculos).

0 5 10 15 20 25 0 10 20 30 40 50 60 70 80 Úl tim a atu al izaç ão d e ó cu lo s (an o s)

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19

Ilustração 5 - Distribuição das percentagens de participantes à questão “Classifique a sua dificuldade, se a tiver, em reconhecer a cara de uma pessoa conhecida do outro lado da rua ou na televisão (com óculos)”

4.1.1. Acuidade visual de longe medida com escala ETDRS

Os resultados da acuidade visual medida foram subdivididos em 5 grupos para melhor se relacionarem com a escala de 1-5 usada no questionário.

A ilustração 6 mostra os resultados obtidos para a acuidade visual de longe. Verificou-se que 34% dos participantes apreVerificou-sentaram valores entre 0.2 a 0.4 unidades logMAR, 21% dos participantes apresentaram valores entre 0.4 a 0.6 unidades logMAR, 19% dos participantes apresentaram valores entre 0.8 a 1 unidades logMAR, 16% dos participantes apresentaram valores entre 0 a 0.2 unidades logMAR e apenas 10% dos participantes apresentaram valores entre 0.6 a 0.8 unidades logMAR.

20 26 43 11 Impossível Difícil

Nem fácil nem difícil Fácil

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20

Ilustração 6 - Distribuição da percentagem de participantes segundo a acuidade visual ao longe

Na ilustração 7 encontram-se os valores da acuidade visual monocular, verificando-se que 37% dos participantes apresentaram valores de 0.2 a 0.4 unidades logMAR, 19% dos participantes apresentaram valores entre 0.4 a 0.6 unidades logMAR, 14% dos participantes apresentaram valores de 0.8 a 1 unidades logMar, 14% dos participantes apresentaram valores de 0 a 0.2 unidades logMAR, 11% dos participantes apresentaram valores de 0.6 a 0.8 unidades logMAR e 5% dos participantes apresentaram valores de 1 a 1.2 unidades logMAR. 16 34 21 10 19 0 5 10 15 20 25 30 35 40 0 a 0.2 0.2 a 0.4 0.4 a 0.6 0.6 a 0.8 0.8 a 1 Per ce n tagem d e p ar tici p an te s

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Ilustração 7 - Distribuição da percentagem de participantes segundo a acuidade visual monocular do melhor olho

A ilustração 8 diz respeito aos resultados da AV monocular do pior olho em que 29% dos participantes apresentaram valores considerados baixos (0.2 e 0.4 unidades logMAR), 27% dos participantes apresentaram valores entre 1 a 1.2 unidades logMAR, 15% dos participantes apresentaram valores entre 0.4 a 0.6 unidades logMAR, 12% dos participantes apresentaram valores entre 0.6 a 0.8 unidades logMAR, 11% dos participantes apresentaram valores entre 0.8 a 1 unidades logMAR. De realçar que apenas 6% dos participantes apresentaram valores entre 0 a 0.2 unidades logMAR no pior olho. 14 37 19 11 14 5 0 5 10 15 20 25 30 35 40 0 a 0.2 0.2 a 0.4 0.4 a 0.6 0.6 a 0.8 0.8 a 1 1 a 1.2 Per ce n tagem d e p ar tici p an te s

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22

Ilustração 8 - Distribuição da percentagem de participantes segundo a acuidade visual monocular do pior olho

4.1.2. Correlação entre acuidade visual ao longe e as dificuldades reportadas

Na ilustração 9, os resultados da correlação entre a acuidade visual ao longe e as dificuldades reportadas indicaram que existia uma correlação de Pearson estatisticamente significativa negativa fraca (r= -0.290 e p=0.013), cujos valores negativos se prendem com a escala de medição invertida da ETDRS, pois para uma acuidade melhor temos valores logMAR mais baixos, isto é, a perceção que os participantes tinham das suas dificuldades foi confirmada pela acuidade visual medida. De realçar que os valores de 1 a 5 indicam a dificuldade em reconhecer a cara de uma pessoa conhecida do outro lado da rua ou na televisão (com óculos) em que 1 corresponde ao item “Impossível”, 2 corresponde ao item “Difícil”, 3 corresponde ao item “Nem fácil nem difícil”, 4 corresponde ao item “Fácil” e 5 corresponde ao item “Muito fácil”. 6 29 15 12 11 27 0 5 10 15 20 25 30 35 0 a 0.2 0.2 a 0.4 0.4 a 0.6 0.6 a 0.8 0.8 a 1 1 a 1.2 Per ce n tagem d e p ar tici p an te s Acuidade Visual

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23

Ilustração 9 - Correlação entre acuidade visual ao longe e dificuldades reportadas

4.2. Diferença entre a qualidade da visão subjetiva e medida objetivamente

Na ilustração 10 encontra-se a análise dos resultados à questão 2 – “Classifique a sua dificuldade, se a tiver, a ler as noticias em jornais, revistas, menus de restaurantes ou números de telefone”, cuja categorização considerou os itens 1=Impossível, 2=Difícil, 3=Nem fácil nem difícil, 4=Fácil e 5=Muito Fácil e que indicou que a percentagem de respostas dos participantes foi, na sua maioria, nos itens “fácil” (36%) e “nem fácil nem difícil” (33%). 0 1 2 3 4 5 6 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 D ifi cu ld ad e v e r Lo n ge

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24

Ilustração 10 - Distribuição dos participantes segundo a percentagem de respostas à questão 2 - “Classifique a sua dificuldade, se a tiver, a ler as notícias em jornais, revistas, menus de restaurantes ou números de telefone

4.2.1. Correlação entre acuidade visual e as dificuldades reportadas

Analisando a ilustração 11 e relativamente à correlação entre acuidade visual ao perto e as dificuldades reportadas, verificou-se que existia uma correlação de Pearson negativa fraca entre as variáveis, sendo r=-0.239, e p=0.049, o que indicou que a dificuldade que os participantes referem sentir ao ver ao perto era mínima, mesmo quando se verificou com as medições objetivas que existe já um número elevado de participantes com acuidade visual cujos valores são altos.

1 23 33 36 7 Impossível Difícil

Nem fácil nem difícil Fácil

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Ilustração 11 - Correlação entre acuidade visual ao perto e dificuldades reportadas

4.3. Quedas ou colisões referentes aos últimos 12 meses

4.3.1. Número médio de quedas reportadas

A ilustração 12, relaciona-se com a mobilidade, dando resposta à questão 3 - “Quantas vezes caiu ou embateu em objetos nos últimos 12 meses” cuja categorização considerou os seguintes valores 1=nenhuma, 2=uma, 3=duas, 4=três, 5=quatro ou mais. Os resultados indicaram que a maioria dos participantes referiu ter caído nos últimos 12 meses, 1 vez (33%) a 2 vezes (16%), 6% dos participantes referiram ter caído três vezes e 4% dos participantes referiram ter caído quatro ou mais vezes. De realçar que 41% dos participantes referiram não ter dado nenhuma queda nem embatido em objetos nos últimos 12 meses. 0 1 2 3 4 5 6 0 0,5 1 1,5 D ifi cu ld ad e v e r Pe rto

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Ilustração 12 - Distribuição dos inquiridos segundo a percentagem de respostas à questão 3 - “Quantas vezes caiu ou embateu em objetos nos últimos 12 meses

4.3.2. Correlação entre o número de quedas e a acuidade visual de longe

Na análise da ilustração 13, encontram-se os resultados obtidos para a correlação entre o número de quedas e a acuidade visual ao longe que indicaram uma tendência fraca entre ambas as variáveis, não existindo correlação linear (r=0.02, e p=0.86).

41 33 16 6 4 0 5 10 15 20 25 30 35 40 45

Nenhuma Uma Duas Três Quatro ou mais Per ce n tagem d e p ar tici p an te s

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Ilustração 13 - Correlação entre a acuidade visual ao longe e o número de quedas/colisões nos últimos 12 meses

4.4. Sensibilidade visual ao contraste

Na ilustração 14, apresentam-se os resultados obtidos para a sensibilidade ao contraste, que indicaram que 51% dos participantes apresentaram uma sensibilidade visual ao contraste com valores entre 1.5 a 1.8 logCS, 33% dos participantes apresentaram valores compreendidos entre 1.2 a 1.5 logCS, 8% dos participantes apresentaram valores entre 0.9 a 1.2 logCS, 4% dos participantes apresentaram valores entre 0.6 a 0.9 logCS, 3% dos participantes apresentaram valores compreendidos entre 0 a 0.3 logCS e apenas 1% dos participantes apresentou valores entre 0.3 a 0.6 logCS.

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 0 1 2 3 4 5 6 A cu id ad e Vis u al ao lon ge ( lo gM A R )

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Ilustração 14 - Distribuição dos participantes segundo a sensibilidade visual ao contraste

4.4.1. Correlação entre a sensibilidade visual ao contraste e o número de quedas Analisando a ilustração 15, verificou-se que existia uma tendência negativa fraca entre a sensibilidade ao contraste e o número de quedas, não existindo correlação já que o número de quedas reportadas pelos participantes não foram de encontro à sensibilidade ao contraste medida (r=-0.01 e p=0.91).

Ilustração 15 - Correlação entre a sensibilidade visual ao contraste e o número de quedas/colisões nos últimos 12 meses

3 1 4 8 33 51 0 10 20 30 40 50 60 0 a 0.3 0.3 a 0.6 0.6 a 0.9 0.9 a 1.2 1.2 a 1.5 1.5 a 1.8 Per ce n tagem d e p ar tici p an te s

Sensibilidade Visual ao Contaste

0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6 1,8 2 0 1 2 3 4 5 6 Se n si b ili d ad e v isu al ao c o n tr aste (l o gCS)

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4.4.2. Correlação entre a sensibilidade visual ao contraste e a acuidade de longe Considerando a análise da ilustração 16, verificou-se que existia correlação de Pearson negativa moderada entre a sensibilidade ao contraste e a acuidade visual de longe, já que r=-0.62, para uma significância estatística alta de p=0.00, o que quer dizer que quem apresenta melhor acuidade visual (menores valores logMAR) tem melhor sensibilidade ao contraste.

Ilustração 16 - Correlação entre a sensibilidade visual ao contraste e a acuidade visual ao longe

4.4.3. Correlação entre a sensibilidade visual ao contraste e a acuidade visual de perto

Analisando a ilustração 17, verificou-se que existia uma correlação de Pearson negativa moderada entre a sensibilidade ao contraste e a acuidade visual ao perto, já que r=-0.51, estatisticamente significativa pois p=0.00, o que significa que quem possui valores de acuidade visual mais altos apresenta uma sensibilidade ao contraste com resultados mais altos. 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6 1,8 2 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 Se n si lid ad e Vi su al ao C o n tr aste (l o gCS)

(40)

30

Ilustração 17 - Correlação entre a sensibilidade visual ao contraste e a acuidade visual ao perto

4.5. Dados sobre cataratas

Analisando a ilustração 18, relativamente à questão 4 – “ALGUMA VEZ lhe foi dito pelo seu médico dos olhos ou outro doutor que no PRESENTE momento tem cataratas?”, verificou-se que apenas 14% dos participantes referiram possuir cataratas, embora 40% referiram já ter tido e terem sido operados. De facto, os valores a realçar prendem-se com a resposta não, um 46% dos participantes a referirem não sofrer esta doença ocular. 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 1,6 1,8 2 0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4 Se n si b ili d ad e Vi sau la ao C o n tr aste (l o gCS)

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Ilustração 18 - Distribuição dos participantes segundo a percentagem de respostas à questão 4 – “ALGUMA VEZ lhe foi dito pelo seu médico dos olhos ou outro doutor que no PRESENTE momento tem cataratas?”

Os dados apresentados na questão relacionada com as cataratas vão de encontro às respostas obtidas nas questões 5, 6 e 7, com 100% de participantes a referirem que não sofrem qualquer uma das patologias descritas, a saber, glaucoma, degeneração macular relacionada com a idade e diabetes nos olhos ou retinopatia diabética, pelo que não foi apresentado ilustração descritivo dos resultados.

4.6. Acesso a cuidados visuais e razões para não os procurar

Na ilustração 19, relacionada com a questão 8 – “Quando foi a ultima vez que fez uma consulta aos olhos?”, verificou-se, que 57% dos participantes referiram não fazer uma consulta há mais de 24 meses, 11% dos participantes indicaram não consultar o oftalmologista entre 1 mês e 12 meses, 10% dos participantes referiram não o fazer entre 12 e 24 meses e 10% dos participantes referiram não se lembrar há quanto temo consultaram o médico da vista. Apenas 12 % dos participantes referiram ter ido a uma consulta há menos de um mês.

14

40

46 Sim

Sim, mas já fui operado/a Não

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32

Ilustração 19 - Distribuição dos participantes segundo a percentagem de respostas à questão 8 - “Quando foi a ultima vez que fez uma consulta aos olhos?”

Na ilustração 20 encontram-se os resultados das respostas à questão 9 – “ Quando foi a ultima vez que fez uma consulta aos olhos com dilatação pupilar?” em que 73% dos participantes referiram nunca ou não se lembrar, sendo de realçar que 12% dos participantes referiram ter sido há mais de 24 meses, 8% dos participantes referiram ter sido entre 1 mês e 12 meses e apenas 7% dos participantes referiram ter sido entre 12 meses e 24 meses. 12 11 10 57 10 Há menos de 1mês Entre 1 mês e 12 meses Entre 12 meses e 24 meses Há mais de 24 meses Nunca/Não me lembro

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Ilustração 20 - Distribuição dos participantes segundo a percentagem de respostas à questão 9 – “ Quando foi a ultima vez que fez uma consulta aos olhos com dilatação pupilar?”

A ilustração 21 apresenta os resultados à questão 10 – “Se não fez consulta aos olhos nos últimos 12 meses, indique a principal razão:” onde se verificou que 49% dos participantes referiram não ter razões para ir à consulta, 22% dos participantes referiram que as consultas são muito longe ou estão limitados nas deslocações, 16% dos participantes referiram o preço da consulta, 10% dos participantes referiram não ter pensado nesse assunto e apenas 3% referiram outra razão.

8 7 12 73 Há menos de 1mês Entre 1 mês e 12 meses Entre 12 meses e 24 meses Há mais de 24 meses Nunca/Não me lembro

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Ilustração 21 - Distribuição dos participantes segundo a percentagem de respostas à questão 10 – “Se não fez consulta aos olhos nos últimos 12 meses, indique a principal razão:” 16 22 49 10 3 Preço da consulta

Não tenho doutor do olhos As consultas são muito longe e não me posso deslocar Não tenho razões para procurar uma consulta Não pensei sobre esse assunto

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5. DISCUSSÃO

Os resultados deste estudo mostraram que que o sexo predominante foi o sexo feminino e no que diz respeito às idades, verificou-se que os participantes têm uma média de idades de 83,84 anos, sendo o nível de escolaridade, maioritariamente, a frequência do 1º Ciclo do Ensino Básico.

Os resultados à questão sobre a visão de longe indicam que a autoperceção dos participantes acerca do estado da sua visão de longe é boa, pois consideram ser fácil reconhecer a cara de uma pessoa conhecida do outro lado na rua ou na televisão. Estes resultados parecem contrariar o que referem a maioria dos estudos, uma vez que está cientificamente provado que à medida que a população envelhece, a acuidade visual altera-se quer pelo envelhecimento das estruturas visuais quer pela comorbilidade com outras patologias, sendo mais prevalente em idosos institucionalizados (Dev et al,2012; Evans et al, 2009). Realça-se que o facto de os participantes referirem ver bem, pode não ser sinónimo de uma acuidade visual alta ou baixa, uma vez que as caraterísticas visuais e os contextos em que as pessoas se inserem, diferem de indivíduo para indivíduo.

Quando analisada a correlação entre a autoperceção dos participantes com os resultados das medições reais para a acuidade visual ao perto e ao longe verifica-se que os valores de percepção de aproximadamente metade dos participantes, difere dos resultados das medições reais em escala LogMar. Pese embora estas diferenças, os valores de acuidade visual medida indicam que aproximadamente metade dos participantes do estudo possuem valores baixos de acuidade visual, embora no outro oposto se encontre também metade dos participantes, que traduzem uma acuidade visual com valores altos, valores que se aproximam dos obtidos pelos participantes do estudo de Carsenac et al (2009) quando referem que mesmo com idades avançadas, os valores da acuidade visual são bons, sendo a maioria das condições oculares tratáveis (Carcenac et al, 2009).

A acuidade visual ao longe para o melhor e pior olho, traduz-se numa maioria de participantes que apresenta resultados mais baixos no melhor olho embora, a amostra esteja equilibrada nos resultados para o pior olho. Estes resultados reforçam o que indica a Organização Mundial de Saúde (2012), quando refere que a dificuldade de ver, embora possa ser diferente em cada olho, promove, particularmente nas pessoas idosas,

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36

uma alteração na capacidade de realizar autonomamente, atividades básicas do dia-a-dia já que esta diferença poderá ser promotora de alterações no equilíbrio, na orientação espacial e inclusivamente de mobilidade. Neste estudo a correlação de Pearson entre a acuidade visual ao longe e a percepção dos participantes sobre a sua visão, demonstra que a autoperceção dos participantes sobre as dificuldades da visão ao longe foi confirmada pela acuidade visual medida.

Quando se analisam os resultados relativos à autoperceção da qualidade da visão dos participantes e a medida objetiva, deparamo-nos com uma autoperceção dos participantes sobre a visão ao perto, com respostas muito aproximadas às da visão ao longe, já que bastantes participantes referem ser fácil ler as notícias em jornais e apenas um valor baixo refere ser impossível. Os participantes referem também que a sua visão não foi afetada pelo processo de envelhecimento, pese embora as idades sejam bastante elevadas, mas referem que já tiveram quedas ou colidiram com objetos ao longo do último ano, facto que parece contrariar a qualidade visual que referem possuir.

Na correlação entre acuidade visual ao perto e a autopercepção dos participantes relativamente à sua visão, verificam-se resultados similares aos da acuidade visual ao longe, isto é, a acuidade visual vai de encontro às dificuldades reportadas, as pessoas que reportam mais dificuldade têm pior acuidade visual.

Relativamente à correlação entre o número de quedas e a acuidade visual de longe verificou-se que existe uma tendência fraca entre as variáveis, não existindo correlação entre a acuidade visual ao longe e o número de quedas dos participantes institucionalizados. Os resultados apontados vão de encontro ao estudo de Wang et al (2012) que indica que uma acuidade visual diminuída pode provavelmente, ser um fator de risco para o aumento das quedas e os seus efeitos diretos, para além de promover insegurança na realização de atividades e aumentar o medo de cair (Wang et al, 2012). No entanto Harwood (2001) contraria os resultados obtidos com a presente amostra, pois refere que o risco de cair aumenta na mesma proporção que a qualidade da visão diminui, existindo uma relação causal, tendo em conta que a visão contribui para aproximadamente um quarto de todas as quedas (Harwood, 2001).

No que diz respeito à análise da sensibilidade ao contraste, verificou-se que os participantes possuem valores altos que se traduzem numa boa sensibilidade ao contraste.Quando correlacionada a sensibilidade ao contraste com o número de quedas

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reportadas pelos participantes verificou-se que existe uma tendência negativa fraca, pelo que se valida a hipótese nula, ou seja, não existe correlação entre a sensibilidade ao contraste e o número de quedas dos participantes. Esta análise foi feita porque a diminuição da sensibilidade ao contraste é um fator de risco para o aumento das quedas (Harwood, 2001). Uma explicação para no nosso estudo não existir correlação significativa entre o número de quedas e a sensibilidade visual ao contraste, é o facto de não conseguirmos controlar outros fatores de saúde do individuo que possam influenciar a existência de quedas e colisões.

Já no que diz respeito aos resultados obtidos para a correlação entre a sensibilidade ao contraste e a acuidade ao longe verifica-se que existe uma correlação negativa moderada entre as variáveis, acontecendo o mesmo quando correlacionadas a sensibilidade ao contraste e a acuidade visual ao perto, pelo que se valida a hipótese dois, ou seja, existe relação entre a acuidade visual ao perto e a sensibilidade ao contraste, o que implica que quem possui valores de acuidade visual mais baixos (logMAR menor) apresenta uma sensibilidade ao contraste com resultados mais altos (logCS maior). Estes resultados permitem ainda inferir que no caso dos participantes, tendo em conta a sua idade, será de todo pertinente que se façam as duas medições para resultados mais coerentes, devendo incluir a medição da sensibilidade ao contraste para entender as dificuldades de leitura das pessoas idosas.

Relativamente aos resultados obtidos sobre as doenças oculares verificou-se que a maioria dos participantes referem não possuir cataratas ou já terem sido operados a esta patologia e quando questionados sobre outros tipos de doenças oculares, todos indicam que não possuem glaucoma, degeneração macular relacionada com a idade e diabetes nos olhos, o que poderá ser indicador da necessidade de prestação de cuidados visuais mais regulares.

Já no que diz respeito aos cuidados visuais os resultados apontam para uma maioria de participantes a referir que não vão a uma consulta há mais de 24 meses e quando questionados sobre a frequência da consulta com dilatação pupilar, 73% dos idosos referem nunca terem tido ou não se lembrar. Os resultados vão de encontro ao que refere a Direção-Geral de Saúde (2012) quando aconselha as instituições de apoio aos idosos para o acompanhamento da saúde visual dos idosos, de forma a prevenir

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possíveis quedas ou acidentes que, em Portugal, continuam a ser uma das causas principais de morte nos idosos (DGS, 2012; Marques Sibila et al, 2012)

Da mesma forma quando questionados os participantes sobre a razão para não procurar cuidados visuais, a maioria refere não ter razões para se deslocar à consulta. Os resultados obtidos vão de encontro ao que Lança et al (2011) referem no seu estudo, quando identificam que em muitos países industrializados, assim como em Portugal, os idosos institucionalizados não são seguidos com regularidade em consultas de visão o que pode constituir um risco acrescido para a sua saúde (Lança et al, 2011). O Plano Nacional de Saúde 2012-2016 (DGS, 2012) deveria incluir as instituições de apoio aos idosos no sentido de também estas estruturas poderem acompanhar a saúde visual dos seus utentes, diminuindo o risco de quedas e promovendo a realização de atividades básicas de vida diária, para a manutenção da qualidade de vida.

Imagem

Ilustração 1 – Seção horizontal do olho humano direito  Fonte: Macedo, A.F.T. (2004)
Ilustração 2 – Categorização da visão segundo a OMS  Fonte: Adaptado de CIDID, OMS, SNR (1989, p
Ilustração 3 - Distribuição dos participantes segundo o género 30
Ilustração 4 – Distribuição dos participantes segundo a última atualização de óculos
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Referências

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