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In: Revista de Antropologia, Universidade de Sao Paulo, Vol. 38, no.1, 1995, p. 169-

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In:

Revista de Antropologia,

Universidade

de Sao Paulo,

Vol. 38, no.

1

,

1995,

p.

169-189.

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as Lideres Religiosas do

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RESUMO: A religiao epercebida nao raramente como uma instituic;:ao

conservadora. Porem, neste artigo, tenta-se'mostrar que ela tambem pode

ter urn potencial transformador espetacular, ao menos como catalisador de transformac;:6es. Toma-se 0 caso de duas fundadoras religiosas do Japao, Miki Nakayama (1798-1887) eNao Deguchi (1836-1918), para

discutir tres nfveis da experiencia religiosa: (I) 0nfvel da reintegrac;:ao

da personalidade da pessoa envolvida, (II) a mudanc;:ade status social dessa pessoa e (III) apossibilidade dessa pessoa "transformada" inte r-ferir e/ou alterar 0sistema sociocultural. Mais do que a mudanc;:a em si, o que importa aqui ea possibilidade ouapotencialidade de mudanc;:aoca

-sionada pelos estados especiais de consciencia (transe, vis6es onfricas,

(2)

Neste artigo1 tratarei da vida de Miki Nakayama (1798-1887) ede Nao

Deguchi (1836-1918), duas mulheres japonesas que, depois de pas-sarem por uma experiencia de"possessao" par espiritos divinos, f un-daram gropos religiosos (respectivamente, Ten r i k y 8 e Oomoto)2 no final doseculo passado. Assim como Miki ~Nao, inumeras mulheres fundaram religi6es no Japao. A escolha perocaso dessas duas mulhe-res se deu por elas terem vivido num mesmo contexto historico (final do feudalismo e inicio da moderniza~ao no Japao com a ascensao do imperador Meiji) e por apresentarem urn padrao de experiencia reli-giosa similar ao que veremos a seguir.

Tomando as vidas de Miki e Nao, eenfatizada a experiencia que elas tiveram de "possessao divina" para discutir a possibilidade de inova-~ao da cultura pelo indivfduo, particularmente quando este indivfduo esta num "estado especial de consciencia" (transe, vis6es oniricas, a lu-cina~6es, etc.). A (re-)cria~ao e/ou introdu~ao do "novo", como sera

dito,nao implica necessariamente aerradica~ao do "velho". Ainda e

preciso salientar que "inova~ao" nao e urn processo que sai do nada, maspossui urn referencial no espa~o eno tempo; digamos assim, eurn processo com matriz historica e sociocultural.

Ao fazer uso de "historias de vida" neste artigo, pretendo ir a1em do individual e explorar a rela~ao entre 0 individuo e 0 sistema

sociocultural. Por fim, e meu intento lan~ar alguma luz na questao: como eque aexperiencia religiosa de pessoas "possuidas", xamas

ou fundadores pode contribuir nao somente para a integra~ao de suas personalidades, como tambem para a inova<;ao do sistema sociocultural?

Tanto Miki Nakayama quanta Nao Deguchi nasceram durante 0

perfo-do Tokugawa (1600-1868) em areas rurais daregiao de Kansai: Miki,

pecto de Nara; e Nao, pecto de Quioto.

Quando Miki nasceu, em 1798, sua familia (Maegawa), embora originalmente plebeia, ainda possuia 0 titulo de m u s o k u n i n (samurai nao remunerado e sem urn feudo). Com esse titulo, os Maegawa po-diam portar espada e ter urn nome e insignia dafamilia. Miki teve as primeiras aulas de escrita e leitura com seu pai e chegou a frequentar uma escola-templo da vizinhan~a. Embora alimentasse 0desejo de se

tornar uma monja budista, ela teve de se casar com urn primo, aos treze anos de idade. A maioria dos biografos de Miki a des creve como uma exemplar mulher feudal, dando 0maximo para preencher 0papel de esposa. Por ocasiao do nascimento de sua filha ca<;ula,Miki parece ter perdido 0 equilibrio psiquico e come~ou a sofrer desmaios e sentir \ \

"como se seu corpo estivesse sendo sacudido". Mas 0fato que foi mais "'

-determinante na vida dela foram as dor,essubitas e insuportaveis que seu filho maisvelho, Shfiji, come~ou asentir naperna esquerda.Mesmo apos urn ana de tratamento medico ede sess6es de exorcismo, a dor desaparecia e retornava damesma rnisteriosa forma. Durante urn desses

rituais exorcizantes para curar 0filho, Miki atuou como medium efoi possuida por uma divindade que dizia querer tomar 0corpo dela como oseu "sacrario". Depois dessa possessao inicial, Miki ficou em reclusao por volta de tres anos, vestindo roup aspretas. Nesse perfodo de auto-isolamento, houve uma mudan~a radical em sua vida. Apos a morte de seu marido, ela contou com a ajuda de seu filho Shfiji e, acima de

tudo, do carpinteiro Iburi Iz6 (1833-1907) naorganiza~ao de urn culto

(3)

A famflia de N ao (Kirimura) mantinha atradi9ao de produzir bons carpinteiros a servi90 da nobreza, 0 que the conferia certos privilegios.

Porem, na epoca do nascimento de Nao (1836), os Kirimura eram

ex-tremamentepobres. Seu pai morreu quando elatinha apenas nove anos,

levando-a assim atrabalhar como domestica. Nao gostava de urn ra -paz quemorava num vilarejo vizinho, mas foi pressionada aassumir a

casadeuma recem-falecida tia materna ease casar aos dezenove anos

com urn carpinteiro. Nos primeiros anbs de vida conjugal, Nao teve

urn pouco deestabilidade, mas sua famnia foi aospoucos entrando em bancarrota. Seu marido era aprincipal causa disso: alem de a1c06Iatra,

elesofreu urnacidente no trabalho eficou imobilizado numa cama por tres anos, ate a sua morte. Em conseqiiencia disso, Nao teve de ve n-der bolinhos de arroz ecoletar trapos epapeis. Em meio atodas essas

dificuldades e infelicidades, elacomec;ouareceber "mensagens" div i-nas,primeiro na forma desonhos e, depois, diretamente por possessao pela divindade U s h i tora- no- Kon j i n. Tentando desvelar a natureza

dessa possessao inicial, Nao consultou urn monge budista, urn leitor da sorte atraves de urn abaco e chegou ate avisitar as seitas T en r i ky o eKon k o ky o (fundada por Bunjiro Kawate, 1797-1887). Ela se tornou temporariamente adepta de Kon koky o , mas foi capaz de instituir urn culto independente com a ajuda de Kisaburo Ueda (que passou a ser

chamado de Onisaburo Deguehi), com quem sua filha mais nova e sucessora secasou. Diz-se que Nao eraanalfabeta, mas sob as "ordens"

da divindade possessora ela esereveu 0O f u de s ak i ("A ponta do pin

-eel"), urn dos livros sagrados da Oom o to , e manifestou poderes s o-brenaturais.

"Possessao por espfrito"3eurn termo amplamente empregado para de

-signar aexperiencia sociocultural interpretada como apresen9a de urn

ser oufor9a sobrenatural nocorpo e/ou mente deurn indivfduo. A eren-c;a na possessao eurn fenomeno muito difundido mundialmente e sua

forma, diagnose e tratamento varia enormemente. Aentidade posses

-sora pode ser uma divindade, espfrito de urn morto, fantasma, espfri

-to animal ou outro ser sobrenatural. A possessao pode seruma eoisa temida ou desejada; pode ocorrer "voluntariamente" ou nao;pode ser

controlada ou nao; pode incluir 0 transe ou nao. 0 escopo do trat

a-mento pode ser 0de expulsar 0espfrito possessor ou a criac;ao de uma

"relac;ao simbi6tica com 0espfrito".

A erenc;a napossessao por espfrito e antiqiifssima noJapao e pe rdu-ra ate os dias de hoje. As entidades possessoras podem ser espfritos di

-vinos, espfritos dos mortos (on r yo, ou"espfrito zangado"; ga k i , ou "es-pfrito faminto"; muen - b o toke , ou "Budas ou espfritos sem afiliac;ao",

etc.), espfritos de animais (raposas, serpentes, eachorros, gatos,etc.)ou espfritos de entidades espirituais, como 0tengu , descrito como tendo,<\. metade do corpo de urn ser humano e a outra metade de urn falcao.,

Muitas foram as explieac;5es para 0caso deMiki eNao: loueura, pos~ sessao por urn espfrito de animal ( t s u,k imo no ) ou da criatura s obrenatu-ralt e ngu . No entanto, nem Miki nem Nao aceitaram ainterpretac;ao de "possessao por urn espfrito maligno" e ambas sustentaram igualmente

que nos seus casos tratava-se de "possess5es divinas" ( ka mig akar i). Assim, elas nao foram exorcizadas, masdesenvolveram relac;5 essimbi6-ticas com suas respectivas divindades. Elas tinham a possibilidade de se -guir a "via xamanica", isto e,elas podiam tornar -se xamas tradieionais

(medium, adivinhador, curandeiro, etc.) ou lfderes de cultos populares

(locais) de novas divindades, como erabastante eomum no final do se -culo passado. Mas nao foram essas as trajet6rias delas, visto que elas

ultrapassaram 0 papel limitado dos xamas tradicionais japoneses e se

tornaram fundadoras (k y o so) de grupos religiosos proeminentes.

(4)

A primeira coisa que chama a atenyao na biografia dessas duas mu-lheres e a sequencia de acontecimentos dramaticos, que culmina com a guinada radical da experiencia possessional. Isso nos faz relembrar a enfase dada por alguns autores ao papel dos acontecimentos dolo-rosos e dramaticos no desencadeamento de experiencias religiosas. Paracitar apenas alguns exemplos, Lewis (1977) sugere que uma mu-lher feliz no casamento e menos suscetfvel de passar por uma experi-encia religiosa ou se voltar para cultos pbssessionais do que sua irma, cuja vida matrimonial esta cheia de dificuldades. Para Obeyesekere (1981), conflitos intrapsiquicos, especial mente "experiencias emocio-nais dolorosas", sao a fonte desencadeadora da recriayao dos s i m b o -los (culturais). Wilson (1985:249), citando Youngsook K. Harvey, nota que "espiritos procurando por humanos para possui-Ios sao atraidos pelos individuos cujom a u m (cora<;ao/alma) foi fraturado por experien-cias de explora<;ao e tragedia".

E experiencias dolorosas e dramaticas foram 0 que nao faltou nas vidas de Nao e Miki. Nao Deguchi ficou 6rfa aos nove anos de idade e teve de se casar com urn alc06latra por quem nao alimentava ne-nhuma paixao. Tres de seus onze filhos morreram logo ap6s 0 parto; o filho mais velho tentou suicidio; outro morreu em Taiwan, durante a guerra sino-japonesa; uma de suas filhas foi possuida por urn espiri-to; e outra sofreu urn colapso nervoso. Com a invalidez de seu mari-do,Nao teve de arcar com a responsabilidade de cuidar do marido e dos filhos. Afundada num estado de pobreza extrema, ela sobrevivia com a coleta de trapos e papeis e, esporadicamente, com tecelagem. Miki Nakayama foi levada a desistir de seu desejo de se tomar uma monja budista para entrar num casamento arranjado. Seu marido era o chefe nominal da familia Nakayama, mas era ela quem de fato to-mava conta dos interesses da familia. Alem disso, seu marido trouxe-lhe ainda mais sofrimentos, man tendo rel;i<;aocom uma amante. Por fim, ha a dor na perna de seu filho mais velho, 0 unico homem e virtual

herdeiro dos Nakayama. No contexto de eventos tragicos e doloro-sos, ambas as mulheres foram repentinamente "possuidas" por divin-dades: Miki, em 1838, e Nao, em 1892.

Depois da possessao inicial, Miki e Nao passaram por urn periodo de aliena<;ao psiquica, no qual elas ficaram apartadas de seus "egos" e de seus respectivos grupos sociais. Miki esteve em rec1usao por quase tres anos, ficando ausente do trabalho domestico e ignorando seu marido e filhos. Ap6s a primeira possessao, diz-se que Nao ficou duas semanas sem comer e mais de dois meses sem dormir.

Dez anos 'lp6s a possessao "reveladora", Miki Nakayama come<;ou a dar aulas de costura para as garotas da vila. Era urn passo para abo-1ir a "experiencia de auto-aliena<;ao". Depois da morte de seu marido, Miki manifestou poderes supranaturais, curando os doentes e garan-tindo partos ~eguros e sem dor as gestantes. Nao Deguchi continuou a ser "possuida" intermitentemente e comeyou a profetizar e curar,,

Paralelamente a "reintegra<;ao" de suas personalidades, elas pr6prias;.:

foram reintegradas a seus respectivos meios sociais. Tanto a situa<;ao"

psiquica quanta a social delas melhoraram: de uma viuva miserave1, N ao se tomou uma lider religiosa carismatica; e Miki, alem de se tornar uma fundadora, passou a ser 0 centro absoluto da familia Nakayama.

Miki e Nao, assim como outros candidatos a xama, tiveram de pro-var a verdade de suas alega<;5es, para romper com 0 ceticismo do grupo social, bem como superar a "experiencia de auto-aliena<;ao".Isso significa que somente a manipulayao do "idioma possessional" nao era uma garantia para que atingissem 0 status de "fundador". Foi preciso reiterar a "inicia<;ao" por meio de outras possess5es, como tambem fazer 0 usa de poderes sobrenaturais para mostrar visivelmente a ver-dade de suas palavras.

(5)

B o d h i s a t t v a s . No entanto, elas se distinguiarn dosK 8 tradicionais, urna

vez que nao se ligavam a nenhurn centro religioso tradicional ou a

al-.guma rede de organiza<;5es deK 8, alem de nao cultuarern divindades

tradicionais. Embora suas divindades tivessern origem na tradi<;ao

religiosa sino-japonesa, elas apresentaram uma nova "versao" dessas

divindades e enfatizaram 0canlter particular das mesmas. Estas eram

concebidas como divindades patemais que desejavam estar pr6ximas

da humanidade para reconstruir 0mundo e "varrer 0mal". Por outro

lado, os movimentos dessas duas mulheres nao se organizaram de

maneira tao complexa estrutural ou teologicamente quanta as religi5es

estabelecidas (como 0budismo e 0xintoismo).

A partir da discussao acima, pode-se dizer que, no aspecto pessoal, a experiencia possessional foi importante para ambas as mulheres, ao li-darem com seus problemas intra e interpessoais. A rela<;aoespecial que tinham com suas divindades dava-Ihes livre acesso ao mundo espiritual; a vida pessoal delas, bem como suas situa<;5es sociais mudaram. Mas

alem dessas mudan<;as no "microcosmo", 0 caso delas apontava para

mudan<;asno "macrocosmo": elas foram capazes de manipular elemen-tos da cultura japonesa para criar seus pr6prios ensinamenelemen-tos, vis5es de mundo, mitologias e outros. Nesse sentido, pode-se dizer que a posses-sao como urn estado especial ou "alterado" de consciencia pode ser urn instrumento de inova<;ao ou modifica<;ao da cultura.

Ravia muitos tipos de cura e de adivinha<;ao no Japao, mas Miki

Nakayama inovou utilizando-se de urn objeto sagrado ( g o h e i ) e de urn

leque. Tendo como base as dan<;as folcl6ricas japonesas, ela criou sua

pr6pria dan<;asagrada, 0k a n r o d a i - z u t o m e. Ela ainda escreveu dezes-sete volumes de poemas de inspira<;ao divina em urn estilo tradicio-nal ( t a n k a ) . Miki preparava as gestantes para urn parto seguro e sem

dor, tocando-Ihes de leve e respirando tres vezes em seus ventres

( o b i y a - y u r u s h i ) . Aqui e interessante fazel' notar que no Japao feudal

a mulher era tida basicamente como urn instrurnento de gerar filhos e

perpetuar a familia como grupo corporativo (ie); alem do que, havia

urna no<;ao de "polui<;ao" ( k e g a r e ) associada

a

mulher e a tudo 0que

diz respeito

a

natureza feminina (menstrua<;ao, parto, etc.). Iniciando

suas atividades missionarias com 0o b i y a - y u r u s h i , Miki libera a no<;ao

de polui<;ao associada ao parto e imp5e urn senti do sagrado

a

pro-cria<;ao. Para ela e urn erro pensar que a mulher e poluida. "Romens e

mulheres nao tern a menor diferen<;a, ambos saD igualmente filhos de Deus", dizia ela (cf. Usui, 1987:7-8).

Nao Deguchi come<;ou a escrever repentina e mecanicamente pala-vras prof6ticas que chegaram a duzentas mil folhas (de papeljapones)

ao longo de 27 anos. Dizem que curou Bun'emon Nishimura orando

a

divindade U s h i t o r a - n o - K o n j i n enquanto mantinha a mao direita no abdomen e a mao esquerda nas costas do paciente.

Os mentor.es da Restatua<;ao Meiji (1868) se esfor<;aram para man-ter a politica antiga de unidade de culto e governo ( s a i s e i-i t c h i ) em·

tomo da pessoa do imperador. As bases ideo16gicas para 0"carisma~\\

da farrulia imperial erarn sua descendencia mito16gica da deusa do sol,.

A m a t e r a s u . Segundo essa narrativa mito16gica, os membros do cHi

Yamato que se tomavam imperadores eram os unicos e legitimos

govemadores do Japao. Nesse periodoem que a ideologia da

autori-dade divina do imperador estava em franca ascensao, Miki e Nao cria-ram suas pr6prias mitologias, distintas daquela do cla Yamato. Evi-dentemente a elite politica e militar encarava qualquer tentativa de criar novos mitos ou de modificar a antiga mitologia como uma amea<;ae

faziam tudo para reprimir tais tentativas. Por isso e que Miki foi

apri-sionada algumas vezes e 0 movimento de Nao foi violentamente

re-prirnido duas vezes (1921 e 1935) e s6 pode ser oficialmente reco-nhecido com a nova Constitui<;ao, depois da Segunda Guerra.

A T e n r i k y 8 , religiao de Miki, tern alguns aspectos messianicos e/ou

milenaristas, mas e a D o m o t o , religiao de Nao, que tern

(6)

"divin-dade da renova<;ao do mundo" ( y o n a o s h i - g a m i ) U s h i t o r a - n o - K o n j i n para preparar a humanidade para a vinda da "nova era". Essa

divinda-.de e original mente 0malevolo K o n j i n das cren<;as populares, mas, de acordo com a nova "versao" de Nao, essa divindade tornou-se vitima de divindades malevolas que0aprisionaram numa caverna tres mil anos

atras.Dessa maneira, as divindades malevolas tomaram conta do uni-verso, causando to do tipo de caos e disc6~dia no mundo atual. Porem,

as coisas mudarao quando 0deus original, U s h i t o r a - n o - K o n j i n , exer-cer seus poderes legitimos. Tal afirmayao era urn claro desafio a to-das asimplicay5es do mito que c o n s i d e r a A m a ter a s u 0ancestral divi-no da linha imperial, por isso era passivel de receber repressao. Nao inovou as narrativas mitol6gicas por meio de inversao (por exemplo, pondo em questao a superioridade d e A m a t e r a s u ) e dando sentido aos elementos invertidos com rela<;ao a sua mitologia milenarista.

Miki e Nao nao inovaram todos os aspectos da cultura ou da tradi-<;aoreligiosa japonesa, mas elas inovaram e revitalizaram parte dessas.

Evidentemente que, mesmo criando e inovando alguns dos elementos daculturajaponesa, elas reproduziram a tradi<;ao em muitos aspectos. Por exemplo, a organiza<;ao tanto da T e n r i k y 8 quanta da D o m o t o se-gue0modelo dasfamllias corporativas tradicionais (ie). Esses gropos

corporativos predominantes no perfodo feudal eram compostos de pessoas co-residentes (parentes ou nao), que compartilhavam a vida em todos os seus aspectos: social, economico, politico e religioso. Em-bora nao sendo 0unico padrao, a primogenitura era 0costume mais

frequente na sucessao a lideran<;a desses gropos.

A sucessao hereditaria ao cargo maximo ( s h i m b a s h i r a , ou "pilar verdadeiro") daT e n r i k y 8 ainda hoje se da por intermedio dos homens da familia Nakayama.4 Por outro lado, a norma de sucessao a lideran<;a

daD o m o t o foi estabelecida por Nao por meio das mulheres da familia Deguchi.5Isso precisa ser entendido a luz da nOyao inovadora que N ao

tinha de "genero". Ela questionava "a id6ia [de] que sexo e genero sac

necessariamente isom6rficos" (Hardacre, s. d.: 14). Afirmando que "as mulheres tern qualidades superiores de tolerancia e perseveran<;a",Nao p5e enfase na superioridade feminina: "Eu sou uma mulher, e porque eu [me] fortaleci por meio de sofrimentos em epocas passadas, eu posso fazer qualquer coisa" (citado em Hardacre, idem: 15). Ela acre-ditava que, embora possuindo urn corpo feminine, sua natureza era masculina. Como Hardacre ressalta: "Se genero pode ser mudado, tudo pode ser mudado" (idem:30). Daf 0 potencial inovador e ate mesmo

revolucionario de algumas ideias de N ao Deguchi. A rela<;ao com a divindade faz com que Nao (e Miki tambem) questione 0papel tradi-cional da mulher, isto e, a trfade filha-esposa-mae. A nova identidade mostra a radicalidade da experiencia religiosa: como "serva de deus" ela podia agir independentemente de seu sexo, ela podia ate mesmo prop or a lib~rayao de certas "amarras" sociais, como a discrimina<;ao e a estigmatiza<;ao das pessoas por sexo.

Aqui, fayo urn parentese para chamar a atenyao para 0fato de dua~I

mulheres fundarem religi5es no Japao no final do seculo passado. Ness~\

epoca, as japonesas eram aconselhadas a nao visitar tempI os ou san- .

tuarios antes dos quarenta anos; nos cultos as montanhas, as mulheres eram discriminadas porque se acreditava que 0sangue feminino era urn elemento poluidor. Mesmo assim,a presen<;ade mulheres nas chamadas "novas religi5es" no Japao e muito marcante: ha urn numero razoa-velmente grande de mulheres-fundadoras e, atualmente, as mulheres constituem de sessenta a setenta por cento do contingente de adeptos (Fujii, 1975:401; Nakamura, 1981:188).

No entanto,como pode acontecer que duas mulheres interioranas, donas de casa, fundassem movimentos religiosos bem-sucedidos no [mal do seculo passado, quando0Japao come<;avaa transi<;aodo feudalismo (caracterizado

pel a ideologia "machista" dos samurais) para a modernidade?

(7)

donas de casa feudais tornarem-se Ifderes religiosas: uma vertente pre-budista, que enfatiza uma alta valora~ao social e simb6lica da mulher,

enquanto outra mais recente enfatiza uma ideologia "machista". 0

perfodo pre-budista e famoso pel a presenc;a de imperadoras- xamas,

detentoras do poder politico e religioso.

E

nesse perfodo tambem que se encontra a origem do sfmbolo mitol6gico por excelencia do Japao, que e A m a ter a s u, deusa do sol e ancestral dafamflia imperial (e, por extensao, de toda a na~ao japonesa).

A cultura chinesa come~ou a influenciar 0 Japao pelo menos no comec;o da era crista, porem 0 apogeu dessa influencia no arquipela-go niponico se deu somente no perfodo Asuka (500-710). Urn dos marcos dessa corrente de importa~ao cultural-tecnol6gica da China foi a introduc;ao oficial do budismo, em 552, pelo reino de Paekche (suI da Coreia). Diz-se que, a partir da introdu~ao do budismo e de toda a etica chines a, foi-se tornando cada vez mais diffcil 0 apare-cimento das imperadoras-xamas. 0 zen-budisrno eo confucionismo, em particular, combinaram-se no Japao dando origem

a

norma de comportarnento de orientac;ao machista conhecida como b u s h i d a ("a via do guerreiro"). 0 confucionismo pregava que a mulher deveria obedecer ao pai na infancia, ao marido na maturidade e ao filho na velhice. Metaforicamente falando, a vertente que valoriza a mulher seria urni c e b e rg que eventualmente emerge da superffcie confucionista da "norma oficial" (isto e,da norma da elite).

Em segundo lugar, 0 movimento de ambas as mulheres se viabilizou devido

a

ajuda de co-fundadores muito eficientes: Miki foi ajudada por Iburi Izo (1833-1907) e Nao por Onisaburo Deguchi (1871-1948). Essa "diarquia", que nao e unica nessas duas novas religi6es japone-sas, reflete a visao de mundo delas, a qual punha homem e mulher em pe de igualdade e pregava a complementariedade das duas partes. Associo Iburi e Onisaburo nao

a

imagem do "marido (espiritual)", mas

a

do "irmao mfstico", imagem esta que tern muitos precedentes

sim-b6licos no repert6rio cultural japones. Por exemplo, a deusa mitol6-gica A m a t e r a s u e seu irmao S u s a n a ; a rainha Pimiko e seu irmao. A pr6pria mitologia da O o m o t o associa Onisaburo aS u s a n a .

Em terceiro lugar, 0 sucesso dos movimentos religiosos iniciados por Miki e Nao foram possfveis tambem por causa do clima de rnu-danc;a por que passava 0 Japao. Nao obstante a diferenc;a de idade,

Miki e Nao testemunharam as mudanc;as dramaticas na vida do pafs, que safa do regime feudal e entrava num nipido perfodo de moderni-zac;ao. Pode-se dizer que essas mudan~as radicais do pals e,em espe-cial, a atmosfera de "renovac;ao do mundo" entre as classes popula-res, foram urn fator fundamental nas inovac;6es delas e sobretudo no sucesso da aceitac;ao de tais atos inovadores. Como Barnett (1953:56) coloca,

A inova~ao floresce numa atmosfera de antecipa~ao a ela. Se os

mem-bras de uma sociedade esperam por aIguma coisa nova, ela esta mais

propensa de aparecer do que seela nao for prevista ou pressentida. A

freqiiencia de ocorrencia aumentara na propor~ao do numera de

indi-vfduos expectantes.

E

como ver fantasmas

a

meia-noite. Quanto maior

o numera de pessoas que esperam ve-Ios, mais freqiientemente eles serao

vistos.

Os dois casos vistos sao, por urn lado, exemplos tfpicos de "posses-sao por espfrito" e, por outro, "posses-sao citados como exemplos de con-tinuidade da tradic;ao xamanica j aponesa. Isso nao passa de urn refle-xo da antiga controversia academica sobre a distin~ao e a diferenciac;ao entre os dois fenomenos, 0 que foi refor~ado pel a dicotomia dos

(8)

tradi<;aoestrutural funcionalista britanica enfatizou 0uso do conceito

"possessao por espfrito", principal mente nos estudos africanos.

Tem-se tornado cada vez mais consensual a ideia de que toda con-cep<;aorfgida de xama e limitada e frustrante em estudos compara-tivos. 0celebre Mircea Eliade provavelmente excluiria Miki e Nao de sua categoria de xama, embora as experiencias religiosas delas apresentem 0mesmo padrao da cerim6nia tradicional de inicia<;ao,

na qual 0novi<;o passa simbolicamente por estagios de

sofrimento-morte-ressurrei<;ao. As duas mulheres deste texto passaram por expe-riencias dolorosas durante 0perfodo inicial de ataques possessionais.

Esse tipo de possessao reveladora levou-as a entrar num perfodo de aliena<;ao,que pode ser interpretado como uma morte simbolica. Ai, elas renasceram para uma nova vida: uma condi~ao sobre-humana e sagrada em que ambas receberam poderes misticos.

Freqtientemente se levantam duvidas sobre a saude mental de xa-mas, fundadores, ascetas e outros. Uma pessoa pode muito bem en-contrar algum tipo de desordem mental (esquizofrenia, megalomania, histeria, etc.) em uma pessoa que afirma ser deus (como 0fez Jesus Cristo) ou que fala com e em nome de deus (como Miki e N ao). Mas nao tentarei aqui determinar se as duas mulheres sao ou nao doentes mentais, e muito menos se existem ou nao espiritos, se e possivel ou nao a possessao por espfrito. A cren<;a na possessao e toda a colora-<;aocultural em torno dela eo que me interessa. Onde existe tal cren-<;a,as pessoas fazem em geral distin<;ao entre a loucura e a "verda-deira"possessao, e mais, tern termos diferentes para fazer tal distin<;ao.

Os casos vistos neste artigo sao exemplos de possessao "bem-su-cedida", uma vez que (I) as duas mulheres conseguiram sair do esta-do de "auto-aliena~ao" e isolamento social e (II) tiveram seus status sociais positivamente alterados. Se assim nao fosse, elas provavelmente teriam entrado num estado de loucura e af permanecido ou vivido no limiar loucuralnormalidade. Ou, ainda, elas teriam sido exorcizadas.

Nesse caso, Miki teria retornado

a

sua rotina de dona de casa piedosa dentro de uma famflia corporativa feudal, e Nao teria permanecido a viuva solitaria e miseravel.

o

contato com a divindade, porem, deu uma guinada de 180 graus na vida delas. 0 "aspecto social" da possessao (como eu chama os atos criativos e inovadores delas baseados na rela~ao com a divindade) nao se manifestou imediatamente depois da possessao inicial; elas nao se tornaram imediatamente fundadoras reconhecidas e legitimadas. Em termos sociologicos, esse e urn processo no qual os adeptos conferi-ram a elas qualidades extraordinarias, chamadas par Max Weber de "carisma" (isto e, elas eram vistas como tendo qualidades divinas e extraordinarias),

a

medida que se manifestaram poderes sobre-hu-manos, tais como curar doentes, profetizar, etc.

Essas dua~ mulheres tbrnaram-se fundadoras nao somente par causa de suas personalidades carismciticas e capacidade de lideran<;a,mas' tambem porque (I) elas tinham poderes sobrenaturais como 0de cur~ I

doentes; (II) elas tinham uma "mensagem relevante" inspirada por·

\

divindades muito particulares; e (III) elas manipulavam elementos publicos/culturais, especialmente elementos das religi6es populares ( m i n k a n s h u k y 8 ) , 0que significa que elas criaram novas doutrinas a partir das cren~as populares e as ensinaram de uma maneira compreen-sivel a seus adeptos.

(9)

como as categorias e representavoes culturais tern igualmente suas rafzesno contexto social. Mas osindivfduos nao devem servistoscomo entes passivos com relavao ao sistema sociocultural.

Portanto, cada pessoa manipula diariamente sfmbolos convencionais de uma maneira idiossincnitica, quer dizer, as convenvoes SaGrefeitas em e por intermedio de cada indivfduo. Por outro lado, as avoes das pessoas nao SaGacontecimentos aoacaso: a manipulavao, renovavao,

invenvao e validavao da cultura SaGmoldadas pel asconvenvoes cul-turais preexistentes. Quando digo que Nao e Miki "inovaram" parte da cultura japonesa, tenho em mente uma "via de mao dupla": indivf-duo interferindo na cultura esendo influenciado pela mesma. 0 "idioma possessional" manipulado por essas duas mulheres pertence ao reper-torio da culturajaponesa, porem elas 0manipularam de uma maneira

peculiar e original.

Contrastando com esse refazer diario da cultura, os chamados "es-tados alterados de consciencia" (visoes onfricas, concentravao,

exta-se,transe, etc.) SaGmodos especiais deconhecimento, bem como SaG meios de provocar mudanvas na realidade sociocultural. Pa rticular-mente no contexto de mudanva social, esses estados de consciencia SaG entendidos como "respostas adaptativas" as situavoes de ins tabilida-de. Lewis (1977) demonstrou a importancia da possessao de e spiri-tos em contextos de diferenvas sexuais e/ou sociais. Pressel (1973),

estudando a umbanda, enfatiza a importancia da possessao por e spf-rito para os indivfduos numa sociedade em desenvolvimento como 0 Brasil, que e marcado por grandes desigualdades sociais.

Como foi visto, a possessao foi urn mecanismo importante tambem para Miki Nakayama e Nao Deguchi. A experiencia possessional mudou avida delas radicalmente e se tornou fonte de legitimavao de seus movimentos religiosos. Em tais revelavoes religiosas, novos con-teudos SaGnormalmente introduzidos no repertorio religioso e cultu-ral. Em alguns casos podem surgir "movimentos revitalizadores"

reli-giosos ou seculares (movimentos nativistas, milenaristas, de reforma, "cargo cults", comunidades utopicas, revolu~oes, etc), para usar a

denomina~ao de Anthony Wallace.

Miki e Nao manipularam elementos culturais preexistentes (mitos,

dan~as, poemas, terapias, etc.) para criar seus proprios ensinamentos

e visoes de mundo. 0 ato inovador delas nao consistiu de uma erra -dicavao completa do "antigo" ou "tradicional", mas sim deuma ino

-va~ao de parte da "tradi~ao". Por fim, e preciso fazer notar que os

casos deMiki eNao iIustram bem 0fato de que os "estados especiais

de consciencia" podem ser modos radicais de conhecimento, bem como meios de interferir na realidade sociocultural.

Para concluir 0 texto, e conveniente mencionar a tendencia atual

dentro da antropologia que nao faz uma distin~ao tao radical entre 0

antropologo e0"informante" e, assim, nao subestima as capacidades

criativas dos "informantes" ou "nativos". Nao Deguchi e Miki Naka,

-yama tern virtualmente as mesmas capacidades ou potencialidades d~,

to do ser humano para inovar a cultura: elas tambem SaG"inventora~

de cuItura". Enquanto as duas usufrufram os "estados especiais de consciencia" para criar "novas" doutrinas religiosas, eu lanvo mao de instrumentos teoricos de uma "ciencia" chamada antropologia para completar uma tese ou urn artigo. Enquanto elas dependeram basic a-mente de referenciais religiosos e manipularam materiais culturais

preexistentes, eu fa~o uso de urn referencial "cientffico" (ao menos

como tentativa), ao manipular materiais publicados anteriormente.

Este texto se baseia numa comunica<;:ao apresentada no grupo de estudo

(Antropology/Sociology PhD. KenkyGkai) daInternational House of Japan,

T6quio, em 01111/89, sobre minha tese de mestrado (Pereira, 1989).Eu a

defendi naUniversidade de T6quio, Departamento deAntropologia

(10)

2 A Te n ri ky 8 ("Religiao da Sabedoria Divina" ou "Ensinamento da Verdade Divina") e a Oomoto ("A Grande Origem") sao classificadas pela maioria dos especialistas como s hin - shC t ky8 ("novas religi6es") ou s h i n k 8-shC t k y 8

("religi6es surgidas recentemente"). Esses sao termos japoneses utilizados para denominar os movimentos religiosos populares surgidos apartir do principiodo seculo passado ate osdiasdehoje. Essasduas religi6es saomuito importantes no cemirio religioso japones. Delas surgiram varias outras re -ligi6es: da Te nr i ky 8 , por exemplo, surgiu aHo n m i ch i (fundada por Aijiro Oonishi, 1881-1958); da O o m o t o, aS eich8- no- ie (fundada por Masaharu Taniguchi, 1893-1985), a S eka i K y C t seik y 8ou Igreja Messianica (fundada porMokichi Okada, 1882-1955) e outras. Ambas ingressaram no Brasil logo

no primeiro estagio daimigra\(ao japonesa, precisamente nadecada de 20.

A sededaTen r i k y 8 no Brasil se encontra emBauru (SP) e adaOomoto em Jandira (SP). Ha inumeros livros escritos sobre essas religi6es, tanto em japones como em lfnguas ocidentais. Parareferencia, citarei apenas Straelen,

1957; Ellwood Jr., 1982;Berthon, 1985; Ita, 1987.

BARNETI, H. G.

1953 In n o v a t i on : t he b as i s of cu lt ural ch ange, New YorkITorontolLondon, McGraw-Hill.

BERTHON, 1.-P.

1985 "Oomoto - Esperance millenariste d'une nouvelle religion japonaise",

C ah ier s d 'E tu des et de Do c ument s su r le s Rel igi o n s du Japon, Paris,

Atelier Alpha Bleue.

3 0termo "possessao" e empregado aquiem concordancia com sua utili za-\(ao tecnica dentro da antropologia, particularmente da escola britanica. Nao ha inten\(ao alguma de dar-Ihe urn sentido pejorativo e limitado do tipo "possessao diab6lica" ou "possessao maligna".

ELLWOOD JR., R. S.

1 9 8 2 Ten r ik y o : a p i l g r i m ag e f a i t h. T he st r uct u r e a n d m e a n i ngs o f a modem

j a p ane s e rel igi o n , Tenri, Nara, Oyasato Research Instituterrenri Univer -sity;

<,

FUJII, M. '\ ,

1975 "Gendai no Josei Kyoso" [As fundadoras das novas religi6es da epo~a contemporanea], in Ki n d a i n o Jo s e i G unz8 [Grupo demulheres da epo -ca moderna], Tokyo, Hyoron-sh'a, Kasahara editor.

4 0 unico filho homem e mais velho de Miki, ShOji, parece nao ter com-preendido a profundeza dos ensinamentos einten\(6es de Miki. Portanto,

apessoa que seria sua sucessora natural era suafilha mais jovem, Kokan,

que a acompanhava e era tratada pelos adeptos de W a i k a i K a m i s a m a ,

"Veneravel DeusaJovem". Miki e Kokan usavam roupas vermelhas como

simbolo da presen\(a divina dentro delas. No entanto, Kokan se tornou a segunda mulher do marido de Oharu, sua pr6pria irma que tinha falec i-do. Por fim,0neto deMiki, Shinnosuke, tornou-se 0primeiro shim b a sh i ra da Tenr i ky 8, ap6s a morte da fundadora.

G end er a n d t he mi l le nium in O m oto k y o d a n: A moder n Ja p ane s e reli gio n.

Texto nao publicado.

ITO, E.

1987 Oo m oto - A vi d a de Na o e O nis ab u ro De guch i. Tradu\(ao de SILVA,

Benedicto, Sao Paulo, Verso/Associa\(ao Religiosa Oomoto do Brasil.

5 Em outras novas religi6es japonesas, tambem ha a sucessao pela linha fe-minina. Sayo Kitamura (1900-1967), fundadora da Ten s hO K8 t ai J in gC t k y8

("Religiao do Grande Santwirio da Divindade Tensho"), por exemplo, es -colheu sua netapara sucede-Ia. 0 que e freqilente, no en tanto, e essa lide -ran\(a feminina se desvanecer e se tomar uma lideran\(a apenas nominal.

LEWIS, I. M.

1 9 7 7 E x t a s e rel igi o s o : u m es t u do a ntr opol6 gico d a p o s s e s si i o por e sp[ ri to e

d o x am a n i s m o. Tradu\(ao de MADURElRA, 1.R. S.(do original ingles

(11)

OBEYESEKERE, G.

1 9 8 1 Med u s a's h a i r: a n es s ay o n p e rso n a l s y m b o l s a n d r e l igi o u s ex per i e nce ,

ChicagolLondon, The University of Chicago Press, xiii-217.

ABSTRACT: It's usual to consider religion as a conservative institution.

Nonetheless, this article shows that it may also have a great transforming

potential. The history of two Japanese religious founders, Miki Nakayama

(1789 - 1887) and Nao Deguchi (1836 - 1918) is taken to discuss three

levels of religious experience: (I) the person's personality reintegration

·level, (II) the person's social status change, and (III) this "transformed"

person's chance of interfering or changing the sociocultural system. More

than the change itself, what really matters here is the possibility of change

created by special states of consciousness (possession, oneiric visions,

hallucinations, etc.)

NAKAMURA, K.

1981 "Revelatory experience in the female life cycle: a biographical study of

women religionists in modern Japan", J a p a n e s e J o u r n a l o f R e l igi o u s

S t u d ies 8/3--4: 187-205, set/dez.

PEREIRA, R. A.

1 9 8 9 P o s s e s s i o n a n d c u l t u r a l i n n o v a t i o n : t h e r e l i g i o u s e x p e r ienc e o f N a k a -y a m a M i k i a n d D e g u c h i N a o , T6quio, pp. 189, disserta<;ao, Universidade

de T6quio, Departamento de Antropologia Cultural (dez. 1988).

PRESSEL, E.

1973 "Urn banda in Sao Paulo: religious innovation in a developing society", in

BOURGUIGNON, E. (editor), Rel i g i o n , a l t e r e d s t a t e s o f c o n sci o u s n e s s,

a n d so c i a l ch a n g e , Columbus, Ohio State University Press, pp. 264-318.

Recebido para publica<;ao em fevereiro de 1992:

'\\

.

.

.

STRAELEN, H.

1 9 5 7 T he rel i g i o n o f d i v i ne w i s d o m: J a p a n's m o s t p o w e r f u l rel i g i o u s m o v e -men t , Kyoto, Veritas Shoin.

USUI, A.

1987 "Josei Ky6so no Tanjo" [The process of becoming a female religious

founder], inS h u k y o Ken k y u [Joumal of Religious Studies], vol. LXI- 3:

1-36,n° 274 (dez.), Tokyo, The University of Tokyo (Japanese Association

for Religious Studies).

WILSON, B.A.

1 9 8 5 P o w e r t o t h e p o w e r l e s s : s h a m a n i s m a n d t h e k o r e a n w o m a n , pp. 273,

Referências

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