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INTERFACES ENTRE TECNOLOGIA E LINGUAGEM: GÊNEROS TEXTUAIS DIGITAIS

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ISSN 2179-5037

Revista UNIABEU Belford Roxo V.8 Número 18 janeiro-abril de 2015

INTERFACES ENTRE TECNOLOGIA E LINGUAGEM: GÊNEROS

TEXTUAIS DIGITAIS

Márcio Luiz Corrêa Vilaça1 Simone Regina de Oliveira Ribeiro2

RESUMO: Os computadores foram vistos por muito tempo essencialmente como

ferramentas de processamento de dados. A internet, no entanto, contribuiu para a transformação do computador e outros dispositivos digitais em ferramentas de comunicação. Os avanços tecnológicos, especialmente aqueles que permitem trocam comunicativas entre os usuários, demandaram a emergência e o desenvolvimento de gêneros textuais digitais. Este trabalho apresenta reflexões teóricas sobre as relações entre tecnologia e linguagem, com o foco nos gêneros digitais.

Palavras Chave: tecnologia, linguagem, gêneros digitais, letramentos

Interfaces between technology and language: digital textual genres

ABSTRACT: Computers were primarily seen for some time as a data processing tool.

Internet, however, contributed to expand its uses, turning the computer and other digital devices in communication tools. Technological advances, specifically those that allow communicative exchanges between users, also would require the emergence and development of digital genres. This paper presents theoretical reflections on the relationship of technology and language, with a focus on digital genre.

Keywords: technology, language, digital genre, literacies

1- Introdução

O computador é, ou pelo menos era, tradicionalmente visto como um dispositivo tecnológico de processamento, armazenamento e recuperação de informações, um sistema binário cercado de números e dados. Isso parece ficar evidente na tradicional sigla TI (Tecnologias de Informação). No entanto, em especial nas últimas duas décadas, cada vez mais softwares e hardwares têm sido empregados como ferramentas de comunicação e interação e para fins

1 Doutor em Letras (UFF). Professor e Coordenador do Programa de Mestrado em Letras e Ciências

Humanas da UNIGRANRIO. professorvilaca@gmail.com

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comunicativos e educacionais. Talvez aí esteja a razão – mesmo que indireta- pelo qual hoje muito se fala sobre TICs (Tecnologias da Informação e Comunicação). A palavra comunicação ajuda a realçar esta potencialidade comunicativa das tecnologias digitais, às vezes denominadas de “novas tecnologias”.

O processo histórico das transformações e dos papeis dos computadores é bastante complexo e não cabe ser tratado neste trabalho. No entanto, podemos destacar alguns aspectos que contribuíram para o crescente emprego do computador em atividades comunicativas, para além dos avanços em sistemas operacionais e nos hardwares: as interfaces mais fácies e intuitivas, a sua popularização em ambientes domésticos e profissionais em áreas diversas, a intensa oferta de aplicativos para fins bem variados e a internet. Vilaça (2014, p. 61) aponta que:

A tecnologia, especialmente os dispositivos móveis e a internet, está influenciando diversos aspectos da vida em sociedade, em outras palavras, práticas sociais de diferentes naturezas (GIDDENS, 2012; GABRIEL, 2014), o que inclui práticas discursivas e educacionais. Como reflexo disto, podemos encontrar um crescente número de trabalhos que tratam dos “impactos” da tecnologia na Educação

Cabe lembrar que, no final da década de 80 início da década de 90, era comum escutar que para saber usar o computador era necessário “ser bom” em matemática e em língua inglesa. Isto, em parte, era motivado pela complexidade dos programas(softwares). No cenário atual, repleto de interfaces visuais intuitivas, esta afirmação certamente causaria grande estranhamento a alguém que não chegou a conhecer aquele tempo de sistemas baseados em comandos e interfaces

predominantemente textuais3. Em algumas escolas, as aulas de informática eram

ministradas em disciplina sob denominações como Mecanografia ou Processamento

de Dados.

Se o avanço nas interfaces, os desenvolvimentos em termos de hardware e a maior facilidade no uso de softwares foram importantes, um fator crucial para mudar o papel do computador na vida de grande parcela da população foi a internet

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Não pretendemos aqui traçar um histórico sobre softwares e interfaces, mas reconhecemos que muitos usuários, - principalmente crianças, adolescentes e jovens – não conheceram parte desta realidade de softwares com maior complexidade de aprendizagem e uso.

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(VILAÇA, 2014). Até então, em muitas residências, o computador por vezes era visto ou tratado como uma “máquina de datilografar” bastante sofisticada.

O desenvolvimento da Internet contribuiu para a ampliação das possibilidades do computador, que muitas vezes estava predominantemente relacionado ao acesso a documentos e dados. A partir da Internet os computadores não apenas seriam usados para armazenar, processar e editar informações, mas, e, especialmente para comunicação entre usuários, de forma síncrona e assíncrona.

Os avanços tecnológicos, mais precisamente aqueles que permitem trocas comunicativas entre os usuários da Internet, demandariam também o surgimento e o desenvolvimento de gêneros textuais digitais que, a princípio, estabeleceriam certo grau de correspondência com gêneros já existentes, e mais à frente, com a criação de novos gêneros que emergem sem correspondência fora da esfera digital.

2- Gêneros textuais

Nos últimos anos, questões como gêneros digitais, letramento digital, hipertexto, letramentos multissemióticos têm sido abordadas com crescente frequência em publicações e congressos. Parece ser evidente o reconhecimento de que a internet tem afetado as formas como lemos, produzimos textos, comunicamos e interagimos, gerando novos gêneros textuais que podem empregar diferentes possibilidades de características e recursos viabilizados pelo hipertexto. Nas palavras de Vieira (2005, p. 19):

O uso da tecnologia digital para ler, escrever e divulgar informações transformou radicalmente a natureza da comunicação escrita e o letramento convencional, introduzindo novos gêneros textuais, práticas discursivas e estabelecendo um novo paradigma nas ciências da linguagem.

Os gêneros textuais podem ser objetivamente definidos como formas sociocomunicativas orais e escritas relativamente estáveis (BAKTHIN, 2011). Exemplos de gêneros textuais de uso frequente incluem carta, bilhete, carta,

resumo, tirinha, palestra, entrevista... (KOCH e ELIAS, 2008; MARCHUSCHI, 2008).

Autores apontam que não é possível haver comunicação sem o emprego de gêneros textuais (BAKHTIN, 2011; MARCUSHI, 2010; KOCH, 2011). Marchuschi (2008, p.

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154) afirma que toda a manifestação verbal se dá sempre por meio de textos realizados por algum gênero”. O autor ainda aponta claramente que “Quando dominamos um gênero textual, não dominamos uma forma linguística e sim uma forma de realizar linguisticamente objetivos específicos em situações sociais particulares” (p.154).

Para Bazerman (2009), gêneros não são somente formas textuais, mas também formas de vida e de ação. O autor compreende o conceito de gêneros como “fenômenos de reconhecimento psicossocial” (2009, p. 31), construídos e organizados dentro da dinâmica da sociedade. Seus estudos se propõem a enfatizar instrumentos conceituais e analíticos acerca da incidência do texto na sociedade, sejam textos escritos ou não.

Compreender os gêneros para além de textos escritos é, para o estudioso, um mecanismo que visa reconhecer a existência de gêneros de forma mais profunda do que meramente caracterizá-los a uma relação tipificada de elementos para determinar o que seria um gênero ou outro; situação que poderia tornar simplória a definição e, principalmente, a classificaria como atemporal, como se o gênero fosse entendido e praticado de igual modo por todos, em qualquer tempo e espaço. Isso não significa que o autor negue a existência de formas e funções dos gêneros, mas enfatizamos que ele não limita ou prioriza a compreensão de gêneros a tais características.

Estudiosos reconhecem que novas práticas sociais e desenvolvimentos tecnológicos e educacionais propiciam o surgimento de novos gêneros. Neste sentido, podemos apontar que, ao longo da história, situações diversas- como a invenção da imprensa e o surgimento das universidades, por exemplo -

possibilitaram o desenvolvimento de novos gêneros textuais. Logo, não se trata de

um conjunto fechado.

É importante ainda reconhecer um processo denominado de intergenericidade (MARCHUSCHI, 2008), que, em termos objetivos, implica na presença ou combinação de um gênero textual em outro, fenômeno bastante frequente em propagandas. Uma consequência pratica da intergenericidade é a dificuldade de nomear um gênero, já que ele pode combinar características, estruturas e funções de dois ou mais gêneros. Esta dificuldade de denominar gêneros também se reflete

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nas comunicações digitais, até mesmo pela capacidade destas de combinar modalidades e semioses.

Em síntese, percebe-se, portanto, que, mais recentemente, as Tecnologias de Comunicação e Informação têm contribuído para emergência e a popularização de novos gêneros. A internet - provavelmente a questão tecnológica mais discutida hoje- é também local de comunicação, e como tal, viabilizou uma diversidade de gêneros textuais digitais como blog, e-mail, fórum, bate-papo.

3- Gêneros textuais digitais

Marcuschi (2010) aponta com propriedade que os gêneros textuais digitais são identificados a partir dos anos 70 do século XX e desenvolvidos à medida que ocorriam os avanços da mídia eletrônica, fato que fez surgir o tipo de comunicação chamada de Comunicação Mediada por Computador (CMC). Para o pesquisador, certamente muitas das limitações ligadas à comunicação pelo computador e Internet

desde a década de 70 já foram superadas até os dias atuais4, pois tais limitações

referiam-se mais aos tipos de programas de computadores e menos aos usos ou da linguagem empregadas.

Com os avanços dos programas e dos computadores e com a Web 2.0 (VALENTE e MATTAR, 2007; TORI, 2010; VILAÇA, 2014), as mensagens tornaram-se infinitamente mais rápidas, com a possibilidade de envio de grandes anexos, entre outras características. Deste modo,

podemos dizer que os gêneros textuais são frutos de complexas relações entre um meio, um uso e a linguagem. No presente caso, o meio eletrônico oferece peculiaridades específicas para usos sociais, culturais e comunicativos que não se oferecem nas relações interpessoais face a face. E a linguagem concorre aqui com ênfase deslocadas em relação ao que conhecemos em outro contexto de uso. (MARCUSCHI, 2010, p.23, grifo do autor).

Marcuschi (2010) ponderava, no início do século XXI, que os gêneros textuais digitais emergentes no contexto da tecnologia digital estabeleciam correspondência

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Convém apontar que, apesar da edição do trabalho ser de 2010, este importante trabalho de Marcuschi tem como base um cenário tecnológico dos primeiros anos da década passada. Em nota de rodapé, o autor aponta ser o trabalho uma versão modificada e ampliada de uma conferência apresentada em 2002. Assim, o trabalho situa-se antes do boom da web 2.0, marcada por formas interação e participação dos usuários online, pela computação nas nuvens e pelas redes sociais.

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direta com os gêneros textuais prévios como, por exemplo, o e-mail e a carta, o blog e o diário, o chat que é um bate-papo virtual e o bate-papo presencial entre os indivíduos. Ou seja, os gêneros classificados pelo autor naquele momento como emergentes estariam impregnados de correspondentes anteriores quanto à proximidade de formas e funcionalidades.

Este tipo de comparação entre gêneros não-digitais e digitais foi e continua sendo empregada também por vários autores. No entanto, é necessário reconhecer que – apesar de bastante interessante e pedagógica - essa visão não corresponde plenamente às demandas de gêneros digitais que surgem no contexto da cibercultura, principalmente com a grande proliferação de ambientes, plataformas, sistemas e “serviços” online. Conforme modificados ou ampliamos os usos ddos tecnologias digitais para fins comunicativos, ampliamos as possibilidades de desenvolvimento ou combinações de gêneros.

Afinal, além de permitir a criação de novos gêneros – os digitais, é pertinente ressaltar que o computador tornou possível agregar num mesmo suporte o acesso a diferentes gêneros orais, escritos, imagéticos. Frente a isso, é possível o acesso a textos, músicas, vídeos.

Por este motivo, a própria compreensão de diferenças entre gêneros e suporte de gêneros também fica mais complexa, como acontece no caso das redes sociais, às vezes consideradas como gêneros, mas que permitem a publicação de gêneros diversos, assim como acontece com um livro ou um jornal.

Com as possibilidades de comunicação da Internet, em especial a partir da

Web 2.0, os usuários passaram a fazer uso de gêneros digitais em várias dimensões

da vida em sociedade. A aquisição da tecnologia digital, da Internet e de sua linguagem, reorganizou as sociedades e as relações das pessoas entre si; fato que permitiu a criação de comunidades virtuais, espaço de trocas de mensagens e informações com gêneros híbridos. Neste sentido, parece oportuna a posição de Denise Braga, quando afirma que:

a agilidade da comunicação a distância em tempo real ou quase real via internet quebra as barreiras de espaço e tempo, o que torna possível o surgimento de um novo tido de comunidade (as comunidades virtuais) e formas novas e cada vez mais híbridas de construções e expressões culturais(a cultura global). Neste contexto complexo de interações surgem gêneros que são específicos dos meios digitais. (BRAGA, 2013, p.45).

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Novas tecnologias de comunicação demandaram novas formas de organizar o pensamento, de utilizar e adequar as linguagens na sociedade, conforme temos sinalizado.

Marcuschi (2010) colabora com a discussão do conceito dos gêneros digitais quando traz à reflexão os aspectos de formas e funcionalidades dos gêneros emergentes inseridos no contexto tecnológico e digital, mais precisamente em ambientes virtuais. Para o autor, que discutia esta questão no início dos anos 2000, tais gêneros ainda estavam em processo de consolidação e já traziam polêmicas quanto aos impactos não só na linguagem, mas nas relações sociais em geral. Ele atribuiu a isso à versatilidade característica dos ambientes virtuais, com recursos textuais diversificados que competiam com outros recursos anteriormente bastante usados como o papel e o som.

De fato, esses questionamentos ganharam destaque no meio acadêmico, desencadeando muitas pesquisas e artigos no e sobre o ciberespaço; publicações que investigam e procuram respostas para as relações entre a tecnologia, a linguagem, a comunicação e as relações sociais como no Facebook (SANTOS e COUTO JÚNIOR, 2013) e Twitter (MERCADO e SILVA 2013), e através de diferentes gêneros digitais como blog (MONTARDO e PASSERINO, 2006), Fórum (JUNQUEIRA e LIMA, 2012), Wiki (PAIVA F., 2012), e-mail (PAIVA V., 2010), Chat (ARAÚJO e BIASI-RODRIGUES, 2005; ARAÚJO, 2010), entre muitos outros.

É comum ouvirmos atualmente em diferentes práticas sociais expressões como

chat, e-mail, blog, Facebook, Twitter, que passaram a fazer parte do dia a dia dos

indivíduos, tanto de crianças como de adultos. Concordamos que o avanço das TICs gerou uma mudança significativa na relação comunicativa e nas relações sociais entre os homens. Dessa forma, como salienta Marcuschi:

Pode-se dizer que parte do sucesso da nova tecnologia deve-se ao fato de reunir em um só meio várias formas de expressão, tais como texto, som e imagem, o que lhe dá maleabilidade para a incorporação simultânea de múltiplas semioses, interferindo na natureza dos recursos linguísticos utilizados. A par disso, a rapidez da veiculação e sua flexibilidade linguística aceleram a penetração entre as demais práticas sociais. (MARCUSCHI, 2010, p. 16).

Pinheiro e Lobo-Sousa (2010, p.129) afirmam que “a linguagem verbal, especialmente escrita, na cultura digital não constitui o principal recurso para

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construirmos sentido”. Fontes (2007) atribui aos avanços da computação gráfica a capacidade de usarmos recursos não verbais para expressar sentimentos, emoções e informações como os emoticons. Marcuschi (2010), no entanto, aponta que, por mais que admita-se uma infinita quantidade de postagens de imagens e sons, a escrita ainda é essencial na comunicação no ambiente virtual online.

Os gêneros digitais trouxeram mudanças profundas relacionadas à organização da linguagem nas relações sociais através dos recursos textuais da

Internet, mas, em sua maioria, as comunicações estão centralizadas no uso da

escrita no contexto digital.

Com profunda proximidade aos gêneros já existentes, em alguns casos, os gêneros digitais também exigem do leitor e do escritor a competência metagenérica, pois de acordo com Oliveira (2011, p. 4104), “a competência metagenérica destaca-se no processo de compreensão e produção dos gêneros textuais, uma vez que o produtor do texto conta com o conhecimento prévio dos seus leitores a respeito do gênero em questão”.

Assim, no ambiente virtual, é necessário que o usuário compreenda as diferenças quanto às formas e funcionalidades dos gêneros digitais para garantir o propósito comunicativo eficaz nas relações sociais virtuais. Portanto, o domínio dos gêneros, compreendidos como práticas sociais, contribui para a produção de sentidos.

Conforme acredita Denise Braga (2013), as grandes mudanças tecnológicas fizeram com que as linguagens desenvolvidas ora para os recursos analógicos, migrassem para o meio digital. Diante desse fato, a pesquisadora diz que os

gêneros digitais surgem com novas práticas de comunicação que,

consequentemente levou (leva) à necessidade de novos letramentos (BRAGA, 2013).

4 – Gêneros digitais e novos letramentos

Entendemos por letramento digital (SOARES, 2002; BUZATO, 2010) não apenas o uso das ferramentas digitais, mas, sobretudo a função que atribuímos aos gêneros digitais nas práticas sociais e interativas na cibercultura. Ainda que seja importante considerar a esfera de interação entre os homens e as máquinas (uso),

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mais importante é reconhecer as mudanças nas práticas sociais de leitura e de escrita dos gêneros digitais (função). Buzato resume “ser letrado” no contexto digital da seguinte forma:

Ser letrado (adquirir um certo letramento) é participar de um conjunto de práticas sociais nas quais significados e sentidos de certos conteúdos codificados culturalmente (tradicionalmente, não exclusivamente, textos escritos) são gerados, disputados, negociados e transformados. (2010, p. 53).

Para o pesquisador, os letramentos são diversos e se aplicam nas diferentes situações de atividades interativas e interpretativas nos recursos tecnológicos variados. Ele amplia a discussão afirmando que “os novos letramentos/letramentos digitais são particularmente importantes para pensarmos em apropriação tecnológica visando a transformações sociais” (BUZATO, 2010, p. 53). Acrescenta que as apropriações culturais das tecnologias digitais evidenciam conflitos socioculturais que sempre existiram, mas que, se aproveitadas por ações políticas educacionais e de inclusão social, podem possibilitar transformações socioculturais.

Neto e Campos (2010) também identificam novas práticas comunicativas na complexidade das tecnologias da informação e comunicação, as quais referem-se por “mundo da informação”, que demandam novos letramentos. Os autores destacam a necessidade de novos letramentos no âmbito educacional porque para eles as novas práticas comunicativas demandam “dos professores a apropriação e desenvolvimento de novas habilidades que, progressivamente, têm-se traduzido no desenvolvimento de suas competências pessoais e profissionais” (NETO e CAMPOS, 2010, p. 103).

Soares (2002) preocupou-se em investigar o letramento nas práticas de leitura e escrita na cibercultura. Para ela, poderia haver uma diferença entre o letramento na cultura do papel e na cultura digital. Seus estudos indicaram ser o letramento digital, que refere-se ao “estado ou condição” daqueles que adquirem a tecnologia digital e fazem uso delas nas práticas de leitura e escrita na cibercultura, diferente do letramento da cultura do papel, ou daqueles que adquirem o “estado ou condição” de letrados por fazerem uso de práticas de leitura e escrita fora da esfera digital.

Portanto, quando se refere à cultura do papel, ela usa letramento (no singular), quando discute esse conceito nas práticas da cibercultura, propõe “o uso do plural

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diferentes estados ou condições naqueles que fazem uso das tecnologias...” (SOARES, 2002, p. 156). Assim, as diferentes práticas sociais de escrita no espaço digital levam também a distintos letramentos.

4- Considerações Finais

As práticas sociais mediadas pelas tecnologias digitais em diversas são cada vez mais rotineiras e evidentes. Além disso, independente de uma pessoa ser usuária ou não dessas tecnologias, sua vida é de alguma forma afetada por elas, em maior ou menor intensidade. É por esse motivo que podemos constatar um considerável número de pesquisa em questões relacionadas a tais tecnologias. Na grande mídia, é recorrente as reportagens sobre como a internet e os dispositivos digitais estão presentes no cotidiano.

No campo educacional, o crescimento da oferta e da procura por cursos em Educação à Distância(EaD) online é apenas um exemplo concreto dessa realidade. Os estudos sobre tecnologias na educação incluem também a formação de professores, os alunos considerados “nativos digitais”, ferramentas digitais de ensino-aprendizagem, letramento digital, gêneros digitais, redes sociais, sem apresentar uma lista mais extensa de temáticas que atraem cada vez mais a atenção de estudiosos.

Os gêneros textuais digitais despertaram grande interesse de estudiosos brasileiros da área de estudos linguísticos nos primeiros anos dos anos 2000. Razões que contribuíram significativamente para o aumento de pesquisas e publicações incluem: a) a popularização da internet nas residências (principalmente a conexão em banda larga); b) as formas de comunicação e interação que caracterizaram a chamada web 2.0.

Neste artigo, abordamos algumas questões relativas ao conceito de gêneros textuais e gêneros textuais digitais, buscando salientar interfaces entre tecnologia em linguagem. O referencial bibliográfico- em perspectiva interdisciplinar – priorizou as áreas de estudos linguísticos e educação.

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Recebido em 04/02/2015. Aceito em 23/04/2015.

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