• Nenhum resultado encontrado

Do Direito à Indenização da Posse no Instituto da Desapropriação

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2020

Share "Do Direito à Indenização da Posse no Instituto da Desapropriação"

Copied!
13
0
0

Texto

(1)

Revista do Curso de Direito da Universidade Braz Cubas V1 N2: Junho de 2017

DO DIREITO À INDENIZAÇÃO DA POSSE NO INSTITUTO DA DESAPROPRIAÇÃO

Pedro Bragantini Machado1

Resumo

Este trabalho tem por objetivo o estudo do instituto da desapropriação por utilidade pública, regulamentada pelo Decreto-Lei 3.365/1.941, e a possibilidade de desapropriação da posse. O artigo 34 do referido decreto restringe-se tão e somente ao levantamento da indenização mediante prova de propriedade, não havendo efeitos aos detentores da posse que, na ocorrência da desapropriação, deve dispor de sua posse, mas, por não possuir prova de propriedade, não faz jus ao levantamento da indenização, prevista no artigo 5º, inciso XXIV, da Constituição Federal.

Palavras-chave: Desapropriação, utilidade pública, indenização, posse, propriedade. Abstract

This work is engaged in the study of expropriation in the public interest, regulated by Decree-Law 3.365/1.941, and the possibility of possession’s expropriation. The article 34 of this decree is limited to the lifting of compensation upon proof of ownership, with no effect to the possessors, that in the event of expropriation, must have to dispose your possession, but, for not having proof of his ownership, can’t receive the expropriation compensation, indicated in article 5, item XXIV, of the Federal Constitution.

Key-words: Expropriation, public interest, indemnity, possession, ownership. SUMÁRIO

1. Introdução – 2. Intervenção do Estado na propriedade privada: 2.1. Função social da propriedade e interesse público; 2.2. Modalidades de intervenção na propriedade: 2.2.1. Requisição administrativa; 2.2.2. Servidão administrativa; 2.2.3. Ocupação temporária; 2.2.4. Tombamento; 2.2.5. Desapropriação. 3. Desapropriação por utilidade pública: Indenização da posse: 3.1. Desapropriação por utilidade pública: Conceito; 3.2. Fases da desapropriação: 3.2.1. Desapropriação amigável; 3.2.2. Desapropriação judicial; 3.3. Propriedade e posse; 3.4. Possibilidade de indenização da posse. 4. Considerações finais. 5. Referências bibliográficas.

1 INTRODUÇÃO

É notável a relevância do Direito Administrativo, que possui como intuito o estudo e regulamentação dos agentes, órgãos e atividades da Administração Pública, regulamentando os fins desejados pelo interesse público sob diversos princípios, ressaltando, dentre eles, o princípio da legalidade.

Ademais, no instituto da desapropriação, temos, de um lado, a Administração Pública com a defesa dos interesses coletivos, e, de outro, o interesse particular do expropriado, havendo

(2)

sempre um conflito direto de interesses, fazendo com que o anseio em sanar tais conflitos seja um dos diversos motivos que nos leva a decidir por tema tão privativo.

Sabe-se que a desapropriação é pouco explorada em âmbito acadêmico, por ser uma área considerada específica dentro do Direito Administrativo, como dito, fazendo com que seja uma área conhecida apenas pelos que atuam ou possuam interesse em atuar no Direito Público.

Outrossim, em âmbito profissional, é costumeiro encontrarmos situações em que se faz necessária a desapropriação da posse, sendo objeto de estudo e discussão, vez que a lei específica se restringe tão e somente ao proprietário.

Ainda nos cabe entender a situação do ponto de vista do proprietário que, muitas vezes com pouco saber jurídico sobre o tema, recebe, inesperadamente, avaliadores do órgão público expropriante, pois seu bem será despojado compulsoriamente á Administração Pública, fundado em utilidade pública ou interesse social.

Ademais, de acordo com o artigo 1.245 do Código Civil, a propriedade é consagrada apenas com o registro do título, desconsiderando o contrato. Porém, tal registro muitas vezes não ocorre, seja pela dificuldade em regularizar a matrícula do imóvel, seja por falta de esclarecimentos sobre referida necessidade; fazendo com que a propriedade não se concretize, restando somente os direitos inerentes à posse do imóvel.

E, ainda que a aquisição de propriedade pela desapropriação seja de forma originária, é necessária a devida regularização da matrícula, para que todo o procedimento possa ser registrado em cartório, fazendo com que a desapropriação da posse seja mais peculiar ainda, justificando, assim, seus estudos de forma mais específica.

Cumpre-nos ressaltar, também, que, embora as leis que regem o tema foram decretadas em 1.941 e 1.962, não há, até o momento, entendimento pacificado, sendo objeto de frequentes discussões jurisprudenciais. Destacamos, ainda, o advento da Medida Provisória nº 700, de 8 de dezembro de 2015, que altera drasticamente o Decreto-Lei 3.365/1.941, mas não faz referências ao seu artigo 34, mantido com o mesmo teor.

Assim sendo, este trabalho tem por objetivo, em âmbito acadêmico, despertar a curiosidade sobre o assunto em comento, apresentando uma das formas de intervenção do Estado na propriedade legal e o devido processo legal da desapropriação; em âmbito profissional, fazer com que este estudo sirva como referência sobre o assunto; e, em geral, que sirva para instruir e informar sobre referido tema.

(3)

Para tanto, a metodologia utilizada foi a verificação da legislação pátria vigente, bem como a coleta e análise de conteúdo jurisprudencial.

2 INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PROPRIEDADE PRIVADA 2.1 Função social da propriedade

O conceito de propriedade surge com a natureza humana. Desde os tempos mais primórdios, do início da convivência em sociedade, o homem define sua propriedade como condição de existência e sobrevivência, já que é necessário o estabelecimento da ordem social, colocada em risco com as frequentes disputas sobre terras e poder.

Nesse sentido, dá-se o entendimento de que a terra existe tão e somente para atender aos fins individuais de seu proprietário, que pode ser utilizada da forma que seu proprietário melhor entender, para si, e para sua família. O proprietário pode usar, gozar, dispor e reaver a coisa, conforme artigo 1.228 do Código Civil.

Contudo, ainda que se entenda o direito de propriedade como absoluto e ilimitado, surge o conceito da função social, no sentido que o homem, ao viver em sociedade, deve se desenvolver da melhor forma possível para o bem estar da sociedade. E tal sentido se estende à propriedade, fazendo com que a propriedade atenda não só aos interesses individuais, mas também aos interesses coletivos.

Assim, notamos que o artigo 5º da Constituição Federal, em seu inciso XXII, garante o direito à propriedade, de forma absoluta. Mas, logo em sequência, inerente ao direito à propriedade, temos o inciso XXIII, que dispõe que a propriedade atenderá a sua função social, concluindo que o uso da propriedade pode ser feito de forma exclusiva individual, desde que atenda, primeiramente, o interesse público e social. Fala-se em função social da propriedade, também, nos princípios gerais da atividade econômica, previsto no inciso III do artigo 170 da Constituição Federal.

2.2. Modalidades de intervenção na propriedade

Nessa linha de raciocínio, para o devido cumprimento da função social da propriedade, é necessária a intervenção do Estado, através de seu poder de polícia, e diretamente ligado ao princípio da supremacia do interesse público sobre o privado.

(4)

Entende-se por intervenção na propriedade privada todo ato do poder público que, fundado em lei, compulsoriamente, retira ou restringe direitos dominiais privados.2

A intervenção na propriedade se dá através de necessidade ou utilidade pública, e interesse social e, de maneira sucinta, passaremos a expor, a título de conhecimento, as modalidades de intervenção do Estado, até adentrarmos no instituto da desapropriação, com maior enfoque. São modalidades de intervenção do Estado, além da desapropriação: Requisição administrativa, servidão administrativa, ocupação temporária e tombamento.

2.2.1 Requisição administrativa

A requisição é uma forma de restrição ao direito de propriedade, na ocorrência de casos de iminente perigo público. Abrange não só os bens imóveis, mas também bens imóveis e serviços.

Restringe tão e somente ao uso da propriedade, no período em que o perigo público estiver iminente, e é assegurado ao proprietário indenização ulterior, desde que haja dano, sendo tal indenização proporcional ao dano cometido.

A requisição é o ato administrativo unilateral, auto-executório e oneroso, consistente na utilização de bens ou de serviços particulares pela Administração, para atender a necessidades coletivas em tempo de guerra ou em caso de perigo público iminente. 3 Possui previsão legal

no inciso XXV do artigo 5º da Constituição Federal. 2.2.2 Servidão administrativa

Em síntese, a servidão administrativa é também uma restrição ao direito de propriedade, mas com caráter perpétuo, indivisível, inalienável e “erga omnes”.

Assemelha-se à desapropriação em seu procedimento, vez que precede de declaração de utilidade pública, é necessária indenização prévia, e pode ser feito de forma amigável ou judicial. No entanto, o que a difere é que, por se tratar de uma mera restrição administrativa, o proprietário continua responsável pela área de servidão, com diversas limitações para seu uso, justificado pelo bem estar social.

2 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 38. ed. São Paulo: Malheiros, 2012, p. 676.

(5)

Possui previsão legal no artigo 40 do Decreto-Lei 3.365, de 21 de junho de 1941, que dispõe sobre desapropriações por utilidade pública.

2.2.3 Ocupação temporária

Trata-se de uma ocupação não permanente, de forma complementar á desapropriação. É utilizada para realização de obras públicas, com a necessidade de ocupação de terrenos próximos ou vizinhos. É o uso temporário de imóvel, oneroso ou não, para fins de interesse público.4

Possui previsão no Decreto 1.021, de 26 de agosto de 1093, em seu artigo 3º, que prevê que “o Governo no regulamento estabelecerá tambem as regras e formalidades para a occupação

temporaria de immoveis, quando for indispensavel á execução das obras decretadas e para a

devida indemnização aos proprietarios”, e sua regulamentação foi feita através do Decreto nº 4.956, de 09 de setembro de 1903.

2.2.4 Tombamento

O tombamento é um ato de reconhecimento do valor de um bem, com o intuito da preservação do patrimônio, seja ele artístico, ou histórico, dos bens, fazendo com que os mesmos se tornem um patrimônio nacional.

Possui previsão legal no Decreto-Lei 25, de 30 de novembro de 1937, e seu artigo 17 prevê que “as coisas tombadas não poderão, em caso nenhum ser destruidas, demolidas ou mutiladas, nem, sem prévia autorização especial do Serviço do Patrimônio Histórico e

Artistico Nacional, ser reparadas, pintadas ou restauradas, sob pena de multa de cincoenta por

cento do dano causado”. 2.2.5 Desapropriação

A desapropriação é o ato pelo qual o Poder Público adquire, compulsória e unilateralmente, um certo bem, móvel ou imóvel, em caráter originário, mediante justa e prévia indenização. A desapropriação era promovida exclusivamente pelo Poder Público. Porém, com o advento da Medida Provisória 700, de 8 de dezembro de 2015, também poderão promover a desapropriação os concessionários, permissionários, autorizatários e arrendatários; as entidades públicas; as entidades que exerçam funções delegadas do Poder Público; e o contratado pelo Poder Público para fins de execução de obras e serviços de engenharia.

(6)

Para tanto, a desapropriação deve ser justificada em interesse social ou utilidade pública, tema abordado.

A desapropriação por interesse social possui previsão legal na Lei 4.132, de 10 de setembro de 1962. Seu artigo 1º dispõe que será decretada para promover a justa distribuição da propriedade, ou condicionar o seu uso ao bem estar social, na forma do artigo 147 da Constituição Federal.

Já o rol taxativo do que se considera por interesse social pode ser encontrado em seu artigo 2º. Passaremos a abordar, agora, a desapropriação por utilidade pública, objeto do presente estudo.

3 DESAPROPRIAÇÃO POR UTILIDADE PÚBLICA: INDENIZAÇÃO DA POSSE 3.1 Desapropriação por utilidade pública: Conceito e etapas

A desapropriação por utilidade tem como dispositivo legal o Decreto-Lei 3.365, de 21 de junho de 1941, recentemente alterado pela Medida Provisória 700, de 8 de dezembro de 2015. A previsão legal do que se considera utilidade pública está previsto no artigo 5º do referido Decreto-Lei. Ademais, a desapropriação só pode ocorrer mediante expedição de declaração de utilidade pública, sendo que, a mesma se atentará judicialmente ou mediante acordo, no prazo de cinco anos contatos da expedição da declaração.

Podemos considerar como declaração de utilidade pública o decreto, seja ele federal, estadual ou municipal.. No entanto, hoje admite-se também como declaração as resoluções das agências reguladoras, sendo vedado apenas ao Poder Judiciário a interferência na declaração.

Conforme inciso XXIV do artigo 5º da Constituição Federal, a desapropriação, em suas modalidades, só pode ocorrer mediante indenização, em dinheiro, de forma prévia, e justa, para que não ocorra o confisco por parte do Poder Público, bem como o enriquecimento ilícito por parte do expropriado.

Indenização justa, prevista no art. 5º, XXIV, da Constituição Federal, é aquela que corresponde real e efetivamente ao valor do bem expropriado, ou seja, aquela cuja importância deixe o expropriado absolutamente indene, sem prejuízo algum em seu patrimônio. Indenização justa é a que se consubstancia em importância que habilita o proprietário a adquirir outro bem perfeitamente equivalente e o exime de qualquer detrimento.5

5 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 26. ed. rev. E atual. São Paulo: Malheiros, 2009, p. 1011.

(7)

Cumpre-nos observar também que, uma vez incorporados ao patrimônio público, os bens expropriados não podem ser objeto de reivindicação, ainda que haja nulidade no processo expropriatório.

3.2 Fases da desapropriação 3.2.1 Desapropriação amigável

Por se tratar de um procedimento amigável, pactuado através de acordo entre as partes, acaba o mesmo sendo abordado de forma mais sucinta.

Tomando como ponto de partida a declaração por utilidade pública, expedida pelo órgão responsável, é feito o levantamento da área a ser expropriada, com o devido cadastro e identificação dos devidos proprietários. Durante esta etapa, são realizados estudos para verificar qual a melhor área a ser desapropriada, no sentido de ser menos onerosa ao poder público, e atender melhor ás necessidades do Estado.

Após, com a área identificada, é feito um levantamento em cada propriedade do que foi impactado em cada área, como culturas, benfeitorias, futuras demolições, entre outros, bem como feito também uma pesquisa de preço, para obter o justo valor da desapropriação, expresso no artigo 5º, inciso XXIV, da Constituição Federal.

Assim, é feita uma proposta formal ao expropriado que, ao concordar, é lavrada uma escritura pública de desapropriação amigável, registrada a desapropriação na matrícula do imóvel, bem como feito o pagamento em dinheiro, e o imóvel passa a pertencer à União.

Caso não haja a concordância do expropriado, é imperativo o ajuizamento da ação expropriatória, que passaremos a expor.

3.2.2 Desapropriação judicial

O processo judicial de desapropriação segue um rito específico, o qual será observado a seguir.

Na petição inicial deve conter, além dos requisitos previstos no artigo 319 do Código de Processo Civil de 2015, a oferta do preço, a planta ou descrição dos bens e suas confrontações, e cópia do contrato ou da publicação do decreto de desapropriação, sendo nomeado pelo juízo, logo no primeiro despacho, um perito técnico, para efetuar a avaliação dos bens.

No entanto, caso seja alegada urgência, o juiz pode imitir provisoriamente na posse o Poder Público, independente de citação do réu, mediante depósito prévio do preço oferecido.

(8)

Assim, é feita a citação do réu, e não havendo concordância expressa quanto ao preço, o perito apresentará o laudo em cartório, antes de audiência, para que as partes manifestem-se acerca do mesmo.

Após, é feita a audiência de instrução e julgamento, em que, encerrado o debate, o juiz fixará o valor da indenização e honorários, expedindo ordem judicial ao registro de imóveis para constar a desapropriação na matrícula, desde que haja, previamente, o depósito integral do valor arbitrado.

Ressalta-se que, no valor da indenização, ficam sub-rogados quaisquer ônus ou direitos que recaiam sobre o bem.

3.3 Propriedade e posse

Aproveitamos este ato para, antes de definirmos nosso posicionamento sobre desapropriação, evidenciar os conceitos de propriedade e posse.

De acordo com o artigo 1.228 do Código Civil, o proprietário é aquele que tem a faculdade de usar, gozar, dispor e reaver a coisa.

A propriedade é um direito complexo em função de existirem vários outros direitos consubstanciados, ou seja, inseridos em si; absoluto por garantir ao seu titular o direito de utilizar da coisa da forma que quiser, não se extinguindo pelo seu não uso; perpétuo por ser característica intrínseca da propriedade; exclusivo devido ao fato do proprietário poder proibir que terceiro pratique qualquer ato de domínio.6

Fala-se em propriedade, também, na Constituição Federal. No caput do artigo 5º da Constituição Federal, todos são iguais perante a lei, garantindo-se diversos direitos, entre eles, à inviolabilidade do direito à propriedade. Ademais, no inciso XXII do mesmo artigo, garante-se o direito de propriedade.

Ademais, no artigo 170 da Constituição Federal, dispõe que a propriedade privada é um dos princípios gerais da atividade econômica.

Propriedade também é, de certa forma, a exteriorização da vontade livre do proprietário, bem como quando se releva o momento estático da relação jurídica de propriedade, sem preocupar-se com a possível manifestação da vontade do proprietário, como preocupar-se trata a desapropriação. 6 FARIAS, Cristiano Chaves de. ROSENVALD, Nelson. Direitos reais. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006, p. 89.

(9)

Quanto à posse, o Código Civil Brasileiro adota a teoria objetiva, também conhecida como Teoria de Ihering, que dispõe que o animus, ou seja, a intenção do possuidor de ter a coisa como sua, é um elemento subjetivo e de difícil comprovação, não sendo necessário para comprovação de posse, bastando apenas o elemento objetivo, o corpus, que é a possibilidade de disposição da coisa, tendo em vista que o possuidor agiria da mesma forma que o proprietário.

A previsão legal da posse está disposta no artigo 1.196 do Código Civil, entendendo-se que é aquele que tem o exercício de apenas algum dos poderes inerentes à propriedade.

Junto com a posse, nesta hipótese, temos que tratar também a proteção possessória. Assim, incluímos a percepção dos frutos; a responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa; a indenização por benfeitorias e o direito de retenção para garantir seu pagamento; e o direito à usucapião.

3.4 Possibilidade de indenização da posse

O objeto de análise do nosso estudo é o artigo 34 do Decreto-Lei 3.365/1941, sobre a desapropriação por utilidade pública, o qual transcrevemos neste ato: “O levantamento do preço será deferido mediante prova de propriedade, de quitação de dívidas fiscais que recaiam sobre o bem expropriado, e publicação de editais, com o prazo de 10 dias, para conhecimento de terceiros.”

Ademais, o artigo 5º da Lei 4.132/1962, que dispõe sobre a desapropriação por interesse social, prevê que devem ser aplicadas as normas legais da desapropriação por utilidade pública nos casos de omissão, inclusive, no tocante ao processo e à justa indenização devida ao proprietário.

Portanto, em síntese, somente aquele que possui prova de propriedade do referido imóvel, faz jus à indenização na hipótese de desapropriação.

No intuito de uma melhor interpretação do artigo 34, questionamos o que se entende por prova de propriedade, e, de forma aduzida, pudemos concluir que a prova documental, in

casu, é a apresentação de certidão de matrícula, do devido registro de imóveis.

A mesma pode ser provada através de certidão de propriedade e ônus, que dispõe sobre o proprietário atual do imóvel; certidão vintenária, que inclui a certidão de propriedade e ônus,

(10)

porém, com um relato de todos os registros e averbações nos últimos vinte anos; e a certidão de inteiro teor, que traz toda a história do imóvel, desde seu mais antigo registro.

Observamos que a legislação em vigor foi promulgada em 21 de junho de 1941. No entanto, mantém-se praticamente inalterada desde referida data, havendo uma atualização recente em 08 de dezembro de 2015, através da Medida Provisória nº 700, que nada alterou acerca do artigo em comento, concluindo que tal lacuna existe desde os primórdios desta lei.

Ademais, mesmo não havendo entendimento consolidado, poucos autores se dedicaram ao tema em comento, cabendo à jurisprudência forçar um entendimento sobre o caso.

Nos primeiros casos de desapropriação de posse, surgiram entendimentos no aspecto literal do artigo 34 do referido Decreto-Lei, fazendo com que o levantamento da indenização seja posterior à regularização do imóvel, sendo incabível o deferimento ao possuidor o levantamento do valor indenizatório referente à posse.

No entanto, é imperativa a discordância de tal entendimento, vez que o posseiro também é prejudicado com a desapropriação, nos termos do artigo 1.219 do Código Civil.

A desapropriação da propriedade é a regra, mas a posse legítima ou de boa-fé também é expropriável, por ter valor econômico para o possuidor, principalmente quando se trata de imóvel utilizado ou cultivado pelo posseiro. Certamente, a posse vale menos que a propriedade, mas nem por isso deixa de ser indenizável.7

E com base em seu entendimento, ainda que com divergências, a jurisprudência começa a conceder um valor econômico à posse, sem estabelecer critérios para obtenção do valor. Tendo em vista a ausência de legislação específica e a carência de doutrinas, a jurisprudência foi forçada a preencher as lacunas deixadas com seus julgados, reconhecendo a viabilidade da expropriação da posse e o direito de indenização do desapossado: “Expropriados sem títulos de propriedade do imóvel Indenização apenas pela posse - Admissibilidade. Quando o expropriado não pode provar a propriedade do imóvel, deve ser indenizado apenas pela posse”.8

Atualmente, com a atualização jurisprudencial, o que se torna mais plausível, buscando pacificar os dois entendimentos, é o levantamento de 80% do valor depositado, incluindo

7 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 38. ed. São Paulo: Malheiros, 2012, p. 515.

8 Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, Câmara Cível, Ap nº 81.791-2, 12.11.1984, Rel: Lair Loureiro. RT, vol. 593, p. 105, citado por MENDES, Vicente de Paula. A indenização na

(11)

todos os valores, sendo estes da indenização pela área e as benfeitorias existentes, na hipótese de posse, não comprovando a propriedade, garantindo a previsão constitucional da indenização justa e prévia ao expropriado. E, os 20% remanescentes, estão condicionados à regularização da titularidade do imóvel, com a devida prova de propriedade, apresentando o registro imobiliário atualizado.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A desapropriação é, sem dúvida, uma das formas mais impactantes da intervenção do Estado na propriedade privada, por estar diretamente relacionada ao direito de propriedade previsto na Constituição Federal. Relacionada com o princípio da supremacia do interesse público sobre o privado, notamos que a utilidade pública prevalece o interesse individual, fazendo com que, mediante justa e prévia indenização, o expropriado perca seus direitos de propriedade e posse.

Todavia, o artigo 34 do Decreto-Lei 3.365/1941, que regulamenta o instituto da desapropriação por utilidade pública, só ampara aquele que possui a propriedade de fato. Levando em consideração que o mero detentor ou possuidor não possui sua posse devidamente regularizada, sem registros na matrícula do imóvel e, muitas vezes, sequer possui um contrato de direitos possessórios, devendo dispor de sua posse na ocorrência da desapropriação, mas não possui prova de propriedade para levantamento da indenização, conforme texto de lei.

Ponderando também que a legislação permanece praticamente intacta desde sua promulgação, a jurisprudência foi forçada a consolidar um entendimento favorável ao levantamento da indenização da posse.

Ademais, tal assunto possui tamanha relevância que, durante a elaboração deste trabalho, em dezembro de 2015, o Superior Tribunal de Justiça, apresentou uma publicação com um conjunto de teses com os precedentes mais recentes do Tribunal sobre a desapropriação. E nesta publicação, o Superior Tribunal de Justiça consolida que “o possuidor titular do imóvel desapropriado tem direito ao levantamento da indenização pela perda do seu direito possessório”.

Não se pode, nos dias de hoje, ignorar a problemática questão registral em que se parte da premissa de que “quem não registra, não é dono”, mas boa parte dos imóveis não possuem sua

(12)

devida regularização, seja por falta de interesse, seja por falta de esclarecimentos. Portanto, estende-se a interpretação do artigo 34 do Decreto-Lei 3.365/1941 para o devido cumprimento da Constituição Federal, por segurança jurídica do direito de terceiros, impondo a supremacia do interesse público, sem descartar o princípio da isonomia.

(13)

5 REFERÊNCIAS

ALBUQUERQUE, Ronaldo de. Desapropriação e constituição de servidão administrativa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1987.

DINIZ, Maria Helena. Código civil anotado. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2015.

DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2012. FARIAS, Cristiano Chaves de. ROSENVALD, Nelson. Direitos reais. 2. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006.

GASPARINI, Diogenes. Direito administrativo. 17. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2012.

HARADA, Kiyoshi. Desapropriação – Doutrina e prática. 11. ed. São Paulo: Atlas, 2015. MALUF, Carlos Alberto Dabus. Teoria e prática da desapropriação. 32. ed. e atual. até a Emenda Constitucional 84, de 2.12.2014. São Paulo: Saraiva, 2015.

MEIRELLES, Hely Lopes. Direito administrativo brasileiro. 38. ed. São Paulo: Malheiros, 2012.

MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de direito administrativo. 26. ed. rev. E atual. São Paulo: Malheiros, 2009.

MENDES, Vicente de Paula. A indenização na desapropriação. Belo Horizonte: Del Rey Editora, 1993.

SALLES, José Carlos de Moraes. A desapropriação à luz da doutrina e da jurisprudência. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009.

Referências

Documentos relacionados

Neste Projeto Final, apresentamos e detalhamos a prova do Teorema do Ponto Fixo de Brouwer encontrada em [1] para melhor compreens˜ ao, buscando motivar este trabalho com um pouco

Ementa: Este ateliê visa à instalação de processos de criação a partir de ações imersivas no espaço urbano, tendo como tema principal a relação entre corporeidade,

A regra viola­ da se torna ineficaz, porque pres­ crição mais alta do Código assim o quer, porque o interesse público na instrumentalidade do processo. assim

Todas as propostas serão avaliadas pelo Comitê Institucional de Avaliação de Projetos de Pesquisa - CIAP e deverão ter a anuência da Direção da unidade. Os

Certamente que no Estado Democrático de Direito não existem direitos absolutos, razão pela qual, em determinadas hipóteses, é possível que se promova um juízo de

Identidades e cultura na perspectiva da geografia cultural 3.1- Tipologias de identidades conforme Penna, Hall, Castells e Bassand 3.2..

Outro: o valor de quaisquer investimentos que não em títulos (excluindo fundos em numerário), expresso como uma percentagem do total do activo líquido do fundo.. Resta

As amostras da meiofauna e sedimentos foram coletadas uma vez durante o período de seco e outra no período chuvoso, em três pontos prospectados da praia, dos recifes de arenito e do