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ESTUDOS DA TRADUÇÃO – UMA BREVE REFLEXÃO SOBRE O UNIVERSO DA TRADUÇÃO LITERÁRIA SEGUNDO A OBRA TRANSLATION / HISTORY / CULTURE, DE LEFEVERE E BASSNETT

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Academic year: 2020

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ESTUDOS DA TRADUÇÃO – UMA BREVE

ESTUDOS DA TRADUÇÃO – UMA BREVE

ESTUDOS DA TRADUÇÃO – UMA BREVE

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LEFEVERE E BASSNETT

LEFEVERE E BASSNETT

LEFEVERE E BASSNETT

LEFEVERE E BASSNETT

LEFEVERE E BASSNETT

Stéfano Paschoal* Ruy Barreto**

RESUMO: Apresenta-se aí a tradução da introdução da obra Translation / History / Culture, organizada por André Lefevere e Susan Bassnett. Num momento em que os Estudos da Tradução, outrora considerados mero complemento dos Estudos Lingüísticos ou Estudos Literários, ganha autono-mia, sem deixar de lado a relação com a lingüística e com a literatura, julgamos pertinente apresentar a introdução de uma obra que aponta e incita a reflexão de aspectos relevantes da tradução literária. A tradução de citações constantes da introdução são trianguladas e não recuperam traços estilísticos de autores ou épocas, preocupando-se, mais, com a recuperação do sentido dos trechos citados.

PALAVRAS-CHAVE: Estudos da Tradução, tradução, cultura.

ABSTRACT: In this paper we present the translation of the introduction to the work Translation / History / Culture, by André Lefevere and Susan Bassnett. When Translation Studies – before viewed as a mere complement of Linguistic or Literary Studies – reaches autonomy, without putting away their relations to linguistics and literature, we thought it would be pertinent to present the introduction of a work which points out and incentives the reflection about relevant aspects of literary translation. The translation of extracts in the introduction are indirect and do not recuperate stylistic marks of either authors or epochs, concentrating itself on the recuperation of sense in quoted extracts.

KEYWORDS: Translation Studies, translation, culture.

ESTUDOS DA TRADUÇÃO – ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Os Estudos da Tradução constituem-se como uma recente área nas universidades brasileiras. Desde os princípios do surgimento da língua escrita, o homem tem lidado com traduções, muito embora, considerando-se todo o espectro de acontecimentos históricos desde então, as fontes sobre tradução são, pode-se dizer, recentes.

Foi justamente pensando no advento dos Estudos da Tradução – cujo início e virada, por assim dizer, ocorreram nos anos de 1970, na

* Professor adjunto do Instituto de Letras e Linguística, Universidade Federal de Uberlândia.

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Alemanha, principalmente – que resolvemos apresentar a tradução do capítulo introdutório da obra Translation / History / Culture, de André Lefevere e Susan Bassnett, na verdade, uma coletânea de diversos textos sobre tradução ao longo do tempo, organizada em capítulos segundo temáticas específicas.

Num momento em que as universidades brasileiras começam a dedicar mais atenção aos Estudos da Tradução, outrora somente um complemento dos Estudos Lingüísticos ou Estudos Literários, tornando-os uma área autônoma que, no entanto, não deixa de dialogar com a lingüística, com a literatura e com questões culturais, cremos ser pertinente apresentar um texto consagrado no âmbito dos estudos teóricos da tradução literária, oportunizando, assim, aqueles que se interessam pela tradução a que aprofundem um pouco o seu olhar ou, no caso daqueles que desconhecem as modernas abordagens e reflexões sobre o assunto, a que dêem o primeiro passo.

Na introdução à obra Translation / History / Culture, há citações de autores como Victor Hugo, Santo Agostinho, Huetius, Edward Fitzgerald, Cícero, Schleiermacher, Goethe, Lutero, Gaspard de Tende, Perrot d´Ablancourt, além de outros. A maioria desses autores não escreveu em língua inglesa, tendo sido suas citações traduzidas pelos autores da obra. Assim, as traduções para o português (à exceção do trecho citado de Lutero, traduzido por Mauri Furlan na antologia Clássicos da Teoria da Tradução, vol.4, UFSC) são traduções trianguladas que não recuperam marcas estilísticas de seus autores, nem de suas épocas, preocupando-se, tão somente, com o conteúdo expresso.

Na introdução, são discutidas questões gerais de tradução, como, por exemplo, o porquê da representação de um texto de uma cultura em outra, culturas de prestígio, decisões da tradução condicionadas ao papel de tradutores e de “editores”, traduções consagradas e o risco de desrespeitá-las, autoridade, poder e legitimidade textual, teoria dos gêneros, o princípio da adequação, adaptações nas traduções, etc.

Para finalizar a introdução à obra, os autores apresentam um pequeno excurso, a saber, de Anne Dacier (1647-1720), tradutora e filóloga francesa: uma passagem da introdução à sua tradução da Ilíada, publicada em 1699. Seu discurso mantém uma relação bastante estreita com a arte retórica (nos seus moldes clássicos), com o princípio da elegância, com conceituações sobre a imitação, e estende as reflexões sobre o cultivo da língua, iniciadas, na França, com a obra Defense et illustration de la langue française, de Du Bellay, de 1585.

Esperamos que o texto aí apresentado sirva de incentivo àqueles que se interessam pela tradução.

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TRADUÇÃO DA INTRODUÇÃO DE TRANSLATION / HISTORY / CULTURE

Uma tradução, diz Petrus Danielus Huetius num dos textos desta coletânea, é “um texto escrito numa língua bem conhecida, que se refere a um texto e o representa numa língua não tão bem conhecida”. A meu ver, esta é a definição mais produtiva de tradução dentro da tradição representada aqui, simplesmente por levantar diversas, se não todas as questões mais relevantes sobre tradução de uma só vez.

Primeiramente, por que é necessário representar um texto estrangeiro em sua própria cultura? O simples fato de fazê-lo não resulta em admitir a inadequação daquela cultura? Em segundo lugar, quem faz o texto em sua própria cultura “representar” o texto na cultura estrangeira? Em outras palavras: quem traduz, e com qual objetivo em mente? Quem seleciona os textos como candidatos a “serem representados”? Os tradutores? E esses tradutores o fazem sozinhos? Há outros fatores envolvidos? Em terceiro lugar, como os membros da cultura receptora sabem que o texto está bem representado? Eles podem confiar no tradutor? Se não, em quem eles podem confiar, e o que podem fazer em relação à situação como um todo com vistas a não mais traduzir? Se uma tradução é, de fato, um texto que representa outro texto, ela funcionará, para todos os efeitos, como aquele texto na cultura receptora, certamente para aqueles membros da cultura que não dominam a língua na qual ele foi originalmente escrito. Não nos esqueçamos de que as traduções são feitas por pessoas que não precisam delas para pessoas que não têm condições de ler os originais. Em quarto lugar, nem todas as línguas parecem ter sido criadas da mesma forma. Algumas línguas desfrutam de mais prestígio do que outras, assim como alguns textos ocupam uma posição mais central em dada cultura do que outros, como, por exemplo, a Bíblia ou o Alcorão. Em quinto lugar, por que produzir textos que “se referem a” outros textos? Por que não simplesmente produzir originais em primeira instância?

Muitas perguntas, porém nenhuma solução. Vamos agora arriscar algumas respostas, colhidas dos mais diversos textos cuidadosamente escolhidos para compor esta coletânea. Se você produz um texto que “se refere a” outro texto, mais do que produzir seu próprio texto, é mais provável que você o faça por acreditar que o outro texto desfruta de um prestígio bem maior do que o prestígio a que seu próprio texto poderia aspirar. Em outras palavras, você invoca a autoridade do texto que você representa. Pode ser plausível considerar que algumas das obras primas da literatura universal, tais como o Quixote de Cervantes, sejam traduções de originais perdidos, isto é, que elas se refiram a textos não-existentes para obter certa legitimidade, da qual, se não fosse assim, aparentemente não desfrutariam.

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A tradução está relacionada com autoridade e legitimidade e, em última instância, com poder, que é precisamente porque tem sido e con-tinua a ser o assunto de tantos debates desgastantes. A tradução não é apenas uma “janela aberta em outro mundo” ou comentários dispensáveis desse tipo. Ao contrário, a tradução é um canal aberto, geralmente não sem certa relutância, através do qual as influências estrangeiras podem penetrar a cultura nativa, desafiá-la e até mesmo contribuir para subvertê-la. “Quando você oferece uma tradução a uma nação”, diz Victor Hugo, “aquela nação quase sempre olhará para a tradução como um ato de violência contra si mesma”.

Não é de se admirar que as nações sempre têm sentido necessidade de alguma pessoa ou algumas pessoas em quem podem acreditar suficientemente para confiar a eles a tarefa de traduzir: o “fidus interpres” de Horácio, ou o tradutor fiel. É importante lembrar que a confiança é investida no produtor da tradução, e não necessariamente no produto. Tradutores “de confiança”, como aqueles que produziram a Septuaginta, produziram de fato o que geralmente se reconhece como uma tradução relativamente “ruim”, mas que continua até os dias de hoje a valer como a tradução “oficial” usada pela Igreja Ortodoxa Grega. A confiança pode ser mais importante do que a qualidade. Traduções em que os membros de uma comunidade passam a confiar podem significar para eles mais do que traduções das quais se afirma que podem representar melhor o original. Testemunha isto o seguinte excerto de uma das cartas de Santo Agostinho a São Jerônimo:

Quando um de nossos irmãos, um bispo, introduziu o uso de tua tradução na igreja onde ele é pastor, a congregação prendeu-se a uma passagem do profeta Jonas, que traduziste de uma forma muito diferente do que a forma que ele próprio havia estabelecido na mente e memória de todos, e do jeito que ela já vinha sendo cantada por muito tempo. Iniciou-se uma grande inquietação entre as pessoas, especialmente quando os gregos protestaram e começaram a fazer acusações cruéis de falsificação. Como resultado, o bispo – isto aconteceu na cidade de Onea – viu-se forçado a contar com os judeus que moravam na cidade para esclarecer o problema. Mas eles responderam, ou por ignorância ou por malícia, que os manuscritos hebreus continham exatamente a mesma coisa que os gregos e latinos. E então? Para escapar do grande perigo, o homem foi forçado a se corrigir, como se houvesse cometido um erro, uma vez que não queria perder os fiéis de sua igreja.

Obviamente, a confiança é mais importante quando se diz respeito ao texto central de uma cultura, um texto invocado para legitimar o poder daqueles que têm autoridade naquela cultura. Possivelmente, o Ocidente

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tenha dado tanta atenção à tradução apenas pelo fato de seu texto central, a Bíblia, ter sido escrito numa língua que não podia ser prontamente entendida, de forma que os ocidentais foram forçados a confiar em tradutores para legitimar poder. A alternativa a isso seria, naturalmente, não mais traduzir o texto central, mas fazer com que aqueles cujas vidas fossem regidas por ele com que aprendessem a língua em que fora escrito, ou que, pelo menos, submetessem-se aos movimentos necessários naquela direção, como no caso do Alcorão.

Huetius discute o problema em termos similares ao citar São Jerônimo, dizendo:

Na Escritura Sagrada, em que até mesmo a ordem das palavras é um mistério, e em que uma construção elaborada sem grande arte geralmente carrega consigo mais do que uma simples sentença, deve-se traduzir palavra por palavra. Já que maior parte da Escritura Sagrada não deve ser estudada por sua elegância, São Jerônimo admite que outros textos devem ser traduzidos de forma diferente, não seguindo, nem ele mesmo, seus próprios preceitos.

A fidelidade é uma coisa, a perícia, outra. Huetius não apenas aponta para o sempre existente abismo entre teoria e prática, entre aquilo que os tradutores pretendem fazer e aquilo que realmente fazem, mas também sugere que a fidelidade não precisa ser absoluta em todos os casos. Os tradutores podem ser confiados mais com textos que não são centrais para a cultura como um todo, pois, na pior das hipóteses, eles causarão apenas um dano limitado. Ou, em termos lingüísticos: diferentes tipos de textos precisam ser traduzidos de diferentes maneiras.

A mesma argumentação também se estendeu para outras culturas. Enquanto os tradutores mantinham num patamar alto as obras gregas e latinas, ao representar a expressão de culturas de prestígio dentro do ponto de vista do mundo ocidental, eles tratavam outras culturas, não imaginadas para desfrutar de prestígio similar, de fato, de maneira muito diferente. Edward Fitzgerald, tradutor do Rubayat de Omar Khayyam, por exemplo, escreveu a seu amigo E. B. Cowell em 1857: “É uma diversão para mim tomar as liberdades que eu gosto com esses persas, que (como penso) não são poetas o suficiente para impressionar outro poeta com as mesmas qualidades, e que realmente precisam de um pouco de arte para moldá-los”. O “pouco de arte” representa uma dose liberal de poética ocidental (o conceito aceito do que um poema deve ser) e do universo ocidental do discurso (pernas de cordeiro, não sentido como sendo suficientemente poético, é excluído da tradução do Rubayat), mas não da ideologia ocidental, já que o cerne da tradução é também demonstrar que outras sociedades foram capazes de viver com uma ideologia radicalmente diferente daquela dominante na época de Fitzgerald.

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Ainda assim, há uma situação na qual o Ocidente tradicionalmente permitiu que se tomassem liberdades com textos greco-latinos: a do aprendizado da língua, ou por um indivíduo ou por toda a nação. O “locus classicus” é provavelmente a seguinte afirmação de Cícero:

Eu decidi pegar discursos escritos em grego por grandes oradores e traduzi-los de forma livre, e obtive os seguintes resultados: dando uma forma latina ao texto que havia lido, eu pude não somente fazer uso das melhores expressões de uso comum em nossa nação, mas também cunhar novas expressões, análogas àquelas usadas em grego, e elas foram não menos bem recebidas por nosso povo, contanto que parecessem apropriadas.

Outras liberdades são permitidas aos tradutores naquilo a que somos tentados a chamar de “nível puramente lingüístico”, certamente se a tradução não for entendida como “representante” do original na cultura do tradutor, mas simplesmente de auxiliar dos tradutores no refinamento do conhecimento de sua própria língua. Se os tradutores tentam representar um texto que afirma representar o original em sua própria cultura, as liberdades no nível puramente lingüístico serão toleradas se consideradas capazes de aprimorar, aperfeiçoar e ampliar potencialmente a língua da cultura receptora. Nesse caso, os leitores podem julgar por si mesmos, já que eles não estão mais julgando a correspondência do original e tradução, mas, mais do que isso, o léxico da tradução, que é, afinal de contas, escrita em sua própria língua.

Mas, e se a língua não for considerada, a priori, um ornamento, algo pertencente mais ou menos preciso no âmbito da retórica, como o foi na Renascença? Se se concordar com Schleiermacher que “todo homem está no poder da língua que ele fala e todo o seu pensamento é um produto seu”, não é mais possível separar a “substância” de um texto de seus “ornamentos” e re-expressar esta substância por meio de diferentes ornamentos. Contrário ao que afirma Batteux, ao tradutor não mais serão “perdoadas todas as metáforas, contanto que ele tenha certeza de que o pensamento mantém o mesmo corpo e a mesma vida”. Se na crença de Schleiermacher, pré-wittgensteiniana e pré-desconstrucionista, o pensamento é inscrito e, em grande extensão, prescrito pela língua, a tradução aproxima-se do limite do impossível. Como nenhum homem pode abandonar seu próprio “jogo de linguagem”, a mera tentativa de fazê-lo é um crime.

Schleiermacher segue dizendo que “é um ato contra a natureza e a moralidade tornar-se um desertor de sua própria língua e entregar-se a uma outra”. Aqui reside a origem do conceito de que tradutores devem traduzir somente em suas línguas maternas, e que os tradutores são

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responsáveis pela integridade de ambas as culturas a que eles e os textos que traduzem pertencem. Mais do que “deixar o leitor em paz tanto quanto possível” e “mover o autor através dele”, tornando natural, assim, o que é estrangeiro, o tradutor deve, na opinião de Schleiermacher, deixar “o autor em paz, tanto quanto possível” e “mover o leitor através dele”. Uma tradução deve, portanto, soar “estranha” o suficiente para seu leitor para que ele possa discernir as obras da língua original que expressa o jogo de linguagem, a cultura da qual o original faz parte, irradiando-se através de palavras na página traduzida. Obviamente, este é um tipo de tradução já há muito não praticado em nossos dias e em nossa época, simplesmente porque o público para ela quase deixou de existir. Schleiermacher e alguns de seus contemporâneos produziram suas traduções não para um leitor monolíngue que não tinha acesso algum ao original, mas mais para o leitor educado capaz de ler original e tradução cotejados e, ao fazer isso, apreciar a diferença na expressão lingüística e expressar a diferença entre os dois jogos de linguagem.

A tradução, então, não é apenas um processo que ocorre na mente do tradutor. Os leitores decidem aceitar ou rejeitar traduções. Diferentes tipos de leitor exigirão diferentes tipos de tradução. Nas palavras de Goethe: “Se você quer influenciar as massas, uma tradução simples é a melhor. Traduções críticas visando ao original realmente são para uso somente de conversações que os eruditos têm entre si”. Goethe estava provavelmente pensando no tipo de tradução descrito no parágrafo anterior ao ter usado a expressão “traduções críticas”, mas tal expressão também pode ser perfeitamente usada para o tipo de tradução de uma obra de literatura que não é produzida com a intenção de representar seu original como literatura na cultura receptora. A tradução literal, a interlinear e outros tipos de tradução literária não têm obviamente o objetivo de influenciar as massas, mas mais de tornar o texto de uma obra literária estrangeira acessível à análise erudita sem fazê-la adentrar o corpus literário na cultura receptora, ainda que todas as traduções eruditas, em parte, reflitam a poética do tempo no qual foram escritas.

Ainda que a tradução literária possa influenciar, se não as massas, pelo menos a literatura de seu próprio tempo e de sua própria cultura. Para tanto, ela naturaliza completamente o original. A maioria de produtores deste tipo de tradução adota o conselho de Gaspard de Tende: “se você quer fazer uma boa tradução, então você deve não apenas fazer todo mundo falar de acordo com os hábitos e inclinações deles, mas também perceber que a forma com que eles se expressam apresenta-se em termos simples e naturais, que já passaram para o uso comum (corrente)”. Uma vez que você começa a naturalizar, entretanto, percebe que não pode simplesmente parar nas palavras. Mais do que isso, como Perrot

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d´Ablancourt discute isso no que provavelmente se constitui a primeira afirmação do tão vangloriado “princípio” da “equivalência dinâmica”:

Eu nem sempre fico preso às palavras do autor, nem mesmo a seus pensamentos. Eu mantenho o efeito que ele tinha em mente produzir, e então disponho o material segundo a tendência de nosso tempo. Tempos diferentes não apenas exigem palavras diferentes, mas também pensamentos diferentes, e os embaixadores geralmente se vestem segundo a moda do país para o qual são enviados, por medo de parecerem ridículos aos olhos das pessoas que tentam agradar.

Isto são palavras e tendências (ou objetos ou conceitos, que os lingüistas tendem a chamar de universo do discurso), mas há mais. Perrot d´Ablancourt diz, anteriormente, no mesmo ensaio:

Eu sou o último a me culpar por ter omitido aquilo que era muito pesado e suavizado o que estava muito livre, pelo menos em algumas passagens. Assim é que justifico minha conduta, e a tradução que eu tentei justifica-se pelas muitas vantagens que virão a público a partir de sua leitura deste autor.

Nem todos os feitos do original, pareceria, são aceitáveis para a cultura receptora, ou mais do que aqueles que decidem o que é ou deve ser aceitável para aquela cultura: os mecenas que comissionam uma tradução, que a publicam, ou vêem como ela é distribuída. O mecenas é a ligação entre o texto do tradutor e o público que o tradutor quer atingir. Se os tradutores não se enquadram nos parâmetros do aceitável tal qual definido pelo mecenas (um monarca absoluto, por exemplo, mas também um editor), as chances são de que sua tradução ou não atingirá o público pretendido ou que atingirá este público, na melhor das hipóteses, de forma indireta. Du Bellay estava bastante consciente do poder do mecenato quando concluiu seu conselho a tradutores com o quase nunca citado: “O que eu digo não é significante para aqueles que, no comando de príncipes e grandes senhores, traduzem os escritores gregos e latinos mais famosos, já que a obediência que se deve a essas pessoas não pode ser usada como desculpa nesses assuntos”. Não muito mais tarde, o Conde de Roscommon reflete uma mudança no mecenato em sua descrição dos (invasores) tradutores de seu próprio tempo: “Eu tenho pena de minha alma, infelizes homens / compelida pelo querer prostituir a pena / , que deve, como advogados, ou padecer de fome ou defender a alguém, / e seguir, certo ou errado, para onde o dinheiro conduz”. Talvez o mais eloqüente “tributo” ao poder do mecenato venha dos escritos de Martinho Lutero:

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Testamento. Ele confessa que meu alemão é suave e bom; percebeu que não podia melhorá-lo e quis destroçá-lo. Assim, tomou meu Novo Testamento, quase palavra por palavra, da forma como eu o compus, retirou meu prefácio, comentários e meu nome, e acrescentou seu prefácio, prefácio e comentários, e desta forma vendeu meu Novo Testamento com seu nome. Ah, queridos filhos, quanta dor me causou quando seu príncipe, num prefácio horroroso, condenou e proibiu ler o Novo Testamento de Lutero, e além disso recomendou a leitura do Novo Testamento do embusteiro, que na verdade é o mesmo que Lutero compôs. (Tradução de Mauri Furlan)

Se nada mais, esta afirmação deve ajudar a deixar de lado a persistente noção de que a tradução é principalmente uma questão de dicionários e gramáticas.

Mecenas circunscrevem o espaço ideológico dos tradutores; as críticas tendem a circunscrever seu espaço poetológico. Para tornar uma obra literária estrangeira aceitável para a cultura receptora, os tradutores geralmente a adaptarão à poética daquela cultura receptora. De la Motte, por exemplo, justifica reduzir a Ilíada a uma tradução com a metade da extensão do original, observando: “Uma audiência de teatro aceitaria ter personagens saindo durante os intervalos numa tragédia para nos contar o que iria acontecer a seguir? Ela aprovaria se as ações dos personagens principais fossem interrompidas pelo serviço dos confidentes? Certamente não.” Ele estava meramente adaptando o gênero épico às exigências do gênero dominante em sua época: a tragédia. Todos os elementos na épica homérica que fossem contra a poética da tragédia simplesmente tiveram de ser excluídos para que a tradução encontrasse uma audiência mínima.

Dois séculos mais tarde, Willamowitz-Moellendorff foi menos radi-cal quanto a uma solução para os problemas surgidos de uma possível diferença na poética entre a literatura do original e a literatura receptora, mas certamente ele é mais consciente disso; o que demonstra o conselho que ele dá aos tradutores em potencial: “Qualquer pessoa que queira tentar isto deve, em todo o caso, procurar uma forma germânica análoga ao original em atmosfera e estilo; que permita a ele decidir em que proporção ele pode adaptar-se, ele mesmo, à forma do original. Sua intenção como tradutor será um fator decisivo e assim será o seu entendimento do texto”. A alternativa, naturalmente, foi para que os tradutores introduzissem no-vas formas em suas literaturas natino-vas baseadas em formas que encontraram na literatura à qual pertenciam seus originais. Enquanto muitas inovações formais advêm mais do que de escritores, por seu próprio direito, a afirmação de Goethe, de que “devemos esperar que a história literária estabeleça plenamente quem foi o primeiro a pegar o caminho apesar dos muitos obstáculos”, tem, em muitos casos, se mantido um pouco mais do que uma afirmação vazia.

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Ao falarmos de “uma cultura” ou “da cultura receptora”, seria conveniente lembrar que culturas não são entidades monolíticas, mas que sempre há uma tensão dentro de uma cultura entre grupos diferentes, ou indivíduos, que querem influenciar sua evolução da forma que acham melhor. As traduções têm sido feitas com a intenção de influenciar o desenvolvimento de uma cultura. A afirmação de Lutero citada anteriormente torna isto abundantemente claro. As traduções têm sido feitas com a intenção de influenciar o desenvolvimento de uma literatura, e esta intenção é refletida no nível de cada um dos quatro limites sob os quais os tradutores operam. Ao discorrer sobre ideologia, Perrot d´Ablancourt estabelece o seguinte: “Realmente, há muitas passagens que traduzi palavra por palavra, pelo menos na medida em que isto é possível numa tradução elegante. Há também passagens nas quais considerei o que deveria ser dito, ou o que eu poderia dizer, mais do que o que o autor realmente disse”. O Abade Prévost comenta sobre o universo do discurso em sua tradução da Pamela de Richardson, ao observar:

Eu suprimi costumes ingleses onde eles poderiam parecer chocantes para outras nações, ou os tornei conformes aos costumes prevalecentes no restante da Europa. Pareceu a mim que aquelas reminiscências das velhas e rudes maneiras britânicas, que somente o hábito impede que os britânicos, eles mesmos, se dêem conta, desonraria um livro no qual as maneiras devessem ser nobres e virtuosas. Para dar ao leitor uma idéia acurada de meu trabalho, deixe-me apenas dizer, em termos conclusivos, que os sete volumes da edição inglesa, que somariam quatorze volumes dos meus próprios, foram reduzidos a quatro.

D´Alembert tem a poética em mente quando sugere que “nós não transferimos os clássicos em nossa língua para nos familiarizarmos com seus defeitos, mas, mais do que isso, para enriquecer nossa literatura com o que eles alcançaram de melhor. Traduzi-los em passagens não significa mutilá-los, mas sim pintá-los de perfil e para sua própria vantagem”. Gaspard de Tende refere-se aos gêneros e tipos de textos quando discute que “não seria aconselhável traduzir orações que precisam ser tratadas com alguma liberdade num estilo preciso, muito curto e seco, nem deveríamos traduzir parábolas, que precisam ser curtas e precisas, num estilo que permitira a elas mais flexibilidade”. E o Abade Delille refere-se a registro quando diz: “Sempre defendi que a fidelidade extrema em tradução resulta em infidelidade extrema. Uma palavra pode ser nobre em latim, e seu equivalente em francês pode ser medíocre”.

Os tradutores operam sob os limites listados acima. Eles, mais definitivamente, não o fazem num universo mecânico no qual não têm

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escolha. Ao contrário, eles têm a liberdade de se manter nos parâmetros marcados pelos limites, ou desafiar aqueles limites tendo de se mover além deles. Tradutores praticantes estão começando a ter consciência de tais limites e das formas que seus predecessores aconselharam a lidar com eles. Acadêmicos interessados no estudo da tradução e comunicação inter-cultural estão começando a perceber que o estudo da tradução é muito mais do que algo meramente normativo designado para assegurar a produção das “melhores” traduções possíveis. Nas palavras de D´Alembert: “Em todas as formas de escrita, a razão tem dado um pequeno número de regras, o capricho as tem estendido, e delas o pedantismo tem forjado os ferros que o preconceito respeita e que o talento não rompe”. A tradução é um problema tão complexo que não pode ser regulada nas formas tentadas no século XVIII ou posteriormente. Por ser um problema assim tão complexo, ela merece mais do que o tipo comum de crítica “identificar o erro” que, muito geralmente, acaba no nível do ataque pessoal. Seria conveniente lembrar as palavras de Leonardo Bruni: “E pode um homem não ser um bom homem e ainda ou ser completamente ignorante em tudo o que diz respeito à escrita ou não ter a extensa experiência que exijo dele? Eu não denomino uma pessoa assim um homem ruim, mas simplesmente um tradutor ruim”.

Esta coletânea é uma tentativa de influenciar a direção na qual os Estudos da Tradução podem se desenvolver de forma mais proveitosa. A tradução precisa ser estudada em conexão com poder e mecenato, ideologia e poética, com ênfase nas várias tentativas para sustentar ou minar uma ideologia existente ou uma poética existente. Precisa também ser estudada em conexão com tipo textual e registro, e em conexão com tentativas para integrar diferentes universos de discurso. Os Estudos da Tradução começaram a enfocar as tentativas de tornar os textos acessíveis e para manipulá-los a serviço de certas poéticas e / ou ideologia. Vista desta forma, a tradução pode ser estudada como uma das estratégias que a cultura desenvolve para lidar com o que extrapola os seus limites e para manter seu próprio caráter enquanto assim agindo – o tipo de estratégia que, em último caso, pertence ao âmbito de mudança e sobrevivência, não em dicionários e gramáticas.

ANNE DACIER, 1647-1720, tradutora e filóloga francesa.

Excerto da introdução a sua tradução da Ilíada, publicada em 1699. Todas as dificuldades que ponderei podem ser reduzidas a cinco. A primeira se origina tanto da natureza das coisas quanto da natureza do poema, em geral, cuja arte é completamente oposta àquele falso conceito de arte a que me referi algum tempo atrás. Como pode alguém se iludir

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pensando que será capaz de dar a nosso século gosto para esses poemas austeros? Ao mesmo tempo em que eles contêm instruções úteis escondidas sob um tema inventado com grande engenho, falham em despertar nossa curiosidade, já que consideramos comoventes e interessantes apenas as aventuras que lidam com amor.

A segunda dificuldade tem origem nas alegorias e fábulas de que estão cheios estes poemas de Homero. Na maioria dos casos, essas alegorias mostram-nos meramente o exterior, que não temos o poder para adentrar. Ao fazer assim, eles nos previnem de sentir a beleza daquele grande poema e até mesmo nos leva a julgar erroneamente seu espírito.

A terceira dificuldade origina-se das características dos costumes e feitos destes tempos heróicos, que parecem muito rudes para nosso século, e muitas vezes até mesmo desprezíveis. Nós presenciamos Aquiles, Patroclos, Agamenon, e Ulisses desempenhando atos que consideramos servis. Como eles podem ser recebidos, em nossa época, por pessoas acostumadas aos heróis de nossos romances, tão bem educados, eternamente doces, polidos e limpos?

A quarta dificuldade origina-se das ficções de Homero, que nos parecem de dificílimo alcance nos dias de hoje, e demasiadamente fora do âmbito da verossimilhança em que esperamos viver. Como podemos nos ousar a levar nosso século a aceitar elementos de três pés caminhando por aí e até mesmo participando de assembléias? Ou estátuas de ouro auxiliando Vulcano em seu trabalho? Ou cavalos falantes e muitas outras invenções dessa espécie?

E, finalmente, a quinta dificuldade, que mais me desencorajou: a grandeza, a nobreza e a harmonia de dicção de que ninguém nunca se aproximou. Isto não está apenas além de minhas possibilidades, mas talvez até mesmo além das possibilidades de nossa própria língua.

Todas essas causas, por medo, foram diminuindo minha coragem, mas, no fim, percebi que nossa ignorância quanto à natureza da épica, que tem nos acompanhado por tanto tempo, havia sido agora inteiramente dissipada por dois excelentes livros sobre o assunto. Um é o Treatise on Epic Poetry, escrito pelo Reverendo Le Bossu, cânone regular de Ste. Geneviève, em que aquela erudição religiosa aprendida elucida admiravelmente a arte dos poemas de Homero e de Virgílio aplicando a eles as regras de Aristóteles. O outro é a Poética de Aristóteles, traduzido para o francês e enriquecido com comentários que, ao mostrar ao leitor o quão verdadeiras e certas estas regras são, ponderando-as em sua própria razão e experiência, encontrou admirável sucesso. Eu imaginava que estes dois livros haviam preparado o caminho de minha tradução, por assim dizer, e que depois de uma explicação tão maravilhosa das regras, eu poderia me aventurar a colocar em nossa língua os poemas que constituem os

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exemplos sobre os quais as regras se basearam.

Algumas pessoas dizem que há um jeito melhor de abordar o origi-nal, que é traduzi-lo em verso porque, eles adicionam, poetas devem ser traduzidos em verso, caso haja intenção de se preservar todo o ardor da poesia. Certamente não haveria nada melhor se isto fosse possível. Mas é um erro achar que este é o caso e, segundo penso, é possível mostrar que isso é um erro. Eu ousei dizer isto anteriormente em meu prefácio à tradução de Anacreon, e desde então tenho sido completamente confirmada em meu julgamento pela falta de sucesso com que têm deparado muitas traduções em verso. Elas não tiveram sucesso, não porque seus autores não tinham suficiente talento, já que alguns deles desfrutam de boa reputação, que devem à poesia. Ao contrário, elas não encontraram sucesso porque a coisa, em si, é impossível, e argumentos racionais podem ser levados em consideração para mostrar o motivo pelo qual são assim.

Um tradutor pode dizer em prosa qualquer coisa que Homero disse, mas ele jamais pode fazê-lo em verso, certamente não em nossa língua, na qual ele necessariamente deve alterar, adicionar e excluir. E o que Homero pensou e disse é certamente mais valioso do que tudo o que você é forçado a colocar em sua boca se traduzi-lo em verso, mesmo se os resultados em prosa forem mais simples e menos poéticos.

Esta é a primeira razão. Há uma outra, e eu já a expliquei: nossa poesia é incapaz de reproduzir toda a beleza de Homero e de alcançar o peso que ele alcançou. Ela será capaz de segui-lo em alguns poucos aspectos selecionados. Ela conseguirá se manter no mesmo nível em duas, quatro, talvez seis linhas. Mas, no final, a textura será tão frágil que o resultado será completamente débil. E o que é pior do que uma poesia fria e débil, especialmente quando tudo o que abandona o nível de excelência em poesia se torna intolerável?

Quando falo de uma tradução prosaica, não quero dizer uma tradução servil. O que quero dizer é uma tradução generosa, uma tradução nobre que se mantém próxima às idéias de seu original, tenta estar em conformidade com a beleza de sua língua, e produz suas imagens sem austeridade excessiva de expressão. O primeiro tipo de tradução, o servil, torna-se muito infiel porque tenta ser escrupulosamente fiel. Ele arruína o espírito ao tentar salvar a literacidade. É o trabalho de um talento frio e estéril. O segundo tipo de tradução, por outro lado, que tenta acima de tudo salvar o espírito, não falha ao manter a literacidade, mesmo onde toma as maiores liberdades. Com seus feitos ousados, que permanecem fiéis sempre, ela se torna não apenas a cópia fiel do original, mas também um segundo original por direito próprio. Ela pode apenas ser o trabalho de um escritor talentoso: sólida, nobre e produtiva.

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certas pessoas que tendem a ter uma idéia muito pouco enaltecida e altamente errônea do que sejam as traduções, principalmente porque são quase totalmente ignorantes quanto à natureza e à beleza dos clássicos. Eles imaginam a tradução como uma imitação servil na qual a ornamentação do espírito e a imaginação não desempenham papel algum. Em uma palavra, eles acham que a tradução não é criativa. Este é certamente um erro imenso. Uma tradução não é a cópia de uma pintura em que o copiador deseja seguir as linhas, as proporções, as formas, as atitudes do original que ele imita. Uma tradução é algo totalmente diferente: um bom tradutor não trabalha sob tais limites. Na maioria das vezes, ele é como um escultor que tenta recriar o trabalho de um pintor, ou como um pintor que tenta recriar o trabalho de um escultor. Ele é como Virgílio, que descreve Lacon de acordo com o original em mármore, a admirável criação que ele pode ver diante de seus olhos. Em sua imitação, como em todas as outras, a alma deve ser preenchida com a beleza que se quer imitar. A alma deve ficar impregnada das exalações alegres emergindo daquelas fontes férteis e deve permitir, ela mesma, ser apanhada e transportada por aquele estranho entusiasmo. Ela deve então proceder a tornar aquele entusiasmo seu próprio entusiasmo e, ao agir assim, produzir imagens e expressões que são bastante diferentes, mesmo sendo similares. Talvez eu possa esclarecer melhor se fizer uma comparação com a música. O mundo é cheio de músicos muito experimentados em sua arte e que cantam exata e rigorosamente todas as notas com as quais se deparam. Eles não cometem um mínimo erro sequer, já que são frios, pouco talentosos e fracassam em compreender o espírito com que essas canções foram compostas. Portanto, eles nem podem colocar graça nelas, nem a alegria que é sua alma. Mas há outros músicos também, mais atenciosos e agraciados com um talento mais propício, que cantam estas canções no espírito em que elas foram compostas, que salvaguardam toda sua beleza e as fazem parecer muito diferentes, embora sejam as mesmas. E esta é exatamente a diferença en-tre boas e más traduções, a menos que eu esteja muito enganado. Más traduções traduzem o literal sem o espírito numa imitação baixa e servil. Boas traduções mantêm o espírito sem se afastar da literacidade. Elas são imitações livres e nobres que transformam o familiar em algo novo.

REFERÊNCIA

BASSNETT, Susan and LEFEVERE, André. Translation / History / Culture, a sourcebook, London: Routledge, 1992.

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