Avaliação externa de escolas:
Análise dos resultados do 1º ciclo de avaliação
Carlos Barreira
Maria da Graça Bidarra Piedade Vaz-Rebelo
Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra 27 de Outubro de 2012
Seminário "Avaliação Externa de Escolas: Princípios,
Processos e Efeitos“ FPCEUP
Objetivo geral
Divulgar alguns estudos realizados
com base nos dados obtidos no 1º
ciclo de avaliação externa de
escolas.
Questões de investigação
Qual o desempenho das escolas nos
diferentes domínios do quadro de referência
da AAE?
Quais as principais tendências que nos
revelam os dados obtidos no processo de AAE no
1º ciclo de avaliação?
Coimbra
29 de Outubro de 2009
Domínios e Factores de Avaliação
4. Liderança 1.1. Sucesso académico
1.2. Participação e desenvolvimento cívico 1.3. Comportamento e disciplina
1.4. Valorização e impacto das aprendizagens
2. A prestação do serviço educativo 2.1. Articulação e sequencialidade
2.2. Acompanhamento da prática lectiva em sala de aula
2.3. Diferenciação e apoios
2.4. Abrangência do currículo e valorização dos saberes e da aprendizagem
3. A organização e gestão escolar 3.1. Concepção, planeamento e
desenvolvimento da actividade 3.2. Gestão dos recursos humanos
3.3. Gestão dos recursos materiais e financeiros 3.4. Participação dos pais e outros elementos da comunidade educativa 3.5. Equidade e justiça 1. Resultados 4.1. Visão e estratégia 4.2. Motivação e empenho 4.3. Abertura à inovação 4.4. Parcerias, protocolos e projectos
5. Capacidade de auto-regulação e melhoria da Escola/Agrupamento 5.1. Auto-avaliação
Níveis da escala de avaliação
As classificações dos domínios e fatores que constituem o quadro
de referência são atribuídas numa escala qualitativa com quatro
níveis:
Muito Bom
Bom
Suficiente
Insuficiente
A distinção entre estes níveis faz-se tendo em conta:
O balanço entre o número de pontos fortes e fracos;
O carácter mais ou menos generalizado das ações e
procedimentos eficazes adotados pela unidade de gestão;
Pareceres do Conselho Nacional de Educação
nº5 de 2008 e nº3 de 2010
Alertam para a existência de uma certa tensão entre as
duas lógicas avaliativas presentes na AEE: a lógica
formativa e a lógica sumativa.
Referem algumas redundâncias entre alguns domínios e
fatores.
Apontam para o interesse de uma eventual hierarquização
dos domínios de avaliação e de uma explicitação dos
indicadores de cada fator e a respetiva ponderação.
Necessidade de reforçar a centralidade dos resultados.
Desempenho das escolas nos diferentes domínios
Principais tendências
Estudo A
Metodologia
Questões de investigação: Qual é o desempenho das escolas
nos diferentes domínios e quais são as principais tendências que
se evidenciam a partir da análise das classificações por domínios
das escolas avaliadas?
Base de dados
Relatórios publicados pela IGE sobre a Avaliação Externa de
Escolas, relativos a quatro anos letivos, entre 2006 e 2010
(IGE, 2008, 2009, 2010, 2011).
o
2006-2007: 100 escolas
o2007-2008: 273 escolas
o2008-2009: 287 escolas
o2009-2010: 300 escolas
Estudo A
Metodologia
Procedimentos
Por conveniência de representação gráfica e de análise da
evolução da classificação nos diferentes domínios, a escala de classificação nos quatro níveis de Insuficiente, Suficiente, Bom e
Muito Bom, foi convertida numa escala de 1 a 4.
Em seguida, para cada ano letivo, foi calculada a pontuação de
cada domínio pesando cada valor da escala com a respetiva percentagem com que o domínio aparece. Por exemplo, para o ano letivo 2006-2007, o domínio Liderança obtém a pontuação de (40x4+43x3+16x2+1x1)/100=3.22.
Percentagens dos níveis de classificação atribuídos às escolas
por ano letivo em função dos domínios do quadro de referência
1 2 3 4 2006_2007 2007_2008 2008_2009 2009_2010 C la ss if ic aç ão (1 -i n su f 4 -M .B om ) Ano académico Resultados
Prestação do serviço educativo Organização e gestão escolar Liderança
Capacidade de auto-regulação e melhoria da escola
Classificação dos Domínios
Predomínio de níveis de classificação positivos em todos os domínios,
correspondentes a Bom e Muito Bom, com exceção do domínio
Capacidade de autorregulação e melhoria da escola.
Esta tendência não só se manteve, como se tem manifestado de forma
crescente, com exceção do ano de 2007-2008.
Níveis de classificação mais elevados na Liderança e Organização e
Gestão, seguidos de Prestação do Serviço Educativo e Resultados.
O domínio em que estes níveis são inferiores é o da Capacidade de
autorregulação e melhoria da escola, em que se regista mesmo um
decréscimo das classificações, vindo a atingir-se um valor próximo do inicial no último ano.
Padrões de associação entre domínios
e entre fatores e domínios
Estudo B
Metodologia
Questões da investigação: Quais os fatores mais associados ao respetivo
domínio? Quais os fatores que se constituem como melhores preditores relativamente às classificações no domínio? Em que medida é possível dar conta da existência de ponderações implícitas entre os fatores dos respetivos domínios?
Objetivo: Conhecer o padrão de intercorrelações entre domínios e entre
fatores e domínios.
Base de dados: Este estudo foi efetuado com uma base mais restrita, que
compreendeu 167 escolas da zona centro dos anos letivos de 2007-2008, 2008-2009 e 2008-2009-2010.
Procedimento: Conversão da escala de 4 níveis (Insuficiente. Suficiente,
Bom, Muito Bom) usada no âmbito da AEE em 1, 2, 3, 4, à semelhança do que foi feito no estudo 1.
Análise estatística: Análise de correlação/regressão múltipla para cada um
dos domínios, tomando como variável critério a pontuação do domínio e como variáveis preditoras as pontuações nos fatores.
Correlações interdomínios
Domínios Dom 1 Dom 2 Dom 3 Dom 4 Dom 5
Domínio 1: Resultados 1.00 — — — —
Domínio 2: Prestação do Serviço Educativo .66 1.00 — — —
Domínio 3: Organização e Gestão Escolar .44 .38 1.00 — —
Domínio 4: Liderança .54 .47 .61 1.00 —
Domínio 5: Capacidade de Auto-Regulação e Melhoria da Escola .39 .48 .50 .58 1.00
• Os domínios aparecem todos positivamente correlacionados entre si.
• Existem correlações mais elevadas entre os domínios Prestação do
serviço educativo e Resultados, por um lado, e Liderança e Organização e gestão, por outro, ainda que as restantes correlações
Análise em Componentes Principais (Rotação VARIMAX)
Saturações
Domínios Componente 1 Componente 2
Domínio 3: Organização e Gestão Escolar .84 .18
Domínio 4: Liderança .79 .36
Domínio 5: Capacidade de Auto-Regulação e Melhoria da Escola .77 .27
Domínio 2: Prestação do Serviço Educativo .26 .88
Domínio 1: Resultados .29 .86
Valores Próprios 2.06 1.74
Percentagem de Variabilidade Explicada 41.2 34.8
Esta análise permite-nos fazer uma leitura dos padrões de associação subjacentes a esta matriz, sendo identificados dois componentes principais que explicam respetivamente 41.2% e 34.8% da variabilidade.
1ºcomponente
2ºcomponente
Aspetos
estruturais/
organizacionais
da escola
Organização e gestão Liderança Capacidade de autorregulação e melhoria da escolaAspetos
funcionais/
pedagógicos
Prestação do serviço educativo
Resultados
Quais são os fatores que se constituem como melhores preditores do respetivo domínio?
Ou dito de outro modo, se se tivesse de reduzir os fatores por domínio, quais se mantinham?
A n á l i s e d a c o r r e l a ç ã o / r e g r e s s ã o m ú l t i p l a • V a r i á v e l c r i t é r i o : p o n t u a ç ã o d o d o m í n i o • V a r i á v e i s p r e d i t o r a s : p o n t u a ç õ e s n o s f a t o r e s 3 n í v e i s d e a n á l i s e • C o e f i c i e n t e d e c o r r e l a ç ã o m ú l t i p l a • C o e f i c i e n t e d e c o r r e l a ç ã o s i m p l e s • D e c o m p o s i ç ã o d e R2
A pontuação no domínio não pode ser integralmente
derivada dos factores; caso isto acontecesse, então R = 1.00
Para cada factor, tomado isoladamente, a correlação com o domínio indica o respectivo valor preditivo.
A análise dos
contributos únicos dos fatores permite-nos
identificar a redundância dos diferentes factores na classificação no domínio
Domínio 1: Resultados R = .92 R2 = .85
Fatores r sr2
F1 – Sucesso académico .87 .23
F2 – Participação e desenvolvimento cívico .58 .03
F3 – Comportamento e disciplina .57 .02
F4 - Valorização e impacto das aprendizagens .71 .01 R2 − sr2= .57
Hipótese
O quadro de referência dos avaliadores envolve uma ponderação diferencial dos fatores.
Domínio 1: Resultados R = .92 R2 = .85
Fatores r sr2
F1 – Sucesso académico .87 .23 F2 – Participação e desenvolvimento cívico .58 .03 F3 – Comportamento e disciplina .57 .02 F4 - Valorização e impacto das aprendizagens .71 .01
R2 − sr2= .57
Domínio 2: Prestação do Serviço Educativo R = .84 R2 = .70
Fatores r sr2
F1 – Articulação e sequencialidade .75 .10 F2 – Acompanhamento da prática letiva em sala de aula .63 .01 F3 – Diferenciação e apoios .61 .05 F4 – Abrangência do currículo e valorização dos saberes .59 .03
R2 − sr2= .51
Domínio 3: Organização e Gestão Escolar R = .89 R2 = .79
Fatores r sr2
F1 – Conceção/planeamento/desenvolvimento da atividade .76 .05 F2 – Gestão dos recursos humanos .73 .04 F3 - Gestão dos recursos materiais e financeiros .63 .03 F4 – Participação dos pais e de outros elementos da
comunidade .55 .02 F5 – Equidade e justiça .61 .02 R2 − sr2= .62 Domínio 4: Liderança R = .88 R2 = .78 Fatores r sr2 F1 – Visão e estratégia .77 .07 F2 – Motivação e empenho .70 .08 F3 – Abertura e inovação .63 .02 F4 – Parcerias, protocolos e projetos .66 .03
R2 − sr2= .58
Domínio 5: Capacidade de Autorregulação e Melhoria da Escola R = .90 R2 = .80 Fatores r sr2 F1 - Autoavaliação .85 .17 F2 - Sustentabilidade e progresso .80 .07 R2 − sr2= .56
Domínio 1: Resultados
Fatores
F1 – Sucesso académico
F2 – Participação e desenvolvimento cívico
Domínio 2: Prestação do Serviço Educativo
Fatores
F1 – Articulação e sequencialidade F3 – Diferenciação e apoios
Domínio 3: Organização e Gestão Escolar
Fatores
F1 – Conceção/planeamento/desenvolvimento da atividade F2 – Gestão dos recursos humanos
Domínio 4: Liderança
Fatores
F1 – Visão e estratégia F2 – Motivação e empenho
Domínio 5: Capacidade de Autorregulação e Melhoria da Escola
Fatores
F1 - Autoavaliação
Hipótese
O quadro de referência dos avaliadores envolve uma ponderação diferencial dos fatores.
Ponderação igual para todos os factores
Ponderação 2 para o 1º factor e 1 para os restantes.
Reproduz parcialmente as
classificações atribuídas.
Reproduz de forma quase
perfeita as classificações
atribuídas.
Para testar a hipótese da ponderação diferencial dos fatores, formulámos dois modelos hipotéticos de ponderação
Média Aritmética (Ponderacão Igual) dos Factores do Domínio Resultados
1 2 3 4 4 R R R R R 1 2 3 4 .25 .25 .25 .25 R R R R R
Conversão das Classificações nos Factores
Insuficiente 1 Suficiente 2 Bom 3
Muito Bom 4 Média Aritmética (Ponderação Diferencial)
dos Factores do Domínio Resultados
1 2 3 4 2 5 R R R R R 1 2 3 4 .40 .20 .20 .20 R R R R R
Conversão das Médias nos Domínios
1.00 R 1.50 Insuficiente
1.50 R 2.50 Suficiente
2.50 R 3.50 Bom
3.50 R 4.00 Muito Bom
Cruzamento das Classificações Atribuídas com as Classificações Esperadas de Acordo com o Modelo de Ponderação Igual
Classificações Esperadas
Insuficiente Suficiente Bom Muito_Bom Total
C la ss if ic a ç õ e s A tr ib u íd a s Insuficiente 0 2 0 0 2 Suficiente 0 24 26 0 50 Bom 0 0 75 16 91 Muito Bom 0 0 0 24 24 Total 0 26 101 40 167
Classificações convergentes: 123 Escolas (73.7%)
Classificações não convergentes: 44 Escolas (26.3%)
Cruzamento das Classificações Atribuídas com as Classificações Esperadas de Acordo com o Modelo de Ponderação Diferencial
Classificações Esperadas
Insuficiente Suficiente Bom Muito_Bom Total
C la ss if ic a ç õ e s A tr ib u íd a s Insuficiente 0 2 0 0 2 Suficiente 0 49 1 0 50 Bom 0 0 89 2 91 Muito Bom 0 0 0 24 24 Total 0 51 90 26 167
Classificações convergentes: 162 Escolas (97.0%)
Conclusões
Não existem ponderações explícitas dos fatores e
domínios no quadro de referência da AEE, mas
existem ponderações implícitas no quadro de
referência dos avaliadores.
Os dados obtidos dão algum apoio ao novo
quadro de referência do novo ciclo de avaliação,
que envolve já uma redução de domínios e uma
redução de fatores.
Implicações
É possível:
reduzir os fatores aos preditores, o que em certa
medida já se verifica no novo quadro de
referência.
estabelecer um quadro explícito de ponderação e
NOVO CICLO: QUADRO DE REFERÊNCIA
DOMÍNIOS
RESULTADOS
PRESTAÇÃO DO SERVIÇO
EDUCATIVO
LIDERANÇA E GESTÃO
CAMPOS DE ANÁLISE
RESULTADOS ACADÉMICOS RESULTADOS SOCIAIS RECONHECIMENTO DA COMUNIDADE PLANEAMENTO E ARTICULAÇÃO PRÁTICAS DE ENSINO MONITORIZAÇÃO E AVALIAÇÃO DAS
APRENDIZAGENS
LIDERANÇA GESTÃO
OBRIGADA PELA VOSSA ATENÇÃO!
•
Barreira, C., Bidarra, G., & Vaz-Rebelo, M. P. (2011).
Avaliação externa de escolas: Do quadro de
referência aos resultados e tendências de um
processo em curso. Revista Portuguesa de
Pedagogia, Extra-Série, 81-94.
ESCALA DE AVALIAÇÃO
EXCELENTE- A acção da escola tem produzido um impacto consistente e muito acima dos
valores esperados na melhoria das aprendizagens e dos resultados dos alunos e nos respectivos
percursos escolares.Os pontos fortes predominam na totalidade dos campos em análise. A escola distingue-se pelas práticas exemplares em campos relevantes
MUITO BOM- A acção da escola tem produzido um impacto consistente e acima dos valores
esperados na melhoria das aprendizagens e dos resultados dos alunos e nos respectivos percursos
escolares.Os pontos fortes predominam na totalidade dos campos em análise, em resultado de práticas organizacionais generalizadas e eficazes.
BOM- A acção da escola tem produzido um impacto em linha com o valor esperado na melhoria
das aprendizagens e dos resultados dos alunos e nos respectivos percursos escolares. A escola apresenta uma maioria de pontos fortes nos campos em análise, em resultado de práticas organizacionais eficazes.
SUFICIENTE- A acção da escola tem produzido um impacto aquém dos valores esperados na
melhoria das aprendizagens e dos resultados dos alunos e nos respectivos percursos escolares. As acções de aperfeiçoamento são pouco consicstentes ao longo do tempo e envolvem áreas limitadas da escola
INSUFICIENTE- A acção da escola tem produzido um impacto muito aquém dos valores
esperados na melhoria das aprendizagens e dos resultados dos alunos e nos respectivos percursos
escolares.Os pontos fracos sobrepõem-se aos pontos fortes na generalidade dos campos em análise. dos campos em análise. A escola não revela uma prática coerente, positiva e coesa.