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O REGIME DAS INFRAÇÕES E DOS CRIMES NAS LICITAÇÕES

Elisangela Palmas da Cruz Landgraf1 Luiz Antônio Pinheiro2 Thais Janine Aparecida de Souza3

RESUMO: Este artigo procura explicar as diferenças fundamentais entre o regime das infrações

e dos crimes nas licitações, bem como apontar as penalidades e sanções administrativas quando da ocorrência destes crimes, tanto no âmbito penal quanto no cível.

PALAVRAS CHAVES: crimes; infrações; sanções; multas; licitações.

ABSTRACTS: This article intends to explain the basic differences between the regimen of the

infractions and the crimes in licitations, and also to point the penalties and administrative sanctions in case of the occurrence of these crimes, in the criminal scope and in the civil court jurisdiction as well.

KEY-WORDS: crimes; infractions; sanctions; fines; licitations.

1 Aluna do curso de Direito da Faculdade Metropolitana ISEB – E-mail: elisangelalandgraf@yahoo.com.br

2 Aluno do curso de Direito da Faculdade Metropolitana IESB – E-mail: lapi2002@bol.com.br

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1 INTRODUÇÃO

A Lei n.8.666,de 21 de junho de 1993 contém relevantes inovações em relação ao tema que se pode chamar de crimes nas licitações. Há vários tipos penais previstos na referida lei que correspondem a condutas já incriminadas no Código Penal. 4

O Art. 83 da Lei n.8666/93 tem a seguinte redação: “Os crimes definidos nesta Lei, ainda que simplesmente tentados, sujeitam os seus autores, quando servidores públicos, além das sanções penais, à perda do cargo, emprego, função ou mandato eletivo”.

O referido artigo sujeita o condenado que seja servidor público a uma sanção penal além de uma sanção de natureza administrativa, qual seja, a de perda do cargo ou mandato, devendo ser ambas aplicadas cumulativamente.

Embora a Lei de Licitações não contenha regra expressa sobre a aplicação do Código Penal, este se aplica de forma subsidiária, por conta do Art. 12 da referida Lei, que indica a aplicação de lei especial, no caso de omissão da Lei.

A perda do cargo ou mandato é uma punição administrativa. Trata-se do chamado poder disciplinar que somente é exercido internamente, ou seja, é um poder voltado para o interior da Administração Pública, não podendo ser confundindo com o poder punitivo do Estado, realizado por meio da justiça penal, tratando-se de jurisdições distintas.

Ademais, em conformidade com a Constituição Federal, e os sub-ordenamentos que dela emanam, a Administração Pública se sujeita a um regime jurídico próprio composto de

4 LEONARDO, Marcelo. Crime de Responsabilidade Fiscal: crimes contra as finanças públicas; crimes nas

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normas e princípios próprios que, dentre suas instituições contempla a discricionalidade administrativa que lhe permite a punição unilateral dos adminitrados, sem excluir do judiciário a apreciação de eventuais condutas também tipificadas como crime, as quais estarão sujeitas a aplicação de pena.

2 ASPECTOS GERAIS DA LICITAÇÃO

Na doutrina clássica de HELY LOPES MEIRELLES, "licitação é o procedimento administrativo mediante o qual a Administração Pública seleciona a proposta mais vantajosa para o contrato de seu interesse"5. Visa a proporcionar igualdade de condições entre todos aqueles que desejam contratar com a Administração e, ao mesmo, tempo, garantir a moralidade e eficiência na gestão da coisa pública.6

A obrigatoriedade da licitação tem assento constitucional no Art. 37, XXI que trata da Administração Pública:

Visando regulamentar esse dispositivo constitucional, surge a Lei Federal nº. 8.666/93, editada em obediência ao Art. 22, XXVII, da CF/1988, segundo o qual compete privativamente à União legislar sobre normas gerais de licitação e contratação.7

O chamado Poder Disciplinador corresponde ao dever de punir, ou seja, não é ato discricionário da administração, sendo apenas discricionário a escolha de qual sanção a ser imposta.

5 MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo. 26. ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2001. p. 256

6 ROLD ROESTER<http:/www.juristas.com.br >. Acesso em: 18 de novembro de 2005 às 14h.

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A apuração de qualquer falta funcional dos agentes públicos exige sempre a observância de procedimento legal, assegurada à ampla defesa e o contraditório (CF, Art. 5º, LV). Admite-se a revisão judicial da sanção imposta sempre que não corresponder requisitos de validade.8

3 PRINCÍPIOS NORTEADORES DO PROCEDIMENTO LICITATÓRIO

A própria Lei n.º 8.666/93 enumera princípios explícitos em seu Art. 3.º:

Art. 3º. A licitação destina-se a garantir a observância do princípio constitucional da isonomia e a selecionar a proposta mais vantajosa para a Administração e será processada e julgada em estrita conformidade com os princípios básicos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da igualdade, da publicidade, da probidade administrativa, da vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo e dos que lhe são correlatos.

Entre os princípios correlatos que se refere o artigo, podemos destacar o da obrigatoriedade (Art. 2.º), da competitividade (Art. 90), do procedimento formal (Art. 4.º, parágrafo único), do sigilo das propostas (Art. 3.º, §3.º) e o da adjudicação compulsória ao vencedor (Art. 50). A violação dos princípios pode ensejar a nulidade do certame licitatório, bem como a prática de ato de improbidade administrativa (Lei n.º 8.426/92), sem prejuízo da ação penal cabível (Arts. 89-98).

4 APLICAÇÕES DE MULTAS E RESTRIÇÃO DA LIBERDADE

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Ficarão privados de liberdade os crimes, como que a lei 8666/93, trouxer como crimes, ou seja, a lei tem que dizer previamente qual conduto tipificada enseja a pena de restrição de liberdade, bem como os punidos com multas. Tais normas regulam os crimes no âmbito da Administração, como já apresentado e não devem ser confundidas com as regras punitivas do Código Penal, já que as primeiras visam a punir os ingerenciamento nas Administrações, sanando assim o que podemos chamar de erros e vícios dos procedimentos licitatórios.

Embora essas normas restrinjam a liberdade de seus agentes, não estabelecem tipificações próprias dos tipos penais. Ao agente que cometer um crime, aplica-se as leis penais contidas no Código Penal.

Ao se referir à punição administrativa, deve-se ter em mente que não se aplica estas formas de sanções. A estes agentes são aplicadas sanções definidas no âmbito da Administração Pública que não são contempladas mediante processo legislativo ordinário de aprovação das leis que prima pela conjugação da vontade geral. Por isso, atualmente, tem-se verificado uma crescente fiscalização por parte dos cidadãos que têm denunciando em maior volume irregularidades, utilizando-se da prerrogativa de que qualquer cidadão e parte interessada, no tocante a realização de obras e atos dos agentes públicos pode e deve fiscalizar a Administração.9

As relações estabelecidas no âmbito administrativo devem sempre ser analisadas por conta do sistema constitucional que serve de fundamento de validade para todo ordenamento jurídico. Assevera Juarez Freitas: “As relações jurídico-administrativas orientam-se

9 FREITAS apud BACELLAR, Romeu Felipe Filho: Princípios Constitucionais do Processo Administrativo

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pelo sistema de princípios, normas e valores regentes da administração pública, de molde a respeitar os direitos e garantias fundamentais dos administrados”.10

5 DIREITO PENAL DAS LICITAÇÕES

Art. 89. Dispensar ou inexigir licitação fora das hipóteses previstas em lei, ou deixar de observar as formalidades pertinentes à dispensa ou à inexigibilidade:

Parágrafo único. Na mesma pena incorre aquele que, tendo comprovadamente concorrido para a consumação da ilegalidade, beneficiou-se da dispensa ou inexigibilidade ilegal, para celebrar contrato com o Poder Público.

O legislador buscou com este artigo garantir a franqueza nas concorrências, em que a oferta que garantir melhores condições será escolhida. Também buscou garantir a moralidade administrativa na licitação.

A consumação do crime tipificado neste artigo se dá quando o agente público contrata uma obra ou serviço, adquiri ou loca imóvel sem a necessária licitação. Também se consuma a conduta deste artigo se o agente não observar as formalidades relativas á dispensa ou à inexigibilidade.

Com relação ao parágrafo único deste artigo, a conduta se consuma com a vantagem da dispensa ou da inexigibilidade.

Art. 90 Frustrar ou fraudar, mediante ajuste, combinação ou qualquer outro expediente, o caráter competitivo do procedimento licitatório, com o intuito de obter, para si ou para outrem, vantagem decorrente da

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adjudicação do objeto da licitação: Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

Como no Art. 89 o legislador, neste artigo também buscou garantir a moralidade administrativa e a lisura no processo da licitação, sendo os beneficiados o Estado e os concorrentes da licitação.

Para se consumar o crime tipificado neste artigo é necessário que o recurso utilizado pelo concorrente venha a frustrar ou fraudar o caráter competitivo da licitação.

Art. 91 Patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado perante a Administração, dando causa à instauração de licitação ou à celebração de contrato, cuja invalidação vier a ser decretada pelo Poder Judiciário: Pena detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Este artigo se assemelha a infração penal contida no Art. 321 do Código Penal. A diferença está em que o Art. 91 da lei de licitações é mais específico, pois se refere diretamente à licitação.

O objetivo deste artigo é garantir a imparcialidade dos agentes públicos no exercício de suas funções, assegurando o bom funcionamento da Administração pública.

Aperfeiçoa-se o crime deste artigo quando o agente age de forma que seu ato venha a dar causa à instauração da licitação, ou que venha a dar causa à celebração de contrato. Sem o ato a figura penal não se completa.

Art. 92 Admitir, possibilitar ou dar causa a qualquer modificação ou vantagem, inclusive prorrogação contratual, em favor do adjudicatário, durante a execução dos contratos celebrados com o Poder Público, sem autorização em lei, no ato convocatório da licitação ou nos respectivos instrumentos contratuais, ou, ainda, pagar fatura com preterição da ordem cronológica de sua exigibilidade, observado o disposto no art. 121 desta Lei: Pena – detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa.

Parágrafo único. Incide na mesma pena o contratado que, tendo comprovadamente concorrido para a consumação da ilegalidade, obtém

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vantagem indevida ou se beneficia, injustamente, das modificações ou prorrogações contratuais.

Este artigo observa rigorosamente os deveres da justiça e da moral administrativa, em especial a tutela dos contratos administrativos, que deverão ser cumpridos e executados como foram celebrados.

O crime se consuma quando se verifica uma modificação contratual, que venha a ser vantajosa ao adjudicatário, ou quando ocorrer o pagamento antecipado da fatura.

O crime capitulado no parágrafo único deste artigo aperfeiçoa-se com a obtenção da vantagem indevida, ou benefícios provenientes de modificações no contrato ou prorrogações contratuais.

Art. 93 Impedir, perturbar ou fraudar a realização de qualquer ato de procedimento licitatório: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Este artigo em sua primeira parte tem semelhança com a modalidade criminosa contida no artigo 335 do Código Penal.

Visa garantir a boa Administração Pública, especialmente no que tange aos procedimentos licitatórios, que não deverão ser impedidos, turbados ou fraudados.

O crime se consuma quando qualquer um dos atos licitatórios a ser impedido, turbado ou fraudado.

Art. 94 Devassar o sigilo de proposta apresentada em procedimento licitatório, ou proporcionar a terceiro o ensejo de devassá-lo: Pena - detenção, de 2 (dois) a 3 (três) anos, e multa

Busca garantir a imparcialidade e a lisura nos procedimentos licitatórios, para que ocorra o bom funcionamento da Administração Pública.

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Ocorre quando o agente público que tem a responsabilidade de guardar as propostas apresentadas, viola tal sigilo, caracterizando uma espécie de violação de segredo funcional. Ocorre também se o funcionário facilitar o devassamento a outrem.

Art. 95 Afastar ou procura afastar licitante, por meio de violência, grave ameaça, fraude ou oferecimento de vantagem de qualquer tipo: Pena - detenção, de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, além da pena correspondente à violência.

Parágrafo único. Incorre na mesma pena quem se abstém ou desiste de licitar, em razão da vantagem oferecida.

Este dispositivo é idêntico á parte final do artigo 355 do Código Penal, que foi revogado pelos Arts. 93 e 95 da Lei de Licitações.

Protege o perfeito andamento da Administração Pública, busca o interesse da mesma em que as concorrências sejam realizadas normalmente e com seriedade.

O crime se consuma com o emprego da violência física contra o licitante, ou grave ameaça, ou com a oferta da vantagem. Basta a tentativa de afastamento do licitante para que se realiza o crime.

Art. 96 Fraudar, em prejuízo da Fazenda Pública, licitação instaurada para aquisição ou venda de bens ou mercadorias, ou contrato dela decorrente:

I - elevando arbitrariamente os preços; II - vendendo, como verdadeira ou perfeita, mercadoria falsificada ou deteriorada;

III - entregando uma mercadoria por outra;

IV - alterando substância, qualidade ou quantidade da mercadoria fornecida;

V - tornando, por qualquer modo, injustamente, mais onerosa a proposta ou a execução do contrato: Pena - detenção, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.

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Objetiva a tutela do tesouro público, que em ocorrendo licitação fraudulenta será lesado, sendo na aquisição de bens ou mercadorias.

Trata-se de crime de resultado concreto, logo deverá ocorrer o prejuízo efetivo da fazenda Pública para de consumar.

Seu aperfeiçoamento se dá com a verificação do prejuízo observado no pagamento da fatura.

Art. 97 Admitir à licitação ou celebrar contrato com empresa ou profissional declarado inidôneo: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que, declarado inidôneo, venha a licitar ou a contratar com a Administração.

Protege a moralidade da Administração Pública, onde esta não deverá ter como empresa ou profissional declarado inidôneo, ou com eles contratar.

O crime torna-se perfeito, com a permissão do licitante inidôneo na licitação, ou com a celebração do contrato, da carta-contrato, da nota de empenho de despesa, da autorização de compra ou da ordem de execução de serviço com sujeito inidôneo.

Art. 98 Obstar, impedir ou dificultar, injustamente, a inscrição de qualquer interessado nos registros cadastrais ou promover indevidamente a alteração, suspensão ou cancelamento de registro do inscrito: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.

Como a Administração Publica deve manter registros cadastrais para efeito da habilitação, segundo ao Art. 34 da lei de Licitações, o Art. 98 busca a regularidade e a eficiência da Administração pública, em que o interesse será a obtenção de um maior número de concorrentes para buscar um preço mais conveniente.

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A primeira parte do artigo prescreve um crime se consuma com o impedimento ou com a ação de dificultar a inscrição do concorrente.

A segunda parte do artigo prescreve um crime que se aperfeiçoa quando ocorre a alteração, a suspensão ou o cancelamento do registro cadastral lesando o concorrente.

Art. 99 A pena de multa cominada nos arts. 89 a 98 desta Lei consiste no pagamento de quantia fixada na sentença e calculada em índices percentuais, cuja base corresponderá ao valor da vantagem efetivamente obtida ou potencialmente auferível pelo agente.

§ 1o Os índices a que se refere este artigo não poderão ser inferiores a 2% (dois por cento), nem superiores a 5% (cinco por cento) do valor do contrato licitado ou celebrado com dispensa ou inexigibilidade de licitação.

§ 2o O produto da arrecadação da multa reverterá, conforme o caso, à Fazenda Federal, Distrital, Estadual ou Municipal.

A pena pecuniária haverá de corresponder “ao valor da vantagem efetivamente obtida ou potencialmente auferível pelo agente”. É o comando normativo do Art. 99, caput.

Os Arts. 89 a 98 trazem cominadas penas de multa pecuniária. Segundo Paulo José da Costa Jr11 trata-se de algo difícil de se mensurar, pois dos crimes mencionado, o que se poder detectar com exatidão é o valor do contrato.

É difícil se auferir o quantum um funcionário público recebeu por fraudar, dispensar uma licitação, pois na maioria dos casos o pagamento é efetuado ocultamente.

Por não haver uma certeza ao se estipular o valor da sanção pecuniária a mesma passa a perder o valor de sanção por excelência, pois se mostra inviável, já que a certeza é um caráter indispensável do Direito Penal12.

11 COSTA JR., Paulo José da. Direito Penal das Licitações. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 72-74. 12 COSTA JR., 2004. p. 72.

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6 DOS DANOS PATRIMONIAIS E MORAIS

Ao contrário do que ocorre nos contratos regidos pelo direito privado, o contrato administrativo permite à Administração, e mesmo a estranhos a ela, o acompanhamento da execução do objeto pactuado.

A administração Pública poderá aplicar penalidades ao particular, tais como: advertência; multas; rescisão unilateral do contrato; suspensão provisória e declaração de inidoneidade, sendo a última a mais gravosa.

A multa é sanção pecuniária que será descontada da garantia ofertada, quando existente. Não havendo garantia, ou sendo superior o seu valor, poderá a Administração cobra-lá judicialmente (área cível). Ela deve ser fixada no instrumento convocatório.13

Ademais, se a conduta for criminosa, conseqüentemente gera uma vantagem para aquele que a cometeu ao mesmo tempo em que um gera dano para a Administração Pública, que pode ser material ou moral ou ambos. E assim, a relação jurídica que se estabelece entre o sujeito ativo do delito e o Estado transcendem a esfera do Direito Penal, repercutindo na órbita do Direito Civil, com a obrigação de indenizar - tanto o dano material quanto o dano moral. A obrigação de reparar o dano nasce de um ato ilícito civil.

7 DIFERENÇAS FUNDAMENTAIS NO REGIME DAS INFRAÇÕES E DOS CRIMES

A responsabilidade civil e a responsabilidade criminal são fixadas pelo judiciário, segundo as normas de direito civil e do direito penal. 14

13 ROSA, 2003. p.109 14 ROSA, 2003. p. 62-63.

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A responsabilidade administrativa é apurada e fixada pela própria Administração Pública, mediante procedimento próprio (processo administrativo disciplinar ou sindicância). Em qualquer caso, porém, há necessidade de observância do contraditório e da ampla defesa.

A sanção em razão do cometimento de ilícito administrativo deve estar prevista em lei, e será fixada em conformidade com a gravidade da infração. A extinção de pena disciplinar pode decorrer do seu cumprimento, da prescrição ou do perdão.

A prescrição opera em extinção da punibilidade pelo decurso do tempo e a concessão de perdão depende de lei ou ato normativo geral editado pelo próprio Poder que determinou a sanção. O Legislativo não pode conceder o perdão aos servidores do executivo e vice-versa).

A pena de demissão não é suscetível de perdão, pois o perdão só se opera enquanto existir vínculo com a Administração. Os vitalícios somente podem ser demitidos mediante processo judicial, excetuando à regra (CF. Arts. 95.I e 128, § 5º, I, a).

A responsabilidade criminal que decorre da prática de crime ou contravenção penal é apurada e fixada pelo juízo criminal, segundo suas próprias normas (CP, CPP e legislação especial).

Desta-se, então, que a principal diferenças reside no grau de agressividade da sanção, ou seja, configura infração quando a agressividade for menor, e crime quando a agressividade for maior. Outro critério que também deve ser levado em conta é a investigação quanto ao elemento subjetivo e ao elemento objetivo, pois, na configuração de crime o elemento subjetivo tem grande relevância, enquanto que nas infrações o elemento objetivo tem maior destaque. Somente em casos onde a própria lei mencionar expressamente é que se busca o elemento subjetivo.

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A subjetividade compõem-se dos elementos culpa ou dolo. Para a configuração do crime tem que ficar demonstrado a imprudência, imperícia, negligência ou a intenção de agir. Somente configurado o elemento subjetivo é que poderá aplicar a pena.

Tendo em mira a objetividade, busca-se a infração cometida pelo agente ou particular, prescindindo-se da intenção de agir com dolo ou culpa, pois são elementos insignificante para a configuração da infração administrativa. Sendo assim, o infrator irá responder, ou seja, será imputado a sanção cabível mesmo não tendo havido culpa ou dolo.

As sanções administrativas atingem o patrimônio na maioria das vezes por meio das multas paliçadas, porém, para que a Administração possa executar esta dívida, precisa promover a inscrição do valor da condenação não pago em dívida ativa para possibilitar a cobrança em ação de execução. A sanção administrativa também pode atingir direitos de que goza o administrado, como por exemplo, a demissão do agente público, ou a declaração de inidoneidade da empresa licitante.

As penas decorrentes de crime, assim configurado por conta da maior agressividade, terão uma sanção também mais grave, ou seja, além de poder atingir ao patrimônio e a direitos, pode atingir a liberdade. Todavia a sua executoriedade depende sempre de apreciação do judiciário.

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A palavra antijuridicidade dá-nos a idéia de algo que não é jurídico ou que não encontra amparo no ordenamento jurídico, provocando contraste entre o ordenamento legal e o ato praticado pelo agente.

No plano puramente etimológico, podemos dizer que a palavra antijuridicidade é resultante do prefixo grego anti (contrário) seguido do substantivo juridicidade (jurídico, lícito, licitude). Seria, portanto, aquilo que não é lícito ou que é contrário ao que é jurídico.

No campo jurídico, a antijuridicidade ou ilicitude é o resultado da contradição existente entre a conduta do autor e a norma. Pode-se dizer, numa acepção simples, que a antijuridicidade é um juízo de desvalor sobre a conduta, é a censura que recai sobre o caráter ilícito do atuar humano.

A antijuridicidade, repercute em todo o ordenamento jurídico, por ser um atributo geral. “A antijuridicidade é, entretanto, um atributo geral, em relação a toda ordem jurídica, não particular ao Direito punitivo. Um fato que se apresenta como antijurídico em face de qualquer ramo do Direito conserva esse atributo de antijuridicidade em referência a qualquer outro domínio jurídico. Não há, portanto, uma antijuridicidade penal, mas pode-se falar, em um ilícito penal, ou um ilícito administrativo, ou um ilícito civil. O ilícito penal é aquele a que se junta o atributo da tipicidade. É o ilícito típico.” 15

Por isso é que se diz, em direito penal, que a consciência da antijuridicidade (elemento normativo) é que faz a ação do agente incidir na culpabilidade, resultando o contrário na sua exclusão, por inexistir conduta a ser punida.

Resulta, dessa particular referência, a inexorável conclusão de que a antijuridicidade penal é um juízo que se faz sobre a ação humana que é contrária a um preceito do

15 ALMEIDA; José Eulálio Figueiredo de. A antijuridicidade como elemento conceitual de crime. Disponível em:

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ordenamento jurídico correspondente. Sendo assim, não haverá tipicidade quando a ação antijurídica estiver justificada por qualquer uma das causas de exclusão da ilicitude previstas no Art. 23 do Código Penal.

9 APLICAÇÃO DAS SANÇÕES

A decisão proferida no juízo criminal (na ação penal) somente repercute na Administração (comunicabilidade das instâncias), inibindo o processamento do processo administrativo se ocorrer as seguintes hipóteses:

a) negar a existência do fato; b) negar a autoria.

Assim, se determinado agente é denunciado pela prática de delito de concussão, mas no juízo criminal é absolvido, por conta de ter ficado provado que o crime não ocorreu ou que o tal agente não é o autor do crime, poderá não ser absolvido na esfera administrativa. O mesmo se aplica na responsabilidade civil, conforme Código Civil de 1916, Art. 1.525; e o Novo Código Civil Art. 935.

As sanções administrativas e penais podem ser impostas cumulativamente, bem como as penalidades de natureza civil, como, por exemplo, multas por dano moral e patrimonial e a demissão do agente infrator, bem como pena restritiva de liberdade. Contudo, os regimes não se comunicam, ou seja, na falta do elemento subjetivo não poderá o infrator sofrer pena. No entanto, poderá ser sancionado pela administração, pois, aqui, não necessita do elemento subjetivo, bastando apenas estar presente o elemento objetivo.

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10 SUJEITOS SUBMETIDOS AOS REGIMES DAS INFRAÇÕES ADMINISTRATIVAS E DOS CRIMES.

Os sujeitos submetidos aos regimes administrativo e penal quando praticam condutas antijurídicas nas licitações, são o servidor público e o cidadão-licitante. O primeiro, em decorrência da relação jurídica regida pelo regime da CLT ou Estatutário, responderá por sanções previstas nestas legislações, além da legislação penal. O cidadão-licitante, por sua vez, estará sujeito às sanções administrativas previstas na Lei de Licitações e na legislação penal.

As sanções administrativas têm por peculiaridade não ter caráter definitivo, pois poderão ser apreciadas pelo poder judiciário. Esta é a garantia constitucional de acesso à tutela jurisdicional.

11 CONCLUSÃO

A Administração pública no cumprimento do dever de auto tutela, diante das licitações e contratos administrativos, deverá impor sanções administrativas a todos que direta ou indiretamente pratiquem condutas consideradas antijurídicas. Nesta hipótese estar-se-á diante de normas que compõem o regime jurídico-administrativo. No entanto, as antijuridicidades poderão ter a natureza jurídica de conduta tipificada como crime. Nesta hipótese submetem-se ao regime jurídico-penal.

São dois regimes jurídicos que têm em comum as exigências da estrita legalidade (tipicidade) e da instauração de processo, para a identificação das antijuridicidades e aplicação das sanções. O processo regido, sempre, por todas as normas constitucionais que garantam o devido processo legal. As infrações administrativas são julgadas e as sanções

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aplicadas em processo administrativo. Os crimes são julgados e as penas aplicadas em processo judicial.

A decisão para qualificar uma conduta antijurídica como infração ou crime ocorre em processo legislativo, em regra, tendo por critério o grau de gravidade que a conduta representa para a sociedade. Desta forma, a sanção também segue este parâmetro, ou seja, será mais ou menos agressiva atingindo valores de maior ou menor relevância social. Para as infrações a sanção atinge o patrimônio e restrições de direitos. Para os crimes a punição atinge a liberdade, o patrimônio e também restrição de direitos.

Diante das antijuridicidades nas licitações e contratos administrativos não estão excluídas as sanções de natureza civil, compreendendo as de caráter indenizatório de natureza material e também moral. Assim, tem-se que as antijuridicidades em análise podem estar submetidas a três regimes jurídicos, independentes mas cumulativos: administrativo, penal e civil.

BIBLIOGRAFIA

ALMEIDA, José Eulálio Figueiredo de. A antijuridicidade como elemento conceitual de crime. Disponível em: <http:// users.elo.com.br/>. Acesso em: 21 de novembro de 2005.

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BACELLAR FILHO, Romeu Felipe. Princípios constitucionais do processo administrativo disciplinar. São Paulo: Max Limonad, 1998.

COSTA JR., Paulo José da. Direito Penal das Licitações. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. LEONARDO, Marcelo. Crimes de responsabilidade fiscal: crimes contra as finanças públicas; crimes nas licitações; crimes de responsabilidade de prefeitos. Belo Horizonte: Del Rey, 2001. ROSA, Marcio Fernando Elias. Direito administrativo (Sinopses jurídicas). 5.ed. São Paulo : Saraiva, 2003.

ROLD ROESTER, Atila da. Princípios na Licitação. Disponível em:

<http:/www.juristas.com.br> . Acesso em: 18 de nov. de 2005.

VITTA, Heraldo Garcia. Aspectos da teoria geral no direito administrativo. São Paulo: Malheiros, 2001.

LANDGRAF, Elisangela palmas da Cruz; PINHEIRO, Luiz Antônio, SOUZA, Thais Janine aparecida de. O Regime das infrações e dos crimes nas licitações. Disponível em < http://www.ump.edu.br/revista/upload/regimejuridico.doc >. Acesso me 27 de fevereiro de 2007.

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