AULA 2 - REGISTRO DE EMPRESAS
Introdução
O Código Comercial de 1850 criou os Tribunais de Comércio que tinha duas funções:
1) Julgar os conflitos que envolviam comerciantes; 2) Função administrativa de registro.
Em 1875 a função jurisdicional passou para o Poder Judiciário e as administrativas para as Juntas Comerciais. Extinguiram-se os tribunais.
Atualmente o registro de empresas está disciplinado pela Lei n.º 8.934/94 e pelo seu Decreto regulamentador n.º 1.800/96.
O artigo 967 do Código Civil tornou obrigatório o registro que, pelo código Comercial era facultativo.
Art. 967. É obrigatória a inscrição do empresário no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva sede, antes do início de sua atividade.
A falta deste registro retira da pessoa natural ou jurídica, a condição de empresário.
O registro confere a garantia, publicidade, autenticidade, segurança e eficácia aos atos jurídicos.
Efeitos do registro
1) Legaliza a atuação empresarial – o registro é um ato declaratório da condição de empresário;
2) Confere personificação jurídica à sociedade empresária – sem o registro a responsabilidade dos sócios nas obrigações da empresa é ilimitada, pessoal e solidária.
3) A falta de registro implica aplicações de sanções de natureza fiscal e administrativa, bem como a impossibilidade de inscrição no CPNJ.
Órgãos de registro
Dois são os órgãos de registro existentes:
a) Departamento Nacional de Registro de Comércio – DNRC b) Juntas Comerciais.
O DNRC não é propriamente um órgão de registro, mas normativo e supervisor deste registro. É um órgão federal do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio exterior.
As Juntas comerciais têm funções executivas e vinculação híbrida:
a) Em matéria de direito comercial está normativamente submetida ao DNRC (federal)
b) Nas demais matérias (organização administrativo-financeira) está
vinculada ao governo estadual.
O efeito deste sistema híbrido é que o controle judicial da parte administrativa é da competência da justiça estadual e da parte técnica da justiça federal.
Registro da Propriedade Industrial
O registro da propriedade industrial é disciplinado pela Lei n.º 9.279/96, mais especialmente pelo artigo 101 e seguintes.
O órgão encarregado deste registro é o Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI – que é uma autarquia federal sediada no Rio de Janeiro.
O INPI confere registro, que é facultativo, a dois bens industriais: o desenho industrial e as marcas.
Às invenções industriais são conferidas patentes.
O nome empresarial identifica o empresário e o seu registro é feito na Junta Comercial. A marca identifica o produto ou o serviço e o registro é feito no INPI.
O artigo 123 da Lei n.º 9.279/96 conceitua marca para os efeitos legais:
I - marca de produto ou serviço: aquela usada para distinguir produto ou serviço de outro idêntico, semelhante ou afim, de origem diversa;
II - marca de certificação: aquela usada para atestar a conformidade de um produto ou serviço com determinadas normas ou especificações técnicas, notadamente quanto à qualidade, natureza, material utilizado e metodologia empregada; e
III - marca coletiva: aquela usada para identificar produtos ou serviços provindos de membros de uma determinada entidade.
Assim, marca é qualquer sinal distintivo visual, nominativo, figurativo ou misto, tridimensional ou não, que identifica um produto ou um serviço.
Os três requisitos para o registro de uma marca são: 1) Novidade relativa;
2) Não-colidência com marca notória; 3) Desimpedimento.
A lei veda a concorrência desleal e marcas semelhantes ou idênticas podem causar confusão no consumidor.
O artigo 124 da Lei n.º 9.279/96 apresenta uma extensa lista de coisas que não podem ser registradas como marca, cuja observância caracteriza o desimpedimento.
O registro no INPI demora de 1 a 2 anos para ser deferido. A Lei n.º 9.279/96 estabelece que a proteção da marca dura 10 anos.
Art. 133. O registro da marca vigorará pelo prazo de 10 (dez) anos, contados da data da concessão do registro, prorrogável por períodos iguais e sucessivos.
Se alguém consegue o deferimento do registro de determinada marca e descobre que existe um pedido de registro de marca semelhante deve:
a) Fazer oposição ao pedido para vê-lo, administrativamente, indeferido;
b) Ajuizar ação judicial para uma obrigação de não-fazer.
Esta ação judicial independe do procedimento administrativo de indeferimento do pedido.
A marca pode ser indefinidamente renovável e as patentes não podem ser renovadas.
O nome fantasia não é registrado, como deve ser o nome empresarial, e, portanto, não tem proteção legal. Neste caso o proprietário pode confundir o nome fantasia com o empresarial ou com a marca para que ele adquira essa proteção.
Obrigações dos Empresários
Além dos registros e de obrigações fiscais, etc. o empresário deve manter a escrituração regular e atualizada nos termos do artigo 1.179 do Código Civil:
Art. 1.179. O empresário e a sociedade empresária são obrigados a seguir um sistema de contabilidade, mecanizado ou não, com base na escrituração uniforme de seus livros, em correspondência com a documentação respectiva, e a levantar anualmente o balanço patrimonial e o de resultado econômico.
Historicamente o empresário se valeu dos livros para o cumprimento desse dever legal.
Ao pequeno empresário não é exigida tal escrituração.
§ 2o É dispensado das exigências deste artigo o pequeno empresário a que se refere o art. 970.
Considera-se pequeno empresário, para efeito de aplicação desta dispensa, o empresário individual caracterizado como microempresa na forma da Lei Complementar 123/2006 que aufira receita bruta anual de até R$ 60.000,00 (sessenta mil reais).
São três as funções da escrituração: gerencial, documental e fiscal.
A escrituração contábil é composta pelo registro de fatos administrativos que alteram de forma qualitativa ou quantitativa o patrimônio e estes registros devem ser expostos através de demonstrações contábeis:
Observe-se que o objetivo da contabilidade é o patrimônio, que é o conjunto de bens, direitos e obrigações, as variações desses itens e sua mensuração.
Há ainda aspectos cíveis, comerciais e tributários, pois a escrituração regular comprova em juízo fatos cujas provas dependam de perícia contábil.
Detalhe importante é que não deve se confundir a escrituração contábil com simples registros de livros específicos (como, por exemplo, o livro caixa). A contabilidade, como ciência, utiliza-se de informações advindas de todos os setores
da empresa. Entre os setores que geram informações relevantes, poderíamos destacar o faturamento, a produção (geradora de custos), a administração de recursos humanos (folha de pagamento e encargos), o fiscal (apuração de impostos) e o financeiro (contas a pagar e a receber).
Os livros utilizados pelos empresários dividem-se em:
1) Obrigatórios – são aqueles em que sua falta implica sanções; 2) Facultativos – auxiliares da função gerencial.
De acordo com o Código Civil os empresários são obrigados a autenticar os livros antes de postos em uso.
Art. 1.181. Salvo disposição especial de lei, os livros obrigatórios e, se for o caso, as fichas, antes de postos em uso, devem ser autenticados no Registro Público de Empresas Mercantis.
Conservá-los em bom estado enquanto não se der a prescrição e a decadência é outra das obrigações.
Art. 1.194. O empresário e a sociedade empresária são obrigados a conservar em boa guarda toda a escrituração, correspondência e mais papéis concernentes à sua atividade, enquanto não ocorrer prescrição ou decadência no tocante aos atos neles consignados.
As prescrições previstas em lei são:
a) Obrigações referentes a IR, ICMS e IPI – 5 anos; b) Obrigações previdenciárias do empregador – 10 anos; c) Obrigações relativas ao FGTS – 30 anos;
d) Obrigações civis – a regra geral está no artigo 205 do Código Civil.
Espécies de livros comerciais
O primeiro livro obrigatório é o Diário. É através dele que o contador pode avaliar a saúde da empresa.
Art. 1.180. Além dos demais livros exigidos por lei, é indispensável o Diário, que pode ser substituído por fichas no caso de escrituração mecanizada ou eletrônica.
Parágrafo único. A adoção de fichas não dispensa o uso de livro apropriado para o lançamento do balanço patrimonial e do de resultado econômico.
Nesse livro Diário o empresário deve lançar os atos ou operações das atividades empresariais e também os atos que podem modificar o patrimônio.
A contabilidade deve escriturar toda a movimentação financeira, inclusive bancária, contendo a movimentação das contas: caixa, bancos conta corrente, bancos conta aplicações, numerários em trânsito, entre outras. O livro que contém o movimento dessas contas é o Livro Razão.
Quanto à escrituração existem três hipóteses de obrigatoriedade:
1) Microempresário Individual não optante do SIMPLES – nenhum dever legal de escrituração (art. 1.179, §2º - acima);
2) Microempresário optante do SIMPLES – obrigado a escriturar o livro caixa e registro de inventário;
3) Outros empresários – obrigados a escriturar o livro Diário.
Observação – Outros livros existentes:
1) Registro de duplicatas – obrigatório apenas àqueles empresários que emitem duplicata mercantil ou de prestação de serviços;
2) Livro de Atas da Assembléia – para as sociedades anônimas e limitadas;
3) Livro de Atas e pareceres do conselho fiscal – para os que possuem o Conselho Fiscal;
4) Livros fiscais – obrigatórios a todos, por imposição do regulamento do IR, para registro de inventários e de compras.
Conclusão
Além da escrituração aqui estudada, o empresário deve levantar balanço geral, anual do ativo e do passivo do estabelecimento.
A falta dessas demonstrações acarreta as seguintes conseqüências para o empresário:
b) Impedimento de participação em licitação do Poder Público;
c) Responsabilidade dos administradores perante os sócios por eventuais prejuízos.
SIMPLES NACIONAL
O Simples Nacional é um regime compartilhado de arrecadação, cobrança e fiscalização de tributos aplicável às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte, previsto na Lei Complementar nº 123, de 14 de dezembro de 2006.
Abrange a participação de todos os entes federados (União, Estados, Distrito Federal e Municípios).
É administrado por um Comitê Gestor composto por oito integrantes: quatro da Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB), dois dos Estados e do Distrito Federal e dois dos Municípios.
Para o ingresso no Simples Nacional é necessário o cumprimento das seguintes condições: . enquadrar-se na definição de microempresa ou de empresa de pequeno porte; . cumprir os requisitos previstos na legislação; e
. formalizar a opção pelo Simples Nacional.
Características principais do Regime do Simples Nacional: . ser facultativo;
. ser irretratável para todo o ano-calendário;
. abrange os seguintes tributos: IRPJ, CSLL, PIS/Pasep, Cofins, IPI, ICMS, ISS e a Contribuição para a Seguridade Social destinada à Previdência Social a cargo da pessoa jurídica (CPP);
. recolhimento dos tributos abrangidos mediante documento único de arrecadação - DAS;
. disponibilização às ME/EPP de sistema eletrônico para a realização do cálculo do valor mensal devido, geração do DAS e, a partir de janeiro de 2012, para constituição do crédito tributário;
. apresentação de declaração única e simplificada de informações socioeconômicas e fiscais; . prazo para recolhimento do DAS até o dia 20 do mês subsequente àquele em que houver sido auferida a receita bruta;
. possibilidade de os Estados adotarem sublimites para EPP em função da respectiva participação no PIB. Os estabelecimentos localizados nesses Estados cuja receita bruta total extrapolar o respectivo sublimite deverão recolher o ICMS e o ISS diretamente ao Estado ou ao Município.