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LEPTOSPIROSE BOVINA: PERFIL EPIDEMIOLÓGICO E DINÂMICA DA INFECÇÃO COMO ZOONOSE

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1 Aluno da Pós-Graduação em Microbiologia, FCAV-Unesp, Jaboticabal (SP)

2 Professor Titular do Departamento de Patologia Veterinária, FCAV-Unesp, Jaboticabal (SP)

LEPTOSPIROSE BOVINA: PERFIL EPIDEMIOLÓGICO E

DINÂMICA DA INFECÇÃO COMO ZOONOSE

(BOVINE LEPTOSPIROSIS: EPIDEMOLOGIC PROFILE AND

INFECTION DYNAMICS AS ZOONOSIS)

J. C. RENDE

1

, F. A. ÁVILA

2

RESUMO

Pelo teste de soroaglutinação microscópica procurou-se determinar a freqüência de aglutininas antileptospiras em soros de bovinos leiteiro (529), bovinos de corte (75 – abatidos em frigorífico) e humanos (142 – trabalhadores rurais, técnicos em agropecuária, veterinários e trabalhadores de frigorífico) dos municípios de Guaíra, Ipuã, Miguelópolis, São Joaquim da Barra, situados na região nordeste do Estado de São Paulo e do município de Uberaba, Minas Gerais. Das 529 amostras de soro de fêmeas bovinas adultas examinadas, 310 (58,6%) foram positivas para um ou mais sorovares de

Leptospira interrogans. Dos 76 soros de bovinos abatidos, 43 (57,3%) apresentaram reações positivas. Dos 142 soros

humanos, 06 (4,2%) mostraram-se positivos para os sorovares hardjo, wolffi e canicola, com títulos que variaram de 100 a 400. Todas as tentativas de isolamento de leptospiras de rins de bovinos abatidos foram negativas. O sorovar hardjo foi o mais freqüente para bovinos e humanos.

PALAVRAS-CHAVE: Leptospira. Leptospirose. Magarefes. Doença de Weil. Leptospira interrogans. Síndrome da que-da do leite.

SUMMARY

The microscopic serum agglutination test was carried out to determine the anti-leptospiras agglutinin frequency in dairy cattle serum (529), beef cattle serum (75 – killed in a slaughterhouse/ abattoir) and human beings serum (142 – farm labourers, technicians in agriculture and cattle raising, and abattoir workers). The test was developed in the cities of Guaíra, Ipuã, Miguelópolis and São Joaquim da Barra, all of them in the northeastern region of São Paulo, and Uberaba in the state of Minas Gerais. 310 (58.6%) serum samples of adult bovine females out of 529 were positive to one or more serum types of Leptospira interrogans. 43 (57.3%) slaughtered bovine serum out of 76 samples showed positive reactions. 06 (4.2%) human serum samples out of 142 were positive to the following serum types: hardjo, wolffi and canicola along with titles ranging from 100 to 400. All attempts of slaughtered bovine kidney leptospiras isolation were negative. The hardjo serum type was the most frequent one to cattle and human beings.

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INTRODUÇÃO

A leptospirose é uma zoonose de ampla distribui-ção geográfica, sendo mesmo descrita como cosmopolita. Sua ocorrência em áreas urbanas e rurais é favorecida pe-los climas tropical, subtropical e períodos do ano com maior índice pluviométrico, e solos neutros ou alcalinos. Essa zoonose acarreta prejuízos não só em saúde pública, em face da alta incidência de casos humanos, como também econômicos em virtude das alterações na esfera reprodutiva em bovinos infectados, podendo determinar abortos, subfertilidade, mastite com queda na produção leiteira, conhecida como Síndrome da Queda do Leite. No Brasil, a leptospirose bovina é considerada endêmica (MINISTÉRIO DA SAÚDE – Fundação Nacional de Saúde

-Guia de Vigilância Epedimiológica. Manual de Leptospirose, 2000; OLIVEIRA et al., 2000).

Em trabalhadores rurais e veterinários, a leptospirose está associada com infecção em bovinos (SNASHALL, 1996). Segundo MESLIN (1995), a leptospirose é considerada tradicionalmente uma doença ocupacional com maior concentração em pecuaristas.

Epidemiologicamente os roedores assumem posi-ção de destaque como fonte de infecposi-ção à criaposi-ção e ao homem, devido à alcalinidade de sua urina e sua baixa taxa de anticorpos (BEIGIN, 1992); mas são os próprios animais os principais reservatórios, servindo como fontes de infecção entre si (VASCONCELLOS et al., 1997).

A leptospirose foi designada por Goldschmidt, como “Doença de Weil” (SANTA ROSA, 1970 e THIERMANN, 1984); tem como agente etiológico a bac-téria da espécie Leptospira interrogans, pertencente à fa-mília Espirochetaceae (BIELANSKI et al., 1998; SALES & LILENBAUM, 2000). A Leptospira interrogans apre-senta mais de duzentos sorovares (RIBEIRO et al., 1988) que são agrupados por conveniência didática em sorogrupos, que causam infecção em várias espécies de animais domésticos e selvagens (TAGLIABUE & FARINA, 1995).

Além dos rins do animal infectado, de onde são eliminadas durante semanas ou vários meses, esses mi-crorganismos podem ser encontrados também no baço, fígado, no trato genital e, menos comumente, no humor vítreo (BOLIN & ALT, 1999).

O teste de soroaglutinação microscópica com antígenos vivos é ainda o mais utilizado por pesquisado-res de todo o mundo para o diagnóstico da leptospirose bovina (SANTA ROSA, 1970).

Os objetivos deste trabalho foram: determinar a freqüência de reagentes a leptospiras pela pesquisa de

soro humano de pessoas ligadas à atividade pecuária e de trabalhadores específicos, bem como tentar isolar leptospiras de rins de bovinos de frigoríficos.

MATERIAL E MÉTODOS

Soro bovino

Foram colhidas 529 amostras de sangue de fêmeas bovinas de diversas raças leiteiras na faixa etária entre 13 meses e 14 anos, de quatro municípios do Estado de São Paulo (Tabela 2) e de 75 bovinos machos, provenientes de diferentes regiões do país ,de diversas raças, com idades a partir de 36 meses, no momento do abate, em um Frigo-rífico da cidade de Ipuã (SP).

Soro humano

Foram colhidas amostras de sangue de um grupo de 26 pessoas, formado por trabalhadores rurais, veteri-nários, técnicos em agropecuária e proprietários rurais, dos municípios de Guaíra, Ipuã, Miguelópolis, São Joaquim da Barra, no Estado de São Paulo. Esse grupo foi consti-tuído por indivíduos do sexo masculino, com idades que variaram entre 20 e 72 anos. Também foram colhidas amos-tras de sangue de um grupo constituído por 71 trabalhado-res de um frigorífico de Ipuã (SP) e de outro grupo forma-do por 45 trabalhaforma-dores de outro frigorífico situaforma-do em Uberaba (MG), de ambos os sexos, nas duas situações.

Rins de bovinos

Para isolamento de leptospiras, foram utilizados 39 rins inteiros do mesmo grupo de bovinos abatidos. Os rins foram acondicionados em sacos plásticos estéreis indivi-duais, identificados e manipulados no laboratório de bac-teriologia da FCAVJ-UNESP, uma hora após a colheita.

Isolamento de leptospiras

Fragmentos dos rins de bovinos foram triturados separadamente com solução fisiológica estéril. Desse macerado, algumas gotas eram semeadas diretamente em meio semi-sólido de Fletcher, seguindo-se a técnica de di-luição preconizada por GALTON et al. (1962).

Preparo dos Antígenos

Foram utilizados como antígenos, culturas vivas de 18 sorovares de Leptospira interrogans e dois de

Leptospira biflexa, conforme descrito na tabela 1, com

cinco a sete dias de incubação, a 28ºC – 30ºC, em meio líquido EMJH - Ellingahausen-McCnllough-Johson-Harris, enriquecido com 8% de soro estéril de coelho.

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metidos à prova de soroaglutinação segundo a técnica descrita por BABUDIERI (1961). Os soros foram inicial-mente diluídos a 1:50 em solução salina tamponada. To-mou-se 1,0 ml dessa diluição e com igual quantidade de antígeno, obteve-se uma diluição 1:100. Todos os soros na diluição 1:100 que apresentaram 2+ de aglutinação (cer-ca de 50% de aglutinação no (cer-campo microscópico) foram considerados positivos (MYERS, 1985). Diluições suces-sivas ao dobro foram preparadas a partir da diluição1:100, para se determinar o título final.

RESULTADOS

Dos 529 soros de fêmeas bovinas leiteiras adultas examinados, 310 (58,6%) mostraram reações positivas ao teste de soroaglutinação microscópica, conforme consta na Tabela 2.

O número de reações positivas foi 753, já que al-guns animais apresentaram anticorpos para um ou mais sorovares de Leptospira interrogans, com títulos aglutinantes que variavam de 100 a 12.800, conforme Ta-bela 3.

A distribuição freqüencial e porcentual segundo a faixa etária dos resultados sorológicos na pesquisa de aglutininas antileptospiras em 529 fêmeas bovinas leitei-ras, encontra-se demonstrada na Tabela 4.

Aplicando-se o teste da correlação, determinou-se r ≅ -82,40 e aplicando-se o teste “t” específico para a corre-lação, observa-se que há uma correlação fortemente nega-tiva entre o aumento da faixa etária e a freqüência ou nú-mero de reações positivas para leptospirose bovina (p<0,05), onde 0,05 é o nível de significância.

Todas as tentativas de isolamento de leptospiras de fragmentos de rins de bovinos abatidos foram negati-vas.

Tabela 1 - Antígenos utilizados para realização do teste soroaglutinação microscópica, Jaboticabal-SP, 2002.

Tabela 2 – Freqüência de reações positivas em soros de bovinos de leite e corte, pela reação de soroaglutinação microscó-pica e predominância de sorovares, por municípios do Estado de São Paulo, Jaboticabal-SP, 2002.

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Tabela 3 - Distribuição dos resultados de acordo com a quantidade e porcentual de reatores segundo diferentes diluições de soros de fêmeas bovinas adultas leiteiras reagentes à prova da soroaglutinação microscópica para 18 sorotipos de L. interrogans, procedentes de quatro municípios paulistas, Jaboticabal-SP, 2002.

T ítu lo s 1 0 0 2 0 0 4 0 0 8 0 0 1 6 0 0 3 2 0 0 6 4 0 0 1 2 8 0 0 T o tal % a u stra lis 5 2 7 0 ,9 3 a u tu m n a lis 5 1 9 1 1 6 2 8 ,2 3 b ra tisla va 1 4 9 1 1 2 5 3 ,3 2 ca n ico la 1 8 7 1 2 6 3 ,4 5 ca stello n is 3 3 3 3 6 4 ,7 8 co p en h a g en i 6 1 7 0 ,9 3 g ryp p o typ h o sa 7 7 0 ,9 3 h a rd jo 2 5 3 1 3 7 3 0 2 1 1 0 9 2 1 6 5 2 1 ,9 1 h eb d o m a d is 2 3 1 6 1 4 0 5 ,3 1 ictero h a em o rrh a g ia e 5 3 8 6 1 8 ,1 0 p a n a m a 1 2 1 2 1 ,5 9 p o m o n a 1 4 4 4 5 2 7 3 ,5 9 p yro g en es 1 2 1 2 1 ,5 9 sen to t 1 3 3 1 1 7 2 ,2 6 sh erm a n i 7 1 2 5 2 1 9 9 1 3 ,1 5 ta ra sso vi 1 3 3 1 6 2 ,1 2 w h itco m b i 1 1 0 ,1 3 w o lffi 1 9 3 0 3 9 2 5 1 2 4 3 1 1 3 3 1 7 ,6 6 T o tais 3 8 9 1 5 1 8 5 6 4 3 4 1 4 1 3 3 7 5 3 1 0 0 ,0 0

Tabela 4 – Distribuição dos resultados de acordo com a faixa etária e porcentual de reatores segundo diferentes diluições de soros de fêmeas bovinas adultas leiteiras reagentes à prova da soroaglutinação microscópica para 18 sorotipos de L. interrogans, procedentes de quatro municípios paulistas, Jaboticabal-SP, 2002.

Reagentes Faixa Etária ( meses ) QE QR % (TR) %(TE) 13 - 24 9 0 0,00 0,00 25 - 36 58 36 11,61 6,81 37 - 48 72 49 15,81 9,26 49 - 60 87 52 16,77 9,83 61 - 72 97 53 17,10 10,02 73 - 84 72 40 12,90 7,56 85 - 96 60 35 11,29 6,62 97 - 108 26 18 5,81 3,40 109 - 120 32 18 5,81 3,40 121 - 132 2 0 0,00 0,00 133 - 144 13 8 2,58 1,51 145 - 156 0 0 0,00 0,00 157 - 168 1 1 0,32 0,19 Total: 529 310 100,00

QE : Quantidade de amostras examinadas.

QR : Quantidade de amostras reagentes para qualquer sorotipo, em qualquer diluição. %TR : Porcentagem em relação à quantidade total de amostras reagentes (predominância).

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S o ro s e x a m in a d o s T e m p o d e se rv iç o (a n o s) N ú m e ro P o sitiv o s % Ip u ã (S P ) 0 0 – 0 5 4 7 0 0 0 6 – 1 0 1 0 0 0 1 1 – 1 5 8 1 1 2 ,5 1 6 – 2 0 6 0 0 U b e ra b a (M G ) 0 0 – 0 5 2 0 3 1 5 0 6 – 1 0 4 0 0 1 1 – 1 5 8 0 0 1 6 – 2 0 1 0 0 2 1 – 2 5 4 0 0 2 6 – 3 0 4 0 0 3 1 – 3 5 1 0 0 3 6 – 4 0 3 0 0

Tabela 5 - Resultados das provas de soroaglutinação microscópica, de acordo com a ocupação, de trabalhadores de frigoríficos localizados em Ipuã (SP) e Uberaba (MG), 2002.

S o ro s e x a m in a d o s O c u p a ç ã o Q u a n tid a d e P o s itiv o s % d e s o ro p o s itiv o s p o r o c u p a ç ã o % e m re la ç ã o a o to ta l d e tra b a lh a d o re s Ip u ã (S P ) A b a te 2 4 1 4 ,2 1 ,4 A u x ilia r d e fa b ric a ç ã o 7 0 0 0 D e s o s s a 1 3 0 0 0 G ra x a ria 2 0 0 0 T rip a ria 1 0 0 0 O u tro s 2 4 0 0 0 T o ta is 7 1 1 1 ,4 U b e ra b a (M G ) A b a te 1 9 1 5 ,3 2 ,2 M iú d o s 6 1 1 6 ,7 2 ,2 B u x a ria 2 1 5 0 ,0 2 ,2 O u tro s 1 8 0 0 ,0 0 ,0 T o ta is 4 5 3 6 ,7

Tabela 6 - Tempo de atividade e porcentual de sororreagentes por tempo de exposição ao risco, de trabalhadores de frigoríficos localizados nos município de Ipuã (SP) e Uberaba (MG), 2002.

Dos 75 soros de bovinos de corte, 43 (57,3%) apre-sentaram reações positivas, conforme Tabela 2. O número de reações positivas foi 99, já que alguns animais apre-sentaram anticorpos para um ou mais sorovares de

Leptospira interrogans, com títulos aglutinantes

varian-do de 100 a 3.200, senvarian-do que os sorovares mais freqüentes foram wolffi e hardjo.

No grupo constituído por 26 indivíduos

(trabalha-dores rurais, veterinários, técnico em agropecuária e pro-prietários rurais), do sexo masculino, com idade que va-riava entre 20 a 72 anos, dois apresentaram resultados positivos para o sorovar hardjo, representando uma freqüência de 7,7%.

Dentre 71 soros examinados, de trabalhadores de um, dos dois frigoríficos, da cidade de Ipuã (SP), um mos-trou-se reagente, e este resultado deu-se na forma de

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co-aglutinação entre hardjo e wolffi, com títulos 400 e 100, respectivamente.

Dos 45 soros examinados de trabalhadores do fri-gorífico da cidade de Uberaba (MG), três apresentaram aglutinação, sendo um para o sorovar canicola e dois para o sorovar hardjo, com títulos 100 (canicola) e 400 (hardjo), respectivamente.

Em ambos os frigoríficos, a maioria dos indivídu-os examinadindivídu-os contava com tempo de atividade e expindivídu-osi- exposi-ção de risco de contaminaexposi-ção entre seis meses e cinco anos. No frigorífico da cidade de Ipuã (SP), com relação à ida-de e sexo, os trabalhadores encontravam-se na faixa etária entre 17 a 64 anos, sendo 47 do sexo masculino (66,2%) e 24 do sexo feminino (33,8%). Os resultados referentes à sororreatividade, sexo e tempo de exposição encontram-se relacionados nas Tabelas 5 e 6.

DISCUSSÃO

O índice de 58,6% de reatividade para as vacas leiteiras encontrado neste trabalho, foi superior aos des-critos no Brasil por ÁVILA et al. (1978) e RIBEIRO et

al. (2000), que encontraram, respectivamente 27,4% e

39,5%. Entretanto, foi compatível com os resultados de 53,3% relatados por RIBEIRO et al. (1988), e de 60,4% por VASCONCELLOS et al. (1997). Quando comparado com índices de outros países, também mostrou-se muito semelhante ao achado de THEVENON et al. (1990) na Austrália e Nova Zelândia, que foi de 58,3%. Entretanto, quando comparado com o resultado de JULIANO et al. (2000), que relatam freqüência de 81,9%, foi muito infe-rior.

Neste estudo obteve-se resultado positivo para o sorovar hardjo em 21,9% das amostras analisadas, porcentual próximo ao obtido por LILENBAUM et al. (1995), no Brasil, que encontraram 20,9% de reatividade para este sorovar.

A elevada predominância de animais positivos para o sorovar hardjo, determinada neste estudo, concorda com as constatações em outros países por GILES et al. (1983) na Inglaterra; ANDRÉ-FONTAINE et al. (1988), na Fran-ça; ZAMORRA et al. (1988) no Chile; PRESCOTT et al. (1988) no Canadá e por MILLER et al. (1991), nos Esta-dos UniEsta-dos, evidenciando que nos últimos anos esse sorovar tem sido o mais freqüente em gado bovino leitei-ro de diversos continentes, situação pleitei-rovavelmente favorecida pelo comércio internacional de reprodutores, ou de materiais de multiplicação.

MOREIRA et al. (1993) afirmam que a

dissemina-direta entre bovinos em propriedades abertas. Esta pode ser a explicação para a elevada incidência do sorovar

hardjo, encontrada neste estudo, já que todas as

proprie-dades rurais examinadas mantinham freqüente comércio de animais.

Os achados deste trabalho quanto à freqüência dos sorovares hardjo (21,9%) e wolffi (17,7%), estão de acor-do com os resultaacor-dos obtiacor-dos por FAINE (1982). Há que considerar, contudo, a hipótese de que tais resultados sig-nifiquem reações cruzadas entre os dois sorovares, vez que ambos pertencem ao mesmo sorogrupo sejroe e com-partilham determinantes antigênicos entre si (COSTA et

al., 1998).

O terceiro sorovar mais freqüente neste estudo foi

shermani, cujo porcentual encontrado é da ordem de

13,2%, resultado muito superior ao relatado por HOMEM

et al. (2000), no Brasil, que encontraram 4,5%, embora o

universo da pesquisa utilizado por eles tenha sido diferen-te, pois a pesquisa foi efetuada em propriedades rurais do tipo familiar, com rebanhos mistos de corte e de leite.

Para o sorovar icterohaemorrhagiae, o resultado encontrado foi de 8,1%, sendo inferior ao encontrado por ÁVILA et al. (1978) que registraram 12,4% em rebanhos do município de Jaboticabal(SP) que dista poucos quilômetros dos municípios estudados no presente traba-lho.

Com relação ao sorovar canicola, encontraram-se 3,5% de reações positivas, bem inferior ao resultado obti-do por LANGONI et al. (2000), da ordem de 25,9%, em outras regiões do Estado de São Paulo.

O índice de positividade encontrado nos soros de bovinos abatidos foi 57,3%, superior ao encontrado por MILLER et al. (1991), nos Estados Unidos, da ordem de 49,0% e diferente do encontrado por BROD et al. (1995) que detectaram, no Brasil, 81,2% de animais positivos.

Estabelecendo-se uma comparação entre os resul-tados obtidos para bovinos de leite e de corte constata-se que os porcentuais de positividade obtidos para bovinos de corte (57,3%) assemelham-se aos porcentuais de positividade demonstrados para bovinos leiteiros (58,6%). Este fato prende-se provavelmente ao fato de as amostras de bovinos de corte procederem de diferentes regiões, não sendo representativa da região estudada para bovinos leiteiros.

Entretanto, diferentes resultados são relatados por VASCONCELLOS et al. (1997), que constataram que as raças de bovinos de corte apresentaram maior positividade que as de leite, e também LANGONI et al. (2000) que relatam que animais para produção leiteira apresentam 1,9 vezes mais reagentes positivos quando comparados aos

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Há de considerar que as taxas de infecção entre os bovinos leiteiros deve ser maior que nos bovinos de corte, pois existe um contato maior entre os animais leiteiros nos estábulos, favorecendo a transmissão pela eliminação pela urina, do agente, contaminando água e alimentos.

Aplicando-se o teste do Qui-quadrado, nos resul-tados positivos obtidos para soros de bovinos machos (aba-tidos) e soro de fêmeas bovinas leiteiras, (p>0,05), confir-mou-se que não houve diferença significativa entre os dois grupos quanto ao grau de positividade.

As tentativas de isolamento de leptospiras de frag-mentos de rins de bovinos abatidos foram negativas tal-vez pelo pequeno número de células bacterianas presen-tes no órgão ou por causa da resposta imune do hospedei-ro (KILLINGER et al., 1976), ou mesmo dificuldade de isolamento de acordo com as condições utilizadas.

Nos 26 soros humanos examinados de trabalhado-res rurais, veterinários, técnicos em agropecuária, pro-prietários rurais, dois (7,7%) indivíduos apresentaram-se positivos para o sorovar hardjo, semelhante ao achado de SANTA ROSA et al. (1970), que relataram 5,4% de positividade para Leptospira spp, ao examinarem 1.277 soros, e bastante inferior ao obtido por TAVARES-NETO

et al. (1996), que registraram 45,3% em 106 soros de

pes-soas provenientes da zona rural. O único soro humano positivo encontrado no frigorífico de Ipuã (SP) refere-se a um indivíduo lotado na seção de abate, representando 4,2% dos funcionários da mesma ocupação e 1,4% do total de empregados. Dos três indivíduos sororegentes do frigorí-fico de Uberaba (MG), um foi para sorovar canicola e dois para o sorovar hardjo. Quanto às atividades desses indivíduos, a taxa de infecção foi de 50,0% para os da buxaria, 16,7% para os de miúdos e 5,3% para os de aba-te. Os achados para ambos frigoríficos mostraram-se infe-riores ao obtido CARVALHO et al. (1985), que encontra-ram 20,0% de positividade em 145 manipuladores de car-ne, e ao encontrado por FALAVIGNA et al. (1984), que relataram uma freqüência de 40,0% de reações positivas em 100 magarefes, utilizando a técnica da imunoflurescência indireta.

CONCLUSÃO

A freqüência de infecção leptospírica em bovinos de leite e corte na região nordeste do Estado de São Paulo é de 58,6% e 57,3%, respectivamente. O predomínio de bovinos reagentes para os sorovares hardjo e wolffi con-firma a significativa freqüência destes no Estado de São Paulo.

O baixo índice de positividade para manipuladores de carne bovina, comparado com outros achados, possi-velmente pode ser atribuído à aplicação obrigatória do Re-gulamento Técnico sobre as Condições Higiênico-Sanitá-rias e de Boas Práticas de Fabricação aprovado pela Por-taria 368-MA de 04/09/97.

ARTIGO RECEBIDO: MARÇO/2002

REFERÊNCIAS

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