Estratégia Regional de Enfrentamento ao Tráfico de Crianças e Adolescentes
para Fins de Exploração Sexual na Região do MERCOSUL
Rio Grande, abril de 2010.
Relatório Final do Diagnóstico Rápido Participativo dos Municípios
Fronteiriços do Estado do Rio Grande do Sul - Brasil
2 Instituição Financiadora
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)
Instituição Governamental
Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República (SEDH)
Organismo Executor
Fundação de Apoio à Pesquisa da Universidade do Mato Grosso do Sul (FAPEC/ UFMS)
Executores Técnicos Regionais no Brasil
Programa Escola de Conselhos da Universidade do Mato Grosso do Sul (UFMS)
Centro de Estudos Psicológicos sobre Meninos e Meninas de Rua da Universidade Federal do Rio Grande (CEP-RUA/FURG)
Universidade Federal do Paraná (UFPR)
Apoio Técnico no Brasil
Secretaria da Justiça e Desenvolvimento Social - Departamento de Cidadania e Direitos Humanos – Governo do Estado do Rio Grande do Sul
Parceiros
Argentina - Secretaría de Derechos Humanos do Ministerio de Justicia e Derechos Humanos e
Comité Argentino de Seguimiento y Aplicación de la Convención Internacional sobre los Derechos del Niño (CASACIDN)
Paraguai - Ministerio de Educación y Cultura e Secretaría Nacional de la Niñez y Adolescencia
(SNNA) e Centro de Estudios en Derechos Humanos, Niñez y Juventud (CENIJU)
Uruguai - Instituto do Niño y Adolescente do Uruguay (INAU) e Ministerio de Educación y
3
Equipe Técnica da Universidade Federal do Rio Grande
Coordenadora
Profa. Dra. Simone dos Santos Paludo (CEP-RUA/FURG)
Bolsistas de apoio técnico
Ana Paula Carlosso da Silva Carlos José Nieto
Acadêmicas bolsistas do curso de Psicologia FURG
Catiuscia Munsberg Carneiro Eduarda Cirolini Buriol
Isabel Cristina Furtado Silveira Juliana Sonego Goulart
Luiza Santos Ferreira
Rita de Cássia Prado da Mata Taiola Sachini
Veronica Felippe de Lima Foes
Executor financeiro
Fundação de Apoio a Universidade Federal do Rio Grande (FAURG)
Equipe Técnica da Secretaria da Justiça e Desenvolvimento Social, Departamento de Cidadania e Direitos Humanos, do Estado do Rio Grande do Sul
Eudoxia Mendes Machado Tania Göller
Redação do Relatório Final
Profa. Dra. Simone dos Santos Paludo
Revisao Estatística e Confecção dos Mapas
4 Realização:
5 Sumário
1.Breve apresentação do Programa Rede Regional de Luta contra o Tráfico de Crianças e Adolescentes para Fins de Exploração Sexual na Região do MERCOSUL
10
2.Informações gerais sobre o Diagnóstico Rápido Participativo (DRP) 13 2.1 Metodologia do Diagnóstico Rápido Participativo 13 3. Relatório Final do Diagnóstico Rápido Participativo em Uruguaiana/RS 14 3.1 Instituições/atores participantes do DRP – Uruguaiana/RS 20 3.2 Instituições cadastradas no CMDCA 22 3.3 Infraestrutura e Funcionamento das Instituições 24
3.3.1 Estrutura física 24
3.3.2 Organização/Funcionamento 25
4. Análise por Eixos 29
4.1 Eixo da situação: a violência sexual contra crianças e adolescentes em Uruguaiana 29 4.1.1 CMDCA 29 4.1.2 Defesa e Responsabilização 31 4.1.3 Atendimento e Prevenção 36 4.1.4 Comunidades 43 4.1.5 Movimentos Sociais 50
4.2 Eixo Mobilização e Articulação 59
4.2.1 CMDCA 59
4.2.2 Defesa e Responsabilização 60
4.2.3 Atendimento e Prevenção 62
4.2.4 Comunidades 64
4.2.5 Movimentos Sociais 65
4.3 Eixo Atendimento e Prevenção 66
6
4.3.2 Defesa e Responsabilização 68
4.3.3 Atendimento e Prevenção 69
4.3.4 Comunidades 74
4.3.5 Movimentos Sociais 74
4.3 Eixo Defesa e Responsabilização 74
4.4.1 CMDCA 75
4.4.2 Defesa e Responsabilização 75
4.4.3 Atendimento e Prevenção 76
4.4.4 Comunidades 77
4.4.5 Movimentos Sociais 77
5. Mapas de geoprocessamento das demandas 78 5.1 Geoprocessamento das demandas 78
7 Lista de Tabelas
Tabela 1. Instituições Entrevistadas no Diagnóstico Rápido Participativo 21 Tabela 2. Instituições cadastradas no CMDCA 23 Tabela 3. Tipo de imóvel utilizado pelos segmentos 24 Tabela 4. Satisfação com a infraestrutura existente nos segmentos 24 Tabela 5. Planejamento das instituições 26 Tabela 6. Origem e o destino das denúncias/notificações de violência sexual 30 Tabela 7. Casos de violência sexual denunciados, atendidos, acompanhados e
desligados pelos segmentos de defesa e responsabilização (2008-2009)
31
Tabela 8. Distribuição quantitativa das vítimas de abuso sexual identificadas pelos serviços de defesa e responsabilização por faixa etária e por sexo
33 Tabela 9: Bairro/localidade de origem da vítima e localidade da ocorrência de
violência sexual
34 Tabela 10. Casos de violência sexual denunciados, atendidos, acompanhados e
desligados pelos segmentos de atendimento e prevenção (2008-2009)
37
Tabela 11. Distribuição quantitativa das vítimas de violência sexual identificadas pelos serviços de atendimento e prevenção por faixa etária e por sexo
39
Tabela 12: Bairro/localidade de origem da vítima e localidade da ocorrência de violência sexual
39
Tabela 13. Distribuição quantitativa das vítimas de violência sexual identificadas pelas comunidades
8
Tabela 14. Distribuição quantitativa das vítimas de abuso sexual identificadas pelas comunidades por faixa etária e por sexo
47
Tabela 15: Bairro/localidade de origem da vítima e localidade da ocorrência de violência sexual
48
Tabela 16. Bairros das instituições entrevistadas 50 Tabela 17. Distribuição quantitativa de casos de violência sexual observados
pelos movimentos sociais
53
Tabela 18. Distribuição quantitativa das vítimas de abuso sexual identificadas pelos movimentos sociais por faixa etária e por sexo
55
Tabela 19: Bairro/localidade de origem da vítima e localidade da ocorrência de violência sexual
57
Tabela 20: Articulação dos serviços de defesa e responsabilização com outras instituições, ações e programas
60
Tabela 21: Articulação dos serviços de atendimento e prevenção com outras instituições, ações e programas
62
Tabela 22: Características das entidades cadastradas no CMDCA 67 Tabela 23. Tipo e missão institucional do segmento de atendimento e prevenção
entrevistado
69
Tabela 24. Áreas atendidas pelos serviços de atendimento e prevenção entrevistados
9 Lista de Figuras
Figura 1. Tempo de existência da comunidade 52 Figura 2. Geoprocessamento das demandas próximas a Rua Setembrino de Carvalho 79 Figura 3. Geoprocessamento das demandas próximas a Ponte Internacional 80
10 1. Breve apresentação do Programa Rede Regional de Luta contra o Tráfico de Crianças e Adolescentes para Fins de Exploração Sexual na Região do MERCOSUL
O Programa Rede Regional de Luta contra o Tráfico de Crianças e Adolescentes para Fins de Exploração Sexual na Região do MERCOSUL é resultado de um acordo assinado entre as altas autoridades dos governos do Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai, a fim de implementar uma estratégia de enfrentamento a violência sexual contra crianças e adolescentes e tráfico para esses fins em 15 cidades gêmeas, a saber: Chuí (Brasil) e Chuy (Uruguay), Santana do Livramento (Brasil) e Rivera (Uruguay), Uruguaiana (Brasil) e Paso de Los Libres (Argentina), Bella Unión (Uruguay) e Barra do Quaraí (Brasil), San Tomé (Argentina) e São Borja (Brasil), Jaguarão (Brasil) e Rio Branco (Uruguay) e na tríplice fronteira Puerto Iguazu (Argentina), Ciudad del Este (Paraguay) e Foz do Iguaçu (Brasil).
A consolidação da Estratégia Regional de Enfrentamento ao Tráfico de Crianças e Adolescentes na Região do Mercosul está pautada na metodologia do Programa de Ações Integradas Referenciais de Enfrentamento à Violência Sexual Infanto-Juvenil no Território Brasileiro (PAIR). Tal método foi implementado no Brasil no ano de 2002, sugerindo a integração de políticas e a articulação entre instituições governamentais e sociedade civil para a construção de ações direcionadas a prevenção e ao atendimento de crianças e adolescentes vulneráveis as situações de exploração sexual (Motti, Contini & Amorim, 2008). Devido a experiência e a validade dessa metodologia já testada, em pelo menos 17 estados brasileiros até o ano de 2008, a equipe executiva do Programa Escola de Conselhos da Universidade do Mato Grosso do Sul, juntamente a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República, optou pela expansão desta no âmbito da Região do Mercosul. Para contemplar as peculiaridades da cooperação binacional e transnacional a metodologia do Programa Pair-Mercosul foi reorganizada e está composta por cinco componentes: (I) processo de articulação politico-institucional e execução do Diagnóstico Rápido Participativo (DRP) para identificação da situação da exploração sexual nas 15 cidades selecionadas; (II) realização de seminários locais para a construção de planos de enfrentamento da situação identificada no DRP; (III)
11
elaboração de protocolos e fluxos de serviços de prevenção, atenção e responsabilização; (IV) estratégia regional, binacional e transnacional de enfrentamento dessa situação, que inclua mecanismos de consulta, cooperação e execução de intervenções comuns aos diferentes países e (V) registro e sistematização da experiência de construção do bem público e das metodologias de articulação, mobilização e desenvolvimento dos protocolos e fluxos de serviços. Essas ações visam a criação de uma rede integrada e cooperativa em regiões de fronteiras para a proteção das crianças e dos adolescentes vítimas de crimes transnacionais.
As seis cidades gêmeas do Rio Grande do Sul, Barra do Quaraí, Chuí, Jaguarão, Santana do Livramento, São Borja e Uruguaiana, através de seus gestores municipais aderiram ao Programa Rede Regional de Luta contra o Tráfico de Crianças e Adolescentes para Fins de Exploração Sexual na Região do MERCOSUL no dia 15 de abril de 2009 na cidade de Porto Alegre, durante a reunião de trabalho organizada pela equipe executiva do Programa Escola de Conselhos em parceria com a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República e com a Secretaria de da Justiça e Desenvolvimento Social do Rio Grande do Sul. Na mesma ocasião, a Universidade Federal do Rio Grande, através do Centro de Estudos Psicológicos sobre Meninos e Meninas de Rua, assumiu a coordenação técnica das atividades do referido programa nas seis cidades gêmeas do Estado.
O projeto foi apresentado e aprovado no Instituto de Ciências Humanas e da Informação e na Pró-Reitoria de Extensão e Cultura da Universidade Federal de Rio Grande (FURG). Para a realização das atividades previstas na primeira etapa do projeto, uma equipe composta por oito acadêmicos do curso de Psicologia da Universidade Federal de Rio Grande e dois técnicos foram selecionados. Todos os integrantes receberam um treinamento durante os meses de maio, junho e julho totalizando 120 horas. Este incluiu a apresentação do Programa, a discussão de conceitos específicos à violência sexual, aulas sobre os marcos teóricos e legais de proteção a criança e ao adolescente, orientações sobre as entrevistas e simulações.
Ao mesmo tempo, foram iniciadas as atividades de articulação político institucional com o objetivo de mobilizar a comunidade e as redes existentes em cada uma das cidades gêmeas para o enfrentamento da violência e da exploração sexual de crianças e adolescentes. Diversas reuniões preparatórias foram privilegiadas visando a organização e a divulgação dos encontros
12
locais. As reuniões de articulação político institucional ocorreram nos meses de junho e julho de 2009. A primeira reunião aconteceu no dia 17 de junho no município do Chuí e contou com a participação de 27 representantes da rede de proteção e atendimento à criança e ao adolescente. Nessa ocasião, estiveram presentes representantes da cidade gêmea Chuy-Uruguay. No dia 18 de junho, a reunião ocorreu no município de Jaguarão e contou com a presença de 45 pessoas, tendo representações da cidade gêmea de Rio Branco-Uruguay. Dando seguimento as atividades, no dia 24 a equipe esteve reunida no município de São Borja juntamente com 44 representantes dos serviços locais e representantes de Santo Tomé-Argentina. A reunião no município de Barra do Quarai aconteceu no dia 25 de junho, estiveram presentes 38 representantes locais e da cidade gêmea de Bella Union-Uruguay. Já no dia 26 de junho a reunião aconteceu no município de Uruguaiana com 30 representantes locais, no entanto, nessa ocasião não houve representação da cidade gêmea de Passo de Los Libres–Argentina. Por fim, foi realizada a reunião no município de Santana do Livramento no dia 1 de julho, a qual contou com 23 representantes locais e uma representante da cidade gêmea de Riveira-Uruguay.
Tais reuniões de articulação tiveram como pauta principal a apresentação da Rede Regional, as orientações para a realização da primeira etapa do projeto e o planejamento do Diagnóstico Rápido Participativo (DRP). Cabe salientar que nas cidades de Barra do Quarai, Chuí, Santana do Livramento e Uruguaiana foram retomados e discutidos os diagnósticos construídos no ano de 2006 a fim de possibilitar uma atualização das informações coletadas e de focalizar a continuidade dessas ações. Outro importante objetivo desta reunião foi a instalação da Comissão de Apoio Local de enfrentamento à violência sexual contra crianças e adolescentes, a qual tinha como tarefa subsidiar a equipe na identificação dos segmentos que poderiam participar do DRP e facilitar o agendamento das entrevistas. A composição da Comissão de Apoio formalizou o início do processo de execução do DRP em cada um dos seis municípios.
O DRP foi realizado no período de 20 de julho a 8 de agosto do ano de 2009, totalizando 294 entrevistas. A equipe foi dividida em dois grupos a fim de realizar a coleta de informações nos seis municípios, sendo que um grupo ficou responsável pelos municípios do Chuí, Jaguarão e Santana do Livramento e outro grupo se deslocou até Barra do Quaraí, São Borja e Uruguaiana.
13 2. Informações gerais sobre o Diagnóstico Rápido Participativo (DRP)
O DRP nos municípios de Chuí, Barra do Quaraí, Jaguarão, Santana do Livramento, São Borja e Uruguaiana seguiu as orientações da metodologia utilizada no PAIR e utilizou os formulários adaptados para a região do Mercosul. A coleta de dados nos municípios buscou identificar a situação de violência sexual, verificar as demandas existentes e mapear os serviços e os programas existentes na rede de proteção, defesa e atendimento. O levantamento dessas informações visa a construção de um plano operativo local e binacional para o enfrentamento da realidade encontrada nas cidades gêmeas.
2.1 Metodologia do Diagnóstico Rápido Participativo (DRP)
O DRP prevê a realização de entrevistas aos diferentes segmentos que compõe a rede de prevenção, atendimento e defesa da criança e do adolescente através de cinco formulários padronizados e específicos para cada um dos seguintes órgãos:
Formulário 1 – CMDCA: destinado ao(s) representante(s) do Conselho Municipal dos
Direitos da Criança e do Adolescente;
Formulário 2 - Defesa e Responsabilização: destinado a representantes do Conselho
Tutelar, Juizado, Promotoria e Defensoria da Infância e Juventude, Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, Polícia Rodoviária Federal, Secretaria de Justiça e Segurança Pública, Polícia Militar, Bombeiros, Consulado, Receita Federal.
Formulário 3 - Atendimento e Prevenção: destinado a representantes de instituições e
de programas governamentais e não governamentais.
Formulário 4 - Comunidades: destinado a lideranças comunitárias e presidentes de
bairro.
Formulário 5 - Movimentos Sociais: destinado a lideranças de movimentos sociais
14 3. Relatório Final do Diagnóstico Rápido Participativo em Uruguaiana/RS
Uruguaiana está situada no extremo oeste do Estado do Rio Grande do Sul. Situa-se na fronteira do Brasil com a Argentina e possui uma divisa seca (uma ponte) com o município de Paso de los Libres (Argentina). Fundada em 24 de fevereiro de 1843, foi elevada à categoria de município em 1846, emancipando-se de Alegrete.
Por tratar de uma localidade fronteiriça, o município de Uruguaiana está limitado pelos municípios de Barra do Quaraí (Brasil), Quaraí (Brasil), Itaqui (Brasil), Alegrete(Brasil) e Paso de los Libres (Argentina). A foto abaixo mostra a Ponte Internacional que liga os dois países.
15
A ponte possui dois nomes: "Getúlio Vargas" na metade brasileira e "Agustín Justo" na metade argentina. Como se pode perceber é possível transitar livremente entre os países, fato que aproxima e fortalece a relação entre os dois povos. A circulação em Uruguaiana e em Paso de los Libres é intensa devido ao comércio local e a zona franca no lado argentino.
Para desenvolver o programa Rede Regional de Luta contra o Tráfico de Crianças e Adolescentes para Fins de Exploração Sexual na Região do MERCOSUL é imprescindível conhecer as potencialidades e as fragilidades que permeiam o território de Uruguaiana. Para isso, alguns dados sobre o município estão destacados a seguir.
16
Indicadores demográficos: Segundo os dados do último censo demográfico do Instituto Brasileiro de Geografia Econômica (IBGE) referentes a 2000, constatou-se que o município é composto por 126.936 habitantes, distribuídos em uma área de 5713,6 km2. Sua ocupação é predominantemente urbana, com cerca de 6,62% residindo em área rural. Atualmente, estima-se que existam 125.507 habitantes, segundo as estimativas do IBGE1. Esta perda de habitantes ao longo da última década se deve ao declínio econômico da região no período.
Estrutura Étaria 1991 2000 Menos de 15 anos 37 760 38 272 15 a 64 anos 69 701 81 644 65 anos e mais 5 713 7 020 Razão de Dependência 62.4% 55.5%
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano, PNUD, 2002
Indicadores de Longevidade, Mortalidade e Fecundidade, 1991 e 2000
1991 2000
Mortalidade até 1 ano de idade (por 1000 nascidos vivos)
33.2 20.9
Esperança de vida ao nascer (anos)
64.5 70.2
Taxa de Fecundidade Total (filhos por mulher)
2.7 2.6
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano, PNUD, 2002
Índice de desenvolvimento humano (IDH): A figura abaixo apresenta o IDH do município, da educação, da renda e da longevidade.
1 Censo demográfico de 2010: resultados preliminares. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (14 de
17
Em 2000, o Índice de Desenvolvimento Humano Municipal de Uruguaiana era de 0,788. Segundo a classificação do PNUD, o município está entre as regiões consideradas de médio desenvolvimento humano (IDH entre 0,5 e 0,8). Em relação aos outros municípios, Uruguaiana apresenta uma situação boa quando comparado com os demais municípios do Brasil, mas regular quando comparado com os demais municípios do Estado, pois ocupa a 838ª posição no País e a 224ª posição no Estado.
Economia do município: O Produto Interno Bruto (PIB) per capita é de R$ 17.050 (IBGE, 2007). A economia de Uruguaiana é predominantemente constituída pelo setor de serviços, mais especificamente pelo comércio, o qual representa 65,5% do PIB. O comércio nas regiões fronteiriças, principalmente nas cidades vizinhas, é impactado diretamente pelas variações cambiais e pelas determinações legislativas de cada país. Nesse caso, os comerciantes do lado brasileiro são diretamente afetados pela concorrência e pelo regime fiscal atraente dos estabelecimentos identificados como duty free ou free shop no lado argentino. Embora a possibilidade de compras na zona franca atraia muitos turistas e garanta um fluxo de turismo de compras para os uruguaios, essa atividade oferece benefícios diretos e indiretos à rede hoteleira e aos serviços em geral do lado brasileiro (gastronomia, transporte, etc). O município possui um importante porto seco, que recebe um volume considerável de veículos rodoviários de carga que fazem o transporte de mercadorias entre os dois países. Este é um aspecto (alta presença de
18
caminhoneiros) que pode ser um fator de risco para as situações de violência contra a criança e o adolescente. Fortalecer as fronteiras e articular o trabalho entre os países é uma das principais metas do PAIR-Mercosul.
Educação: De acordo com os dados do Censo Educacional realizado no ano de 2009 pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (INEP), Uruguaiana possui noventa e três unidades educacionais, sendo quatorze de ensino médio, quarenta e oito de ensino fundamental e trinte e uma pré-escolas. O maior percentual de matriculas encontra-se no ensino fundamental (74.2%), seguido do ensino médio (18.8%) e pré-escola (7%). Essa distribuição exige um número de docentes coerente com a demanda, tendo 1018 professores para o ensino fundamental, 103 para a pré-escola e 325 para o ensino médio. De acordo com os dados do Censo do IBGE do ano de 2000 o nível educacional da população adulta é o seguinte:
Nível Educacional da População Adulta (25 anos ou mais), 1991 e 2000
1991 2000
Taxa de analfabetismo 9.9 7.4
% com menos de 4 anos de estudo 25.5 20.5 % com menos de 8 anos de estudo 63.9 56.9
Média de anos de estudo 6.1 6.8
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano, PNUD, 2002
Saúde: Segundo o Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS, 2009) vinte e um estabelecimentos municipais, vinte e três privados e um federal são responsáveis pelo cuidado à saúde da população.
Habitação: Informações referentes ao acesso da população a serviços básicos e a bens de consumo foram indicados no Censo do IBGE no ano de 2000.
Acesso a Serviços Básicos
19
Água Encanada 83.1 91.3
Energia Elétrica 96.0 98.0
Coleta de Lixo 89.3 96.9
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano, PNUD, 2002
Acesso a Bens de Consumo
1991 2000
Geladeira 82.7 91.9
Televisão 86.1 94.4
Telefone 9.8 36.4
Computador NR 7.5
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano, PNUD, 2002
Vulnerabilidade Familiar: De acordo com o Censo do IBGE (2000) a situação de vulnerabilidade familiar enfrentada pelo município de Uruguaiana era a seguinte:
Indicadores de Vulnerabilidade Familiar
1991 2000
% de mulheres de 10 a 14 anos com filhos ND 0.7 % de mulheres de 15 a 17 anos com filhos 2.7 7.9 % de crianças em famílias com renda
inferior à 1/2 salário mínimo 39.9 41.4 % de mães chefes de família, sem
cônjuge, com filhos menores
7.0 5.5
Fonte: Atlas do Desenvolvimento Humano, PNUD, 2002
As características do município foram base fundamental para a identificação da rede local e para organização e execução do Diagnóstico Rápido Participativo. A análise do material coletado em Uruguaiana está apresentada nos capítulos a seguir.
20 3.1 Instituições/atores participantes do DRP – Uruguaiana/RS
A rede de enfrentamento a violência sexual infanto juvenil em Uruguaiana já está formalmente constituída. Existem serviços direcionados para essa problemática, especialmente o Conselho Tutelar, Centro de Referência Especializada em Assistência Social (CREAS/Sentinela) e a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, que já são reconhecidos pelos próprios serviços e pela própria comunidade. Diante desse cenário, os serviços e as instituições existentes no município foram mobilizados e convidados a participar do mapeamento a fim de enunciar a realidade da violação sexual para delinear futuras ações preventivas e combativas. Esse convite se estendeu para os representantes e líderes de bairro e para os movimentos sociais que representam a sociedade civil. A articulação da sociedade e as instituições/serviços em torno do enfrentamento de um grave problema como a violência sexual é desejável porque viabiliza a ampliação dos canais de acesso das crianças e adolescentes ao cuidado e à atenção de que necessitam, possibilita ações coordenadas e fortalece a imagem de cada participante.
Para auxiliar a equipe do PAIR-Mercosul na identificação dos serviços, das lideranças e dos movimentos sociais existentes em Uruguaiana uma Comissão Provisória Local foi constituída. Onze pessoas compuseram o grupo de apoio: Raimundo Mendes, Alexandre Manoel Gonçalves, Jussara Rosa Rodrigues de Freitas, Gladis Maria Cardoso Soares, Evaldo Almeida Munhoz, Maria Aparecida Boffil, Liliane Cristina Lopes Acunha, Andrea Muller, Marlene Freitas, Joicemar Ferrarel e Gediel Machado. Tal comissão teve um papel importante na mobilização de todos os setores para a efetiva execução do diagnóstico, através da indicação dos segmentos e do agendamento das entrevistas.
O Diagnóstico Rápido Participativo contou com a participação de 45 representantes de instituições localizadas município do Uruguaiana, sendo um representante do Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, treze representantes do segmento de defesa e responsabilização, dezessete representantes do segmento de atendimento e prevenção, três lideranças comunitárias e onze representantes dos movimentos sociais. A Tabela 1, apresentada a seguir, descreve os serviços entrevistados em cada um dos segmentos envolvidos.
21
Tabela 1. Instituições Entrevistadas no Diagnóstico Rápido Participativo
Formulário Instituição entrevistada
CMDCA (1) Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente
Defesa e Responsabilização (13)
Brigada Militar
Bombeiros da Brigada Militar Conselho Tutelar
Consulado da Argentina Defensoria Pública
Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente Juizado da Infância e Juventude
Ministério Público Ordem dos Advogados Policia Federal
Policia Rodoviária Federal Posto da Mulher
Receita Federal
Atendimento e Prevenção (17)
Ambulatório
Centro de Atenção Integral à Criança e ao Adolescente (CAIC)
Centro de Referencia de Assistência Social 10º Coordenadoria Regional de Ensino Escola Estadual CIEP
Escola Municipal de Ensino Fundamental Cabo Luiz Quevedo Escola Municipal de Ensino Fundamental General Osório Escola Lílian Guimarães
Escola Julio de Castilhos Escola Marista Sant’Ana
22
Instituto Educacional Paulo Freire Posto de Saúde Central da Mulher Programa Primeira Infância Melhor
Programa Municipal de DST/AIDS (COAS) Secretaria Municipal de Educação
Serviço Sentinela
Comunidades (03)
Agente Comunitária de Saúde do Bairro Betânia e Porto Seco Líder Comunitária do Bairro Mendizabal
Liderança do Bairro Áreas Verdes
Movimentos Sociais (11) Associação Brasileira de Transportes Internacionais (ABTI)
Circulo Operário
Conselho Municipal de Assistência Conselho Municipal de Saúde Imprensa e Secretaria de Cultura Movimento Negro de Uruguaiana ONG SOS Mulher
Pastoral da Criança
Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares Sindicato dos Condutores Autônomos de Veículos
Rodoviários e Transportadores Autônomos de Uruguaiana União Estudantil Uruguaianense
3.2 Instituições cadastradas no CMDCA
Do total das 45 instituições entrevistadas, constatou-se que onze estavam cadastradas no CMDCA.
23
Tabela 2. Instituições cadastradas no CMDCA
Instituição Mês/ano de registro Tipo
Abrigo Residencial MSF 2006 Governamental Lar de Menores Exército de
Salvação 2006 Não Governamental
Lar da Criança de Uruguaiana 2006 Não Governamental Associação de Pais e Amigos
dos Excepcionais 2006 Não Governamental Circulo Operário 2007 Não Governamental CASE Uruguaiana 2007 Governamental
CACAU Abrigo 2006 Governamental
Equoterapia 2008 Não Governamental
Sociedade Espírita Paz em
Jesus 2008
Não Governamental Centro de Integração Empresa
Escola 2009
Não Governamental Associação metodista de Ação
Social 2006 Não Governamental
De acordo com o representante entrevistado, dentre as instituições citadas apenas o CREAS/Sentinela atua diretamente com as crianças e adolescentes vítimas de violência sexual e indiretamente com as suas famílias. Nenhum trabalho com o agressor foi identificado.
24
3.3 Infraestrutura e Funcionamento das Instituições
Uma série de questões investigou a infraestrutura existente, as necessidades emergentes e o funcionamento das instituições entrevistadas. A seguir estão apresentados os resultados encontrados.
3.3.1 Estrutura física
Tabela 3. Tipo de imóvel utilizado pelos segmentos
Próprio n(%) Locado n(%) Cedido n(%) CMDCA - - 1(100) Defesa e Responsabilização 6(46,2) 4(30,8) 3(23) Atendimento e Prevenção 14(82,3) 1(5,9) 2(11,8)
Tabela 4. Satisfação com a infraestrutura existente nos segmentos
Espaço físico Mobiliário Equipamentos
Positiva n(%) Negativa n(%) Positiva n(%) Negativa n(%) Positiva n(%) Negativa n(%) CMDCA - 1(100) - 1(100) 1(100) - Defesa e Responsabilização 7(53,8) 6(46,2) 8(61,5) 5(38,5) 8(61,5) 5(38,5) Atendimento e Prevenção 12(70,6) 5(29,4) 12(70,6) 5(29,4) 10(58,8) 7(41,2)
É possível verificar na Tabela 3 que o CMDCA realiza o seu serviço em um imóvel cedido e, por essa razão, o seu representante avalia negativamente as condições de espaço físico
25
e mobiliário. Sua preocupação está voltada para a falta de um local próprio para o funcionamento adequado do trabalho.
A maioria das instituições de defesa e responsabilização (46,2%) possui um imóvel próprio para o seu funcionamento e encontra-se satisfeito com as condições de trabalho disponíveis. As avaliações negativas referiram-se a necessidade de espaços mais amplos, um maior número de móveis e equipamentos de informática (computador e impressora). A Brigada Militar e o Conselho Tutelar informaram a necessidade de viaturas e a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente informou que necessita de equipamentos para a realização do Depoimento Sem Dano.
Dentre as instituições que compõem o segmento de atendimento e prevenção 82,3% possuem imóvel próprio e 70,6% apresentaram avaliações positivas dos seus espaços. Contudo, as escolas referiram a necessidade de espaços mais amplos e voltados para o lazer e a recreação. A falta de acessabilidade e de laboratórios de informática também foram lembradas. O Programa Primeira Infância Melhor (PIM) também salientou que precisa de uma ampliação dos seus locais de atendimento e melhorias nas salas já existentes. Além disso, destacou que falta de viaturas e equipamentos ainda tem sido um problema enfrentado pelos visitadores do PIM.
3.3.2 Organização/Funcionamento
Horário de atendimento: A maioria das instituições de defesa e responsabilização relatou que o serviço oferece atendimento 24 horas devido às particularidades do local. Apenas o Consulado, a Ordem dos Advogados, a Defensoria Publica, o Juizado funcionam em horário comercial, das 8hs às 18h de segunda a sexta-feira. Da mesma forma, as instituições do segmento de atendimento e prevenção indicaram oferecer seus serviços de segunda a sexta-feira em horário comercial, somente o Centro de Referencia de Assistência Social afirmou realizar plantões de 24 horas. As escolas seguem os horários e calendários pedagógicos, atendendo o público prioritariamente durante os turnos da manhã e tarde.
26
Planejamento: Todos os serviços realizam algum tipo de planejamento. Uma diversidade de respostas relacionadas à periodicidade do planejamento foi apresentada e estão descritas na Tabela 5.
Tabela 5. Planejamento das instituições
Segmento Instituição Periodicidade
CMDCA CMDCA Anual
Defesa e Responsabilização
Brigada Militar Diário
Bombeiros da Brigada Militar Trimestral
Conselho Tutelar Semanal
Consulado da Argentina Anual Defensoria Pública Não é fixo Delegacia de Proteção à Criança e ao
Adolescente Não informou
Juizado da Infância e Juventude Não informou
Ministério Público Anual
Ordem dos Advogados Semanal Policia Federal Quinzenal e
Anual Policia Rodoviária Federal Anual Posto da Mulher Não é fixo
27 Atendimento e Prevenção
Ambulatório Semanal
Centro de Atenção Integral à Criança e ao
Adolescente (CAIC) Trimestral Centro de Referencia de Assistência Social Não é fixo 10º Coordenadoria Regional de Ensino Não informou Escola Estadual CIEP Mensal Escola Municipal de Ensino Fundamental
Cabo Luiz Quevedo Semanal
Escola Municipal de Ensino Fundamental
General Osório Mensal
Escola Lílian Guimarães Trimestral e Semestral Escola Julio de Castilhos Não existe
planejamento Escola Marista Sant’Ana Trimestral e
Anual Fundação Gaúcha do Trabalho Social Mensal Instituto Educacional Paulo Freire Semanal Posto de Saúde Central da Mulher Não é fixo Programa Primeira Infância Melhor Semanal Programa Municipal de DST/AIDS (COAS) Mensal Secretaria Municipal de Educação Semanal e
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Serviço Sentinela Anual e
Bimestral
Os segmentos de defesa e responsabilização organizam as suas atividades com base nas ocorrências e nas demandas. Já as escolas pautam suas atividades nos resultados das reuniões pedagógicas. A necessidade de reuniões com toda a equipe de profissionais para o planejamento das suas atividades foi consenso entre os serviços entrevistados. Essa organização evidencia que os serviços estão atentos não só as demandas existentes, como aquelas emergentes no município. Além disso, o planejamento garante que as ações sejam previamente discutidas e organizadas em torno de dados estatísticos e, até mesmo, nas verbas disponíveis.
Monitoramento: Todas as treze instituições do segmento de defesa e responsabilização afirmaram a existência de algum tipo de monitoramento. As instituições obedecem a um modelo hierárquico, tendo seus serviços fiscalizados. O Conselho Tutelar, por exemplo, informou que é monitorado pelo Ministério Público e pelo Judiciário, enquanto esse último é fiscalizado pela Corregedoria Geral de Justiça. O monitoramento também foi confirmado para todas as instituições do segmento de atendimento e prevenção participantes do Diagnóstico Rápido Participativo. O Sentinela referiu responder as orientações da Coordenadoria Estadual do CREAS e da Comissão Municipal de Enfrentamento a Violência Sexual.
29 4. Análise por Eixos
4.1 Eixo da situação: a violência sexual contra crianças e adolescentes em Uruguaiana
Este eixo tem como objetivo mapear a atual situação da violência sexual contra crianças e adolescentes no município de Uruguaiana. Nesse intuito foram analisadas as entrevistas a fim de caracterizar as modalidades de violência e exploração sexual existentes, bem como identificar as localidades e os principais autores dessas violações. O mapeamento reflete tanto a realidade denunciada, bem como as situações que ainda se mantinham veladas até o momento das entrevistas do DRP. A seguir estão apresentados os resultados obtidos em cada um dos segmentos participantes.
4.1.1 CMDCA
O CMDCA conta com um sistema de registro de informações manual e não padronizado. Embora sua construção ainda não seja digitalizada, o acesso aos dados é fácil e rápido. Tal sistema é alimentado a partir de informações oferecidas pelos seguintes serviços: Sentinela, Delegacia de Crianças e Adolescentes, acolhimentos institucionais, Promotoria da Infância e Juventude, Conselho Tutelar e Brigada Militar. O sistema é importante para o planejamento de ações municipais.
Esse sistema recebeu um reforço no final do primeiro semestre do ano de 2009, quando o Programa Sentinela realizou uma pesquisa sobre a situação de violência sexual no município de Uruguaiana e disponibilizou os resultados as entidades que atuam nessa área a fim de contribuir com a construção de ações de enfrentamento. A partir desse documento, atividades foram direcionadas para as áreas e os bairros mais vulneráveis a exploração sexual. Embora essas ações tenham acontecido, o entrevistado afirmou que elas não foram suficientes, pois ainda existem casos de violação no município que precisam ser combatidos. Diante dessa realidade, quando
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questionado sobre a origem e o destino das denúncias/notificações de violência sexual, o entrevistado distribuiu suas respostas da seguinte forma:
Tabela 6. Origem e o destino das denúncias/notificações de violência sexual
Abuso sexual intrafamiliar
Origem: Conselho Tutelar Destino: Sentinela
Bairro: Anita Garibaldi, Áreas Verdes e Vila Betânia
Abuso sexual extrafamiliar
Origem: Brigada Militar, Delegacia de Proteção à Criança e
ao Adolescente e Juizado
Destino: Sentinela
Bairro: Anita Garibaldi, Áreas Verdes e Vila Betânia
Exploração sexual (prostituição)
Origem: Brigada Militar, Delegacia de Proteção à Criança e
ao Adolescente e Conselho Tutelar
Destino: Sentinela
Bairro: Vila Betânia (antiga COBEC) e Rua Setembrino de
Carvalho
Pornografia infanto-juvenil Origem: Não soube informar Destino: Sentinela
Bairro: Não soube informar
Turismo sexual Origem: Não soube informar
Destino: Sentinela
Bairro: Não soube informar Tráfico para fins de
exploração
Origem: Brigada Militar, Delegacia de Proteção à Criança e
ao Adolescente e Conselho Tutelar
Destino: Sentinela
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As respostas apresentadas pelo entrevistado evidenciam que os serviços de defesa têm sido pontuais na notificação de qualquer ato de violência contra a criança e o adolescente e que o Programa Sentinela é uma importante referencia para o atendimento dos casos de violência sexual em Uruguaiana.
Os casos de pornografia, turismo e tráfico sexual ainda não são totalmente conhecidos pelo representante do CMDCA. Embora tenha identificado alguns casos relacionados à violência sexual não soube informar os bairros em que essas situações ocorrem, mas destacou que os pontos mais vulneráveis a ESCA são o Porto Seco e a Rua Setembrino de Carvalho.
4.1.2 Defesa e Responsabilização
De acordo com as rotinas e os registros mantidos na instituição apenas sete instituições afirmaram ter conhecimento da ocorrência de violência sexual no município de Uruguaiana – Conselho Tutelar, Brigada Militar, Defensoria Pública, Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, Juizado da Infância e Juventude, Posto da Mulher e Ministério Público – e manter um registro sobre a distribuição quantitativa dos casos de violência ocorridos. Entretanto, nem todos os serviços puderam ou tiveram autorização para acessar seus registros para informar os dados solicitados, sendo que apenas três instituições forneceram dados sobre a distribuição quantitativa solicitada.
Tabela 7. Casos de violência sexual denunciados, atendidos, acompanhados e desligados pelos segmentos de defesa e responsabilização (2008-2009)
Tipo de violência Instituição Denunciados Atendidos Acompanhado Desligados
Abuso sexual intrafamiliar Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente 11 11 11 0 Ministério Público 11 11 10 1 Total 22 22 21 1
Abuso sexual Delegacia de Proteção à Criança e ao
32 extrafamiliar Adolescente Ministério Público 9 9 5 4 Total 11 11 7 4 Exploração sexual (prostituição) Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente 21 21 21 0 Ministério Público 6 6 6 0 Total 27 27 27 0 Pornografia - - - - - Turismo sexual Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente 3 3 3 0 Posto da Mulher 0 3 3 0 Total 3 6 6 0 Tráfico sexual - - - - -
Como é possível verificar na Tabela 7, existem diferentes ocorrências de violência sexual contra a criança e o adolescente em Uruguaiana, evidenciando a problemática no município. Os números indicados também desvelam um número alto de ocorrências, mostrando que não são poucos meninos e meninas que tem sofrido com a violação. Certamente esse número é ainda maior, uma vez que muitos casos de violência sexual nem sequer são denunciados. De qualquer forma, é importante atentar para o fato de que os casos denunciados consegue receber algum tipo de atendimento e acompanhamento. Isso significa que as crianças e os adolescentes recebem suporte e atenção após a revelação.
Um maior detalhamento sobre cada uma das vítimas e dos agressores envolvidos nos respectivos casos não foi possível, pois os formulários não continham todas as informações solicitadas no Diagnóstico Rápido Participativo, contudo os dados oferecidos já permitem esclarecer alguns fatores de risco, os quais estão identificados na Tabela 8.
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Tabela 8. Distribuição quantitativa das vítimas de abuso sexual identificadas pelos serviços de defesa e responsabilização por faixa etária e por sexo
Tipo de violência
Instituição 0-6 anos 7-12 anos 13-17 anos Feminino Masculino
Abuso sexual intrafamiliar Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente NR NR NR NR NR Ministério Público 2 5 4 10 2 Total 2 5 4 10 2 Abuso sexual extrafamiliar Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente NR NR NR NR NR Ministério Público 0 5 3 9 0 Total 0 5 3 9 0 Exploração sexual (prostituição) Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente NR NR NR NR NR Ministério Público 0 5 1 6 0 Total 0 5 1 6 0 Turismo sexual Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente NR NR NR 3 0 Posto da Mulher NR NR NR 3 0 Total NR NR NR 6 0 *NR = Nenhuma resposta
Como é possível verificar na Tabela 8, a Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente não tinha em seus registros informações sobre o sexo e a faixa etária dos casos notificados. Por outro lado, o Ministério Público e o Posto da Mulher trouxeram informações que levam a identificar o sexo feminino como um fator de risco importante para qualquer tipo de
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violação sexual (verificar na Tabela 8). Dois casos relacionados ao sexo masculino foram identificados, destacando que os meninos também podem ser alvo dessa violência.
Os casos de abuso sexual intrafamiliar foram praticados contra crianças de zero a 17 anos, revelando que não existe um padrão ou uma idade mais vulnerável, enquanto para os casos de abuso sexual extrafamiliar e prostituição existe risco para as crianças com idades entre sete e 17 anos.
A condição socioeconômica das famílias das crianças e dos adolescentes vítimas de violência sexual apareceu de forma bastante variada, reforçando que a violência pode ocorrer em qualquer contexto financeiro. Nos casos envolvendo a prostituição e o tráfico sexual, as instituições revelaram que é mais freqüente o envolvimento de meninas provenientes de famílias que recebem no máximo dois salários mínimos. Familiares (pais, tios, primos, padrastos e irmãos) foram identificados como os principais agressores nos casos de abuso sexual intrafamiliar e os vizinhos nos casos de abuso extrafamiliar. Os caminhoneiros foram indicados como os autores de prostituição e os donos de bares e casas como intermediários/agenciadores nessas violações. Turistas e caminhoneiros de fora do município/estado/país foram indicados como usuários do turismo sexual.
A fim de mapear as violações, foram solicitadas informações a respeito da origem das vitimas e das localidades de ocorrência dos casos de violência sexual identificados, sendo encontradas as seguintes respostas:
Tabela 9: Bairro/localidade de origem da vítima e localidade da ocorrência de violência sexual
Tipo de violência Instituição Bairro/localidade de origem da vítima Bairro/localidade de ocorrência Abuso sexual intrafamiliar Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente NR NR
Ministério Público Profilurb, Boa Vista,
Ipiranga, Érico
Profilurb, Boa Vista, Ipiranga, Érico
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Veríssimo, Cibrazém, Cabo Luiz Quevedo, Proficar, Loteamento Olga Ibarra e São
João
Veríssimo, Cibrazém, Cabo Luiz
Quevedo, Proficar, Loteamento Olga Ibarra e São João Abuso sexual extrafamiliar Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente NR NR
Ministério Público Cidade Nova, Centro,
São João, Anita Garibaldi, São Miguel e Nova Esperança
Cidade Nova, Centro, São João, Anita Garibaldi, São
Miguel e Nova Esperança Exploração sexual (prostituição) Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente NR Centro
Ministério Público Rio Branco,
Agefe/COBEC, Cabo Luiz Quevedo, Vila Betânia e Vila Julia
Rio Branco, Agefe/COBEC, Cabo Luiz Quevedo,
Vila Betânia e Vila Julia
Turismo sexual Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente
NR COBEC, Av. Setembrino e Av.
Gal. Hipólito
Posto da Mulher Não soube informar NR *NR = Nenhuma Resposta
Como esperado os dados permitem refletir que as situações de abuso sexual, intra ou extrafamiliar, estão concentradas nos bairros de origem das vitimas, uma vez que os casos ocorrem dentro do lar ou com vizinhos. Já os casos de prostituição e turismo sexual evidenciam localidades problemáticas no município destacadas nos relatórios anteriores como, por exemplo,
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COBEC e Avenida Setembrina. Isso significa que as ações organizadas para o enfrentamento ainda não repercutiram de forma efetiva em Uruguaiana, pois os problemas evidenciados continuam sendo os mesmos desde 2006.
4.1.3 Atendimento e Prevenção
O segmento de atendimento e prevenção esteve representado através da participação de 17 instituições. Destas, dez estavam envolvidas diretamente com a educação, sendo oito escolas, a Coordenadoria de Educação e a Secretaria de Educação. No âmbito das políticas públicas de proteção especial participaram o Centro de Referência de Assistência Social e o Centro de Referência Especializada de Assistência Social, sendo este último um serviço de atendimento especializado às crianças, adolescentes e famílias vítimas de violência. A Fundação Gaúcha do Trabalho Social e quatro serviços de saúde completaram os segmentos entrevistados.
Ao questionar as atividades realizadas no serviço as escolas disseram priorizar o atendimento e o acompanhamento de seus alunos, mas também informaram se dedicar a mobilizações, capacitações e palestras. Os serviços de saúde afirmaram atuar de forma bastante generalista, buscando efetivar suas ações através do atendimento, de estudos e pesquisas, mobilização e prevenção, capacitação e palestras. Relacionado às questões de violência sexual está o CREAS. Todos os 17 serviços são responsáveis pelo atendimento de todo o município, sendo que o CREAS também atende crianças e adolescentes vitimas de violência moradoras do município vizinho de Barra do Quaraí.
Com exceção do CAIC, todos os outros serviços entrevistados contam com um sistema de registro, arquivo e/ou manipulação das informações. As instituições educacionais armazenam a documentação de alunos, professores e funcionários e atendimentos em atas, enquanto nos serviços de saúde as informações referem-se ao histórico do paciente (exames realizados, atendimentos, dados patológicos) e são registradas em prontuários. O sistema de registro existente é padronizado, digitalizado e de fácil acesso e serve para o monitoramento e para o planejamento de ações. Nesses serviços, raramente são armazenadas informações relacionadas à
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violência sexual contra crianças e adolescentes. Apenas o CREAS destacou que seus registros tratam da temática. Contudo, os professores das escolas, os visitadores do Programa Primeira Infância Melhor (PIM) e os programas de saúde foram identificados como possíveis fontes de informação sobre essas questões. Tal fato demonstra que as escolas e os serviços de saúde também são locais de referência para a revelação das violações da infância e juventude, mesmo que não possuam serviço especializado de denúncia. Dentre os 17 serviços entrevistados, 14 posuem algum conhecimento sobre a ocorrência de violência sexual no município, mas apenas nove forneceram as informações solicitadas. A Tabela 10 apresenta os casos informados:
Tabela 10. Casos de violência sexual denunciados, atendidos, acompanhados e desligados pelos segmentos de atendimento e prevenção (2008-2009)
Tipo de violência Instituição Denunciados Atendidos Acompanhado Desligados
Abuso sexual intrafamiliar
Ambulatório 3 3 0 0
E.M.E.F. Cabo Luiz Quevedo 3 2 2 0 Escola Lílian Guimarães 2 2 2 0 E.M.E.F. General Osório 0 0 1 0 Instituto Educacional Paulo Freire 1 0 0 0 CREAS 55 51 51 4 Total 64 58 56 4 Abuso sexual extrafamiliar Ambulatório 4 4 0 0 COAS Programa Municipal de DST AIDS 0 1 1 0 Escola Julio de Castilhos 1 1 0 0 Escola Lílian Guimarães 1 1 1 0
38 E.M.E.F. General Osório 0 0 1 0 CREAS 33 28 28 5 Total 39 35 31 5 Exploração sexual (prostituição) Ambulatório 5 5 0 0 Escola Lílian Guimarães 0 1 1 0 E.M.E.F. General Osório 0 1 1 0 Instituto Educacional Paulo Freire 2 0 0 0 CREAS 20 11 11 9 Total 27 18 13 9 Pornografia 10 CRE 0 0 1 0 CREAS 1 0 0 0 Total 1 0 1 0 Turismo sexual - 0 0 0 0 Tráfico sexual - 0 0 0 0
O número expressivo de denúncias registradas esteve relacionado a uma diversidade de violações sexuais, revelando que a problemática está presente no município e alcançando os serviços de atendimento. Até o momento do Diagnóstico Rápido Participativo nenhum caso de turismo e de tráfico sexual havia sido atendido nas entidades.
Comparando os números indicados na Tabela 10 (oferecidos pela rede de atendimento) com aqueles da Tabela 7 (oferecidos pelos serviços de defesa e prevenção) verifica-se um desencontro de informações, mostrando que o fluxo da rede está sendo interrompido em algum momento. Por exemplo, os serviços de atendimento identificaram 64 casos de abuso sexual intrafamiliar, mas apenas 22 foram notificados nos serviços de defesa. Da mesma forma, três casos de turismo sexual foram denunciados sendo que nenhum foi recebido pelos serviços de
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atendimento. Talvez esse seja um ponto que mereça atenção para garantir a proteção integral da criança e do adolescente.
Para conhecer quem são as crianças e os adolescentes vitimas da violência sexual atendidas em Uruguaiana, questões sobre sexo e idade foram direcionadas aos representantes dos serviços de atendimento e prevenção.
Tabela 11. Distribuição quantitativa das vítimas de violência sexual identificadas pelos serviços de atendimento e prevenção por faixa etária e por sexo
Tipo de violência
Instituição 0-6 anos 7-12 anos 13-17 anos Feminino Masculino
Abuso sexual intrafamiliar
Ambulatório 0 3 0 3 0
E.M.E.F. Cabo Luiz Quevedo 0 3 0 3 0 Escola Lílian Guimarães 0 1 1 2 0 E.M.E.F. General Osório 0 1 0 1 0 Instituto Educacional Paulo Freire 0 0 1 1 0 CREAS 9 27 19 47 8 Total 9 35 21 57 8 Abuso sexual extrafamiliar Ambulatório 1 3 0 0 4 COAS Programa Municipal de DST AIDS 0 0 1 1 0 Escola Julio de Castilhos 0 1 1 1 0 Escola Lílian Guimarães 0 1 0 0 1 E.M.E.F. General Osório 0 0 1 1 0
40 CREAS 8 14 11 22 11 Total 9 19 14 25 16 Exploração sexual (prostituição) Ambulatório 0 0 5 5 0 Escola Lílian Guimarães 0 0 1 1 0 E.M.E.F. General Osório 0 1 0 1 0 Instituto Educacional Paulo Freire 0 0 2 2 0 CREAS 0 1 19 19 1 Total 0 2 21 28 1 Pornografia 10 CRE 0 0 1 1 0 CREAS 0 0 1 1 0 Total 0 0 2 2 0
Os casos de violência sexual que atingem os serviços de atendimento e prevenção revelam que as meninas ainda são as principais vitimas, seja no ambiente familiar ou não. Porém os meninos também foram citados nas ocorrências de abuso sexual intrafamiliar, abuso extrafamiliar e ESCA (prostituição). Embora as vítimas de abuso tenham idade entre zero e 17 anos, a faixa etária de sete a 12 anos parece ser mais vulnerável. Já os casos de ESCA acometem adolescentes com idades entre 13 e 17 anos.
Ainda, de acordo com os entrevistados, as vítimas pertenciam a famílias que recebem até dois salários mínimos, sendo que a ausência de qualquer rendimento era fator de risco para o envolvimento das crianças e dos adolescentes na ESCA, especialmente na modalidade de prostituição. Essas violações ocorrem em turnos variados, mas não houve precisão sobre o horário desta.
O padrasto, o pai, o tio e o avô foram referidos como os perpetradores do abuso sexual intrafamiliar, enquanto os vizinhos, professores, colegas e homens de meia idade foram
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identificados como os autores do abuso sexual extrafamiliar. Nos casos de exploração sexual/prostituição os homens de meia idade e os caminhoneiros foram os agressores mais citados. O caso de pornografia ainda não tinha nenhum agressor revelado. Os dados coletados indicam que a figura masculina ainda é predominante nos casos de violência sexual. Por outro lado, a figura feminina também tem sido identificada na violação. A mãe e as irmãs foram citadas como participantes dos casos de abuso sexual dentro da família, uma vez que possuem conhecimento da violação, mas não conseguem romper a violência. E nos casos de exploração sexual, a mãe foi identificada como agenciadora ou intermediária. O envolvimento da família direta ou indiretamente ainda mantem veladas inúmeras situações de violência.
Para identificar as regiões vulneráveis e as localidades de ocorrência, foram solicitadas informações a respeito da origem das vitimas e dos bairros onde tem sido identificados os casos de violência sexual citados pelos serviços de atendimento e prevenção, sendo encontradas as seguintes respostas:
Tabela 12: Bairro/localidade de origem da vítima e localidade da ocorrência de violência sexual
Tipo de violência Instituição Bairro/localidade de origem da vítima
Bairro/localidade de ocorrência
Abuso sexual intrafamiliar
Ambulatório Não sabe Não sabe E.M.E.F. Cabo Luiz
Quevedo
Cabo Luiz Quevedo
Cabo Luiz Quevedo
Escola Lílian Guimarães
Porto Seco e Betânia
Porto Seco e Betânia
E.M.E.F. General Osório
Hipica Não sabe
Instituto Educacional Paulo Freire
Promorar e Cristal Promorar e Cristal
CREAS União das Vilas,
Cabo Luiz
União das Vilas, Cabo Luiz Quevedo, Centro
42 Quevedo e São João e São João Abuso sexual extrafamiliar
Ambulatório Não sabe Não sabe COAS Programa
Municipal de DST AIDS
Centro Não sabe
Escola Julio de Castilhos Mascarenhas de Moraes Mascarenhas de Moraes Escola Lílian Guimarães Porto Seco e Betânia
Porto Seco e Betânia
E.M.E.F. General Osório
Bairro do Lixão Não sabe
CREAS União das Vilas,
Cabo Luiz Quevedo e São
João
União das Vilas, Cabo Luiz Quevedo e São
João
Exploração sexual (prostituição)
Ambulatório Não sabe Não sabe Escola Lílian
Guimarães
Porto Seco e Betânia
Porto Seco e Betânia
E.M.E.F. General Osório
Hípica Rua Pinheiro Machado
Instituto Educacional Paulo Freire
Não sabe Rua Setembrino de Carvalho
CREAS União das Vilas e
Vila Betânia
COBEC, União das Vilas e Betânia Pornografia 10 CRE Não sabe Centro
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Como esperado os bairros de origem das vítimas são exatamente os mesmos quando analisados os casos de abuso sexual intra e extrafamiliar, especialmente, quando aqueles casos que ocorrem fora da família são perpetrados pelos vizinhos, como comunicado pelos serviços. Já os casos relacionados à exploração sexual/prostituição em geral ocorrem em ruas conhecidas pela população como locais vulneráveis (Avenida Setembrino de Carvalho, COBEC, Porto Seco, entre outras citadas na Tabela 12).
Os entrevistados informaram ainda que alguns casos não chegam ao serviço de atendimento e prevenção, mas podem ser observados no cotidiano do município. Em nenhum momento houve qualquer referencia a fronteira (ponte) com o país vizinho revelando que para os serviços de atendimento e prevenção a circulação e a proximidade com a Argentina ainda não é um problema vinculado a exploração sexual.
4.1.4 Comunidades
Três comunidades estiveram representadas no Diagnóstico Rápido Participativo do município de Uruguaiana através dos líderes do bairro Mendizabal e do bairro Áreas Verdes e de um agente comunitário que atende os Bairros Betânia e Porto Seco. Embora Uruguaiana tenha um amplo território, muitos bairros/comunidades não puderam participar do levantamento de dados, pois estavam envolvidos com as ações de prevenção ao vírus H1N1 devido a situação de emergência decretada na prefeitura na época das entrevistas.
Dentre as comunidades que se disponibilizaram a participar, Mendizabal é a mais antiga, tendo sido estabelecida desde 1970. Inicialmente pertencia a Vila Ipiranga, mas a construção de casas foi favorecendo o desenvolvimento da comunidade. A implantação de esgoto e pavimentação asfáltica foram avanços importantes para o bairro, porém, ainda carecem de postos de saúde, escolas e segurança. Já a comunidade de Áreas verdes existe há 23 anos e também se desenvolveu a partir do crescimento da população e da construção de casas no local. Hoje conta com agentes comunitários e postos de saúde, mas enfrenta o trafico de drogas especialmente de crack que acaba por envolver muitas crianças e adolescentes no consumo e na venda. Já o Porto
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Seco e Betânia, de acordo com o entrevistado, são considerados bairros apenas há sete anos. Inicialmente eram assentamentos que acolhiam entre 10 e 15 famílias que haviam invadido a terra, hoje o terreno está sendo negociado com a prefeitura e acolhe 130 famílias. A água e a luz foram conquistas importantes na localidade, por outro lado, a prostituição infantil, o tráfico de drogas e a ausência de educação e cultura foram os principais problemas apontados pelo seu representante.
Questões referentes aos residentes das comunidades foram investigadas a fim de delimitar as características da população local. No Porto Seco e na Vila Betânia a maioria dos moradores não possui escolaridade e não tem acesso a emprego formal. Atividades informais e “bicos” no setor de cargas ferroviárias e portuárias foram identificados como atividades laborais dos homens, enquanto as mulheres geram renda através da faxina e da coleta de resíduos sólidos. Na comunidade de Áreas Verdes a renda média das famílias residentes das comunidades situa-se em um salário mínimo. Na percepção do entrevistado, existe um predomínio de mulheres que trabalham em casa e de homens envolvidos com serviço de caminhoneiro, pedreiro, eletricista, mecânico e estofador. Já na comunidade de Mendizabal a renda das famílias encontra-se em torno de dois salários mínimos. Como os moradores possuem ensino médio completo o acesso ao trabalho formal é comum. Os homens trabalham no comércio ou na zona rural e as mulheres no comércio e nas escolas.
Nestas comunidades sobressaiu a precariedade na infraestrutura e nos serviços existentes. As comunidades de Áreas Verdes e Porto Seco e Betânia relataram que ainda não existe rede de esgoto, nem pavimentação asfáltica em seus territórios. Os serviços existentes (água tratada, coleta de lixo e transporte urbano) são insatisfatórios. Já a comunidade de Mendizabal afirmou possuir os serviços de rede de esgoto, água tratada e coleta de lixo e estar totalmente satisfeita. Para o seu representante, apenas a pavimentação asfáltica ainda não esta concluída.
A inexistência de espaços de lazer, esporte e cultura foram salientadas pelas três comunidades entrevistadas, revelando a escassez de alternativas aos jovens. A preocupação com a segurança pública foi destacada, principalmente, pelo fato de que os furtos, os roubos, o uso de
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drogas e a prostituição tem se mostrado problemas frequentes enfrentados nas comunidades entrevistadas.
Ao investigar os problemas específicos relacionados as diferentes faixas etárias os problemas de origem respiratória foram os mais citados para as crianças e para os idosos, as drogas para os adolescentes e o álcool, as drogas e o HIV para os adultos. O representante do Porto Seco e da Vila Betânia destacou que o HIV é o principal problema de saúde enfrentado por crianças, adolescentes e adultos na comunidade. Para o atendimento desses problemas, as comunidades precisam buscar o serviço em bairros próximos, pois ainda não possuem uma unidade básica em seu território.
Nas comunidades entrevistadas apenas os serviços de educação já estão disponíveis em todos os bairros para o acesso fácil de crianças e adolescentes. Embora seja necessário, nenhum programa ou serviço de assistência social está disponível para o atendimento de crianças e adolescentes moradoras das Áreas Verdes, Porto Seco e Betânia. Apenas os residentes do bairro Mendizabal tem acesso ao Centro de Referencia em Assistência Social (CRAS do bairro Cabo Luiz Quevedo), onde recebem atendimento psicossocial e acesso a cultura e lazer. O Parcão (no centro do município), o Serviço Social do Transporte (SEST) e Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (SENAT) na Vila Betânia e o CRAS foram citados como locais de lazer e esporte para integração e resgate juvenil.
No que tange a ocorrência de violência sexual 100% dos entrevistados indicaram essa violação como um problema enfrentado por crianças e adolescentes e possuem conhecimento de algum caso na suas comunidades e no município. As principais fontes de informações citadas foram o contato com as próprias vítimas e suas famílias, observações no próprio bairro e comentários da comunidade, sendo que nos casos denunciados recorreu-se ao Conselho Tutelar, ao CREAS e a Policia. Segundo os entrevistados a maior parte dos casos não é denunciado por medo do abusador ou por dependência financeira.
Os entrevistados não souberam precisar os dados quantitativos, pois não possuem registros específicos, mas informaram números baseados em observações. A distribuição