PESQUISA SOBRE TRABALHO DECENTE
COTEMINAS
Companhia de Tecidos Norte de Minas
Empresa do setor têxtil, fundada em 1967 em Montes Claros (MG) por José Alencar. Possui 14 unidades no Brasil, 5 nos EUA, uma na Argentina e uma no México;
Unidade pesquisada: fábrica de toalhas de banho em João Pessoa (PB), antiga Santista, adquirida pela Coteminas em 1997;
Representação: Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Fiação e Tecelagem de João Pessoa (SINDTÊXTIL), filiado à CUT.
Coteminas: Condições de Trabalho Dados gerais:
Oficina sindical: 7 de março de 2012, na sede do SINDITÊXTIL. Participação de 8 dirigentes sindicais.
Base sindical: 4 mil trabalhadoras e trabalhadores;
Na Coteminas: 2 mil trabalhadoras e trabalhadores (2011); Total de sindicalizados: 1.300 (32,5% da base);
1. Oportunidades de Emprego Força de trabalho: 40% são mulheres;
Idade média: faixa de 25 a 30 anos;
Terceirizados: cerca de 100 trabalhadores (área verde e carga/descarga de mercadorias);
Diferenças nas condições de trabalho:
1. Diretos: salário mínimo + abono (PVR) e benefícios; 2. Terceirizados: apenas o salário mínimo.
Além de terceirizados: Menor Aprendiz, estagiários (no RH e na produção); Coteminas não adota nenhum programa para contratação de trabalhador
imigrante ou liberto de trabalho escravo;
2. Trabalho Inaceitável Não há denúncia de trabalho infantil ou forçado;
Menores (16 e 17 anos) em atividades perigosas, penosas ou insalubres: não há denúncia. Porém sindicalistas questionam a periculosidade da função de mecânico, exercida por alguns estagiários menores de idade e/ou por jovens aprendizes.
3. Salários Adequados e Trabalho Produtivo
Salário médio na produção: R$ 772,00 (salário mínimo + PVR média de R$ 150,00);
Salário médio no setor administrativo: R$ 900,00;
Menor salário pago: R$ 622,00 (salário mínimo) – única remuneração até o 5º mês de trabalho;
Adicionais ao salário: PVR, PLR, abono por tempo de serviço (R$ 153,00, extinto em novas contratações) e prêmio de férias (de R$ 430,00);
PLR: 100% de assiduidade e estar há mais de 5 anos na empresa. Valor decidido pela empresa, acordo para formalização em assembleia com sindicato e trabalhadores;
Não há Plano de Cargos e Salários. Promoção a depender da experiência e relações pessoais;
Não há política de qualificação. Oferecimento, em parceria com o SENAI, de cursos de mecânica, tecelagem, pneumática, operador de empilhadeira.
4. Jornada Decente Jornada de trabalho: 44 horas semanais;
Horas extras: esporádicas. Média de 2 horas extras por dia, quando há necessidade. Mais comum na confecção. Atualmente é possível a recusa, mas já houve momentos de pressionamento e o sindicato teve de intervir.
Hora extra paga em dinheiro.
Trabalho noturno e aos fins de semana:
1. Produção: escala 5 por 1 e 6 por 1 (folga todo domingo);
2. Técnicos em segurança, enfermeiras e porteiros: regime 12X36.
Trabalho noturno: disponibiliza transporte e paga adicional noturno (obedece ao que a legislação trabalhista prevê);
5. Estabilidade e Garantia no Trabalho
Rotatividade: média entre 2 e 3 anos, máxima de 5 anos. Trabalhadores solicitam demissão em busca de maiores salários;
Corte de cerca de 300 postos de trabalho em 2011, em setores interdependentes (preparação, tecelagem e confecção). “Priorizados” aqueles que haviam manifestado a intenção de sair desse emprego;
Reestruturação: máquinas mais modernas, com reorganização em sistema de rodízio entre as células de produção (multifuncionalidade). Medida de combate aos elevados índices de doença ocupacionais (LER/DORT);
Setor de mecânica: redução de 32 para 16 máquinas (um corredor) de responsabilidade para cada mecânico efetuar reparos (eliminação da segunda
qualidade) e regulagens (troca de artigo: cor, tipo de material/”trama”) para
6. Equilíbrio entre Trabalho e Vida Familiar
Trabalhadoras e trabalhadores não podem acompanhar filhos, cônjuges e pais em consultas e exames médicos ou filhos em atividades escolares: mesmo com declaração/atestado há desconto do dia no salário, embora não percam o dia de descanso;
Não há denúncias de discriminação de mulheres grávidas ou mães preteridas em contratações ou priorizadas em demissões;
Tempo médio de deslocamento: 40 minutos;
Homens trabalhadores afirmam realizar tarefas domésticas e de cuidado dos filhos (até 3 horas por dia).
7. Tratamento Digno no Emprego
Já houve discriminação a dirigentes sindicais, suspensos por adesivo em campanha salarial “Mais salário, menos repressão”;
Dirigentes negaram que haja discriminação – quanto à gênero, afirmaram que há supervisoras e gerentes, técnicas em mecânica, eletricista mas não detalharam possíveis disparidades de remuneração;
Porém, entrevistas revelaram discriminação por participação sindical e por crença religiosa;
Relatos de assédio moral: denúncias na Justiça. Ofensas: “burro”, “tartaruga”, “não tem capacidade para função”.
Assédio sexual: dirigentes negaram (não há mulher dirigente), mas entrevistado comentou que já ouviu falar, em outros setores;
8. Trabalho Seguro
Temperatura, iluminação, conforto, ruído e ergonomia relacionada ao maquinário: regular ou ruim;
Ritmo de trabalho: acentuado, comprometendo saúde física e mental;
Doenças ocupacionais: problemas na coluna, surdez, doenças de pele (pó químico da tinturaria e tecelagem), doenças respiratórias, LER/DORT, alergias (manuseio do algodão) e estresse;
CIPA: avaliada negativamente pelos entrevistados (gestão “fraca”); EPI: fornecidos adequadamente;
EPC: isolamento com vidros do setor químico (manipulação de ácidos), sinalização. Ainda há exposição a riscos à saúde e segurança em alguns setores.
9. Proteção Social na Empresa
Licença maternidade e licença paternidade: 120 dias e 5 dias, respectivamente. Atendimento à legislação;
Estabilidade à trabalhadora gestante e que retorna da licença-maternidade; Direitos de trabalhadores afastados por doença ou acidente de trabalho: obedece à legislação. Há oportunidades de readaptação para trabalhadores que retornam do afastamento por acidente de trabalho;
Empresa não se compromete com trabalhadores que manifestem doenças não atribuídas ao trabalho.
10. Diálogo Social (Negociação Coletiva e Liberdade Sindical)
Já houve política antissindical explícita, com práticas de perseguição a dirigentes;
Entrevistas comentaram que atualmente há medo de demissão por participar em assembleias e reuniões sindicais e tentativas de desestimular a sindicalização (questionamento);
Entrevista comentou paralisação da produção, há 2 anos, em protesto contra baixos salários, com pouca adesão. Greve: ameaça de demissão;
Lideranças sindicais: acesso restrito ao local de trabalho; Panfletagem nas dependências da fábrica não é livre;
Participação nas atividades sindicais: positiva. Comparecem entre 100 e 150 trabalhadores em campanha salarial;
OLT (Organização no Local de Trabalho): tentativas de negociação, mas a empresa não permite.
Considerações Finais:
Baixos salários: na produção, o salário médio equivale a aproximadamente 65% do rendimento médio verificado pela PME-IBGE na região metropolitana do Recife, ou cerca de 33% do salário mínimo necessário calculado pelo DIEESE; Doenças ocupacionais: altos índices de adoecimento, a despeito da aquisição de maquinário mais moderno e do sistema de rodízio e multifuncionalidade; Práticas antissindicais: política implícita de cerceamento do direito à sindicalização e participação de atividades sindicais (questionamentos e menores oportunidades de promoção). Sensação de insegurança (medo de demissão);
Assédio moral: abusos de autoritarismo por supervisores e gerentes, com reclamações contra humilhações e constrangimentos na fábrica.