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2⁰ Simpósio Internacional de História das Religiões XV Simpósio Nacional de História das Religiões ABHR 2016

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2⁰ Simpósio Internacional de História das Religiões XV Simpósio Nacional de História das Religiões

ABHR 2016

O Sagrado feminino e o papel da mulher nas religiões – Uma proposta para o Ensino Religioso na rede municipal de ensino de Curitiba

Karin Willms1

1. Introdução

É comum nos perguntarmos o que é sagrado feminino? Ou ainda, por que ter o sagrado feminino enquanto conteúdo das aulas de Ensino Religioso? A presente pesquisa busca as respostas para estas duas questões, bem como, analisa as reflexões das professoras e professores de Ensino Religioso acerca destas indagações. Para compreender o termo

sagrado feminino e sua importância dentro do currículo da área de Ensino Religioso é

necessário fazer uma reflexão sobre nossa sociedade. Embora o mundo moderno apresente inúmeros avanços nas questões de igualdade de gênero, nossa sociedade ainda apresenta, muito fortemente, o conceito de superioridade masculina nas relações profissionais, pessoais e religiosas. Devemos levar em consideração também que:

(...) você vê que a mitologia reflete uma fase histórica, um período da história em que aconteceu essa difusão do patriarcado que entrou em guerra com as culturas matriarcais e o que a gente tem até hoje é um reflexo disso. Mas em todas elas, o patriarcado teve que conviver com o matriarcado e com seus Deuses mais antigos. (PÉRICO, apud OLIVEIRA, 2005 p. 6)

1 Graduada em História pela Universidade Tuiuti do Paraná, atua na rede municipal de ensino de Curitiba desde

2005, especificamente como professora de Ensino Religioso a partir de 2012. Atualmente é coordenadora de Ensino Religioso do Departamento de Ensino Fundamental da SME.

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Um dos reflexos desta história está na linguagem, as palavras são símbolos de comunicação que nos levam a uma associação mental. Ao nos referirmos a Deus2, ou Ele como é referenciado na literatura cristã, excluímos deste Deus qualquer aspecto feminino. Apesar de ser definido como um ser assexuado lhe são atribuídas características masculinas. E isso não acontece só nas religiões cristãs. A sociedade também é pautada pela moral construída a partir de questões religiosas

Um sistema de cinco mil anos, no qual o mundo foi concebido como uma pirâmide, regido do alto por um Deus masculino, com criaturas feitas à sua imagem (homens), por sua vez divina e naturalmente ordenados para governar mulheres, crianças e o resto da natureza. (EISLER, R. 1998 p. 12).

Este molde patriarcal da religião não permite que Deus tenha características femininas e este está em um patamar elevado e desconexo com sua criação, os meios de conexão com o transcendente não estão ligados diretamente a natureza humana, mas à natureza divina e não à matéria. Para grande parte das religiões a matéria é o que separa a humanidade da essência divina, devemos entender como matéria: a natureza, o corpo, a sexualidade, as produções humanas e, nas religiões patriarcais, a mulher. No mito de Adão e Eva3 vemos claramente que é a partir da mulher e de seu pecado que o homem perde a sua conexão direta com Deus.

Porém, se atentarmos para as descobertas arqueológicas, desde o paleolítico, é possível observar a quantidade de deusas representadas em estatuetas e utensílios de uso cotidiano corroborando com a ideia da sacralidade do feminino, principalmente, na condição de mãe, ser com capacidade de dar a vida a outros seres.”O reino do feminino é um centro gerador, lá não há forma, mas a capacidade de gerar, a energia que dará origem a forma, pois a obra criadora jorra das profundezas inconscientes, do arquétipo da Mãe.” (JUNG, 1987, p.91).

2 Aqui citado com letra maiúscula pois fazemos referência ao Deus cristão. 3 Mitologia Judaico-cristã.

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Assim, podemos perceber que o Sagrado Feminino está diretamente ligado com a matéria, tendo como objeto de devoção a vida e a natureza. O Sagrado feminino propõe que a reverência ao transcendente se dê por meio das experiências e relações pessoais, de seu contato com a natureza e com o próprio corpo numa jornada de autoconhecimento e de conhecimento do outro onde o transcendente, a natureza, o homem e a mulher fazem parte de um todo.

2. A abordagem do estudo de gênero na escola

As questões de gênero nas escolas de ensino fundamental são abordadas através do tema transversal Sexualidade desde 1998, quando o Conselho Nacional da Educação determina

(...) IV – Em todas as escolas deverá ser garantida a igualdade de acesso para alunos a uma Base Nacional Comum, de maneira a legitimar a unidade e a qualidade da ação pedagógica na diversidade nacional, a Base Nacional Comum e sua Parte Diversificada deverão integrar-se em torno do paradigma curricular, que vise estabelecer a relação entre a Educação Fundamental e: a Vida Cidadã através da articulação entre vários dos aspectos como: a Sexualidade (...) (BRASIL, 1998)

Desde muito pequena a criança aprende as diferenças relacionadas ao seu gênero, ou aquele que lhe foi determinado. No âmbito religioso isso não é diferente.

Se o gênero é um conjunto complexo e intrincado de relações de dominação construídas historicamente (BOURDIEU, 1998), podemos então falar de ordem sexuada de uma sociedade, mesmo que continue impossível elucidar toda a sua complexidade. A religião não somente se inscreve nessa ordem como é sua parte integrante, ao mesmo tempo em que nela encena diversos papéis e ocupa lugares variáveis. (WOODHEAD, 2013 p. 79)

Cada organização religiosa divide os papéis entre homens e mulheres, dentro das especificidades de cada doutrina. Nas religiões patriarcais isso se dá de maneira mais

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enfática, sendo que algumas são excludentes no que diz respeito à participação da mulher, tanto nos rituais da tradição, quanto na vida social:

[...] a religião influencia não somente os comportamentos culturais, mas determina as possibilidades oferecidas às mulheres e as limitações as quais são submetidas, mesuráveis segundo: a proporção de meninas entre as crianças escolarizadas; a taxa de alfabetização entre as mulheres adultas; o recurso à contracepção; o índice de desenvolvimento ligado ao gênero do PNUD3; as possibilidades de trabalho para mulheres e a presença feminina na representação parlamentar, por exemplo. (INGLEHART; NORRIS, 2003, p.69).

Porém, é necessário que a escola enfatize a questão da igualdade social, independente da identidade de gênero assumida por cada ser humano, seus direitos relativos à vida em sociedade devem ser os mesmos. Independente da orientação religiosa de cada um o respeito ao ser humano deve vir sempre em primeiro lugar.

3. Inclusão do Sagrado Feminino como conteúdo

Levando em consideração as discussões da rede municipal de ensino de Curitiba nos últimos cinco anos e os avanços no trabalho relativo às questões gênero no âmbito educacional sentiu-se a necessidade de abordá-las também no componente curricular de Ensino Religioso. Temos como foco do trabalho o fenômeno religioso como elemento acadêmico, tratando assim das dimensões da religião sempre respeitando as quatro matrizes,

O Ensino Religioso, enquanto componente curricular, busca a sistematização e análise do fenômeno religioso, contextualizando as diferentes matrizes religiosas em que se constitui a formação do povo brasileiro. Tais matrizes, outrora divididas por suas origens geo-política-sociais, atualmente são redefinidas principalmente pela sua influência cultural, sendo consideradas as matrizes: africana, indígena, ocidental e oriental. (CURITIBA, 2015 p. 73)

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o que faz necessária a abordagem do respeito à todas as formas de acreditar e de não acreditar em algo transcendente “(...) sendo campo precursor para garantia dos direitos humanos e respeito a liberdade de expressão religiosa e não-religiosa (tais como o materialismo, o ateísmo e o agnosticismo)” (CURITIBA, 2015 p. 73)

O objetivo do Ensino Religioso é que as crianças tenham o conhecimento à serviço da criação de uma atmosfera de respeito e tolerância.

No ano de 2015, mediante formação de grupos de estudo com profissionais da educação e ciências da religião, o plano curricular passou por um movimento de revisão e reescrita. Isso nos permitiu incluir conteúdos pertinentes ao trabalho relacionado à discussão acerca da igualdade de gêneros. Assim, os conteúdos “atuação de homens e mulheres nas organizações religiosas” e “o Sagrado Feminino” puderam ser incluídos no plano curricular, ressaltando a relevância da abordagem das questões de gênero dentro das organizações religiosas.

O objetivo da presente pesquisa é analisar a recepção das professoras e professores de Ensino Religioso da rede com relação aos novos conteúdos, bem como o desenvolvimento das atividades com as crianças do ciclo II do ensino fundamental.

4. Metodologia

O novo plano curricular foi apresentado às pedagogas e pedagogos da rede municipal de ensino de Curitiba entre o fim do mês de fevereiro e início do mês de março de 2016. A partir daí as professoras e professores da rede tiveram acesso ao novo plano curricular, em fase de finalização, para aplicar junto aos alunos e, através de formulário próprio4, passar ao departamento suas impressões acerca dos conteúdos, objetivos e critérios de avaliação. Visitas nas unidades de trabalho e permanências concentradas nos núcleos regionais também foram realizadas a fim de sanar dúvidas e explicar os conteúdos novos a serem abordados nas salas de aula.

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5. Resultados e discussões

Algumas professoras e professores têm relatado dificuldades em encontrar textos e materiais de apoio para o planejamento das aulas que abordam, principalmente, o Sagrado

Feminino. Pensando nisso, o departamento de Ensino Fundamental, através da gerência de

currículo5, têm realizado esforços na pesquisa e produção de tais materiais de apoio ao professor. Vemos que algumas pessoas ainda se sentem incomodadas ao abordar religiões de matrizes específicas, bem como de compreender a relevância de abordar o papel da mulher nas organizações religiosas. Isso vem sendo trabalhado nos grupos de estudo e permanências concentradas a fim de conscientizar as professoras e professores da necessidade de abordar a diversidade étnica, religiosa e sexual nas aulas de Ensino Religioso a fim de criar uma atmosfera de respeito às diferenças e da busca pela igualdade de direitos.

6. Considerações Finais

Tendo em vista que o plano curricular se encontra em versão preliminar, ainda não temos todos os resultados necessários da aplicação dos conteúdos em sala de aula. As permanências concentradas têm acontecido semanalmente (um núcleo atendido por semana) totalizando uma média de 40 profissionais atendidos por permanência. Os resultados obtidos até o momento têm se mostrado positivos e as professoras e professores, em sua maioria, vêm buscando alternativas à falta de material disponível. Porém, sabemos que ainda é necessário ampliar as discussões acerca do tema e produzir materiais concisos de apoio as docentes e aos docentes. As ações de concentrar as professoras e professores para o planejamento coletivo também têm apresentado bons resultados, pois proporcionamos momentos de troca de experiências.

Referências

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BRASIL, Resolução CEB Nº 2, De 7 De Abril De 1998. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/resolucao_ceb_0298.pdf, acesso em: 25/03/2016.

CURITIBA. Plano Curricular. Preliminar. 2016. Disponível em: http://multimidia.cidadedoconhecimento.org.br/CidadeDoConhecimento/lateral_esquerda/ menu/downloads/arquivos/10199/download10199.pdf, acesso em: 23/03/2016.

_________. Diretrizes Curriculares para a Educação Municipal de Curitiba. 2006.

JUNG, Carl. O espírito na arte e na ciência. Rio de Janeiro: Vozes, 1987.

OLIVEIRA, Rosa Lira. Em nome da Mãe: o arquétipo da Deusa e sua manifestação nos dias

atuais. Revista Ártemis, n. 3, dez. 2005.

PUPO, Kátia Regina. Violência moral no interior da escola: um estudo exploratório das

representações do fenômeno sob a perspectiva de gênero. Dissertação de Mestrado,

Faculdade de Educação. USP, São Paulo, 2007.

SCHLOGL, Emerli. Ensino religioso: perspectivas para os anos finais do ensino fundamental e

para o ensino médio. Curitiba: IBPEX, 2009.

WOODHEAD, Linda. As diferenças de gênero na prática e no significado da religião. Estudos

Referências

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