© 2 0 1 5 Dr . W a lte r F . d e A z e v e d o Jr .
Biofísica
Membrana Celular
Prof. Dr. Walter F. de Azevedo Jr.
Ao lado temos um desenho de uma célula animal, quando
falamos da membrana
celular (membrana
plasmática), estamos nos
referindo ao seu envoltório, a barreira física que separa a célula do meio ambiente. A
membrana apresenta uma
espessura aproximada de 60 Å ( 6.10-9 m), enquanto uma
célula típica tem dimensões
entre 1 m e 100 m
(micrômetros, 1 μm = 10-6 m ),
ou seja, no mínimo mil vezes maior que a espessura da membrana celular. Tenha em mente o conceito de célula no
estudo dos fenômenos
elétricos da célula. 2
Diagrama esquemático com os componentes de uma célula animal. Disponível em: < http://www.infoescola.com/wpcontent/uploads/2009/11/celula-animal.jpg>. Acesso em: 23 de agosto de 2015.
Resumindo, a célula é envolvida por um manto que
chamamos de membrana
plasmática ou membrana
celular. A espessura da
membrana é tipicamente
milhares de vezes menor que a célula, como podemos ver no desenho ao lado.
3 Disponível em : http://www.sobiologia.com.br/conteudos/Citologia/cito5.php. Acesso em: 23 de agosto de 2015.
A principal função da membrana celular é
manter moléculas tão diversas como
proteínas e pequenos solutos no interior da célula. A membrana funciona para
regular seletivamente sua
permeabilidade, ou seja, a facilidade
com a qual moléculas e íons atravessam
a membrana. O estudo da composição
da membrana faz uso de diversas
técnicas físicas, discutiremos a seguir o
Modelo de Mosaico Fluido da
membrana. No livro de Oparin, “A Origem
da Vida”, ele propôs que para qualquer
forma de vida, é necessária a presença de uma barreira, que separe a parte “viva” do meio que a cerca. Esse trabalho
destaca a necessidade de uma
membrana para isolar, até mesmo as formas de vida mais simples, do meio
exterior. 4
Modelo computacional da bicamada fosfolipídica da membrana celular.
Figura gerada com o programa Visual Molecular Dynamics (VMD) as coordenadas atômicas para a bicamada fosfolipídica foram obtidas do site:
http://people.ucalgary.ca/~tieleman/download.html.
Acesso em: 23 de agosto de 2015.
Proteína intrínseca, ou transmembrana
Proteína extrínseca
O Modelo de Mosaico Fluido indica dois tipos de proteínas inseridas na bicamada lipídica (elipsóides cinzas). A proteína da esquerda é uma proteína extrínseca e a da direita uma proteína intrínseca. Os fosfolipídios são indicados com a cabeça polar em preto e, a cauda hidrofóbica, pelas linhas que saem da esfera preta.
Referência : Singer SJ, Nicolson GL. Science. 1972 ;175(23):720-31.
Em 1972, Singer e Nicolson propuseram um modelo para a membrana celular,
chamado de “Modelo de Mosaico Fluido”.
Nesse modelo temos a bicamada
lipídica, onde encontram-se inseridas
proteínas. O modelo prevê duas formas de proteínas inseridas na membrana, uma
que atravessa toda a membrana,
chamada proteína intrínseca, ou
transmembranar. A segunda forma de
proteína, localiza-se parcialmente inserida na membrana, sendo encontrada tanto no exterior como voltada para o citoplasma.
Tal forma de proteína é chamada
extrínseca.
5
O Modelo de Mosaico Fluido prevê a
passagem seletiva de íons pelas
proteínas intrínsecas. Entre as proteínas intrínsecas temos os canais iônicos e as
bombas iônicas. Outra característica do
modelo, é liberdade de movimentação das proteínas na bicamada lipídica. De acordo com as características básicas do modelo, estrutura em mosaico e difusão, previu-se a liberdade lateral e rotatória, assim como a distribuição aleatória de componentes
moleculares na membrana celular.
Moléculas apolares podem atravessar a
bicamada, já íons ficam retidos na
bicamada precisando da ação das
proteínas transmembranares para sua passagem.
6 Proteína intrínseca, ou transmembrana
Proteína extrínseca
Modelo de Mosaico Fluido
O Modelo de Mosaico Fluido indica dois tipos de proteínas inseridas na bicamada lipídica (elipsóides cinzas). A proteína da esquerda é uma proteína extrínseca e a da direita uma proteína intrínseca. Os fosfolipídios são indicados com a cabeça polar em preto e, a cauda hidrofóbica, pelas linhas que saem da esfera preta.
7
Modelo de Mosaico Fluido
Membrana celular. Imagem disponível em: <
http://en.wikipedia.org/wiki/Cell_membrane#mediaview er/File:Cell_membrane_detailed_diagram_en.svg>. Acesso em: 23 de agosto de 2015.
Resumindo, a membrana
celular funciona como uma barreira seletiva entre os
meios intracelular e
extracelular. Na estrutura da membrana, destaca-se a bicamada fosfolipídica, com proteínas inseridas (modelo de mosaico fluido). Além
das proteínas, há ainda
carboidratos ligados aos
fosfolipídios e às proteínas e moléculas de colesterol inseridas na bicamada. Glicolipídio Glicoproteína Proteína Extrínseca Canal Iônico Colesterol Glicolipídio Proteína Extrínseca
Proteína Intrínseca Citoesqueleto Proteína Extrínseca Hélice Meio extracelular
Núcleo Citoplasma
8
Modelo de Mosaico Fluido (Glossário)
Termo Função biológica
Carboidratos
(glicoproteínas e glicolipídios)
Na membrana, os carboidratos aparecem ligados covalentemente aos lipídios (glicolipídios) e às proteínas (glicoproteínas). Participam da interação célula-célula, reconhecimento molecular e crescimento celular. O processo de ligação do carboidrato à proteína o lipídio é chamado glicosilação. Canal iônico Proteína Extrínseca Carboidrato Cabeças Polares Biocamada Fosfolipídica Glicoproteína Fosfolipídio Colesterol Glicolipídio
Proteína Extrínseca Filamentos do Citoesqueleto
Meio Extracelular
Citoplasma
Trecho em Hélice Alfa Cauda Hidrofóbica Proteína Intrínseca Proteína
9
Modelo de Mosaico Fluido (Glossário)
Termo Função biológica
Proteína extrínseca
Proteína parcialmente inserida na bicamada fosfolipídica, podendo está voltada tanto para o meio extracelular como para o meio intracelular. Exemplos de proteínas extrínsecas são proteínas G e enzimas que ficam parcialmente inseridas na bicamada, como a fosfodiesterase.
Proteína intrínseca
Essas proteínas atravessam toda extensão da bicamada fosfolipídica, possibilitando comunicação entre os meios intracelular e extracelular. Os canais iônicos e bombas iônicas são exemplos de proteínas intrínsecas.
Canal iônico Proteína Extrínseca Carboidrato Cabeças Polares Biocamada Fosfolipídica Glicoproteína Fosfolipídio Colesterol Glicolipídio
Proteína Extrínseca Filamentos do
Citoesqueleto
Meio Extracelular
Trecho em Hélice Alfa Cauda Hidrofóbica
Proteína Intrínseca Proteína Extrínseca
Modelo de Mosaico Fluido (Glossário)
Termo Função biológica
Colesterol É responsável por manter a integridade da membrana e modula a sua fluidez. Sua parte polar interage com a cabeça polar dos fosfolipídios e, sua porção hidrofóbica, interage com as caudas hidrofóbicas dos fosfolipídios. Sua molécula apresenta um sistema de anéis, que reduz a fluidez da membrana. Canal iônico Proteína Extrínseca Carboidrato Cabeças Polares Biocamada Fosfolipídica Glicoproteína Fosfolipídio Colesterol Glicolipídio
Proteína Extrínseca Filamentos do Citoesqueleto
Meio Extracelular
Trecho em Hélice Alfa Cauda Hidrofóbica Proteína Intrínseca Proteína
Extrínseca
11
Modelo de Mosaico Fluido (Glossário)
Termo Função biológica
Citoesqueleto Encontrado no citoplasma, fornece a base para o ancoragem de proteínas e a formação de organelas que se estendem da célula. Apresenta uma composição proteica. Em células eucarióticas são encontradas as proteínas actina e tubulina na sua formação.
Canal iônico Proteína Extrínseca Carboidrato Cabeças Polares Biocamada Fosfolipídica Glicoproteína Fosfolipídio Colesterol Glicolipídio
Proteína Extrínseca Filamentos do
Citoesqueleto
Meio Extracelular
Trecho em Hélice Alfa Cauda Hidrofóbica Proteína Intrínseca Proteína
Extrínseca
CH2 CH CH2 O P O X O O -O C R1 O O C R2 O
Biomembranas são baseadas
principalmente em lipídios, com
predominância de fosfolipídios. A
estrutura química geral de uma molécula de fosfolipídio é mostrada ao lado (figura
a). Tal molécula é basicamente um
glicerol (figura b), sobre o qual foram
ligadas as cadeias de ácidos graxos (R1 e R2). O grupo fosfato permite a ligação covalente de outra molécula, designada na figura por pelo grupo X. Um dos ácidos
graxos típicos encontrados nos
fosfolipídios é chamado ácido palmítico (figura c) . a) b) HO CH2 C CH2 OH OH H Fosfolipídio c) Glicerol Ácido palmítico 12 Fosfolipídios
A molécula de ácido palmítico (ou ácido hexadecanóico) apresenta 16 carbonos e 31 hidrogênios. Tal ácido graxo é dito
saturado, pois apresenta o maior número
possível de hidrogênios ligados. A
presença de ligações duplas na cadeia de ácido graxo indica que o mesmo é não saturado. As duas cadeias R1 e R2 não
precisam ser homogêneas, ou seja,
podem apresentar cadeias de tamanhos distintos. Nos fosfolipídios, uma parte da molécula é polar, a cabeça hidrofílica ou
polar, e a parte apolar é composta pelas
duas cadeias de ácidos graxos. O
diagrama esquemático ao lado ilustra uma molécula de fosfolipídio. Moléculas que
apresentam parte polar e parte
hidrofóbica são chamadas anfipáticas.
Na figura da abaixo temos a
representação CPK do fosfolipídio. Cabeça polar Caudas hidrofóbicas Caudas hidrofóbicas Cabeça polar 13 Fosfolipídios
Diversos modelos computacionais de
biomembranas foram construídos e
submetidos à simulação de dinâmica
molecular. Na dinâmica molecular,
podemos simular computacionalmente
aspectos sobre a mobilidade dos sistemas moleculares, de forma que a interação da bicamada fosfolipídica com moléculas de água pode ser analisada. Tais simulações usam diferentes componentes para a formação da bicamada, no exemplo ao
lado foram usadas moléculas de
1-
palmitoil-2-oleoil-sn-glicerol-3-fosfatidilcolina, formando uma caixa
retangular, onde temos moléculas de água
interagindo com a parte polar da
bicamada. No modelo computacional,
vemos claramente que as caudas
hidrofóbicas não interagem com as
moléculas d’água. Hi drof íl ica Hi drof ób ica Hi drof íl ica
Modelo computacional da membrana
14
Fosfolipídio original
Abaixo temos a descrição da montagem do modelo computacional da bicamada fosfolipídica. 15 1) Montagem do fosfolipídio. Podemos usar as coordenadas atômicas de um fosfolipídio, obtidas experimentalmente e otimizar a estrutura tridimensional computacionalmente. As coordenadas atômicas do fosfolipídio podem ser determinadas por cristalografia. 2) Montagem da monocamada. As coordenadas atômicas do fosfolipídio original são movimentadas gerando cópias da molécula original, só que em outra posição. O processo de cópia é gerado aplicando-se operações matemáticas simples sobre as coordenadas atômicas do fosfoliídio. Fosfolipídio transladado 3) Montagem da bicamada. Após o descolamento de dezenas de fosfolipídios, temos um modelo da bicamada fosfolipídica. O modelo acima apresenta 128 moléculas, 64 em cada camada.
4) Montagem da bicamada com moléculas de água.
Moléculas de água são distribuídas aleatoriamente na estrutura da bicamada. Após a simulação de dinâmica molecular, as moléculas de água localizam-se nas partes hidrofílicas, como mostrado acima,
Bicamada fosfolipídica
Bicamada fosfolipídica com água
Podemos pensar que o modelo computacional representa um fatia da membrana celular, sem a presença de proteínas. É como se tivéssemos cortado
uma fatia em formato de cubo da
biomembrana. Na simulação
computacional da membrana, as
moléculas de água posicionam-se nas regiões polares, como era de se esperar. A vantagem da simulação computacional, é que uma vez confirmada a capacidade de simulação de aspectos conhecidos, como a interação com água, podemos adicionar moléculas aos sistemas e prever seu comportamento. Por exemplo, podemos prever qual o comportamento de fármacos com a bicamada. Tal simulação é de
interesse no desenvolvimento de
fármacos, visto que, para que possam agir, a maioria dos fármacos têm que atravessar a membrana. H idrof íl ica H idrof ób ica H idrof íl ica
Modelo computacional da membrana
Diagrama esquemático da membrana
H idrof íl ica H idrof ób ica H idrof íl ica 16
Muitas das proteínas, que interagem com a membrana celular, apresentam regiões em hélice alfa. Para entendermos esta
interação proteína-membrana, vamos
olhar alguns detalhes da estrutura da
hélice alfa. Uma hélice alfa, como
mostrada na figura a, tem as cadeias laterais apontando para fora da hélice (indicadas com setas). Tal hélice alfa pode ser representada como um cilindro (figura b). Nas figuras c e d temos a visão de cima de cada uma das representações da
hélice alfa. As visões facilitam a
identificação das regiões hidrofóbicas e hidrofílicas das hélices alfa, como nas figuras c e d. a) b) c) d) Cadeias laterais Cadeias laterais 17 Interação Intermoleculares
Nas estruturas de feixes de hélices
transmembranares, verifica-se que a
parte da hélice que toca os lipídios é relativamente mais hidrofóbica que a parte que participa do contato
hélice-hélice. No diagrama esquemático à
direita, temos um feixe de 4 hélices (figura b), onde vemos que a região entre as hélices é mais hidrofílica que a região em contato com a bicamada lipídica. A região das hélices, em contato com as caudas hidrofóbicas da bicamada fosfolipídica, estão indicadas por setas.
a) Hélice transmembranar
b) 4 hélices transmembranares Superfície mais hidrofóbica
Superfície mais hidrofílica 18
Apresentaremos o complexo proteico centro de reação fotossintético da bactéria púrpura R. viridis, como exemplo de proteína transmembranar. O centro de reação fotossintético é o local da etapa inicial da captura de energia luminosa na fotossíntese. Tal complexo proteico é
composto de quatro cadeias
polipeptídicas, indicadas na figura ao lado, nas cores azul, vermelha, cinza e
dourado. A proteína apresenta uma
estrutura quaternária tetramérica. Há
também quatorze cofatores de baixo peso molecular, indicados em amarelo. Entres
os cofatores temos cromóforos, que
absorvem a energia luminosa, que é convertida em potencial eletroquímico, através da membrana.
Referência: Deisenhofer, J. & Michel, H. (1989) EMBO J.
8:2149-2170. 19
Na representação ao lado, os resíduos de aminoácidos hidrofóbicos estão em cinza, os polares em verde, os ácidos em vermelho e os básicos em azul. Átomos pertencentes aos cofatores estão em
ciano. Vemos claramente uma
heterogeneidade na distribuição de
cargas na superfície das proteínas. No
centro temos uma região
preponderantemente hidrofóbica, e nas
partes superior e inferior uma
concentração de resíduos de aminoácidos carregados e polares, o que caracteriza uma região hidrofílica.
Referência: Deisenhofer, J. & Michel, H. (1989) EMBO J. 8:2149-2170. 132 Å 72 Å H idr of íli ca H idr of ób ic a H idr of íli ca 20 Interação Intermoleculares
A representação à direita indica os
elementos de estrutura secundária,
notadamente: hélices, fitas e regiões de alças, conectando as hélices e fitas. As cadeias L e M (estruturas do meio) apresentam preponderantemente hélices, enquanto o citocromo (estrutura de cima) e a cadeia H (estrutura da parte debaixo) apresentam outros elementos de estrutura secundária.
Observação: As coordenadas atômicas usadas para representar a estrutura do centro de reação fotossintético estão
depositadas no banco de dados de
estruturas PDB (Protein Data Bank), com código de acesso: 1PRC. O endereço do PDB é www.rcsb.org/pdb . Essa estrutura foi a primeira proteína transmembranar a
ter sua estrutura elucidada por
cristalografia por difração de raios X.
Cadeia H Cadeia M Cadeia L Citocromo 21 Interação Intermoleculares
A estrutura do centro de reação
fotossintético não foi determinada em
contato com a membrana celular, mas a
partir da análise de sua estrutura
cristalográfica isolada, podemos elaborar uma hipótese de como a proteína interage com a membrana. Vamos destacar os
principais aspectos da estrutura da
proteína.
1) Apresenta 4 cadeias polipeptídicas, sendo que duas delas se destacam pela participação majoritária de hélices na sua estrutura, as cadeias L e M mostradas na figura ao lado. 22 Cadeia H Cadeia M Cadeia L Citocromo Interação Intermoleculares
2) As cadeias L e M apresentam
preponderância de resíduos de
aminoácidos hidrofóbicos na superfície da proteína, como indicado na figura ao lado. 3) A análise da estrutura indica um padrão de hidrofobicidade na forma de sanduíche. O citocromo hidrofílico, as cadeias L e M hidrofóbicas e a cadeia H hidrofílica.
4) A dimensão maior da proteína chega a 132 Å de comprimento.
5) A bicamada fosfolipídica apresenta uma espessura de aproximadamente 60 Å, como mostrado abaixo.
23 132 Å 72 Å H idr of íli ca H idr of ób ic a H idr of íli ca 60 Å Interação Intermoleculares
6) A bicamada fosfolipídica apresenta um padrão de hidrofobicidade da forma de sanduíche, onde a parte hidrofóbica fica no meio de duas partes opostas hidrofílicas, como mostrada na figura ao lado.
7) Do ponto de vista físico-químico,
esperamos que as partes hidrofóbicas da proteína apresentem interação com as
partes hidrofóbicas da membrana.
Esperamos, também, interações entre as partes hidrofílicas da proteína com as cabeças polares da bicamada fosfolipídica.
Considerando as observações
experimentais destacadas anteriormente, podemos levantar uma hipótese científica sobre a interação do centro de reação fotossintético com a membrana celular.
24 Hid rof íli ca Hi d rof ó b ica Hi d rof íli ca Interação Intermoleculares
Citoplasma Meio extracelular 25 Centro de reação fotossintético da bactéria púrpura R. viridis. Bicamada fosfolipídica.
?
Interação IntermolecularesCitoplasma
Interação das cadeias L e M (vermelho e cinza) do centro de reação fotossintético com a bicamada lipídica.
Hélice alfa é a estrutura secundária comumente encontrada em segmentos
transmembranares de proteínas de
membranas. Normalmente temos a
combinação de vários segmentos de
hélice, formando feixes de hélices
transmembranares, como nas estruturas das cadeias L e M da estrutura do centro de reação fotossintético mostrada ao lado. A partir da análise da estrutura
do centro de reação fotossintético,
podemos propor um modelo para
interação da proteína com a membrana.
No modelo temos que a parte
hidrofóbica, formada por hélices,
interage com a membrana celular,
conforme indicado no diagrama
esquemático ao lado.
Meio extracelular
26
Outra estrutura possível para proteínas transmembranares é a folha beta. Um arranjo onde a folha beta fecha-se sobre si forma um arranjo similar a um barril, sendo denominado barril beta. A estrutura em barril proporciona as características
físico-químicas desejáveis para uma
proteína transmembranar, tal como
blindagem dos átomos da cadeia principal que participam de ligações de hidrogênio. A figura ao lado mostra a estrutura de uma porina. As porinas criam canais na membrana permitindo a passagem de moléculas de baixa massa molecular (inferior a 700 Da), tais como moléculas
de água, íons, glucose e outros
nutrientes.
Barril beta da porina de Rhodopseudomonas blastica. Código de acesso PDB: 8PRN
27
Venenos de serpentes podem ser pensados como coquetéis de proteínas e peptídeos, que apresentam um vasto espectro de atividades biológicas, entre elas muitas de interesse farmacológico. Há dois objetivos principais nos estudos
dos componentes dos venenos de
serpentes. Um focado nos soros e
possíveis inibidores para os acidentes ofídicos, que ainda ocorrem no Brasil e no resto do mundo. Outro foco está centrado
nas propriedades farmacêuticas dos
componentes dos venenos.
Cobras brasileiras. Bothrops jararacussu (Jararaca). Disponível em: <
http://www.cobrasbrasileiras.com.br/bothrops_jararacussu.h tml>.
Acesso em: 23 de agosto de 2015.
28
Entre as proteínas identificadas nos
venenos, destacam-se as
metaloproteases e as fosfolipases A2 (discutidas aqui). As fosfolipases A2 são enzimas que catalisam a clivagem de fosfolipídios, componentes da membrana. Tal enzima foi intensivamente estudada e está presente no veneno de diversas
serpentes. Entres suas atividades,
destacam-se a atividade miotóxica,
apresentada pelo veneno das serpentes do gênero Bothrops. A ação miotóxica é responsável por danos extensos no tecido muscular, se não tratada. A fosfolipase A2 apresenta 122 resíduos de aminoácidos
em sua estrutura primária, e sua
estrutura 3D foi elucidada por técnicas de difração de raios X. A estrutura apresenta
6 hélices principais, indicadas por
cilindros azuis e duas fitas em amarelo.
C
N
Estrutura da fosfolipase A2 de Bothrops jararacussu.
29
Estudos estruturais das fosfolipases A2 lançaram as bases moleculares para o entendimento da atividade miotóxica. A hipótese mais aceita, estabelece que a clivagem dos fosfolipídios da membrana celular levam à ação miotóxica. Modelos
computacionais da interação da
fosfolipases A2 com a membrana
identificaram detalhes da interação, como mostrado ao lado. A fosfolipase A2 , uma proteína rica em hélices (indicadas como
cilindros azuis), apresenta interações
eletrostática e hidrofóbica com a
membrana, o que possibilita a
desestruturação desta e a consequente
atividade tóxica. A simulação
computacional indicou que a ligação da
fosfolipase A2 à membrana, desloca
moléculas de água, o que pode facilitar a interação da enzima com os fosfolipídios.
Disponível em:<
http://www.ks.uiuc.edu/Research/smd_imd/pla2/>. Acesso em: 23 de agosto de 2015.
Modelo computacional da interação da fosfolipase A2 com a monocamada da membrana. Os fosfolipídios são indicados com caudas hidrofóbicas em verde.
30
Canais de K+ são proteínas
transmembranes que permitem a saída de íons de potássio da célular. A habilidade mostrada pelos canais de K+ dependentes
de voltagem, de permitirem
majoritariamente a saída de íons de K+, é
conseguida por meio de um filtro de
seletividade, presente numa das
extremidades do poro. A figura ao lado ilustra a passagem de íons de K+ (esferas
verdes) pelo canal de K+. A região
mostrada é a parte do filtro. Em solução, os íons de K+ apresentam-se envolvidos
por 8 moléculas de água (esferas
vermelhas), formando uma camada de
hidratação. A esferas de hidratação dos
íons de K+, acomodam-se no canal de K+ e
começam a perder as moléculas de água, a interação com a água é substituída pela interação com os oxigênios das carbonilas do canal de K+ dependente de voltagem.
Interação intermolecular do canal de K+ dependente de
voltagem com íons de K+(esferas verdes).
Disponível em:
<http://www.rcsb.org/pdb/101/motm.do?momID=38>. Acesso em: 23 de agosto de 2015.
Meio extracelular Citoplasma 31 Canais Iônicos Esfera de hidratação
A região do canal de K+, que captura a
esfera envoltória de K+, apresenta um
tamanho preciso para uma interação
favorável com a camada de hidratação envoltória de K+. No caso do íon de Na+, a
esfera envoltória é menor que a do K+,
levando a uma interação fraca com o canal de K+. Assim, o sistema da esfera de Na+,
não tem uma interação favorável com o canal de K+, permanecendo no interior da
célula. Podemos pensar que a esfera de hidratação do Na+, por ser menor que a do
K+, está frouxamente ligada ao canal de K+
dependente de voltagem, o que não é favorável para a perda das moléculas de água e posterior passagem pelo canal.
32
Canais Iônicos
Animação mostra a difusão de íons pelo canal iônico. Disponível em: <
http://leavingbio.net/OSMOSIS%20AND%20DIFFUSION.htm
>.
Acesso em: 23 de agosto de 2015.
Meio extracelular
A estrutura do canal de K+ dependente
de voltagem de Streptomyces lividans
apresenta estrutura quaternária
tetramérica (4 cadeias polipeptídicas), representadas na figura ao lado. Cada
cadeia é formada por três hélices
transmembranares e um loop (laço), o íon de potássio está representado no centro do tetrâmero em verde. Também vemos o loop P e a hélice P, que são responsáveis pela seletividade iônica (indicados em azul). O loop P é formado pelo resíduos Gly-Tyr-Gly, que estão alinhados de forma a estreitar o funil
formado pela estrutura do canal.
Estamos olhando do meio extracelular
para o meio intracelular. Canal de K+ dependente de voltagem visto do meio
extracelular para o meio intracelular. Código de acesso PDB: 1BL8.
Fonte: Sansom, MS. Current Biology 1998, 8:R450–R452 http://biomednet.com/elecref/09609822008R0450 33
O canal de K+ dependente de voltagem
forma uma passagem na membrana
celular. Tal passagem é altamente
seletiva por K+ e sensível à mudança de
potencial elétrico. A parte intracelular do
tubo do canal de K+ apresenta uma
cavidade de 10 Å de diâmetro. A
cavidade está alinhada com resíduos hidrofóbicos e preenchida por moléculas de água. As dimensões dests cavidade, permitem um ajuste ideal para interação com os íons de K+.
Canal de K+ dependente de voltagem visto do meio
extracelular para o meio intracelular. Código de acesso PDB: 1BL8.
Fonte: Sansom, MS. Current Biology 1998, 8:R450–R452 http://biomednet.com/elecref/09609822008R0450 34
A figura a lado mostra um zoom da região que interage com o íon de K+. A
carga positiva do íon de K+ interage
eletrostaticamente com os oxigênios das carbonilas dos resíduos de Tyr58, com as distâncias interatômicas variando de
3,07 a 3,21 Å. Os oxigênios das
carbonilas não apresentam uma carga
elétrica completa, mas uma carga
elétrica parcial negativa, que sofre
atração eletrostática pela carga positiva do íon de K+. O íon de K+ é mostrado
pela esfera verde no centro da figura.
A figura acima mostra a interação do íon de potássio (esfera verde) com 4 carbonilas. Cada carbonila pertence à tirosina 58, que está presente em cada monômero da estrutura do canal de K+dependente de voltagem . Código de acesso PDB:
1BL8.
35
Na figura ao lado, vemos a superfície molecular do canal de K+ dependente de
voltagem. A coloração azul indica carga
relativa positiva, a vermelha carga
relativa negativa e a azul ciano carga neutra. O íon de K+ (indicado pela esfera
verde no centro da estrutura) sofre
interação eletrostática com as
concentrações de cargas negativas do canal de K+ . A estrutura quaternária do
canal iônico fica clara na figura, com 4 cadeias polipeptídicas. A estrutura do
canal de K+ dependente de voltagem é
chamada homotetrâmero, ou seja, um tetrâmero com 4 monômeros idênticos.
Superfície molecular do canal de K+ dependente de
voltagem. A figura mostra a visão do meio extracelular, como se observássemos do meio extracelular para o meio intracelular. Código de acesso PDB: 1BL8.
36
Podemos fazer uma analogia do canal
de K+ dependente de voltagem com uma
maçã, onde a visão da molécula ao lado é análoga à visão da deliciosa maçã mostrada na foto abaixo.
Superfície molecular do canal de K+ dependente de
voltagem. A figura mostra a visão do meio extracelular, como se observássemos do meio extracelular para o meio intracelular. Código de acesso PDB: 1BL8.
37
Usando a maçã, podemos imaginar o que temos que fazer para visualizarmos o interior da maçã, como se quiséssemos observar o interior do canal de K+ dependente
de voltagem. Na primeira foto à esquerda, temos a maçã inteira, vista de cima. Na foto seguinte, temos a maçã com a quarta parte removida. Na terceira foto, temos a maçã com a quarta parte removida vista de perfil.
38
Agora temos o análogo do canal de K+ dependente de voltagem, mostrado abaixo de
cada foto da maçã, deixando clara a visualização do interior do canal na última figura da direita. A primeira figura da molécula vemos o canal por cima, na segunda com um dos monômeros retirados e, por último, de perfil, vemos o interior do canal de K+
dependente de voltagem.
39
Na figura ao lado removemos o
monômero B, o que possibilita
visualizarmos o interior do canal de K+. A
figura foi girada 90º em relação à figura
vista de cima. O tubo formado permite a
passagem do íon de K+ do meio
intracelular (parte de baixo) para o meio extracelular (parte de cima). Na parte de baixo, vemos uma região essencialmente hidrofóbica, no centro do canal (indicada por uma circunferência branca), esta região apresenta uma cavidade, que
permite a passagem dos íons de K+.
Podemos pensar que esta cavidade é
uma antecâmara, onde o íon de K+
despe-se de sua camada de solventes (as 8 moléculas de água que cercam o íon).
Cavidade hidrofóbica
Superfície molecular do canal de K+. A figura mostra a
visão de perfil do canal. Código de acesso PDB: 1BL8. 40
O íon de K+ intracelular é capturado e
desloca-se para a cavidade hidrofóbica,
indicada pela circunferência branca.
Acima desta cavidade temos o loop P,
com a sequência de resíduos de
aminoácido Gly-Tyr-Gly, que estreitam o tubo que liga ao meio extracelular, selecionando os íons de K+. A presença
de resíduos glicina (Gly) no loop P confere grande flexibilidade estrutural a esta região da proteína.
Cavidade hidrofóbica
Loop P
Superfície molecular do canal de K+. A figura mostra a
visão de perfil do canal. Código de acesso PDB: 1BL8. 41
Como já destacamos anteriormente, um
aspecto estrutural comum a muitas
proteínas intrínsecas é a presença de hélices na região transmembranar. Na estrutura do canal de K+ vemos um feixe
de hélices interagindo com as caudas hidrofóbicas da bicamada fosfolipídica,
como mostrado ao lado. O canal de K+
tem um aspecto de cone, como se fosse uma casquinha de sorvete.
K+
Citoplasma Meio extracelular
Estrutura do canal de K+ dependente de voltagem
interagindo com a bicamada fosfolipídica. Código de acesso PDB: 1BL8.
42
Os canais iônicos permitem a difusão de íons, esse fenômeno pode ser estudado a partir de uma analogia com uma cuba de vidro, onde temos cloreto de sódio ( 5 % de NaCl) dissolvido de um lado da cuba e do outro água pura. Os dois sistemas estão separados por uma membrana permeável ao NaCl e à água. Como a membrana é permeável, ocorre a difusão, que leva as moléculas de água do lado direito a movimentar-se para o setor do lado esquerdo e, os íons de NaCl, a difundirem-se para o lado direito. 43 Difusão 5 % de NaCl dissolvido em água 0 % de NaCl dissolvido em água
Com a difusão o sistema atinge o equilíbrio, onde a concentração salina é idêntica em ambos os lados. Considerando-se que o volume é o mesmo em ambos os lados, e que a concentração inicial de NaCl do lado esquerdo era 5 % e 0% do lado direito, temos, no equilíbrio, 2,5 % de NaCl em ambos os lados. O fenômeno da difusão é dependente da temperatura do sistema, pois, conforme aumentamos a temperatura, aumentamos a energia cinética dos componentes do sistema (água e NaCl).
44 Difusão 2,5 % de NaCl dissolvido em água 2,5 % de NaCl dissolvido em água
45 Osmose 5 % de NaCl dissolvido em água 0 % de NaCl dissolvido em água
Quando trocamos a membrana permeável, por uma semipermeável, observamos o fenômeno da osmose. Na osmose temos a transferência de moléculas de água da região com baixa concentração de soluto (lado direito da cuba), para uma região com alta concentração de soluto (NaCl), lado esquerdo da cuba. Assim, temos uma pressão atuando do lado direito para o lado esquerdo, a pressão osmótica (). O fluxo de água do lado direito para o esquerdo é chamado de fluxo osmótico.
46 Osmose 2,5 % de NaCl dissolvido em água 0 % de NaCl dissolvido em água
Abaixo temos a situação que ocorre quando o equilíbrio é atingido. A pressão da coluna de líquido do lado esquerdo compensa a pressão osmótica. A pressão
osmótica () depende da concentração do soluto (CM), da temperatura em Kelvin (T) e
da constante dos gases (R = 0,0821 L atm mol–1 K–1), conforme a equação abaixo:
RT
C
M
47
Osmose
Steve Lower's Web site. Osmosis and osmotic pressure. Disponível em: <http://www.chem1.com/acad/webtext/solut/solut-4.html >. Acesso em: 23 de agosto de 2015.
Hipertônica Isotônica Hipotônica
A hemácias apresentam alta permeabilidade na membrana, com uma concentração intracelular aproximada de 0,85 % de NaCl, em condições fisiológicas. Assim, numa situação onde a concentração salina no meio extracelular, é maior que no meio intracelular (solução hipertônica), temos o encolhimento das células. Numa situação onde a concentração salina extracelular, é bem menor que no meio intracelular (solução hipotônica), temos a lise (quebra) das células, chamada de hemólise. Quando a solução extracelular, apresenta uma concentração salina próxima à intracelular, temos uma solução isotônica.
48
Osmose
O gráfico abaixo ilustra a hemólise em função da concentração salina extracelular. Vemos que conforme diminuímos a concentração salina extracelular (solução hipotônica), aumentamos a hemólise.
Cell Biology OLM | Authored by Stephen Gallik, Ph. D. | URL: cellbiologyolm.stevegallik.org | Copyright © 2011 Stephen Gallik, Ph. D.
Gráfico da hemólise em função da concentração salina. Disponível em: <http://cellbiologyolm.stevegallik.org/node/64>. Acesso em: 23 de agosto de 2015.
No nosso estudo de fenômenos elétricos da célula, focaremos na membrana celular, boa parte desses fenômenos serão discutidos para entendermos o funcionamento elétrico dos neurônios. Os neurônios são células
nucleadas, que apresentam um corpo
central, chamado soma. Essas células
apresentam grandes variações de forma,
assim para os propósitos dos nossos
estudos, vamos considerar que o neurônio apresenta a estrutura básica, mostrada no diagrama esquemático ao lado. No diagrama temos, além do corpo celular, dendritos e um terminal único, chamado axônio. O axônio é responsável pela transmissão do
impulso nervoso. Podendo ser bem
extenso, comparado com o resto do
neurônio. Uma descrição detalhada da
estrutura do neurônio e de outras células
será apresentada na disciplina “Biologia
Celular e Tecidual”. 49 Axônio Terminais axonais Corpo celular Núcleo
Diagrama esquemático de um neurônio.
Vimos que a célula apresenta proteína intrínsecas, responsáveis pelo transporte
passivo de íons pela membrana. Especificamente, vimos, em detalhes, o
funcionamento do canal de potássio. Além dos canais iônicos, relacionados ao
transporte passivo de íons, ou seja, sem gasto de energia e descritos pelos
fenômenos de difusão e osmose, temos, também, o transporte ativo de íons na membrana. Nesse tipo de transporte, a proteína envolvida é a bomba iônica. Na aula de hoje veremos a bomba de sódio e potássio, representada no diagrama abaixo.
50 ATP
Na+ Meio intracelular
Meio extracelular Bomba de Sódio e Potássio
K+
A bomba de sódio e potássio é uma proteína intrínseca com atividade enzimática. Ela catalisa a clivagem da molécula adenosina trifosfato (ATP), atividade de
ATPase. ATP (mostrado nas figuras abaixo) é um nucleotídeo contendo 3 grupos
fosfatos. ATP é uma reserva de energia química para o metabolismo celular.
a) ATP (Estrutura 2D) b) ATP (estrutura 3D)
51
A ação da bomba de Na+/K+ segue as seguintes etapas:
1) A bomba de Na+/K+ , com ATP ligado, liga-se a 3 íons de Na+ intracelulares.
2) ATP é hidrolisado, causando a fosforilação de um resíduo de aspartato, da bomba de Na+/K+ com a liberação de uma molécula de adenosina difosfato (ADP).
3) A mudança estrutural da bomba de Na+/K+, leva a uma exposição os íons de Na+
que, por apresentarem baixa afinidade pela bomba de Na+/K+, são liberados para o
meio extracelular.
4) A bomba de Na+/K+ liga-se a 2 íons de K+ extracelulares, isto causa a
desfosforilação da bomba, trazendo-a de volta à sua conformação anterior,
transportando K+ para dentro da célula.
5) A forma desfosforilada da bomba de Na+/K+ apresenta afinidade mais alta por íons
de Na+, os íons de K+ são liberados, a molécula de ATP liga-se à bomba.
6) O sistema está pronto para um novo ciclo.
52
ATP ADP PI PI PI PI ATP ATP Na+ Na+ K+ 1 2 3 4 5 6 Meio intracelular
Meio extracelular Meio extracelular Meio extracelular
Meio extracelular Meio extracelular Meio extracelular Meio intracelular Meio intracelular
Meio intracelular Meio intracelular
Meio intracelular
53
PI
Na+
Meio extracelular
Meio intracelular
K+
O meio intracelular de um neurônio, na ausência de estímulos, apresenta um
potencial elétrico negativo com relação ao meio extracelular, chamado potencial de
repouso. Proteínas intrínsecas, chamadas canais de K+, apresentam-se abertos,
permitindo a saída de íons de K+ . Assim, a saída de íons K+, deixa um excesso de
carga negativa no interior da célula e, como resultado, um potencial negativo. A ação conjunta da bomba de Na+/K+ e do canal de K+ leva a um acúmulo de carga positiva
no meio extracelular. Tal situação, tem como consequência, uma diferença de potencial negativa do meio intracelular com relação ao meio extracelular. Se colocarmos um eletrodo no interior de um neurônio em repouso, teremos um potencial elétrico de algumas dezenas de milivolts negativos.
Bomba de Na+/K+ canal de K+
54
Aproximadamente um terço de todo ATP da célula é usado para o funcionamento
da bomba de Na+/K+, o que indica a
importância para o metabolismo celular da bomba de Na+/K+. Em 2007 foi elucidada
a estrutura tridimensional da bombam de Na+/K+, mostrada na figura ao lado (Morth
et al., 2007). A análise da estrutura indicou uma divisão clara de regiões hidrofóbicas e hidrofílicas, que sugerem a
inserção na bomba de Na+/K+ na
membrana, conforme o modelo mostrado no próximo slide.
Referência: Morth JP, Pedersen BP, Toustrup-Jensen MS, Sørensen TL, Petersen J, Andersen JP, Vilsen B, Nissen P. Nature. 2007;450(7172):1043-9.
55
Meio extracelular
Citoplasma
Referência: Morth JP, Pedersen BP, Toustrup-Jensen MS, Sørensen TL, Petersen J, Andersen JP, Vilsen B, Nissen P. Nature. 2007;450(7172):1043-9.
A bomba de Na+/K+ apresenta um domínio rico em hélices, que estão em contato com
a parte hidrofóbica na bicamada, como indicado abaixo.
56
Como vimos anteriormente, o potencial de repouso é resultado da ação conjunta da bomba de Na+/K+ e do canal de K+. A bomba de Na+/K+ envia 3 íons de Na+ para o
meio extracelular e 2 íons de K+ para o meio intracelular, com gasto de uma molécula
de ATP (adenosina trifosfato). Aproximadamente um terço do ATP gasto pela célula é usado pela bomba Na+/K+ para manter este fluxo iônico. O canal de K+ permite que o
excesso de K+ seja expelido da célula, sem gasto de ATP. A ação conjunta das duas
proteínas intrínsecas, leva a uma perda de carga positiva pela célula, causando o aparecimento de um potencial negativo no meio intracelular, este potencial é chamado de potencial de repouso, pois não precisamos de estímulo externo para gerá-lo.
Bomba de Na+/K+ Na+ K+ K+ Citoplasma Meio extracelular Canal de K+ 57 Potencial de Membrana
Na aula de hoje, vimos a estrutura da membrana celular, um tópico de interesse da Biologia Celular e Tecidual. O estudo das forças que regem a formação da bicamada, está relacionada à Física. A estrutura molecular dos componentes da
membrana, é objeto de estudo da
Química, Bioquímica Estrutural e Biologia Molecular. O estudo da penicilina está
relacionada à Farmacologia. Aula de
hoje Química Física Bioquímica Estrutural Biologia Celular e Tecidual 58
Relação com Outras Disciplinas
Biologia Molecular
Segue uma breve descrição de dois sites relacionados à aula de hoje. Se você tiver alguma sugestão envie-me (walter.junior@pucrs.br ).
1) http://www.susanahalpine.com/anim/Life/memb.htm . Este site mostra animações
flash do modelo de mosaico fluido.
2) http://www.brookscole.com/chemistry_d/templates/student_resources/shared_reso
urces/animations/ion_pump/ionpump.html . Este site mostra uma animação com o
funcionamento da bomba de sódio e potássio.
3) http://www.blackwellpublishing.com/matthews/default.html . Este site traz
animações figuras e testes sobre neurobiologia. É um site de apoio ao livro de Matthews GG. Neurobiology.
4) http://www.rcsb.org/pdb/101/motm.do?momID=38 . Nesse site temos uma
descrição da estrutura do canal de K+ dependente de voltagem.
59
1)Explique o modelo de mosaico fluido.
2)Explique o potencial de repouso da célula.
60
OLIVEIRA, Jarbas Rodrigues de; WACHTER, Paulo Harald; AZAMBUJA, Alan Arrieira. Biofísica para ciências biomédicas. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2002. 313 p.
OKUNO, Emiko; CALDAS, Iberê Luiz; CHOW, Cecil. Física para ciências biológicas e biomédicas. São Paulo: Harper & Row do Brasil, 1982. 490 p.
PURVES, W. K., SADAVA, D., ORIANS, G. H., HELLER, H. G. Vida. A Ciência da Biologia. 6a ed. Artmed editora. 2002.
61