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Darling 22 - Vicki Lewis Thompson - Jogo Arriscado

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Academic year: 2021

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Jogo arriscado

Vicki Lewis Thompson

Darling 22

Se vencer no mundo dos negócios, ela destruirá o homem amado...

Olhos nos olhos, Clare desabotoa a camisa de Max e põe as mãos no peito musculoso, sentindo que seu coração bate loucamente.

Beija-lhe o queixo, os lábios e afasta a camisa, roçando os seios contra a pele ardente e nua. É outra mulher, impetuosa, atrevida, entregue à sensualidade que ele soube despertar, ensinando-lhe o

alucinante ritual do amor. Nada mais existe nesse momento, e se amam, esquecidos de que a vida brinca cruelmente com eles: irá

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Este livro faz parte de um projeto sem fins lucrativos, de fãs para fãs.

Sua distribuição é livre e sua comercialização estritamente proibida.

Cultura: um bem universal.

Digitalização:

Logística e Revisão: Projeto Revisoras

Copyright © 1989 by Vicky Lewis Thompson Publicado originalmente em 1989 pela Harlequin Books, Toronto, Canadá.

Título original: FULL COVERAGE Tradução: Helena Wiechmann Copyright para a língua portuguesa: 1991

EDITORA NOVA CULTURAL LTDA. Av. Brigadeiro Faria Lima, 2000 — 3? andar CEP 01452 — São Paulo — SP — Brasil Caixa Postal 2372

Esta obra foi composta na Editora Nova Cultural Ltda. Impressão e acabamento no Círculo do Livro S.A.

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CAPÍTULO 1

A janela de Max Armstrong, quase do tamanho de um cartaz de estrada, refletia as montanhas nevadas e nuvens brancas num céu muito azul. Clare ficou olhando, fascinada, a bola de golfe aproximando-se do vidro. Quando o atingiu, fazendo um buraco todo recortado na paisagem, ela sentiu um momento de alegria bárbara.

— Bem feito! — disse baixinho, antes de sentir-se culpada e pensar nas conseqüências do incidente.

— Isso foi barulho de vidro quebrado? — perguntou seu irmão, um rapaz de dezessete anos, saltando do carrinho de golfe para ver melhor. — Nossa! Você quebrou a janela de Max!

— Foi sem querer — disse ela, pensando se realmente não quisera fazer aquilo. — Ele vai sair berrando, já, já!

— Ele não está em casa, Clare. — Tem certeza? Como sabe?

— Não tem bandeira. Ele sempre hasteia a bandeira com o ursinho, quando está em casa.

— É mesmo? — Clare admirou a perfeição do gramado de golfe no terreno de seu concorrente, a casa de três andares e o mastro despido. — Hum... Essa idéia não é nova.

— Pode não ser — retrucou Joel, mas se vir um ursinho de pelúcia em qualquer casa de Flagstaff, já sabe quem é o agente de seguro do morador: “O Ursinho Armstrong, Símbolo de Segurança”!

— Não precisa repetir: ouço essa frase até em sonhos!

— A idéia foi do Tom, quando estava com seis anos — explicou o rapaz, onze anos mais novo do que a irmã.

— Isso eu não sabia. — Olhou, curiosa, para a enorme casa cinzenta, de novo. — Por que ele mora aí? Não é grande demais para uma pessoa só?

— Acho que é por causa dos filhos, para Tom e Brian terem algo familiar, quando vêm visitá-lo. E a janela, Clare?

— Vou deixar um recado para ele.

— Não precisa: Max não vai adivinhar que a bola é sua. — Joel! Está insinuando que eu fuja da responsabilidade?

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— Minha irmãzona moralista! Já pensou nas conseqüências? Você está querendo ganhar a concorrência com Max para fazer o seguro deste clube-hotel... e ele vai contar a todo mundo que grande jogadora de golfe você é! A primeira a quebrar a janela da casa dele e o pessoal vai morrer de rir.

Primeira, como? Max mora praticamente dentro do clube— hotel, a janela dele deve viver quebrada e...

Pelo que Tom me contou, não. Ele disse que um golfista tem que ser muito ruim para chegar perto da janela, quanto mais para quebrá-la. Em dez anos, algumas caíram no terraço.

— Não imagina o quanto suas palavras me fazem bem, Joel!

— Assim mesmo vai deixar recado? Pensei que tínhamos vindo jogar aqui para impressionar o dono do clube... — Ele olhou ao redor. — Veja, não há ninguém, podemos esquecer!

Clare fez que não com a cabeça, decidida a ser honesta, também para dar exemplo ao irmão. Depois da morte dos pais, assumira a liderança da família e levava a obrigação a sério.

— Vou deixar meu cartão de visitas num lugar que ele possa ver. — Que tal jogá-lo pelo buraco no vidro?

— Obrigada pela idéia! Quer ir comigo?

— Eu, não! Depois vão dizer que a culpa foi minha.

Clare aproximou-se da casa, que tinha um jardim lindo, com

abetos azuis e canteiros de crisântemos brancos. Alguns álamos tocados pelo orvalho brilhavam ao sol como fontes de moedas de ouro. O terraço era cercado por vasos com gerânios vermelhos. Ela subiu a escada, pegou um cartão no bolso da calça e escreveu: “Desculpe ter quebrado sua janela. Gostaria de saber como resolver isso.” Enfiou-o por baixo da porta.

Então, achou-se com direito de espiar a toca do urso. Pelo vidro fumê da porta conseguiu divisar uma imensa lareira em uma das paredes do living; na outra havia um quadro a óleo, do Grand Canyon. Diante da lareira, um grande sofá curvo, ao lado um piano coberto por um pano e, no fundo, um bar.

Joel devia adorar ir a essa casa, antes de os meninos irem embora, por causa do divórcio. Não era à toa que ele imitava Max Armstrong, em vez do pai, que não fora tão bem sucedido.

Quando decidira concorrer com Max para derrubá-lo como o agente de seguros mais importante de Flagstaff, Clare calculara qual seria o prêmio anual do seguro do clube-hotel de golfe e descobrira que Max era vulnerável:

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não fornecera cobertura total a E. Hamilton Durnberg, o proprietário. E era por ali que ela ia entrar.

Ganhando essa conta, ela poderia empanar um pouco a imagem de Max diante dos olhos de Joel e firmar a Agência de Seguros Pemberton, demonstrando a ele, também, que a capacidade dela e os programas de computador podiam vencer os métodos antiquados do homem que ele admirava. Dois meses atrás, Joel anunciara que ia abandonar os estudos e trabalhar na agência porque estavam precisando de dinheiro e Max Armstrong se saíra muito bem na vida sem ir para uma universidade.

Clare ouvira isso, alarmada. Não sabia se o futuro do irmão residia nos seguros, mas se ele deixasse os estudos não teria opção. Ela queria duas coisas: dinheiro para Joel estudar e oportunidade de provar que Armstrong podia ser derrotado. Para isso teria que ganhar E. Hamilton Durnberg como cliente.

Segunda-feira à tarde, Clare trabalhava no computador, procurando terminar a proposta para apresentar a Durnberg. O computador fora o primeiro passo para elevar o nível da agência que herdara do pai. Ela aumentara a renda, desde que assumira o escritório, a ponto de poder contratar uma secretária ou comprar um computador. Optara pelo aparelho. Por isso, tinha que usar secretária eletrônica e nem queria pensar no fato que não tirava férias há dois anos, nem tiraria tão cedo. Se conseguisse Durnberg como cliente, tudo iria melhorar.

Quando a porta se abriu, ela ergueu os olhos, aborrecida com a interrupção. A má vontade transformou-se em vexame quando viu o homem de terno marrom e chapéu que se aproximava de sua mesa, brincando com uma bola de golfe amarela.

O rosto dela ficou rubro. Não tinha idéia do que dizer àquele homem tão seguro de si, cuja janela destruíra. Esperara que ele telefonasse, não se preparara para enfrentar Max Armstrong em pessoa.

— Eu... eu sinto muito pela sua janela — disse, por fim.

Ele tocou a aba do chapéu. Seus olhos castanhos-claros, quase dourados, tinham um brilho divertido.

— Duas coisas me impressionaram nesse incidente — disse, colocando a bola no centro da mesa de Clare.

Ela recuou, como se a bola pudesse explodir: — Duas coisas? — estranhou.

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— Foi uma tacada errada, eu acho. — Que taco estava usando?

— Hum... Era o n? 5, de ferro... — De que distância?

— Uns cem metros, acho... Foi o vento que atrapalhou! — Só se usa taco n? 5, de ferro, num furacão!

— Joel me disse que o taco era pesado, mas... — Afastou a bola para o canto da mesa e fitou os olhos do adversário. — Vou pagar a janela. Não preciso explicar como aconteceu, sr. Armstrong!

— Então, sabe quem sou?

Ela amaldiçoou-se por ter dito o nome dele. Seria melhor fingir que não o conhecia. Agora, ia ter que massagear o ego daquele homem.

— Vi uma foto sua num jornal...

— Ultimamente? Não é possível. Posso me sentar?

— Tenho um compromisso às três e preciso terminar um trabalho... — Não vou demorar — disse ele, sentando-se.

— Preciso chegar às três para vender um seguro...

— Eu também. Engraçado, não? Como seu escritório fica no meu caminho, decidi satisfazer a curiosidade.

— Preciso treinar golfe, sr. Armstrong, se é o que deseja saber. — Max.

— Está bem, Max. — Lembrou-se do aviso de Joel: ele poderia transformar o incidente em piada para divertir Durnberg. — Comecei a dominar o jogo depois do décimo buraco. Até Joel comentou que...

— Joel... seu marido? — Meu irmão.

Assim que falou, ela ficou furiosa consigo mesma por ter respondido tão depressa. O tom da voz dele forçava à cooperação. Na certa, falava daquele jeito para vender apólices.

— Eu sei. Joel Pemberton, um amigo do Tommy.

— E, acho que eles se conhecem — ela imitou o tom casual de Armstrong.

— Agora me lembro! A agência era de seu pai e ele... — Morreu... Faz dois anos.

— Sinto muito. Eu não o conheci, mas parecia um homem muito decente.

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— Você está dirigindo a agência? — Ela fez que sim. — Aposto que redecorou isto aqui! — Ele olhou à volta.

— Acha? Por quê?

Ela fizera quase tudo sozinha, para economizar.

O gráfico na parede é recém-pintado e os quadros parecem ter sido escolhidos por uma mulher jovem e brilhante...

— Como assim? — Não sabia se ele aprovava ou não.

— Essa linha em ziguezague, na parede, como um gráfico de vendas é interessante. O quadro abstrato mostra que é moderna, ágil.

— Para ser agente de seguros é preciso ser moderna. — Sem dúvida — ele recostou-se na poltrona.

— Que tipo de pintura há em suas paredes, Max?

— Tenho um amigo pintor que fez duas paisagens de montanha, no outono. As pessoas gostam de olhar para elas.

Ela notou que ele acentuara a palavra pessoas. Concluiu que estava pouco ligando para a decoração dela, mas gostasse o sr. Armstrong ou não, aquela seria a maior agência de seguros de Flagstaff. O tempo de conquistar clientes com ursinhos de pelúcia já terminara.

— Você parece com seu irmão — comentou ele. — É esguia como Joel, cabelos da mesma cor, mas não lembro se ele tem olhos verdes...

— São azuis — disse Clare, acostumada a ser comparada com Joel, de quem parecia gêmea, com a diferença na cor dos olhos.

— Admiro-me que lembre tão bem dele.

— Sempre me lembro dos bons amigos que Tommy leva em casa. Agora que sei que é irmã de Joel, não mais me surpreende o fato de ter se responsabilizado pelo incidente, quando poderia ter se omitido.

Clare lutou contra a sensação gostosa que o elogio provocou. Não devia ligar para o que ele pensava de seu escritório, do seu irmão, de sua ética!, disse a si mesma, zangada.

Calculou a idade dele entre trinta e cinco e quarenta anos. Chegara à idade em que alguns homens se tornam mais atraentes, outros cansados. Max pertencia ao primeiro grupo. Tinha ombros largos, firmes, a cabeça alta como a das pessoas bem-sucedidas na vida. Compreendia porque Joel o admirava. A personalidade dele era marcante, poderosa, tanto que a fizera abandonar o trabalho e conversar. Não acabaria a tempo. Olhou o relógio e disse:

— Preciso sair... Quanto custa o conserto da janela? — Esqueça... Já foi consertada e estava no seguro.

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— Mas você tem franquia, não?

Não me custou nada. Já fiz vários trabalhos com a fábrica de vidro e eles nem queriam cobrar, porém eu paguei: todos precisam ganhar para viver. — Eu sei, por isso faço questão de pagar! — Não queria dever nada a ele.

— Está com a consciência pesada? Então, pague-me indo tomar alguma coisa comigo...

Ela ficou perplexa e notou que suas mãos suavam. — Bem, eu...

— Já sei: seu namorado não ia gostar! — Não é isso.

— Não? Então, eu convido. Vamos sair, então. Hoje talvez não dê, porque o compromisso das três pode se prolongar. E se eu vier buscá-la amanhã, no fim da tarde?

Com o coração aos pulos, ela procurou uma desculpa, mas nunca aprendera a mentir. Além disso, na hora combinada Max já teria descoberto que ela estava a fim de lhe roubar o seguro do clube-hotel e desmarcaria o encontro.

— Está bem — disse, numa voz que não parecia ser a sua.

— Ótimo. Vou esperar ansioso. — Ele levantou-se e estendeu a mão. Depois de hesitar, ela ergueu-se e apertou a mão dele, o calor de seus dedos percorrendo-lhe o corpo todo. Imaginara que Max tinha sangue-frio, literária e figuradamente? Engano. O contato com aquela mão despertou nela sensações alarmantes, que não imaginava existirem, e ficou assustada.

— Epa! Eu a convidei para tomarmos um aperitivo, não para fazermos um linchamento! Por que esse espanto?

— Desculpe... — sorriu ela, imaginando o que ele poderia pensar de seu comportamento.

— As mesmas covinhas... — O quê?

— Você tem as mesmas covinhas do Joel. Dê-lhe lembranças minhas. — Darei... — e ela engoliu seco.

O que acontecia? Tinha que manter a calma com esse homem; era seu concorrente, precisava ter a cabeça fria.

— Até amanhã, então — Max soltou-lhe a mão. — Até amanhã.

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da escrivaninha, observando-o sair. Ele parou perto da mesinha com revistas, entre duas poltronas:

— Alguém lê isto? — pegou duas revistas de economia. — Eu leio.

— Estou falando dos seus clientes.

— Bem, não sei. Acho que eles precisam se informar sobre finanças, por isso deixo as revistas e folhetos aí...

— Hum... — Max colocou as revistas no lugar.

— Você tem esse tipo de revistas em sua sala de espera? — Não.

— Que tipo, então?

— Vários... Rider’s Digest, People, Time... Coisas que gosto de ler. — Acontece que eu gosto de ler sobre dinheiro.

— Imagino... — disse ele, olhando umas aquarelas penduradas na parede.

E antes que ela dissesse alguma coisa, tocou a aba do chapéu, num cumprimento, e saiu.

Que coisa mais idiota!, pensou Clare. Por que ele não telefonara, simplesmente? Agora, lidava com um homem real e... A frase grudou em seu cérebro: homem real. Essas palavras, com suas implicações, abalaram-na como uma avalanche. Não. Não devia dar espaço para esse tipo de pensamento em relação a um homem como Max Armstrong.

Retirou a proposta que fizera da impressora do computador, cobriu-o com a capa. Colocou os papéis na pasta que a mãe lhe dera no Natal. A mãe estava contente por ela continuar com a agência de seguros e estar vivendo desse trabalho. Duvidou que o sr. Armstrong tivesse uma pasta elegante como a sua.

Não devia pensar nele, avisou a si mesma, enquanto ligava a secretária eletrônica e saía do escritório. A reunião com Durnberg exigia toda concentração, se queria ganhar a concorrência.

Enquanto dirigia seu carrinho usado e entrava no clube-hotel, viu que ele era o mais velho de todos que estavam no amplo estacionamento. Joel dissera uma porção de vezes que um dia teria um Porsche como Max Armstrong. Ela se irritava com a fixação dele por carros caros, mas agora até gostaria de estar ao volante de algo mais novo e mais brilhante.

Seu pai jamais ligara para ostentações de riqueza. Ela até desconfiava que ele usava a pobreza como bandeira de honra. Tentara cultivar a mesma

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atitude, mas se aborrecera.

O edifício do clube-hotel Flagstaff Farways encontrava-se no meio de pinheiros gigantescos que mantinham inúmeros empregados varrendo as agulhas e pinhas das alamedas e canteiros.

As árvores tinham sido mantidas para conservar a atmosfera de montanha, mas fora preciso sacrificar muitas delas para fazer os campos de golfe. No entanto, tudo aquilo valorizava o local e aumentava o prêmio do seguro, cuja renovação seria dali a dois meses, no dia 15 de janeiro. Clare queria que Durnberg tivesse tempo para estudar sua proposta.

Estacionou, saiu do carro e dirigiu-se para as imponentes portas da entrada principal. Já sabia que havia um hidrante à direita do edifício e que outros estavam espalhados pelas alamedas do condomínio. O fogo era a grande preocupação das companhias de seguro e ela não queria que o contrato saísse errado por não oferecer proteção adequada.

Parou diante da porta dupla e respirou fundo. Preparara-se para aquela reunião há semanas, pesquisando as necessidades do local e comparando-as às de um pacote de seguro oferecido por preço muito baixo. Mas sabia que não poderia derrotar Max apenas com o preço, então juntou um plano para outro clube-hotel de Durnberg, na Flórida, o Sugar Sands, além de um seguro de saúde e de vida. Venderia o pacote controlado por uma única agente: ela própria.

Pretendia apresentar o projeto e vencer Max, embora soubesse que não ia ser fácil. Ele era o agente de seguros preferido de Flagstaff há muito tempo. Teria que lutar tanto contra a lealdade quanto contra a inércia, porém se determinara a derrotar ambas. Erguendo a cabeça, determinada, abriu a porta. Sabia onde ficava o escritório de Durnberg, pois estivera ali várias vezes, antes de ele voltar à cidade. O empresário costumava passar pouco tempo lá, preferindo o clima mais ameno do Golfo do México.

A recepcionista sorriu para Clare, mas parecia nervosa.

— Durnberg disse que a fizesse entrar assim que chegasse — disse, olhando para a porta do escritório, entreaberta; então baixou a voz. — Felicidades!

— Obrigada, Beverly.

Clare ficara amiga da recepcionista e através dela soubera muita coisa sobre os dois clubes. Se pegasse a conta, convidaria a moça para um jantar, prometeu a si mesma, enquanto andava pelo corredor. O som de vozes masculinas na sala do empresário a fez parar. Queria conversar a sós com ele.

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Talvez fosse um empregado e saísse logo.

Bateu à porta, que se encontrava apenas encostada. — Entre — disse alguém, certamente Durnberg.

Ela entrou e parou no umbral, sorriu para o homem sentado atrás da mesa e, depois, olhou para o outro, sentado numa das duas poltronas, de costas para ela. Ele voltou-se e tocou a aba do chapéu, enquanto dizia, suave:

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CAPÍTULO 2

— Então, já se conhecem? — o empresário sorriu, exibindo dentes perfeitos.

— Sim, desde hoje à tarde...

Com dificuldade, Clare desviou a atenção para ele. Suas têmporas grisalhas e os traços fortes do rosto sugeriam aristocracia, familiaridade com dinheiro e privilégios, embora Max parecesse tão à vontade com ele como se estivesse em sua casa.

O escritório tinha lambris de madeira que mais combinavam com a personalidade de Armstrong do que com a do proprietário do clube-hotel. O mobiliário consistia em uma escrivaninha pesada, enorme, duas poltronas estofadas à frente dela, um pequeno sofá junto a uma das paredes, estantes e um armário encostados à outra. Sobre o armário exibia-se um ursinho.

— Talvez eu tenha me enganado sobre a hora do nosso encontro, sr. Durnberg — disse ela. — Posso voltar mais tarde, quando o senhor puder...

— Não, não! Venha sentar-se perto do meu amigo Max. Então, Durnberg o considera seu amigo!, pensou Clare. — Olhe, se o senhor não se importar, eu preferia...

— Escute, Ham, acho que a moça não está gostando da situação. — Max levantou-se. — Posso ir dar uma volta.

Clare estranhou: seria ele tão generoso a ponto de sair de campo e deixá-la agir à vontade?

— Não quero que nenhum dos dois saia — respondeu Durnberg, firme. — Tive que mudar meus planos e resolvi que o modo mais simples seria conversar com os dois ao mesmo tempo.

— Mudar os planos? Como? — perguntou Clare, segurando a pasta contra o peito com mais força.

— Sente-se, srta. Pemberton. Já explico — disse o empresário, fitando-os com expressão divertida.

Clare aproximou-se da poltrona ao lado da de Max e sentou— se na beiradinha, como se fosse fugir a qualquer momento.

— O que fez com ela, Max, que está tão assustada?

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tava bastante gasta.

— Bem — retrucou ele — talvez ela pense que estou furioso, porque pensa que vai tirar você de mim...

Ela ficou rígida ao vê-lo tão à vontade.

— Pelo jeito, acha isso impossível — comentou, fria.

— Tudo é possível — disse Max, rindo —, mas a vida é curta demais para a gente se aborrecer com uma pequena competição.

A moça ia rebater, mas Durnberg interrompeu.

— Competição amigável, disso é que eu gosto. Nesse caso, tenho uma proposta para os dois. Preciso voltar para a Flórida, só que antes devo resolver umas coisas por aqui, por isso não há tempo para examinar a proposta da senhorita e compará-la à sua, Max. Será melhor os dois irem comigo.

— Mas, eu... — começou Clare. — Eu vou com prazer, Ham.

Clare tratou de obrigar seu ritmo cardíaco a se regularizar. Se ele fosse e ela não, jamais pegaria o cliente. Além disso seria bom para ela ir à Flórida.

— Por quanto tempo? — perguntou ainda indecisa.

— Poucos dias — disse Durnberg, examinando uns papéis que tinha sobre a mesa. — Vocês poderão deixar as agências por conta de suas secretárias...

— Glória vai ficar feliz com minha cara feia longe dela. Acho que eu a incomodo — comentou Max.

Clare pensou depressa. Não tinha escolha, precisava ir. Quem cuidaria do escritório, na sua ausência?

— Bem, darei um jeito... — disse, num murmúrio.

— Ótimo! Então espero os dois no aeroporto, amanhã às seis...

— Ok — disse Max, erguendo-se. — Bem que preciso me bronzear um pouco, providencie bastante sol para nós, Ham!

— Rapaz, o sol sempre brilha sobre E. Hamilton Durnberg, você já devia saber! — disse o empresário, rindo.

— Então, vou ficar perto de você, para pegar uns reflexos.

— Pois fique. Nos vemos no aeroporto, então, senhori... Ora, não podemos esquecer as formalidades? Posso chamá-la de Clare?

— Naturalmente, sr. Durnberg.

— Ham. É como meus amigos me chamam. Agora, para fora, os dois: tenho muito que fazer.

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Fazia mais de cinco anos que a tinham posto para fora desse jeito. Isso e a evidente auto-suficiência de Durnberg deixaram Clare irritada e sem vontade de conversar. Tentou livrar-se de Max, mas foi inútil. Caminharam lado a lado, depois de sair da sala do empresário.

— Parece que fiquei com a tarde livre — comentou ele. — Vamos tomar aquele aperitivo, então?

— Agora? — indagou Clare, parando. — Por que não?

— Preciso resolver umas coisas antes de viajar.

— Eu também, mas vamos, assim mesmo. — Segurou-a por um cotovelo. — Não vamos discutir. Eu gostaria de sentar e relaxar um pouco. Você parece estar precisando da mesma coisa.

— Está bem. — O toque da mão dele em seu braço teve o poder de enfraquecer seus protestos. — Pelo jeito, sabe onde devemos ir.

— Até o fim do corredor. Há um bar gostoso, lá... só que talvez eu deva perguntar se as vidraças dele estão inteiras, depois de sua passagem por aqui.

— Não achei a menor graça nessa piadinha! — Desculpe...

O pedido de desculpa surpreendeu-a. Resolveu testar a profundidade do cavalheirismo dele.

— Max, não tenho o menor direito de lhe pedir isto, mas gostaria muito se você não contasse ao sr. Durnberg que eu quebrei a sua janela...

— Não vou dizer nada, pode ficar tranqüila. — Obrigada. É muita bondade sua.

— Talvez, mas é uma tática de venda, também. Jamais tirei vantagens diminuindo meus competidores. O cliente pode até achar que é mentira, quando se fala mal do outro. Só faço isso quando tenho certeza que se trata de pessoa mal-intencionada, que vai prejudicar o cliente. — Levou-a a um canto discreto do bar e sentaram-se a uma mesinha. — Não é seu caso: sei que você não é desonesta.

Clare afastou-se um pouco dele, no banco forrado de couro. Sentia demais a proximidade do corpo, da respiração cálida de Max. Colocou as mãos sobre a mesa, engolindo seco.

— Admiro muito a sua atitude — disse, por fim.

— Que bom! Nem todo mundo me admira... O que quer tomar? — Vinho branco. O da casa é ótimo.

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vinho branco francês.

Aquele gesto aumentou a admiração dela: sempre sonhara encontrar um homem como aquele, que encarava a vida e não hesitava em tomar decisões arbitrárias.

— Estou interessada em sua teoria de falar bem do competidor. Lembrou-me a citação de um personagem de “Bambi”...

— Sim, eu sei. “Se você não puder falar bem de alguém, não diga nada”.

— Não sabia que era fã de “Bambi” — disse ela, rindo. À meia-luz, os olhos dele tornaram-se castanhos-escuros.

— O que pensa que eu sou? O grande caçador branco que mata a mãe de Bambi?

— Isso não, mas vejo-o apunhalando o pai...

— Mesmo? — indagou ele, empurrando o chapéu para trás, com o polegar.

— Veja sua roupa... parece saída de um catálogo para vaqueiros...

— Então, não se importaria se eu mascasse fumo? Prometo não cuspir na sua direção...

— Claro que me incomodaria! Acho mascar fumo um hábito horrível! Quanto ao de cuspir, eu... — interrompeu-se quando o garçom trouxe as bebidas, então percebeu que ele brincava. — Ora, você não masca fumo!

Ele riu com vontade e ela chegou à conclusão que preferia o riso dele ao de Durnberg, que lembrava um anúncio para pasta de dentes.

— Fiz esse sermão uma porção de vezes para o Joel — explicou, sentindo calor no rosto. — Ele joga beisebol e durante algum tempo achou que uma das exigências do jogo era mascar fumo. Se ele soubesse que você não mascava, garanto que... — interrompeu-se tarde demais.

— O que tenho a ver com isso?

— Bem, nada... Qualquer adulto em contato com ele exerceria influência e, claro, ele se impressionou com você.

— Entendo... Mas ele esteve só três vezes em minha casa. Ou será que há algo que você não quer me dizer?

— Alguns adultos nem têm idéia de quanto influenciam jovens impressionáveis, mesmo que o contato entre eles seja breve.

Ele ergueu o copo, num brinde, como quem deseja mudar de assunto. — A uma competição amigável! — disse, sorrindo.

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também.

— Não podia imaginar, no entanto, como continuariam amigos depois que tirasse o cliente dele. Tocou o copo de Max com o dela e fitou-o. Os olhos dele refletiam bom humor e algo mais que fez as mãos dela tremerem e o coração bater com maior rapidez.

— O vinho é ótimo — disse, depois de tomar um gole.

— Não entendo por que ia tomar um vinho barato, afinal eu é que vou pagar, uma vez que convidei.

— Mas eu é que devia pagar! — protestou ela. — E posso pagar!

“Mas não posso me deixar gostar de você”, pensou, “então pare de ser tão terrivelmente simpático!”

— Eu sei como são as coisas quando se monta uma agência: conta-se cada centavo... Não se preocupe com a viagem, Clare. Quando Durnberg convida é para valer. Vai ser um luxo.

— Não vou pelo luxo, mas sim para trabalhar.

— Então, será melhor fingir que se diverte, se quiser ver Durnberg feliz.

— Por que me dá essas dicas sobre o cliente? — Não sei... — respondeu ele, alegre.

— Pois eu sei. É porque acha que não tenho a menor chance de ganhar a concorrência.

— Eu não seria burro a ponto de pensar isso. Mas acho que sua chance não é muito grande.

— Há quanto tempo o conhece?

— Fomos colegas de escola. Não estávamos no mesmo ano, mas nossos grupos se misturavam. Ele participou do teatro da faculdade os quatro anos que estudou lá. Foi nessa época que começamos a chamá-lo de Ham, encurtando seu segundo nome.

Ela achou que o fato de ter feito teatro explicava os maneirismos e poses do empresário. Conhecera alguns alunos de arte dramática que não conseguiam deixar de representar também na vida real. Certamente Durnberg era um desses.

— Corrija-me, se eu estiver errado... — dizia Max. — Você dirige uma agência de uma só pessoa, não é? Não vi secretária alguma quando estive lá, hoje.

— Tem razão. Não tenho secretária. Mas tenho um computador...

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Flórida?

— Não — admitiu Clare. — Mas minha mãe pode dar uma espiada nas coisas, enquanto eu me encontrar fora.

Ao dizer isso, ela tremeu por dentro, sabendo que não tinha outra saída. Uma parte de sua cabeça ocupara-se em tentar resolver aquele problema, desde o momento em que Durnberg propusera a viagem, e sua mãe era a única solução. Que Deus ajudasse a Agência de Seguros Pemberton!

— Ela já fez isso, antes? — Já...

Clare tentou não lembrar a última vez que a mãe a substituíra. Apagar todos os programas do computador não fora a pior coisa que ela fizera. Em dois dias Edna Pemberton fizera tamanha confusão que Clare levara duas semanas pondo tudo em ordem.

— Tem sorte em ter alguém com experiência para ficar... Vou ter sérios problemas quando Glória me deixar e ela já pensa abrir sua própria agência: não vou só perder a secretária, como também ganharei uma competidora. Felizmente por enquanto não preciso me preocupar.

É o que você pensa!, disse Clare consigo mesma, depois, em voz alta: — Não será desleal da parte dela usar o que aprendeu com você?

— De jeito algum e vou encorajá-la. É inteligente demais para ficar trabalhando para os outros a vida inteira.

— Então, quer dizer que a está encorajando? Ela pode acabar arruinando a sua agência!

— Não posso trabalhar sob essa premissa, Clare. Acho que sempre se deve agir direito com os outros e espero que façam o mesmo comigo. Ela tem direito de lutar contra mim, desde que o faça com lealdade. Que ganhe o melhor.

Era impossível não gostar daquele homem, e isso poderia estragar os planos de Clare. Disse, tentando fazê-lo reagir:

— Você só fala por chavões ou está querendo me impressionar, mostrando que é um sujeito maravilhoso?

Ele olhou-a surpreso e, mais ainda, ofendido. — Que horror! — tocou-se ela. — Desculpe...

— Não tem nada... Mas, respondendo à sua pergunta, sim. Estou tentando impressioná-la. Na verdade, sou um tipo à-toa, mas quero que descubra isso quando for tarde demais.

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— Como assim?

— Acha-me um espertalhão? — E, antes que ela respondesse, prosseguiu: — Está agindo como se estivéssemos numa guerra, onde precisa achar que o inimigo é abominável, para ter coragem de matá-lo. Trabalhamos num sistema de livre empresa. Às vezes é preciso destruir gente boa para não se perder clientes e acabar pedindo esmola. Não se trata de caso pessoal.

— E meu pai? Ele foi um desses “gente boa”?

— Espero que não, mas pelo tom de sua voz, parece que você acha que sim. Não o conheci bem.

Ela ficou ofendida por ele não conhecer bem seu pai, que o considerava seu inimigo número um. Era evidente que Max nem mesmo levara seu pai em conta, o que ele achava. A “guerra” fora do ponto de vista dos Pemberton, guerra de um só lado.

— Tente imaginar por que ele nos convidou a ir para a Flórida.

— Porque achou mais cômodo para comparar nossas propostas e decidir.

— Talvez...

Ela tratou de ignorar a insinuação na voz e olhar dele.

— Pouco me importa o motivo dele. A minha proposta é melhor e Durnberg é um negociante esperto. É o que importa.

— Então, está bem. Até amanhã, Clare Pemberton. — Até, Max Armstrong. Obrigada pelo vinho.

Saiu do bar sentindo que o olhar dele acompanhava cada movimento de seu corpo esguio. De fato, ele a fitou até que desaparecesse. Ela era alta e boa parte dessa altura era devida às pernas esguias, longas e bem-feitas, coisa que mais admirava em uma mulher. Clare classificava-se em seu padrão...

Terminou de tomar seu uísque depois que ela se foi: era marca boa e cara demais para ser desperdiçada. Nos últimos tempos ia tomando consciência disso, de modo doloroso. Ainda bem que a partir do dia seguinte ia beber por conta de Ham e, além disso, entraria em uma roda-viva: golfe, tênis, windsurf, corridas, natação e todos os outros esportes competitivos que o empresário adorava.

Ele tinha prazer em derrotar os outros em tudo, mas principalmente fazia questão de vencer Max Armstrong. Mas por que não aceitar isso, se Ham continuasse a lhe pagar? E o que ele estaria pretendendo, com essa história de levar os dois para a Flórida?

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duro para continuar com a conta do seguro dele, para merecer a comissão que ganhava. O fato de a concorrência vir de uma bonita loira talvez instigasse o espírito brincalhão de Durnberg. Com certeza ele já se divertia imaginando Max tentando conquistar a moça e, ao mesmo tempo, não querendo deixá-la ficar com o seguro da empresa.

E era o que Max estava querendo, mesmo, só que não sabia como consegui-lo. Clare o impressionara mais do que qualquer outra mulher que conhecera depois do divórcio, mas precisava continuar a ser o agente de seguros da Fairways.

Não podia acreditar que Ham convidara Clare por estar pensando em mudar de agente. Ele adorava ter Max às suas ordens. Não. O empresário certamente montava mais um de seus jogos, para se divertir. Sentiu, então, pena da moça, mas não o bastante para desistir da concorrência. Com a pressão que Adele vinha fazendo, não podia se dar ao luxo de ser generoso.

Pagou a conta e saiu. Calculou que se fosse depressa ainda pegaria Glória no escritório. Não queria incomodá-la em casa, por causa da viagem. Ela se casara há um ano. Lembrou-se do casamento, que fora uma surpresa geral. Todo mundo pensava que seu divórcio acontecera por causa da secretária e ela se casar com outro demonstrara que todos se haviam enganado.

Deu partida no Porsche. O carro precisava de pneus novos e revisão geral, mas isso teria que esperar. Enquanto dirigia, pensava nas roupas que devia levar. Será que seu maiô agüentaria mais uma viagem? Duvidou se estaria em forma para aparecer com roupas sumárias. Sempre achara seu físico bom, até aparecer aquele surfistazinho com quem sua mulher fora embora. Agora, tinha oportunidade de ir para a Flórida com uma loira que nem trinta anos fizera e não queria que ela o considerasse um coroa. Desejava que uma mulher jovem e linda se apaixonasse por ele, nas areias peroladas das praias do Golfo.

Mas havia um problema: Clare era uma jovem lindíssima, só que estava interessada nos negócios, não nele. O pior é que os negócios eram, também, os dele. E, claro, se ela não conseguisse o que queria, não estaria a fim de um romance.

Suspirou, estacionou e saiu do carro. Do jeito que as coisas iam com Adele logo não poderia mais manter o escritório. Teria que voltar para uma daquelas salinhas de corredor de shopping-center, mais pobre do que a de Clare Pemberton.

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Clare era uma nova raça de agentes de seguros, mas não pelo estilo de fazer negócios, apenas. Adorava olhá-la e seria uma pena se tudo acabasse com a maluquice de Ham. Gostaria de conhecê-la melhor. Tinha certeza que era esperta e honesta, duas qualidades que admirava.

Lembrou-se de Clare na primeira vez que a vira, no escritório dela. A luz fazia seus cabelos brilharem como uma cascata de ouro, até que ela erguera o rosto e os olhos verdes o haviam fitado. Naquele instante abençoara a bola de golfe que fizera sua vidraça em estilhaços.

Entrou no escritório às cinco para às cinco; Glória datilografava uma apólice que deveria ser entregue na manhã seguinte.

— Como vai Ham Durnberg? — perguntou ela, sorrindo. — Aprontando alguma.

Os conhecidos o haviam imaginado ligado àquela atraente ruiva, mas o fato é que a química entre eles não funcionava, nem mesmo quando ele se divorciara, ficando sozinho. Eram excelentes amigos, jamais amantes.

— Sempre que você fica até tarde nessa máquina eu me sinto culpado por não comprar um computador...

— Você não é do “tipo informático”, Max.

— Sei, mas computadores fazem esse trabalho mais depressa.

— Se você estivesse nadando em dinheiro, eu até que o pressionaria para comprar um. Mas não pode. Esqueça. A minha máquina de escrever é ótima.

— Deixe que eu termino isso. Vá para casa, para seu maridinho. — Já está quase pronto e o maridinho vai entender.

— Espero que entenda, pois você vai ficar uns dias aqui, sozinha. Durnberg quer que eu vá para a Flórida.

— Outra vez? — Glória parou de escrever. — Olhe, já que vai para lá, por que não arruma uma licença na Flórida, assim poderia fazer o seguro também do Sugar Sands.

— Nem quero pensar nisso! Aí teria que arranjar um agente só para atender essa conta, e Ham me arrastaria mais vezes para lá!

— Mais grana, Max — lembrou ela, com o gesto típico.

— Eu sei. E bem que preciso. Mas ele é difícil. Além disso, pode não querer me dar a conta de Sugar Sands, pois não agüenta me ver ganhando muito...

— Esse perigo, não corremos! — comentou a moça, rindo.

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— Durnberg quer me convencer que tenho um concorrente para a renovação do seguro do Fairways. Uma garota, Clare Pemberton, que pelo jeito tem uma proposta melhor do que a nossa. Ele quer que nós dois o acompanhemos à Flórida até que estude as duas propostas.

— Esse homem sabe manipular! Ela é bonita? — É, sim.

— Perigo! Pemberton... O pai dela não morreu há pouco tempo? Não era ele o agente de seguros?

— Era. Ela ficou com a agência, sozinha. Parece que a mãe ajuda.

— O velho Pemberton contentava-se com clientes pequenos, mas parece que a filha pensa diferente, se está atrás do Fairways...

— Não vai conseguir.

— Concordo. Mas tenho certeza que Ham vai fazê-la pensar que pode ganhar e pôr dúvidas na sua cabeça, também.

— Tudo bem, enquanto for só um jogo, contanto que não seja verdade. — Nem se preocupe. Há dez anos essa conta é sua. O que Ham faria sem você? Ele adora ser mimado...

— Talvez prefira ser mimado por um rostinho bonito. — Acha, mesmo?

— Não... Observei-o, hoje. Ele encenou um encontro entre nós três, para complicar a situação. Clare não imagina onde está se metendo, coitada! Conheço Ham bem para saber quando está interessado em uma mulher. E não está.

— E você?

— Eu? Ela é uma garota! — retrucou Max, lembrando de sua fantasia juvenil com a moça. — Deve ter menos de trinta anos e o irmão é amigo de Tommy.

— O que tem a ver? Repetindo: e você?

— Sua pergunta é acadêmica. Mesmo que estivesse interessado, não posso imaginar que ela poderia vir a querer ter algo comigo... principalmente se não pegar o cliente.

— Não pode imaginar? Max, seu ego vai mal!

— Que nada! Olhe, acabe logo essa apólice e faça uma lista do que vai precisar ver quando eu estiver fora.

— Certo, chefe!

— Às vezes tenho dúvidas se sou “chefe”, mesmo. Ultimamente você vem forçando a barra comigo.

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— Nossa! Você está de astral baixo, mesmo! Esse divórcio vem lhe custando caro demais.

— E... — Max dirigiu-se para sua mesa, parando antes e olhando para a fileira de ursinhos numa prateleira. — Glória, lembra do que um personagem de Bambi dizia? Tambor, o coelhinho...

— Não, chefe. Não gosto dos filmes de Dysney.

Talvez fosse por isso que ele e Glória não haviam tido um caso. Adele também não gostava desses filmes: fora ele sempre quem levara os filhos ao cinema. E podia apostar que Clare vira todos e adorara. Decidiu pôr sua teoria à prova.

— Você gosta de histórias de ursos, Glória?

— O que sei sobre esses bichos, aprendi aqui. Por quê?

— Por nada... — Ele pensou mais um pouco. — Acha que eu uso muitos chavões, quando falo?

— Acho que você usa muita coisa, menos chavões! — respondeu a secretária, rindo. — Por quê? Quem lhe disse isso?

— Uma loira.

— Chamada Clare Pemberton?

— Talvez... — Glória franziu os lábios e inclinou a cabeça de lado. — Por que está me olhando assim?

— Max Armstrong, você está com todos os sintomas de uma paixonite aguda!

— Ótimo! Era isso que eu queria ouvir!

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CAPÍTULO 3

Clare foi diretamente para a casa da mãe, pois teria que ir para a Flórida e só ela poderia ajudá-la. Max demonstrara acreditar que ela não lhe tiraria o cliente, e até insinuara que Durnberg divertia-se jogando um contra o outro. Não conseguia ignorar um desafio.

A mãe ainda morava na pequena casa onde Clare nascera e crescera. O contraste entre o sobradinho e a mansão de Max Armstrong atestava a enorme diferença entre seu pai e o melhor agente de seguros de Flagstaff.

Bill Pemberton sempre afirmara que não trocaria o sobradinho vitoriano por todas as casas elegantes da cidade; tinha certeza de que só se ficava rico por meios inescrupulosos, no entanto ela verificara que seu maior concorrente parecia ter mais escrúpulos do que um garoto inocente. Estaria fingindo?

Encontrou a mãe na cozinha, fazendo bolo para distribuir à vizinhança. Vivia cozinhando para a família e amigos. Cortava bananas ao ritmo do rock que Joel ouvia em seu toca-discos, no quarto. Precisou gritar para ser ouvida e reclamou:

— Se daqui se ouve assim, imagine como estão os ouvidos dele! — Clare, que surpresa!

A mãe parou de dançar e cortar, para abraçá-la. Era bem mais baixa do que Clare: os filhos haviam herdado a altura do pai e as cores da mãe. Os cabelos brancos misturavam-se aos loiros e Edna Pemberton parecia ter menos de cinqüenta anos.

— Desisti de pedir para abaixar. Essa é a minha menor preocupação com ele. Está fazendo um trabalho de química...

— Ele é que vai ficar surdo! Eu era assim aos dezessete anos?

— Não. Você sempre foi ajuizada e poderia ter começado a cuidar da agência logo depois de terminar o ginásio. Mas Joel, não: seria uma catástrofe...

Clare riu: o irmão não poderia ser catástrofe maior do que a mãe em dois dias na agência.

Ele vai para a universidade, mamãe. Decidi.

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— Ainda não sei... É por isso que vim aqui. Para tentar pegar Durnberg, preciso ir ao outro hotel-clube dele, na Flórida. Será que você...

— Claro que tomo conta da agência! Vai ser até bom. Foi uma delícia conhecer aquela gente toda que ia ao escritório, quando fiquei lá. Adoraram meus bolos!

A mãe dera descontos especiais a todos que tinham gostado do bolo dela.

— Obrigada, mamãe, mas não precisa fazer nada para os clientes. E só atender ao telefone e anotar os recados. Se tiver dúvida, ligue para mim, vou lhe deixar o número.

— Vai visitar Ron?

— Não sei. Quando chegar lá, vou telefonar para ele.

Ela ainda não pensara em Ron, desde que Durnberg falara na viagem, mas era importante falar com ele, pois era quem podia arranjar a licença para ela fazer o seguro sobre uma propriedade na Flórida. Preferiria resolver tudo por telefone, uma vez que um reencontro com o ex-noivo poderia ser difícil.

— Acho que devo um jantar a ele, no mínimo — comentou a mãe, voltando às bananas. Quando surgiu essa possibilidade do seguro dos clubes de Durnberg, pensei que vocês dois...

— Não, mamãe. Ron não é o homem certo para mim.

— Sempre me senti meio culpada, achando que rompeu com ele para ficar aqui, quando Ron teve que ir para a Flórida.

— Não — e ela passou um braço pelos ombros da mãe. — Se o amasse, de verdade, teria ido, mamãe.

— Eu sei... — Ficou séria. — Não vai gastar demais, minha filha? — Vou como convidada de E. Hamilton Durnberg.

— Ainda bem! Quando ele se tornar seu cliente não precisaremos nos preocupar mais com dinheiro. E se a convidou para ir, deve estar pensando em passar o seguro para você.

— Ele convidou Max Armstrong, também. — Que grosseria!

— Negócio, mamãe. Quer comparar nossas propostas, enquanto cuida dos problemas do clube-hotel de lá.

— Cuidado com esse Armstrong, filha! — Você o conhece, mamãe?

— Não e não quero conhecer gente que se exibe, morando nos melhores bairros e dirigindo Porsches! Ele tirou muitas contas do seu pai, é

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pior que uma víbora!

— Pois eu acho, mamãe, que... Ora, deixe para lá! — O quê?

Clare percebera que ia defender Max Armstrong. Por que passara de repente para o lado dele?, pensou. Dali a pouco estaria elogiando aquele homem, como Joel.

— Mamãe, tem uma mala para me emprestar? — Por quê? Você não tem?

— Nunca viajo...

— É mesmo. Ótimo que vá viajar, agora. Pode deixar que eu cuido de tudo no escritório.

— Apenas anote os recados e não mexa no computador.

— Ok! E não vou vender nada... mas confesse que arranjei novos segurados para você!

— Mas perdi a maioria quando cobrei os prêmios.

— Não sei por que a agência não os absorveu, afinal, o número de apólices vendidas aumentou, Clare!

— Mamãe, prometa que só vai anotar os recados, por favor.

— Claro, filha. Não se preocupe. Pense apenas em passar esse Armstrong para trás. Ele é esperto, mas você vai conseguir. Seu pai não era bom negociante, tenho que reconhecer.

Clare não entendia como a mãe acusava Max de trapaceiro e ao mesmo tempo reconhecia a incapacidade profissional de seu pai. A culpa dos fracassos de Bill Pemberton não era de Max, embora fosse difícil aceitar isso depois de todos aqueles anos de condicionamento sobre a vigarice dele.

— Não sei se papai era bom ou mau negociante, nem vou discutir o caráter de Armstrong, mas vou fazer o impossível para afastá-lo de Durnberg.

Edna colocou a massa de bolo na forma.

— Mas seja educada, filha. Não esqueça os bons modos. — Sim, mamãe... não vou esquecer.

Na manhã seguinte, a milhares de metros do chão Clare imaginou até quando conseguiria ser bem-educada. Durnberg acabara de lhe oferecer um bloody mary. Max já concordara em beber com o amigo e ela precisava provar que agüentava álcool, tanto quanto eles, às seis e meia da manhã, ou recusar, o que provavelmente a faria perder pontos. Resolveu aceitar.

— Então, agora freta aviões, Ham? — indagou Max, que tirara o paletó e parecia um homem em férias. — Os negócios vão indo bem, pelo jeito!

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Clare estranhara ao vê-lo chegar com uma sacola pendurada num ombro, sem sinal de pasta. Seu tailler cinza, a pasta e a mala enorme pareciam pomposos perto da bagagem mínima dele. Não havia jeito; não podia trocar de roupa e precisava continuar com a pasta e a mala, pomposas ou não. Max levara vantagem por já conhecer o clube-hotel e saber o que devia usar. Iria precisar de munição para afastá-lo do empresário, mas não queria parecer preparada demais. Fingiu estar adorando o bloody mary, apesar de preferir suco de tomate sem vodca.

— Os negócios vão bem, sim. Fretei este jatinho porque a empresa vem me amolando há tempos para experimentar seus serviços. — Durnberg parecia satisfeito, feliz. — Achei que hoje seria um bom dia para experimentar e para conhecer esta moça melhor.

Mais uma vez Clare notou uma antipática condescendência no tom dele, como se Max e ela fossem crianças não muito inteligentes. Estavam sentados em lugares frente a frente, com uma mesa no meio, ela perto da janela e Max do lado oposto, na diagonal, ao lado do anfitrião que se encontrava diante de Clare.

Ela dormira mal, pensando na possibilidade de passar alguns dias com Max. A realidade era pior do que imaginara; a atração física que ele exercia sobre ela tornara-se fortíssima e Clare lutava para escondê-la. A calma dele tornou-a ainda mais determinada a se controlar: dominaria as emoções a qualquer custo.

— Como uma moça bonita como você ainda está solteira? — indagou o empresário, que já tomara metade de sua bebida.

A moça irritou-se com a pergunta e conteve a custo uma das respostas ácidas que costumava dar. Tomou um gole de sua bebida; e conseguiu sorrir:

— Sou exigente demais...

— Admiro mulheres de bom gosto! — disse Durnberg, piscando para o amigo. — E você, Max?

Com o canto dos olhos ela percebeu uma leve tensão nos maxilares de Armstrong e imaginou até onde iria a amizade daqueles dois. Teve impressão de que ele não gostava de Ham e isso aproximou-os mais.

— É claro que admiro mulheres de bom gosto — respondeu ele sorrindo, apesar de Clare ter certeza que estava irritado. — Só que quanto mais bom gosto elas têm, menos gostam de mim...

— Deixe de falsa modéstia, rapaz! — Ham voltou-se para Clare. — No ginásio ele era conhecido como “A Lenda” e as garotas que saíam com ele

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formavam o “Exército de Armstrong”.

— Impressionante — comentou ela, sem saber o que dizer.

— Talvez eu deva esclarecer — disse Max, depois de tomar um gole de sua bebida — que Ham adora o mundo do faz-de-conta e que tem uma imaginação surpreendente.

— Só que não a usei desta vez, meu velho. Se Adele estivesse aqui, diria que é verdade. Ela contava que uma incrível legião de mulheres desmanchou-se em lágrimas quando eles casaram. E não foram lágrimas de felicidade.

— Ham, como vai seu tênis? Disposto a aceitar um desafio meu quando chegarmos ao clube?

Clare sentiu-se aliviada com a mudança de assunto. Qualquer homem ficaria vaidoso com aquela menção ao seu magnetismo masculino, porém Max parecera bem pouco à vontade.

— Desta vez você é um homem morto! — ameaçou Durnberg. — Acho que devo registrar minha raquete como arma mortal.

— Voltou-se para Clare. — Viu como ele mudou de conversa? Não quer que você saiba a reputação dele entre as mulheres. Acho que desta vez vai apelar para a compaixão e mostrar-lhe como vive só e infeliz com o divórcio. Não acredite, moça, este homem é muito perigoso.

— Ham, gostaria muito se você...

— Estou brincando, rapaz! Que tal um joguinho de cartas para ajudar o tempo a passar?

— Eu topo. — Max terminou de beber. — Tem mais disto? — Um suprimento enorme, amigo!

Ham chamou a aeromoça, pediu mais dois bloody mary e um baralho. Clare percebeu o esforço de Max para relaxar e livrar-se da irritação. Ela imaginara que seu problema iria ser a profunda amizade entre os dois, no entanto o que havia entre os dois era uma velha rixa, pelo menos por parte do empresário. Compreendia agora que ele a convidara a fim de tornar as coisas mais difíceis para Armstrong, mas que de fato não pretendia mudar de agente de seguros. Era claro que gostava de ter poder sobre o amigo que invejara na escola e talvez ainda invejasse.

No entanto, Durnberg era um bom negociante, caso contrário não teria tido tanto sucesso. E, assim, em última análise não seria normal deixar de lado as picuinhas e ficar com a melhor proposta? Ela esperava que o tino comercial sobrepujasse a necessidade de dominar Max.

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O empresário jogava com profunda concentração, fazendo Max e Clare perder uma partida atrás da outra, exultando, todo animado, a cada vitória.

Quando foi servido o café da manhã os dois homens pediram outro bloody mary e ela torceu para que nenhum deles fosse dirigir quando chegassem. Durnberg enrolava levemente as palavras e Max parecia não ter se alterado com o álcool que consumira, talvez por ser mais alto e bem mais encorpado.

Ela percebeu que começava a sentir uma dorzinha de cabeça. Teve vontade de rir ao lembrar da mãe acenando e desejando-lhe boa viagem. Os dias seguintes prometiam ser os mais difíceis de sua vida. Nesse momento, Ham colocou as cartas na mesa, outra vez com ar vitorioso.

— Vocês não são páreo para mim! — Levantou-se. — podiam treinar, enquanto eu descanso um pouco.

— Acho que não adianta, Ham — disse Max, recostando-se no assento e estirando os braços. — Ganhou todas! Vamos parar?

— Acabei com você, não é? — disse o outro, rindo.

— É... — Abaixou os braços. — Então, paramos, a não ser que Clare queira continuar...

— Desisto — declarou ela, observando-o.

Quando ele erguera os braços, tivera o impulso maluco de se aninhar na proteção deles, com a sensação de que se deitasse a cabeça naquele peito forte e fechasse os olhos a dor desapareceria.

— Vocês não são de nada! — exclamou Ham, sorrindo. — Quem sabe depois desta viagem estejam melhor. Comportem-se até eu voltar, então! — e foi para o fundo do avião.

Quando ele desapareceu, Clare gemeu e massageou as têmporas, enquanto Max dizia, suave:

— Se achou isto ruim, espere até aterrissarmos. Vai ficar muito pior. Ela abriu os olhos, encarando-o, preocupada:

— Se sabia, por que veio? É claro que não está gostando. — A resposta é fácil: fazer os seguros dele vale a pena.

— Como suporta três bloody mary antes de comer? — ela continuava massageando a testa e a nuca, gemendo.

— Deixe que eu faço isso — propôs ele.

— Não. Olhe, eu... — Sua voz morreu quando ele afastou as mãos dela e começou a massageá-la com pressão suave e firme.

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— Não há de quê. Vou lhe dar uma dica sobre bebidas para esta viagem: leve seu copo para onde for; sempre encontrará um lugarzinho para despejá-lo...

Então, ela lembrou que Max se levantara durante o jogo. — Quer dizer que não tomou os três?

— Nem sequer um inteiro.

— E eu que achei que você era bom de copo! — exclamou, de olhos fechados, entregando-se à delícia da massagem.

— Sou bom, sim, mas não uso esse talento quando estou com Ham, a não ser que seja preciso. Às vezes ele me obriga a um torneio de bebidas, então não posso escapar.

— Torneio... A vida para ele é só disputas?

— Deve ser. Mas a mania piora quando estou por perto.

— Não imaginei isso... — comentou Clare, desejando que ele lhe massageasse as têmporas e a nuca pelo resto da vida. — Pensei que você tinha preferência por serem amigos.

— Isso é o que ele diz.

— Vi que ficou irritado com aquelas piadinhas bobas. — Menina esperta! — disse ele, baixinho. — Aí vem Ham.

— Foi maravilhoso — suspirou Clare, abrindo os olhos. — Muito obrigada.

— Às ordens.

Ela ergueu a cabeça, devagar, e viu o empresário se aproximando com dois copos. Sorriu quando Max pegou o dele, agradecendo. Sabia que a bebida iria parar no ralo da pia do banheiro.

Depois do toque mágico daqueles dedos, sentia-se aquecida e calma como nunca. Decidiu então que, por enquanto, esqueceria quem era Max Armstrong e o que ele representava.

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CAPÍTULO 4

Clare parou junto ao meio-fio na calçada diante da entrada principal do aeroporto de Sarasota-Bradeton e ergueu o rosto para o sol. Apesar da determinação de se concentrar no trabalho, começou a animar-se com a perspectiva de uns dias na praia. Talvez fosse por causa do longo período sem férias, pensou, mas o fato é que estava gostando de se encontrar ali.

Um Mercedes último tipo, com motorista, parou diante deles, para seu alívio: não confiaria em Durnberg ao volante.

O empresário sentou-se ao lado do motorista e os dois acomodaram-se atrás. Ela tentava fingir que não se importava por estar tão perto de Max, porém não adiantava. Num gesto casual, ele passou um braço pelo encosto e tocou-lhe os cabelos.

— Desculpe — disse, sem mudar de posição. — Gosto de me espalhar, se não a incomodo.

— Não incomoda...

E pensou que não se incomodaria, também, se ele a tomasse nos braços e a beijasse, mas isso era inconcebível. Tratou de se controlar, achando que a viagem de avião e a corrida pelas ruas ladeadas de palmeiras, de Sarasota, haviam alterado sua percepção da realidade, fazendo-a sonhar e transformar aquela viagem de trabalho em lazer. Como a vida seria boa, imaginou, se ela e Max fossem estranhos e se tivessem conhecido numas férias.

Pôs um dedo sobre o botão da janela automática.

— Importa-se se eu abrir? Quero sentir o cheiro do mar.

— Boa idéia! — concordou Max, baixando o vidro do lado dele ao mesmo tempo.

— Hum, que maravilha! — exclamou ela, aspirando o ar, enquanto o vento brincava com seus cabelos. — A temperatura está perfeita.

Tudo é perfeito, pensou, menos o motivo de estarmos aqui.

— Novembro é sempre lindo. Já tinha vindo à Flórida? — quis saber Max.

— Não.

— Nunca? — Ham virou-se para trás. — Então, precisamos dar a ela um tratamento de primeiríssima, meu caro Max!

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Não!, Clare teve vontade de gritar. Algo lhe dizia que adoraria esse tratamento por parte de Max, mas não de Ham.

__ Muito bem! — exclamou o empresário. — Podemos começar com tênis. Liguei para saber o programa, antes de sairmos de Flagstaff e há um torneio esta tarde. Vocês podem jogar, enquanto trato de uns negócios. Qual seu nível, Clare?

— Não tenho idéia... Jogo um pouco.

— Então, você entrará em C — determinou Ham, depois olhou para Max. — Meu velho amigo entra em A, a não ser que tenha piorado...

— Piorei, sim. É melhor me pôr em C, também. — Pensei que você tivesse me desafiado, no avião. — Sim e o desafio continua de pé.

Uma expressão de raiva momentânea alterou as feições aristocráticas de Durnberg, antes que retribuísse o sorriso.

— Ele pensa que pode me vencer, de qualquer jeito!

— Eu não quis dizer isso. Posso agüentar uma partida, é só. Caso me coloque num torneio com seus melhores jogadores, não terei forças nem para erguer a raquete, enquanto você corre atrás de seu rico dinheirinho, Ham...

— Sei, entendi... Então está bem, vai para o C.

Clare sentia-se fascinada pela batalha verbal dos dois homens. Era evidente que Max pretendia diminuir o outro, dizendo-se um fraco jogador de tênis, para derrotá-lo depois. Durante aqueles anos todos na certa ele aprendera a lidar com a atitude manipuladora do empresário, desenvolvendo suas próprias técnicas de guerra de nervos.

Pensando nos dias que teria de passar com eles, sentiu-se jogada em uma arena, sem nada para proteger-se dos golpes que por acaso sobrassem para ela. Não era bem assim, pensou em seguida, Max a defenderia, como já o fizera uma vez. Era estranho ter que encará-lo como amigo e inimigo ao mesmo tempo.

Ham bancava o guia turístico, mostrando a Clare os pontos interessantes da cidade. Quando atravessaram a estreita faixa de terra que levava a Longboat Key, ela viu o Golfo do México pela primeira vez e suspirou de prazer:

— Estou fascinada com o mar, essa água toda! Acho que é por ter morado sempre no interior...

O empresário meteu-se na conversa, antes de Max responder:

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pesca submarina, esqui, vela...

— Que tal simplesmente nadar, tomar sol, catar conchinhas, admirar o azul do céu, assistir o incrível crepúsculo? — indagou Clare, rindo.

— Pode fazer isso, mas não se vai a um clube-hotel como o meu para isso. Pode usar nosso equipamento, de graça!

— Obrigada! — Clare relanceou os olhos por Max e viu sua expressão de mofa. — E posso perguntar-lhe, Ham, quando vai estudar a minha proposta?

— Chegaremos lá! — respondeu ele. — Não se preocupe com isso, agora. Divirtam-se e esqueçam o trabalho, os dois.

Clare rangeu os dentes, odiando aquele tom paternalista. Queria que ele a tratasse como profissional. Aquela viagem seria apenas mais um jogo entre Max e Durnberg, incluindo-a apenas para animar a competição? Pensou nas horas que levara fazendo a proposta, em seus esforços, com a ajuda de Ron, para se licenciar na Flórida, a fim de poder fazer o seguro do clube-hotel Sugar Sands, também. Apresentaria sua proposta nem que fosse nadando ao lado de Ham, naquele mar cor de esmeralda.

— Chegamos — anunciou Durnberg, quando o Mercedes entrou em uma alameda ladeada por palmeiras e canteiros de flores.

Tudo ao redor demonstrava bom gosto, e Clare achava que o empresário não combinava com o ambiente, pois seu estilo era rude, competitivo demais. Lembrou-se, então, que ele comprara aquele clube há dois anos e ainda não tivera tempo de imprimir sua personalidade ao local.

O carro fez uma curva e parou diante de uma entrada. Através da passagem estreita entre os edifícios brancos, de telhados vermelhos, Clare viu a areia branquíssima que dava nome ao lugar e as águas cor de turquesa do golfo.

— Lindo... — murmurou.

— Aproveite, o trabalho não é tudo! — advertiu Max. — Vou tentar me lembrar disso.

— Eu fico aqui — disse Ham, assim que o carro estacionou.

— Santiago irá levá-los aos seus quartos. — Saiu e inclinou-se a fim de olhar os dois, pela janelinha. — Acho que dá para vocês pedirem almoço no quarto, e correrem para a quadra. O torneio começa daqui a uma hora.

— Não tenho raquete — disse Clare, tentando escapar do jogo.

— Não há problema — retrucou Durnberg. — Passe na loja, escolha uma e mande pôr na minha conta.

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— Mas, Ham, eu não posso...

— Claro que pode — riu, mostrando os dentes perfeitos. — O que não pode é entrar no jogo sem tudo que precisa...

Ela entendeu o duplo significado da frase.

— De fato. Obrigada por tanta generosidade — ironizou.

— Não há de quê. Bem, até mais tarde. Santiago, chalé vinte e quatro para a senhorita, vinte e cinco para o cavalheiro. Verifique se tudo está em ordem.

O empresário afastou-se e o motorista deu a partida.

— Minha raquete está à espera no chalé vinte e cinco... — explicou Max. — Ham guarda-a, para eu não ter desculpa.

— Nunca conheci alguém como ele — disse ela, em voz baixa, para Santiago não ouvir. — Pensei que uma volta no campo de golfe me prepararia para lidar com Durnberg.

— Não se preocupe. Ele não espera que você seja tenista campeã; eu é que preciso competir com ele.

— Não sei... Tenho a horrível sensação de que meu sucesso com ele vai depender de minha capacidade esportiva.

— Duvido. Esporte o agrada, claro, mas ele se impressiona com quem demonstra capacidade em qualquer tipo de jogo.

— É? Em que jogos você é bom, Max? Fora esportes... Já o vi no “jogo do copo” e no “jogo da conversa”. Que mais há em seu repertório?

Surpresa, viu-o suspirar e desviar os olhos.

— Sabe, Clare! Para ser franco, estou cansado de tudo isso.

Ela não soube o que dizer. Esse devia ser o ponto fraco na armadura de Max, e o que ela tomara por confidência fosse apenas exaustão; quem sabe ele esperava que ela ficasse mesmo com o cliente. Isso explicaria o fato de ele não ter tirado licença para a Flórida e não ter oferecido uma proposta melhor do que a dela.

O carro parou; seus chalés eram vizinhos.

— Pode me dar a chave, Santiago. Eu me ajeito sozinho — disse Max, saindo do carro.

— Pois não, Max — respondeu o rapaz, entregando-lhe a bolsa de viagem. — Mas não conte ao patrão que não carreguei sua bolsa e nem ajeitei a cama...

— Você já me conhece bem — riu Max. — Como vai a Rosa?

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— Assim ela jamais vai se formar! Também, não decide se quer ser engenheira ou mãe!

— Pode ser as duas coisas — disse Clare.

E admirou-se por entrar na conversa, percebendo que se ligara naturalmente a intimidade dos dois, como se fossem velhos amigos.

— Eu já disse isso, mas Rosa acha que só ela sabe cuidar dos filhos. O que vou fazer?

— É um problema comum... Deixe, eu mesma levo minhas coisas, também.

— Não. — Santiago retirou a pesada mala do carro. — Está pesando uma tonelada e sou um cavalheiro!

— Exagerei — riu Clare. — Max é que esta certo...

— Fique por perto dele e tudo vai ser ótimo — aconselhou Santiago, olhando para Armstrong. — Venha ver seu chalé. Depois a gente se vê, Max.

— Ok, San.

Enquanto dirigia-se ao chalé, ela comparou as duas observações sobre Max: a de Ham e a do motorista. Durnberg insinuara que ele era perigoso, e Santiago, que poderia protegê-la. Dos dois conselhos, preferiu o segundo; confiava mais em Santiago. Mas, poderia confiar na própria avaliação?

Ao entrar no chalé e olhar a parede de vidro da frente, que dava para areia, mar, céu e gaivotas, não pensou em mais nada.

— Posso pôr as coisas no quarto, senorita?

— Sim, obrigada. E, por favor, quero que me chame apenas Clare — disse, abrindo a porta e indo para o terraço.

A praia, podia ver agora, tinha dois níveis: o mais alto sobre uma parede de pedra, onde ficavam os chalés, e descia-se para a praia por uma escadaria de madeira. Encantada, sem tirar os olhos da paisagem, ela descalçou o pé esquerdo e ia descalçar o direito, quando ouviu a voz de Max:

— Se pensa andar pela praia, não há tempo...

Voltou-se, ainda com um sapato na mão, então viu que o terraço era comum aos dois chalés. Embora houvesse uma grade entre os dois, era baixinha, não impedindo a passagem.

— Tinha esquecido o torneio. Quem pode querer jogar tênis, tendo tudo isso? — Fez um movimento amplo para a praia. — Você já esteve aqui e acho que nem liga.

— Por que pensa isso?

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programa dele. Mas, na verdade...

Ela sentia a mesma excitação culpada de quando cabulava aula e ia passear com os colegas.

— Também acho. Mas você quer arriscar?

Clare pensou por alguns momentos. Se os dois desobedecessem Durnberg, ambos ficariam igualmente prejudicados. Além disso, não gostava de bancar a boneca nas mãos daquele homem, por mais que o quisesse como cliente. Sua proposta é que valia para isso, não um jogo de tênis.

— Ao diabo o torneio! — disse, por fim. — Vou para a praia assim que mudar de roupa.

— Encontro você aqui em cinco minutos. Se puser maiô, podemos até nadar.

— Mas sem competir! — Combinado.

Ela entrou e olhou ao redor. Que apartamento! O sofá era branco, com enormes almofadas macias, e ficava diante da lareira; havia mais duas espreguiçadeiras, uma mesa com tampo de cristal, quatro cadeiras brancas, estofadas. Havia uma quitinete, com frigobar, um banheiro com torneiras douradas e o quarto, também com móveis brancos.

Ela andou pelo chalé inteiro, tocando tudo, saboreando aquele luxo. Foi lavar o rosto e as mãos e pegou um sabonete de uma bonita cesta de vime branco, sobre o gabinete de pia do banheiro. Verificou o que mais havia: loção para pele, xampu, creme para bronzear, touca de banho e... uma caixa de preservativos.

— Clare, está pronta? — chamou Max.

Levou um susto. Guardou rapidamente a caixinha e saiu correndo do banheiro. De maiô e uma toalha no ombro, ele a esperava à porta. Vendo-o quase nu, o coração dela pulou.

— Entre, não vou demorar.

Correu para o quarto, sem ver se ele entrava ou não. Tirou a roupa, vestiu o maiô, tentando não pensar nos preservativos. Sabia que hotéis de primeira forneciam essas coisas. Só porque os tinha à disposição, assim como Max, não queria dizer que era obrigada a usá-los. Entretanto, a idéia de fazer amor com ele parecia ter se mantido escondida em seu subconsciente, esperando a chance para vir à tona. Ele a atraíra desde o começo e lá estavam lado a lado, naquele ambiente idílico e alguma boa alma lembrara-se de lhes fornecer o necessário para controle de natalidade e doenças. Seria

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coincidência ou faria parte do jogo de Durnerg. De qualquer modo, tudo a levava, perigosamente, para um envolvimento íntimo com Max Armstrong.

Pegou a saída de banho branca, para usar com o maiô vermelho, e notou que suas mãos tremiam.

CAPÍTULO 5

Toda essa coisa foi arranjada, pensava Max, enquanto aguardava que Clare vestisse o maiô. Balançando os óculos de sol numa das mãos, olhou para as águas do golfo, que reverberavam, parecendo ouro líquido. Ham deve se divertir, vendo que eu quero conquistar e derrotar Clare, ao mesmo tempo.

Desconfiara dessa jogada desde que ela entrara no escritório de Durnberg, em Flagstaff. Depois, viera o convite para a Flórida, agora os apartamentos conjugados, naquele ambiente de sonho. Preservativos no banheiro costumavam ser uma gentileza natural, mas ele desconfiava que tinham sido postos lá de propósito.

Juntando tudo, sentia-se cheiro de conspiração. Ao fazer um teste, experimentando as portas que ligavam os chalés pelas salas, vira que se encontravam destrancadas e, então, Max tivera certeza das intenções de Ham.

Tinha dúvida se devia ou não mencionar a porta a Clare, pois ela não conhecia o empresário direito e poderia achar que Max era um paranóico, interpretando qualquer coisinha como parte de um plano para envolvê-los. Os chalés conjugados poderiam ser explicados como mais convenientes para Ham, uma vez que ambos tinham os mesmos interesses. Quanto aos preservativos, não achava que era o caso de discuti-los com ela. Naturalmente, poderia tê-los jogado fora. Assim como poderia ter passado a trava no seu lado da porta e, agora, no lado de Clare. Era um modo de anular a jogada de Durnberg.

Mas não o fizera e nem queria fazer, em parte porque ela o atraía e porque achava que poderia ajudá-la; se necessitasse de um ombro para chorar ao ver que Ham recusava sua insignificante proposta, ofereceria o seu, com boa vontade...

Ouviu um barulhinho e voltou-se para ver uma loira de longas pernas, pronta para ir à praia, óculos de sol no alto da cabeça, j corpo brilhando de

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