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ESTADO DO RIO DE JANEIRO PODER JUDICIÁRIO

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ESTADO DO RIO DE JANEIRO PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO SÉTIMA CÂMARA CÍVEL

Apelação Cível nº 0038119-92.2014.8.19.0209

Apelante: SOCIEDADE DE BENEFICÊNCIA HUMBOLDT – COLÉGIO CRUZEIRO

Apelado: FERNANDA SAYURI SANTOS MORIOKA, representada por

sua mãe Priscila Santos Ferreira Morioka

Relator: Desembargador Luciano Saboia Rinaldi de Carvalho

(Classificação: 05)

Apelação cível – Ação de conhecimento pelo rito sumário – Estabelecimento particular de ensino – Exigência de idade mínima para ingresso no ensino fundamental – Seis anos completos até 31 de março do ano em que ocorrer a matrícula – Resolução nº 06 de 2010 do Conselho Nacional de Educação – Apelada que só completou seis anos de idade em 07 de abril do ano para matrícula – Sentença de procedência que se mantém – A Lei Estadual nº 5.488/2009 permite a matrícula no ensino fundamental da criança que completar seis anos de idade até o dia 31 de dezembro do ano corrente – Aluna que já cursou o Pré-II em outra instituição de ensino – Relatório psicopedagógico que constatou que a menor adquiriu as habilidades intelectuais e emocionais necessárias para cursar o primeiro ano do ensino fundamental – Princípios da

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razoabilidade e do melhor interesse da criança que devem prevalecer, consoante inteligência dos ditames protetivos do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8069/90) c/c artigo 205 da Constituição Federal – Precedentes desta Corte – Desprovimento do recurso e, de ofício, correção de erro material da sentença para inverter o ônus da sucumbência, para que a Ré seja condenada nas verbas sucumbenciais tal como fixadas na sentença.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 0038119-92.2014.8.19.0209, em que é Apelante SOCIEDADE DE BENEFICÊNCIA HUMBOLDT – COLÉGIO CRUZEIRO e Apelada FERNANDA SAYURI SANTOS MORIOKA, representada por sua mãe Priscila Santos Ferreira Morioka.

Acordam os Desembargadores que integram a Sétima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, por unanimidade de votos, em negar provimento ao recurso e, de ofício, corrigir erro material da sentença, nos termos do voto do Desembargador Relator.

RELATÓRIO

Trata-se de recurso de apelação interposto por SOCIEDADE DE BENEFICÊNCIA HUMBOLDT – COLÉGIO CRUZEIRO em ação de obrigação de fazer com pedido de antecipação de tutela pelo rito sumário proposta por FERNANDA SAYURI SANTOS MORIOKA, representada por sua mãe Priscila Santos Ferreira Morioka.

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Na forma regimental, adoto o relatório da sentença de fls. 415/418, que julgou procedente o pedido, nos seguintes termos: “Pelo exposto, JULGO PROCEDENTE O PEDIDO, extinguindo o processo, na forma do art. 269, I, do CPC, e confirmo a antecipação de tutela deferida às fls. 265, para o fim de condenar a ré a realizar a matrícula da autora no 1º ano do ensino fundamental, no ano de 2015, no Colégio Cruzeiro-Sociedade de Beneficência Humboldt, sob pena de multa diária de R$1.000,00 (um mil reais), em caso de relutância. Condeno o Autor ao pagamento das custas e honorários, estes fixados em R$2.000,00 (dois mil reais).”

Em suas razões recursais (fls. 421/441) afirmou a Ré que a Autora ao se inscrever para o sorteio de vagas tinha ciência de que alunos com 5 anos de idade até o dia 31 de março de 2015 deveriam cursar a Pré-Escola II, devendo ser respeitado o ano letivo, em atenção ao princípio da isonomia. Informou que o artigo 2º da Resolução nº 01/2010 do Conselho Nacional de Educação estabelece que “Para ingresso no primeiro ano do Ensino Fundamental, a criança deverá ter 6 (seis) anos de idade completos até o dia 31 de março do ano em que ocorrer a matrícula” e que seu artigo 3º prescreve que “As crianças que completarem 6 (seis) anos de idade após a data definida no artigo 2° deverão ser matriculadas na pré-escola”. Invocou o art. 30 da Lei nº 9.394/96, inciso II, que estabelece que “A educação infantil será oferecida em: (...) - pré-escolas, para as crianças de quatro a seis anos de idade”. Consignou que a Deliberação nº 15/2007 do Conselho Municipal de Educação estabelece limite de 80% de ocupação física para dependências destinadas a crianças na faixa etária de até cinco anos e onze meses, sob pena do próprio encerramento das atividades do colégio. Invocou, ao final, os princípios da autonomia da vontade e da liberdade de contratar. Pugnou pela reforma da sentença.

A autora apresentou as contrarrazões de fls. 451/461,

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A Procuradoria de Justiça teceu o parecer de fls. 481/486, opinando pelo desprovimento do recurso, reformando-se a sentença em parte, de ofício, para correção de erro material, para que a parte ré seja condenada nas verbas sucumbenciais e não a parte autora.

É o relatório. Passo ao voto.

O recurso é tempestivo e estão presentes os demais requisitos de admissibilidade.

O cerne da controvérsia cinge-se à possibilidade de o aluno que ainda não completou seis anos de idade ser matriculado no primeiro ano do ensino fundamental.

O art. 208, V da Constituição Federal e o art. 54, V, do Estatuto da Criança e do Adolescente estabelecem que o Estado deve garantir à criança acesso aos níveis mais elevados do ensino, segundo a capacidade de cada um.

In casu, a Agravada já havia cursado o Pré-II em outra instituição de ensino e completaria seis anos em 07 de abril de 2015, ou seja, apenas sete dias após o marco estipulado pela Resolução do Conselho Nacional, qual seja, 31 de março do ano em que ocorrer a matrícula, de sorte que a recusa da sua matrícula no primeiro ano do ensino fundamental não se mostrou razoável.

Assim, privar tal criança de se desenvolver e ter um progresso escolar junto aos demais alunos da sua idade tão somente por uma diferença de 07 dias, ou seja, por um critério meramente etário, viola o princípio da razoabilidade e da isonomia.

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Os princípios da razoabilidade e do melhor interesse da criança devem prevalecer, consoante inteligência dos ditames protetivos do Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei nº 8069/90) c/c artigo 205 da Constituição Federal.

De se ressaltar, por oportuno, que a Lei Estadual nº 5.488/2009, que estabelecia “direito à matrícula no 1º ano do ensino fundamental de nove anos, a criança que completar seis anos até o dia 31 de dezembro do ano em curso”, foi objeto de ação direta de inconstitucionalidade, com representação julgada improcedente pelo Órgão Especial deste TJ/RJ, o que também ampara a situação dos autos.

Assim, adotar entendimento diverso acarretaria retrocesso na vida da menor, que seria obrigada a cursar novamente o último ano da educação infantil, mesmo quando já se encontrava apta física e mentalmente para ingressar na classe de alfabetização, conforme comprova o documento de fls. 227.

A propósito, confira-se a jurisprudência desta Corte sobre o tema:

REEXAME NECESSÁRIO. CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. DIREITO AO ENSINO FUNDAMENTAL AOS MENORES DE SEIS ANOS INCOMPLETOS.

PRETENSÃO CONSAGRADA EM NORMA

CONSTITUCIONAL REPRODUZIDA NO ART. 54 DO ECA. HIPÓTESE EM QUE O IMPETRANTE ALCANÇARIA A IDADE MÍNIMA EXIGIDA PELA NORMA DE REGÊNCIA UM MÊS APÓS A DATA LIMITE DE 31 DE MARÇO DE CADA ANO (LEI

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ESTADUAL Nº 5488/2009 E RESOLUÇÃO Nº 06/2010 DO CNE). ADEMAIS, NÃO É RAZOÁVEL IMPOR O RETARDO AO PROGRESSO DO IMPETRANTE, ESPECIALMENTE SE DEMONSTROU APTIDÃO INTELECTUAL E MATURIDADE, CONSOANTE

AVALIAÇÃO DE SEUS ORIENTADORES

PEDAGÓGICOS. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE, BEM COMO DO INTERESSE SUPERIOR DA CRIANÇA. PRECEDENTES. CONFIRMAÇÃO DA SENTENÇA QUE CONCEDEU A SEGURANÇA, EM

REEXAME NECESSÁRIO.

(0027549-81.2013.8.19.0209 - REEXAME NECESSÁRIO - 1ª Ementa - DES. MYRIAM MEDEIROS - Julgamento: 17/11/2014 - QUARTA CÂMARA CÍVEL)

Ementa: Reexame Necessário. Mandado de segurança. Impetrante que não pôde se inscrever para seleção por sorteio para ingressar no primeiro ano do ensino fundamental do ano letivo de 2014, no COLÉGIO SANTO AGOSTINHO, porque há uma regra no edital de que o candidato deverá ter 06 (seis) anos completos até 31 de março do ano de ingresso. Previsão do edital que se trata de cumprimento da Resolução nº 01/2010 do Conselho Nacional de Educação. Resolução essa que afronta norma constitucional e o melhor interesse da criança. A impetrante apresentou documentos que atestam a sua aptidão para o ingresso no primeiro ano do ensino fundamental. Não se configura razoável que se permita a matrícula de um menor de seis anos de idade completados até 31 de março de determinado ano

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letivo que se inicia e se deixe de fazê-lo em relação a outro educando que completaria a referida idade um dia ou setenta dias depois, como é o caso em apreço, o que configuraria em afronta ao princípio da isonomia. Reexame necessário a que se nega seguimento. Art. 557, caput, do CPC. (0306634-77.2013.8.19.0001 - REEXAME NECESSÁRIO - 1ª Ementa - DES. CARLOS JOSE MARTINS GOMES - Julgamento: 03/08/2015 - DÉCIMA SEXTA CÂMARA CÍVEL)

MANDADO DE SEGURANÇA. MATRÍCULA DE

MENORES NO ANO DO ENSINO

FUNDAMENTAL. LIMITAÇÃO DA IDADE.

RESOLUÇÕES DO CNE Nºs 01 E 06 DE 2010. VIOLAÇÃO DAS GARANTIAS PREVISTAS NA CF/88. PRIMAZIA DO INTERESSE DOS MENORES. - Impetrantes que completaram seis anos de idade em 30/08/2014 e 27/08/2014, respectivamente, e que foram impedidos de se matricularem no 1º ano do ensino fundamental, com base no estabelecido nas Resoluções nº 01 de 14/01/2010 e nº 06 de 20/10/2010 do Conselho Nacional de Educação. - Normas não devem prevalecer no caso dos autos, haja vista as garantias previstas na Constituição Federal de 1988. Interesse dos menores que deve ser prestigiado no caso concreto. - Artigo 208 da Carta Magna que não prevê critério objetivo para acesso da criança ao 1º ano do ensino fundamental, não podendo mera resolução dispor de forma diversa, mormente em se tratando de menores que irão completar seis anos de idade quase cinco meses após a

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Entendimento diverso acarretaria retrocesso na vida dos menores, que seriam obrigados a cursar novamente o último ano da educação infantil, mesmo quando já se encontravam aptos física e mentalmente para ingressarem na classe de alfabetização. Vale destacar, inclusive, que, segundo informações, os menores já concluíram o 1º ano do ensino fundamental, obtendo aprovação. Atualmente, os mesmos cursam o 2º ano do ensino fundamental, pelo que compeli-los a cursar novamente a educação infantil importaria em prejuízo aos infantes, situação que não pode ser chancelada pelo Poder Judiciário, devendo ser prestigiado o interesse dos menores no caso em comento, bem como o princípio do não retrocesso. - Precedentes jurisprudenciais deste TJ/RJ. PROVIMENTO DO RECURSO. 0385501-84.2013.8.19.0001 – APELAÇÃO -

1ª Ementa - DES. CARLOS SANTOS DE OLIVEIRA - Julgamento: 12/05/2015 - VIGÉSIMA SEGUNDA CÂMARA CÍVEL)

Reafirma-se, por fim, que as normas da Lei 8069/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente), têm por objetivo assegurar-lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade.

Merece reparo a sentença, de ofício, tão somente para lhe corrigir erro material quanto ao ônus da sucumbência, pois imputou tal encargo à Autora, que saiu vencedora, e não a Ré.

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Ante o exposto, voto no sentido de negar provimento ao recurso e, de ofício, inverter o ônus da sucumbência, para que a Ré seja condenada nas verbas sucumbenciais tal como fixadas na sentença.

Rio de Janeiro, 14 de setembro de 2016

LUCIANO SABOIA RINALDI DE CARVALHO Desembargador Relator

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