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Manipulação genética: aspectos morais – parte III

Antonio Baptista Gonçalves*

O artigo 5º da Lei de Biossegurança deve ser analisado, agora, do prisma constitucional, ou seja, estaria o dispositivo em conformidade com os dispositivos previstos pela Carta Magna?

“Art. 5º - ...

IX. É livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;...”

O artigo 5º da Constituição Federal é claro ao disciplinar os direitos e garantir individuais de cada cidadão brasileiro, dentre eles, a liberdade do cientista, o que demonstra a atualidade e a preocupação da Carta Magna em garantir os avanços científicos que podem propiciar ganhos à própria população brasileira.

Por esse entendimento, o artigo 5º da Lei de biossegurança está protegido pelo artigo 5º, IX da Constituição Federal.

“Art. 218. O Estado promoverá e incentivará o desenvolvimento científico, a pesquisa e a capacitação tecnológicas.

§ 1º - A pesquisa científica básica receberá tratamento prioritário do Estado, tendo em vista o bem público e o progresso das ciências”.

O legislador nacional pode não ter procedimentalizado e, tampouco, pormenorizado os regramentos para as pesquisas cientificas, no entanto, a Constituição Federal garante que

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toda e qualquer iniciativa cientifica profícua deve receber atenção prioritária por parte do Estado.

A previsão legal denota a maior capacidade do Estado em investir em pesquisa na ciência, até mesmo, pela maior capacidade arrecadatória do mesmo. Ademais, como ente regulador da sociedade, não é de se estranhar que a figura abstrata denominada Estado seja a responsável pelo investimento no desenvolvimento do próprio País.

Especialmente no Brasil, apesar do investimento escasso, em total desconformidade com o que prevê a Constituição, o País tem colecionado importantes avanços científicos, apesar de ainda conviver com alguns retrocessos inimagináveis como a existência de dengue na segunda maior Capital, em pleno século XXI.

E, apesar de não haver uma regulação expressa sobre as células-tronco serem ou não prioridade, pelo entendimento constitucional, o caráter de pesquisa faz com que o assunto, além de prioritário, seja agraciado, inclusive, com investimentos do próprio Estado.

Como o artigo em tela é o único dispositivo que trata da questão do uso das células-tronco iremos analisá-lo e apontar as falhas de procedimento.

“Art. 5o É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento, atendidas as seguintes condições:

I – sejam embriões inviáveis; ou

II – sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação desta Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta Lei, depois de completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de congelamento.

§ 1o Em qualquer caso, é necessário o consentimento dos genitores.

§ 2o Instituições de pesquisa e serviços de saúde que realizem pesquisa ou terapia com células-tronco embrionárias humanas deverão submeter seus projetos à apreciação e aprovação dos respectivos comitês de ética em pesquisa.

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§ 3o É vedada a comercialização do material biológico a que se refere este artigo e sua prática implica o crime tipificado no art. 15 da Lei no 9.434, de 4 de fevereiro de 1997.”

O primeiro ponto de destaque é a permissibilidade do uso das células-tronco para pesquisa e terapia, ou seja, ainda nem é sabido se as pesquisas resultarão em experimentos confiáveis, mas, de antemão o legislador já propicia a aplicação e manipulação das mesmas, o que pode levar ao entendimento da utilização de seres humanos em projetos essencialmente experimentais, já que não existe qualquer indicio ou etapa regratória, como testes em animais, por exemplo.

O segundo ponto é a utilização de embriões congelados, por um período mínimo de três anos e, com o consentimento expresso dos pais, ou seja, as pessoas que investiram na fertilização e cederão os embriões para o bem da ciência, sem qualquer implicação de ônus, já que o dispositivo é silente a respeito, ou seja, os pesquisadores utilizam-se material financiado por particulares para iniciarem as pesquisas.

Sobre pontos obscuros ou omissos: como será feito o descarte dos embriões utilizados nas pesquisas?

Como será feito o descarte de embriões considerados inviáveis e que não foram autorizados pelos pais para serem encaminhados à pesquisa?

Como será feita a fiscalização das clinicas autorizadas para procederem às pesquisas? Como será feito esse credenciamento? Qual a validade?

E, ainda temos um tema a tratar: Toda a argumentação travada sobre a capacidade ou não do embrião ser considerado uma pessoa humana, ou um estado posterior ao ser humano se deve, uma vez mais, a falta do legislador em procedimentalizar a questão não das pesquisas com células-tronco, mas sim, da origem do embrião, ou seja, da fertilização in vitro.

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Afinal, não custa salientar, mais uma vez, que todos os embriões, inviáveis ou não, foram criados artificialmente pelo homem, através de manipulação genética.

A criação, em larga escala, de embriões como forma de garantir uma gestação ocasiona a proliferação de embriões criados em laboratório.

O médico deseja o sucesso do procedimento e, também, se resguarda de qualquer tipo de reclamação futura e, como não existe nenhuma previsão legal o cientista manipula os genes da forma como melhor lhe for conveniente.

Mesmo assim, ainda resultam embriões tidos como “inviáveis”, ou seja, que não podem ser manipulados, ou melhor, não ocasionarão o fruto desejado no ventre feminino, falta de forma premente uma tipificação acerca da criação desses embriões, seu aproveitamento, se descarte.

O homem não pode criar, por exemplo, dez embriões, utilizar quarto e os outros seis congelar para uma próxima oportunidade. A lacuna normativa no caso da fertilização é muito mais danosa e enseja mais e mais questionamento a própria lei de biossegurança que foi igualmente estéril na abordagem do tema.

O artigo 25 da Lei nº 11.105/05 prevê severas penas à engenharia genética, mas não é o mesmo procedimento basilar utilizado na fertilização? E qual a pena prevista para quem faz engenharia genética na fertilização in vitro?

É intrigante como ainda que momentaneamente o assunto das pesquisas em células-tronco embrionárias tenha assumido a agenda das discussões, como que num súbito momento não houvesse nenhuma outra alternativa a não ser a manipulação dos embriões tidos como inviáveis.

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existe algum outro tipo de pesquisa ou tratamento que propicie o mesmo resultado pretendido pelos cientistas?

O cerne do problema é que os mesmos pesquisadores ainda não sabem ao certo da eficácia de um tratamento com células-tronco, e assim é a verdade, pois, continuam as pesquisas.

Atualmente, o cientista não pode garantir o sucesso de uma inserção de células-tronco sejam embrionárias ou adultas, as reações do corpo humano ainda são imprevisíveis a essa miscigenação.

No entanto, aos portadores de doenças incuráveis, de pessoas que perderam a mobilidade vislumbram nos parcos resultados obtidos até o momento a certeza de um sucesso que nem a medicina possui, mas almeja.

Esse sentimento se chama esperança, ainda mais nutrida em pessoas que já ouviram expressões de médicos reiteradas vezes como: “seu quadro é irreversível”, “lamento, mas você não voltará a andar”.

Agora, se reacende a chama da esperança e o cientista em busca da aprovação de seu intento adverte: pode representar a concretização da esperança de muitos.

E quantos outros métodos foram testados? Qual a percentagem de resultados positivos? A resposta ainda é muito lacunosa.

Agradeço a paciência e os elogios de todos os leitores ao longo de todo esse tempo em que estive como colunista nesse espaço e peço licença para me ausentar, ainda que por um breve período, para alçar um vôo numa outra direção, o que me impossibilitará do nosso convívio semanal, mas prometo voltar, ainda esse ano, a partilhar minhas idéias com todos novamente

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Fonte: Da Redação

* Mestre em Filosofia do Direito pela PUC/SP, Presidente da ONG Comunicando, Membro da Associação Brasileira dos Constitucionalistas e especialista em Direito Tributário pela Fundação Getúlio Vargas. Autor do livro Quando os avanços parecem retrocessos.

Disponível em:

http://www.casajuridica.com.br/?f=conteudo/ver_destaques&cod_destaque=512 Acesso em: 17 de setembro de 2008.

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