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FORMAÇÃO CONTINUADA DE DOCENTES DA EDUCAÇÃO BÁSICA NA UFPEL: INVENTÁRIO DE AÇÕES

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Academic year: 2021

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ISSN 2176-1396

FORMAÇÃO CONTINUADA DE DOCENTES DA EDUCAÇÃO BÁSICA

NA UFPEL: INVENTÁRIO DE AÇÕES

Lígia Cardoso Carlos 1 - UFPel Helenara Plaszewski Facin2 - UFPel Grupo de Trabalho - Formação de professores e profissionalização docente Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo

O texto tem o propósito de socializar aspectos de uma pesquisa em andamento que busca inventariar as ações de formação continuada de docentes da educação básica desenvolvidas no âmbito da Universidade Federal de Pelotas (UFPel). A ação de formação investigada inicialmente refere-se ao projeto de extensão “Qualificação das práticas pedagógicas nas redes públicas de educação básica da região sul do RS: reinventando o poder escolar” que já realizou doze eventos em que foram apresentadas e discutidas experiências pedagógicas de docentes da educação básica. Ao investigar este projeto de extensão buscamos reconhecer áreas privilegiadas e tendências teórico-metodológicas presentes nas experiências ao longo dos anos. A pesquisa tem como marco teórico estudos que vinculam a formação continuada a um projeto profissional coletivo que possibilite a construção de saberes no interior da profissão. Pauta-se por uma abordagem qualitativa e um delineamento metodológico inspirado na etnografia. A geração de dados conta com documentos do acervo do projeto de extensão. A análise dos dados é realizada com princípios da análise de conteúdo. Os resultados atuais indicam tendências como a diminuição de experiências pedagógicas focadas em áreas como gestão escolar, educação de jovens e adultos e interdisciplinaridade, bem como áreas em ascensão. Também permitem inferir sobre a noção de experiência veiculada, se está próxima de uma lógica instrumental ou se favorece a autonomia e a reflexão teórica. A investigação contribuirá no aprimoramento e em possíveis reorientações das ações de extensão com repercussões na formação continuada de professores realizada na universidade. Palavras-chave: Formação continuada de docentes. Extensão universitária. Educação básica.

Introdução

1 Doutora em Educação pela UNISINOS, professora adjunta da Faculdade de Educação da UFPel. E-mail: ligi@ufpel.edu.br

2 Doutora em Educação pela UFPel, professora adjunta da Faculdade de Educação da UFPel. E-mail: helenara.ufpel@gmail.com

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Referimo-nos aqui a uma pesquisa em andamento que busca inventariar as ações de formação continuada de docentes da educação básica desenvolvidas no âmbito da Universidade Federal de Pelotas (UFPel).

O processo de investigação é pautado no entendimento de que a ausência de visibilidade sobre as ações e o tipo de participação da universidade na formação continuada dos docentes da educação básica, incluindo as áreas do conhecimento envolvidas, quantos profissionais atendemos, com que frequência e qual a origem e natureza dos projetos executados, contribui para a dispersão e para a ausência de uma política de formação continuada da instituição que esteja em sintonia com as necessidades das escolas e dos professores da região. Os investimentos são aleatórios e parecem que ora atendem demandas da política educacional vigente, ora refletem a leitura que grupos da academia fazem do que devam ser as necessidades de algumas escolas.

A formação continuada de docentes na universidade concentra-se nos projetos de extensão e na pós-graduação lato sensu. Também, em programas de formação de docentes em serviço desenvolvidos em determinados períodos. Delimitamos como intervalo a ser investigado o ano de 1997, considerando a aprovação da atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, até o ano de 2014.

Iniciamos o processo de investigação pelo projeto de extensão voltado para a formação continuada de docentes em funcionamento mais antigo na universidade e que envolve o maior número de docentes da educação básica. Deste modo, nosso trabalho atual consta de inventariar as experiências pedagógicas apresentadas nas edições do evento “Encontros sobre o Poder Escolar”, realizadas no âmbito do projeto “Qualificação das práticas pedagógicas nas redes públicas de educação básica da região sul do RS: reinventando o poder escolar”. Os eventos ocorreram entre os anos 2001 e 2014 e tiveram, em média, a participação de 1500 docentes e de 100 a 180 experiências em cada edição. O projeto de extensão investigado é interinstitucional, coordenado pela Faculdade de Educação da UFPel em parceria com as instituições Universidade Católica de Pelotas, 5ªCoordenadoria Regional de Educação, 24º núcleo do CPERS-Sindicato, Conselho Municipal de Educação, Instituto Federal Sul-Riograndense e Secretaria Municipal de Educação/Pelotas.

Na dinâmica dos “Encontros sobre o Poder Escolar”, os docentes das escolas de educação básica inscrevem seus trabalhos fundamentados em práticas pedagógicas realizadas e refletidas. Não são aceitos trabalhos originados e desenvolvidos em pesquisas acadêmicas sobre a escola e a sala de aula, mas aqueles com a escola e a sala de aula. Esta orientação tem

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uma dimensão política, a de garantir espaços de socialização e de valorização das ações refletidas e dos saberes produzidos nos contextos escolares, frutos de uma práxis pedagógica. Professores universitários são convidados a dialogarem com essas experiências e não sobre elas, na perspectiva de se apreciarem e qualificarem mutuamente.

Ao organizarmos nossas intenções de pesquisa tomamos como referência o fato de que a maioria das propostas de formação docente no país tem sido definidas como alternativa para a construção de uma escola democrática, inclusiva e de qualidade que viabilize a mobilidade social. Entretanto o objetivo não tem sido alcançado de forma plena. Gatti (2008), afirma que o conceito é bastante impreciso nos estudos educacionais. São iniciativas que tiveram um aumento significativo no número de sua oferta desde o final dos anos 1990. Foram organizadas em formatos bastante heterogêneos e, na sua maioria, sem exigência de credenciamento por parte de órgãos competentes. Nesse período a necessidade de qualificar a formação de professores e elaborar reformas curriculares entra na pauta mundial, atendendo às alterações no mundo do trabalho e às constatações crescentes de baixo desempenho escolar. Nesse processo de expansão verificou-se uma dispersão de propostas. Muitas foram baseadas na necessidade de adaptação a novos contextos de trabalho, dirigidas individualmente aos professores e sem vinculação com a carreira docente.

Atualmente a formação inicial de professores, entendida como parte da trajetória formativa e produtora do credenciamento e do reconhecimento para o exercício da profissão, tem sido percebida como insuficiente diante das exigências da profissão. A percepção potencializou-se na medida em que o conhecimento e a informação tornaram-se os componentes fundamentais das atividades econômicas e que a flexibilização do mercado e a mobilidade do emprego passaram a gerar a impressão de constante insuficiência e a necessidade de formação permanente.

Esta condição torna extemporâneos os modos habituais de formação continuada de docentes, os quais geralmente baseiam-se em seminários, palestras e cursos. Eventos pontuais nos quais os professores, invariavelmente, ocupam uma posição de passividade e pouca oportunidade de reação diante do transmitido. Conforme Cunha (2014, p.794), mesmo que “possam ser [...] mobilizadoras de reflexões, se não forem inseridas numa perspectiva de trajetória de formação, a partir da ação, pouco contribuirão para o desenvolvimento profissional dos docentes.” Nessa perspectiva de compreensão da formação continuada, a autora afirma que a mesma deve estar abrigada nos ambientes de trabalho, valorizando as experiências docentes e potencializando as tomadas de decisão.

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Entendemos que o processo formativo não termina ao receber um diploma, mas, permanece no trabalho docente cotidiano e nas múltiplas relações que aí se estabelecem. Nesse dimensionamento, ela é compreendida como dinâmica e necessariamente articulada com os diferentes contextos de atuação dos docentes, ou seja, aqueles que envolvem as condições de trabalho, a avaliação profissional, o coletivo docente, a ética, etc. Pode ser pensada como espaço fértil de produção de uma nova cultura profissional que possa fazer frente à sobrecarga de trabalho imposta na atualidade.

Deste modo consideramos, ao propor e desenvolver este projeto, a precariedade de estudos que resgatem diferentes modos de formação continuada em ação. A busca por elementos que nos ajudem a conhecer e compreender essas iniciativas de formação permite identificar contribuições e impactos nas escolas, bem como contribui para organizar as iniciativas presentes na universidade. Nessa perspectiva, temos como sustentação teórica estudos que estabelecem críticas às propostas dirigidas individualmente aos professores (NÓVOA, 1991; GATTI, 2008; FREITAS, 2007 e 2012; CUNHA, 2014) e, portanto, desvinculadas de um projeto profissional coletivo que possibilite a construção de saberes no interior da profissão. Bem como estudos sobre a noção de experiência (TARDIF, 1991 e 2002; ADORNO, 1996).

Caminhos metodológicos

A pesquisa tem uma abordagem qualitativa, com um delineamento inspirado na etnografia, a qual inclui olhar o fenômeno estudado na sua inserção social, temporal, política e cultural. A geração de dados ocorre através de documentos do acervo do projeto de extensão. A análise dos dados será realizada com princípios da análise de conteúdo (FRANCO, 2003).

No processo de investigação estamos coletando dados que se constituem nos resumos das experiências pedagógicas apresentadas nas edições dos eventos. Estas são analisadas e classificadas por área/tema, incluindo a identificação de informações sobre referências teórico-metodológicas e vínculo institucional. Para este trabalho focaremos os anos 2004 a 2007, os quais estamos nos debruçando com mais atenção.

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Investimentos de análise

Tendo em consideração que, na ação investigada, os docentes das escolas de educação básica inscrevem seus trabalhos fundamentados em práticas pedagógicas realizadas e refletidas, os dados atuais indicam algumas tendências.

A diminuição do número de experiências pedagógicas focadas na gestão democrática da escola, na interdisciplinaridade e na educação de jovens e adultos; o aumento de experiências que investem na área formação de professores, na inclusão e diversidade, na alfabetização e áreas específicas como ciências naturais e arte. Também, a ausência de indicação de referências teórico-metodológicas na maioria das experiências apresentada. Mesmo assim, em torno de 40% delas aparece indicação de reflexão ancorada na literatura do campo educacional.

Interessa-nos também discutir as relações entre as experiências apresentadas e a inserção nas escolas de políticas nacionais de formação continuada. Desta forma, estamos cotejando os focos das experiências apresentadas com as políticas para o setor. Em 2004 é criada, no âmbito do ministério da Educação, a rede nacional de formação continuada de professores na qual os professores de educação básica da rede pública são público-alvo. As instituições de ensino superior públicas integram a rede e produzem materiais de orientação para cursos a distância e semipresenciais a fim de atender necessidades e demandas dos sistemas de ensino que aderirem a política do Ministério da Educação. As áreas de formação são: alfabetização e linguagem, educação matemática e científica, ensino de ciências humanas e sociais, artes e educação física.

O projeto de extensão para a formação continuada em análise surge de demandas locais e do compromisso político de profissionais das instituições envolvidas. Um projeto crítico em relação a articulação entre propostas de formação e interesses mercadológicos e que se constitui no contexto político de reforma curricular posterior a LDB 9394/96 (FREITAS, 2007) no qual é recomendável, do ponto de vista dos organismos internacionais, atender massiva mente e com custos reduzidos as demandas de formação. Além disso, é considerável entender a prática como mais importante que a formação intelectual e política.

Assim, o conceito de experiência está demarcando nossas análises. A experiência, segundo Tardif et al. (1991) e Tardif (2002), presume a ideia de transitoriedade dos saberes, visto que compreende as histórias de vida e de trajetória profissional dos docentes. Ao lançar mão de suas experiências docentes, os professores trazem a tona seus cotidianos de

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trabalho, ora dialogando com questões macro, ora permanecendo em situações mais imediatas de ensino nas quais a discussão teórica, muitas vezes, se fragiliza.

Ao valorizar os saberes e o protagonismo docente, essa concepção contraria o modo de atuação da pedagogia tecnicista. Mesmo assim, prepondera a lógica de encontrar estratégias para situações imediatas e nas quais os procedimentos têm elevado valor, porém, agora singulares e oriundos do contexto e fazer local.

Sabemos que os professores lidam com situações que necessitam de respostas imediatas, mas a noção de experiência que fica restrita a utilidade imediata, consequentemente enfatiza o como e não o porquê da ação. A teoria não é de todo abandonada, mas, é instrumentalizada e debilita a formação apesar de valorizar o sujeito e seus saberes. Ao buscar inventariar em quais áreas, temas e quais recursos teórico- metodológicos os professores enfatizaram em suas experiências apresentadas nos encontros sobre o poder escolar, estamos buscando compreender a noção de experiência e saber que transita na formação continuada investigada.

Não se trata de desconsiderar que os docentes, em seus cotidianos, produzem saberes, mas de pontuar que esse saber permanece restrito a uma utilidade imediata, mesmo com méritos. Ao indagar se a formação continuada de docentes deve priorizar essa noção de experiência, ajuda-nos a pensar a diferenciação que Adorno (1996) faz entre experiência e vivência. A primeira está vinculada a uma formação humana mais ampla. O cerne da experiência é fazer parte do mundo social de modo ativo, no exercício da liberdade e distanciando-se do imediatamente dado. A vivência, de outro modo, é a ênfase em eventos pontuais e intransferíveis.

Esses dados iniciais indicam o potencial da pesquisa para dar visibilidade a iniciativas e movimentos dos docentes da região que ficam eclipsados para as instituições envolvidas.

Considerações Finais

De modo amplo, interessa-nos, ao inventariar a formação continuada de docentes da educação básica promovidas pela UFPel, também identificar qual o potencial dessas formações. Investem na realização de experiências formativas carregadas de historicidade ou na organização de ações formativas de ímpeto utilitário e imediatista?

Investigar as experiências pedagógicas apresentadas por docentes nos eventos Encontros sobre o Poder Escolar é, do nosso ponto de vista, um empenho relevante para pensar a formação continuada na região. Ao discuti-las e contextualizá-las pretendemos ir de

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encontro a uma tradição cultural que responsabiliza individualmente os docentes por suas ações e dinâmicas no mundo do trabalho. Além disso, queremos que os achados da pesquisa contribuam para fortalecer projetos formativos que promovam a ideia de comunidades de aprendizagem nas quais o que um profissional vivencia pode cooperar com os demais.

No momento atual da pesquisa, os dados oriundos das experiências pedagógicas apresentadas nos eventos indicam alguns movimentos: áreas que foram perdendo força ao longo dos anos como educação de jovens e adultos, gestão escolar e interdisciplinaridade, bem como outras que tiveram investimentos pedagógicos ampliados, ou seja, formação de professores, inclusão e diversidade, alfabetização e as áreas específicas de ciências naturais e arte. Ao que estão vinculadas estas alterações são nosso desafio. O andamento da investigação tem nos levado à cotejar estes achados com a inserção nas escolas das políticas nacionais de formação continuada iniciadas no ano de 2004 no âmbito do Ministério da Educação. Além disso, indagamos se essas experiências apresentadas e os saberes docentes envolvidos vinculam-se a determinadas conjunturas e representam utilidades imediatas.

REFERÊNCIAS

ADORNO, T. W. Teoria da Semicultura. Educação e Sociedade, Campinas, n.56, p.388-411, dezembro, 1996.

CUNHA, M.I. Aprendizagem da docência em espaços institucionais: é possível fazer avançar o campo da formação de professores? Avaliação, Campinas; Sorocaba, SP. v. 19, n.3, novembro, 2014.

FRANCO, M. L. P. Análise do Conteúdo. Brasília, Plano Editora, 2003.

FREITAS, H. C. L. Formação inicial e continuada: a prioridade ainda postergada. In: OLIVEIRA, D. A. & VIEIRA, L. F. (org.) Trabalho na Educação Básica. Belo Horizonte, Fino Traço, 2012.

FREITAS, H. C. L. A (nova) política de formação de professores. A prioridade postergada. Educação e Sociedade, v.18, n.100, out. 2007.

GATTI, B. A. Análise das políticas públicas para formação continuada no Brasil, na última década. Revista Brasileira de Educação v. 13 n. 37 jan./abr. 2008.

NÓVOA, A. Concepções e práticas da formação contínua de professores: In: NÓVOA, A. (org.). Formação contínua de professores: realidade e perspectivas. Portugal:

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TARDIFF, M.; LESSARD, C.; LAHAYE, L. Os professores face ao saber. Esboço de uma problemática do saber docente. Teoria e Educação, n.4, Porto Alegre: Pannônica, 1991. TARDIF, M. Saberes Docentes e Formação Profissional, São Paulo, Cortez, 2002.

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