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Cad. Saúde Pública vol.1 número2

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Academic year: 2018

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A epidemiologia como instrumento de

transformação

A expressão "O Homem e o Meio" tem sido amplamente utilizada no sentido ecológico mais restrito, no qual o eco-lógico está limitado ao componente físico-bioeco-lógico do am-biente no qual vive o Homem. Quando muito, os outros componentes do meio, os relacionados com o social, o eco-nômico e o cultural, são tratados, concessivamente, como mais alguns elementos analisáveis, separadamente, ao lado dos demais componentes acima referidos.

Essa noção ecológica limitada, e conseqüentemente nada holística, vem servindo a interesses políticos, econômicos e expansionistas, através de teorias elaboradas nos países de-senvolvidos. Assim, a noção de "espaço", construída pela geografia clássica, dominou até o início da década de 50, quando, pela primeira vez, P. George deu início ao proces-so de sua renovação, emprestando-lhe um novo conceito dinâmico e dialético de "situação" no qual foi introduzida a noção de contradição como propulsora da dinâmica so-cial.

A partir daí, um novo conceito de "espaço" vem sendo desenvolvido, vindo a se constituir no fundamento da Nova Geografia. De uma geografia ligada à história dos homens e suas relações com o meio natural.

Isso significa uma história de luta do Homem em busca de sua identidade em relação ao meio hostil que ele procura modificar em seu justo proveito, respondendo, assim, à sua aspiração de libertação para a vida plena que "... é a pro-messa do Deus bíblico".

Esses conceitos da geografia se aplicam à evolução que vem sofrendo a epidemiologia em seus esforços de procurar esclarecer a causação das doenças e as relações entre o am-biente natural e aquele modificado pelo próprio homem. Estas "situações" podem ser traduzidas em termos de rela-ções saúde/doença, quando aos dois termos deste binômio se lhes emprestam os significados histórico e epistemoló-gico.

Como na geografia clássica, o conceito de saúde/doença foi sempre assentado sobre o suposto equilíbrio entre o homem e o seu meio natural. Neste sentido, a "História Na-tural da Doença", elaborada, impressa e difundida no mun-do inteiro, vem servinmun-do como texto didático em todas as escolas de saúde, em todos os níveis.

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homens que habitam regiões subdesenvolvidas daqueles que usufruem conforto e bem-estar nas regiões desenvolvidas.

A visão acima — conformista e não-dialética — baseada no espiritualismo do século passado, deve ceder à concep-ção de uma nova epidemiologia que se posiciona contra as fatalidades ditas "naturais" ou "tropicais" e que pretende contribuir para o aperfeiçoamento do Homem. O que mo-dela a saúde dos povos não são os elementos naturais, mas as desigualdades econômicas.

A epidemiologia moderna segue os mesmos caminhos da nova geografia. Dominada pela infectuologia, a epidemiolo-gia utilizou durante muitos anos um modelo linear unicau-sal. Esse modelo foi evoluindo até alcançar sua forma atual, multicausal, na qual os determinantes da doença são hierar-quizados.

Em conseqüência do modelo acima, foi possível distin-guir dois campos interligados de estudo, um chamado de macroepidemiologia e outro de microepidemiologia. O pri-meiro é capaz de explicar o processo saúde/doença através de elementos mais abrangentes das análises histórica, econô-mica e social, hoje incluído na rubrica interdisciplinar de geografia social. O segundo, utilizando os métodos epide-miológicos clássicos, estuda o mesmo fenômeno saúde/ doença em grau de detalhamento que escapa aos métodos da macroepidemiologia. Apesar dessa aparente separação entre dois campos de estudo, a epidemiologia mantém sua identidade.

Como na geografia atual, os determinantes maiores da doença podem ser analisados dentro da paisagem organiza-da pelo homem em sua concretude histórica.

Como disciplina de estudo, a Epidemiologia constitui o mais abrangente campo do conhecimento humano na área de saúde. Sua abrangência lhe é conferida pela sua macro-visa~o dos fenômenos vitais em termos coletivos.

Utilizando metodologias as mais avançadas de disciplinas correlatas, a Epidemiologia ganhou outra dimensão, o que lhe permite questionar os determinantes maiores das doen-ças, discutir problemas relacionados com o planejamento e a adequação dos serviços de saúde, informar aos médicos clínicos que tal ou qual processo terapêutico ganhou ou na'o

status de eficiência comprovada.

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só-bre a saúde ou o uso de anticoncepcionais, são debatidos através dos meios usuais de informação.

O conceito atual de interdisciplinaridade remete o pen-samento crítico e criador para alturas jamais imaginadas pe-los pesquisadores do passado. Nenhuma disciplina pode existir plenamente sem que, sadia e sabiamente, invada territórios antes julgados intransponíveis. Com esta atitude do pensar, o conhecimento ganha em profundidade e ex-tensão.

Mas a epidemiologia vai além de um simples instrumento de análise. Ela penetra profundamente no âmago dos pro-blemas mais relevantes da vida humana. Nesse sentido, ela se situa, como as ciências sociais, como instrumento valioso de transformação social.

O que situa a Epidemiologia como instrumento transfor-mador é exatamente sua macrovisão dos problemas de saú-de, o que só foi possível com sua intromissão em terrenos até há pouco considerados independentes e isolados.

O papel transformador da Epidemiologia se coloca dian-te de sua capacidade de conhecer a realidade, de questionar as organizações sociais e econômicas de um país ou região e seu relacionamento com as condições de saúde da popula-ção. E, particularmente, de ser capaz de propor medidas transformadoras que venham melhorar o estado de saúde e bem-estar de determinada sociedade.

Antes de ser um instrumento para medir sádicamente o sofrimento humano, a epidemiologia projeta-se para o futu-ro como a ecologia da saúde, compfutu-rometida com o bem-estar social.

Referências

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