A formação da rede urbana brasileira
no período colonial
Unipe – Arquitetura e Urbanismo
TEORIA IV – Aula RESUMO - Unidade I
Ana Laura Rosas Brito
Roteiro
1. O período Colonial Brasileiro: demarcações temporais e outros aspectos.
2. O processo de urbanização e as mudanças sociais.
3. O Urbanismo na Colônia.
4. O surgimento de uma rede urbana.
5. Algumas cidades coloniais
1a. Demarcações temporais e outros aspectos.
Séculos XVI, XVII e XVIII.
Século XIX: vinda da família Real brasileira com D. João VI.
Início - A organização de feitorias e pequenos núcleos urbanos supria as necessidades para a exploração das riquezas mais evidentes.
Ano de 1530: Primeira expedição de caráter colonizador por
Martins Afonso de Sousa – Povoar o território brasileiro, expulsar os invasores e iniciar o cultivo da cana de açúcar.
Inicio da colonização brasileira configura-se por baixo
investimento com escassos recursos humanos e financeiros.
Primeira Fase: Nordeste (XVI e XVII) - Litoral
Cultivo da cana de açúcar
Capitanias Hereditárias (1532)
Donatários - povoar, proteger e estabelecer o cultivo da cana-de- açúcar.
O encargo de destaque era a instalação da rede Urbana.
Falência do sistema de capitanias (completa até XVIII) - grande distância da Metrópole, da falta de recursos e dos ataques de indígenas e piratas.
São Vicente (SP) (1532) e Pernambuco (1534) - resultados
satisfatórios, graças aos investimentos do rei e de seus empresários.
Estabelecimento de um Governo Geral (1549)– Tomé de Sousa
Fundação da Primeira Capital – Salvador
1b. Demarcações temporais e outros aspectos.
Segunda Fase: Sudeste (XVIII) – Interiorização
Melhorias e aumento de vilas e cidades do sudeste.
São Paulo e Rio de Janeiro
Transferência da capital para o Rio de Janeiro em 1763.
Expansão Territorial – Bandeirantes
Índios para aprisionar, jazidas de ouro e diamantes.
Descoberta de Minas e Fundação de vilas e cidades nas regiões de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso.
Mudanças na forma de implantação e organização das cidades, marcada pelo período Pombalino.
1c. Demarcações temporais e outros aspectos.
2a. O processo de urbanização e as mudanças sociais.
Delimitação.
Urbanização: Processo Social.
Urbanismo: Projetos de organização do espaço edificado.
“...a rede urbana significa estrutura dinâmica”.
“...essa estrutura está sujeita a um processo de origem social - processo de urbanização – que determina o aparecimento das formações, cuja explicação exige o conhecimento do sistema social da Colônia”
Reis Filho (2000)
Sociedade açucareira - Engenhos de açúcar (Séc. XVI e XVII)
Proprietários Rurais e escravos, duas classes que dominam a dinâmica social até o século XVIII. (Reis Filho, 31 e 34)
Senhor de engenho (proprietário da principal unidade de produção econômica ) poderes políticos e econômicos.
camada média formada por trabalhadores livres e funcionários públicos.
base da sociedade estavam os escravos de origem africana.
2b. O processo de urbanização e as mudanças sociais.
Os Engenhos de Açúcar auto-suficientes impediram o desenvolvimento e um mercado urbano, ocasionando com isso o atraso para a formação de núcleos urbanos e ao desenvolvimento da rede Urbana, até esse momento muito
voltada às necessidades da economia rural.
O Governo no período colonial:
Governador Geral; Ouvidor Geral(Justiça); Capitão-mor da Costa (Militar);
Provedor-mor da Fazenda.
Subrodinados a esses: Tribunais, Repartições arrecadadoras, organizações defensivas, constituindo núcleo administrativo e militar.
Restrições ao comercio e Exportação (principal. açúcar) e Importação, atividades mais importantes eram destinadas aos portugueses de
nascimento.
Economia Urbana de Subsistência.
Interior do Nordeste – Gado. Mandioca e Trigo como produções de base.
Organização Municipal é o ponto de apoio do processo de colonização.
2c. O processo de urbanização e as mudanças sociais.
A partir de 1650 –
Surgimento de uma camada social tipicamente urbana em territórios interiores
Definindo-se com maior clareza nas primeiras décadas do século XVIII - Mineração. E surgimento de uma política urbanizadora mais centralizada.
A Sociedade e Economia na Mineração no século XVIII.
Grandes proprietários rurais – donos do poder
Comerciantes; proprietários de minas, burocratas, mineradores, ofícios mecânicos e funcionalismo público
Em 1720, no Litoral como na Região das Minas, as camadas sociais urbanas já estavam totalmente estabelecidas e a importância da vida urbana para o sistema colonial.
Ocasionando desenvolvimentos Urbanos Regionais em fases distintas:
Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste.
3a. O Urbanismo na Colônia
Urbanismo do período colonial
Maneira geral em todo o território: cidades situadas em sítios urbanos elevados e traçado das ruas irregular e orgânico.
Racional porém ditada pela funcionalidade e não pelos critérios formais.
Existência também de planos urbanísticos de traçado regular.
(Reis Filho – 1968)
A existência de padrões geométricos regulares aparece, por exemplo:
traçado de quilombos.ex: Rio Vermelho, atual bairro de Salvador;
São Luiz do Maranhão, em 1640.
Niterói, João Pessoa, Taubaté, Itu e cidades da Amazônia como a Capitania de São José do Rio Negro.
Existência de centros planejados já nos dois primeiros séculos.
3b. O Urbanismo na Colônia
Os fatos urbanos em seus aspectos espaciais:
O nível mais amplo, a rede, como o conjunto ordenado dos elementos espaciais
O nível mais restrito, o núcleo, como parcela ordenada e a unidade do conjunto. (agrupamentos urbanos, vilas, cidades, etc, com seus
arruamentos, arquitetura, relações hierarquias de locais, etc.)
Diferentes fases e medidas para os estabelecimentos urbanos.
Vilas
Cidades Reais
Primeira Fase (dois primeiros séculos)
Ocupação focalizada no Litoral
Ruas funcionais relacionando a pontos de interesse: a praça, a
igreja, as lojas, os largos;
3c. O Urbanismo na Colônia
Eram vias tortuosas e quase nunca providas de calçamento;
Os lotes urbanos eram dispostos de maneira a possibilitar que todos os edifícios possuíssem uma fachada frontal;
Resultou em terrenos com pouca frente e muito fundo, isto é, longos e estreitos;
As casas alinhavam-se em fileiras com pouca variação tipológica;
Na morfologia Urbana
Observa-se a rua direta, ou seja, a rua que "vai diretamente" de um ponto de interesse ao outro. Desprezando-se, o sentido
geométrico em favor do funcional.
As primeiras praças apresentam um caráter religioso evidente; os adros das igrejas, os largos dos conventos e das capelas são
espaços de prestígio social e de configuração física mais
monumental, mais expressiva.
3d. O Urbanismo na Colônia
Segunda Fase – Terceiro Século
Com a Interiorização. Muda-se a paisagem.
Muitas cidades da zona do ouro, incrustaram-se na montanha e dela tiraram sua fisionomia. Reinterpretando os princípios Barrocos.
As praças e os adros são em declive;
A rampa e a curva dominam a organização urbanística;
As ruas, surgem em ladeiras. Os caminhos são voltas no morro.
No período de poder do Ministro Marquês de Pombal, dá-se início a uma serie de medidas de caráter urbano de melhorias,
normalizações e embelezamento das cidades.
4a. A Rede Urbana.
“O processo de urbanização, em escala nacional, corresponde não ao centro urbano, mas a um nível organizatório mais complexo, que é a rede urbana.”
(Reis Filho – 1968)
Durante o período de dominação espanhola (1580/1640) foi
completada a ocupação da costa leste e ocupada a ocupação da costa Norte.
A população nas Vilas variava largamente.
Entre 1650 e 1720,
foram fundadas trinta e cinco vilas. A média de criação de vilas eleva-se de duas para cinco por decênio, já com uma intensa participaçãodo Governo Geral, nas capitanias da Coroa.
O avanço ao Norte, durante o governo dos Felipes, no princípio do
século XVII, ou o avanço dos portugueses ao Sul em direção ao Prata,
após a Restauração , somente ficam esclarecidos pelo conhecimento
da ampliação da própria rede. Assim:
4b. A Rede Urbana.
Início em 1532 – Capitanias e São Vicente.
No Intervalo de 120 anos – São fundadas 31 vilas e 6 cidades até 1650.
Duas etapas de mais intensa urbanização podem ser verificadas:
A primeira entre 1530 e 1570, correspondendo a instalação das capitanias da costa leste.
O segundo período de urbanização pode ser considerado aos anos compreendidos de 1580 a 1640, anos de dominação espanhola.
Observa-se mudanças nas Implantações de vilas e cidades.
Processo de Descentralização e Centralização.
A partir de 1649 - Companhia Geral do Comercio do Brasil.
Os centros mais modestos tornam-se cada vez mais estreitamente dependentes dos maiores.
Ao fechar o século XVIII, o Brasil possuía uma rede urbana constituída de
4c. A Rede Urbana.
No final do Século XVII já começavam a surgir dificuldades para o crescimento dos núcleos maiores.
De início as câmaras exerciam um frágil controle no crescimento.
A segunda metade do século XVII e ate 1720, nos centros maiores observa-se procedimentos de controle do crescimento urbano.
Situação do Núcleo no sistema
Durante os dois primeiros séculos situavam-se quase todos no litoral ou junto a cursos d’água, que facilitasse o acesso ao exterior.
Os centros principais foram criados como fortalezas controlando o acesso às maiores baías;
Os demais núcleos foram fundados junto a baias menores (São
Vincente, Santos e Vitória) e na foz de rios importantes. Como Olinda, Recife, João Pessoa, Porto Seguro, Ilhéus;
As grandes propriedades rurais eram instaladas nas proximidades, valendo-se de embarcações menores para contatos com os portos.
4d. A Rede Urbana.
Escolha dos sítios
Praticamente quase todas a vilas e cidades fundadas antes de 1580 foram assentadas sobre colinas por questões de defesa.
Durante o domínio espanhol (1580-1640) tornaram-se comuns as vilas e cidades com sítios escolhidos em terrenos planos ou quase planos. Ex:
Cabo Frio, João Pessoa, Ubatuba, São Sebastião, Parati, Parnaíba, Mogi das Cruzes.
Nos últimos anos do século XVII e no início do séc. XVIII a preferência já recaía sobre sítios planos. Não sendo o caso das vilas de Minas, cuja instalação se fez em sítios acidentados, em função das próprias
atividades da região.
Ao longo do tempo mesmo os núcleos instalados em colinas foram ganhando espaço em terrenos planos apresentando maior
regularidade.Esses padrões foram adotados em vilas novas fundadas ao longo do século XVII.
Intensifica-se a partir de 1720 quando se formaliza uma política
urbanizadora.
Expansão da Rede Urbana
No século XVIII há uma intensificação do processo de urbanização, como forma de intensificar a ocupação territorial, e estabelecer um controle sobre a vida colonial.
Para muitos dos novos núcleos decorrentes de uma política de
europeização da colônia são utilizados os princípios de regularidade dos traçados derivados do renascimento, associados ao desejo de
monumental idade do urbanismo Barroco.
Assim as novas vilas teriam:
Traçado regular em tabuleiro de xadrez, com a definição de quarteirões.
Padronização das fachadas das edificações.
Definição das áreas públicas, as praças, que ocupavam o centro dos núcleos.
Implantadas no geral em topografias planas.
Existência de técnicos habilitados para realização dos traçados.
Em algumas situações a existência de equipamentos de defesa – fortaleza.
4e. A Rede Urbana.
5a. Algumas cidades coloniais brasileiras.
Pertencentes a primeira fase (Séc. XVI) aproximadamente 18 vilas e cidades.
São Vicente (SP), em 1532
Porto Seguro (BA), fundada em 1535
Igarassú (PE); e Espírito Santo (ES), ambas em 1535.
São Jorge dos Ilhéus, hoje Ilhéus (BA), em 1536
Santa Cruz, hoje Santa Cruz Cabrália (BA), também em 1536
Salvador da Bahia de Todos os Santos (BA), fundada em 1549 - cidade planejada
São Paulo de Piratininga (SP), em 1554
São Sebastião do Rio de Janeiro (RJ), em 1565 (1567, ganha o controle das Capitanias do Litoral Sul)- cidade planejada
Felipéia de Nossa Senhora das Neves (PB) em 1558 – cidade planejada.
5b. Algumas cidades coloniais brasileiras.
Pertencentes a segunda fase (Séc. XVII), a colônia passa a ter 38 novas vilas e cidades.
São Luiz do Maranhão (São Luiz), em 1612 – cidade planejada
N. S. da Assunção do Cabo Frio (RJ), em 1615 - cidade planejada
Nossa Senhora de Belém (Belém), em 1616 - cidade planejada
Santo Antônio de Alcântara (Alcântara - MA), em 1637.
Parati (RJ) em 1660
Guarapari (ES), em 1689
N. S. da Luz dos Pinhais de Curitiba (PR), em 1693 – cidade planejada
No final do século XVII, A rede urbana brasileira tinha quase 60 núcleos.
5c. Algumas cidades coloniais brasileiras.
Pertencentes a terceira fase (Séc. XVIII), surgem inúmeras cidades e Vilas. Muitas delas criadas em função das atividades auríferas e da mineração, tais como.
Santo Antônio do Recife (atual Recife -PE), em 1709
São Paulo (elevação a cidade) em 1711
Laguna (SC) em 1714
Vila do Môcha (atual Oeiras - PI) em 1717
Em Minas Gerais
Fundadas em 1711:
Vila Rica capital da capitania (atual Ouro Preto)
Vila de Albuquerque (Mariana)
Vila Real de Sabará (Sabará)
Fundadas em 1714:
São João Del Rei
Vila do Príncipe (Serro)
Diamantina
São José Del Rei (Tiradentes) em 1718.
5d. Algumas cidades coloniais brasileiras.
Imagens:
Mapa do Rio de Janeiro de 1750. Identificação do traçado xadrez das ruas.
5e. Algumas cidades coloniais brasileiras.
Salvador, 1625.
5f. Algumas cidades coloniais brasileiras.
Salvador 1549 e 1605. Traçado regular e ampliação do traçado Urbano.
5g. Algumas cidades coloniais brasileiras.
Parati, XVII. Traçado regular.
São Luis, XVII (1612). Traçado regular.
5h. Algumas cidades coloniais brasileiras.
Frederica da Paraíba, Traçado Regular. Mapa de1640.
5i. Algumas cidades coloniais brasileiras.
Belém do Pará, 1753. Ruas retas e alinhadas.
5j. Algumas cidades coloniais brasileiras.
Vila de Macapá. 1763. Regularidade das ruas nas vilas do Amazonas.
5l. Algumas cidades coloniais brasileiras.
Olinda. Traçado Irregular (1647).
5m. Algumas cidades coloniais brasileiras.
Vila de Santos, 1714. No início, formação Irregular.
5n. Algumas cidades coloniais brasileiras.
Planta de 1764 do quilombo "Buraco do Tatu“.
Quilombo localizado nas cercanias de Salvador.
Traçado regular realizado por escravos, reflexo da prática portuguesa em uma
Resumo baseado nas Referências:
FRIDMAN, Fania. Breve História do debate sobre a cidade colonial brasileira. IN: A Cidade como História: os arquitetos e a historiografia da arquitetura e do Urbanismo. Salvador:
EDUFBA, 2004. 233 p.
PINHEIRO, Eloísa Petti; Gomes, Marco Aurélio (Orgs.). A Cidade como História: os arquitetos e a historiografia da arquitetura e do Urbanismo. Salvador: EDUFBA, 2004. 233 p.
REIS FILHO, Nestor Goulart. Contribuição ao Estudo da Evolução Urbana no Brasil (1500/1720).
2 ed. Ver. e Amp. São Paulo: Pini, 2000.
_________, Nestor Goulart. Quadro da arquitetura no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1978.