• Nenhum resultado encontrado

As bibliotecas digitais musicais no novo ecossistema da informação e comunicação

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2017

Share "As bibliotecas digitais musicais no novo ecossistema da informação e comunicação"

Copied!
100
0
0

Texto

(1)

AS BIBLIOTECAS DIGITAIS MUSICAIS NO NOVO ECOSSISTEMA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

Dissertação apresentada ao Programa de Mes-trado em Gestão do Conhecimento e Tecnolo-gia da Informação como requisito parcial para a obtenção do Título de Mestre em Gestão do Conhecimento e Tecnologia da Informação.

Orientador: Dr. Edilson Ferneda

Coorientadora: Dra. Luiza Beth Nunes Alonso

(2)

À minha esposa Roberta pelo amor e apoio incondicional.

Aos meus filhos Pedro e Isabela e, em especial, Hélio pela ajuda e orientação na geração da prova de conceito.

Aos meus amigos Liana Gumes e Sandro Servino pelo incentivo a fazer este curso.

(3)
(4)

A evolução da Web vem gerando um novo ecossistema da informação, com a con-sequente inadequação dos atuais serviços de catalogação e busca de informação, disponibilizados pelas Bibliotecas Digitais Musicais (BDM). Estudos recentes sobre as necessidades de informação musical identificaram que, para realizar as tarefas de encontrar, identificar, selecionar e obter objetos musicais, os usuários recorrem a: associações com outras pessoas, com situações vividas e com informações extra-musicais. Portanto, a música, como um objeto informacional musical, deve relacio-nar-se com esses elementos, considerando as informações necessárias para a sua catalogação bibliográfica e as informações relativas ao contexto no qual está inseri-da. Os modelos utilizados pelas BDM para catalogação musical (i) não suportam a expansão do objeto informacional musical e (ii) isolam, distinguem e separam os ob-jetos informacionais musicais do seu contexto natural e do conjunto do qual fazem parte. Nesse trabalho, é proposta uma alternativa de modelagem para as BDM ba-seada em grafos, considerando, sob a perspectiva do pensamento complexo, os es-tudos recentes sobre necessidades de informação musical e características das pla-taformas de mídias sociais com as quais essas bibliotecas devem interagir.

(5)

The Web evolution has created a new information ecosystem that results in a contin-uum inadequacy of current cataloging and searching for information services, provid-ed by Music Digital Library (MDL). Recent studies on music information neprovid-eds identi-fied that, to accomplish the tasks of finding, identifying, selecting, and obtaining mu-sical objects, users resort to: associations with other people, lived situations (previ-ous experiences) and extra musical information. Thus, music as an informational ob-ject, must relate to these elements, considering the need of information for their cata-loging and bibliographic information on the context in which it operates. The models used by MDL for cataloging music (i) do not support the expansion of musical and informational object (ii) isolate, distinguish and separate the information objects of his musical and natural context of the context which they belong. In this paper, we pro-pose an alternative model for MDL based on graphs, in a complexity thought per-spective, considering recent studies on music information needs, characteristics of social media platforms with which these libraries must interact.

(6)

Figura 1: Alteração percentual do uso de serviços na Web nos EUA, Reino Unido e

Canadá ... 15

Figura 2: Gráfico comparativo dos resultados de busca encontrados nas distintas bases de dados ... 20

Figura 3: Desenvolvimento global das TIC no período 1998-2009 por cada 100 habitantes ... 31

Figura 4: Taxa de penetração da telefonia móvel entre a população jovem ... 32

Figura 5: Atividades desenvolvidas por adolescentes norte-americanos na Internet com o uso do smartphones ... 33

Figura 6: Usuários de Internet, por faixa etária, presentes em sites de redes sociais ... 36

Figura 7: Porcentagem de usuários da Internet que compartilham conteúdo ... 36

Figura 8: Nuvem Linked Data compota por 203 datasets, com detalhe da nuvem Linked Data ... 43

Figura 9: Evolução dos modelos de banco de dados ... 48

Figura 10: Entidades Música e Compositor e o relacionamento “criada por” ... 49

Figura 11: “Object-relational impedance mismatch” ... 50

Figura 12: Como os dados estão distribuídos num banco de dados relacional ... 51

Figura 13: Exemplo de modelagem de rede social ... 55

Figura14: Descrição, segundo Porfírio, de como as qualidades atribuídas às coisas podem ser classificadas ... 57

Figura 15: Exemplo de evolução da complexidade tratada pela Ciência ... 58

Figura 16: Modelo, grupos e entidades-relacionamentos do FRBR ... 63

Figura 17: Representação de um objeto musical na estrutura FRBR... 64

Figura 18: Exemplo de representação em grafos para um modelo FRBR ... 80

Figura 19: Estrutura de dados representada em camadas ... 81

Figura 20: Etapas para desenvolvimento do protótipo ... 83

(7)

Quadro 1: Comparação entre os modos de produção ... 29

Quadro 2: Tarefas do usuário FRBR ... 63

Quadro 3. Comportamentos possíveis para busca de informação musical ... 67

Quadro 4: Esquema XML para entidades FRBR ... 85

Quadro 5: Esquema XML para relacionamentos FRBR ... 86

(8)

Tabela 1: Número de publicações, utilizando os termos de buscas relacionados, encontradas no Google Scholar, quando a busca foi realizada no título da

publicação ... 19 Tabela 2: Número de publicações, utilizando os termos de buscas relacionados,

encontradas em bases terciárias, quando a busca foi realizada no campo

abstract ... 19

Tabela 3: Número de publicações, utilizando os termos de buscas relacionados, encontradas no Google Scholar, quando a busca foi realizada no título da

publicação ... 20 Tabela 4: Adolescentes dos EUA com menor renda familiar tendem a utilizar mais o

celular para acessar a Internet do que os computadores instalados em

(9)

API - Application Programming Interface

(Interface de Programação de Aplicações) ARL - Association of Research Libraries

BD - Bibliotecas Digitais

BDM - Bibliotecas Digitais de Música BPM - Bits per minute

CCE - Ciência da Computação Experimental

FRBR - Functional Requirements for Bibliographic Records (Requisitos Funcionais para Registros Bibliográficos) HTTP - Hypertext Transfer Protocol

IFLA - International Federation of Library Association and Institutions

(Federação Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias) LD - Linked Data

MARC - Machine Readable Cataloging MER - Modelo Entidade-Relacionamento

MIT - Massachusetts Institute of Technology

MP3 - MPEG Layer 3 - Moving Picture Experts Group NoSQL - Not Only SQL

OCLC - Online Computer Library Center OIM - Objeto Informacional Musical RDF - Resource Description Framework

TIC - Tecnologias de Informação e Comunicação URI - Uniform Resource Identifiers

W3C - World Wide Web Consortium Web - World Wide Web

(10)

1 INTRODUÇÃO ... 11

1.1 APRESENTAÇÃO DO ASSUNTO ESTUDADO ... 11

1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA ... 14

1.2.1 As bibliotecas digitais no atual ecossistema da informação e comunicação ... 14

1.2.2 Modelos de catalogação e as atuais necessidades de informação musicais ... 16

1.3 OBJETIVOS ... 16

1.4 RELEVÂNCIA DO ESTUDO ... 17

1.5 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO ... 21

2 REFERENCIAL TEÓRICO ... 22

2.1 PENSAMENTO COMPLEXO E INTERDISCIPLINARIDADE ... 22

2.2 O ATUAL ECOSSISTEMA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO ... 25

2.2.1 A cultura da participação ... 25

2.2.2 Uso de novas tecnologias ... 30

2.2.3 Provedores de informações na área musical ... 41

2.2.4 Discussão ... 46

2.3 MODELO DE DADOS... 47

2.3.1 Modelo entidade-relacionamento ... 49

2.3.2 Modelos NoSQL... 51

2.3.3 Modelo de grafos ... 54

2.3.4 Discussão ... 55

2.4 REPRESENTAÇÃO VISUAL DOS DADOS ... 56

2.5 BIBLIOTECAS DIGITAIS MUSICAIS ... 59

2.5.1 Modelo de dados para bibliotecas digitais musicais ... 62

2.5.2 Representação do objeto informacional musical e as necessidades de informações musicais ... 65

2.5.3 Discussão ... 69

2.6 CONSIDERAÇÕES SOBRE O REFERENCIAL TEÓRICO ... 72

3 METODOLOGIA ... 78

3.1 ABORDAGEM ADOTADA ... 78

3.2 PROPOSTA INICIAL ... 79

3.3 DELIMITAÇÃO DO ESTUDO ... 83

4 RESULTADOS ALCANÇADOS ... 84

4.1 ETAPAS DE DESENVOLVIMENTO ... 84

4.2 REPRODUTIBILIDADE E REPETIBILIDADE ... 90

5 CONCLUSÃO E TRABALHOS FUTUROS ... 94

(11)

1 INTRODUÇÃO

1.1 APRESENTAÇÃO DO ASSUNTO ESTUDADO

Já é conhecido o quanto a música interfere na existência humana: da sua im-portância para o estabelecimento do equilíbrio psicossocial; no contexto educacional como facilitador do processo de aprendizagem; como experiência estética por meio do contato ativo (compondo, cantando ou ouvindo) ou do contato passivo (como em um ambiente onde a música lhe é imposta). A música está tão arraigada que nos apropriamos dela para dar significados singulares às nossas emoções, sentimentos e lembranças (LEVITIN, 2006). Tornou-se comum fazer referência à música como um “agente transformador” do ser humano.

Com o desenvolvimento da Tecnologia de Informação e Comunicação – TIC, os diversos tipos de expressões artísticas ganharam o ciberespaço. E dentre estas expressões ressalta-se o impacto causado à música, pois mudaram radicalmente seus processos de produção, divulgação, distribuição e consumo (PERPETUO e SILVEIRA, 2009). Assim a música é “agente transformador”, na medida em que também está sendo “transformada” dentro do atual ecossistema da informação e comunicação.

A evolução da Web, como ambiente de convivência, também vem potenciali-zando o que Shirky (2011) chama de cultura da colaboração e resulta na disponibili-zação massiva de todos os tipos de informação (textos, vídeos, músicas, imagens, etc.). Estas informações são, na sua grande maioria, interdependentes, complexas, desestruturadas, desorganizadas, semanticamente desconectadas e de difícil ge-renciamento (SILLA JR., 2007; PALAZZO e JARDIM, 2009; VICTORINO e BRÄSCHER, 2009).

Diante dessa profusão de documentos musicais disponíveis na Web, Cruz (2008) informa que ocorreram mudanças paradigmáticas no tratamento desses do-cumentos e que “[...] dessa forma, a música [...] passou a ser tratada como informa-ção de amplo interesse que precisa ser selecionada, armazenada, indexada e recu-perada, similar ao que ocorre com os documentos textuais”.

(12)

musical; (ii) à multiplicidade de documentos (arquivos ou bibliográficos); (iii) aos as-pectos técnicos da sua representação e; e (iv) ao seu uso em potencial (audição, estudo, pesquisa). Além desses aspectos, pesquisas sobre as novas necessidades de informação musical (CRUZ, F. W., 2008) apontam para uma ampliação do con-ceito de Objeto Informacional Musical.

Um objeto informacional representa, no âmbito das bibliotecas, qualquer uni-dade de informação, tais como documentos de texto, imagens, documentos de som, documentos multimídia e é representado por um conjunto de atributos obtidos atra-vés dos processos de catalogação (VICTORINO e BRÄSCHER, 2009). A represen-tação e organização desses objetos devem permitir às pessoas o acesso à informa-ção relevante a partir, por exemplo, de uma consulta (CANDELA et al., 2010).

Assim como as bases de dados e repositórios, as Bibliotecas Digitais (BD) re-presentam uma das formas de organizar e disponibilizar informações digitais. Arms (2000) as define informalmente como sendo “o gerenciamento de uma coleção de informações armazenadas em formato digital, com serviços associados e acessíveis através de uma rede”. Na prática, além de lidar com as dificuldades de gerenciamen-to, as BD procuram promover os serviços típicos de uma biblioteca tradicional na Web, incorporando aspectos de interoperabilidade, preservação digital e interface adequada com os usuários.

Entende-se como “informações armazenadas em formato digital” aquelas que são, por vezes, mas não necessariamente, baseadas em texto. Assim, as Bibliote-cas Digitais de Música (BDM) são vistas como um espaço de oferta de informações musicais considerando, da mesma forma descrita no parágrafo anterior, um cenário mais controlado, diferentemente do que o que se vê nos mecanismos de busca tra-dicionais ou em serviços oferecidos na Web, tais como Last.fm1 e Pandora2.

As bibliotecas utilizam-se de modelos que incorporam regras para a cataloga-ção bibliográfica, que segundo Alvarenga (2001) é o processo pelo qual um:

[...] documento é representado por um conjunto de informações relativas à sua descrição física e pontos de acesso, representação esta preparada e armazenada em um contexto físico independente do documento primário.

A IFLA - International Federation of Library Association and Institutions

1 http://www.lastfm.com.br/group/Connect+Last.fm. Acesso em 30/10/2011.

(13)

ração Internacional de Associações e Instituições Bibliotecárias) é o principal orga-nismo internacional que representa os interesses das bibliotecas e serviços de in-formação e seus usuários. Se auto-intitula “a voz global das bibliotecas e dos profis-sionais da informação”. Este organismo, desde 1998 e após oito anos de debates, preconiza um modelo conceitual para reestruturar os registros bibliográficos denomi-nado Functional Requirements for Bibliographic Records - FRBR (Requisitos Funcio-nais para Registros Bibliográficos).

De maneira geral, modelos de dados é um conceito que descreve uma cole-ção de ferramentas conceituais para representar entidades do mundo real para se-rem modeladas e os seus relacionamentos entre essas entidades (SILBERSCHATZ, A. et al., 1999). Esses modelos são essenciais para a catalogação bibliográfica. O FRBR é um desses modelos, e como tal vem sendo também utilizado por BDM (AYRES, 2004; ASSUNÇÃO, 2005; DIET e KURTH, 2007; RILEY, 2008). No caso das BDM, tais regras de catalogação deveriam também acomodar tantos as especi-ficidades da música (ASSUNÇÃO, 2005) quanto uma ampliação do conceito de Ob-jeto Informacional Musical (CRUZ, F. W., 2008).

Uma das características das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) é o seu constante desenvolvimento. Mesmo depois do inicio do processo de digitali-zação das diversas expressões artísticas, do advento do MP33, da Web 2.0, as TIC surpreendem por agora com, dentre outros fatores, a utilização em massa das fer-ramentas de mídias sociais e o crescimento do uso dos smartphones causando mu-danças significativas no comportamento de seus usuários, que passam a exigir no-vos tipos de serviços e novas necessidades de informação, levando a constituição do que Rainie (2009) denomina de novo Ecossistema da Informação e Comunica-ção.

Este trabalho busca discutir a adaptação/adequação, para o contexto das BDM, de um modelo de requisitos para catalogação bibliográfica, considerando es-tudos recentes sobre as necessidades de informação musical e características do atual ecossistema da informação e comunicação.

Diante do exposto, pode-se afirmar que o tema aqui tratado tem natureza in-terdisciplinar, pois ladeia as áreas de Música, Ciência da Informação, e Tecnologia da Informação, e complexa ao considerar aspectos do contexto humano, tecnológico

3

(14)

e psicossocial. Por se tratar de fenômeno cultural, a música tem sido historicamente associada com um grupo social, uma cultura, um país. Em tempos de globalização promovida pela TIC, a música também é oportunidade para o desenvolvimento da transculturalidade. Hoje é possível uma relação de colaboração na criação e divul-gação de peças musicais, indo além de mercados consumidores e da matriz gera-cional, como o que ocorreu particularmente após a segunda grande Guerra Mundial no século XX com a música norte americana.

Este trabalho segue os preceitos do “pensamento complexo” conforme teori-zado por Morin, Maturana e Capra (VASCONCELOS, 2003): pensar em termos de relacionamentos e de contexto.

1.2 FORMULAÇÃO DO PROBLEMA.

1.2.1 As bibliotecas digitais no atual ecossistema da informação e comunicação

Antes da década de 90, praticamente a totalidade da catalogação de objetos informacionais estava restrita ao ambiente bibliográfico e era realizada por bibliote-cários. Desde então, com a evolução das TIC e o surgimento das ferramentas de mídias sociais, esta realidade mudou. A catalogação colaborativa4 dessa profusão de documentos disponíveis na Web ocorre fora das bibliotecas, ou seja, a maioria dos objetos informacionais disponíveis na atualidade estão fora do ambiente biblio-gráfico.

Em pesquisa realizada pelo Online Computer Library Center (ROSA et al., 2007), constatou que o uso e as atividades na Internet haviam crescido substancial-mente nos três países pesquisados - Canadá, Reino Unido e Estados Unidos entre 2005 e 2007. A utilização de motores de busca passou de 71% para 90%, o uso de emails em circulação cresceu de 73% para 97%, e o uso de blogs, antes considera-do um novo meio de comunicação, passou de 16% para 46% num períoconsidera-do de 18 meses. A exceção lamentável foi o declínio do uso de sites de bibliotecas, de 30% para 20%, conforme mostrado na Figura 1.

(15)

Figura 1: Alteração percentual do uso de serviços na Web nos EUA, Reino Unido e Canadá

Fonte: Rosa et al., 2007

Nessa mesma pesquisa, constatou-se que as pessoas se sentem confiantes e confortáveis ao utilizar a Internet e seus serviços de busca, caracterizando uma ten-dência e não um modismo passageiro. Enquanto isso, a percepção de que uma bi-blioteca é somente um repositório de livros não evoluiu.

Coyle (2010), afirma que os modelos que preconizam as regras de cataloga-ção bibliográfica remetem para a separacataloga-ção, distincataloga-ção, diferenciacataloga-ção e isolamento do objeto informacional. Ao criar este “espaço bibliográfico dividido” tais regras de catalogação deixam de documentar “a conversação” (os diversos relacionamentos) entre os objetos catalogados, produzindo um contexto onde as bibliotecas somente estão aptas a responderem, para os usuários, determinados tipos de questões fe-chadas do tipo: “Quais os livros desse autor estão disponíveis nesta biblioteca? Esta biblioteca tem uma música com este título? Quais livros, relacionados a este tópico, essa biblioteca possui?”

Este contexto das bibliotecas, racional e linear disposto em “ordem alfabéti-ca”, não é o mesmo contexto dos usuários (COYLE, 2010), que no atual ecossiste-ma da inforecossiste-mação e comunicação estão acostuecossiste-mados com um mundo de inforecossiste-ma- informa-ções caórdico, em constante mudança, onde, navegando em um computador ou em um smartphone, uma informação pode levar a outra e propiciar a aquisição de co-nhecimento de uma forma multidimensional.

(16)

catalo-gados, estão sendo “linkados”5, relacionados uns com os outros. Isto produz um

con-texto semântico que resulta, para o usuário final, num processo de “descoberta” da informação através da navegação (“exploração”) por entre esses objetos ligados e inter-relacionados.

1.2.2 Modelos de catalogação e as atuais necessidades de informação musicais

Com a mudança de paradigma ocorrida quando a música de expressão artís-tica passou também a ser tratada como informação, observa-se uma evolução das proposições de representação da música enquanto objeto informacional (SELFRIDGE-FIELD, 1997; McLANE, 1996; DOWNIE, 2003). Mais recentemente, Cruz (2008), se reportando aos resultados de estudos de usuário, que apontam para a importância dos usuários e suas relações sociais na modelagem e representação de informações musicais, sugere uma ampliação do conceito de Objeto Informacio-nal Musical. Tais aspectos não são observados pelos atuais modelos de catalogação propostos pelos organismos de padronização, em especial o FRBR, e vêm se mos-trando inadequados frente às necessidades de informações dos usuários.

Assim, a questão aqui é: como trazer a BDM para o atual ecossistema da in-formação e comunicação e adequar o modelo FRBR às necessidades de informa-ções musicais dos seus usuários?

1.3 OBJETIVOS

O objetivo geral deste trabalho é propor, no âmbito de uma biblioteca digital musical, um modelo de dados para abrigar um conceito mais abrangente de objeto informacional musical, considerando o atual ecossistema da informação e comuni-cação.

Para isso, identificam-se os seguintes objetivos específicos:

• Caracterização do atual ecossistema da informação e comunicação, especial-mente os aspectos relacionados às redes sociais e às necessidades de infor-mação música;

• Discussão sobre modelos de dados;

5 O projeto

(17)

• Caracterização de BDM, de representação de objetos informacionais musicais, de necessidades de informação musical e do modelo de dados FRBR;

• Construção de um artefato (prova de conceito), buscando demonstrar a conse-cução do objetivo geral declarado (expansão do objeto informacional musical, no âmbito de uma BDM, considerando ainda o atual ecossistema da informa-ção e comunicainforma-ção).

1.4 RELEVÂNCIA DO ESTUDO

Apesar da profusão de conteúdos musicais (arquivos MP3, partituras no for-mato PDF e etc.) disponibilizados na Web e da importância das BDM: (i) na preser-vação de objetos musicais; (ii) na implantação de melhorias na acessibilidade de materiais musicais; (iii) na integração de vários formatos musicais numa única cole-ção; e (iv) no provimento de ferramentas de educação musical, o tema vem sendo muito pouco abordado, o que evidencia uma carência de material científico.

De acordo com Alvarenga (2001), dentre os principais problemas técnicos e de utilização relativos às bibliotecas digitais estão: (i) “a organização do enorme po-tencial de documentos disponíveis na Web”; e (ii) “a modelagem e arquitetura de dados que viabilizem um melhor acesso dos usuários da rede digital, em meio à massa exponencialmente crescente de recursos disponíveis.”

Como resposta para ajudar a minimizar estes problemas, a International Fe-deration of Library Associations and Institutions - IFLA (2007) vem preconizando um modelo de dados para a catalogação bibliográfica denominado Functional Requeri-ments for Bibliofraphic Records (FRBR).

(18)

em registros FRBR para viabilizar futuras implementações; (ii) necessidade de de-senvolver e testar ferramentas / softwares que facilitem os processos de “Ferberi-zing”6; (iii) necessidade de explorar, desenvolver e testar várias formas para a

ins-tanciação do modelo FRBR; (iv) necessidade de realizar estudos da experiência do usuário em sistemas baseados em FRBR para garantir implementações que benefi-ciem os usuários finais; (v) necessidade de resolver o processo de Ferberizing dos dados existentes a partir de uma variedade de diferentes padrões e práticas; (vi) ne-cessidade de maiores orientações e exemplos para o desenvolvimento de aplica-ções FRBR; (vii) necessidade de explorar, criar e desenvolver interfaces de usuário baseadas no modelo FRBR; (viii) necessidade de verificar e validar o modelo FRBR em relação aos dados reais e em diferentes comunidades para garantir que o mode-lo seja válido e aplicável; (ix) necessidade de desenvolver regras de catamode-logação em linha com FRBR. O presente trabalho pretende contribuir para os itens (i), (iii), (vi) e (vii).

Para corroborar a necessidade de trabalho nesta área, foi realizada, em al-gumas bases terciárias nacionais e internacionais, uma busca inicial por artigos rela-cionados ao tema. Conforme ocorre o refinamento da pesquisa diminui o número de artigos sobre o tema, conforme mostrado nas Tabelas 1 e 2, o tema é pouco explo-rado tanto no Brasil e no exterior.

Por outro lado, tais resultados podem não fazerem jus a pesquisa que se tem empreendido na área, por exemplo, o autor, durante sua pesquisa para a realização do presente trabalho, vem catalogando artefatos resultantes da pesquisa científica (artigos, teses, dissertações, livros, dentre outros), referente ao tema e o resultado de uma busca nesta sua coleção pelos termos “FRBR and Music” foi de 18 referên-cias; para o termo “FRBR e Digital Library” outras 10 respostas foram encontradas. Atribui-se esta discrepância, devido ao fato de muitos dos trabalhos de pesquisa ci-entífica deste área do conhecimento estarem depositados em sites específicos como por exemplo do ISMIR e em sites específicos de determinadas universidades como parece ser o caso do CiteSeerX7 e não em grandes bases terciárias.

6

Ferberizing é um neologismo americano – de uso informal – que nasce do modelo FRBR, ou

me-lhor, da sua aplicação. ‘ferberizar’ é analisar um catálogo, uma parte de um catálogo ou um conjunto de registros bibliográficos selecionados de acordo com o modelo de entidade-relacionamento FRBR. A ‘ferberizing’ consiste na identificação de ‘obras’, ‘expressões’ dessas ‘obras’, ‘manifestações’ des-sas ‘expressões’ e ‘itens’ desdes-sas ‘manifestações’. (ASSUNÇÃO, 2005).

7 CiteSeerX (http://citeseerx.ist.psu.edu) é uma biblioteca digital e motor de pesquisa,da

(19)

Tabela 1: Número de publicações, utilizando os termos de buscas relacionados, encontradas no Google Scholar, quando a busca foi realizada no título da publicação

Termos de busca Google8

“digital library” 10100

music library 1020

digital music library 55

music information needs 7

“user needs" and "digital library" 6900

“music” and “social networking sites” 6

"digital library" and "social networking sites" 0

“music” and “social media” 6

"digital library" and "social networking sites" 0

FRBR 699

FRBR and Digital Library 5

FRBR and Music 7

Tabela 2: Número de publicações, utilizando os termos de buscas relacionados, encontradas em bases terciárias, quando a busca foi realizada no campo abstract

Termos de busca Scielo9 TEL10 Jstage11 DOAJ12

“digital library” 53 23 79 122

music library 1 0 6 2

digital music library 0 0 1 1

music information needs 1 2 1 1

“user needs" and "digital library" 0 2 3 1

“music” and “social networking sites” 1 2 0 0

"digital library" and "social networking sites" 0 0 0 0

“music” and “social media” 4 0 2 0

"digital library" and "social media" 0 0 1 0

FRBR 3 0 0 17

FRBR and Digital Library 0 0 0 0

FRBR and Music 0 0 0 0

Busca realizadas no site CiteSeerX resultaram em melhores respostas,

University, voltado para literatura científica e que se concentra principalmente nas áreas do

conheci-mento relacionados com a informática e ciência da informação. Tem como objetivo melhorar a disse-minação da literatura científica e fornecer melhorias em termos de funcionalidade, usabilidade, dispo-nibilidade, custos, abrangência, eficiência no acesso dos conhecimentos científicos e acadêmicos.

8 Google Acadêmico – as pesquisas pelas palavras-chaves foram feitas no título do artigo

(http://scholar.google.com.br)

9 Os termos da busca foram traduzidos para o português (http://www.scielo.org/)

10 Os termos da busca foram traduzidos para o francês (

Serveur de thèses multisciplinaire -

http://tel.archives-ouvertes.fr)

11

(20)

forme se constata na Tabela 3. Na Figura 2 é mostrado um gráfico que compara os resultados entre as Tabelas 2 e 3, onde se observa a discrepância de resultados de busca entre as bases terciárias genéricas e a específica (CiteSeerX) de TI e da Ci-ência da Informação, confirmando a carCi-ência de trabalhos acadêmicos no contexto das BDM e do modelo FRBR, e a necessidade de se aprofundar a discussão deste tema.

Tabela 3: Número de publicações, utilizando os termos de buscas relacionados, encontradas no Google Scholar, quando a busca foi realizada no título da publicação

Termos de busca CiteSeeX

“digital library” 2656

music library 39

digital music library 61

music information needs 7

“user needs" and "digital library" 22

“music” and “social networking sites” 32 "digital library" and "social networking sites" 18

“music” and “social media” 7

"digital library" and "social media" 5

FRBR 38

FRBR and Digital Library 3

FRBR and Music 2

(21)

1.5 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO

Além da presente Introdução, este trabalho está organizado da seguinte for-ma. O Capítulo 2, que trata do referencial teórico, inicia evocando os paradigmas do pensamento complexo por considerar que o presente trabalho possui características interdisciplinares, por ir além da Informática e da Ciência da Informação, ladeando o domínio da Música em seu contexto humano e social, a evocação de tais paradig-mas pela via do pensamento complexo. Em seguida, aborda o atual ecossistema da informação e comunicação dando ênfase na atual cultura da participação, no uso de novas tecnologias, no impacto dos sites de redes sociais no impacto social que o uso de tais redes vem causando. A seguir, é abordado o conceito de modelo de da-dos dando ênfase aos modelos Entidade-Relacionamento e de Grafos. Finalmente, conceitua-se Biblioteca Digital Musical e se apresenta um dos modelos de dados utilizados por este tipo de aplicação além de estudos realizados sobre representação do objeto informacional musical e as necessidades de informações musicais.

(22)

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 PENSAMENTO COMPLEXO13 E INTERDICIPLINARIDADE

A crença, dos últimos trezentos anos, num mundo mecânico, num ser huma-no mecânico e numa relação também mecânica entre o ser humahuma-no e o mundo, co-meçou a ser questionada no final do século XIX (CAPRA, 2001). Um dos processos que ajudou a combater tal crença aconteceu nos idos dos anos 50, quando Norbert Wiener (1984 apud Rodrigues e Mendonça, 2006) cunhou o termo Cibernética14

pa-ra expressar um emapa-ranhado de idéias que abarcava suas pesquisas relacionadas à Teoria da Mensagem. Cibernética seria então a ciência “do controle e da comunica-ção no animal e na máquina”, definida a partir do conceito fundamental de feedback. (RODRIGUES; MENDONÇA, 2006).

Explica Capra (2001, p. 59):

Todas as principais realizações da cibernética originaram-se de compara-ções entre organismos e máquinas — em outras palavras, de modelos me-canicistas de sistemas vivos. No entanto, as máquinas cibernéticas são mui-to diferentes dos mecanismos de relojoaria de Descartes [...]

pois aquelas, as máquinas cibernéticas de Wiener, vêm acompanhadas do conceito de realimentação (feedback). Dessa forma, todo animal ou máquina tem inputs e outputs. Um sistema dotado de retroalimentações é, portanto, um sistema cibernéti-co (RODRIGUES; MENDONÇA, 2006). O cibernéti-conceito de “feedback” é explicitado por Capra (2001, p. 59) como:

Um laço de realimentação é um arranjo circular de elementos ligados por vínculos causais, no qual uma causa inicial se propaga ao redor das

13 Pode parecer incomum mencionar num trabalho de temática intimamente ligada ao tecnicismo

tal, que versa sobre apresentação de uma proposta de um modelo de dados para uma biblioteca digi-tal musical, os paradigmas do pensamento complexo em detrimento, do que poderia parecer mais natural, daqueles relacionados ao pensamento mecanicista que se originou no campo da física e, durante os últimos três séculos, extrapolou e se estendeu, e ainda impera, no ramo das demais ciên-cias biológicas humanas e socais – como é o caso da Tecnologia da Informação e Gestão do Conhe-cimento. Mas diferente do que aparenta ser, as Tecnologias da Informação e Comunicação tem cor-roborado, desde os primórdios, na construção de um novo paradigma: o pensamento complexo (DUPUY, 1986 apud SOLLERO-DE-CAMPOS e WINOGRAD, 2009).

14 “[...] Wiener lançou em circulação [o termo cibernética] com roupagem nova. A palavra cibernética

(23)

lações do laço, de modo que cada elemento tenha um efeito sobre o seguin-te, até que o último "realimenta" (feeds back) o efeito sobre o primeiro

ele-mento do ciclo. [...] Este processo de retroalimentação resulta na auto-regulação de todo o sistema, uma vez que o efeito inicial é modificado cada vez que viaja ao redor do ciclo. Num sentido mais amplo, a realimentação passou a significar o transporte de informações presentes nas proximidades do resultado de qualquer processo, ou atividade, de volta até sua fonte.

A partir desse conceito, pressupõe-se uma causalidade interna que, até certo ponto, torna organismos e/ou maquinas relativamente independentes do meio exter-no. Assim, a Cibernética ajudou a corroborar a ideia sistêmica que, por sua vez, co-meçou a amofinar a validade de um conhecimento reducionista, pois, no ramo da cibernética, com seus princípios relativos à organização das máquinas de proces-samento de informações que dispunham de programas e de dispositivos regulado-res, o conhecimento também não podia ser reduzido às partes que o constituíam. Surgia assim a formulação da Teoria Geral dos Sistemas, elaborada por Ludwig Von Bertalanffy entre 1956 e 1968, e sua máxima de que um todo organizado tem propri-edades que não estão presentes nas suas partes (MORIN, 2003).

Desde então a Cibernética vem moldando nossa época, conforme depoimen-to de Dupuy (1986 apud SOLLERO-DE-CAMPOS e WINOGRAD, 2009):

Ela [a cibernética] introduziu a conceituação e o formalismo lógico-matemáticos nas ciências do cérebro e do sistema nervoso; concebeu a or-ganização das máquinas de processamento de informação e lançou os fun-damentos da inteligência artificial; produziu a “metaciência” dos sistemas, a qual deixou sua marca no conjunto das ciências humanas e sociais, da te-rapia familiar à antropologia cultural; inspirou fortemente inovações concei-tuais na economia, na pesquisa operacional, na teoria da decisão e da es-colha racional, na teoria dos jogos, na sociologia, nas ciências do político e em muitas outras disciplinas; forneceu na hora certa a várias “revoluções ci-entíficas” do século 20 –, muito diversas, pois vão da biologia molecular à releitura de Freud feita por Lacan –, as metáforas de que precisavam para assinalar sua ruptura em relação a paradigmas estabelecidos.

Dentre tantas “revoluções científicas”, em cuja gênese pode ser encontrada a cibernética, se encontra aquela defendida por Edgard Morin, denominada “pensa-mento complexo”. Ela propõe uma diferente interpretação do mundo e de seus fe-nômenos, e “um novo modo de pensar, capaz de unir e solidarizar conhecimentos separados, capaz de se desdobrar em uma ética da união e da solidariedade entre humanos” (MORIN, 2003).

(24)

Na visão clássica do mundo, a articulação das disciplinas era considerada piramidal, sendo a base da pirâmide representada pela física. A complexi-dade pulveriza literalmente esta pirâmide provocando um vercomplexi-dadeiro big-bang disciplinar. O universo parcelado disciplinar esta em plena expansão

em nossos dias. De maneira inevitável, o campo de cada disciplina torna-se cada vez mais estreito, fazendo com que a comunicação entre elas fique cada vez mais difícil, até impossível. (NICOLESKU, 1999, p. 36)

Esta expansão disciplinar encerra aspectos positivos, pois, conforme Nicoles-cu (1999, p. 37), “conduz ao aprofundamento sem precedente do conhecimento do universo exterior e assim contribui volens nolens para a instauração de uma nova visão do mundo”, e negativos, pois do que adiantaria o acúmulo de tanto conheci-mento tão verticalizado (especialização exagerada) se estes não puderem ser inte-grados?

Uma alternativa para a saída desse impasse seria a indispensável construção de vínculos entre as diferentes disciplinas que são traduzidas pelo aparecimento da pluridisciplinaridade e interdisciplinaridade. De acordo ainda com Nicolesku (1999, p. 45):

A pluridisciplinaridade diz respeito ao estudo de um objeto de uma mesma e única disciplina por várias disciplinas ao mesmo tempo. [...] O conhecimento do objeto em sua própria disciplina é aprofundado por uma fecunda contri-buição pluridisciplinar. A pesquisa pluridisciplinar traz um algo a mais à dis-ciplina em questão porém este “algo a mais” está a serviço apenas desta mesma disciplina. Em outras palavras, a abordagem pluridisciplinar ultra-passa as disciplinas, mas sua finalidade continua inscrita na estrutura da pesquisa disciplinar. [...] A interdisciplinaridade tem uma ambição diferente daquela da pluridisciplinaridade. Ela diz respeito à transferência de métodos de uma disciplina para outra. Podemos distinguir três graus de interdiscipli-naridade: a) um grau de aplicação. Por exemplo, os métodos da física nu-clear transferidos para a medicina levam ao aparecimento de novos trata mentos para o câncer; b) um grau epistemológico. Por exemplo, a transfe-rência de métodos da lógica formal para o campo do direito produz análises interessantes na epistemologia do direito; c) um grau de geração de novas disciplinas. Por exemplo, a transferência dos métodos da matemática para o campo da física gerou a física-matemática; os da informática para a arte, a arte informática.

A interdisciplinaridade, de acordo com Weil et al. (1993)15, se caracteriza pelo esforço de relacionar outras disciplinas e que isso se dá com maior frequência nas aplicações tecnológicas, mais por imposição do mercado do que no meio acadêmi-co.

Assim, a Cibernética, que pode ser vista como uma das bases das

15

(25)

as da Informação e Comunicação (TIC) teve um papel importante na ruptura episte-mológica e consequente busca por novos paradigmas. Parece natural, no desenvol-vimento do presente trabalho, que possui características interdisciplinares, por ir a-lém da Informática e da Ciência da informação, ladeando o domínio da Música em seu contexto humano e social, a evocação de tais paradigmas pela via do pensa-mento complexo.

Mas, como posto por Morin (MORIN, ND):

A necessidade do pensamento complexo não pode ser justificada em um prólogo. Tal necessidade não pode mais que impor-se progressivamente ao longo de um caminho no qual aparecerão, antes de tudo, os limites, as insu-ficiências e as carências do pensamento simplificante.

Observar-se-á então, no decorrer do presente trabalho, na discussão de cada tópico e em detrimento de uma compilação teórica do que vem a ser o pensamento complexo, a presença de condições que remeterá à evocação de tal abordagem.

2.2 O ATUAL ECOSSISTEMA DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

“The new Web is a very different thing. It is a tool for bringing together the small contributions of millions of people and making them matter.”

From Time Magazine, “Time’s Person of the Year: You,” by Lev Grossman, Dec. 13, 2006.

Em geral, as definições formais de ecossistema da informação e comunicação reportam somente aos aspectos relacionados à unificação do conjunto de recursos tecnológicos que, por meio das funções de hardware, software e das telecomunica-ções, estariam moldando as atividades que nos cercam. Estas interpretações tecno-centradas, no entanto, não contextualizam suficientemente o atual ecossistema da informação e comunicação, sendo necessárias outras abordagens para inserir um componente humano.

2.2.1 A cultura da participação

Para caracterizar o que denomina a “cultura da participação”, Shirk (2011) ini-cialmente narra o impacto que a revolução industrial trouxe para a vida das pessoas, como no caso da “gim-mania”, em Londres.

(26)

recen-tes indústrias movidas a vapor, milhares de novos habitanrecen-tes, vindos da zona rural se mudaram para Londres, que nos idos de 1720 multiplicou por duas vezes e meia a sua população. Os trabalhadores, agora da indústria, não estavam acostumados a viver nas cidades e por sua vez Londres não estava preparada para receber tantos novos habitantes. As condições de habitação, saúde e higiene e os índices de crimi-nalidade eram os piores possíveis. A pressão do convívio social neste ambiente, que beirava a degradação humana, levou ao surgimento de uma mania: o excessivo consumo de gim, que de tão avassaladora tinha proporções epidêmicas. Por mais que as autoridades estipulassem formas de controlar esta situação (regulamentando primeiro e proibindo depois a comercialização e o fabrico do gim), nenhum indício era visível de que ao menos diminuísse o consumo da bebida. A “epidemia” somente foi contida quando as autoridades estabeleceram políticas que paulatinamente foram reestruturando a sociedade, melhorando a qualidade de vida desses trabalhadores, o que acabou por transformar Londres numa das primeiras cidades modernas.

De acordo com Shirky (2011), no mundo desenvolvido, principalmente depois da Segunda Guerra Mundial, a humanidade vem se beneficiando de um grande pe-ríodo de prosperidade, com a regulamentação das jornadas de trabalho (em 40 ho-ras semanais), com o crescimento da população em bases mais saudáveis, com as crescentes oportunidades educacionais. Com isso, ela vem passando por um pro-cesso de transição (sociedade pós-industrial), criando um valioso recurso: “o tempo livre acumulado”. Fazendo alusão ao caso da gim-mania, o “lubrificante” essencial que facilitou a transição de um tipo de sociedade para outra, o autor afirma que a televisão é o “lubrificante” da transição que se vive atualmente. Assim, o acúmulo de tempo livre ganhou um poderoso aliado. Mesmo com o sempre crescente acúmulo de tempo livre, muitas das práticas sociais (piqueniques, a prática de esportes entre amigos, compras feitas a pé, etc.) caíram em desuso, pois a maneira encontrada para “gastá-lo” passou a ser a atividade de assistir televisão. Informa Shirky que:

[...] assistir televisão tornou-se um emprego de meio expediente para todos os cidadãos do mundo desenvolvido. [...] Alguém nascido em 1960 já viu em torno de 50 mil horas de televisão e pode ver outras 30 mil antes de morrer. (SHRUM et al., 1998 apud SHIRKY, 2011, p. 11)

(27)

social, pois leva as pessoas a despenderem mais energia com a satisfação material do que com a satisfação social. Assim, a TV tem um papel importante na troca das atividades sociais pelas solitárias (DERRICK e GABRIEL, 1992 apud SHIRKY, 2011). Na virada do século, a Web, por meio das ferramentas de mídias sociais16,

vem modificando radicalmente o modo como os usuários da Internet utilizam o seu tempo livre, afastando-os de uma mídia que pressupõe o puro consumo, e transfor-mando-os, meros receptores/consumidores , em criadores de conteúdo num contex-to de interatividade. As novas TIC estão fornecendo os meios que viabilizam a trans-formação do tempo livre (de cerca de 2 bilhões de pessoas que perfazem um total de trilhões de horas) num revolucionário recurso denominado de “excedente cogniti-vo”. Mas, enfatiza este autor, somente o meio (as tecnologias) não é capaz de trans-formar a matéria prima “tempo livre” em excedente cognitivo, e sim a fusão deste com outros dois ingredientes: a motivação e a oportunidade.

Através de um experimento, Deci (1970, apud SHIRKY, 2011) corroborou uma teoria psicológica que distingue dois grandes tipos de motivação: (i) a intrínse-ca17, quando se faz algo pelo interesse e prazer inerentes à ação, relacionada, por-tanto, com a competência, a dedicação e com o comprometimento pessoais no cumprimento de uma determinada atividade; e, (ii) extrínseca, quando se faz algo pelo interesse de receber uma recompensa proveniente de fatores externos, como por exemplo o pagamento em dinheiro para a realização de um trabalho. Deci che-gou à conclusão que as pessoas se sentem mais bem recompensadas e realizam com mais eficiência as tarefas cuja motivação é intrínseca. Frey e Stutzer (2006) chegaram à mesma conclusão quando realizaram um experimento com cidadãos suíços sob a perspectiva de abrigarem, em sua comunidade, um depósito de lixo nuclear. A proposta se mostrou duas vezes mais impopular quando se ventilou a possibilidade de se receber algum incentivo financeiro do que quando a proposta foi apresentada como o cumprimento de um dever cívico. Além de Deci, que identificou dois tipos de motivações intrínsecas que podem ser rotuladas como pessoais: o de-sejo de realizar uma tarefa de forma autônoma e o de ser competente, Benkler e

16 Entre as mídias sociais atuais, destacam-se os blogs, wikis, serviços de compartilhamento de fotos

e vídeos – YouTube e Flicker, por exemplo - e os serviços de redes sociais – tais como Twitter e Fa-cebook.

17 A motivação intrínseca “é o fenômeno que melhor representa o potencial positivo da natureza

(28)

Nissenbaum (2006, apud SHIRKY, 2011), mediante a observação, por exemplo, da comunidade open source de desenvolvimento de software, identificaram dois outros grupos de motivações intrínsecas consideradas sociais: (i) conexão ou participação e (ii) compartilhamento e generosidade.

Argumenta Shirky (2011) que os meios e a motivação ainda não seriam sufi-cientes para explicar os usos do nosso excedente congnitivo. É preciso levar em conta também as oportunidades criadas uns para os outros. A tecnologia apenas possibilita e amplia a capacidade do ser humano de criar coisas juntos, de aglutinar o tempo livre. Ela não pode causar este tipo de comportamento:

Todo pequeno e surpreendente novo comportamento [...] tem dois elemen-tos em comum: as pessoas tiveram a oportunidade de se comportar de uma maneira que recompensasse alguma motivação intrínseca, e essas oportu-nidades foram possibilitadas pela tecnologia, mas criadas por seres huma-nos. Esses pequenos novos comportamentos, no entanto, são extensões de padrões muito mais antigos das nossas vidas como criaturas sociais. (SHIRKY, 2011, p. 94)

Toda vez que se quer que aconteça algo cuja complexidade está além das capacidades de uma única pessoa, precisa-se de um grupo. E para se trabalhar em grupo é preciso interagir e definir um conjunto de regras que juntamente com os pro-cessos produtivos resultam nos modos de produção (CASTELLS, 1999). Para Cas-tells, durante o século XX, as TIC, dentre outras transformações, vêm reestruturando o sistema capitalista onde existem, essencialmente, dois modos de produção: o ca-pitalista e o estatista. Já Shirky (2011) os denomina como privado e público. Tais modos pressupõem a apropriação, distribuição e uso dos excedentes sejam pela iniciativa privada ou pelo poder público.

No entanto, já no inicio do século XXI, Shirky (2011) acrescenta, na sua per-cepção do que vem a ser o atual ecossistema da informação e comunicação, um terceiro e novo modo de produção fora do eixo de organizações gerenciadas e do mercado: a produção social, definindo-a como:

[...] a criação de valor por um grupo e para seus membros, sem usar o esta-belecimento de preços nem a supervisão gerencial para coordenar os esfor-ços dos participantes. [...] A produção social não foi incluída nos inflamados debates do século XX, porque as coisas que as pessoas podiam produzir para as outras usando seu tempo livre, trabalhando sem o mercado e sem gerentes, eram limitadas. (SHIRKY, 2011, p. 108)

(29)

um novo e terceiro meio de produção: (i) estudos de economia comportamental que sugerem que os seres humanos não determinam valor de forma racional (ARIELY, 2008 apud SHIRKY, 2011), que é como agem os mercados; e, (ii) o surgimento de tecnologias que facilitam a produção em rede, tornando possível o aumento expo-nencial do compartilhamento, colaboração e coordenação entre os integrantes de grupos, superando os anteriores limitadores da produção social. Conclui este autor que a produção social é uma das novas e grandes oportunidades atuais.

Uma comparação entre os modos de produção apresentados por Castells e Shirky é apresentado no Quadro 1.

Quadro 1: Comparação entre os modos de produção

M od os d e P ro du çã o

Castells Shirky

Denominação Capitalismo Privado

Definição “A transformação do trabalho em commodity e a posse

privada dos meios de produção com base no controle do capital determinaram o princípio básico da apropriação e distribuição do excedente pelos capitalistas. Visa à maximização dos lucros.”

“Criação de valor quando um grupo responsável pode ser reunido e pago por menos do que seu resultado custará no mercado.”

Denominação Estatismo Público

Definição “O controle do excedente é externo a esfera econômica (fica nas mãos dos detentores do poder estatal). Visa (visava) a maximização do poder.”

“Emprego com a obrigação de trabalhar em equipe em tarefas de alto valor percebido, mesmos que elas não sejam compensadas pelo mercado.”

Denominação Social

Definição “É a criação de valor por um grupo e para seus membros, sem usar o

estabelecimento de preços nem a supervisão gerencial para coordenar os esforços dos participantes. Produção entre iguais em propriedades comuns” (BENCLER, 2002 apud SHIRKY, 2011)

Fonte: Castells (1999) e Shirky (2011)

(30)

As TIC (o meio) possibilitam também uma oportunidade de criar novas cultu-ras. Por exemplo, as informações continuamente transpassadas nos sites de redes sociais produzem sistemas compartilhados de crenças, um contexto comum de sig-nificado chamado “cultura”. De acordo com Mariotti (s/d):

Uma cultura é uma rede de conversações que define um modo de viver. Toda cultura é definida pelos discursos que nela predominam. Estes se ori-ginam nas conversações, que começam entre indivíduos, estendem-se às comunidades e por fim a todo o âmbito cultural. Os consensos sociais (que determinam, por exemplo, o que é permitido e o que não é, o que é real e o que é imaginário numa determinada cultura) resultam desses discursos, que por sua vez são oriundos das redes de conversação.

Assim, conclui Shirky (2011), “a fusão de meio, motivação (representando o potencial positivo da natureza humana) e oportunidade cria o nosso excedente cog-nitivo a partir da matéria prima do tempo livre acumulado”. Isso resulta em uma cul-tura da participação que se traduz na possibilidade de se desenvolver, de forma ge-nerosa e voluntária, atividades sociais benéficas como, por exemplo, as comunida-des constituídas em torno do comunida-desenvolvimento do software livre e da Wikipedia.

2.2.2 Uso de novas tecnologias

Para melhor entendimento e caracterização do atual ecossistema da informa-ção e comunicainforma-ção, serão referenciadas algumas recentes pesquisas sobre: (i) ado-ção e uso de smartphones; (ii) o impacto dos sites de redes sociais na vida dos usu-ários; e (iii) a função social da Internet.

Adoção e uso de smartphones

Os smartphones são aparelhos de telefonia celular como acesso a Internet e capacidade de baixar e instalar aplicativos. Eles são aqui destacados pelo fato deles estarem sendo mais utilizados para acesso a Internet do que computadores desk-tops e notebooks. Tais mudanças causam ainda mais impacto no comportamento das pessoas, que passam a exigir e utilizar novos tipos de serviços, apresentar no-vas necessidades de informação, alterando o atual ecossistema da informação e comunicação (RAINIE, 2009).

(31)

“The Pew Internet & American Life” o Pew Research Center18, divulgou que 85% dos

americanos possuem algum tipo de telefone celular, sendo que destes, 42% são considerados smartphones, ou seja, mais de um terço dos adultos (norte america-nos) possuem um smartphone19. Destes, em torno de 87% acessam a Internet ou o

e-mail em seus celulares, incluindo dois terços (68%) que o fazem diariamente. Para um quarto dos proprietários de smartphone, mesmo que possuam outras maneiras de acessar a Internet (como por exemplo do computador de casa ou no trabalho), seus aparelhos celulares são a principal fonte de acesso à Internet.

Entre os anos de 1998 e 2009, o número de assinantes de telefonia celular cresceu de 12 para 68 por cada 100 habitantes do planeta. O número total de usuá-rios desse tipo de aparelho encontra-se na casa dos 4,6 bilhões. Este crescimento vem sendo maior do que o próprio crescimento do número de usuários da Internet (26,8 por 100 habitantes). E mais ainda, o da contratação de serviço de acesso a dados via smartphone (mobile broaband - 9,7 por 100 habitantes) comparado ao de banda larga de acesso a Internet (fixed broaband 7,0 por 100 habitantes), conforme mostrado na Figura 3.

Figura 3: Desenvolvimento Global das TIC no período 1998-2009 por cada 100 habitantes

Fonte: ITU World Telecommunication/ICT Indicators Database, 2009

18O Pew Research Center é uma organização apartidária que fornece informações sobre as

ques-tões, atitudes e tendências que moldam os Estados Unidos da América e o mundo. Isto é feito atra-vés da realização de pesquisas de opinião e pesquisas em ciências sociais; pelos relatos e análises da cobertura noticiosa, e por realização de fóruns e briefings. (http://www.pewInternet.org, acesso em

11/07/2011)

19

(32)

Nesta pesquisa destaca-se o poder de penetração desta tecnologia na popu-lação de faixa etária dos 14 aos 30 anos, devido a um novo tipo de crescimento que vem sendo observado, o da aquisição de mais de uma linha telefônica móvel por pessoa (linhas secundárias). Em 39 países, esta taxa de penetração do celular situa-se acima dos 100% e em casos extremos chega a exceder os 200%, denotando a propriedade de contas múltiplas (principalmente entre a faixa etária entre os 20 e 30 anos de idade) compensando uma menor taxa de penetração entre os mais jovens (Figura 4). No Distrito Federal, observa-se o índice de 1,9 desta taxa de penetra-ção20.

Figura 4: Taxa de penetração da telefonia móvel entre a população jovem

Fonte: MobileYouth Data 2010

(33)

Dentro desse universo de utilizadores da telefonia móvel, cerca de 21% utili-zam o celular para acesso on-line à Internet. E quanto menor a renda familiar maior é o número de acesso à Internet pela utilização destes dispositivos móveis (Tabela 4).

Tabela 4: Adolescentes dos EUA com menor renda familiar tendem a utilizar mais o celular para acessar a Internet do que os computadores instalados em casa

Fonte: Pew Internet & American Life Project

Renda Familiar Anual

(RFA) Utilizam celular Utilizam computador em casa

RFA < $30.000,00 41% 70%

$30.000,00 ≤ RFA < $50.000,00 27% 84% $50.000,00 ≤ RFA < $75.000,00 22% 93%

≥ $75.000,00 23% 97%

Dentre as atividades on-line realizadas por adolescentes norte-americanos, com o uso do smartphones, “ouvir música” está em quarto lugar, conforme mostrado na Figura 5.

Figura 5: Atividades desenvolvidas por adolescentes norte-americanos na Internet com o uso do smartphones

(34)

O Brasil encontra-se entre os cinco maiores mercados, junto com EUA, China, Japão e Índia, de telefonia móvel21 e em termos de usuários com acesso a Internet

(a partir dos 16 anos) soma 73,9 milhões de brasileiros e também o 5º no ranking mundial de conexões à Internet22. E prevê-se que este ritmo de crescimento da

In-ternet brasileira continuará intenso devido a entrada da classe C23.

O impacto dos sites de redes sociais na vida dos usuários

Nos últimos 30 anos, autores como Morin, Maturana e Capra teorizam sobre o “pensamento sistêmico” (VASCONCELOS, 2003): pensar em termos de relaciona-mentos e de contexto. E um dos mais importantes insights deste novo tipo de com-preensão é o reconhecimento de que as redes são os modelos básicos para todos os sistemas vivos. A vida biológica se organiza em redes que se estruturam não de maneira física, mas na forma de uma rede conceitual com modelos de funcionamen-to entre os vários processos de vida.

No exercício de suas diversas atividades, profissionais ou não, os indivíduos naturalmente constroem redes de relacionamentos. Esse processo é inerente à ati-vidade humana e se dá basicamente através da comunicação (CAPRA, 1996). Cada conversa gera novos fatos, cria novas informações que geram motivos para novas conversações.

Segundo Costa (2005), “[...] o conceito de redes sociais responde a uma compreensão da interação humana de modo mais amplo que o de comunidade”. As “comunidades virtuais” são o resultado mais conhecido dos processos que “procura-vam traduzir o sentimento de que a sociedade do final do século XX já não se orga-nizava mais segundo parâmetros convencionais de localidade, parentesco, vizinhan-ça, etc.”. (DELEUZE e GUATTARI, 1982 apud COSTA, 2005), em concomitância com a “profunda revolução nos meios de comunicação”.

Atualmente, tais “comunidades virtuais”, ou “Sites de Redes Sociais”, que têm como características a disponibilização de ferramentas como a troca de mensagens, postagens de foto e vídeo, serviços de busca de “amigos”, ações sociais (ou “plugins

21 Source Mobileyouth data 2010

22 Globo.com . “Brasil ocupa quinta posição em mercado de celulares e Internet, diz ONU.” http://g1.globo.com/Noticias/Tecnologia/0,,MUL1352191-6174,00.html. Acesso em 24/04/2012.

23Globo.com. “Internet vive seu 'maior boom' no Brasil, revela pesquisa”.

(35)

sociais” do tipo “botão curtir” do Facebook24) que permitem a interação entre os

usu-ários viabilizando o estabelecimento de algum tipo de vínculo (interdependência) entre estes usuários formando assim uma rede social.

Castells (1999) define uma rede como um conjunto de nós interconectados, e um nó é aquilo que reflete concretamente o tipo de rede. Por exemplo: uma pessoa e suas relações de amizade; uma organização e sua relação de fornecedores. Con-tinua Castells (1999): “redes são estruturas abertas e podem se expandir de forma ilimitada integrando novos nós desde que compartilhem os mesmos códigos de co-municação”. Ou seja, são estruturas altamente flexíveis e adaptáveis que parecem acomodar o modo de organização da “nova economia”25, evoluindo para novas for-mas de gerenciamento e produção em rede.

Neste sentido, a Wikipedia26 (2011) traz uma boa conceituação para rede so-cial:

[…] é uma estrutura social composta de indivíduos (ou organizações) cha-mados "nós", vinculados (conectados) por um ou mais tipos específicos de interdependência, como amizade, parentesco, interesse comum, preferên-cias sexuais, crenças, [...]

Assim, com foco nessa interdependência entre os usuários, vários sites de redes sociais foram e estão sendo criados27. Existem sites de redes sociais de uso genérico como o Facebook28 e Twitter29, aqueles voltados mais para contatos profis-sionais como o LinkedIn (http://br.linkedin.com/), até os mais específicos como o Passport Stamp30 dedicada a “record your visits to foreign countries, compare your travels with your friends, find out who has travelled in your footsteps” dentre cente-nas de outros.

Devido ao grande número de usuários que aderiram a este tipo de ferramenta de mídia social, conforme mostrado, por faixa etária, nas Figuras 6 e 7, respectiva-mente, muito se tem especulado sobre a influência e o impacto da utilização desses

24http://www.facebook.com.

25 A “nova economia” de Castels (1999) já não seria a economia do século XXI descrita por Shirky

(2011).

26 en.wikipedia.org/wiki/social_network

27 Uma relação de sites de redes sociais pode ser encontrado na Wikipedia, em http://

en.wikipedia.org/wiki/List_of_social_networking_Websites

28 http://www.facebook.com. Acesso em 30/10/2011.

29 http://www.twitter.com. Acesso em 30/10/2011.

(36)

sites de redes sociais na vida de seus usuários. Esses valores se referem a 750 mi-lhões31 de usuários do Facebook, 300 milhões32 de usuários do Twitter e 100

mi-lhões33 de usuários do LinkEdin.

Figura 6: Usuários de Internet, por faixa etária, presentes em sites de redes sociais

Fonte: Pew Internet & American Life Project (setembro de 2009)

Figura 7: Porcentagem de usuários da Internet que compartilham conteúdo

Fonte: Pew Internet & American Life Project (setembro de 2009)

Alguns temiam a diminuição do contato entre pessoas e consequente degra-dação das relações humanas e aumento do isolamento social (CASTELLS, 1999), já outros propagavam que a conectividade generalizada, usando a tecnologia, poderia resultar no armazenamento de capital social34 entre outras “recompensas sociais”.

31 http://exame.abril.com.br/tecnologia/facebook/noticias/facebook-atinge-750-milhoes-de-usuarios.

Acesso em 30/10/2011.

32

http://www.jb.com.br/ciencia-e-tecnologia/noticias/2011/05/19/numero-de-usuarios-do-twitter-se-aproxima-da-populacao-dos-eua/. Acesso em 30/10/2011.

33 http://br.linkedin.com/. Acesso em 30/10/2011.

34 Capital social é “a

capacidade de interação dos indivíduos, seu potencial para interagir com os que

(37)

Mas de acordo com o próprio Castells (1999), citando como exemplo o sistema Mini-tel35, tais preocupações se mostraram infundadas e o resultado da utilização deste

tipo de tecnologia foi o aumento da interação social dentre seus utilizadores.

Em 16/06/2011, foi publicada pelo já citado Pew Research Center’s Internet &

American Life Project uma pesquisa, realizada no âmbito dos Estados Unidos da América do Norte, denominada “Social networking sites and our lives”36, que revela,

dentre outras descobertas, quem realmente são os usuários dos sites de redes soci-ais e que plataformas são utilizadas.

Alguns números comprovam as taxas de crescimento desses sites de redes sociais. Na amostra desta pesquisa, 79% dos adultos norte-americanos disseram que utilizam a Internet e quase que a metade desses (47%) que equivale a 59% dos usuários de Internet, disseram que usam pelo menos um dos diversos sites de redes sociais. Isso é quase o dobro dos 26% (34% dos usuários de Internet) do resultado da pesquisa de 2008.

Neste último levantamento, o Facebook aparece como sendo o preferido: 92% dos usuários de sites de redes sociais estão no Facebook; o LinkedIn é utiliza-do por 18%; 29% utilizam o MySpace e 13% utilizam o Twitter. Há ainda uma varia-ção considerável na freqüência de utilizavaria-ção desses sites de redes sociais: 52% dos usuários do Facebook e 33% dos usuários do Twitter acessam a plataforma diaria-mente, enquanto apenas 7% do MySpace e 6% dos usuários do LinkedIn fazem o mesmo. Resumidamente segue a relação de outros achados dessa pesquisa:

• Usuários de Internet em geral, mas principalmente os usuários do Facebook, têm relações mais próximas do que as outras pessoas (isto é, se relacionam com pessoas com quem possam discutir assuntos importantes).

• Comparando as respostas entre os usuários do LinkedIn e, MySpace e Twitter os do Facebook são mais confiantes do que as demais pessoas. Em geral, eles obtêm mais apoio social e, em particular eles relatam maior apoio emocional e companheirismo do que os não usuários desse site de redes sociais.

• Os usuários do Facebook são muito mais envolvidos (engajados) na política, mais propensos a votar, a participar de reuniões políticas e a tentar persuadir

distantes e que podem ser acessados remotamente. Capital social significaria aqui a capacidade de

os indivíduos produzirem suas próprias redes, suas comunidades pessoais” (COSTA, 2005). 35 um dos primeiros sistemas mediado por computador originário na França na década de 1980.

36 Disponível em http://pewInternet.org/Reports/2011/Technology-and-social-networks.aspx e

(38)

alguém a votar em um candidato específico do que as outras pessoas.

• Foi calculada a média do número global de amigos, não apenas no âmbito dos sites de redes sociais. O norte-americano médio tem 634 laços sociais e foi constatada uma grande disparidade no tamanho das redes sociais. A maior foi das pessoas que utilizam a Internet em relação aquelas que não a utilizam – is-to tudo pode ser explicado pela exclusão digital.

• O usuário padrão do Facebook conhece somente cerca de metade das pesso-as que estão na sua relação de “amigos”. Em contrapartida, há somente um pequeno número de pessoas que tem mais amigos no Facebook do que o nú-mero de amigos fora dos sites de redes sociais.

Ao comparar o tamanho da rede social global das pessoas (online e offline) com a quantidade de seus "amigos" listados nos sites de redes sociais, descobre-se que a média de amigos dos sites de redes sociais é aproximadamente o dobro do total de pessoas que eles realmente conhecem e apenas uma pequena fração ad-vém de pessoas consideradas estranhas - a maioria são laços de amizades dormen-tes ou de “amigos dos meus amigos” (grande potencial para aquisição de capital so-cial).

Algumas perguntas feitas nesta última edição da pesquisa também haviam si-do feitas numa pesquisa realizada em 2008. Por exemplo, “cite os nomes das pes-soas mais próximas com quem houvera conversado algum tipo de assunto importan-te”. Por intermédio desta resposta foi constatado, em 2008 e desde a década de 1980, um declínio no número desses laços sociais mais estreitos. Comparando es-tes achados com a pesquisa de 2011, constata-se que há menos isolamento social nos EUA, pois as pessoas admitiram ter mais confidentes próximos. Foi encontrado ainda, dentre os usuários do Facebook, que estes são ainda mais suscetíveis do que outras pessoas a terem mais confidentes próximos.

A função social da Internet

Muito se tem dito do poder dos sites de redes sociais de juntar milhares e até milhões de pessoas em prol de uma causa considerada positiva. Principalmente de-pois do movimento denominado “Primavera Árabe”37, ocorrido no dia 18 de

37 Diversas agências de notícias atribuem aos sites de redes sociais a façanha de reunir milhões de

pessoas em torno dessa causa (Acessos em 30/10/2011):

Referências

Documentos relacionados

5 “A Teoria Pura do Direito é uma teoria do Direito positivo – do Direito positivo em geral, não de uma ordem jurídica especial” (KELSEN, Teoria pura do direito, p..

Neste relatório, após esta breve introdução, em que enuncio os objectivos gerais do estágio profissionalizante, descrevo as actividades realizadas e observadas ao longo de

Assim procedemos a fim de clarear certas reflexões e buscar possíveis respostas ou, quem sabe, novas pistas que poderão configurar outros objetos de estudo, a exemplo de: *

Considerando que, no Brasil, o teste de FC é realizado com antígenos importados c.c.pro - Alemanha e USDA - USA e que recentemente foi desenvolvido um antígeno nacional

By interpreting equations of Table 1, it is possible to see that the EM radiation process involves a periodic chain reaction where originally a time variant conduction

O desenvolvimento desta pesquisa está alicerçado ao método Dialético Crítico fundamentado no Materialismo Histórico, que segundo Triviños (1987)permite que se aproxime de

São eles, Alexandrino Garcia (futuro empreendedor do Grupo Algar – nome dado em sua homenagem) com sete anos, Palmira com cinco anos, Georgina com três e José Maria com três meses.

de lôbo-guará (Chrysocyon brachyurus), a partir do cérebro e da glândula submaxilar em face das ino- culações em camundongos, cobaios e coelho e, também, pela presença