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O impacto educacional do programa bolsa família na cidadania de jovens de ensino médio do Distrito Federal

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Universidade Católica de Brasília

Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação

O IMPACTO EDUCACIONAL DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA

NA CIDADANIA DE JOVENS DE ENSINO MÉDIO

DO DISTRITO FEDERAL

Brasília-DF

2015

(2)

JOSÉ IVALDO ARAÚJO DE LUCENA

O IMPACTO EDUCACIONAL DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA NA CIDADANIA DE JOVENS DE ENSINO MÉDIO

DO DISTRITO FEDERAL

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para a obtenção do Título de Mestre em Educação na área de concentração “Política e Administração Educacional”.

Orientadora: Profª Drª Ranilce Mascarenhas Guimarães-Iosif.

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AGRADECIMENTOS

À família, especialmente aos meus pais, Maria de Lourdes e Pedro José, e a meus irmãos, Judivan Araújo e Ivalda Maria, que sempre incentivaram e apoiaram meus estudos.

À minha esposa Maridelma e filhos queridos, André e Tiago, que me apoiaram e tiveram paciência com a minha ausência durante o período de elaboração deste estudo.

Agradecimentos especiais à minha orientadora, Profa. Dra. Ranilce Guimarães-Iosif, pela motivação, presença e competência no acompanhamento desta pesquisa, bem como pela parceria e confiança mútua durante o período de orientação. Aos professores Luiz Síveres, Carlos Ângelo, Célio da Cunha, Maria Cândida, Wellington Ferreira e Geraldo Caliman, pela dedicação e profissionalismo na formação de mestres em educação comprometidos com uma sociedade mais justa e menos desigual. A todos/as a minha sincera gratidão. Concluo esta fase da minha formação acadêmica com maior responsabilidade e compromisso com uma docência transformadora.

À minha amiga Maria de Lourdes de Almeida Silva pela parceria nas disciplinas e demais atividades do mestrado, bem como na elaboração conjunta dos artigos publicados.

Ao Pe. Antídio de Andrade Carvalho pela amizade e parceria durante a realização de alguns trabalhos que realizamos juntos no Mestrado.

A todos/as os/as colaboradores/as do Centro Popular de Formação da Juventude – Vida e Juventude, instituição que ajudei a fundar e a quem dedico este trabalho; à Pastoral da Juventude da Arquidiocese de Brasília, espaço da minha militância eclesial; ao Curso de Pedagogia da UCB, onde fiz a minha licenciatura; à UCB Virtual que foi a porta de entrada como docente no universo acadêmico.

Ao Deus da Vida que nos impulsiona e não nos deixa desanimar na aventura de ensinar aprendendo e aprender ensinando, como dizia o nosso saudoso educador Paulo Freire.

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"Se a nossa opção é progressista, se estamos a favor da vida e não da morte, da equidade e não da injustiça, do direito e não do arbítrio, da convivência com o diferente e não de sua negação, não temos outro caminho senão viver plenamente a nossa opção".

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RESUMO

LUCENA, José Ivaldo Araújo de. O impacto educacional do Programa Bolsa Família na cidadania de jovens de Ensino Médio do Distrito Federal. 2015. 212 f. Dissertação (Mestrado em Educação), Programa de Pós-Graduação em Educação, UCB, Brasília, 2015.

O presente estudo tem por finalidade investigar o impacto educacional do Programa Bolsa Família (PBF) na cidadania dos jovens de escola pública de Ensino Médio do Distrito Federal (DF). Dada a natureza do tema e os objetivos deste estudo, optou-se por uma pesquisa qualitativa, tendo como estratégia um estudo de caso, realizado em uma escola pública de ensino médio da Região Administrativa de Planaltina. Essa cidade foi escolhida por ter o maior número de jovens beneficiários do PBF do DF. Como técnicas de investigação foram utilizadas análise documental, questionários, entrevistas semiestruturadas e grupos focais. Os dados foram interpretados à luz da abordagem de análise do ciclo de políticas de Ball, Bowe e Gold (1992) e da análise de discurso proposta por Orlandi (1999). Os resultados apontam que o impacto educacional do PBF, inicialmente, está centrado em sua condicionalidade de frequência obrigatória às aulas por parte dos jovens beneficiários. No entanto, estar na escola não garante necessariamente um nível de aprendizagem que contribua para a cidadania emancipatória dos jovens e sua consequente preparação para as exigências da educação superior e do mercado de trabalho. Por meio das entrevistas com a direção, a coordenação pedagógica e alguns professores, constatou-se que há um conhecimento limitado sobre como o PBF está presente na escola. Com exceção da secretaria da escola que faz o controle e o lançamento da frequência dos alunos no Sistema Presença do Ministério da Educação (MEC), a direção e os demais educadores desconhecem quem são os estudantes beneficiários, suas expectativas e seus anseios em termos educacionais. Esse desconhecimento tem tornado esse público invisível na escola, impedindo a oferta de um atendimento pedagógico mais equitativo e qualificado. Um fato preocupante é que a exigência do PBF em relação à escola se limita ao controle da frequência. Todavia, constatou-se algumas experiências isoladas de alguns docentes que realizam aulas preparatórias para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), atividade essa que é voltada para todos os estudantes da escola e não apenas para os beneficiários do PBF. Educadores e estudantes que participaram do estudo defendem que a condicionalidade educacional do programa deveria considerar também o desempenho acadêmico dos estudantes para o recebimento do benefício. Todavia, essa sugestão demanda uma maior articulação entre a política social e a educacional, bem como um apoio mais consistente da escola. O rendimento educacional se relaciona diretamente com a forma como os processos de ensino e de aprendizagem são desenvolvidos em sala de aula. É fundamental que haja uma parceria mais consolidada entre a direção, professores, pais, mães e estudantes, pois somente por meio da implicação de todos esses atores é que o PBF pode contribuir mais efetivamente para a promoção da cidadania dos jovens beneficiários dessa política no ensino médio. O PBF se apresenta cada vez mais como uma política relevante no campo social e assistencial, por outro lado, caso seus critérios de vinculação com a educação não sejam revistos, pode comprometer gravemente o desempenho educacional e a cidadania emancipada dos jovens menos favorecidos da escola pública brasileira.

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ABSTRACT

LUCENA, José Ivaldo Araújo de. The educational impact of the Bolsa Família Program on the citizenship of high school youth studying in the Federal District. 2015. 212 f. Dissertation (Master of Education), Graduate Studies in Education, UCB, Brasília, 2015.

The present study aims to investigate the educational impact of the Bolsa Família Program (PBF) on the citizenship of high school youth in the Distrito Federal (DF) public school system. Given the subject matter and objectives of this study, we opted for a qualitative research approach, employing a case study strategy that was applied in a public high school in the Planaltina Administrative Region. This city was chosen for having the largest number of young PBF beneficiaries in the DF. As research techniques, document analysis, questionnaires, semi-structured interviews, and focus groups were used. The data was interpreted by using Ball, Bowe and Gold's (1992) political cycle analysis approach, and also the discourse analysis proposed by Orlandi (1999). The results indicate that the initial educational impact of PBF is centred on its conditionality of compulsory class attendance by the young beneficiaries. However, being in school does not necessarily guarantee a level of learning that contributes to the emancipatory citizenship of young students and their consequent preparation for the demands of higher education and the labour market. Through interviews with school principals, pedagogical coordinators, and some teachers, we discovered that there is limited knowledge in regards to how the PBF is present in their school. With exception of the school secretariat that keeps track and uploads the attendance data of students in the Attendance System of the Ministry of Education (MEC), the principals and other educators are unaware who the students enrolled in PBF are and what their expectations and concerns are in educational terms. This lack of knowledge has made this group of students invisible at school, preventing the school from offering a more equitable and qualified teaching service. One concern is that the only requirement of PBF in relation to school is limited to attendance control. However, there were identified some isolated experiences of teachers who perform preparatory classes for the National High School Exam (Enem), an activity that is geared towards all school students and not just for PBF beneficiaries. Educators and students who participated in the study argued that the educational conditionality of the program should also include the academic performance of students in order to continue receiving the PBF benefit. However, this suggestion demands enhanced coordination between the social and educational policy, as well as a more consistent support on the part the school. The educational achievement is directly related to how the teaching and learning processes are developed in the classroom. It is vital to have a more consolidated partnership between school administration, teachers, parents, and students, as only through the involvement of all these stakeholders, that the PBF can contribute more effectively to the promotion of the citizenship of young public high school beneficiaries. The PBF increasingly presents itself as a relevant policy in the social and assistential fields, however, if its criteria and linking to education are not revised, it may severely compromise the educational performance and emancipated citizenship of the disadvantaged youth in Brazilian public high schools.

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LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – Quantidade de educadores entrevistados

QUADRO 2 - Modalidades de coleta de dados com os estudantes

QUADRO 3 - Condicionalidades do Programa Bolsa Família - PBF

QUADRO 4 - Marcos Legais das Políticas Sociais que foram incorporadas ao PBF

QUADRO 5 - Benefícios do PBF

QUADRO 6 - Atores envolvidos diretamente com o PBF

QUADRO 7 - Perspectivas de interpretação das concepções sobre pobreza

QUADRO 8 –Tipos de Cidadania

QUADRO 9 - Pressupostos teóricos de interpretação da relação entre educação e pobreza

QUADRO 10 - Diferentes concepções sobre juventude

QUADRO 11 - Concepções de Educação em Paulo Freire

QUADRO 12 - Tipos de Políticas Públicas

QUADRO 13 - Atores que influenciam na formulação das políticas públicas brasileiras

QUADRO 14– Tipos de Avaliação de Políticas Públicas

QUADRO 15– Modelos de implementação de Políticas Públicas

QUADRO 16 –Domínios disciplinares da Análise de Discurso

QUADRO 17 –A prática da Análise de Discurso

QUADRO 18– Percepção dos estudantes sobre a escola pesquisada

QUADRO 19– Porque os estudantes pesquisados estudam?

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Mapa da Governança do Programa Bolsa Família - PBF

FIGURA 2 - Conceituações sobre Políticas Públicas

FIGURA 3 - Contextos de análise do Ciclo de Políticas

FIGURA 4 - A influência do discurso dos atores nos contextos de análise do ciclo de Políticas.

FIGURA 5 - Quantitativo de estudantes beneficiários do PBF no Distrito Federal - DF

FIGURA 6 - Taxas de Rendimento do Ensino Médio em Planaltina/DF - 2013

FIGURA 7 - Faixa etária dos estudantes

FIGURA 8 - Sexo dos estudantes

FIGURA 9 - Com quem os estudantes moram?

FIGURA 10 - Renda familiar dos estudantes

FIGURA 11 - Percentual de estudantes que já reprovaram

FIGURA 12 - Índices de reprovação por ano/segmento da Educação Básica

FIGURA 13 - Estudantes pesquisados por sexo/idade

FIGURA 14 - Estudantes pesquisados por raça

FIGURA 15 - Você gosta de estudar nesta escola?

FIGURA 16 - O que o PBF oferece para você, além do valor mensal em dinheiro?

FIGURA 17 - O que os educadores/as e direção falam sobre o PBF aqui na escola?

FIGURA 18 - O que você saber sobre o PBF?

FIGURA 19 - Qual é o benefício do PBF na sua educação?

FIGURA 20 - O que mudou em sua vida após o acesso ao PBF?

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1 - Dados relativos à Educação do Relatório de Desenvolvimento Humano do Pnud

TABELA 2 - Dados referentes ao desempenho dos estudantes do PBF no 5º e 9º Anos do Ensino Fundamental em 2011

TABELA 3 - Taxas de aprovação, reprovação e abandono no Ensino Médio público do Distrito Federal – DF

TABELA 4 - Índice de Vulnerabilidade Social do DF em 2010

TABELA 5 - Quantitativo de indivíduos pesquisados por instrumento de coleta de dados utilizado

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LISTA DE SIGLAS

ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas BB - Banco do Brasil

BIRD - Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento BM - Banco Mundial

BRB - Banco de Brasília

BSP - Benefício para Superação da Extrema Pobreza BPM - Batalhão da Policia Militar

BV - Benefício Variável

BVJ - Benefício Variável Jovem CAQI - Custo Aluno Qualidade Inicial

CadÚnico - Cadastro Único para Programas Sociais

Capes - Coordenação deAperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CED - Centro Educacional

CEF - Caixa Econômica Federal CEM - Centro de Ensino Médio CME - Cartão Material Escolar

Cras - Centros de Referência da Assistência Social DF - Distrito Federal

Dieese - Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos DP - Delegacia de Polícia Civil

DST/Aids - Doenças Sexualmente Transmissíveis / Acquired Immuno Deficiency Syndrome EBC - Empresa Brasileira de Comunicação

ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente

Enade – Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes

FAO - Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura FHC - Fernando Henrique Cardoso

Fies - Financiamento Estudantil FMI - Fundo Monetário Internacional

GATT - Acordo Geral sobre Tarifas Aduaneiras e Comércio Gepae - Gerência de Projetos de Assistência ao Educando Ibase - Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

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Ideb - Índice de Desenvolvimento da Educação Básica

IGD - Índice de Gestão Descentralizada do Programa Bolsa Família Inep - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa

IPTU - Imposto Predial e Territorial Urbano

LDBEN - Lei de Diretrizes e Bases da Educação – abreviadamente LDB MDS - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome MEC - Ministério da Educação

MG - Minas Gerais MS - Ministério da Saúde

NEBC - Núcleo de Estudos do Brasil Contemporâneo

OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico OIT - Organização Internacional do Trabalho

OMC - Organização Mundial do Comércio ONGs – Organizações Não Governamentais ONU - Organização das Nações Unidas

Oscip - Organização da Sociedade Civil de Interesse Público PAS - Programa de Avaliação Seriada

PBF - Programa Bolsa Família PE - Pernambuco

Peti - Programa de Erradicação do Trabalho Infantil PGRM - Programa de Garantia de Renda Mínima PIB - Produto Interno Bruto

Pisa - Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Program for International Student Assessment)

PNAA - Programa Nacional de Acesso à Alimentação Pnad - Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

Pnud - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento PPP - Projeto Político Pedagógico

Projovem - Programa Nacional de Inclusão de Jovens

Pronatec - Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego Prouni - Programa Universidade para Todos

PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira PT - Partido dos Trabalhadores

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SCFV - Serviços de Convivência e Fortalecimento de Vínculos

Secadi - Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão. Senarc - Secretaria Nacional de Renda de Cidadania

Sicon - Sistema de Gestão das Condicionalidades SP - São Paulo

SUS - Sistema Único de Saúde

UCB - Universidade Católica de Brasília UCSAL - Universidade Católica do Salvador UEG - Universidade Estadual de Goiás UnB - Universidade de Brasília

Unesco - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (United Nation Educational, Scientific and Cultural Organization)

Unicamp - Universidade Estadual de Campinas

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO... ... 17

CAPÍTULO 1 - CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO ... 19

1.1 PROBLEMA...19

1.2 RELEVÂNCIA DO TEMA...24

1.3 OBJETIVOS... ... 30

1.3.1 Geral... ... 30

1.3.2 Específicos ... ... 30

1.4 METODOLOGIA... ... 30

1.4.1 Abordagem qualitativa... ... 30

1.4.2 Método e Procedimento para a geração dos dados... ... 32

CAPÍTULO 2 - AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO CONTEXTO DA GLOBALIZAÇÃO NEOLIBERAL... ... 37

CAPÍTULO 3 - PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: POSSIBILIDADES E LIMITES DE SUPERAÇÃO DA POBREZA E PROMOÇÃO DA CIDADANIA ... 46

3.1 PBF: HISTÓRICO, ATORES, DESAFIOS E PERSPECTIVAS ... 46

3.2 O PBF ENQUANTO POLÍTICA DE ENFRENTAMENTO DA POBREZA ... 57

3.3 CIDADANIA: CONCEPÇÃO E DESAFIO DIANTE DAS POLÍTICAS SOCIAIS VINCULADAS À EDUCAÇÃO ... 62

3.4 A EDUCAÇÃO COMO POTENCIALIDADE PARA O DESENVOLVIMENTO SOCIAL... ... 66

CAPÍTULO 4 - AS JUVENTUDES E O ENSINO MÉDIO: DESAFIOS DA CONTEMPORANEIDADE... ... 74

4.1 JUVENTUDES: CONCEITOS E POTENCIALIDADES ... 74

4.2 ENSINO MÉDIO: DAS SUAS FINALIDADES AOS DESAFIOS DA POLÍTICA EDUCACIONAL BRASILEIRA ... 81

CAPÍTULO 5 - O CASO DE UMA POLÍTICA SOCIAL VINCULADA À EDUCAÇÃO: CONTEXTOS E ANÁLISES DE POLÍTICA PÚBLICA... . 89

5.1 AVALIAÇÃO E ANÁLISE DE POLÍTICAS SOCIAIS: RESULTADOS E IMPACTOS EM PROGRAMAS SOCIAIS... ... 99

5.2 CICLO DE POLÍTICAS: CONTEXTOS PARA ANÁLISE DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA... ... 105

5.3 ANÁLISE DE DISCURSO... ... 112

CAPÍTULO 6 – O IMPACTO EDUCACIONAL DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA: UM OLHAR A PARTIR DA ANÁLISE DE DISCURSO... . 117

6.1 COMPREENSÃO DOS DADOS A PARTIR DO PROTAGONISMO DOS ATORES EDUCACIONAIS...117

6.1.1 Caracterização do cenário e dos atores da pesquisa ... 117

6.1.2 Perfil dos estudantes do Centro de Ensino Médio pesquisado ... 122

6.1.3 Perfil dos estudantes beneficiários do PBF do 3º Ano do Ensino Médio da escola pesquisada... ... 126

(16)

6.3 CONTEXTO DA PRÁTICA: PERCEPÇÕES DOS EDUCADORES E ESTUDANTES

DO ENSINO MÉDIO ACERCA DO PROGRAMA BOLSA FAMÍLIA...144

6.3.1 A visão da direção, da Coordenação Pedagógica e de alguns educadores sobre o PBF... ... 145

6.3.2 O que pensam os estudantes do Ensino Médio sobre o PBF... ... 159

6.4 CONTEXTO DOS RESULTADOS E EFEITOS: IMPACTOS NA EDUCAÇÃO E CIDADANIA DOS ESTUDANTES DE ENSINO MÉDIO BENEFICIADOS ...166

6.5 CONTEXTO DA ESTRATÉGIA POLÍTICA DO BOLSA FAMILIA...174

6.6 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS... ... 178

6.7 QUESTÕES EMERGENTES DESTA PESQUISA PARA ESTUDOS FUTUROS...181

CONCLUSÃO... ... 184

REFERÊNCIAS... ... 188

APÊNDICE A – Roteiro para entrevista com os educadores ... 205

APÊNDICE B – Roteiro para entrevista com diretor(a) e vice-diretor(a) ... 206

APÊNDICE C – Roteiro para os Grupos Focais ... 207

APÊNDICE D – Questionário para ser preenchido pelos estudantes beneficiários do PBF da escola de ensino médio pesquisada... ... 208

APÊNDICE E – Roteiro para entrevista com estudantes beneficiários do PBF...210

APÊNDICE F – Termo de consentimento livre e esclarecido (modelo 1) ... 211

(17)

INTRODUÇÃO

A educação é uma das políticas públicas indispensáveis para o desenvolvimento da nação brasileira, no entanto, para que tenha impacto positivo na vida dos estudantes e na sociedade em geral, precisa estar articulada com outras políticas sociais. Além de socializar os conhecimentos científicos acumulados ao longo da história da humanidade e capacitar para o mercado de trabalho, a educação escolar deve, prioritariamente, preparar as pessoas para o exercício da cidadania. Ocorre que a educação pública tem encontrado dificuldades para cumprir de forma qualitativa a sua função social, o que limita o projeto da escola como espaço privilegiado de ressignificação da sociedade, de formação técnica, humana e política dos estudantes. Com a criação do Programa Bolsa Família (PBF) e a sua implementação ao longo da última década (BRASIL, 2004), houve um grande avanço na democratização do acesso à escola. Todavia, esse avanço não foi acompanhado da necessária qualidade para a promoção da aprendizagem e da cidadania numa perspectiva emancipatória.

O PBF foi desenvolvido pelo governo brasileiro para contribuir com a superação da exclusão social, especialmente de crianças e jovens empobrecidos, por meio da inclusão na escola pública. Para tanto, o programa proporciona uma renda mínima para as famílias para que não dependam do trabalho dos filhos para a sua sobrevivência. Enquanto condicionalidade principal, exige a frequência regular na escola pública para que o benefício seja mantido, visando a elevação do nível de educação da população, enquanto vetor de emancipação e desenvolvimento social (BRASIL, 2004).

Quando os primeiros programas sociais de distribuição condicionada de renda foram concebidos em Campinas-SP, Brasília-DF e Ribeirão Preto-SP, em 1995 (SOARES; SÁTYRO, 2013), entendeu-se que não era possível enfrentar o trabalho infantil somente pela proibição de sua prática, pois havia uma questão social1 envolvida que era decorrente da ausência de condições dignas de sobrevivência para uma parte considerável das famílias brasileiras que estavam vivendo em situação de vulnerabilidade social (pobreza e extrema pobreza).

Para Costa (2008), pobreza extrema refere-se à condição em que as famílias não conseguem nem ao menos ter acesso a meios básicos de subsistência. São vítimas da fome

1

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crônica, não conseguem acesso a tratamento de saúde, não desfrutam de água potável segura e sistema de saneamento básico, não possuem condições de custear os materiais escolares de seus filhos, e por vezes são desprovidos de condições elementares de moradia e até de vestuário. A pobreza moderada diz respeito às condições nas quais as necessidades básicas são supridas, embora com grande dificuldade. A pobreza relativa refere-se a uma renda familiar abaixo da média nacional.

O empobrecimento da população brasileira era causado especialmente pela desigualdade social que obrigava os jovens desse segmento da população a trabalhar para ajudar nas despesas de suas famílias, além da falta de acesso à educação e à saúde de qualidade, cultura, esporte, lazer, trabalho e emprego, entre outras políticas públicas. Nesse contexto, o acesso à educação revela-se como porta de entrada aos demais direitos, haja vista seu potencial em contribuir para que as pessoas se qualifiquem para conquistar melhores oportunidades de trabalho e, por conseguinte, de qualidade de vida.

Esta pesquisa analisa o impacto educacional do Programa Bolsa Família na promoção da cidadania de jovens de Ensino Médio do Distrito Federal. Para tanto, investiga a percepção dos gestores, professores e, especialmente, dos estudantes de um dos Centros de Ensino Médio (CEM), localizados na cidade de Planaltina-DF.

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CAPÍTULO 1 - CARACTERIZAÇÃO DO OBJETO DE ESTUDO

Uma pesquisa acerca do impacto educacional de uma política pública, como é o caso do Programa Bolsa Família, requer uma análise minuciosa sobre a complexidade que envolve as inter-relações possíveis entre política social e política educacional. O PBF é uma política social que tem por condicionalidade a sua vinculação com a educação. Por esse motivo, torna-se relevante a investigação de sua contribuição enquanto impacto educacional na vida e na cidadania dos estudantes beneficiários.

Neste capítulo são apresentados o problema, a justificativa e os objetivos (geral e específicos), com vistas a esclarecer a trajetória metodológica da pesquisa, problematizando o impacto educacional do Programa Bolsa Família na promoção da cidadania de jovens de uma escola pública de ensino médio do Distrito Federal.

1.1 PROBLEMA

O PBF foi desenvolvido para contribuir com o enfrentamento dos problemas sociais, particularmente a desigualdade social e a pobreza que afligem boa parte da população brasileira. No entanto, o alcance dos seus objetivos, em particular o desafio da promoção da cidadania, fica limitado se a política educacional não for priorizada em termos de alcance da formação humana, técnica e política dos estudantes, especialmente os mais vulneráveis socialmente.

A desigualdade social é um dos principais desafios a serem enfrentados pelo Estado brasileiro, haja vista a distância entre os poucos que têm muito e os tantos que têm quase nada, o que agrava a situação de pobreza de grande parte da população brasileira2. Esta situação poderia ser enfrentada com a adoção de “mecanismos robustos de ampliação da renda da coletividade por meio da expansão da produtividade, do emprego e da distribuição dos frutos do desenvolvimento” (BARBOSA, 2012, p. 18).

Para Duarte (2012), a pobreza pode ser analisada a partir de diferentes percepções. Pelo viés liberal, quando entendida como fruto de diferenças pessoais hierarquizantes, que

2

A desigualdade segue sendo um problema muito grave no Brasil. Disponível em:

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legitimam a coexistência das desigualdades sociais que fazem com que a pobreza seja vista como ausência de empreendimento e esforço pessoal. O viés moralista é fundamentado pelo preconceito ou juízo de valor reproduzido nas interpretações do senso comum que busca justificativas morais para a desigualdade. O técnico busca medir, somar, pesar, calcular e apresentar a pobreza à sociedade, e sobretudo, ao Estado. A perspectiva socialista parte do pressuposto que a pobreza é consequência de um problema social, decorrente das dinâmicas estruturais da sociedade, e não individual, como entendido pela perspectiva liberal. Esta pesquisa adota a concepção socialista de pobreza como viés de estudo e análise da problemática proposta.

As famílias beneficiárias do PBF fazem parte das camadas empobrecidas da sociedade brasileira decorrente das relações políticas e econômicas opressoras que negligenciaram historicamente os direitos sociais, especialmente o direito à educação de qualidade (GUIMARÃES-IOSIF, 2007). De acordo com a Constituição Brasileira em seu Art. 6º (BRASIL, 1988), a educação deve ser promovida para toda a população, pois pode contribuir para o acesso aos demais direitos, como, por exemplo, esporte, lazer, cultura, qualificação para o trabalho, dentre outros (BRASIL, 1988).

O Programa Bolsa Família (PBF) foi instituído pela Lei nº 10.836, de 9 de janeiro de 2004 (BRASIL, 2004), para contribuir com a eliminação do trabalho infantil e garantir a inclusão e permanência de crianças e jovens que estavam fora da escola. Com a universalização do acesso à escola pública em todo o território nacional, especialmente após a implementação do PBF3, buscou-se contribuir para o desenvolvimento das populações em situação de vulnerabilidade social, potencializando assim a sua qualificação para a conquista de melhores condições de vida. Porém, de modo geral, nem sempre é isso que ocorre, pois a escola ainda sofre com um alto índice de repetência e evasão4, haja vista que a

3No levantamento de dados realizado pelo Ministério da Educação (MEC), com apoio do Ministério do

Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), e divulgado no dia 13 de janeiro, constatou-se que em outubro e novembro de 2013 chegou a 95,9% o índice de estudantes da rede pública cuja família recebe o Bolsa Família que cumpriram a frequência escolar mínima, totalizando 16 milhões de estudantes. O PBF atende atualmente a 17,4 milhões de estudantes. Disponível em:

<http://memoria.ebc.com.br/agenciabrasil/noticia/2014-01-15/frequencia-escolar-e-cumprida-por-96-dos-estudantes-beneficiados-pelo-bolsa-familia>. Acesso em: 15 mar. 2014.

4Dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisa (Inep) mostram que a taxa de abandono escolar passa de

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universalização do acesso não foi acompanhada pela qualidade da educação, como se pretendia.

Demo (1990; 2001; 2007) discute a qualidade da educação a partir da dimensão formal (desempenho do educando, processos de aprendizagem, competência profissional do educador) e política (formação para a cidadania, autonomia e protagonismo dos educandos e dos educadores). A qualidade política da educação pode contribuir, na percepção do autor, com a superação da pobreza política da população, o que exige fomentar a condição de sujeitos protagonistas de sua própria história.

Para Guimarães-Iosif (2009, p. 33), “a qualidade política se relaciona com o desenvolvimento das habilidades de questionamento, autonomia, criticidade, pesquisa, inovação, emancipação e intervenção”, aspectos não muito evidenciados no contexto da educação pública brasileira, em grande parte voltada para a preparação dos educandos para as avaliações externas.

Acerca da realidade atual da educação pública, Sposati (2001, apud YANNOULAS, 2013) afirma que ultrapassada a barreira do acesso, a repetência e a evasão podem decorrer da falta de incentivos para permanecer na escola, principalmente pela distância da escola para a realidade pessoal e comunitária dos alunos dos setores populares, pelas péssimas condições das estruturas físicas, e pelos trabalhos domésticos ou remunerados que os alunos são obrigados a desenvolver fora da escola.

O PBF foi concebido enquanto política social vinculada à educação para contribuir com a promoção da cidadania dos jovens atendidos e de suas famílias. Diante do exposto, algumas questões se colocam no contexto da pesquisa: a) Como ocorreu o processo de elaboração e implementação do Programa Bolsa Família e qual o seu impacto na educação e cidadania dos alunos que se beneficiam dessa política social vinculada à educação pública? b) Como foi desenvolvido o Programa Bolsa Família, considerando os atores, beneficiários, financiamento e resposta às demandas sociais? c) Qual é o perfil, o que pensam sobre a política e qual a perspectiva de futuro dos jovens atendidos pelo Programa Bolsa Família? d) Quais são os avanços e limitações dessa política e em que ela precisa melhorar?

As questões citadas acima contribuíram para a formulação da questão problema que norteou o presente estudo: Qual é o impacto educacional do Programa Bolsa Família na promoção da cidadania de jovens de Escola Pública de Ensino Médio do Distrito Federal?

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limitação do acesso da criança, do adolescente e do jovem à educação. Todavia, necessita de uma interface mais consolidada com a política educacional e com seus atores para que possa ter um impacto mais efetivo na promoção da aprendizagem e da cidadania dos jovens beneficiários.

O Programa Bolsa Família, após 10 anos de existência, tem como desafio a melhoria do ensino5, pois além de promover a democratização do acesso à escola6, é indispensável a ressignificação dos processos de ensino e de aprendizagem, para que os jovens tenham uma educação de qualidade que favoreça a formação para a cidadania numa perspectiva emancipatória.

Embora os índices da educação básica tenham evoluído ao longo do tempo, ainda merecem grande atenção por parte da política educacional brasileira, em razão da taxa de evasão escolar ainda preocupante.

Tabela 1: Dados do Relatório de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) relativos à Educação

DADOS RELATIVOS À EDUCAÇÃO NO RELATÓRIO DE DESENVOLVIMENTO HUMANO DO PNUD DE 2013

País Posição no ranking

IDH População alfabetizada

População com pelo menos Ensino Médio

completo

Taxa de evasão escolar

Noruega 1º 0,955 100% 95,2% 0,5%

Austrália 2º 0,938 100% 92,2% Não informada

Estados Unidos 3º 0,937 100% 94,5% 6,9%

Holanda 4º 0,921 100% 88,9% Não informada

Alemanha 5º 0,920 100% 96,5% 4,4%

Chile 40º 0,819 98,6% 74% 2,6%

Argentina 45º 0,811 97,8% 56% 6,2%

Uruguai 51º 0,792 98,1% 49,8% 4,8%

México 61º 0,775 93,1% 53,9% 6%

Brasil 85º 0,730 90,3% 49,5% 24,3%

Fonte: Malik (2013).

Segundo Malik (2013), o Relatório de Desenvolvimento Humano 2013 mostra que apesar de ter avançado nas últimas duas décadas, o Brasil ainda tem um Índice de

5 Em dez anos de existência do programa, ainda faltam ferramentas suficientes para avaliar a qualidade do ensino

dos alunos beneficiários. Disponível em:

<http://www.todospelaeducacao.org.br/comunicacao-e-midia/educacao-na-midia/29273/apos-dez-anos-bolsa-familia-tem-desafio-de-melhorar-ensino/>. Acesso em: 20 fev. 2014.

6Os indicadores mostram que houve uma universalização da educação básica no país, com quase a totalidade das

crianças matriculadas. O percentual de crianças com 5 e 6 anos frequentando a escola, por exemplo, subiu de 37,3% (em 1991) para 91,1% (em 2010). Disponível em: <

(23)

Desenvolvimento Humano (IDH) menor que a média dos países da América Latina e Caribe. O país está na 85ª posição do ranking, que leva em conta a expectativa de vida, o acesso ao conhecimento e a renda per capita. O relatório aponta também uma taxa de evasão escolar de 24,3%, revelando assim uma das faces da desigualdade educacional ainda não superada após dez anos do PBF. Esse índice precisa ser estudado em maior profundidade para que soluções possam ser viabilizadas pelas políticas educacionais e pelas escolas públicas de um modo geral.

As pesquisas em torno do PBF estão focadas na ampliação do acesso e na frequência à escola, mas são poucos os estudos desenvolvidos no sentido de se perceber o impacto educacional na vida e na cidadania dos estudantes beneficiários na etapa final da educação básica.

Em relação aos anos finais do Ensino Fundamental (5º e 9º Anos), os dados ainda não têm revelado avanços em relação à proficiência, reprovação e taxa de distorção idade-série dos estudantes beneficiários do PBF, como pode ser observado na tabela abaixo:

Tabela 2: Dados referentes ao desempenho dos estudantes do PBF no 5º e 9º Anos em 2011

Programa Bolsa Família

5º Ano 9º Ano

Beneficiário Beneficiário

Sim Não Dif. Sim Não Dif.

Proficiência Média 3,29% 3,99% -0,63% 4,86% 5,30% -0,44% Reprovação em 2011 9,07% 5,49% 3,58% 8,63% 8,22% 0,42% Abandono em 2011 0,32% 0,27% 0,06% 0,49% 0,53% -0,04% Taxa de distorção idade-série 27,79% 17,30% 10,49% 21,78% 21,18% 0,60% Tamanho da Amostra 941.860 1.521.333 643.703 1.274.934

Fonte: Cireno, Silva e Proença (2014, p. 1).

Em relação aos estudantes beneficiários do Ensino Médio há uma diferença no desempenho em relação aos estudantes que não são atendidos pelo PBF. O impacto imediato ocorre nas taxas de abandono, que em 2011, enquanto a média de abandono no país era de 10,8%, essa taxa entre os alunos do Bolsa Família ficou em 7,2%. Além de não abandonarem a escola, os estudantes de Ensino Médio beneficiários do programa apresentam uma taxa de aprovação maior. Em 2011 a taxa de aprovação era de 75,2% no geral e para os alunos do programa foi de 79,9% (ESTADÃO, 2013)7. É preciso compreender em maior profundidade

7

(24)

esses dados em relação aos alunos do PBF por meio de estudos qualitativos, como é o caso deste estudo.

Esses dados confirmam a relevância deste estudo que investiga o impacto educacional do Bolsa Família na vida dos estudantes beneficiários de Ensino Médio de uma escola pública do DF, pois os efeitos dessa política na vida dos estudantes pode dizer muito do seu impacto em termos de promoção da cidadania e superação da desigualdade social e educacional.

1.2 RELEVÂNCIA DO TEMA

O interesse em pesquisar políticas sociais vinculadas à educação surgiu a partir da minha trajetória de vida pessoal em Brejinho, cidade onde nasci no interior de Pernambuco, permeada por dificuldades financeiras que fizeram a minha família migrar para o Distrito Federal na busca de melhores condições de vida. No período do meu ensino fundamental não havia políticas que dessem suporte aos estudantes empobrecidos para que pudessem estudar e não precisassem trabalhar, a exemplo do que ocorre na atualidade. A permanência e a conclusão no curso superior em Pedagogia somente foram possíveis graças ao acesso à bolsa social da Universidade Católica de Brasília - UCB (2003-2006). Até o meu ingresso na universidade havia somente o apoio do Financiamento Estudantil (Fies), que naquela época não tinha juros tão convidativos e exigia a figura do avalista.

As escolas públicas nas quais estudei tinham suas dificuldades, tais como o número insuficiente de professores para todos os componentes curriculares e estrutura física desgastada por falta de manutenção, mas conseguiam, em certa medida, promover uma educação que motivasse os estudantes a pensar sobre a sua história de vida e as perspectivas de futuro.

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Juventude8, que atua na gestão de políticas públicas de promoção dos direitos humanos, do qual sou um dos fundadores e atual presidente.

Outro fato relevante para a escolha deste objeto de pesquisa surgiu na graduação em Pedagogia, com habilitação em Gestão Educacional, ao pesquisar sobre o papel da gestão educacional no processo de transformação social. Na época constatei que a escola é uma instituição complexa, com pelo menos duas faces, uma predominantemente reprodutora (BOURDIEU; PASSERON, 1975), e outra marcadamente transformadora (FREIRE, 1983). A sua atuação pode levar à manutenção ou à transformação da ordem social estabelecida culturalmente.

O meu interesse nesse tema de pesquisa ficou ainda mais evidente ao cursar, como aluno especial do Mestrado em Educação da UCB, no ano de 2012, a disciplina “Educação, Cidadania e Políticas Públicas: desafios diante da diversidade, pobreza e direitos humanos”, ministrada pela Profa. Dra. Ranilce Guimarães-Iosif. Nessa disciplina tive contato com autores como José Murilo de Carvalho, Milton Santos, Roger Dale, Almerindo Afonso, Pedro Demo, Natália Duarte, entre outros, que me ajudaram a delimitar o problema investigado neste estudo.

A partir das experiências supracitadas, investiguei o impacto educacional do PBF na promoção da cidadania dos jovens beneficiários dessa política em uma escola pública de Ensino Médio do DF. A finalidade foi compreender em maior profundidade o que pensam os jovens estudantes e o que sugerem para que o Bolsa Família, em sua interface com a educação pública, contribua mais efetivamente na formação de jovens cidadãos e cidadãs conscientes do seu papel na sociedade.

São inúmeras as pesquisas na área das políticas sociais vinculadas à educação no Brasil, especialmente em relação ao PBF. Para refletir alguns objetivos e estratégias metodológicas utilizadas nessa área, foram selecionadas três pesquisas cujos autores são, respectivamente, Paiva (2012), Rego e Pinzani (2013) e Guimarães-Iosif (2007), para em seguida apontarmos em quais aspectos esta pesquisa pretendia diferenciar-se em relação aos supracitados.

Paiva (2012), em livro publicado a partir de pesquisa de doutorado sobre as “Contradições dos programas de transferência de renda no campo da educação”, buscou

8Maiores informações sobre essa Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) podem ser

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estabelecer os sentidos que as políticas de transferência de renda assumem quando vinculadas à educação e compreender o impacto dos programas de garantia de renda mínima sobre os processos excludentes que se materializam na esfera da escola pelos indicadores de evasão e repetência escolar e/ou abandono e reprovação.Para a autora, “Os programas de transferência de renda, no limite, podem mediar a implantação de novas práticas educacionais emancipatórias, se sustentadas numa gestão democrática” (p. 271). Para que isso ocorra, o planejamento, a execução e o acompanhamento das políticas públicas vinculadas à educação “[...] devem ser feitos a partir de uma sistemática que privilegie a participação e que possibilite relações democráticas” (p. 269).

Enquanto metodologia, Paiva (2012) utilizou o materialismo histórico dialético como método para a compreensão da realidade, na plenitude de suas determinações concretas e de sua evolução. Na fundamentação da opção metodológica, a autora cita Kosik (1976), que compreende o método dialético como método de investigação em três graus: a) minuciosa apropriação da matéria, pleno domínio do material, nele incluídos todos os detalhes históricos aplicáveis e disponíveis; b) análise de cada forma de desenvolvimento do próprio material; c) investigação da coerência interna, isto é, determinação da unidade das várias formas de desenvolvimento. A pesquisa investigou a percepção de gestores, professores e mães de estudantes de quatro escolas públicas de Ensino Fundamental I e IIde Planaltina – DF, sobre os sentidos do Programa Renda Minha, do Distrito Federal, enfocando uma das condicionalidades básicas que é a permanência na escola.

Rego e Pinzani (2013), na pesquisa “Vozes do Bolsa Família”, realizada ao longo de cinco anos (2006-2011), analisaram os efeitos políticos e morais do Bolsa Família sobre os beneficiários de várias regiões do Brasil (Alagoas, Vale do Jequitinhonha/MG, Piauí, Maranhão e Recife/PE), especialmente a conexão entre renda monetária e autonomia individual. Os pesquisadores averiguaram em que medida a nova renda e sua regularidade incidem sobre a vida cotidiana das famílias, em particular, das mulheres entrevistadas que recebem o Bolsa Família. Constataram, entre outros aspectos, a mudança nas relações de gênero, com a redução da carga de submissão feminina nas famílias beneficiárias.

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Guimarães-Iosif (2007), em sua tese de doutorado, na área de política social, investigou “a qualidade da educação na escola pública e o comprometimento da cidadania global emancipada: implicações para a situação de pobreza e desigualdade no Brasil”, analisando até que ponto a baixa qualidade da educação na escola pública de Ensino Fundamental compromete a cidadania da população marginalizada e contribui para o aprofundamento da pobreza e da desigualdade no Brasil. A autora não teve como foco de estudo o Programa Bolsa Família, mas, diante dos dados levantados, constatou que as políticas sociais vinculadas à educação, a exemplo do PBF, contribuem com a redução da desigualdade social, mas questiona até que ponto essas políticas “[...] promovem a cidadania emancipada da população mais pobre, levando-a a não depender mais delas no futuro” (GUIMARÃES-IOSIF, 2007, p. 93).

Assim, dedicou parte de sua tese à reflexão sobre a relação entre o PBF e outros programas sociais, a pobreza e a desigualdade no contexto da escola pública. Constatou que a ampliação do acesso e da permanência na escola pública sem o acesso ao “saber elaborado e ao conhecimento científico, fica mais difícil para essa parcela da população exigir seus direitos enquanto cidadãos e competir igualmente no mercado de trabalho [...]” (GUIMARÃES-IOSIF, 2007, p. 96). Foram protagonistas da pesquisa todos os professores de duas escolas públicas de Ensino Fundamental do Paranoá - DF.

Enquanto metodologia, Guimarães-Iosif (2009) utilizou os fundamentos da dialética histórico-estrutural na pesquisa qualitativa que, segundo Demo (2000a), parte das desigualdades sociais como conflito estrutural e reconhece a complexidade do ser humano e o seu limite em lidar e controlar a realidade. Aposta na crítica e na autocrítica que se renova e se fortalece por meio do questionamento acerca do conhecimento. Optou ainda pela hermenêutica de profundidade, cujas fases são descritas por Thompson (2002): a análise sócio-histórica, que busca refazer o percurso sócio-histórico no qual surge a forma simbólica que se quer interpretar; a análise formal ou discursiva, que pretende verificar a complexidade dos objetos e expressões daquilo que se apresenta com certa regularidade; a interpretação ou reinterpretação, que é a reconstrução que se faz a partir da análise, que procura alcançar o significado da informação e a mensagem que ela contém.

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desenvolvimento desta pesquisa, que investigou a percepção dos estudantes enquanto principais destinatários da condicionalidade educacional desta política social vinculada à educação.

A abordagem de análise do ciclo de políticas considera, para análise das políticas educacionais, cinco contextos: o contexto de influência (onde as políticas são iniciadas e os discursos políticos são construídos); o contexto da produção do texto (refere-se à análise do contexto no qual foram produzidos os textos legais, pronunciamentos oficiais, comentários formais ou informais sobre os textos oficiais que compõem a política); o contexto da prática (onde a política está sujeita à interpretação e recriação e onde produz efeitos e consequências que podem representar mudanças e transformações na política original); o contexto dos resultado ou efeitos (reflete questões de justiça, igualdade e liberdade, bem como o impacto das políticas em relação as desigualdades), e o contexto da estratégia política (possibilita a identificação de um conjunto de atividades sociais e políticas necessárias para lidar com as desigualdades criadas pela política investigada).

Esses contextos estão inter-relacionados [no interior da escola e das salas de aula, bem como no conteúdo e na vivência das políticas educacionais], não têm uma dimensão temporal ou sequencial e não são lineares. A análise se dá por meio das arenas, lugares e grupos de interesse em suas disputas e embates. Uma das vantagens dessa abordagem é a sua flexibilidade, uma vez que é apresentada como uma proposta de natureza aberta e como um instrumento heurístico (MAINARDES, 2006; BALL, 1994).

Um Centro de Ensino Médio de Planaltina-DF foi escolhido para a pesquisa, entre outros dessa mesma cidade, por ter o maior número de beneficiários do PBF matriculados no Ensino Médio do Distrito Federal em 2014, totalizando 232 estudantes9. Optou-se pelo Ensino Médio por ser a etapa final da educação básica e uma fase de transição em relação ao futuro marcada pela decisão ou não de enfrentar o Enem ou o vestibular e se preparar para o mercado de trabalho. É nessa fase da vida que alguns estudantes começam a refletir acerca da necessidade de liberdade e de autonomia financeira em relação à família.

Esta pesquisa teve como foco a percepção dos estudantes de Ensino Médio beneficiários do PBF de uma escola pública de Planaltina-DF sobre o impacto educacional dessa política na promoção da sua cidadania numa perspectiva emancipatória. Esse tema necessita de maiores estudos que considerem os jovens enquanto sujeitos de direito

9Dados obtidos do Sistema Presença do Ministério da Educação, pela Gerência de Projetos de Assistência ao

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(ABRAMO, 2005; BRASIL, 1990; 2013b), para além da categoria de apenas beneficiários ou assistidos por uma política social.

Ao pesquisar na base de dados Scielo e Banco de Teses e Dissertações da Coordenação deAperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), entre outras fontes, foi encontrada apenas uma dissertação de mestrado com temática semelhante a desta pesquisa. Couto (2012) investigou o “Desempenho educacional de alunos beneficiários do Programa Bolsa Família: um estudo em duas escolas públicas estaduais em Salvador-BA”. A amostra foi proveniente de duas escolas de Ensino Fundamental II do município de Salvador, em 2009, sendo uma com maior e outra com menor Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). A pesquisa concluiu que os estudantes beneficiários alcançaram 100% de aprovação em ambas as escolas. Essa problemática foi retomada nesta pesquisa, todavia, realizada no Distrito Federal e com jovens estudantes de uma escola pública de Ensino Médio.

No Brasil, a democratização do acesso à escola não foi simultaneamente acompanhada pela permanência e sucesso escolar. Esse fato é evidenciado pela incidência de evasão e repetência, que “[...] acaba por questionar o direito social à educação, perpetuando o entendimento da educação como mérito individual e não como direito social” (DUARTE, 2012, p. 26). É no contexto dessa realidade educacional que estão inseridos os jovens atendidos pelo PBF, pois a sua permanência na escola é uma das principais condicionalidades para a manutenção das famílias no programa. A relevância deste estudo está em investigar o impacto educacional do Bolsa Família na promoção da cidadania de jovens de escola pública de Ensino Médio do DF, bem como no desenvolvimento de uma trajetória de vida com maior dignidade, dimensão pouco investigada a partir dos estudantes beneficiários da referida política.

(30)

Esta temática deve ser melhor explorada para o desenvolvimento de outros olhares acerca do PBF, enquanto potencial emancipatório ou limitador da cidadania, na percepção principalmente dos estudantes, mas levando em consideração também o posicionamento crítico dos demais atores que fazem parte do processo educativo: diretores, professores e coordenadores pedagógicos.

1.3 OBJETIVOS

1.3.1 Objetivo Geral

Analisar o impacto educacional do Programa Bolsa Família na promoção da cidadania de jovens de escola pública de Ensino Médio do Distrito Federal.

1.3.2 Objetivos Específicos

 Analisar o contexto de influência e de produção do texto do Programa Bolsa Família, considerando os documentos norteadores e os atores envolvidos na concepção, financiamento e implementação da política.

 Investigar, no contexto da prática a percepção10 dos estudantes, professores, coordenadores pedagógicos e diretores de um Centro de Ensino Médio público do DF, o impacto da vinculação do Programa Bolsa Família com a política educacional na qualidade da educação e da cidadania dos jovens.

 Identificar a percepção dos jovens estudantes de um Centro de Ensino Médio do DF sobre os resultados e efeitos educacionais do Programa Bolsa Família na promoção da cidadania e do seu projeto de vida.

1.4 METODOLOGIA

1.4.1 Abordagem Qualitativa

Esta pesquisa caracteriza-se como um estudo de caso, pois tem como campo de investigação uma escola pública de ensino médio, na qual os dados coletados e analisados não podem ser generalizados para toda a Rede Pública de Ensino pública do DF, mas podem

10

Adotamos aqui o termo “percepção” como sinônimo de “compreensão”. Para Orlandi (1999), compreender é saber como um objeto simbólico ou política produz sentidos, bem como as interpretações funcionam. A compreensão procura a explicitação dos processos de significação presentes no texto e permite que se possam

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servir de ponto de partida para outras investigações que contribuam para uma avaliação mais ampla e a elaboração de propostas de aperfeiçoamento da política do Programa Bolsa Família a partir da percepção dos jovens beneficiários.

O estudo de caso é uma modalidade de pesquisa que permite o estudo aprofundado de um objeto para um amplo e detalhado conhecimento da realidade pesquisada. Atualmente é também encarado como o delineamento mais adequado para a investigação de um fenômeno contemporâneo dentro do seu contexto real (YIN, 2001; GIL, 2002).

Esta pesquisa foi desenvolvida na perspectiva empírico-qualitativa para a produção de dados que permitissem uma análise da realidade a ser investigada, bem como de seus protagonistas, principalmente os estudantes. Os dados quantitativos foram utilizados para o aprofundamento qualitativo da pesquisa.

A pesquisa teve como objetivo avaliar o impacto educacional do Programa Bolsa Família na cidadania de jovens de Ensino Médio do DF, por meio da abordagem de análise do ciclo de políticas propostas por Bowe, Ball e Gold (1992), Ball (1994) e Mainardes (2006), em seus diferentes contextos (de influência, de produção do texto, da prática, dos resultados e efeitos e da estratégia da política).

Segundo Demo (1995), a metodologia não aparece como solução propriamente, mas como expediente de questionamento criativo que permite uma aproximação mais segura do objeto da pesquisa. Nesse sentido, não pretendemos dar conta de toda a riqueza social e cultural da experiência pesquisada, mas sim, nos aproximarmos da realidade social para, em diálogo com ela, confirmar ou refutar nossas hipóteses acerca da temática proposta.

Dessa forma, podemos inferir que a concepção de políticas sociais, especialmente aquelas vinculadas à educação, inicialmente foram desenvolvidas para ser contraponto às políticas neoliberais. Parece-nos que uma não existiria sem a outra, como expressou muito bem Demo (1995), quando refletiu a convivência de forças contrárias, que se repelem e se necessitam. É nessa experiência tensa de democracia que o Programa Bolsa Família pode ou não – é uma questão de opção política – contribuir para a promoção da cidadania numa perspectiva emancipatória.

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Para Minayo (1994), na pesquisa qualitativa em ciências sociais o trabalho de campo se apresenta como possibilidade de aproximação com aquilo que desejamos conhecer e estudar, bem como de criar um conhecimento partindo da realidade presente no campo. Esse conhecimento pode expressar os efeitos (potencialidades ou limitações) de uma política a partir da escuta dos beneficiários e demais atores envolvidos na sua implementação.

Segundo Robson (1996), a pesquisa qualitativa busca entender fenômenos complexos, considerando múltiplas realidades vividas pelos próprios participantes e suas perspectivas. Nesse contexto, os ambientes naturais possibilitam descobrir como os participantes constroem o seu próprio significado acerca dos eventos ou situações. Para o autor, as fontes mais comuns de dados qualitativos incluem entrevistas, observações e documentos. Nesse sentido, o objetivo da análise de dados qualitativos é a descoberta de temas emergentes, padrões, conceitos, ideias e entendimentos.

Nesse contexto, Lüdke e André (2011) apresentam cinco características básicas da pesquisa qualitativa: a) tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o pesquisador como seu principal instrumento; b) os dados coletados são predominantemente descritivos; c) a preocupação com o processo é muito maior do que com o produto; d) o “significado” que as pessoas dão às coisas e à sua vida são focos de atenção especial pelo pesquisador; e) a análise de dados tende a seguir um processo indutivo.

Os estudos foram aprofundados por meio do confronto entre a realidade observada no cotidiano dos jovens estudantes atendidos pelo PBF e as teorias que permeiam as temáticas acerca da cidadania e das políticas públicas.

1.4.2 Método e procedimentos para a geração dos dados

O método utilizado nesta pesquisa é a Análise do Ciclo de Políticas (BOWE, BALL, GOLD, 1992; BALL, 1994; MAINARDES, 2006), cujos cinco contextos (1. de influência; 2. de produção do texto; 3. da prática; 4 dos resultados e efeitos; 5. da estratégia da política) estão fundamentados no capítulo 5, páginas 106 a 117, deste estudo.

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O contexto de influência (BOWE, BALL, GOLD, 1992; BALL, 1994; MAINARDES, 2006) na política do PBF foi investigado por meio de análise documental de Acordos de Cooperação Técnica entre o Banco Mundial e governo brasileiro, artigos, documentos do MDS, entre outros registros históricos sobre a política.

Segundo Richardson (2012), a análise documental consiste em uma série de operações que visam estudar um ou vários documentos para descobrir as circunstâncias sociais e econômicas com os quais podem estar relacionados. Tem como objetivo básico a determinação fiel dos fenômenos sociais e das ideias elaboradas a partir dos documentos.

Para Mainardes (2006), no contexto de influência são investigadas as influências e tendências globais/internacionais, nacionais e locais que contribuíram com a discussão da política, o discurso que foi constituído ao longo do tempo, bem como os atores e os grupos de interesse envolvidos.

A compreensão do contexto da produção do texto da política foi desenvolvida por meio da análise documental do processo legislativo que deu origem a Lei nº 10.836 que criou Programa Bolsa Família (BRASIL, 2004) e das discussões desenvolvidas na sociedade e no âmbito do Governo Federal. Nesse contexto, também foi investigado como se deu a passagem do Programa Bolsa Escola (2001a) para o Programa Bolsa Família, buscando perceber os avanços e os retrocessos dessa mudança. Os manuais de orientação do PBF do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), Ministério da Educação (MEC), Ministério da Saúde (MS), os decretos e demais documentos oficiais foram objetivo de estudo deste contexto.

De acordo com Mainardes (2006), são aspectos norteadores para a análise do contexto da produção do texto a identificação dos grupos de interesse representados no processo de produção do texto da política, os discursos predominantes e as ideias-chave do texto, as intenções, valores, propósitos, inconsistências, contradições e ambiguidades presentes no texto.

(34)

contexto, os impactos percebidos na prática cotidiana da escola podem ser diferentes daqueles concebidos inicialmente pelo discurso desenvolvido no contexto de influência.

Para Gaskell (2002), a entrevista qualitativa fornece dados básicos para o desenvolvimento e a compreensão das relações entre os atores sociais e a sua realidade. Tem como objetivo a compreensão detalhada de crenças, atitudes, valores e motivações, em relação aos comportamentos das pessoas em contextos sociais específicos. Para a elaboração de um bom roteiro de entrevista é necessário que o pesquisador tenha desenvolvido um referencial teórico ou conceitual que guiará a sua investigação e identificado os conceitos centrais e os temas que deverão ser vistos na pesquisa.

No contexto da prática foi investigado também, por meio de análise documental, como a política do PBF está presente na rotina pedagógica da escola (comunicados, relatórios de reuniões pedagógicas com professores e pais ou responsáveis dos estudantes, envio dos dados de comprovação da condicionalidade educacional do programa, entre outros aspectos).

Participaram desta etapa da pesquisa o diretor (a), vice-diretor (a), coordenador (as) pedagógico/a (s) e os professores de Matemática, Português e Filosofia. Essas áreas do conhecimento foram escolhidas por terem, entre outros componentes curriculares, o maior número de aulas no Ensino Médio, com exceção da Filosofia que, embora não tenha tantas aulas semanais, é uma disciplina importante para o desenvolvimento do pensamento crítico dos jovens.

Quadro 1: Quantidade de educadores entrevistados

Entrevistados(as)

Diretor(a) 1

Vice-Diretor(a) 1

Coordenadores(as) educacionais 2 Professores(as) de Matemática 2 Professores(as) de Português 2 Professores(as) de Filosofia 1 Total de pesquisados 9

Os roteiros das entrevistas semiestruturadas encontram-se nos Apêndices A e B deste estudo.

(35)

as dificuldades, opiniões e insatisfações sobre a política, bem como as principais dificuldades encontradas no contexto da prática.

O contexto dos resultados e efeitos foi investigado por meio dos discursos dos estudantes que são os protagonistas do PBF, no âmbito da condicionalidade educacional da política. Nesse contexto, os impactos educacionais do PBF foram evidenciados a partir dos discursos dos estudantes nos grupos focais e nos questionários.

Para a investigação deste contexto foram realizados dois grupos focais, sendo o primeiro com 8 (oito) estudantes do turno matutino e 10 (dez) do vespertino, todos do 3º Ano do Ensino Médio, assim como a aplicação de questionário para 49 estudantes, também do 3º Ano do Ensino Médio, e entrevista com 6 (seis) estudantes que participaram dos grupos focais. Foi realizada também uma análise dos relatórios de notas do 2º bimestre letivo de 2014, para a obtenção de informações sobre o rendimento dos beneficiários do PBF em relação aos demais.

Segundo Gatti (2005), o grupo focal é um conjunto de pessoas selecionadas e reunidas por pesquisadores para discutir e comentar um tema, que é objeto de pesquisa, a partir de sua experiência pessoal. O grupo é focalizado no sentido de que envolve algum tipo de atividade coletiva – como assistir a um filme e conversar sobre ele, examinar um texto sobre algum assunto, ou debater um conjunto particular de questões.

Para Richardson (2012), o questionário pode ser definido como um conjunto de perguntas sobre determinado tema que busca descrever as características e medir determinadas variáveis de um grupo social, como, por exemplo, a opinião e os interesses dos pesquisados.

Quadro 2: Modalidades de coleta de dados com os estudantes

Modalidades de coleta de dados com os

estudantes pesquisadas Nº pessoas Grupo Focal Turno Matutino 8 Grupo Focal – Turno Vespertino 10 Questionário para um grupo de estudantes 49 Entrevista com estudantes que participaram do

preenchimento do questionário

6

Total de pesquisados 73

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Segundo Mainardes (2006), para a análise do contexto dos resultados e efeitos deve se levar em consideração o impacto da política para os estudantes, as consequências inesperadas, a diferença e a semelhança entre os dados oficiais e o que foi observado no contexto da prática, bem como a verificação de até que ponto a política contribui para a elevação dos padrões de acesso, oportunidades e justiça social.

O contexto da estratégia política foi verificado a partir da análise dos demais contextos, especialmente do contexto da prática e dos resultados e efeitos. Esse contexto possibilitou a identificação de estratégias e atividades que possam contribuir com a superação das desigualdades identificadas na política, bem como para o debate e compreensão crítica da política.

Na análise deste último contexto, segundo Mainardes (2006), devem ser considerados os seguintes aspectos: identificação das desigualdades criadas ou reproduzidas pela política, possíveis estratégias gerais e específicas de superação das desigualdades, levantamento de estratégias apontadas pela literatura e indicações de aperfeiçoamento da política.

(37)

CAPÍTULO 2 - AS POLÍTICAS PÚBLICAS NO CONTEXTO DA GLOBALIZAÇÃO NEOLIBERAL

Na perspectiva de um Estado-nação, como é o caso do Brasil, não se pode refletir sobre as políticas públicas sem antes contextualizar como ocorre a influência dos organismos internacionais na sua concepção, elaboração e implementação que formula diretrizes locais determinadas e conduzidas por interesses globais, especialmente orientados pelas nações mais poderosas.

Esse fenômeno, conhecido como globalização ou internacionalização, teve sua origem desde o início do capitalismo enquanto sistema econômico predominante na maioria das nações do mundo, decorrente da articulação de processos produtivos situados no interior de fronteiras nacionais com outros implantados e desenvolvidos no exterior.

Para Bruno (1997, p. 16), “foi a partir da Segunda Guerra Mundial, com a maior integração entre os processos econômicos particulares e com a expansão das empresas multinacionais que a internacionalização do capital acelerou-se”.

Esse processo foi conduzido inicialmente por grandes empresas de capital estadunidense que estreitaram todo o mundo numa nova teia de relações.

Neste período, estas empresas se beneficiaram do papel preponderante dos Estados Unidos na reconstrução das economias europeias e japonesa devastadas pela guerra, assim como da divisão do mundo em dois grandes blocos, pois isto lhes permitiu fácil acesso aos vários territórios nacionais sob influência dos Estados Unidos, em nome da segurança contra o "comunismo". Ao mesmo tempo, atuaram como agentes de desenvolvimento local, legitimando a supremacia política dos Estados Unidos (BRUNO, 1997, p. 16).

(38)

Na atualidade, a ideologia da globalização neoliberal tem sido desenvolvida por meio da unificação dos países do mundo numa mesma agenda econômica, de certo modo imposta a estes pelo controle que um grupo limitado de países, também conhecido como ‘G-8’11, exerce sobre o mercado internacional. Esses países têm como instrumento para propagação de suas decisões a ONU (OLIVEIRA, 2013).

No âmbito da globalização vale ressaltar o conceito e o papel da governança que constitui um novo modelo de gestão pública defendido pelo pensamento e prática neoliberal,

[...] um modelo de regulação política na qual o Estado perde cada vez mais a sua centralidade em favor de parcerias com o setor privado e transforma-se em mediador destinado a efetuar um trabalho em rede. Trata-se, portanto, de um meio de regulação política ideologicamente conotada (AKKARI, 2011, p. 90).

A governança, partindo da definição geral do Banco Mundial, refere-se ao modo como a autoridade é exercida no gerenciamento dos recursos do país em direção ao desenvolvimento. Dessa forma, governance refere-se ao modus operandi das políticas governamentais que inclui, dentre outras, questões ligadas ao formato político-institucional dos processos de decisões, à definição do mix apropriado do público/privado nas políticas, à participação e descentralização, aos mecanismos de financiamento das políticas e ao alcance global dos programas (SANTOS, 1997).

Segundo Ball (2013), a governança é baseada em relações de rede dentro e por meio de novas comunidades políticas, destinadas a gerar nova capacidade de governar. É uma nova modalidade de poder público, agência e ação social e, na verdade, uma nova forma de Estado. Governança envolve uma catalisação de todos os setores – públicos, privados e voluntários – em ação para resolver problemas da comunidade. A governança é alcançada, na mudança de fronteira entre Estado e sociedade civil e entre Estado e a economia. Não significa um esvaziamento do Estado, mas a sua dependência de uma série atores políticos estatais e não estatais.

Segundo Afonso (2003), com o desenvolvimento da globalização houve também uma redefinição do papel do Estado.

Durante a vigência e expansão do Estado-providência, o contributo da educação visava sobretudo o processo de legitimação; na fase atual, a prioridade é direcionada ao processo de acumulação. O Estado atua agora

11

Imagem

Tabela 1: Dados do Relatório de Desenvolvimento Humano do Programa das Nações Unidas  para o Desenvolvimento (Pnud) relativos à Educação
Tabela 2: Dados referentes ao desempenho dos estudantes do PBF no 5º e 9º Anos em 2011
Figura 1: Mapa da Governança do Programa Bolsa Família
Tabela 3  –  Taxas de aprovação, reprovação e abandono no Ensino Médio público do DF
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Referências

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