PAULA FERNANDA DE MELO ROCHA
O PAPEL DA ESCOLA FRENTE AOS DESAFIOS DO SÉCULO
XXI: A OPINIÃO DE JOVENS ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO DO
DISTRITO FEDERAL
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação Stricto Sensu em
Educação, da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre na área de concentração Ensino-Aprendizagem.
Orientador: Professor Doutor Luiz Síveres
TERMO DE APROVAÇÃO
Dissertação de autoria de Paula Fernanda de Melo Rocha, intitulada “O papel da escola frente aos desafios do século XXI: a opinião de jovens estudantes do ensino médio do Distrito Federal”, requisito parcial para obtenção do grau de Mestre do programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação, defendida e aprovada em 19 de junho de 2007 pela banca examinadora constituída por:
____________________________________
Prof. Dr. Luiz Síveres Orientador
____________________________________
Prof. Dr. Cândido Alberto da Costa Gomes
____________________________________ Professora Dra. Najla Veloso Sampaio Barbosa
Brasília
A Deus, pela vida e pelas bênçãos.
Aos meus pais e à minha irmã, razões da minha vida, pelo amor, incentivo, companheirismo, força e tolerância.
AGRADECIMENTOS
Ao meu querido orientador, Professor Luiz Síveres, que, com paciência, sabedoria, serenidade e entusiasmo esteve presente e me incentivou em todos os momentos, tendo sempre a palavra certa na hora certa. Agradeço a ele as lições aprendidas pelo exemplo, muito mais significativas do que aquelas aprendidas pelas palavras.
À Luciana, minha amiga querida e de todos os momentos, agradeço muitíssimo por ter tornado essa caminhada mais leve e mais feliz.
À Professora Najla, presente de Deus na minha vida, agradeço pelos ensinamentos de amor à vida, pelo companheirismo e pelas lições de fé inabalável.
Ao Professor Cândido, exemplo de profissional e de pessoa, agradeço muito todo o conhecimento e sabedoria partilhados.
A todos os meus professores que sempre me apoiaram e oportunizaram que esta conquista fosse possível.
Aos diretores das escolas que me receberam com alegria e contribuíram para que esta pesquisa fosse possível.
Por fim, quero fazer um agradecimento especial aos jovens que se dispuseram a dar suas opiniões, renovando em mim a esperança de um mundo melhor.
Sofrer a tortura implacável Romper a incabível prisão Voar num limite improvável Tocar o inacessível chão
É minha lei É minha questão Virar esse mundo Cravar esse chão Não importa saber Se é terrível demais Quantas guerras terei que vencer Por um pouco de paz
E amanhã, se esse chão que eu beijei For meu leito e perdão Vou saber que valeu delirar e morrer de paixão
E assim, seja lá como for Vai ter fim a infinita aflição E o mundo vai ver uma flor Brotar do impossível chão
RESUMO
Este trabalho apresenta os resultados e a análise de uma pesquisa realizada com jovens estudantes do ensino médio de duas regiões administrativas do Distrito Federal. A pesquisa teve como principal objetivo investigar as opiniões desses jovens sobre o papel da escola frente aos desafios do século XXI. Além disso, buscou também caracterizar a juventude, identificar os desafios percebidos por eles e relacioná-los ao papel da escola, analisar a relação entre o papel desempenhado pelas escolas e seus anseios pessoais e profissionais, bem como propor, a partir dos apontamentos feitos, algumas iniciativas a serem tomadas pelas escolas. Trata-se de um estudo de caráter exploratório, cujos dados foram coletados a partir da aplicação de questionários e da realização de grupos focais. A análise foi feita quantitativa e qualitativamente, a fim de atender aos objetivos da pesquisa. Quanto aos resultados, é possível afirmar que os jovens têm muito a dizer e clamam para serem ouvidos; desejam intervir e contribuir com os rumos da educação desse século. Concluiu-se que abrir espaços para o diálogo e permitir que os jovens participem do planejamento e da execução das ações significa ampliar as possibilidades de práticas pedagógicas bem sucedidas, coerentes com os desejos e objetivos pessoais e profissionais dos principais atores desse processo: os estudantes. Por fim, este estudo também deixa claro que a escola do século XXI precisa vincular-se às novas tecnologias e aos meios de comunicação, bem como oportunizar a todos os indivíduos uma educação permanente, conectada ao mundo do trabalho e ao exercício de cidadania.
ABSTRACT
This study presents the results and the analysis of a research carried through with high school young students of two administrative regions in the Federal District. The research had as its main objective to investigate the opinions of these young students on the role of the school concerning the challenges of XXI century. Moreover, it also seeked to characterize youth, to identify the challenges perceived by them and to relate them with the role of the school, to analyze the relation between the role played by schools and their personal wishes, as well as to propose, from the notes made, some initiatives to be taken by schools. This is a study of exploratory character. The data had been collected from the application of questionnaires and the accomplishment of focal groups. The analysis was made quantitatively and qualitatively, in order to meet the objectives of the research. As far as the results are concerned, it is possible to say that young students have a lot say and claim to be heard; they desire to intervine and to contribute with the education routes of this century. The conclusion is that opening spaces for dialogue and allowing that young students take part in the planning and the execution of the actions means to extend the possibilities of successful pedagogical practices which are coherent with the desires and the personal and professional objectives of the main actors of these process: the students. Finally, this study also makes it clear that the school of XXI century needs to associate itself with new technologies and to the media, as well as to provide opportunities to all the individuals with permanent education, connected to the world of work and the exercise of citizenship.
SUMÁRIO
LISTA DE TABELAS ... 10
INTRODUÇÃO ...15
CAPÍTULO I – ELEMENTOS DA PESQUISA ... 20
1.1 – Problema... 20
1.2 – Justificativa ... 22
1.3 – Objetivos ... 26
1.3.1 – Objetivo Geral... 26
1.3.2 – Objetivos Específicos ... 27
CAPÍTULO II – REFERENCIAL METODOLÓGICO... 28
2.1 – Participantes ... 28
2.2 – Amostra, instrumentos e procedimentos... 31
2.3 – Análise dos dados...35
CAPÍTULO III – REVISÃO DA LITERATURA ... 37
3.1 – Juventude: uma tentativa de caracterização... 37
3.2 – Características e desafios do século XXI...43
3.3 – Escola e profissionalização... 47
3.4 – A juventude e a função social da escola no século XXI ... 57
CAPÍTULO IV – DESCRIÇÃO DOS DADOS ... 63
4.1 – Caracterização das escolas ... 63
4.2 – Identificação dos discentes ... 66
4.3 – Juventude, trabalho e escola ...73
4.5 – Percepção dos discentes sobre a importância dos locais e/ou instituições
que freqüenta... 84
4.6 – Percepções dos discentes sobre o futuro e as inseguranças da juventude ... 86
4.7 – Os desafios do século XXI segundo a opinião dos jovens... 89
4.8 – A escola e o dia-a-dia da juventude ... 97
4.9 – A escola na opinião dos jovens... 108
CAPÍTULO V – ANÁLISE DOS RESULTADOS ... 124
5.1 – Caracterização das escolas ... 124
5.2 – Identificação dos discentes ... 127
5.3 – Juventude, trabalho e escola ... 129
5.4 – Ocupação dos jovens fora do horário da escola ... 134
5.5 – Percepção dos discentes sobre a importância dos locais e/ou instituições que freqüenta... 137
5.6 – Percepções dos discentes sobre o futuro e as inseguranças da juventude... 139
5.7 – Os desafios do século XXI segundo a opinião dos jovens... 142
5.8 – A escola e o dia-a-dia da juventude ... 146
5.9 – A escola na opinião dos jovens... 151
CONCLUSÃO...157
REFERÊNCIAS... 160
APÊNDICES... 167
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO AOS JOVENS ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO ... 167
LISTA DE TABELAS
Tabela nº 1 – Renda domiciliar e per capita mensal, segundo as regiões administrativas
– Distrito Federal – 2004... 29
Tabela nº 2 – Distribuição dos jovens por sexo – escola pública ... 67
Tabela nº 3 – Distribuição dos jovens por faixa etária – escola pública ... 67
Tabela nº 4 – Distribuição dos jovens por local de moradia – escola pública ... 68
Tabela nº 5 – Percentual de jovens cujos pais ou responsáveis sabem ler ou escrever – escola pública ... 68
Tabela nº 6 – Condições de moradia dos jovens – escola pública... 69
Tabela nº 7 – Continuidade nos estudos – escola pública ... 70
Tabela nº 8 – Distribuição dos jovens por sexo – escola privada... 70
Tabela nº 9 – Distribuição dos jovens por faixa etária – escola privada... 71
Tabela nº 10 – Distribuição dos jovens por local de moradia – escola privada ... 71
Tabela nº 11 – Percentual de jovens cujos pais ou responsáveis sabem ler ou escrever – escola privada ... 72
Tabela nº 12 – Condições de moradia dos jovens – escola privada ... 72
Tabela nº 13 – Continuidade nos estudos – escola privada... 73
Tabela nº 15 – Renda dos jovens que trabalham – escola pública ... 74
Tabela nº 16 – Fatores importantes para conseguir emprego – escola pública ... 74
Tabela nº 17 – Características que a escola, nos dias de hoje, ajuda a desenvolver e/ou adquirir para conseguir emprego – escola pública ... 75
Tabela nº 18 – Percentual de jovens que trabalham e não trabalham – escola privada ... 76
Tabela nº 19 – Renda dos jovens que trabalham – escola privada... 76
Tabela nº 20 – Fatores importantes para conseguir emprego – escola privada... 77
Tabela nº 21 – Características que a escola, nos dias de hoje, ajuda a desenvolver e/ou adquirir para conseguir emprego – escola privada... 78
Tabela nº 22 – Percentual de jovens que exercem ou não, regularmente, alguma atividade fora do horário da escola – escola pública... 79
Tabela nº 23 – Atividades que os jovens realizam fora do horário da escola – escola pública ... 80
Tabela nº 24 – Ocupações dos jovens nas horas vagas – escola pública ... 80
Tabela nº 25 – Percentual de jovens que exercem ou não, regularmente, alguma atividade fora do horário da escola – escola privada ... 81
Tabela nº 26 – Atividades que os jovens realizam fora do horário da escola – escola privada ... 82
Tabela nº 28 – Importância das instituições e/ou locais freqüentados – escola pública ... 84
Tabela nº 29 – Importância das instituições e/ou locais freqüentados – escola privada... 85
Tabela nº 30 – Preocupações dos jovens sobre o futuro – escola pública... 86
Tabela nº 31 – Percepção dos jovens sobre o que produz insegurança em uma pessoa jovem – escola pública... 87
Tabela nº 32 – Preocupações dos jovens sobre o futuro – escola privada ... 88
Tabela nº 33 – Percepção dos jovens sobre o que produz insegurança em uma pessoa jovem – escola privada ... 89
Tabela nº 34 – Desafios do século XXI – escola pública... 90
Tabela nº 35 – Desafios do século XXI – escola privada ... 94
Tabela nº 36 – Os conteúdos da escola e o dia-a-dia dos jovens – escola pública...97
Tabela nº 37 – Para que serve a escola na opinião dos jovens – escola pública ... 99
Tabela nº 38 – A escola e o atendimento dos desejos e objetivos pessoais – escola pública ... 99
Tabela nº 39 – A escola e o atendimento dos desejos e objetivos profissionais – escola pública ... 100
Tabela nº 40 – Contribuições da escola para o exercício da cidadania – escola pública ... 102
Tabela nº 41 – Os conteúdos da escola e o dia-a-dia dos jovens – escola privada ...104
Tabela nº 43 – A escola e o atendimento dos desejos e objetivos pessoais – escola privada ... 105
Tabela nº 44 – A escola e o atendimento dos desejos e objetivos profissionais – escola privada... 106
Tabela nº 45 – Contribuições da escola para o exercício da cidadania – escola privada ... 107
Tabela nº 46 – Características de uma escola de qualidade segundo os jovens – escola pública ... 109
Tabela nº 47 – Mudanças na escola – escola pública... 110
Tabela nº 48 – Atividades feitas na escola segundo os jovens – escola pública .... 111
Tabela nº 49 – Importância da opinião na escola – escola pública ... 111
Tabela nº 50 – Participação dos jovens nas decisões da escola – escola pública...112
Tabela nº 51 – Existência de grêmio estudantil na escola – escola pública... 113
Tabela nº 52 – Participação dos jovens no grêmio estudantil da escola – escola pública ... 114
Tabela nº 53 – Sentimento de representação dos jovens pelo grêmio estudantil da escola – escola pública ... 114
Tabela nº 54 – Características de uma escola de qualidade segundo os jovens – escola privada... 115
Tabela nº 56 – Atividades feitas na escola segundo os jovens – escola privada .... 117
Tabela nº 57 – Importância da opinião na escola – escola privada... 118
Tabela nº 58 – Participação dos jovens nas decisões da escola – escola privada...119
Tabela nº 59 – Existência de grêmio estudantil na escola – escola privada ... 120
Tabela nº 60 – Participação dos jovens no grêmio estudantil da escola – escola privada ... 120
INTRODUÇÃO
O século XXI caracteriza-se, dentre outros fatores, pelo aumento na
expectativa e na qualidade de vida das pessoas; pelo crescimento acelerado dos
meios de comunicação à distância; pelo crescimento acentuado dos conhecimentos;
pelo aumento das interdependências entre países; pela automação; pelo
desenvolvimento do setor terciário; pela modificação da estrutura hierárquica das
empresas; etc. Nesse contexto, tomando como base os estudos de Braslavsky
(2005), uma educação de qualidade seria aquela que, essencialmente, permitisse
aos indivíduos beneficiarem-se, eqüitativamente, desse novo cenário, evitando o
fortalecimento e a proliferação de fatores negativos. No entanto, essa mesma autora
declara que os jovens parecem não possuir cinco características imprescindíveis
para usar esse novo cenário global em benefício próprio e dos outros:
a possibilidade de explicar sua própria vida e o mundo; a auto-estima e a auto-estima pelos outros; a possibilidade de realizar um projeto; o domínio das capacidades necessárias para concluí-lo; e estratégias para relacionar-se com os demais de maneira saudável (BRASLAVSKY, 2005, p. 18-19).
Sendo assim, são muitos os desafios para a educação desse século. Dentre
eles, é possível citar a necessidade de: desenvolver a tolerância para a construção
de uma cultura de paz, reconhecer as novas formas de aprendizado, valorizar os
trabalhos em equipe tendo como base os princípios solidários e o respeito às
diferenças, integrar a família e a comunidade à escola unindo forças em torno de
objetivos comuns, oferecer infra-estrutura capaz de atender às novas exigências
etc), proporcionar leitura crítica da realidade, encorajar ações transformadoras na
luta por uma sociedade mais justa e libertária para todos, contribuir com o fomento
da capacidade criativa na resolução dos problemas, entre outros. Tais desafios
estão diretamente relacionados à urgência em consolidar um novo homem para
atuar nessa sociedade caracterizada pela inovação e pela globalização,
imprimindo-lhe valores mais humanos, que visem o bem estar de todos. Nesse sentido, segundo
Blondel (2005, p. 17),
o desafio lançado aos cientistas, aos governos e aos povos do futuro pode ser resumido da seguinte maneira: depois de ter dedicado sua inteligência e sua energia para tirar partido dos recursos de seu meio ambiente e para dominar a natureza, o ser humano deve adquirir a sabedoria que permita utilizar esse poder de maneira benéfica e eqüitativa.
Ou seja, faz-se necessário articular a razão às questões éticas, voltadas para
o respeito à vida e à dignidade humana. É inegável reconhecer que a educação e,
especialmente as escolas, exercem um papel de destaque, pois podem contribuir
significativamente para a formação do cidadão consciente de sua realidade e sujeito
da sua história.
Para tanto, o primeiro passo é aceitar que o processo educativo deve
acontecer na diversidade e não para a diversidade. Quer dizer, o respeito às
diferenças e a tolerância são fatores basilares para a consolidação de uma cultura
de paz. Contudo, é preciso que o contexto seja educativo, pois, objetivando uma
ética racional, é preciso estabelecer diálogo, construir junto, acreditar que “um outro
mundo é possível”1.
Assim, a construção de um mundo melhor, mais justo, solidário e, quiçá,
libertário para todos requer o desafio da mudança, em que avanços tecnológicos e
científicos caminham lado a lado com os avanços sociais, atendendo às aspirações
humanas, sejam elas materiais ou sociais.
De acordo com Castells (2003, p. 568), estamos diante de uma sociedade
organizada em redes, isto é, composta por estruturas abertas que podem
expandir-se ilimitadamente, gerando, cada vez mais, novas conexões por meio da
comunicação com outras estruturas que possuem códigos comuns, acarretando, por
conseguinte, numa economia capitalista de concentração descentralizada, em que
“a tecnologia e a informação são ferramentas decisivas para a geração de lucros e
apropriação de fatias do mercado”. Assim, outro desafio diz respeito a uma profunda
transformação das relações sociais entre capital e trabalho, pois os trabalhadores
assumem uma identidade individual, cujo acesso ao know-how tecnológico torna-se
fator fundamental para produzir e se inserir no mercado.
Por isso, uma educação comprometida com a profissionalização precisa
garantir aos estudantes condições de acesso ao uso das tecnologias no interior da
escola e no período de sua formação acadêmica, oportunizando aos mesmos
acessar informações e produzir novos conhecimentos. Braslavsky (2005) reforça
essa idéia afirmando que já não é possível conceber uma educação de qualidade
afastada da variedade de materiais e recursos educativos, dentre eles a internet, a
televisão, os mapas, os museus, entre outros. Faz-se necessário também articular a
vida escolar à realidade da vida prática, estabelecendo um estreito vínculo entre o
sobrevivência e da dos outros, respeitando os princípios éticos e os limites da ação
humana.
Portanto, mudam-se também as relações com os saberes, inclusive os
saberes escolares, conforme aponta Goergen (2001, p. 85), ao afirmar que o homem
educado hoje não é mais aquele que acumula grande quantidade de informações,
“mas aquele que tem uma visão de totalidade que lhe permite uma leitura coerente
dos fatos e acontecimentos isolados”. Nessa perspectiva, a escola não pode ser
reduzida à instituição transmissora de informações, ela precisa educar, e isso
significa ajudar a construir um quadro referencial que permita ao sujeito “situar-se ao
agir no mundo”.
Nessa perspectiva, faz-se necessário envidar esforços em direção a uma
formação integral, ética, crítica e democrática, pois, conforme afirma Papadopoulos
(2005, p. 20),
no mundo inteiro, a educação suscita um interesse crescente (...) ela é considerada, sucessivamente, como a chave da prosperidade econômica e futura, como o instrumento privilegiado da luta contra o desemprego, como o motor do progresso científico e tecnológico, como a condição sine quan non da vitalidade cultural das sociedades cada vez mais orientadas para o lazer, como ponta de lança do progresso social e da igualdade, como a garantia de preservação dos valores democráticos, ou como o passaporte para o êxito individual.
Então, considerando que a educação desperta interesse em todas as nações
do mundo por representar a mola propulsora do desenvolvimento social e econômico
– de maneira a consolidar sociedades mais justas e eqüitativas –, cabe perguntar:
qual deveria ser o papel da escola? São muitos os estudos que apontam para a
regras, sua gestão etc. E a juventude? O que pensa sobre isso? O que sugere?
Uma escola de sucesso é aquela que consegue aprovar a maior quantidade de
alunos nos processos seletivos de acesso à educação superior? Que obtêm as
melhores notas nos exames institucionais e nacionais? Para os jovens, o que é
qualidade na educação? Estas questões servem para ajudar a refletir a respeito do
que a juventude pensa sobre o papel que a escola deve desempenhar frente aos
CAPÍTULO I
ELEMENTOS DA PESQUISA
1.1 – O Problema
Os jovens representam hoje quase 25% da população brasileira2 e são as maiores vítimas do tipo de desenvolvimento econômico e social do nosso país, onde
crescem: a exclusão, a violência, o individualismo, a competitividade, a desigualdade
social, entre muitos outros fatores que marcam o início desse século. Ao mesmo
tempo, a sociedade deposita neles a esperança de encontrar novos horizontes,
cujas bases da nossa sobrevivência sejam consolidadas a partir de valores mais
éticos do que aqueles que têm predominado em nossa sociedade até os dias de
hoje.
Nesse sentido, considerando que os jovens são os mais aptos e predispostos
às mudanças (tendo em vista que são capazes de assimilar com mais naturalidade
as novas tecnologias que modificam o sistema de produção e informação do país),
eles se tornam agentes privilegiados na possibilidade de construir e consolidar um
novo desenvolvimento econômico e social, com bases mais sustentáveis e
eqüitativas. Mas, para isso, é preciso, conforme aponta a tendência mundial, envidar
esforços na elevação da escolaridade em todos os níveis de ensino, uma vez que se
faz necessário um preparo cada vez maior para as mudanças, que se tornam mais
rápidas e freqüentes com o passar do tempo.
Portanto, ao pensar no papel esperado pela sociedade para ser
desempenhado pelos jovens e na necessidade de elevação da escolaridade para
tanto, cabe perguntar qual seria também o papel a ser desempenhado pelas escolas
frente aos desafios que se apresentam no século XXI. Existem muitas expectativas
em torno da escola, vez que, conforme indica a Constituição Brasileira (Artigo 205) e
a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei nº 9.394/96, Artigo 2º), a
educação deve ter como finalidade o pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo
para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. É claro que a
responsabilidade pela educação não é apenas da escola, mas são nas instituições
educativas que a maioria das pessoas, principalmente das classes menos
favorecidas economicamente, depositam suas aspirações de formação humana,
cidadã e profissional. Além disso, é na escola que as pessoas esperam encontrar o
melhor suporte para enfrentar os desafios deste século e adquirir as bases para
construir um mundo diferente, melhor do que aquele que temos hoje.
Sendo assim, os jovens, já que são vistos como os principais protagonistas do
processo, precisam ser convidados a pensar junto para apontar caminhos que
possam atender suas expectativas, necessidades e aspirações de um futuro melhor
para todos.
Diante disso, considerando valiosas as contribuições que os jovens têm a
oferecer no levantamento das bases de uma nova educação, voltada para os novos
horizontes há muito aspirados, este estudo tem como problema de pesquisa saber a
1.2 – Justificativa
A sociedade contemporânea tem sido cada vez mais identificada como uma
“sociedade do conhecimento”, isto é, uma sociedade em que a sobrevivência digna
está intimamente relacionada à capacidade dos indivíduos de aprender, adaptar-se
às mudanças provocadas pela tecnologia, flexibilizar saberes, exercitar a
criatividade, inovar, construir e desconstruir conhecimentos, adquirir competências
comunicacionais e engajar-se na consolidação de um desenvolvimento sustentável.
Na mesma direção, o relatório da Comissão Internacional sobre Educação
para o Século XXI apresenta quatro pontos basilares da nova educação: aprender a
ser, aprender a conhecer, aprender a fazer e aprender a conviver (DELORS et al.,
2004), que devem se manter interligados, visto que são interdependentes.
O primeiro pilar, aprender a ser, traz à tona o direito e a necessidade de cada
indivíduo pensar autonomamente e criticamente sua realidade e a realidade do
mundo que o cerca e, a partir disso, poder agir de forma responsável, justa e
solidária, de acordo com seus próprios valores e ideais. Para tanto, a escola, como
determina nossa Constituição (Artigo 205), precisa voltar-se, antes de qualquer
coisa, para o pleno desenvolvimento da pessoa, rompendo com os princípios de
uma educação pragmatista e utilitarista e assumindo como finalidade primeira a
formação de pessoas conscientes e agentes da sua história. Para tanto, é
necessário que cada um tenha liberdade para pensar e expressar seus
O segundo pilar, aprender a conhecer, refere-se a muito mais do que
simplesmente adquirir conhecimentos, pois diz respeito também à necessidade de
aprender a aprender, ou seja, ser capaz de selecionar, sintetizar e manipular as
informações, sabendo onde encontrá-las e como acessá-las. Ao considerarmos que
os conhecimentos são múltiplos e que a quantidade de informação é imensurável,
ter domínio sobre as diferentes metodologias de aquisição do conhecimento significa
estar coerente com as demandas do mundo contemporâneo, que exige,
simultaneamente, indivíduos com uma cultura geral sobre vários assuntos e
especialistas em alguns desses. Além disso, aprender a conhecer é o pilar que
oferece às bases para uma educação permanente.
O terceiro pilar, aprender a fazer, diz respeito à capacidade técnica que o
indivíduo precisa adquirir, isto é, ao domínio dos instrumentos necessários à
resolução de problemas, sendo capaz de aplicar seus conhecimentos na vida diária
e no exercício profissional. Este pilar supõe o desenvolvimento de algumas
habilidades que precisam estar no centro dos objetivos educacionais, tais como: a
capacidade de trabalhar em equipe, ter iniciativa e saber fazer várias coisas (às
vezes, de múltiplas formas), migrando rapidamente e competentemente de uma
função a outra.
Por fim, o quarto e último pilar, aprender a conviver, se refere ao direito de
cada um existir e ser diferente, ter sua própria identidade – pré-condição para uma
cultura de paz, isto é, que respeita a vida em suas diversas formas e manifestações
e que concebe a diferença como inerente e fundamental para a riqueza da
existência humana. No contexto educacional, as diferenças, mais do que ensinadas,
se constitui e se alimenta das intensas relações que estabelece, transformando-se e
construindo-se histórica e socialmente. Portanto, superando a marginalização dos
indivíduos – seja por questões de classe, sexo, raça, credo, capacidade física,
sensorial ou intelectual – a escola pode ser um importante espaço de defesa e
respeito à diversidade humana.
Diante disso, pergunta-se: existe convergência entre os desafios apontados
por pesquisadores e estudiosos da educação e as expectativas da juventude? O que
a juventude espera da escola diante desse contexto tão complexo? Por que ouvir a
juventude? A juventude, ao dar a sua opinião, pode mudar a escola? A escola,
segundo a opinião dos jovens, está aberta às mudanças requeridas?
Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios – PNAD 2004
(Brasil, 2004), aproximadamente 25% da população brasileira atual compõe-se de
pessoas entre 15 e 24 anos de idade3. Por conseguinte, os jovens não apenas representam o segmento mais numeroso, mas são também aqueles que, no futuro
mais próximo, constituirão a população economicamente ativa, decidindo os rumos
políticos, sociais, culturais e econômicos do país. Portanto, não é possível afirmar
que a juventude, ao dar sua opinião, pode mudar a escola, mas é possível dizer que
ela pode contribuir significativamente para os rumos da educação. É preciso
conhecer suas expectativas e seus ideais. Ouvir a juventude é oportunizar que eles
participem, num processo co-responsável, da construção da sociedade e do
processo educacional.
Nessa perspectiva, parte-se do pressuposto que, além de dar voz à
juventude, é preciso dar-lhes também a chance de intervir, efetivamente, na vida
social, política, cultural e ambiental do país, de maneira a consolidarem práticas
diferentes e coerentes com os ideais que defendem e acreditam.
Diversos estudos (WERTHEIN, 1999; UNESCO, 2003; BRASIL, 2005) já
foram feitos no intuito de identificar e analisar os muitos aspectos que apontam para
a insatisfação de pais, professores e gestores com a escola. Entretanto, a maioria
deixa de ouvir os protagonistas do processo: os estudantes, mantendo-se numa
discussão periférica, pois investigam os aspectos da insatisfação e esquecem-se de
compreender a real origem desses aspectos. Exemplo disso é o trabalho de Oliveira
e Schwartzman (2002, p. 5) realizado em 148 escolas de 51 municípios brasileiros,
com 2.289 professores, 1.380 pais e nenhum estudante. O principal objetivo era
avaliar a “escola sob todas as perspectivas: vista de fora, por dentro, de dentro para
fora e de fora para dentro”. Segundo essa pesquisa, as escolas brasileiras não
atendem às expectativas e às necessidades da população, ora por causa do
sucateamento das instalações, ora por causa da má qualificação dos profissionais,
ora por falta de material, ora por todos esses fatores juntos, entre outros motivos.
Então, sabendo que ainda são tímidos os estudos que enfocam a educação a
partir do olhar da juventude, o presente trabalho de pesquisa justifica-se pela
necessidade de investigar como a juventude relaciona a vida escolar e os desafios
postos para a educação no século XXI. Em primeiro lugar, caberá perguntar: quais
anseios pessoais e profissionais? Precisa mudar? Por quê? Para quê? Como? Qual
tem sido a participação das instituições escolares na constituição da cidadania? Qual
a relação percebida pelos jovens entre os conteúdos escolares e a vida cotidiana?
Segundo os jovens, as habilidades e competências priorizadas no currículo escolar
têm sido úteis para o enfrentamento dos desafios da vida? Existe participação nas
decisões escolares? Essa participação é valorizada? As práticas pedagógicas são
adequadas às necessidades pessoais e sociais dos jovens? Como seria a escola
que se aproximaria de um modelo ideal para a juventude?
Por fim, é importante salientar que, apesar dos muitos desafios elencados até
aqui, estes servem apenas como base teórica, na tentativa de contextualizar este
estudo e a educação frente ao novo cenário. Reforça-se que o principal intuito é
conhecer e analisar os desafios apontados pelos jovens, relacionando-os às suas
opiniões a respeito do papel que a escola desempenha e deveria desempenhar para
ser bem sucedida na finalidade que se propõe: formar cidadãos livres, críticos,
criativos, solidários, autônomos e qualificados para o mercado de trabalho.
1.3 – Objetivos
1.3.1 – Objetivo Geral
1.3.2 – Objetivos Específicos
• Caracterizar o perfil de jovens estudantes do ensino médio do Distrito Federal;
• Identificar os principais desafios do século XXI segundo jovens estudantes do ensino médio do Distrito Federal;
• Identificar a opinião de jovens estudantes do ensino médio do Distrito Federal sobre o papel da escola diante dos desafios apontados.
• Analisar a relação percebida pelos jovens entre o papel desempenhado por suas escolas e seus anseios pessoais e profissionais
CAPÍTULO II
REFERENCIAL METODOLÓGICO
Tendo em vista que o principal objetivo deste estudo é investigar a opinião de
jovens estudantes do ensino médio do Distrito Federal a respeito do papel da escola
frente aos desafios do século XXI, este trabalho pode ser caracterizado como uma
pesquisa de caráter exploratório, vez que buscou ampliar os conhecimentos sobre o
assunto, aprimorar idéias e propor encaminhamentos pertinentes.
2.1 – Participantes
Tomando como objetivo basilar da metodologia atender a diversidade
sócio-econômica do Distrito Federal, essa pesquisa consistiu na aplicação de
questionários4 e na formação de grupos focais5 com jovens estudantes do ensino médio de uma escola pública da região administrativa com a menor renda domiciliar
e per capita mensal e de uma escola privada da região administrativa com a maior
renda domiciliar e per capita mensal.
Segundo a Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios – PDAD 2004
(GOVERNO DO DISTRITO FEDERAL, 2004) são 27 regiões administrativas no
Distrito Federal6, entretanto, nem todas as regiões administrativas possuem escolas
4
Apêndice A – Questionário para jovens estudantes do ensino médio.
5 Apêndice B – Roteiro de grupo focal para jovens estudantes do ensino médio.
públicas de ensino médio, tais como Águas Claras, Sudoeste/Octogonal, Varjão,
Park Way, Estrutural e Itapoã. Da mesma forma, nem todas as regiões
administrativas possuem escolas privadas de ensino médio, tais como Sobradinho II,
Paranoá, Riacho Fundo II, São Sebastião, Candangolândia, Varjão, Park Way,
Estrutural e Itapoã. Com relação às rendas domiciliar e per capita mensal, a
Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios – PDAD 2004 indica:
Tabela 1: Rendas domiciliar e per capita mensal, segundo as regiões administrativas
– Distrito Federal – 2004.
Renda Domiciliar Mensal Renda Per Capita Mensal Distrito Federal e
Regiões Administrativas
Valores Absolutos (R$1,00)
Valores em Salários Mínimos
Valores Absolutos (R$1,00)
Valore sem Salários Mínimos
Brasília 5.026 19,3 1,770 6,8
Gama 1.558 6,0 404 1,6
Taguatinga 2.493 9,6 661 2,5
Brazlândia 885 3,4 219 0,8
Sobradinho 2.401 9,2 623 2,4
Planaltina 825 3,2 200 0,8
Paranoá 1.361 5,2 316 1,2
Núcleo Bandeirante 2.157 8,3 629 2,4
Ceilândia 1.211 4,7 323 1,2
Guará 3.186 12,3 852 3,3
Cruzeiro 3.155 12,1 807 3,1
Samambaia 1.039 4,0 254 1,0
Santa Maria 962 3,7 244 0,9
São Sebastião 1.362 5,2 360 1,4
Recanto das Emas 1.013 3,9 239 0,9
Lago Sul 11.276 43,4 2.798 10,8
Riacho Fundo 1.535 5,9 386 1,5
Lago Norte 8.922 34,3 2.023 7,8
Candangolândia 2.150 8,3 577 2,2
Águas Claras 3.219 12,4 863 3,3
Riacho Fundo II 845 3,3 237 0,9
Sudoeste/Octogonal 6.276 24,1 2.226 8,6
Varjão 728 2,8 214 0,8
Par Way 5.092 19,6 1.273 4,9
Estrutural 499 1,9 115 0,4
Sobradinho II 1.698 6,5 438 1,7
Itapoá 403 1,6 102 0,4
Sendo assim, a PDAD (2004) apontou que, dentre as regiões administrativas
que possuem escolas públicas de ensino médio, a que possui a menor renda
domiciliar e per capita mensal é Planaltina e, dentre as regiões administrativas que
possuem escolas privadas de ensino médio, a que possui a maior renda domiciliar e
per capita mensal é o Lago Sul. Portanto, considerando os critérios já estabelecidos,
participaram da pesquisa uma escola pública da região administrativa de Planaltina e
uma escola privada da região administrativa do Lago Sul.
A escolha das escolas foi aleatória, ou seja, por sorteio, a partir do banco de
dados da Secretaria de Estado da Educação do Distrito Federal. Da mesma forma,
os estudantes que responderam à pesquisa foram selecionados ao acaso, sendo os
mesmos das diversas séries e turmas do ensino médio. Cabe salientar que se
buscou, dentro do possível, a paridade de gênero dos participantes, a fim de garantir
que as respostas não tivessem, necessariamente, nenhuma ligação com o gênero,
vez que não é objetivo dessa pesquisa estabelecer relação entre as respostas
obtidas e o gênero dos participantes7.
Com relação ao aspecto da aleatoriedade na designação dos sujeitos, é
importante destacar que este fator diz respeito à casualização, entendida como a
denominação de objetos de um universo para subconjuntos desse universo, no
intuito de garantir que todos os sujeitos possuam a mesma probabilidade de serem
escolhidos para representar o todo no subconjunto determinado. Na verdade, não há
uma garantia total de que isso aconteça, mas existe uma probabilidade matemática
7
relativamente alta e que valida esse tipo de procedimento. Nesse sentido, o uso da
casualização permite ao pesquisador fazer inferências a partir dos resultados
alcançados e, com isso, chegar a conclusões sobre teorias e hipóteses
(KERLINGER, 1979).
2.2 – Amostra, instrumentos e procedimentos
Tendo como base a Amostragem Aleatória Estratificada8, foram aplicados questionários compostos de questões fechadas e algumas abertas a um grupo de
pelo menos 10% dos estudantes do ensino médio de cada escola participante, com
a finalidade de retratar, segundo a opinião desses jovens, o papel da escola frente
aos desafios do século XXI.
O questionário foi elaborado pela própria pesquisadora, tomando como base
a literatura pertinente sobre o assunto e também a pesquisa realizada pelo Instituto
Cidadania em 2004, sublinhando que esta última se caracteriza como a mais atual e
completa investigação feita com jovens no Brasil. A fim de utilizar um instrumento
adaptado à realidade estudada e, principalmente, aos objetivos da pesquisa, foi feito
um pré-teste em uma escola da região administrativa de Taguatinga com 20 alunos
matriculados regularmente nas diferentes séries do ensino médio. A partir de então,
foram feitos pequenos ajustes, principalmente no que se referia à clareza dos
enunciados das questões.
Cabe destacar que, conforme apontado no projeto dessa pesquisa, nenhuma
escola deveria ser representada por menos de 20 alunos das diferentes séries do
ensino médio, por isso, apesar da escola privada possuir apenas 192 alunos nas
três séries do ensino médio, a mesma está representada nessa pesquisa por 22
respondentes.
De acordo com Chagas (2000), o questionário é um conjunto de questões
elaboradas no intuito de gerar dados capazes de alcançar os objetivos de um
projeto. Günther (1999) afirma que o questionário é o principal instrumento para o
levantamento de dados por amostragem, sublinhando que as questões não visam
testar a habilidade do respondente e sim identificar a opinião, interesses, aspectos
da personalidade, entre outros fatores.
São muitas as vantagens do uso de questionários, dentre elas vale destacar
que: a) pode ser aplicado a um grande número de pessoas ao mesmo tempo; b)
pode ser enviados pelo correio; c) pode abranger uma área bastante ampla; d)
possui uma natureza impessoal que contribui para a uniformidade na mensuração
dos dados; e) há uma maior confiança dos respondentes com relação ao anonimato,
o que, às vezes (dependendo da situação), pode ajudar às pessoas a exprimir mais
livremente suas verdadeiras opiniões; f) existe uma menor pressão no que diz
respeito à necessidade de respostas imediatas, uma vez que, em geral, o
respondente possui um tempo maior para responder o questionário; g) costuma ser
mais baratos que a maioria dos outros métodos de coleta de dados; h) pode produzir
resultados rapidamente (SELLTIZ et al., 1972).
Da mesma forma, existem algumas desvantagens que precisam ser
grau de escolarização, principalmente nas questões abertas, onde as respostas,
além de serem interpretadas, precisam ser escritas; b) há um retorno relativamente
baixo, vez que varia de 10% a 50% a devolução dos questionários distribuídos; c) as
respostas podem não ser tratadas pelo participante de maneira séria; d) existe, na
maioria dos casos, um descompasso ente as opiniões e o comportamento das
pessoas, e o questionário não permite esse tipo de percepção e avaliação (SELLTIZ
et al., 1972).
Buscando minimizar as desvantagens listadas acima, todos os questionários
foram aplicados aos grupos de estudantes pela própria pesquisadora, permitindo
que os participantes entendessem os objetivos e a relevância da pesquisa,
esclarecessem dúvidas e/ou ressaltassem algum dado que julgassem importantes.
Tal procedimento também facilitou o retorno dos questionários, pois os mesmos
foram recolhidos logo que terminado o preenchimento. Além disso, foi feito um
pré-teste, objetivando verificar e corrigir possíveis falhas no instrumento elaborado.
A segunda parte da coleta de dados consistiu na formação de dois grupos
focais (um por escola) com 9 estudantes cada (3 alunos do 1º ano do ensino médio,
3 alunos do 2º ano do ensino médio e 3 alunos do 3º ano do ensino médio). Estes
grupos foram formados por alunos das mesmas escolas participantes a partir de
jovens que demonstraram interesse em participar. Destaca-se que o roteiro para
subsidiar esses grupos foi construído a partir dos primeiros resultados obtidos com
os questionários, permitindo assim, aprofundar aquilo que se fez mais relevante na
pesquisa.
O grupo focal, segundo os estudos de Gaskell (2002), faz parte da pesquisa
respondente (entrevista em profundidade) ou com um grupo de respondentes
(entrevistas de grupo focal).
É possível distinguir duas estruturas na elaboração das entrevistas. A primeira
diz respeito às perguntas estruturadas, com questões pré-determinadas em um
roteiro. A segunda forma se refere à conversação continuada, onde o mais
importante é absorver o conhecimento local e cultural.
O grupo focal é selecionado de acordo com características comuns entre as
pessoas e as principais vantagens são: a) promove o debate e permite conhecer os
fatores críticos de determinada problemática; b) traz à tona as opiniões dos
participantes, a fim de entender melhor os “porquês” e os “comos” dos
comportamentos sociais; c) permite observar o comportamento não verbal dos
participantes; e d) permite coletar, com profundidade, grande quantidade de dados
qualitativos (GATTI, 2005).
Nesse sentido, é possível apontar também algumas limitações deste tipo de
método. Dentre elas, Gatti (2005) ressalta: a) não é possível generalizar as
respostas para toda a sociedade devido ao número de entrevistas que podem ser
realizadas; b) pode acontecer de existir uma opinião dominante que influencia as
respostas de alguns membros do grupo; c) é possível que existam problemas dentro
do grupo difíceis de serem mediados pelo moderador.
Contudo, apesar das limitações indicadas, esse procedimento tornou-se
recomendável para aprofundar algumas questões, principalmente porque permitiu
investigar melhor a opinião dos jovens a respeito do problema de pesquisa,
2.3 – Análise dos dados
A análise dos dados foi feita de forma quantitativa e qualitativa, a fim de
atender aos objetivos deste trabalho de pesquisa.
Nessa perspectiva, procurou-se superar a tradição competitiva entre pesquisa
quantitativa e qualitativa, conforme estabelecem Bauer e Gaskell (2002) ao
descreverem alguns pressupostos nessa direção. Em primeiro lugar, afirmam não
haver quantificação sem qualificação, entendendo que a quantificação depende da
hierarquização dos dados selecionados dentro de um determinado contexto social.
Em segundo lugar, refletem sobre a inexistência de uma análise estatística sem
interpretação, pois os dados coletados e tabulados muitas vezes não bastam por si
só. Em terceiro lugar, apontam para a necessidade de uma visão mais holística do
processo, superando a “lei do instrumento”.
Na mesma direção, de acordo com os estudos de Dezin e Lincoln (2000), a
pesquisa qualitativa pode ser entendida, genericamente, como uma atividade
situada que localiza o observador no mundo. Noutras palavras, esta prática consiste
em fazer uma interpretação das visões de mundo, podendo provocar mudanças no
mesmo e, para isso, diversos métodos podem ser utilizados, dentre eles: anotações
de campo, entrevistas, fotografias, gravações, assim como gráficos e tabelas
(comumente entendidos como restritos às pesquisas quantitativas).
Conclui-se então que a análise qualitativa está presente sempre que
interpretações, inferências e categorizações são feitas. Assim, buscando superar a
dicotomia existente entre o quantitativo e o qualitativo, esta pesquisa, mesmo
analisar todos os resultados também qualitativamente, inclusive mostrando a
coerência entre as respostas obtidas por meio dos questionários e as respostas
CAPÍTULO III
REVISÃO DA LITERATURA
Para investigar a opinião de jovens estudantes do ensino médio do Distrito
Federal sobre o papel da escola frente aos desafios do século XXI, fez-se
necessário, primeiramente, analisar, à luz de referenciais teóricos, como a literatura
percebe a juventude, seus olhares, necessidades, dificuldades e perspectivas, bem
como a sua compreensão a respeito dos desafios educacionais e do papel da escola
frente aos mesmos.
3.1 – Juventude: uma tentativa de caracterização
O conceito de juventude costuma variar de acordo com as diferentes culturas,
ciências e paradigmas de pensamento. É preciso considerar o quão diferentes são
os seres humanos, marcados por uma unicidade e pluralidade única frente a
qualquer outra espécie. Vivemos em contextos sociais e econômicos diversos, logo,
temos experiências muito distintas e, por que não dizer, únicas, vez que as
internalizamos de modo singular – exemplo disso é o fato de um mesmo
acontecimento atingir as pessoas de diferentes maneiras, de acordo com as suas
histórias, aspirações e frustrações.
Diante disso, tentar estabelecer um único conceito de juventude torna-se uma
tarefa quase impossível: “por esta razão é que se pode afirmar que não há somente
diversificado com diferentes parcelas de oportunidades, dificuldades, facilidades e
poder na nossa sociedade” (ESTEVES, 2005, p. 32).
Madeira (1998) alerta que o ser jovem é um estilo de vida fortemente
valorizado na sociedade de hoje, conforme é possível perceber nas estratégias
utilizadas pela mídia para tentar vender seus produtos e idéias. É comum, por
exemplo, observar nas propagandas a associação entre juventude e força, beleza,
virilidade, entre outros aspectos valorizados na sociedade contemporânea. Tal
associação provoca um sentimento de busca incessante pela permanência na
juventude, como se a felicidade consistisse apenas nos fatores a ela associados.
Essa supervalorização pode gerar um prolongamento dessa condição,
principalmente se considerarmos, conforme defende Matos (2003, p. 34), que “a
dubiedade em ser criança e ser adulto não traz só malefícios. O fato de ‘jogarem nos
dois campos’ possibilita uma irresponsabilidade provisória, fazendo com que muitos
queiram prolongar essa fase indeterminantemente”.
Corroborando com a idéia acima, Kehl (2006, p. 96) afirma que “a vaga de
‘adulto’, na nossa cultura, está desocupada”. Nem mesmo os pais e mães acima dos
25 anos e financeiramente independentes querem deixar de ser vistos como jovens:
ora para não parecerem pessoas excessivamente conservadoras, ora por causa da
imagem criada e socialmente valorizada e ora para evitar situações de
enfrentamento das dificuldades e dos conflitos gerados na educação de seus filhos.
A conseqüência disso é que os jovens podem ficar sem parâmetros de conduta
diante da vida (que é cada vez mais complexa) ou, pior que isso, espelharem-se em
mais muitos dos problemas vividos nos dias de hoje, principalmente no tocante à
falta de limites e na busca incessante pelo prazer sem fim.
Dessa maneira, é possível dizer, também, que a acepção atual de juventude é
uma criação da sociedade industrial e pós-industrial, na medida em que esse
período absorve a necessidade de preparação para as complexas exigências da
vida adulta numa sociedade de mudanças velozes e imprevisíveis (HUGHES, 2005).
Trata-se, nesse sentido, de uma fase transitória, em que não se é criança, mas
também não se é adulto.
Gomes (2005, p. 122) afirma que “no mundo globalizado (ou em vias de
globalização) assinala-se a redução do tempo da infância, a antecipação da
adolescência e o prolongamento desta”. Noutras palavras, parece que a fase da
adolescência tem se estendido de acordo com as novas características sociais, isto
é, a diminuição dos empregos e o aprofundamento das necessidades de
especialização e conhecimento nas áreas de atuação do mercado de trabalho
parecem fazer com que os indivíduos adiem cada vez mais sua inserção na vida
adulta. Todavia, as limitações financeiras fazem com que muitos jovens abandonem
a escola e busquem um emprego o quanto antes, gerando, com isso, uma distância
significativa nas condições de inserção e permanência no mercado de trabalho, uma
vez que aqueles que possuem maior grau de escolaridade tendem a ocupar as
vagas mais privilegiadas, favorecendo a permanência da desigualdade social.
Nesse sentido, ressalta-se que a preocupação com a inserção e permanência
no mercado de trabalho, bem como o tão sonhado sucesso profissional parece ser
um dos fatores de destaque quando o assunto é o futuro e a inserção na vida adulta.
juventude “a associação escola e trabalho, mesmo que seja apenas nas suas
percepções e sonhos (...) O futuro é viver. É, quem sabe, ter dinheiro, emprego,
independência”. Entretanto, segundo Tedesco (2006), a independência financeira
tende a ser adquirida cada vez mais tarde, fazendo com que a autonomia cultural e
individual não seja acompanhada da autonomia material.
A respeito da visão que a sociedade tem sobre a juventude, é possível
elencar os seguintes pontos, alguns deles bastante contraditórios, quais sejam: i)
indivíduos responsáveis para atender determinadas exigências e, ao mesmo tempo,
infantis para outras; ii) futuro da nação de um lado, mas completamente
irresponsáveis no presente; iii) indivíduos com capacidade de contestação e
transgressão; iv) grupo de risco, vulnerável à criminalidade.
Portanto, apesar da complexidade em definir essa fase da vida, estudo feito
pela Unesco aponta para a existência de cinco elementos cruciais em termos de
ideais-objetivos:
- a obtenção da condição adulta, como uma meta; - a emancipação e a autonomia, como trajetória;
- a construção de uma identidade própria, como questão central; - as relações entre gerações, como um marco básico para atingir tais propósitos;
- as relações entre jovens para modelar identidades, ou seja, a interação entre pares, como processo de socialização (ESTEVES, 2005, p. 36).
Com relação ao perfil da juventude brasileira, dados da pesquisa realizada
pelo Instituto Cidadania (2004)9 apontam que os assuntos que mais interessam os jovens são: educação (38%), emprego/profissional (37%), cultura/lazer (27%). Esses
dados demonstram, conforme apontam outras pesquisas (ESTEVES, 2005; MATOS,
2003) que a escola ainda é vista pelo jovem como sua “segunda casa”, espaço
primordial para sua formação como pessoa, como cidadão e como profissional.
A pesquisa realizada pelo Instituto Cidadania (2004) também indica os
problemas que mais preocupam o jovem atualmente: violência (55%),
emprego/profissional (52%), drogas (24%) e educação (17%). Interessante notar que
apenas 17% indicaram a educação como um fator de preocupação, mas, em
contrapartida, 50% julgaram a educação como o assunto mais importante a ser
discutido pela sociedade, enquanto que 68% acham que o assunto mais importante
a ser discutido é a violência e 58% acham que são as questões referentes à
cidadania e aos direitos humanos. Tais dados mostram a grande preocupação da
juventude com relação ao futuro do país, desejando algo melhor do que vivenciam
hoje.
Rodríguez (2004, p. 20) desenvolve uma reflexão interessante sobre a pouca
atuação dos jovens na luta por interesses próprios, afirmando que estes “estão mais
preocupados em construir um mundo melhor para se viver do que melhorar suas
condições de vida, passageira por definição”. Completando essa idéia, é possível
dizer que os jovens tendem a acreditar que, sendo eles os responsáveis por mudar o
mundo, são capazes de fazê-lo melhor, mais justo e mais livre, garantindo a
sustentabilidade e a justiça social, entretanto, fica a seguinte pergunta: por que
tantos jovens desejam mudar o mundo e tão poucos se engajam em projetos
voltados para mudanças concretas? Singer (2005, p. 35) contribui para essa reflexão
dizendo que “a resposta está, provavelmente, na pobreza de grande parte dos
serem tragados pela violência criminosa ou mergulhando nela, como alternativa
menos pior”.
A respeito da violência, um dos fatores contemporâneos que mais assustam a
juventude, Abramovay et al. (2004, p. 67), ao pesquisar esse tema, questiona os
jovens sobre como a mesma deve ser combatida, e “mais de três quartos
responderam que é por intermédio do trabalho e da educação” – concebendo a
escola, então, como um espaço de transformação social.
Assim, é válido perguntar: o que significa a escola para a juventude? Para
quê ela serve? Qual a relação percebida por eles entre a escola e a vida, incluindo o
mercado de trabalho? Responder a estas e outras perguntas constituem objetivos
deste estudo, todavia, antes de analisar a opinião dos jovens, faz-se necessário
compreender um pouco melhor o cenário atual em que eles estão inseridos, a fim de
contextualizar suas respostas e permitir análises mais claras e coerentes com
realidade presente.
3.2 – Características e desafios do século XXI
Muitas características e desafios já foram elencados, entretanto, faz-se
necessário sistematizar um pouco mais o que está sendo discutido aqui, a fim de
facilitar o entendimento a respeito do assunto em questão. Para isso, vejamos o
quadro abaixo, construído a partir de alguns teóricos referenciados, bem como de
CARACTERÍSCAS DO SÉCULO XXI DESAFIOS DO SÉCULO XXI
Aumento na expectativa e na qualidade de vida das pessoas;
Crescimento acelerado dos meios de comunicação à distância;
Crescimento acentuado dos conhecimentos – “Sociedade do conhecimento”;
Aumento das interdependências entre os países;
Tecnologia e inovação;
Globalização;
Sociedade organizada em redes;
Mudanças velozes e imprevisíveis;
Automação;
Desenvolvimento do setor terciário;
Modificação das estruturas hierárquicas das empresas (mais curtas e descentralizadas);
Mão-de-obra autoprogramável;
Demanda por profissionais polivalentes;
Família entendida como rede de relações e não como instituição;
Desigualdade social;
Multiplicação dos conflitos regionais, locais, interétnicos e internacionais;
Imediatismo.
Desenvolver a tolerância para a construção de uma cultura de paz;
Reconhecer as novas formas de aprendizado;
Valorização dos trabalhos em equipe, que têm como base os princípios solidários e o respeito às diferenças;
Integrar a família e a comunidade à escola, unindo forças em torno de objetivos comuns;
Oportunizar, no interior das escolas, acesso a variedade de materiais e recursos educativos (computador, internet, biblioteca, tv, mapas, museus, espaço para esportes e lazer, entre outros);
Proporcionar leitura crítica da realidade;
Encorajar ações transformadoras na luta por uma sociedade mais justa e libertária para todos;
Contribuir com o fomento da capacidade criativa na resolução de problemas;
Articular a razão às questões éticas;
Contribuir para a formação do cidadão consciente da sua realidade e sujeito da sua história;
O processo educativo deve acontecer na diversidade e não para a diversidade;
Articular a vida escolar à realidade da vida prática, estabelecendo um estreito vínculo entre o sujeito social e o sujeito do conhecimento;
Adaptar-se às mudanças provocadas pela tecnologia;
Flexibilizar saberes;
Exercitar a criatividade;
Inovar;
Construir e desconstruir conhecimentos;
Adquirir competências comunicacionais;
Engajar-se na consolidação de um desenvolvimento sustentável;
Aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a ser e aprender a conviver (Delors et al.);
Desenvolver as competências hoje requeridas dos trabalhadores: espírito crítico, responsabilidade, autonomia, capacidade de resolver problemas, capacidade de se comunicar e trabalhar em equipe e criatividade;
Formação continuada e permanente;
Redução das assimetrias sociais;
Respeito pelos espaços públicos.
Existem muitas outras características e desafios que poderiam ser
acrescentados a esta lista, no entanto, de acordo com a bibliografia pesquisada,
estes podem ser considerados os principais fatores, servindo como base para essa
Se analisarmos a relação entre os desafios listados acima com o papel da
escola, é possível afirmar que, apesar das condições econômicas e sociais serem
consideradas desfavoráveis, deposita-se uma grande expectativa na educação,
considerando-a um importante mecanismo de transformação social, uma vez que, ao
estar comprometida com a formação de cidadãos, isso se reflete diretamente na
sociedade, pois são esses mesmos indivíduos que estarão atuando sobre ela no
futuro mais próximo.
Diante disso, é preciso, mais do que nunca, articular a escola e a comunidade
em torno de objetivos comuns, que deve ser a constituição da cidadania e a
conseqüente consolidação dos direitos humanos, permitindo a todos o acesso à
educação em condições de igualdade de oportunidades.
Também é necessário considerar que, ao se falar em educação ao longo da
vida e por toda a vida, a escola do futuro precisa estar orientada para atender a
todos os indivíduos, independentemente da faixa etária e dos muros que a
exprimem. As demandas contemporâneas requerem que a escola seja capaz de
ultrapassar seu espaço e se fazer presente em muitos outros lugares (como nas
empresas, por exemplo), bem como de variadas formas, atendendo a diversidade
do público que a cerca.
Além disso, há uma mudança significativa na estrutura das famílias (redução
do número de filhos, aumento das uniões livres; crescimento do número de filhos
que vivem apenas com a mãe ou com o pai; entre outros) e na forma como os
valores são transmitidos nos dias de hoje, vez que os adultos (pais) já não querem
preferindo ser “orientadores” para, dessa maneira, dar aos filhos a possibilidade de
construir autonomamente sua própria concepção (TEDESCO, 2006).
Nesse contexto, tendo em vista a mudança de papel das famílias, os meios
de comunicação de massa ocupam cada vez mais tempo das crianças e
adolescentes, gerando um déficit de socialização e, por conseguinte, uma crise de
valores e uma falta de coesão social (GOMES, 2001). Nesse contexto, a escola de
hoje, preocupada com a formação do ser integral, não pode continuar incumbindo-se
apenas da transmissão de conteúdos (que se tornam obsoletos rapidamente). É
urgente que as instituições escolares assumam como parte da sua responsabilidade
a formação de valores, a capacidade de analisar criticamente a realidade e interferir
qualitativamente sobre ela, a capacidade de aprender a conhecer, aprender a fazer
e, não menos importante, a capacidade de ser e de conviver com outros.
Outro desafio diz respeito ao enfrentamento das desigualdades sociais
geradas pela mundialização. Faz-se necessário, para evitar a polarização dessas
desigualdades, garantir a todos uma educação escolar de qualidade, que respeite as
diferenças pessoais, locais, econômicas, culturais e sociais. Nesse sentido, torna-se
imprescindível dar “ênfase à educação básica e a currículos de qualidade que
respeitem a diversidade, especialmente dos educandos menos favorecidos
socialmente” (GOMES, 2001, p. 94). Então, garantir a todos o acesso à escola e
primar pela flexibilização e contextualização dos currículos é consolidar uma
educação comprometida com o sucesso e o crescimento – favorecendo um
desenvolvimento mais justo e eqüitativo das sociedades.
Gomes (2001, p. 94), também se refere “à multiplicação dos conflitos
pode contribuir valiosamente ao se comprometer com a formação de indivíduos
tolerantes e que respeitem as diferenças, entendendo que também fazem parte dela
– talvez a isso possa se chamar “humanização”. Corroborando com ssa idéia,
Tedesco (2006, p. 40-41), ao compreender que o sentimento de solidariedade
associa-se ao sentimento de pertença, afirma que “o desafio educativo implica em
desenvolver a capacidade de construir uma identidade complexa, uma identidade
que contenha a pertença em múltiplos âmbitos: local, nacional e internacional,
político, religioso, artístico, econômico, familiar etc”. Portanto, perceber o mundo
como parte da sua morada e em cada um a riqueza da singularidade e pluralidade
humana, estando aberto para conhecer novas culturas e novas formas de perceber
a realidade são fatores basilares para a construção e consolidação de uma cultura
harmoniosa, fraterna e repleta de paz.
Mais um desafio diz respeito ao aumento das tecnologias em todos os
âmbitos, inclusive nas escolas. Muitos dizem que, em pouco tempo, as escolas
poderão ser substituídas por computadores e redes. Todavia, a escola permite o
diálogo, a interação com o mundo real e com as pessoas, logo, os instrumentos
técnicos são, e continuaram sendo, apenas meios e não fins em si mesmos. A
educação precisa levar o homem a compreender que as novas tecnologias
respondem às demandas criadas pelos seres humanos e não o contrário. Por isso,
é preciso considerar que o papel da escola ultrapassa, e muito, a transmissão de
conteúdos, pois “cabe-lhe fornecer às crianças e adultos as bases culturais que lhes
permitam decifrar as mudanças em curso” (GOMES, 2001, p. 94). Para tanto, a
escola do novo tempo deve incumbir-se de ensinar os indivíduos a organizar,
democratização das novas tecnologias contribua para que a espécie humana
aprenda mais, seja mais criativa e, principalmente, saiba fazer uso desses avanços
em benefício de todos, diminuindo a distância entre a minoria privilegiada e a maioria
excluída.
3.3 – Escola e profissionalização
Diante do exposto, é possível afirmar que um dos desafios mais importantes
para os jovens é a relação entre a escola e a profissão, quer dizer, é na escola que a
maioria dos jovens, especialmente das classes menos favorecidas, deposita a
expectativa de receberem a qualificação que lhe permitirá ingressar no mundo do
trabalho. Todavia, dados da Organização Internacional do Trabalho – OIT mostram
que, apesar do crescimento econômico em diversas áreas, entre os anos de 1993 e
2003 o desemprego entre os jovens latino-americanos aumentou 44, 2% (PEREIRA,
2004). Este dado aponta para vários fatores, dentre eles o sentimento de
marginalização social sofrido pelos jovens que, comumente, concebem o trabalho
como ferramenta imprescindível para o exercício da cidadania (ESTEVES, 2005).
Tomando por base os estudos de Caliman (1998, p. 53), é possível afirmar
que, quanto mais marginalizado está o indivíduo com relação ao atendimento de
suas necessidades fundamentais, maior é o risco de transgressividade e desvio
social, uma vez que estes comportamentos freqüentemente são frutos, dentre outros
fatores, da frustração pessoal diante da desigualdade vivenciada por meio da
maior a insatisfação do indivíduo perante as próprias necessidades, maior a
probabilidade do mesmo “desenvolver determinados déficits na evolução de sua
personalidade, ou assumir (...) culturas redutivas a alguns valores ou
pseudovalores”.
Segundo Abramovay et. (2004, p. 83), o significado do trabalho para os
jovens parece se resumir “a assegurar meios de sobrevivência e de satisfação de
necessidades e desejos: não é percebido como fonte de satisfação em si mesmo,
como atividade construtiva e de realização pessoal”. Esta é uma informação
preocupante, pois mostra que o principal motivo para a escolha da profissão e
ingresso do mundo do trabalho refere-se ao potencial econômico que as atividades
podem oferecer, mesmo que para isso seja preciso abrir mão do sentimento de
felicidade associado à realização pessoal.
De acordo com pesquisa realizada por Abramovay e Castro (2003), 17% dos
alunos do ensino médio que haviam abandonado a escola retomaram os estudos, e
a principal justificativa desse retorno deve-se ao fato dos mesmos considerarem que
o diploma escolar é muito importante para conseguir trabalho. Reforçando essa
idéia, pesquisa realizada pelo Instituto Cidadania (2004) concluiu que 76% dos
jovens consideram a escola muito importante para seu futuro profissional. Por
conseguinte, apesar das constantes críticas, a população em geral concebe a escola
como um requisito valioso para o ingresso no mundo do trabalho.
No que diz respeito à legislação, o art. 1º, parágrafo 2º da Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional – Lei 9.394/96 determina que “a educação escolar
deverá vincular-se ao mundo do trabalho e a prática social”. Nessa direção, a escola