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APERFEIÇOAE O PHYSICO E ROBUSTECEIO-O! : O MOVIMENTO DE AFIRMAÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA NAS ESCOLAS MINEIRAS ( ) 1 RESUMO

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“APERFEIÇOAE O PHYSICO E ROBUSTECEIO-O!”: O MOVIMENTO DE AFIRMAÇÃO DA EDUCAÇÃO FÍSICA

NAS ESCOLAS MINEIRAS (1925-1935)1

Larissa Assis Pinho Tarcísio Mauro Vago Universidade Federal de Minas Gerais

RESUMO

A presente pesquisa teve o intuito de acompanhar um movimento intenso de afirmação da Educação Física no contexto escolar em Minas Gerais no período de 1925-1935. A segunda metade da década de 1920 constituiu um período marcante na afirmação de uma nova política educacional no Estado de Minas Gerais. Desta forma, busquei analisar estratégias do Governo, realizadas neste período, tais como: a criação da Revista do Ensino de Minas Gerais (1925), o Primeiro Congresso de Instrução Primaria do Estado (1927), a Reforma do Ensino Primário e Normal de 1927, e a Inspetoria de Educação Física (1927), que influenciaram o Ensino Público e que, mais especificamente, conformaram a Educação Física como parte do Programa de Ensino nas Escolas. As fontes privilegiadas para este estudo foram: a Revista do Ensino, os decretos e as leis promulgados no período que configuraram o Ensino Público, a Mensagem do Governo Mineiro e o Jornal Minas Geraes. O Primeiro Congresso de Instrução Pública do Estado de Minas Gerais foi realizado em maio de 1927, na cidade de Belo Horizonte. Tinha o objetivo de estudar e discutir todos os assuntos referentes ao ensino, sendo o intuito do Governo aproveitar as contribuições do Congresso para a Reforma do Ensino que pretendia realizar. Na organização do Congresso havia uma comissão denominada “hygiene escolar e educação physica” na qual foram discutidas oito teses relacionadas a este tema. Assim, as conclusões das teses discutidas e aprovadas neste Congresso serviram de referencial para o Regulamento e o Programa de Ensino promulgados pela Reforma de 1927.Conhecida como Reforma Francisco Campos, ela caracterizou-se, principalmente, por abordar um conjunto de princípios da chamada “Escola Nova”. As repercussões desta Reforma afetaram diretamente, além da organização escolar, o ensino e o programa das disciplinas. Nos Programas aprovados para o Ensino Primário, os “Exercicios Physicos” estavam presentes como um importante conteúdo, que deveria ser tratado com o mesmo estímulo que a educação intelectual. A Reforma de 1927 teve um caráter de alargamento das possibilidades da Educação Física, marcadamente influenciado pelos pressupostos da Escola Nova. Se antes da década de 1920 era tratada apenas como um meio de corrigir e endireitar os corpos das crianças, a partir, principalmente, desta Reforma, a Educação Física deveria também ser responsável por formar corpos eficientes e produtivos, preparados para a vida moderna. Uma das instruções presente no texto da Reforma aponta: “Aperfeiçoae o physico e robustecei-o! Lançae mão do exercício”. Há, dessa forma, uma ampliação das possibilidades de práticas corporais que deveriam ser ministradas nas aulas, incluindo, não somente a ginástica sueca, como também os exercícios naturais, os exercícios respiratórios, os jogos e a ginástica rítmica.Há, dentre as deliberações da Reforma, a criação da Inspetoria de Educação Física, que deveria organizar, dirigir e inspecionar a Educação Física no Estado. Ao analisar os objetivos da Inspetoria percebe-se a ênfase dada à formação de professores especialistas, a partir, principalmente, de duas finalidades: orientar os professores de Educação Física e inspecionar suas aulas; e ministrar, na Capital, um curso intensivo de formação de professores.A Revista do Ensino também foi importante neste processo, já que ela repercutiu o Congresso, a Reforma e a Inspetoria, fazendo circular textos sobre Educação Física. Os assuntos mais freqüentes referiam-se aos conteúdos das aulas de Educação Física, sendo mais comum artigos sobre os jogos. Também eram frequentes textos sobre metodologia das aulas e sobre o programa de Educação Física, oferecido nos cursos para professores. Mas, que Educação Física é produzida no período tratado? Primeiramente, viu-se uma

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influência marcante dos estudos da psicologia na legitimação dos jogos, como uma prática que poderia ser tratada nas escolas. O jogo, então, não teria um fim em si mesmo, constituindo-se como um instrumento capaz de proporcionar o desenvolvimento integral da criança: social, moral e educacional. Outra questão importante, é que não bastava afirmar a Educação Física como uma disciplina presente nos Programas de Ensino das Escolas Primárias e Normais, era necessário também tomar iniciativas, como: fazer circular textos na Revista do Ensino; institucionalizar a Educação Física, criando a Inspetoria; e organizar cursos de aperfeiçoamento de professores. Essas foram algumas das iniciativas que confirmaram a importância deste período para a Educação Física nas escolas. Como viu-se anteriormente, a década de 1920 foi um período decisivo na configuração do Ensino em Minas Gerais. Dessa forma, à Educação Física foram atribuídas novas exigências. Estudos anteriores nos mostram que a Educação Física estaria passando, neste período, por um deslocamento do primado da correção e endireitamento dos corpos para o primado da eficiência dos gestos.Porém, percebe-se, que estes dois primados, correção e eficiência, estavam constituindo um movimento único, uma convivência de primados. Neste período, ainda, não é possível afirmar que um excluía o outro, mas que os dois juntos estariam contribuindo para legitimar a Educação Física nas escolas mineiras.

TRABALHO COMPLETO

A partir da leitura de textos referentes ao percurso da Educação Física2, em Minas Gerais, no final do século XIX e nas três primeiras décadas do século XX, deparei-me com diversas estratégias utilizadas pelo Governo de Minas Gerais para reformulação e divulgação do Ensino Público.

Surgiram, assim, alguns temas que poderiam constituir-se como objetos de estudo desta pesquisa. A década de 1920 foi um período fundamental para a Instrução Pública do Estado. Principalmente, a partir de 1925, o Governo utilizou dispositivos para a (re) configuração do Ensino Público, importantes para compreender o processo de afirmação da Educação Física na Escola.

Assim, o objetivo geral deste trabalho foi acompanhar um movimento intenso de afirmação da Educação Física no contexto escolar em Minas Gerais, no período de 1925 a 1935. Para isso, analisei estratégias do Governo, tais como: a criação da Revista do Ensino (1925), o Primeiro Congresso de Instrução Primaria do Estado (1927), a Reforma do Ensino Primário e Normal de 1927, e a Inspetoria de Educação Física (1927), que influenciaram o Ensino Público e que, mais especificamente, conformaram a Educação Física como parte do Programa de Ensino nas Escolas. Realizei também um levantamento de artigos publicados na Revista do Ensino, de 1925 a 1935, referentes à Educação Física, analisando-os quanto a objetivos, metodologias e práticas corporais presentes.

A Revista do Ensino tornou-se, assim, objeto e fonte primordial de investigação deste estudo. Utilizei também como fontes, as leis e os decretos promulgados no período, referentes ao Ensino Público (1925-1935); a “Mensagem do Governo Mineiro”3; e ao Jornal Minas Geraes, Órgão Oficial de Imprensa do Estado.

1. Imprensa Pedagógica: a Revista do Ensino de Minas Gerais.

A Revista do Ensino foi um periódico que circulou em Minas Gerais de 1925 a 1971, constituindo-se, dentre outros, como um dispositivo do Estado na formação do professorado.

Em 1924, na realização de uma reforma no Ensino Primário4 e Normal5, a Revista do Ensino foi criada como uma possibilidade de “orientar, estimular e informar os funccionarios do ensino e os particulares interessados em assumptos com este relacionados”.

2 VAGO, 1997, 1999 e 2002.

3 A “mensagem do governo mineiro” era um documento escrito pelo Presidente do Estado, com o intuito de anunciar o que havia sido realizado durante o ano.

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Como a Revista possuía uma circulação por todo o Estado, o propósito era fazer com que os professores das diferentes regiões tivessem contato com as propostas de Ensino que circulavam, principalmente, em Belo Horizonte. A Revista constituía assim como uma “instituição mediadora” entre os professores e a Diretoria de Instrução Pública.

No período pesquisado (1925-1935), são editados 121 números da Revista do Ensino. A partir de um levantamento dos artigos, referentes à Educação Física tratada como um componente curricular, chegou-se ao número de 70 artigos (quadro 1).

Segundo BICCAS (2000, p. 76), nas edições da Revista de 1925-1940, a Educação Física aparece como a 3ª área de conhecimento mais freqüente nas publicações, ficando atrás apenas da Linguagem Oral e Escrita e das teorias e dos teóricos da Pedagogia.

QUADRO 1: Artigos da Revista do Ensino dedicados à Educação Física (1925-1935)

ANO NÚMERO MÊS ARTIGOS

3 Maio Jogos Menores [13 jogos]

4 Junho Gymnastica Respiratória

5 Julho Secção Recreativa: Jogos Physicos na Escola [30 jogos] 6 Agosto Secção Recreativa: Jogos Menores [13 jogos]

7 Setembro Educação Esthetica

Technica sobre Educação Physica Gymnastica

Secção Recreativa: Jogos Menores [14 jogos] 8 Outubro Secção Recreativa: Jogos Activos [18 jogos] 1925

9 Dezembro Para Dar um Fremito de Vida ao Ambiente Escolar: Descripção de Alguns Jogos Interessantes [13 jogos]

10 Janeiro Para fazer a raça forte e energica: Methodos de Educação Physica (Continuação...)

11 Fevereiro Para fazer a raça forte e enérgica: Methodos de Educação Physica. Para Dar um Fremito de Vida ao Ambiente Escolar.

12 Março Os Jogos nas Escolas: Horas de Alegria e de Força Para fazer a raça forte e enérgica.

13 Abril O Encanto do Recreio nas Escolas.

Noções de Educação Physica, Exercicios e Jogos.

14 Maio Noções de Educação Physica

15 Junho A Alegria dos Recreios: Diversos Jogos Gymnasticos

16/17 Julho

Agosto

Educação Physica Pela Belleza da Raça 1926

19 Dezembro Educação Physica

20 Abril A Gymnastica Rythmica, na Opinião de uma Especialista

22 Agosto

Setembro Theses do Congresso de Instrucção Primaria sobre a hygiene e educação physica

23 Outubro O medico educador (Continuação...)

1927

24 Novembro O medico educador

26 Outubro A nova organização pedagógica. Methodos peculiares a cada ensino: Educação Physica.

Gymnastica 1928

27 Novembro Pequenos Jogos

Nomenclatura de Calisthenia

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28 Dezembro Educação Physica: marchas

29 Janeiro Educação Physica: jogos gymnasticos

30 Fevereiro Educação Physica: sua efficiencia e a professora

32 Abril Educação Physica: Instrucções baixadas pela Inspectoria Geral da Instrucção.

33 Maio Educação Physica: Jogos Menores.

Actividades extra-programma nos Estados Unidos: Jogos Athleticos.

34 Junho Educação Esthetica da Infância

A Educação Physica

35 Julho Curso de Aperfeiçoamento para Assistentes Technicos do Ensino: Educação Physica.

36 Agosto As principaes actividades instinctivas da creança: o jogo e a imitação. 37 Setembro O jogo, a imitação e o interesse como factores da educação.

1929

39 Novembro Educação Physica: Callisthenia

47 Julho Qual a parte que deve caber á educação physica no ensino primário? 49 Setembro Praticabilidade de uma Gymnastica Electiva nos Grupos Escolares 1930

50/51/52 Outubro

Novembro Dezembro

Estado Physico das creanças

53/54/55 Janeiro

Fevereiro Março

Objetivos na organização e administração da Educação Física Escolar.

56/57/58 Abril

Maio Junho

Educação Física: Ginástica Historiada 1931

59/60/61 Julho

Agosto Setembro

Praticabilidade de uma ginástica electiva nos Grupos Escolares. A Educação Física e o sexo feminino.

Corpo de Leaders.

65/66/67 Janeiro

Fevereiro Março

A ocupação natural das crianças. 1932

68/69/70 Abril

Maio Junho

Excursão e sua relação com a Educação Física.

83 1o. Março Programa de Ensino da Educação Física nas Escolas Normais. 92 15 Julho A ginástica do trabalho.

96 15 Novembro Curso Intensivo de Educação Física. 1933

97 15 Dezembro Trabalho sobre Educação Física.

103 Junho Educação Física

104 Julho Reunião Annual dos Assistentes: Educação Physica.

105 Agosto Curso para professores districtaes e ruraes: Educação Physica. Jogos.

107 Outubro Importância dos Exercicios Physicos.

108 Novembro Impressões de uma professora de Educação Physica. 1934

109 Dezembro Jogar ou não jogar.

110 Janeiro Educação do corpo e educação do espírito. Para a ginástica historiada.

Aspectos da Educação: Educação Moral e Physica. O jogo.

112 Março A Educação Physica tratada em Congresso.

114/115 Maio/Junho Educação Physica na Escola Primária 118 Setembro Para a Gymnastica Historiada. 1935

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A partir deste levantamento de artigos, percebe-se que dois temas foram mais freqüentes nos textos referentes à Educação Física: os métodos de ensino de Educação Física, que serão analisados no recorrer deste texto; e artigos sobre jogos, tratados a seguir.

1.1“Jogar ou não jogar”6: os jogos na escola.

Os artigos sobre jogos foi o assunto mais freqüente, no que refere-se a Educação Física. Dos 70 artigos encontrados no total, 21 tratavam especificamente de jogos.

Muitos dos artigos trazem descrições de jogos, com o intuito de organizar uma espécie de manual para os professores. Nos dois primeiros artigos, “Jogos Menores”7 e “Jogos Physicos na Escola”8, são descritos 13 e 30 jogos, respectivamente. Apesar desses primeiros artigos serem mais descritivos, com poucas informações sobre o lugar do jogo na Educação Física, eles são importantes, ao considerarmos que, provavelmente, eles tinham um propósito.

É ao longo da década de 1920 que há a inserção de novas práticas no Programa de Educação Física nas escolas, ou seja, o jogo ainda poderia ser considerado um conteúdo novo nas aulas de Educação Física. Neste momento, seria importante proporcionar aos professores, além de conhecimentos teóricos e metodológicos, conhecer um universo de jogos, como possibilidade de utilização nas aulas.

O jogo apresentava-se como um importante meio de desenvolvimento integral da criança. Era considerado “a mais natural forma de exercício”, ou seja, para as crianças, “não há nos jogos movimentos novos, como temos dito: há apenas o aperfeiçoamento de movimentos que já lhes eram familiares”9.

Entretanto, os pais questionavam a presença dos jogos na Escola, alegando que “[mandavam] os filhos á escola para apprenderem, e não para brincarem, o que já [faziam] sufficientemente e até sobejamente em casa”10. Assim, seria necessário legitimar esta prática como um conteúdo importante de ser trabalhado nas escolas.

Dessa forma, principalmente a partir dos estudos da pedagogia e da psicologia, provenientes dos princípios da Escola Nova11, o jogo, capaz de proporcionar diversas aprendizagens, deveria ser utilizado por toda e qualquer disciplina. Ou seja, haveria dois tipos de jogos: o jogo ginástico e o jogo pedagógico.

Percebe-se, então, em artigos da Revista, a forte influência, principalmente, da psicologia. Considerado o jogo uma atividade instintiva, a criança revelaria “as suas inclinações boas ou más, a sua vocação, as suas habilidades, o seu caracter, tudo que ella trazia latente no seu eu em formação, tornava-o visível pelo jogo e pelos brinquedos, que ella executava”12.

A Revista do Ensino tornou-se, assim, um suporte deste trabalho, pois ela repercute as iniciativas do Governo Mineiro, na década de 1920. Dessa forma, há artigos que divulgam a realização do 1º Congresso de Instrução Primária; artigos que publicam Regulamentos e Programas aprovados pela Reforma Francisco Campos; e artigos e capítulos de livro escritos por membros da Inspetoria de Educação Física. Esses artigos serão tratados nos próximos itens.

2. Primeiro Congresso de Instrução Primaria do Estado de Minas Gerais: preparando a Reforma do Ensino de 1927.

O Primeiro Congresso de Instrução Pública do Estado de Minas Gerais foi realizado em maio de 1927, na cidade de Belo Horizonte. Tinha o objetivo de “estudar e discutir todos os assumptos altinentes

6 REVISTA DO ENSINO, BH, nº. 109, dez 1934, p.59-63. 7 REVISTA DO ENSINO, BH, nº. 3, 10 mai 1925, p. 70. 8 REVISTA DO ENSINO, BH, nº. 5, 14 jul 1925, p.141. 9 REVISTA DO ENSINO, BH, nº. 16/17, jul/ago 1926, p.274. 10 REVISTA DO ENSINO, BH, nº. 109, dez. 1934, p. 59.

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ao ensino primário”, sendo o intuito do Governo “aproveitar as contribuições do Congresso para a obra da reforma que [tinha] em vista e [que pretendia] realizar o mais breve possível”13.

As teses (trabalhos) apresentadas no Congresso eram discutidas a partir de Comissões. Além da Comissão Executiva do Congresso, havia outras 12 comissões permanentes, dentre elas uma denominada “hygiene escolar e educação physica”.

Foram ao todo oito teses relacionadas à higiene ou à educação física defendidas no Congresso. As quatro primeiras relacionavam-se, especificamente, à higiene escolar e a 7ª tese, que tratava sobre escoteirismo, relacionava-se à “educação physica” no seu sentido mais amplo, juntamente com a educação moral e intelectual.

Dessa forma, minha atenção recairá na 5ª, 6ª e 8ª teses, principalmente na 5ª14: “Como introduzir na escola primaria a cultura physica necessaria á nossa gente?”. O sr. Alexandre Drummond, membro da comissão de “hygiene escolar e educação physica” apresenta as seguintes conclusões:

a) a educação physica deve ser parte integrante e não complementar do programma das escolas publicas primarias;

b) deve ser disciplina obrigatoria e ministrada diariamente, por professores competentes, conhecedores do exercicio e seu mechanismo, capazes de realizal-os bem, enthusiastas do ensino;

c) incluir nos programmas escolares uma hora especial para a educação physica; d) organizar em cada escola um campo especial para a pratica da cultura physica;

e) instituir a inspecção medica;

f) organizar fichas antropometricas, annualmente;

g) nomear professores especializados para a educação physica;

h) fornecimento de material necessário, de modo que todos os alumnos façam exercicios com objectos de um mesmo typo;

i) constituir uma comissão que, sujeita a um critério único, ministre a educação physica em aulas, que serão, depois, repetidas pelos professores que se encarregarem dessa disciplina;

j) a gymnastica rythmica poderá ser introduzida nas escolas primarias. (REVISTA DO ENSINO, BH, nº. 22, ago/set 1927, p.502).

A partir destas conclusões, percebe-se a importância que a Educação Física deveria ter na instrução pública, sendo parte “integrante” dos programas de ensino, “obrigatória” e “ministrada diariamente”. Um fator importante, discutido nesta tese e que obteve bastante repercussão nas estratégias do Governo foram a constituição desta “comissão” e a nomeação de “professores especializados”. Isso traduz a necessidade de um maior investimento na formação de professores especialistas, construindo e consolidando cada vez mais o campo da Educação Física como uma disciplina escolar.

Portanto, muitas das deliberações do Congresso serviram de referencial para elaboração do Regulamento e do Programa da Reforma do Ensino que o Governo pretendia realizar: a Reforma do Ensino Primário e Normal de 1927.

13 REVISTA DO ENSINO, BH, nº 20, abr. 1927, p. 418.

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3. “A Nova Escola de Minas”15: a Reforma Francisco Campos

Conhecida como Reforma Francisco Campos, as Reformas do Ensino Primário e Normal de 1927/2816 constituíram-se um marco na reestruturação da Instrução Pública do Estado de Minas Gerais. Caracterizaram-se, principalmente, por abordar um conjunto de princípios da chamada “Escola Nova”. Inicialmente, o movimento de discussão dos princípios da “Escola Nova” baseava-se na tentativa de compreensão da infância através da biologia e da psicologia. Estes princípios se alargaram, relacionando-se também “com outros muito numerosos, relativos às funções da escola em face de novas exigências, derivadas de mudanças da vida social” (LOURENÇO FILHO, 1978, p. 17).

A década de 20, principalmente a segunda metade, caracterizou-se, então, pelo discurso da inserção de uma educação renovada no Estado de Minas Gerais. Esta pretendia alterar o modelo de escola “tradicional”, empregando diferentes práticas e saberes escolares17.

A Revista do Ensino foi, então, um importante meio de divulgação e legitimação dos ideais da Reforma. Principalmente a partir de 1928, são recorrentes textos relativos a “Escola Nova”, às novas diretrizes da educação, à psicologia educacional.

Percebe-se, também, que muitas das instruções e muitos dos artigos presentes no texto da Reforma já haviam sido tratados em textos publicados na Revista, antes mesmo da promulgação do Decreto. No âmbito da Educação Física, por exemplo, no artigo “Technica sobre Educação Physica”18 publicado em 1926, são discutidas algumas orientações, que estão presentes, de forma idêntica, entre as dezenove instruções sobre Educação Física baixadas pelo Regulamento do Ensino Primário, tratadas a seguir.

3.1 “Dar á educação physica o mesmo impulso, que vem recebendo a educação intellectual”19: os

“Exercícios Physicos” na Reforma.

As repercussões desta Reforma afetaram diretamente, além da organização escolar, o ensino e o programa das disciplinas. No texto do Programa, há uma parte dedicada aos “Exercícios Physicos”, na qual são listadas dezenove instruções que deveriam orientar os professores para a prática da disciplina. A maioria dessas instruções relacionava-se ao conteúdo que deveria ser tratado nas aulas, compreendendo os “exercicios naturaes, exercicios respiratorios, exercicios de gymnastica sueca, jogos gymnasticos e gymnastica rythmica”.

Os “Exercicios Physicos” deveriam proporcionar “benefícios, não só de ordem individual, como também social e nacional”. Relacionando esta instrução com as orientações de cada conteúdo, percebe-se o caráter de utilização dos exercícios físicos, neste momento, relacionados principalmente à saúde e ao vigor físico como um importante meio de desenvolvimento integral da criança.

No Programa de Ensino para o Curso Primário, os “Exercicios Physicos” estão presentes nos quatro anos, sendo os objetivos desta disciplina: “ter força, agilidade e coragem; e dirigir com energia e methodo os exercicios physicos”. Segundo Vago (1999, p.72), “‘no primeiro anno, os exercicios physicos visarão habituar o alumno á atitude correcta, desenvolver seu instinto de imitação e imaginação, assim como formar habitos de sociabilidade e cortezia’. Ao longo dos três anos seguintes, tais exercícios, ‘além

15 REVISTA DO ENSINO, BH, nº 26, out. 1928, p. 1.

16 A Reforma do Ensino Primário foi promovida em 15/10/1927 através do Decreto nº. 7970 A. Já a Reforma referente às Escolas Normais foi promulgada em 20/01/1928 pelo Decreto nº. 8162. Neste trabalho, ao me referir às Reformas de 1927, estarei incluindo a do Ensino Primário e a do Ensino Normal.

17 Algumas destas práticas e saberes não poderiam ser consideradas como novidades, pois já eram tratadas pela “escola tradicional”, sofrendo apenas uma ressignificação no que refere-se aos seus materiais e métodos. Cf. VIDAL, 2000, p. 496.

18 REVISTA DO ENSINO, BH, nº. 7, 27 set. 1926, p. 184.

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de estimular os hábitos mencionados, formarão hábitos de dextreza, de vigilância, de julgamento e outras qualidades moraes, indispensáveis na vida pratica.”

A Reforma aprovada para o Ensino Normal tem um caráter de sintonia à do Ensino Primário, já que não parecia coerente “ministrar uma instrução primaria graduada e complexa, sem antes cuidar na formação de um professorado sufficientemente apto a exercer com efficiencia o graduado magistério que se lhe incumbe”.20

Portanto, seria necessário preparar o professorado para sua atuação eficiente no ensino primário. O Ensino Normal era ministrado em duas categorias de escolas: a escola de primeiro e de segundo graus. A Escola de 1º Grau destinava-se à formação de professores do 1º grau, e compreendia três anos de curso, onde a “Educação Physica” estava presente nos dois primeiros anos.

Nas Escolas de 2º Grau, os professores recebiam o título de habilitação para todos os cargos do magistério primário, inclusive algumas cadeiras nas Escolas Normais. Incluía três cursos: o curso de adaptação, preparatório e de aplicação. Nos dois primeiros, a “Educação Physica” constava em todos os anos do curso. Já no curso de Aplicação, ela não era tratada como uma disciplina específica. Porém, as disciplinas de “methodologia” e “pratica profissional” poderiam abordar todos os conteúdos, havendo inclusive no programa da disciplina de “Methodologia”, uma parte destinada à “Methodologia dos exercícios physicos”.

Percebe-se, portanto, a formação dos professores voltada tanto para o Programa de “exercicios physicos” do Ensino Primário quanto para as metodologias e técnicas de ensino da disciplina. Há uma preocupação com a formação do professor encarregado de ministrar as aulas de Educação Física, ou seja, com a formação de um professor especialista.

A 5ª tese, discutida e aprovada no 1º Congresso aponta como uma de suas conclusões a nomeação “de professores especializados para a educação physica”. Assim, seria necessário investir na formação de “professores competentes, conhecedores do exercicio e seu mechanismo, capazes de realizal-os bem, enthusiastas do ensino”. Dessa forma, na Reforma há a criação da “Inspectoria de Educação Physica”, que passa, dentre outras funções, a ser responsável por organizar um curso de aperfeiçoamento de professores (tratado no item 4).

Portanto, a Reforma de 1927 tem um caráter de alargamento das possibilidades da Educação Física, marcadamente influenciado pelos pressupostos da Escola Nova. Se antes era tratada apenas como um meio de corrigir e endireitar os corpos das crianças, pela ginástica sueca e pelos exercícios militares, a partir, principalmente, desta Reforma, a Educação Física deveria também ser responsável por formar corpos eficientes e produtivos, preparados para a “vida moderna”. Uma das instruções presente na Reforma aponta: “Aperfeiçoae o physico e robustecei-o! Lançae mão do exercício”. Há, dessa forma, uma ampliação das possibilidades de práticas corporais que deveriam ser ministradas nas aulas, incluindo, não somente a ginástica sueca, como também os exercícios naturais, os exercícios respiratórios, os jogos e a ginástica rítmica.

4. A Inspetoria de Educação Física: sua criação e suas ações.

A Inspetoria Geral da Instrução era o órgão responsável pela administração do Ensino em Minas Gerais e era composta por outras três inspetorias: técnica, de assistência médica e odontológica, e a de educação física. A Inspetoria de Educação Física foi criada com o propósito de:

organizar programmas e horários de exercícios, jogos, gymanastica etc., de acordo com as estações e circumstancias locaes, edade e desenvolvimento physcico das creanças; organizar instrucções para a orientação dos professores de educação physica e inspeccionar as respectivas aulas; ministrar, na Capital, um curso especial para a formação e aperfeiçoamento do pessoal docente destinado ao ensino da educação physica; organizar, de acordo com a Inspectoria

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Medica, classes especiais de educação physica para creanças mal constituidas, débeis orgânicos, defectivos mentaes e portadores de defeitos orthopedicos; collaborar nos programmas e na organização das excursões escolares, prescrevendo e recommendando os jogos e exercícios physicos adequados; propor a acquisição dos apparelhos e materiaes apropriados ás diversas classes de educação physica; estabelecer, na Capital e nas outras cidades, praças de exercícios physicos, convenientemente localizadas, para que possam concorrer a ellas todos os alumnos das escolas publicas, devendo cada praça ser dirigida por um dos auxiliares, designado pelo Inspector; incentivar e orientar a organização do escoteirismo nas escolas publicas, formando e preparando o necessário corpo de instructores.21

Em 1934, com praticamente sete anos de criação da Inspetoria, foi promulgado um Decreto22 que aprovava um novo regulamento para a Inspetoria de Educação Física. Este decreto abordava algumas novidades, que caracterizaram, cada vez mais, a Inspetoria como um meio de institucionalização da Educação Física.

Analisando as proposições da Inspetoria percebe-se o seu intuito de organizar programas e instruções; ministrar cursos de Educação Física; organizar classes especiais junto à Inspetoria Médica; estabelecer praças de esportes; fiscalizar práticas esportivas fora da Escola; organizar excursões, ou seja, deveria regulamentar a Educação Física dentro e, eventualmente, fora da Escola.

Segundo o regulamento da Inspetoria, a Educação Física deveria, então, atingir os objetivos de correção de defeitos ortopédicos, educação neuro-muscular e ser um eficiente meio de socialização escolar.

É importante considerarmos que a ação da Inspetoria em fiscalizar práticas fora do ambiente escolar pode ser um primeiro movimento de regulamentação e fiscalização das práticas esportivas, em Minas Gerais, por um órgão ligado à Educação Física.

Portanto, ao analisar os propósitos da Inspetoria, percebe-se a ênfase dada à formação de professores especialistas, a partir, principalmente, de duas finalidades: “organizar instrucções para a orientação dos professores de educação physica e inspeccionar as respectivas aulas”; e “ministrar, na Capital, um curso especial para a formação e aperfeiçoamento do pessoal docente destinado ao ensino da educação physica”.

Sendo a Revista do Ensino uma “instituição mediadora” das propostas pedagógicas, a Inspetoria poderia utilizá-la como um meio importante de circulação de ideais de Educação Física, contribuindo, assim, para formar e informar o professorado.

4.1 “Organizar instrucções para orientação dos professores de Educação Physica”23: a Inspetoria

em ação.

Na Revista do Ensino foram encontradas referências à atuação da Inspetoria, a partir da publicação de textos que tratavam: do programa da Educação Física nas escolas, principalmente contendo instruções sobre as práticas das aulas; da realização de cursos para formação de professores especialistas de Educação Física; e da publicação de capítulos de um livro, organizado e escrito por membros da Inspetoria.

21 Ibid, p. 1170.

22 MINAS GERAES, Decreto nº 11411, 30 jun 1934, p. 594 a 601 (Approva o Regulamento da Inspetoria de Educação Física).

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Sobre as práticas, os números 28 (Dezembro/1928, p.29), 30 (Fevereiro/1929, p.33) e 39 (Novembro/1929, p.28) da Revista do Ensino, todos de autoria do prof. Renato Eloy de Andrade (então Inspetor de Educação Física do Estado), abordaram: “educação physica: marchas”, “educação physica: sua efficiencia e a professora” e “educação physica: callisthenia”, respectivamente. Eram textos informativos que tratavam da importância e dos objetivos da Educação Física, sugerindo e descrevendo alguns exercícios específicos. Muitas das informações presentes nesses artigos são decorrentes do Regulamento e do Programa da Reforma de 1927, explicitando a intenção do autor em informar e orientar os leitores/professores.

Quanto aos artigos referentes aos cursos para formação de professores, eles foram publicados em três perspectivas: um curso que abordou, dentre outras disciplinas, a Educação Física; um curso intensivo específico de Educação Física; e um congresso nacional sobre educação, dedicado exclusivamente à Educação Física.

Segundo o Regulamento do Ensino aprovado pela Reforma Francisco Campos, a Inspetoria Geral da Instrução Publica deveria instituir um Curso de Aperfeiçoamento, na Capital, “destinado a treinar uma elite de professores, bem como os assintentes technicos, nos recentes methodos de ensino e em technicas pedagógicas certamente complexas, mas de divulgação indispensavel no meio magisterial”24.

Há um artigo25 sobre a presença da Educação Física neste curso (realizado nos meses de junho a setembro de 1928) que possuía como uma das disciplinas estudadas, a “Gymnastica”. Segundo o artigo, intitulado “Curso de Aperfeiçoamento”, as aulas foram ministradas por Renato Eloy de Andrade e Guiomar Meirelles, e compreendiam, dentre outros assuntos, o estudo de sistemas de ensino (francês, sueco, inglês, alemão, argentino) e as práticas que deveriam ser tratadas nas aulas.

Retomando o Regulamento do Ensino referente à Inspetoria de Educação Física, encontra-se como um dos seus objetivos a realização, na Capital, de “um curso especial para a formação e aperfeiçoamento do pessoal docente destinado ao ensino da educação physica”. Têm-se noticia, a partir da Revista do Ensino (nº. 96, 15/11/1933, p. 6), que em setembro de 1933 foi realizado em Belo Horizonte, um “Curso Intensivo de Educação Física”.

Sobre este curso, a prof. Maria Emerenciana de Azevedo, escreve à Revista26

. Segundo ela, a Educação Física em Minas Gerais, a partir deste curso, seria outra: haveria “as aulas de ontem” (antes da realização do curso) caracterizadas por aulas “impregnadas de um cunho de formalismo (...), mal dosadas e mal aplicadas, (...) resultantes da falta de preparo e de orientação do professor, que, apesar de dedicado e esforçado, não podia dar mais do que possuía, mais do que havia recebido”; e as “aulas de amanhã” (as repercussões do curso), caracterizadas por aulas, nas quais uma “cultura fisica inteligentemente ministrada [seria] a grande conquista moderna, [seria] o renascimento do ideal de Minas, fonte única da inspiração civilizadora”.

Já em 1935, o Congresso Nacional de Educação promovido pela ABE (Associação Brasileira de Educação), dedicou a sua realização ao estudo da “Educação Physica”. Segundo o Prof. Renato Eloy de Andrade, pela primeira vez seria “offerecida, no Brasil, a oportunidade aos verdadeiros profissionais em Educação Physica para definirem os característicos da sua classe e de conhecerem em que grau de desenvolvimento technico esta se [encontrava]”27.

A Revista do Ensino também traz referência à elaboração de um livro: “Técnica e Didática da Educação Física Escolar”. Os textos intitulados “Objetivos na organização e administração da educação física escolar”, “Corpo de Leaders”, e “Excursão e sua relação com a educação física”28 são parte deste

24 MINAS GERAES, 1928, p. 74 (Approva o Regulamento do Ensino nas Escolas Normais). 25 REVISTA DO ENSINO, BH, nº. 26, out. 1928, p.79.

26 Trabalho sobre Educação Física. In REVISTA DO ENISNO, BH, nº. 97, 15 dez. 1933, p. 86-90. 27 REVISTA DO ENSINO, BH, nº. 112, mar 1935, p.236.

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livro, que ainda estava em preparo, e que possuía como autores, Renato Eloy de Andrade, Guiomar Meireles, Zembla Soares de Sá, e colaboração de José Lourenço de Oliveira.

Analisando, primeiramente, o artigo “Objetivos na organização e administração da educação física escolar”, que tratou de objetivos e práticas da Educação Física, percebe-se que ele trouxe um questionamento importante para entender os significados da Educação Física na escola.

Como viu-se anteriormente, a década de 20 caracterizou-se como um período importante na reconfiguração do campo disciplinar da Educação Física. Se antes, ela era tratada “sob o primado da correção, do endireitamento e da constituição dos corpos de crianças – isto é: como prática ortopédica”29, ao longo da década de 20, ela, prioritariamente, seria responsável por produzir corpos eficientes, fortes, prontos para o trabalho coletivo.

Percebe-se, porém, que um objetivo não excluía o outro. “Um bom methodo de educação physica póde reconstituir uma raça ou mantel-a forte e enérgica”30. Segundo o artigo, “educação é preparo para a vida [para a vida moderna]; é treino para cidadão eficiente”, confirmando a Educação Física como um meio de desenvolver corpos eficientes e produtivos para o trabalho.

A Educação Física era utilizada como um meio de se atingir determinado objetivo. Dessa forma, ao mesmo tempo em que “educação physica” e “educação intellectual” deveriam ser tratadas com o mesmo estímulo, a primeira ocupava, em alguns momentos, um lugar secundário, já que era utilizada para melhoria da educação intelectual.

Portanto, “a Educação Physica não é um fim; é um meio; é educação pelo physico, guiada por princípios e baseada em factos scientificos”, sendo seu verdadeiro objetivo “preparar o individuo por meio de actividades physicas para uma vida mais ampla em todos os sentidos: biologico, intellectual, social e moral”31.

Ao analisar o artigo “Corpo de Leaders”, e “Excursão e sua relação com a educação física”, percebe-se o surgimento de novas possibilidades para a Educação Física na escola.

O “leader” era uma espécie de monitor, escolhido a partir de suas “habilidades inatas ou cultivadas”, e que demonstrassem características próprias para ser um “leader”, que possuía o papel de auxiliar o professor de Educação Física. É importante considerarmos que a criação do “corpo de leaders” pode ter sido uma ação da Inspetoria com o intuito de preparar e formar futuros professores.

Já o artigo sobre excursão aponta esta prática como uma atividade que poderia “oferecer grandes oportunidades á educação física”. O texto aborda procedimentos, cuidados, iniciativas que o professor de Educação Física deveria tomar na organização de uma excursão.

Portanto, a Inspetoria teve uma atuação bem significativa na legitimação da Educação Física como uma disciplina escolar, à medida que atuou publicando artigos e capítulos de um livro na Revista do Ensino, e promovendo cursos de aperfeiçoamento de professores de Educação Física.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo ora encerrado pretendeu, então, acompanhar um movimento intenso de afirmação da Educação Física no contexto escolar em Minas Gerais, no período de 1925 a 1935. Para isso, foi importante analisar estratégias do Governo que conformaram o Ensino Público em Minas Gerais, como a criação da Revista do Ensino de Minas Gerais, a realização do 1º Congresso de Instrução Primária, a elaboração da Reforma do Ensino Primário e Normal e a criação da Inspetoria de Educação Física, todas realizadas na segunda metade da década de 1920, e que influenciaram a legitimação da Educação Física como parte do Programa de Ensino nas Escolas.

29 VAGO, 2000.

30 REVISTA DO ENSINO, BH, nº. 10, jan 1926, p. 29.

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Tal como anunciado no início deste trabalho, a segunda metade da década de 20 constitui um período importante no âmbito educacional, no qual percebe-se, neste momento, grandes investimentos por parte do Governo Mineiro. Investimentos estes, que repercutiram decisivamente na afirmação da Educação Física na escola.

Mas, que Educação Física é produzida no período tratado?

Primeiramente, viu-se uma influência marcante dos estudos da psicologia na legitimação dos jogos, como uma prática que poderia ser tratada nas escolas. O jogo, então, não teria um fim em si mesmo, constituindo-se como um instrumento capaz de proporcionar o desenvolvimento integral da criança: social, moral e educacional.

Outra questão importante, é que não bastava afirmar a Educação Física como uma disciplina presente nos Programas de Ensino das Escolas Primárias e Normais, seria necessário também tomar iniciativas, como: fazer circular textos na Revista do Ensino; institucionalizar a Educação Física, criando a Inspetoria; e organizar cursos de aperfeiçoamento de professores. Essas foram algumas das iniciativas que confirmaram a importância deste período para a Educação Física nas escolas.

Como viu-se anteriormente, a década de 20 foi um período decisivo na configuração do Ensino em Minas Gerais, marcado por um movimento de “mudanças advindas da modernidade social, que intervieram na estrutura social de uma forma geral (...), compondo uma significativa alteração da vida moderna”32. Dessa forma, à Educação Física foram atribuídas novas exigências. Segundo Vago (2000, p. 107) neste momento a Educação Física estaria passando por um “possível deslocamento do primado da correção e constituição dos corpos para o primado da eficiência dos gestos”.

Porém, percebe-se, que estes dois primados, correção e eficiência, estavam constituindo um movimento único, uma convivência de primados. Neste período, ainda, não é possível afirmar que um excluía o outro, mas que os dois juntos estariam contribuindo para legitimar a Educação Física nas escolas mineiras.

Pode-se especular, que este movimento de deslocamento do primado da ortopedia para a eficiência dos corpos tenha se concretizado nos anos posteriores, o que poderia constituir uma outra possibilidade de pesquisa.

Uma pesquisa tendo a Revista do Ensino como um objeto de investigação, analisando detalhadamente os artigos referentes à Educação Física, seus autores, suas representações, também seria uma possibilidade interessante para melhor compreendermos o percurso da Educação Física nas Escolas.

Este estudo pretendeu analisar iniciativas do Governo, não como essas iniciativas foram recebidas pela comunidade escolar e se foram concretizadas. Este movimento de apropriação destes dispositivos pelos sujeitos escolares constituiriam-se como uma outra possibilidade de investigação.

E, por último, a Inspetoria de Educação Física mereceria ser analisada em uma pesquisa própria. A Inspetoria foi um órgão que realizou ações muito importantes no âmbito da Educação Física, no período pesquisado. Não foi possível ter acesso a documentos da Inspetoria, a não ser os artigos publicados na Revista e o seu regulamento. Acredito que há muitas informações sobre a Inspetoria ainda precisando ser investigadas.

REFERÊNCIAS

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