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A CULTURA DA PESQUISA NO ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO DO CURSO DE PEDAGOGIA

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Academic year: 2021

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Maribel Susana Kipper1 Marilene Gabriel Dalla Corte2

RESUMO

Esse artigo se refere à pesquisa de um Projeto de Iniciação Científica – PROBIC do Centro Universitário Franciscano, Santa Maria/RS, o qual objetiva investigar a cultura da pesquisa no estágio curricular supervisionado do curso de Pedagogia, considerando suas contribuições para a construção da profissionalidade docente. Considera a relação “pesquisa – formação – atuação” intrinsecamente agregada a cultura estabelecida pela IES, em especial o contexto do estágio curricular supervisionado. Nesse sentido, a pesquisa em andamento tem por prioridade investigar as concepções que os professores orientadores e os alunos estagiários têm do ato de pesquisar; verificar e analisar as práticas de pesquisa priorizadas pelos professores orientadores e pelos alunos estagiários do curso de Pedagogia de uma IES, considerando os próprios processos formativos, assim como as ações pedagógicas pressupostas/realizadas no estágio curricular supervisionado; pontuar contribuições da pesquisa à formação e atuação docente. A metodologia de pesquisa está consistindo numa abordagem qualitativa com professores orientadores de estágio e seus respectivos estagiários do curso de Pedagogia, numa IES de Santa Maria/RS. Até o momento foi construído o contexto conceitual da pesquisa, tendo por base uma pesquisa bibliográfica. Ainda, no 2º semestre/2008 serão aplicados questionários semi-abertos com a finalidade de abarcar no contexto prático de estágio os problemas e objetivos propostos à investigação. Cabe destacar o estágio como um verdadeiro espaço de novas vivências e aprendizagens necessárias à formação do pedagogo, assim como a indissociabilidade ação-reflexão-ação em coerência com os espaços institucionais formativos que ao criarem o hábito de pesquisa com os alunos potencializam o ensinar e aprender por meio da problematização, da reflexão, do posicionamento e produção própria e/ou coletiva, tanto nas Instituições formadoras de professores, quanto nos contextos de atuação desses futuros professores.

Palavras-chave: Pesquisa. Estágio Curricular Supervisionado. Pedagogia.

INTRODUÇÃO

Essa investigação prioriza a pesquisa como uma ação formativa que desenvolve saberes os quais fundamentam a ação-reflexão-ação e, portanto, potencializa o olhar criterioso sobre o mundo, assim como contribui com a construção a profissionalidade do professor.

Se refere a um Projeto de Iniciação Cientifica do Centro Universitário Franciscano/Unifra que aborda a pesquisa no estágio curricular supervisionado do curso de Pedagogia, considerando o contexto multifacetado de formação e atuação de professores. Portanto, parte-se do princípio que a pesquisa possibilita a cultura de compreensão e aproximação da realidade pela análise e reflexão crítica da formação docente, que é um

1 Aluna do Curso de Pedagogia UNIFRA. Bolsista Probic e integrante do grupo de Pesquisa FORPRODOC/UNIFRA.

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Doutoranda em Educação PPGE/PUCRS. Professora do Centro Universitário Franciscano – UNIFRA, Santa Maria. Profª da Rede Municipal de Ensino de Santa Maria/RS. Pesquisadora do Grupo de Pesquisa FORPRODOC/UNIFRA.

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processo contínuo e inacabado que objetiva a constante reflexão sobre o próprio desenvolvimento profissional.

É nesse sentido que a educação pela pesquisa requisita que tanto o professor formador quanto o futuro professor sejam mediadores e parceiros no processo educativo e científico. Daí a necessidade de investigar: Qual a relação da cultura de pesquisa com a formação docente? Quais as contribuições da pesquisa na formação e atuação docente? Quais as concepções que os professores orientadores e os alunos estagiários do curso de Pedagogia têm do ato de pesquisar? Quais as principais atividades que mobilizam a pesquisa como princípio científico e formativo realizadas nos estágios do curso de Pedagogia?

Nesse sentido, esse projeto está priorizando investigar e refletir sobre a cultura da pesquisa no estágio curricular supervisionado do curso de Pedagogia, considerando suas contribuições para a construção da profissionalidade docente. Para tanto, tornou-se necessário mapear as concepções que os professores orientadores e os alunos estagiários do curso de Pedagogia de uma IES de Santa Maria/RS têm do ato de pesquisar; conhecer e analisar as práticas de pesquisa priorizadas pelos professores orientadores e pelos alunos estagiários do curso de Pedagogia de uma IES, considerando as ações pedagógicas realizadas no estágio; pontuar as contribuições da pesquisa na formação e atuação docente.

1 O ESTÁGIO CURRICULAR SUPERVISIONADO COMO ESPAÇO DE CONSTRUÇÃO IDENTITÁRIA DO PEDAGOGO

Acredita-se que a Pedagogia, ainda, está envolvida com antigos problemas geracionais de crise de identidade, pois no momento em que seu foco está centrado na docência, mas o perfil profissional do pedagogo é multifacetado, já surgem grandes controvérsias.

As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs), sim, estão ancoradas em pressupostos que num curso de 3200 horas torna-se quase que impossível dar conta da formação desse super profissional. Então, se pergunta pós DCNs: Como compor um currículo que dê conta da docência e, ao mesmo tempo, de atuação na gestão, em espaços sociais, na pesquisa e extensão, entre outros aspectos, considerando que nas DCNs os conteúdos e espaços de atuação são imprecisos?

Talvez se esteja entrando num novo período de retomada, ou até mesmo de reestruturação da Pedagogia. Um período de redimensionar a verdadeira identidade do pedagogo, mas, para isso, é preciso definir com clareza a identidade do curso de Pedagogia em busca constante da melhoria da profissionalidade desse docente.

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Entende-se que é preciso ir em busca de novas estruturas, novas abordagens teóricas e práticas na Pedagogia, principalmente quando se trata da construção de um estatuto epistemológico próprio ao curso. Porém, ele precisa ser fortalecido pelo conhecimento dos profissionais da educação, aqueles mesmos que estudam, pesquisam e vivem o cotidiano das práticas educativas nas mais diferentes instituições de ensino; aqueles que são formadores de professores, assim como aqueles que recebem esses professores formados nas escolas para atuarem frente à demanda educacional.

Portanto, compreender o estágio curricular supervisionado como espaço de construção da identidade profissional em um contexto e tempo destinado ao processo ensino e aprendizagem é reconhecer que a formação acadêmica não é suficiente para preparar o aluno ao exercício de seu ofício. Faz-se necessária a inserção no contexto da instituição educacional para o envolvimento e aprofundamento em situações específicas da profissão, as quais contribuem para a aproximação do aluno com o saber fazer e, consequentemente, com a possibilidade de desenvolvimento profissional.

A pesquisa como atividade reflexiva e investigativa constitui aspecto essencial ao processo educativo e formativo dos sujeitos. Ela deve contemplar vários critérios para o seu desenvolvimento, pois esses irão proporcionar o exercício de uma prática pedagógica diferenciada e qualitativa.

Pimenta e Lima (2004) apresentam diferentes concepções de estágio, tendo como ponto de partida e chegada a necessidade do professor compreender as muitas facetas da “teoria e da prática” nesse contexto. Sendo assim, as autoras pressupõem:

A prática como imitação de modelos, em que tradicionalmente, o estágio é composto pela observação do professor titular e, após, a regência de turma. Neste esquema, o aluno é induzido seguir modelos de aulas que obtiveram êxito. Geralmente, os alunos estagiários apropriam-se de modelos e executam ser o menor senso crítico, ou seja, os professores formadores não consideram que os alunos não são mais os mesmos, que a escola é outra, em fim, uma série de fatores que interferem no planejamento.

A prática como instrumentalização técnica, assim como em diversas profissões, os professores lançam mão de técnicas para desenvolverem seu trabalho. Para Pimenta e Lima (2004), é preciso desmistificar a dicotomia entre teoria e prática, pois:

[...] teoria e prática são tratadas isoladamente, o que gera equívocos graves no processo de formação profissional. A prática pela prática e o emprego de técnicas sem a devida reflexão podem reforçar a ilusão de que há uma prática sem teoria ou de uma teoria desvinculada da prática. (p. 37)

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Conhecer técnicas e metodologias de ensino fazem parte da formação profissional docente, porém antes, o aluno deve saber como e em que momento utilizá-las. Para isto, o conhecimento teórico é indispensável, bem como uma análise crítica que identifique o perfil dos educandos com a técnica.

A solicitação por parte dos alunos, de modelos e técnicas para utilizarem em seus estágios, reforça, muitas vezes, a distância das disciplinas do curso com o contexto educacional de atuação do estágio. Sendo assim, a formação de profissionais capacitados, tanto para o exercício da docência como para a pesquisa, é de responsabilidade da Universidade, que além de preocupar-se com a interdisciplinaridade nos cursos de formação, necessita repensar o papel da pesquisa como instrumento formativo e reflexivo.

O que entendemos por teoria e prática denota que a cultura de que prática e teoria são elementos distintos prejudica o trabalho dos professores e precisa ser superada. Por isto, Pimenta e Lima (2004) observam que a profissão de professor consiste em uma atividade social, ou seja, atua nas bases formativas dos sujeitos e é uma das maneiras de intervenção e possibilidade de mudança social e acontece, geralmente, dentro das instituições escolares.

Com base nesta estrutura, “prática é definida como os fatores que compõem a instituição: convenções, cultura, políticas e filosofias educativas” (p.42). Contudo, os professores nem sempre tem clareza de seus objetivos, o que requer uma reflexão em suas ações pedagógicas.

Nesse processo, o papel das teorias é iluminar e oferecer instrumentos e esquemas para análise e investigação que permitam questionar as práticas institucionalizadas e as ações dos sujeitos e, ao mesmo tempo, colocar elas próprias em questionamento, uma vez que as teorias são explicações provisórias da realidade (PIMENTA E LIMA, 2004, p. 43).

Compreender a dinâmica das instituições educativas, seus elementos é componente básico do processo de formação dos professores formadores e futuros professores. Para a autora, isto só será possível se nos cursos de formação forem estabelecidas relações e inter-relações entre todas as disciplinas do curso, tanto as convencionadas como práticas como as teóricas, pois, para ela, são indissociáveis.

O Estágio superando a separação entre teoria e prática/estágio: aproximação da realidade e atividade teórica. Com a compreensão dos conceitos de ação e prática, para as autoras o próximo passo é trabalhar no conceito de estágio, uma vez que a aproximação no contexto de estágio não deve acontecer apenas fisicamente. Ela está recheada de intencionalidades, críticas e perguntas com o objetivo do estagiário buscar alternativas e intervenções para contribuir com possíveis transformações na realidade. Este movimento de

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inter-relação entre teoria, prática e contexto educativo é chamado de práxis e tem como objetivo diluir a dicotomia entre teoria e prática e concretizar “o estágio como atividade teórica instrumentalizadora da práxis” (PIMENTA, 1994, apud PIMENTA E LIMA, 2004, p. 47).

O estágio como pesquisa e a pesquisa no estágio são apontados como meio de intervenção na realidade escolar. Possibilitam, segundo Pimenta e Lima (2004), ao aluno se aproximar mais da natureza científica da pesquisa; é uma outra relação com o campo de trabalho, o que requer, tanto do professor formador como do futuro professor, nova postura pela problematização da realidade. Nesse sentido, ambos deverão contextualizar a realidade, verificar os pontos fortes e as fragilidades, questioná-la e buscar possíveis soluções e explicações ancorados no seu repertório de saberes.

Dentro de uma perspectiva que entende o estágio como uma prática contextualizada historicamente e um meio de conhecer e intervir nas instituições de ensino, e o estagiário como sujeito em processo de aquisição intelectual, é que o campo da pesquisa se abre. Neste momento, não mais para analisar o processo de aprendizagem dos alunos das escolas campo, mas para refletir sobre as ações docentes. O conceito de professor reflexivo difundido por Donald Schöon é apontado como elemento chave para este processo.

A formação do estagiário estaria fundamentada na epistemologia da prática, pois

[...] na valorização da prática profissional como momento de construção de conhecimento por meio de reflexão, análise e problematização dessa prática e a consideração do conhecimento tácito, presente nas soluções que os profissionais encontram em ato. (PIMENTA E LIMA, 2004, p. 48)

Nesta linha de pensamento, os conhecimentos produzidos pelos docentes em trabalho começam a ser reconhecidos e a escola com todos os seus contextos passam a ser lugar de produção de conhecimento e, conseqüente, de formação dos futuros professores.

O estágio curricular integrado em todas as disciplinas do curso, desde o início e, tendo a pesquisa como meio de diagnosticar as práticas docentes utilizadas no processo de ensino, desenvolverá no estagiário habilidades e técnicas relativas à pesquisa, à análise de dados, à identificação de que teorias são utilizadas pelos professores nas escolas. Por meio destes elementos, desenvolverão projetos embasados em conceitos teóricos, porém, contextualizados com as necessidades identificadas em cada situação. Para Pimenta e Lima (2004), portanto, “[...] o desafio é proceder ao intercâmbio, durante o processo formativo, entre o que se teoriza e o que se pratica em ambas” (p. 57).

Como ator social, o pesquisador é fenômeno político, que, na sua pesquisa, se traduz, sobretudo, pelos interesses que mobilizam os confrontos e pelos interesses aos quais serve

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(PIMENTA, 2002). Portanto, a verdadeira pesquisa ocorrerá quando o profissional perceber que os sujeitos envolvidos nos processos educativos e formativos são sujeitos ativos e reflexivos. Nesse sentido, é imprescindível que os professores, assim como os futuros professores, estejam em constante reflexão, ação, pesquisas e formação, pois, nesse enfoque, estarão se qualificando e capacitando para não só ensinar, como também e, principalmente, aprender nos e com os contextos educacionais.

Sabe-se que um dos principais objetivos do estágio, como componente curricular da formação de professores, é potencializar a construção de aprendizagens que se constituirão em saberes do professor, estabelecendo a conexão entre teoria e prática.

Por estágio curricular entende-se as atividades que os alunos deverão realizar durante o seu curso de formação, junto ao campo futuro de trabalho [...] Por isso costuma-se denominá-lo a “parte mais prática” do curso, em contraposição às demais disciplinas consideradas como a “parte mais teórica”. Estágio e disciplinas compõem o currículo do curso, sendo obrigatório o cumprimento de ambos para obter-se o certificado de conclusão. (PIMENTA, 1994, p.21).

Cabe destacar o estágio como verdadeiro espaço de novas vivências e aprendizagens, pois é possível, pelas diferentes modalidades necessárias à formação do pedagogo, entre elas observação, monitoria, planejamento, regência, entre outros. É importante que as atividades realizadas lá sejam consideradas como pólo de reflexão e crítica, como recurso problematizador in loco pelo currículo do curso de formação. Esse refletir dentro de um espaço e tempo institucional, voltado para a prática profissional, privilegia a análise contextualizada ancorada em referenciais teóricos, propicia a produção própria do aluno e do professor, assim como constitui-se elemento integrador entre IES e ambiente de estágio.

O estágio, portanto, necessita ser pensado como elemento articulador do currículo do curso de Pedagogia, pois diz respeito a possibilidade prática de inserção do aluno ao campo de atuação profissional. Porém, não pode ser pensado somente com esse olhar simplista, uma vez que vai além dessa inserção; ele está recheado de intencionalidades, críticas e perguntas com o objetivo de buscar alternativas e intervenções para auxiliar na formação do futuro profissional e de potencializar transformações na realidade.

Propicia um elo de ligação, a conexão entre as disciplinas curriculares e a contextualização desses aportes teórico-práticos na profissionalidade do futuro professor, traduzida, entre outros aspectos, pela competência técnica e humana desse profissional contextualizada ao campo de atuação. Assim, compreender a dinâmica das instituições educativas e seus elementos é componente básico do processo de formação de futuros professores e professores. Para Pimenta e Lima (2004), isto só será possível se nos cursos de

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formação forem estabelecidas inter-relações entre todas as disciplinas do curso, tanto as convencionadas como práticas como as teóricas, pois, para ela, são indissociáveis.

Repensar a organização curricular dos cursos de formação de professores com o intuito de articular as disciplinas ao estágio supervisionado para proporcionar a transversalidade dos conceitos estudados às práticas vivenciadas pelos estagiários ao longo do curso vai de encontro a superação do modelo da racionalidade técnica. Pois, neste modelo, tanto professores como alunos não desfrutam da possibilidade da reflexão sobre a complexidade do cotidiano. Ghedin (2008) afirma que é necessário resgatar a base reflexiva da atuação profissional com o objetivo de entender a forma em que realmente se abordam as situações problemáticas da prática.

Outro aspecto a ser considerado é que o estágio ao envolver a totalidade das atividades realizadas na dimensão curricular do curso de formação de professores, orienta-se em consonância com a proposição da proposta pedagógica desse curso e, para tanto, deve contemplar em sua essência uma dimensão teórica que esteja agregada à dimensão prática de maneira indissociável e simultânea, considerando que tem a finalidade de promover vínculos entre o pensar e o fazer, numa verdadeira prática de ensino.

Para Ghedin (2008, p. 15) “[...] o elemento que faz o imbricamento entre teoria e prática é o processo de pesquisa que se desenvolve ao longo de toda a formação profissional.” Assim sendo, quando um curso se abstém deste elemento em seu projeto pedagógico torna-o incompleto e desprovido de autonomia com relação a produção de conhecimento por meio da reflexão sobre e na ação.

2 A UNIVERSIDADE COMO ESPAÇO DE PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO

A universidade como espaço de produção da cultura, ciência e tecnologia torna-se um ambiente fértil em trocas de conhecimento e produção do mesmo. Para Fávero (2008):

[...] a universidade como instituição dedicada a promover o avanço do saber e do saber fazer; ela deve ser o espaço da invenção, da descoberta, da teoria, de novos processos; deve ser o lugar da pesquisa, buscando novos conhecimentos, sem a preocupação obrigatória de sua aplicação imediata: deve ser o lugar da inovação, onde se persegue o emprego de tecnologias e de soluções; finalmente, deve ser o âmbito da socialização do saber, na medida em que divulga conhecimentos. (p. 53)

Para atingir tais proposições é indispensável que a produção de conhecimento e sua conseqüente divulgação ocorram por meio de projetos de ensino, pesquisa e extensão, aproximando mais a vida acadêmica da sociedade e contribuindo para que estas instituições mantenham-se vivas e em sintonia com o mundo que as cerca.

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A cultura produzida e reproduzida dentro da universidade é, também, o reflexo da cultura da sociedade na qual está inserida e, portanto, aproximando as produções tecnológicas, científicas e filosóficas à produção de cultura dentro da própria universidade, desempenhará o importante papel de servir ao homem.

Então, a universidade entendida como um espaço plural deve compreender a totalidade de idéias e visões de mundo de todos os sujeitos que a compõem e do contexto histórico que acompanha sua trajetória e produção de saberes, pois “trata-se de um saber produzido por sujeitos situados e datados historicamente, na medida em que o desenvolvimento de uma sociedade passa necessariamente pela formação de homens” (FÁVERO, 2008, p.56).

Na função formadora da IES, inclui-se a formação de profissionais pensantes e capazes de intervir na realidade onde irão atuar. Para Fávero (2008), o embasamento para estas capacidades está no ensino e na pesquisa desenvolvidos dentro da universidade e que se constituirão em ferramenta para o futuro profissional que, em seu curso de formação construirá as bases para seu desempenho como profissional e como cidadão.

Para tanto, a instituição formadora deve estar devidamente equipada com os recursos materiais e humanos que a pesquisa requer, sejam eles: bibliotecas, laboratórios, professores capacitados e gestão comprometida com estes princípios. Caso contrário, “o ensino tende a se tornar estéril e obsoleto. Não passará de um ensino livresco, de uma repetição muitas vezes monótona daquilo que os outros produziram ou escreveram” (FÁVERO, 2008, p. 57).

Contudo, as universidades também enfrentam dificuldades, desde problemas financeiros, administrativos, a má distribuição de verbas entre os diferentes centros, pouca ou nenhuma participação de alunos, professores e funcionários nas decisões da instituição até a falta de visão das exigências que a sociedade contemporânea faz da produção científica.

Outros fatores também influenciam negativamente o cotidiano do trabalho docente no acompanhamento dos estagiários, são eles: sobrecarga de horas em sala de aula e poucos professores envolvidos apenas com as atividades de estágio; isto implica em poucas horas para reuniões com estagiários, professores e supervisores das escolas-campo; o grande número de alunos para orientar e as distâncias entre as escolas e a universidade; a desvalorização do trabalho com projetos de estágio, pois os professores, atualmente, são avaliados na quantidade de pesquisas e de publicações que realizam, enquanto que o envolvimento com a qualidade na formação inicial via estágio não tem o mesmo prestígio. E ainda,

Nas instituições de nível superior onde os contratos docentes se resumem a aulas, sem previsão de pesquisa, os estágios tendem a ser encarados como atividades

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burocráticas. A ausência da tradição em pesquisa dificulta a realização de práticas voltadas a um estágio mais significativo na formação de professores, as quais tendem a ser realizadas nas formas tradicionais de reprodução de modelos de práticas observadas (PIMENTA e LIMA, 2004, p. 182).

Contudo, a superação desta concepção não acontece de uma hora para outra; requer tempo e dedicação de todos. Também faz parte de um processo, cujo ponto de partida em busca de uma prática de estágio coerente está na formação acadêmica de qualidade, embasada cientificamente, e que tenha como pressuposto a intervenção e a proposição de alternativas criativas para a sociedade, além de formar um aluno cidadão que tenha capacidade de ter uma visão geral do mundo que o cerca.

Para Fávero (2008), esta seria a finalidade mais complexa de uma universidade que depende do comprometimento de administradores e professores, apesar das grandes dificuldades enfrentadas nos dias de hoje. Sugere, ainda, que seja realizada uma reflexão para avaliar sobre quais pilares a estrutura curricular do curso está fundamentada, para que sociedade se pretende formar profissionais e quais suas responsabilidades com o ensino e, também, qual tipo de professor que compõe o corpo docente da instituição.

Deste modo, a pesquisa como ato político e pedagógico norteia a ação investigativa e instigadora na contínua conexão de ensino e aprendizagem, na via de mão dupla entre IES e instituições parceiras no estágio.

CONCLUSÃO

Conclui-se que a pesquisa no estágio deve ser entendida pela dimensão política, porque trata de opções fundamentalmente éticas e sociais no sentido das vivências e aprendizagens que envolvam a cidadania responsável, que contemplem a sociedade plural em amplo debate e coletividade. Também deve ser priorizada a pesquisa como ato pedagógico, porque articula, além do compartilhamento de idéias, ações coletivas e colaborativas sobre o que e como fazer. Nesse sentido, é preciso articular a organização e a condução das práticas com critérios bem definidos para, sobretudo, saber onde quer chegar, por que, com quem, e como vai se fazer isso acontecer.

Assim, o objetivo, tanto da dimensão política quanto pedagógica da pesquisa no estágio curricular supervisionado é a captação do pleno aproveitamento das potencialidades dos sujeitos, professores formadores e futuros professores e instituições envolvidas, onde todos têm um ganho em conhecimento da realidade e, em especial, agregam esse conhecimento tácito ao conhecimento teórico-prático, o que constitui formação inicial e continuada de qualidade.

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Quanto à construção da identidade tendo por base uma profissão, ressalta-se que se inicia nos processos formativos vividos numa IES e, necessariamente, tem por base as experiências vividas em estágio. Deste modo, os anos vivenciados na universidade funcionam como período de preparação e iniciação à construção identitária e da profissionalização do professor, que perpassa pela inter-relação entre ensino e pesquisa, enquanto atividades inerentes à formação e, conseqüentemente, à atuação docente.

Portanto, cabe destacar o estágio como um verdadeiro espaço de novas vivências e aprendizagens necessárias à formação do pedagogo, assim como a indissociabilidade ação-reflexão-ação em coerência com os espaços institucionais formativos, que ao criar o hábito de pesquisa com os alunos potencializam o ensinar e aprender por meio da problematização, da reflexão, do posicionamento e produção própria e/ou coletiva, tanto nas Instituições formadoras de professores, quanto nos contextos de atuação desses futuros professores.

Assim, acredita-se que a pesquisa é uma ferramenta importantíssima utilizada para iniciar e dar continuidade à formação profissional e para desenvolver a criatividade intelectual dos pesquisadores. Portanto, o ato de pesquisar deve ser um exercício contínuo, tanto no professor como no aluno.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL. Resolução CNE/CP nº 1/2006. Resolução sobre as Diretrizes Curriculares para a Graduação em Pedagogia. Aprovada em de 15 de maio de 2006 de 15 de maio de 2006. DEMO, Pedro. Pesquisa: princípio científico e educativo. 9. ed. São Paulo: Cortez, 2002. FÁVERO, Maria de Lourdes de Albuquerque. Universidade e estágio curricular: subsídios para discussão. In.: ALVES, Nilda (Org.). Formação de Professores: Pensar e fazer. São Paulo: Cortez, 1999.

GHEDIN, Evandro; ALMEIDA, Maria Isabel de. LEITE, Yoshie Ussami Ferrari. Formação

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PIMENTA, Selma Garrido (org.). Saberes pedagógicos e atividade docente. São Paulo: Cortez, 2002.

PIMENTA, Selma Garrido; ANASTASIOU, Léa das Graças Camargo. Docência no ensino

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PIMENTA, Selma Garrido. O Estágio na Formação de Professores: Unidade, Teoria e Prática? São Paulo: Cortez, 1994.

PIMENTA, Selma Garrido; LIMA, Maria do Socorro Lucena. Estágio e Docência. 2ª Ed. São Paulo: Cortez, 2004.

ZEICHNER, K. M. A formação reflexiva de professores: idéias e práticas. Lisboa: Educa, 1993.

Referências

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