UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E AMBIENTAIS
CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS
USO DA MEIOFAUNA COMO FERRAMENTA DE AVALIAÇÃO AMBIENTAL EM DUAS ÁREAS ESTUARINAS DO GOLFÃO MARANHENSE.
LUIZ PHELIPE NUNES E SILVA
USO DA MEIOFAUNA COMO FERRAMENTA DE AVALIAÇÃO AMBIEN-TAL EM DUAS ÁREAS ESTUARINAS DO GOLFÃO MARANHENSE
Monografia apresentada ao Curso de Ciên-cias Biológicas da Universidade Federal do Maranhão, como pré-requisito para a ob-tenção do título de Bacharel e Licenciado em Ciências Biológicas.
Orientador: Prof. Dr. Jorge Luiz Silva Nu-nes
LUIZ PHELIPE NUNES E SILVA
USO DA MEIOFAUNA COMO FERRAMENTA DE AVALIAÇÃO AMBIENTAL EM DUAS ÁREAS ESTUARINAS DO GOLFÃO MARANHENSE
Monografia apresentada ao Curso de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Mara-nhão, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel e Licenciado em Ciências Bio-lógicas.
COMISSÃO EXAMINADORA
______________________________________________________ Prof. Dr. Jorge Luiz Silva Nunes (Orientador) - UFMA
______________________________________________________ MSc. Maurício Araújo Mendonça (1º Examinador) - UFMA
______________________________________________________ Esp. Luiz Henrique Carvalho Rodrigues (2º Examinador) - IFMA
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Thelma Helena, minha mãe linda e maravilhosa, que apesar da saudade e às
vezes algumas discordâncias sempre me incentiva a correr atrás de todos os meus sonhos e
objetivos.
Ao meu irmão e orientador Jorge Luiz Silva Nunes por todos os ensinamentos e criticas
construtivas.
A Marina Nunes, minha irmã e eterna ajudante que me auxiliou anotando as contagens
de meiofauna e ouvindo as minhas deduções e conclusões a respeito do trabalho.
Aos meus tios e primos por sempre acreditarem que eu poderia ser mais que um menino
“brincalhão”, em especial a Tia Adriana Vasconcelos por ser a primeira a me incentivar quan-do eu disse que seguiria no ramo da Biologia em vez da Engenharia Mecânica.
Aos meus amigos do peito, a galera LAMBILASKA, que apesar da distância sempre
es-tiveram prontos para ajudar em qualquer ocasião.
Aos meus eternos amigos do Vinhais: Andrey, Thiago e Gerson pelo incentivo, pela
troca de ideias e experiências que de alguma forma me fizeram amadurecer como pessoa e
também como profissional.
Aos amigos de turma pelas trocas de conhecimento, pela união na hora dos
“perren-gues” e também pelos momentos bons que também fazem parte do amadurecimento
profis-sional.
Aos professores da UFMA–CCAA que sempre estiveram dispostos a trocar
A todos meus colegas de laboratório: Diego, Maura, Maurilene, Maria Francisca,
Jake-line, André Luís, Aldemir, Luciano, Jailma, Anderson, André Paiva e Pâmela por aqueles
momentos de trabalho no laboratório e também pelos momentos de descontração.
Aos companheiros de coleta: Albertina, Carlos, Rannyele, Allana, Lorena, Alex,
Wal-lacy, Daniele, Zeca, Caru, Renato por todos os bons momentos vividos em campo, como as
atoladas na lama, as risadas e o cinema com os melhores filmes.
Aos marinheiros Sebastião, Santos e Fernadinho por aturarem os atrasos e as bagunças
desses novos cientistas.
Ao companheiro Eder Serejo pela ajuda com o abstract do trabalho.
À Pró Vida pela oportunidade de trabalho e pela bolsa concedida.
A todos que me deram a oportunidade de conhecer e trabalhar no Igarapé do rio Tronco
e no Igarapé Buenos Aires, dois lugares lindos que oferecem uma grande quantidade de
in-formações para pesquisas futuras.
Enfim, A todos que estiveram comigo desde o inicio dessa caminhada que está só
co-meçando.
RESUMO
O estudo teve finalidade de utilizar a meiofauna como indicador da qualidade
ambien-tal em dois manguezais situados em áreas estuarinas no Golfão Maranhense, por meio da
ca-racterização da sua estrutura de comunidade, variação espaço-temporal e determinação dos
índices Nematoda/Copepoda. Este estudo foi realizado no igarapé do rio Buenos Aires,
locali-zado próximo aos portos da ilha do Maranhão e no igarapé do rio Tronco, localilocali-zado na ilha
dos Caranguejos. Foram realizadas coletas trimestrais no período de abril de 2010 a fevereiro
de 2013, totalizando 11 amostragens. A metodologia foi do tipo transecto, onde materiais
bio-sedimentológicos foram coletados com tubo PVC e fixados a formol a 4 %. O presente
traba-lho apresentou padrões diferentes em relação à dominância dos grupos meiofaunísticos entre
o igarapé do rio Tronco e igarapé do rio Buenos Aires. As densidades médias também foram
consideradas baixas e os índices Nematoda/Copepoda apresentaram valores que
corresponde-ram a um ambiente perturbado em 9,09% das amostras. No entanto, o fato dos maiores
valo-res terem sido encontrados na área próxima ao porto do Itaqui, é suficiente para determinar a
baixa qualidade ambiental, pois revela que esta área é passiva de ações perturbadoras. Já a
análise MDS separou as duas áreas estudadas, evidenciando que existe distinção estrutural da
comunidade meiofaunística entre as duas áreas em todos os andares bênticos avaliados. Por
fim foi provado que a meiofauna pode ser usada para monitorar a zona portuária do Golfão
Maranhense.
ABSTRACT
The purpose of this study was to use the meiofauna as an indicator of environmental
quality such in two mangroves located in estuarine areas in Golfão Maranhense, through the
characterization of their community structure, spatial-temporal variation and determination of
indices Nematoda/Copepoda. This study was conducted in the stream of Buenos Aires’s river,
located close to the ports of Ilha do Maranhão and stream of Tronco’s river, located on Ilha
dos Caranguejos. Were collected quarterly from april 2010 to february 2013, totaling 11
sam-ples. The methodology was the type transect, biosedimentological materials were collected
using PVC pipe and fixed to 4% formalin. The present study showed different patterns
re-garding the dominance of meiofauna taxa between the stream of the Tronco’s river and stream
of the Buenos Aires’s river. The average densities were also considered low and the indexes
Nematoda/Copepoda showed values that corresponded to a disturbed environment in 9.09%
of samples. However, the fact that the highest values were found in the field near the Porto do
Itaqui is sufficient to determine the low environmental quality, because reveals that this area
is passive actions disturbing. Already MDS analysis separated the two fields studied, showing
that there is community meiofaunística structural distinction between the two fields on all
floors benthic evaluated. Finally, it was proven that meiofauna can be used to monitor port
field in Golfão Maranhense.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Mapa ilustrativo da localização igarapé do rio Tronco (área controle) e do igarapé do rio Buenos Aires (área tratamento), Golfão Maranhense.
Figura 2: Esquema que ilustra a metodologia do tipo transecto utilizada nas áreas dos igara-pés do rio Tronco e rio Buenos Aires. Os círculos azuis dispostos na verticas indicam os três pontos amostrados, cada um referente a um andar bêntico. Os círculos dispostos na horizontal indicam as réplicas de cada ponto.
Figura 3: Variação dos parâmetros abióticos ao longo do tempo na área controle (Igarapé do rio Tronco) e área tratamento (Igarapé Buenos Aires) no período entre 2012 e 2012. A) pH; B) Temperatura; C) Oxigênio dissolvido; D) Salinidade.
Figura 4: Riqueza dos grupos meiofaunísticos: A) Igarapé Tronco B) Igarapé Buenos Aires, Golfão Maranhense.
Figura 5: Abundância relativa dos grupos meiofaunísticos: A) Igarapé Tronco B) Igarapé Buenos Aires, Golfão Maranhense.
Figura 6: Densidade média da meiofauna nos Igarapés do rio Tronco e do rio Buenos Aires, Golfão Maranhense.: A) Igarapé Tronco; B) Igarapé Buenos Aires.
Figura 7: Densidade média da meiofauna ao longo dos andares bênticos dos Igarapés do rio Tronco e rio Buenos Aires, Golfão Maranhense.
Figura 8: Densidade média dos grupos mais abundantes nos Igarapés do rio Tronco e do rio Buenos Aires, Golfão Maranhense: A) Gastropoda B) Nematoda.
Figura 9: Índice Nematoda/Copepoda para as áreas controle e tratamento: A) Igarapé Tronco B) Igarapé Buenos Aires, Golfão Maranhense.
LISTA DE TABELAS
12 1. INTRODUÇÃO
Os manguezais são ecossistemas típicos de ambientes estuarinos que geralmente
estão associados às margens de baías, enseadas, desembocaduras de rios, reentrâncias
costeiras, sendo considerados como importante zona úmida e de grande valor ecológico,
pois estes ambientes caracterizam-se pela complexidade, alta resiliencia e resistência,
graças à adaptação dos organismos às constantes e sensíveis variações de fatores
bióti-cos e abiótibióti-cos que proporcionam condições favoráveis para alimentação, proteção e
reprodução de muitas espécies de animais, além de desempenhar papel social e
econô-mico nos lugares onde se encontram (SCHAEFFER–NOVELLI, 1990).
Por outro lado, a intervenção antrópica tem tornado estes ambientes cada vez mais
suscetíveis a impactos ambientais, pois a exploração indevida de espécies de valor
co-mercial, a expansão do perímetro urbano e o funcionamento de zonas portuárias afetam
o funcionamento desses ecossistemas, que por sua vez tornam-se cada vez mais
vulne-ráveis (Barragán-Muñoz, 2005). Dessa forma, é possível compreender que as atividades
portuárias geram transformações no ambiente cujas consequências estão associadas aos
impactos negativos como às dragagens, ao material dragado, ao derramamento de
pro-dutos, à geração de resíduos sólidos e à introdução de organismos exóticos e nocivos
pela água de lastro (Porto & Teixeira, 2002).
A introdução de poluentes em ambientes aquáticos normalmente dá origem a um
evento ecológico denominado eutrofização, caracterizado pelo aumento excessivo de
nutrientes no meio que acelera a produtividade e gera muitas vezes o crescimento
des-controlado de algumas espécies em relação a outras (Eskinazi–Leça et al., 2004).
Por-tanto, o desenvolvimento de atividades geradoras de impacto na área de influência dos
manguezais deve ser cuidadosamente monitorado, sempre com o intuito de preservar a
13 A comunidade científica tem utilizado o monitoramento biológico como
ferra-menta de avaliação ambiental para determinar os efeitos e as consequências dos
impac-tos negativos no ambiente. Esse processo consiste em avaliar as respostas das
comuni-dades biológicas a possíveis modificações nas condições ambientais originais, pois
es-sas comunidades refletem toda a condição dos ecossistemas, integrando os efeitos de
diferentes agentes impactantes (Barbour et al., 1999).
Alguns organismos são comumente utilizados na avaliação da qualidade
ambien-tal de ecossistemas aquáticos, pois os índices bióticos transmitem informações que
rela-cionadas aos parâmetros físico-químicos fornecem uma visão ampla sobre o estado em
que o ambiente se encontra (Borja et al, 2000). Dentre esses organismos estão os grupos
meiofaunísticos, que por sua vez são representados pelos metazoários com dimensões
de 0,045mm a 0,5mm, que vivem associados ao substrato ou a plantas aquáticas
(War-wick, 1984).
A utilização da meiofauna apresenta características vantajosas para o seu uso na
avaliação da qualidade ambiental, a exemplo do seu pequeno tamanho e alta densidade
que favorecem as análises quantitativas, o menor volume das amostras que facilita o
transporte e manuseio do material coletado ao laboratório; o ciclo de vida dos seus
componentes que é rápido e propicia amostragens em curtos intervalos e o grande
po-tencial de respostas aos eventos de poluição, mais efetivos do que aos da macrofauna
(Warwick, 1993; Somerfield et al, 2003).
Assim, a hipótese do presente trabalho é verificar se os impactos produzidos pelas
zonas portuárias causam efeitos negativos sobre a comunidade meiofaunística presente
nas regiões adjacentes aos portos. Deste modo, o estudo teve o objetivo de utilizar a
14 em ambientes estuarinos no Golfão Maranhense por meio da caracterização da estrutura
de comunidade, da variação espaço-temporal e da determinação dos índices
Nemato-da/Copepoda.
2. MATERIAL E MÉTODOS
2.1. Área de estudo
A baía de São Marcos é a maior baía da costa Norte do Brasil, está delimitada
es-pacialmente pelo continente a Oeste, pela ilha do Maranhão a Leste e pela foz do Rio
Mearim ao Sul. Suas principais feições geográficas são caracterizadas pela presença de
canais com grandes profundidades, muitos bancos de areia e pela descarga de inúmeros
rios (DHN, 1972; PALMA, 1979). Além destas, outras características oceanográficas
também são percebidas, tais como a presença de macromarés do tipo semi-diurnas, a
amplitude de maré próxima a 7m e velocidades de corrente com intensidade máxima
atingindo 15,4 m/s (EMAP, 2001).
Este estudo foi realizado em duas áreas localizadas na baía de São Marcos, com
diferentes graus de conservação e impactos. A área correspondente ao tratamento é o
igarapé de Buenos Aires (2°35’55,34” e 44°21’9,33”), que se localizada na região
por-tuária da ilha do São Luís e se destaca pelo elevado grau de antropismo, provenientes de
atividades realizadas nos portos e pela proximidade com povoados ribeirinhos. Já a área
controle situa-se no igarapé Tronco (2°49’39,92” e 44°29’24,38”), localizado na ilha
dos Caranguejos, que por sua vez é uma Área de Proteção Ambiental criada pelo
Go-verno do Estado do Maranhão através do decreto n° 11.900 de 05 de Outubro de 1991
15
Figura 1: Mapa ilustrativo da localização igarapé do rio Tronco (área controle) e do igarapé do rio Buenos Aires (área tratamento), Golfão Maranhense.
2.2. Amostragem
As coletas foram trimestrais no período de abril de 2010 a fevereiro de 2013,
tota-lizando 11 amostragens.
2.2.1. Dados abióticos
Os fatores abióticos amostrados foram, potencial de hidrogênio (pH), temperatura
(Temp.), salinidade (Sal) e oxigênio dissolvido (O.D). Essas variáveis ambientais foram
medidas com o multiparametro HANNA a cada coleta realizada em ambas as áreas.
2.2.2. Meiofauna
Com o intuito de adquirir o material biosedimentológico e por consequência
meto-16 dologia do tipo transecto, que consistiu na determinação de três setores de amostragem
ao longo do mediolitoral.
A faixa do mediolitoral foi determinada por meio das linhas de baixamar e
prea-mar durante as prea-marés sizígias, portanto sendo dividida em três setores: mediolitoral
in-ferior, mediolitoral médio e mediolitoral superior (Figura 2). Em cada setor do
medioli-toral foram amostradas três réplicas por meio de um coletor biosedimentológico
confec-cionado com tubo PVC, medindo dez centímetros de comprimento por três centímetros
de diâmetro interno, perfazendo uma área de 188,49 cm2.
17 O tubo de PVC foi inserido e retirado do sedimento manualmente para a
amostra-gem, em seguida as amostras foram acondicionadas em recipientes plásticos, fixados em
solução de formalina a 4% e devidamente etiquetados.
2.3. Em laboratório
Os materiais biosedimentológicos foram fixados em formol a 4% e levados ao
la-boratório para processamento e triagem, sendo lavados em água corrente sobre peneiras
sobrepostas com malhas de 0,5mm e 0,044mm de abertura, adaptando o método
propos-to por Boisseau (1975), que divide o material em macrofauna e meiofauna, sendo o
úl-timo acondicionado em vidros e preservado em solução de formol salino a 4%.
O material sobrenadante da peneira de 0,044 mm foi quarteado duas vezes para
diluir o material biosedimentológico, em seguida centrifugado manualmente em placa
de Petri e transferido em seguida para uma placa de Dollfus, composta por 200
quadra-dos de 0,25 cm2 cada um. A contagem foi efetuada, em toda a placa sob microscópio
estereoscópico a fim de estimar abundâncias e densidades da fauna, o processo foi
resul-tante da análise de três alíquotas de cada réplica.
2.4. Tratamento numérico
A abundância relativa de cada táxon foi calculada pela seguinte expressão
mate-mática:
Ar = NIT x 100/Nt
,onde:Ar – abundância relativa;
18 Para determinar a densidade da meiofauna adotou-se o cálculo utilizado por
Be-zerra (1994), onde a medida da densidade de indivíduos da meiofauna é dada em
volu-me (núvolu-mero de indivíduos/cm3), é multiplicada pela profundidade considerada (10cm) e
os valores resultantes são expressos em área por 10cm2, sendo considerada uma unidade
padrão para efeito de discussão em comparação com outros estudos.
As densidades foram estabelecidas através da expressão matemática, como segue:
D = 10N/V
, onde:D – densidade (indivíduo/10cm2);
N – número de indivíduos coletados; e
V – volume estimado pela leitura do volume deslocado em proveta graduada.
As ordenações entre a área tratamento e controle foram ilustradas por meio do
diagrama bidimensional do escalonamento multidimensional não-paramétrico (MDS)
através dos valores de densidade para cada um dos andares bênticos no programa
19 3. RESULTADOS
3.1. Dados abióticos
Ao longo do tempo amostral as variáveis ambientais do igarapé do rio Tronco
a-presentaram variação no pH (7 a 8,11); na temperatura (28 a 31,9°C); na salinidade
(13,1 a 38,4) e no oxigênio dissolvido (1,2 a 7,4 mg/l). Quanto ao igarapé do rio Buenos
Aires as variações foram de 7,1 a 8 para o pH, de 28 a 31,2°C para a temperatura, de
12,9 a 39,9 para a salinidade e oxigênio dissolvido variando entre 1,35 e 6,8 mg/l
(Tabe-la 1).
Tabela I: Dados abióticos obtidos na água do igarapé Buenos Aires e igarapé Tronco durante o período de 10 de abril a 12 de junho.
IGARAPÉ BUENOS AIRES IGARAPÉ TRONCO
Mês/Ano pH Temp. (°C) Sal. (UPS) O.D (mg/l) pH Temp. (°C) Sal. (UPS) O.D (mg/l)
abr/10 7,1 29,9 28 2,5 7 30 25,9 2,7 ago/10 7,6 28,6 35,4 6,8 7,4 28,8 31,9 7,4 out/10 7,7 28,7 39,9 5,1 7,3 29,2 38,4 6,5 jan/11 8 28,7 37,2 4,1 8 29,1 31,2 4,2 mar/11 7,6 28,5 12,9 4,5 7,5 29,3 13,1 4,4 set/11 8 29 35 5,1 8 28,6 36 4,8 dez/11 7,98 31,2 13,75 3,05 7,98 30,1 31,59 2,56 mar/12 7,77 29,06 23,23 1,35 8,11 31,09 12,8 2,73 jun/12 7,44 30,6 26,9 1,5 7,74 29,78 18,6 1,2
Durante o período em que o trabalho foi realizado, as variáveis ambientais
segui-ram um padrão similar nas duas áreas amostrais. Por outro lado, as diferenças mais
evi-dentes foram no intervalo entre os meses de setembro a dezembro de 2011 e dezembro
de 2011 a março de 2012, caracterizados por uma diminuição nas variáveis de
salinida-de e temperatura no igarapé do rio Buenos Aires o que também se repetiu no igarapé do
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Figura 3: Variação dos parâmetros abióticos ao longo do tempo na área controle (Igarapé do rio Tronco) e área tratamento (Igarapé Buenos Aires) no período entre 2012 e 2012. A) pH; B) Temperatura; C) Oxigênio dissolvido; D) Salinidade.
3.2. Meiofauna
A composição da comunidade meiofaunística variou entre cinco e nove taxa
du-rante todo estudo nas duas áreas amostradas. Esses grupos taxonômicos foram
represen-tados por taxóns que completam todo seu ciclo de vida na comunidade meiofaunística:
Nematoda, Copepoda, Acari, Ostracoda, Nematomorpha e Polychaeta. A mixofauna,
taxóns que passam apenas parte do seu ciclo de vida como componente meiofauna,
fo-ram representados por Gastropoda, Bivalvia e Echinodermata.
A análise da riqueza dos grupos taxonômicos evidenciou que no ano de 2010 o
igarapé do rio Tronco configurou um ambiente em que a riqueza diminuiu do
mediolito-ral inferior para o mediolitomediolito-ral superior. Por outro lado, a partir do primeiro mês do ano
de 2011 a riqueza de grupos do mediolitoral médio e mediolitoral superior se igualaram,
Ape-21 sar disso, no final de 2011 e em todo ano de 2012 a riqueza de grupos do mediolitoral
inferior permaneceu constante e menor que os demais setores bênticos. Na última
amos-tragem realizada em 2013 observou-se uma diminuição na riqueza dos grupos dos três
setores do manguezal (Figura 4A).
Entretanto, o igarapé do rio Buenos Aires não apresentou padrão definido
refe-rente à riqueza de grupos taxonômicos, pois houve alternância dos maiores valores entre
o mediolitoral inferior e o mediolitoral superior. Também foram observados valores
constantes na riqueza do mediolitoral médio durante os meses de outubro de 2010 a
dezembro de 2011 e no mediolitoral inferior nos meses de setembro de 2011 a junho de
2012 (Figura 4B). Padrões sazonais não foram observados nobs valores da riqueza nas
duas áreas amostradas (Figuras 4A e 4B).
22 Por meio da abundância relativa obteve-se que os grupos meiofaunísticos
apre-sentaram padrões de dominância diferenciados entre a área controle e a área de
trata-mento. No igarapé do rio Tronco a meiofauna foi caracterizada pela dominância de
Gas-tropoda, que apresentaram valores percentuais médios de 49% a 86% no mediolitoral
inferior, de 39% a 90% no mediolitoral médio e de 48% a 80% no mediolitoral superior,
totalizando cerca de 70% da dominância total da meiofauna na área controle (Figura
5A). Por outro lado, o igarapé do rio Buenos Aires apresentou Nematoda como grupo
dominante, que por sua vez apresentou valores percentuais médios de 39% a 87% no
mediolitoral inferior, de 54% a 89% no mediolitoral médio e de 51% a 90% no
medioli-toral superior, perfazendo cerca de 70% da dominância total do grupo na área de
trata-mento (Figura 5B).
23 As densidades médias calculadas para as comunidades meiofaunísticas
apresenta-ram ampla variação ao longo do período de amostragem. Apesar disso não foi possível
destacar nenhum padrão de distribuição das densidades ao longo dos três andares do
mediolitoral nas áreas estudadas e ao longo do tempo de estudo (Figuras 6A e 6B). Por
outro lado, observou-se que as densidades médias dos três andares do mediolitoral
ilus-traram diferenças numéricas notórias entre as áreas de estudo. No igarapé do rio Buenos
Aires os valores da densidade média de todos os andares são superiores aqueles
encon-trados no igarapé do rio Tronco. Além disso, observa-se uma tendência dos valores da
densidade da meiofauna diminuírem no mediolitoral inferior para o mediolitoral
superi-or em ambas as áreas de amostragem (Figura 7).
Realizou-se também uma análise uma comparação da densidade média total
para os dois grupos mais abundantes, uma vez que configuraram a maior diferença
qua-li-quantitativa entre as áreas amostradas. Os valores da densidade de Gastropoda para o
igarapé do rio Tronco superaram em todos os andares do mediolitoral as densidades
encontradas no igarapé do rio Buenos Aires. Enquanto, que Nematoda apresentou as
densidades médias dos três andares no mediolitoral do igarapé do rio Buenos Aires
24
Figura 6: Densidade média da meiofauna nos Igarapés do rio Tronco e do rio Buenos Aires, Golfão Maranhense.: A) Igarapé Tronco; B) Igarapé Buenos Aires.
25
Figura 8: Densidade média dos grupos mais abundantes nos Igarapés do rio Tronco e do rio Buenos Aires, Golfão Maranhense: A) Gastropoda B) Nematoda.
Os índices Nematoda/Copepoda calculados durante todo o período de
amostra-gem para as áreas de controle e tratamento raramente apresentaram valores elevados que
pudessem configurar perturbação ambiental. No entanto, no igarapé do rio Buenos Aires
o índice Nematoda/Copepoda apresentou valores que se aproximaram de 100. Além
disso, é observado apenas um valor referente à décima amostragem do mediolitoral
su-perior que se mostrou susu-perior a 100 (Figuras 9A e 9B).
26
Figura 9: Índice Nematoda/Copepoda para as áreas controle e tratamento: A) Igarapé Tronco B) Igarapé Buenos Aires, Golfão Maranhense.
As ordenações entre a área tratamento e controle ilustradas por meio do MDS
revela que o eixo horizontal separa o Igarapé do rio Tronco do Igarapé do rio Buenos
Aires nos três andares do mediolitoral. Contudo, os escores relacionados às campanhas
de cada área permaneceram próximos entre si, evidenciando que os valores da
meiofau-na demostraram particularidade entre os locais estudados. (Figuras 10A; 10B e 10C). A
27
Figura 10: Ordenações entre a área controle (Igarapé do rio Tronco) e tratamento (Igarapé do rio Buenos Aires) representadas no MDS: A) Mediolitoral inferior; B) Mediolitoral médio; C) medioli-toral superior.
4. DISCUSSÃO
A estrutura da comunidade meiofaunística encontrada neste trabalho é
semelhan-te aos padrões que são registrados para estuários e manguezais de regiões tropicais,
tan-to sob os aspectan-tos qualitativos quantan-to quantitativos. Um exemplo disso são os valores
relacionados à quantidade de grupos meiofaunísticos, pois Gomes et al. (2002)
caracte-rizou 10 taxa em seu trabalho realizado em uma área de manguezal localizado em
28 A maioria da literatura concorda que o grupo taxonômico mais abundante em
tra-balhos de meiofauna em áreas estuarinas e de manguezais é Nematoda, que por sua vez
apresentou dominância apenas na área de tratamento com valores percentuais médios
que variaram de 39% a 90% nos três andares do mediolitoral, totalizando cerca de 70%
da dominância total do grupo (GOMES et al., 2002; SOMERFIELD et al,2003;V
ASCONCE-LOS,2004;MORENO et al, 2008). Essa dominância de Nematoda em áreas com possíveis
interferências de agentes poluidores é provavelmente devido à oferta de matéria
orgâni-ca e baixa tolerâncias dos demais organismos presentes em ambientes com
perturba-ções, pois Warwick e Clarke (1995) advogam que a ampliação do nível de estresse do
ambiente elimina alguns grupos menos resistentes, proporcionando o crescimento de
outros.
A densidade da meiofauna tanto para o igarapé do rio Tronco quanto para o
igara-pé do rio Buenos Aires foi considerada baixa se comparadas com os trabalhos de
Vas-concelos (2004) e Somerfieldet al (2003) que encontraram densidades médias de 2.903
e 3126,5 ind./10 cm². A baixa densidade do presente estudo pode ser explicada devido
ao fato de que ambientes com sedimentos lamosos e ricos em detritos geralmente
apre-sentam densidade reduzida como foi proposto por Coull (1988). Além disso, outros
fa-tores também parecem influenciar a comunidade meiofaunística, como é o exemplo dos
padrões físico-químicos e hidrodinâmicos atuantes no Golfão Maranhense.
Os padrões de variações sazonais não foram observados para a meiofauna nas
duas áreas de estudo, pois a estrutura das comunidades das áreas controle e tratamento
(riqueza de grupos, abundância e densidade) pouco variaram ao longo de todo tempo
amostral. Contudo, as variações sazonais geralmente são promovidas pela ação das
chu-vas, que reformulam a comunidade meiofaunística devido à diminuição salinidade e
-29 SANTOS et al., 2003). Porém, com base nos dados do INMET (2013), nos anos de 2010
a 2013 o período de estiagem foi considerado intenso, diminuindo a quantidade e
inten-sidade de chuvas que alcançaram as áreas dos igarapés do rio Tronco e do rio Bueno
Aires, o que provavelmente deve ter contribuído para ausência dos padrões sazonais na
comunidade meiofaunística.
Uma alternativa para a observação da ação de impactos negativos no ambiente é
a avaliação do índice Nematoda/Copepoda. No presente estudo este índice apresentou
valores que caracterizaram perturbação no ambiente em 9, 09% das amostras.
Entretan-to quando a relação de NemaEntretan-toda/Copepoda foi testada por Lee et al (2001), esta
evi-denciou ser ineficiente no monitoramento da qualidade ambiental. Raffaelli (1981)
es-clarece que a correlação negativa do índice Nematoda/Copepoda pode estar atribuída ao
tamanho do substrato encontrado no local. Portanto, é possível afirmar que este fator
pode ter influenciado nos resultados negativos de Lee et al (2001) enquanto ao índice.
Ainda em relação ao índice Nematoda/Copepoda, o fato dos maiores valores
te-rem sido encontrados na área próxima a zona portuária, é suficiente para determinar a
baixa qualidade ambiental local ao longo de todo o período estudado, pois revela que
esta é passiva de ações perturbadoras. Consoante aos resultados encontrados no presente
estudo, vários autores também encontraram resultados significativos com a utilização do
índice Nematoda/Copepoda, a exemplo disso foi Bezerra (1994) que associou aos
resul-tados do índice a influência da poluição orgânica, cerca de 7% das suas amostras
apre-sentaram proporção do índice Nematoda/Copepoda maior que 100. Já Moreno et al
(2008) atribuíram o valor do índice Nematoda/Copepoda a alta concentração de metais
pesados no ambiente, especificamente ao chumbo (Pb).
Esta pesquisa mostrou que os ambientes estudados influenciaram suas
30 de reação a impactos. Porém, estes aspectos estão intimamente relacionados, já que o
grupo dominante de cada local corresponde à condição ambiental encontrada no mesmo.
Por fim, concluiu-se que a meiofauna foi eficiente no monitoramento ambiental da zona
portuária do Golfão Maranhense, pois esta foi capaz de diferenciar qualitativamente e
quantitativamente dois locais com diferentes exposições a fatores impactantes,
compro-vando que existe influência negativa da zona portuária sobre o igarapé do rio Buenos
Aires.
5. AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a Pró-Vida pelo apoio ao projeto; Ao coordenador Jorge
Luiz Silva Nunes; Aos colegas de trabalho em campo pelo auxílio nas coletas; Aos
co-legas de laboratório pelo auxílio na triagem do material.
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