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ÁREA TEMÁTICA: Ensino e Pesquisa em Relações Internacionais

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Academic year: 2022

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3º SEMINÁRIO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Repensando interesses e desafios para a inserção internacional do Brasil no século XXI

29 a 30 de setembro de 2016

ÁREA TEMÁTICA: Ensino e Pesquisa em Relações Internacionais

TÍTULO DO TRABALHO: Legitimidade no emprego das FFAA: o entendimento sobre o DIH em diferentes públicos

Luís Eduardo Pombo Celles Cordeiro Universidade da Força Aérea

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RESUMO

O ensino do Direito Internacional Humanitário (DIH) ou Direito Internacional dos Conflitos Armados (DICA) tornou-se obrigatório nas instituições militares por meio da portaria normativa nº 916/MD, de 13 de junho de 2008. De suma importância para a profissão militar, o DIH tem como objetivo delimitar os meios e métodos utilizados em combate de forma e mitigar o uso abusivo da força e o sofrimento desnecessário antes, durante a após as hostilidades. Composto por série de tratados e convenções gerados principalmente pelos efeitos pós-conflitos, o DICA é um elemento essencial no estudo da legitimidade do uso da força nas relações internacionais. Entretanto para que fosse aceito pela quase totalidade dos países presentes no cenário internacional, muitas vezes os textos dos acordos e tratados utilizam uma ambiguidade que leva a diferentes interpretações, surgindo então à indagação de que a cultura, os valores e os conceitos influenciam sobremaneira na interpretação das legislações, levando a vereditos discrepantes sobre uma mesma situação. Para tentar responder a essa pergunta, será realizado um estudo de campo com os alunos da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais da Aeronáutica (EAOAR), que serão diferenciados por idade, especialidade e gênero; respondendo a um questionário com situações hipotéticas visando classificar as respostas de acordo com os grupos estudados.

Espera-se que ao final do estudo seja possível identificar se existem correlações entre um determinado grupo, seja de idade, especialidade ou gênero, com o tipo de interpretação dado ao emprego do DIH nas situações problema, de maneira a estimular o debate e a pesquisa sobre como deve ser ensinado o DICA para diferentes tipos de público-alvo.

Palavras-chave: DIH. DICA. Legitimidade. Defesa. Conflito.

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“Pessoas normais falam sobre coisas, pessoas inteligentes falam sobre ideias, pessoas mesquinhas falam sobre pessoas”.

PLATÃO Legitimidade no emprego das FFAA: o entendimento sobre o DIH em diferentes

públicos

INTRODUÇÃO

Base do arcabouço internacional que legitima as relações entre os Estados, o Direito Internacional (DI) nasce como um conceito a partir dos Tratados de Munster e Osnabruck, que celebraram a Paz de Vestfália (1648), e da Obra de Grócio. Esta última, o Direito da Guerra e da Paz, inspirada na Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), enfatiza a necessidade de criação de normas, com a aquiescência dos Estados, promovendo o relacionamento entre as Nações (ACCIOLY, 2012).

Uma das questões que as nações procuraram abranger no DI foi a guerra, uma intenção que se perde no tempo junto com a história da civilização, haja vista que uma das obras escritas mais antigas já catalogadas, o código de Hamurabi, fez menção a certas regras que deveriam ser observadas na condução das hostilidades (CINELLI, 2011).

Assim o Direito Internacional Humanitário (DIH) ou Direito Internacional dos Conflitos Armados (DICA) foi criado pelos esforços do suíço Henry Dunant que, em 1863, conseguiu reunir em na cidade de Genebra, na Suíça, representantes de diversos países que concordaram em assinar um tratado que garantisse, durante o período de guerra, a proteção aos membros dos serviços de saúde, o tratamento igualitário aos feridos em combate de ambos os lados e um sinal distintivo que indicaria pessoas e objetos que não poderiam ser alvos de ataque (CICV, 2016a).

Sendo ratificadas em 1949, as quatro convenções de Genebra são as fontes mais conhecidas do DIH, e em todas elas existe em comum a obrigação da divulgação de seu conteúdo nas escolas de formação militares e, quando possível, nos programas de ensino civis:

As Altas Partes Contratantes comprometem-se, em tempo de paz e em tempo de guerra, em divulgar o texto da presente Convenção o mais amplamente possível em seus respectivos países, e, em particular, para incluir o seu estudo nos programas de instrução militar e, se possível, também nos programas de instrução civil de modo que os seus princípios possam tornar-se conhecidos por toda a população e, em especial, para as forças combatentes, o pessoal sanitário e os capelães (CICV, 2016b, tradução nossa).

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De suma importância para a profissão militar, o DIH tem como objetivo delimitar os meios e métodos utilizados em combate de forma a mitigar o uso abusivo da força e o sofrimento desnecessário antes, durante a após as hostilidades.

Composto por uma série de tratados e convenções gerados principalmente pelos efeitos pós-conflitos, o DICA pode ser considerado uma das bases no estudo da legitimidade do uso da força nas relações internacionais.

Vale ressaltar que no estudo do DIH existe o conceito de princípios básicos, que são ideias consuetudinárias não tipificadas, ou seja, são fundamentos que norteiam as ações dos indivíduos nos conflitos. Os princípios não estão explicitamente previstos em nenhum acordo ou tratado, sendo o resultado da combinação de vários artigos presentes em mais de um dos documentos. Esse entendimento é de suma importância, pois todas as ações planejadas e executadas em um conflito armado devem levar em conta a observância ou não de tais princípios.

No Brasil, segundo a portaria normativa nº 1.069/MD, de 05 de maio de 2011, observam-se cinco princípios do DIH:

1. Distinção: para o emprego da violência deve-se identificar os não- combatentes bem como os bens civis e protegidos, diferenciando-os dos combatentes e objetivos militares sobre os quais os ataques devem ser direcionados;

2. Limitação: os meios utilizados para se atacar os objetivos militares e os combatentes não são ilimitados, devendo-se evitar danos supérfluos e sofrimentos desnecessários;

3. Proporcionalidade: os meios e métodos utilizados devem ser proporcionais à vantagem militar direta e esperada no planejamento da ação;

4. Necessidade Militar: deve haver, durante o conflito, a justificativa para o uso da força militar evitando-se condutas desumanas proibidas pelo DICA, e;

5. Humanidade: toda e qualquer violência provocada no conflito deve ser justificada pelo objetivo final que é a paz, não sendo autorizados atos que não visem exclusivamente a rendição do inimigo (BRASIL, 2011).

Essa portaria foi um resultado da Diretriz para a Difusão e Implementação do Direito Internacional dos Conflitos Armados (DICA) nas Forças Armadas que visava regulamentar o ensino do DIH nas escolas militares brasileiras (BRASIL, 2008). Assim foram estabelecidos parâmetros e objetivos comuns quanto a disseminação do conhecimento relativo ao assunto dentro de todas as unidades de formação das FFAA, desde as academias militares até os cursos de formação dos selecionados pelo alistamento militar. Tal intenção foi reforçada em 2011 com a edição do Manual de Emprego do Direito Internacional dos Conflitos Armados (DICA) nas Forças Armadas (BRASIL, 2011).

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Tal manual reúne todos os elementos constantes nas Convenções às quais o Brasil é signatário e tem como finalidade servir de referencia para consulta nas atividades de difusão, ensino e emprego do DICA nas atividades precípuas das Forças Armadas (BRASIL, 2011).

Acontece que um dos princípios do Direito Internacional é a não-intervenção , garantindo aos Estados suas respectivas soberanias. Devido a essa característica, muitas vezes os textos dos acordos e tratados utilizam uma linguagem que visam alcançar a concordância do maior número de populações, o que pode levar a diferentes interpretações de acordo com a cultura, os valores e os conceitos de quem analisa o tema.

Dessa constatação surge o questionamento se, de fato, e linguagem utilizada nos documentos relativos ao DICA podem levar a diferentes entendimentos sobre qual regra deve ser aplicada a cada situação em um grupo (a primeira vista) homogêneo de militares.

Assim o presente estudo foi realizado com os alunos da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais da Aeronáutica (EAOAR), localizada no Campo dos Afonsos, Rio de Janeiro. A EAOAR é responsável por ministrar curso de cerca de 20 semanas para, em média, 120 capitães. Ali, oficiais realizam um curso de cerca de 20 semanas que lhes possibilita a ascensão na carreira ao prepará-los para atuar como assessor em diversos assuntos, entre eles a aplicabilidade do DIH em situações de conflitos armados.

As instruções relativas ao DICA duram cerca de 40 horas/aula, com uma avaliação ao final, na qual se espera que o aluno seja capaz de realizar uma análise de uma situação problema com base nos regulamentos internacionais sobre o tema.

Como universo pesquisado, temos somente oficiais do Comando da Aeronáutica pertencentes aos quadros de saúde, especialistas, engenharia, infantaria, aviação e intendência.

Dois resultados distintos são esperados nos resultados: todos os entrevistados deverão apresentar uma aversão uniforme ao ato de matar ou o ensino na academia militar faz com que os oficiais oriundos da Academia da Força Aérea (AFA) tenham uma sensibilidade menor ao ato de matar haja vista que sua formação se deu exclusivamente no meio militar. Tais fundamentos são extraídos das obras de Marshall e Grossman.

Segundo Marshall (2003), todos os seres humanos citados possuem naturalmente uma aversão a matar, sendo que, baseado nos dados levantados após a Segunda Guerra Mundial, em combate, apenas 15 a 20% deles seria capaz de

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disparar uma arma contra outro ser humano. Sendo assim, o ensino do DIH deveria servir de embasamento para que a maioria dos militares inibisse um suposto ataque.

Porém, Grossman (2007) nos informa que os acadêmicos militares contemporâneos souberam desenvolver ferramentas comportamentais que fizessem com que o ato de matar se tornasse menos “desconfortável” para o combatente. Com métodos que visam distanciar o inimigo do atacante, fazer com que o outro dê a vide (vida) pela pátria alheia tornou-se algo cada vez mais aceitável, pelo menos na teoria.

Assim os treinamentos atuais visam criar um distanciamento não somente pela proximidade física , mas também pela proximidade psicológica: se eu me identifico com o inimigo, será mais difícil matá-lo. A taxonomia adotada neste trabalho, criada por Grossman (2007), classifica quatro tipos de distância que influenciam a capacidade de um ser humano em tirar a vida de outro ser humano:

 cultural, acentuada por diferenças raciais e/ou étnicas que permitem que eu desumanize o inimigo;

 social, nascida pela crença em sociedades estratificadas na existência de "castas" superiores e inferiores e, portanto, com prerrogativas diferentes de direito à vida;

 moral, nas situações onde é aceita a superioridade "moral" da causa pela qual se acredita, sobre a do inimigo, normalmente nutrida por desejos de vingança e/ou justiçamento que seriam "legitimados", e;

 mecânica, é a distância física do inimigo que permite a sua visualização por meio de um monitor de TV, a lente de um sniper ou de um sinal na tela do RADAR, tirando assim a sua humanidade, pois ele não é mais uma pessoa e sim um alvo (GROSSMAN, 2007).

Dessas teorias nascem, assim, os eventos que deverão ser abordados neste trabalho: se o ato de matar está ligado apenas a proximidade do inimigo e se as academias de formação suavizam essa barreira mais do que a sociedade em si.

Devido às características da força aérea de alcançar objetivos a grandes distâncias com considerável precisão e capacidade de destruição, como foco nesse estudo, será abordada apenas a distância física citada por Grossman (2007) em um conflito armado “clássico”, onde houve declaração de guerra e ambos os beligerantes envolvidos utilizam apenas as suas forças profissionais em combate.

Sendo assim, a situação problema será analisada pela ótica do assessoramento em relação ao emprego legítimo da violência estatal sob a égide do princípio da Proporcionalidade, estabelecido pelo DICA (BRASIL, 2011), pois entende-se que esse seria o único dos cinco princípios a ser observado, já que os demais não teriam margem para questionamentos.

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Na pesquisa realizada serão propostos dez cenários fictícios, dentro do mesmo conflito e com a mesma distância física entre os combatentes, porém variando-se o dano colateral. Os ataques têm com alvo objetivos de alto valor, ou seja, a sua destruição poderia mudar o curso da guerra. Os grupos serão analisados de acordo com a faixa etária, especialidade e forma de ingresso na FAB.

As perguntas partem da premissa de que os entrevistados irão optar por uma das quatro opções: atacar, emitir um aviso, abster-se de tomar a decisão e não atacar, o que, de acordo com Grossman (2007), seriam as alternativas de matar, dissuadir, fugir ou submeter-se ao inimigo. Também será possível que o avaliado indique uma quinta opção que não esteja contida nas anteriores, visando certificar que o entrevistado tem a certeza da sua escolha.

Assim, o questionário é dividido em duas partes: na primeira foram feitas cinco perguntas aos entrevistados, nas quais os alvos atacados eram explicitamente militares e, de acordo com o DIH, passíveis de ataque legítimo. Entretanto, existe uma escalada gradativa no número de vítimas, indo de 10 militares no primeiro caso e chegando a 120.000 militares no último caso, porém, em nenhum momento, são utilizadas armas de uso restrito ou proibido.

Na segunda parte, também são feitas cinco perguntas nas quais o quantitativo de mortos estimado é igual ao das cinco primeiras, porém, se na primeira parte todos os atingidos eram militares, nesta fase, metade dos mortos esperados são civis, devido ao dano colateral provocado pelos ataques. Portanto o questionário como um todo apresenta dez cenários divididos em dois grupos de cinco

Dessa maneira em todos os cenários é mantida a distância física de Grossman, porém vai-se gradualmente infligindo um número maior de mortes dentro de cada grupo.

Assim nos cenários de um ao cinco tem-se um aumento de atingidos que são todos combatentes e espera-se identificar se o quantitativo de mortos influencia na decisão dos militares em proceder ou não um ataque, com base no DIH.

Nos cenários de seis a dez tem-se, respectivamente, o mesmo aumento e numero de mortos existentes nas perguntas de um a cinco porém os atingidos agora possuem uma proporção de 50% combatentes e 50% não combatentes, existindo assim o dano colateral no planejamento da ação.

Nessa etapa compararam-se as respostas dos alunos oriundos da AFA (aviadores, infantes e intendentes) com a dos alunos das demais escolas de formação, para que seja possível identificar se existe diferença na sensibilidade do ato de matar entre a formação oriunda da escola militar e a formação oriunda das instituições civis.

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ANÁLISE DOS DADOS

No levantamento dos dados, pode-se perceber que houve uma queda significativa na intenção de ataque, mesmo sendo o alvo composto exclusivamente por combatentes e objetivos militares, quando houve um incremento do número de mortos de 20.000 para 120.000.

Conforme pode ser verificado na tabela abaixo, apesar da razão no aumento do número de vítimas ser a menor de todas (6 para 1) ao mudar do cenário quatro para o cenário cinco, o número de pessoas que decidiu não atacar cresceu:

Tabela 1 – Percentual de militares que atacariam e mortos estimados Cenário Mortos Atacariam

sem avisar

Atacariam com aviso

prévio

Não atacariam

Sem opinião

Nenhuma das alternativas

1 10 90% 7% 2% 0,5% 0,5%

2 100 87% 8% 3% 1% 1%

3 1.500 74% 19% 3% 2% 2%

4 20.000 88% 7% 3% 1% 1%

5 120.000 56% 18% 21% 2% 3%

Fonte: o autor.

Dessa maneira, ao se aglutinar as respostas em dois grupos: atacar e não atacar, verifica-se que existe uma constante entre os entrevistados até a ultima questão, quando ocorre uma queda na quantidade de militares que atacariam. Isso pode ser visto na tabela abaixo, onde o número de mortos foi colocado em escala logarítmica no eixo X para facilitar a visualização:

Gráfico 1 – Militares que atacariam (eixo Y) versus número de mortos (eixo X)

Fonte: o autor.

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Quando a pergunta é feita informando que os mortos serão 50% civis, o dano colateral esperado, podemos observar na tabela dois como responderam os militares formados na AFA e comparar com a tabela três onde está a resposta dos militares não formados na AFA:

Tabela 2 – Percentual de militares formados na AFA que atacariam com danos colaterais de 50%

Cenário Mortos Atacariam sem avisar

Atacariam com aviso

prévio

Não atacariam

Sem opinião

Nenhuma das alternativas

6 10 57% 15% 24% 1% 1%

7 100 16% 47% 37% 0% 0%

8 1.500 18% 59% 21% 1% 1%

9 20.000 7% 50% 41% 1% 1%

10 120.000 7% 17% 74% 1% 1%

Fonte: o autor.

Tabela 3 – Percentual de militares não formados na AFA que atacariam com danos colaterais de 50%

Cenário Mortos Atacariam sem avisar

Atacariam com aviso

prévio

Não atacariam

Sem opinião

Nenhuma das alternativas

6 10 54% 23% 23% 0% 0%

7 100 17,5% 47,5% 32,5% 2% 0,5%

8 1.500 12% 62% 26% 0% 0%

9 20.000 10% 49% 41% 0% 0%

10 120.000 0% 14% 86% 0% 0%

Fonte: o autor.

De posse de ambos os dados, pode-se realizar uma comparação entre o percentual dos militares formados na AFA e dos militares formados nas instituições civis no que tange a decisão de realizar ou não o ataque dentro de cada um dos cenários propostos com a existência de danos colaterais.

Para facilitar o entendimento dos dados, os dados foram compilados de maneira a fornecer os valores absolutos da diferença entre os militares que optaram por atacar dentro de cada grupo, facilitando assim o objetivo de verificar a diferença na sensibilidade ao ato de matar a luz da existência de danos colaterais.

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Tabela 4 – Diferença no percentual entre os militares formados na AFA e não formados na AFA que atacariam com danos colaterais de 50%

Cenário Atacariam AFA

Atacariam Não AFA

Diferença

6 72% 77% 4%

7 63% 65% 2%

8 77% 74% 3%

9 57% 59% 2%

10 24% 14% 10%

Fonte: o autor.

CONCLUSÃO

De posse dos dados apresentados, pode-se inferir inicialmente que a aversão à morte, citada por Marshall, se faz presente na totalidade do grupo pesquisado, porém existe um ponto onde essa negação se faz mais forte. Até um número expressivo de mortos (20.000), quando os atingidos são apenas combatentes, a percepção da maioria é de que o ataque deve ser efetuado. Já quando esse número salta para 120.000, existe um decréscimo considerável na condução das ações.

Quando se coloca o efeito do dano colateral, percebe-se um aumento geral quando o número de atingidos totais sai de 1.500 para 20.000 e uma queda abrupta da aceitação da ação quando o número vai a 120.000. Assim, pode-se verificar que em determinado momento a curva de tolerância ao número de combatentes inimigos mortos declina abruptamente, porém não é possível identificar com precisão onde essa mudança ocorre.

Quanto a influência da cultura, podemos observar que no cenário onde metade dos mortos eram civis, devido ao dano colateral, verifica-se que apenas no cenário de pior efeito (60.000 não combatentes mortos para um numero igual de combatentes atingidos), a diferença entre aqueles que cursaram a Academia da Força Aérea e os que não cursaram atinge dois dígitos, e mesmo assim, no menor parâmetro possível que é 10%.

Podemos então inferir que a cultura realmente influencia na sensibilidade do militar, independente da sua formação e/ou do que o curso de DIH oferecido pela EAOAR uniformiza na sua análise. Em qualquer um dos casos, fica evidente a necessidade de levar em conta o nível de sensibilidade da população na formulação de conceitos e normas relativas ao DICA e, mais importante, na definição do conceito de dano colateral, pois se a cultura é tão influente, possivelmente em uma cultura menos sensível que a nossa, o dano colateral tolerável é maior que o nosso, o que

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pode gerar pontos de tensão nos conflitos. Ou seja, o combatente acha que respeita o DIH mas, para grande parte da Comunidade Internacional, tal respeito não ocorre.

REFERÊNCIAS

ACCCIOLY, Hildebrando. Manual de Direito Internacional Público. - 20 ed - São Paulo: Saraiva, 2012.

CICVa. Convention for the Amelioration of the Condition of the Wounded in Armies in the Field. Genebra, 22 de agosto de 1864. Disponível em:

<https://www.icrc.org/ihl/INTRO/120?OpenDocument>. Acesso em 10 de junho de 2016.

CICVb. Convention (I) for the Amelioration of the Condition of the Wounded and Sick in Armed Forces in the Field: Dissemination of the Convention. Genebra, 12 de agosto de 1949. Disponível em: < https://ihl-

databases.icrc.org/applic/ihl/ihl.nsf/Article.xsp?action=openDocument&documentId=86 1AC9722B0B9FF2C12563CD0051A291>. Acesso em 10 de junho de 2016.

CINELLI, Carlos Frederico. Direito Internacional Humanitário : Ética e Legitimidade na Aplicação da Força em Conflitos Armados. Curitiba: Juruá, 2011.

BRASIL. Ministério da Defesa. PORTARIA NORMATIVA No 916/MD, DE 13 DE JUNHO DE 2008 - Aprova a Diretriz para a Difusão e Implementação do Direito Internacional dos Conflitos Armados (DICA) nas Forças Armadas. Brasília, 2008.

______. Ministério da Defesa. Manual de Emprego do Direito Internacional dos Conflitos Armados (DICA) nas Forças Armadas – MD 34-M-03. Brasília, 2011.

GROSSMAN, David. Matar: um estudo sobre o ato de matar. Rio de Janeiro:

Biblioteca do Exército, 2007.

MARSAHLL, Samuel Lyman Atwood. Homens ou Fogo? – 2 ed. – Rio de Janeiro:

Biblioteca do Exercito, 2003.

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