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Universidade de Aveiro 2021 MARIANA PATRÍCIA GOMES GONÇALVES A LEGENDAGEM EM PERSPETIVA: RELATÓRIO DE ESTÁGIO NO CINE-CLUBE DE AVANCA

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Universidade de Aveiro 2021

MARIANA PATRÍCIA GOMES GONÇALVES

A LEGENDAGEM EM PERSPETIVA: RELATÓRIO DE ESTÁGIO NO CINE-CLUBE DE AVANCA

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Universidade de Aveiro 2021

MARIANA PATRÍCIA GOMES GONÇALVES

A LEGENDAGEM EM PERSPETIVA: RELATÓRIO DE ESTÁGIO NO CINE-CLUBE DE AVANCA

Relatório de estágio apresentado à Universidade de Aveiro para cumprimento dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Tradução Especializada realizada sob a orientação científica da Doutora Maria Teresa Costa Gomes Roberto Cruz, Professora Auxiliar do Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro e da Mestre Cláudia Maria Pinto Ferreira, Leitora do Departamento de Línguas e Culturas da Universidade de Aveiro.

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Às pessoas que sempre me apoiaram.

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o júri

presidente Prof.ª Doutora Maria Teresa Murcho Alegre Professora Auxiliar da Universidade de Aveiro

Prof.ª Doutora Catarina Duarte Silva de Andrade Xavier (arguente) Investigadora do Centro de Estudos Anglísticos da Universidade de Lisboa

Prof.ª Doutora Maria Teresa Costa Gomes Roberto Cruz (orientadora) Professora Auxiliar da Universidade de Aveiro

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agradecimentos Queria agradecer em primeiro lugar aos meus pais, pois sem eles e sem a ajuda deles isto não seria possível.

Em segundo lugar, gostaria de agradecer às minhas orientadoras pela paciência, trabalho e predisposição que tiveram para me ajudar.

Também gostaria de agradecer aos outros professores e docentes que fizeram parte da minha vida académica e contribuíram para o meu sucesso.

Aos meus amigos e à minha família mais próxima porque sempre estiveram lá quando eu precisei, para me incentivar, apoiar e ajudar em tudo aquilo que puderam.

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palavras-chave Tradução, Tradução Audiovisual, Legendagem, Cine-Clube de Avanca, Festival de Cinema de Avanca

resumo O presente trabalho propõe uma revisão da literatura que se materializa numa visão geral sobre a Tradução Audiovisual e a evolução desta disciplina enquanto parte integrante dos Estudos de Tradução e as suas diferentes modalidades, com especial incidência na legendagem estandardizada. Este relatório oferece uma análise dos diferentes trabalhos de tradução e legendagem, bem como a tradução de um guião, realizados, em contexto de estágio, no Cine-Clube de Avanca, e mais particularmente para o Festival de Cinema de Avanca.

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Key-words Traslation, Audiovisual Translation, Subtitling, Cine-Clube de Avanca, Avanca Film Festival

abstract The present report proposes a literature review of an overview of Audiovisual Translation and the evolution of this discipline as an integral part of Translation Studies and its different modalities, with special focus on standard subtitling.

This report also offers an analysis of the different works of translation and subtitling, as well as the translation of a screenplay, carried out, in an internship context, at Cine-Clube de Avanca, and more particularly for Avanca Film Festival.

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Índice

Introdução ...15

PARTE 1 – ENQUADRAMENTO TEÓRICO...17

1. A Tradução Audiovisual ...17

2. As modalidades da TAV ...19

2.1 Legendagem ...21

2.1.1 Legendagem para surdos e ensurdecidos ...24

2.1.2 Sobrelegendagem ...25

2.1.3 Legendagem ao vivo ...26

2.2 Dobragem ...26

2.2.1 Voice-over ...27

2.2.2 Semi-dobragem / dobragem parcial ...28

2.3 Interpretação ...28

2.3.1 Interpretação consecutiva ...29

2.3.2 Interpretação simultânea ...29

2.3.3 Interpretação em língua gestual ...30

2.4 Narração ...30

2.5 Audiodescrição ...31

2.6 Comentário livre ...31

2.7 Tradução simultânea ...32

2.8 Tradução de guião ...32

2.9 Animação ...33

2.10 Tradução multimédia ...33

2.11 Difusão multilíngue ...34

2.11.1 Dupla exibição ...34

2.11.2 Novas versões ...35

PARTE 2 – ESTÁGIO ...36

3. Realização de tarefas ...36

4. Cine-Clube de Avanca ...37

4.1 Festival de Cinema de Avanca ...38

5. Projetos trabalhados ...39

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5.1 Tradução da longa-metragem Famille FC ...40

5.2 Tradução e legendagem da curta-metragem Scratch ...45

5.3 Tradução do guião Livros restantes ...48

5.4 Tradução da longa-metragem Caged Birds...54

5.5 Revisão da legendagem da curta-metragem Johnny Johnny ...58

5.6 Tradução e legendagem da longa-metragem Tall Tales...64

5.7 Tradução e legendagem da curta-metragem Pamela & Ivy ...70

6. Festival de Cinema de Avanca e a Covid-19 ...75

Considerações finais ...77

Referências bibliográficas ...80

Anexos ...82

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12 Lista de siglas/acrónimos

CCA – Cine-Clube de Avanca CM – Curta-metragem EN – Inglês

FR – Francês

LC – Língua de chegada

LSE – Legendagem para surdos e ensurdecidos LM – Longa-metragem

LP – Língua de partida PT - Português

TAV – Tradução Audiovisual

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13 Índice de tabelas

Tabela 1 – Exemplos de tradução da longa-metragem Famille FC ... 42 Tabela 2 – Exemplos de tradução e legendagem da curta-metragem Scratch ... 46 Tabela 3 – Exemplos de tradução do guião Livros Restantes ... 49 Tabela 4 – Exemplos de dificuldades de tradução de género gramatical da longa- metragem Caged Birds ... 55 Tabela 5 – Exemplos de tradução e legendagem da longa-metragem Caged Birds ... 56 Tabela 6 – Exemplos de alterações da tradução e legendagem da curta-metragem Johnny Johnny ... 59

Tabela 7 – Exemplos de acréscimos na tradução e legendagem da curta-metragem Johnny Johnny ... 61 Tabela 8 – Exemplos de alterações da tradução e legendagem da longa-metragem Tall Tales ... 68 Tabela 9 – Exemplo de tradução e legendagem da música da curta-metragem Pamela &

Ivy ... 73

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14 Anexos

Anexo 1 – Plano de Estágio ... 82

Anexo 2 – Excerto da tradução e legendagem da longa-metragem Famille FC ... 83

Anexo 3 – Excerto da tradução e legendagem EN da longa-metragem Scratch ... 84

Anexo 4 – Excerto da tradução e legendagem FR da longa-metragem Scratch ... 85

Anexo 5 – Excerto da tradução do guião Livros Restantes ... 86

Anexo 6 – Excerto da tradução e legendagem da longa-metragem Caged Birds ... 87

Anexo 7 – Excerto da tradução e legendagem da curta-metragem Johnny Johnny ... 88

Anexo 8 – Excerto da tradução e legendagem da longa-metragem Tall Tales ... 89

Anexo 9 – Excerto da tradução e legendagem da curta-metragem Pamela & Ivy ... 90

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15 Introdução

O presente relatório de estágio foi realizado no âmbito da unidade curricular intitulada de Dissertação/Projeto/Estágio inserida no segundo ano do Mestrado em Tradução Especializada da Universidade de Aveiro.

A escolha da realização de estágio prende-se com a vontade de adquirir experiência profissional e aprofundar os meus conhecimentos apreendidos durante a Licenciatura e o Mestrado na área de tradução e em especial na legendagem, área essa que sempre me fascinou desde a primeira vez que tive contacto com a mesma durante a licenciatura em Tradução. A oportunidade de realizar o estágio no Cine-Clube de Avanca deveu-se na sua maioria à minha coorientadora, pois foi através dela que tomei conhecimento que o Cine-Clube todos os anos recrutava estagiários para a tradução e legendagem para o Festival de Cinema de Avanca, festival esse organizado pelo Cine- Clube. O estágio processou-se de forma remota, em regime de teletrabalho, devido à pandemia da COVID-19. No entanto, no final do estágio, foi possível ir ao Festival em si e ver em primeira mão o resultado do meu trabalho.

Este relatório está dividido em duas partes, uma parte teórica e uma parte prática. A primeira parte apresenta um relato sobre a história da Tradução Audiovisual, pois esta é uma disciplina recente nos Estudos de Tradução. Seguidamente é mencionado e explicado ao que este termo se refere, de acordo com a definição de alguns autores. Após esta breve explicação, a temática seguinte faz referência às diferentes modalidades da Tradução Audiovisual, abordando não só as modalidades da legendagem, dobragem e interpretação, mas também algumas talvez menos conhecidas como a audiodescrição, o comentário e ainda a tradução de guião. Quanto à parte prática, são mencionados os objetivos do estágio, como este se realizou e o tipo de tarefas que me foram propostas, para além da apresentação da instituição na qual estagiei, bem como do Festival para o qual realizei a maior parte do trabalho. Seguidamente, segue-se uma análise detalhada de cada trabalho realizado durante o estágio, tanto das curtas e longas-metragens que traduzi e legendei, como da tradução de um guião para fins de financiamento.

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Finalmente, na parte das considerações finais, há uma reflexão sobre todo este processo realizado durante meses, tanto a nível profissional como pessoal.

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17 PARTE 1 – ENQUADRAMENTO TEÓRICO

1. A Tradução Audiovisual

A Tradução Audiovisual (TAV) é um termo relativamente recente e, segundo Gambier (1996, p. 8), a TAV surgiu nos finais do século XIX, com o aparecimento do cinema e mais concretamente do cinema mudo, uma vez que este autor considera que o cinema nunca foi realmente silencioso “le cinéma n’a jamais été “muet”, grâce à des intertitres, ni non plus vraiment “silencieux”, grâce aux musiques d’accompagnement d’abord jouées dans les salles de projection”. Isto pode ser explicado pelo facto de nas salas de projeção serem tocadas músicas ao vivo que acompanhavam as cenas do filme e, por vezes, pelo aparecimento de algumas indicações de narração para o espetador poder acompanhar melhor a história.

É por volta dos anos 30 que a Tradução Audiovisual começa a ser pela primeira vez estudada, mas é só nos anos 80 que esta disciplina começa a fazer parte dos Estudos de Tradução. Gambier (2004, 2013) continua e afirma que foi a partir de 1995 que se começou a dar mais importância a esta área do saber, uma vez que foi neste ano que se realizou a primeira conferência de comunicação audiovisual e transferência de língua, marcando também o centésimo aniversário do cinema.

No entanto, é só no século XXI que a tradução audiovisual conhece verdadeiramente a sua mudança e que começa a ser encarado como uma disciplina dos Estudos de Tradução, pois esta área de estudo inicialmente só englobava a tradução da bíblia e a tradução literária. Ao longo dos anos, foram-se admitindo outros tipos de tradução, mas mantinha-se sempre a ideia de a tradução ser feita de um texto verbal numa língua de partida para um outro texto verbal numa língua de chegada, ou como Jakobson (1959, 2000) referia a “tradução interlinguística”. Apesar deste facto, o mundo evoluiu e a tradução seguiu o mesmo caminho, pois cada vez mais existem diferentes produtos que necessitam de ser traduzidos, tal como refere Remael (2010, p. 15)

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The current inundation of text production modes and the ubiquity of image and/or sound in texts have made it virtually impossible to adhere to such a limited concept of translation. This also brings translation and other forms of text production closer together (…)

Como foi dito anteriormente, o termo Tradução Audiovisual é recente e ainda hoje gera alguma discórdia entre os autores que investigam esta área. De uma forma geral, quando se pensa em TAV pensa-se na forma como os filmes e programas de televisão são traduzidos, sejam eles em que formatos ou meios de distribuição forem, para uma outra língua. Apesar de ser verdade, esta é uma definição limitativa, pois a TAV compreende muito mais do que a tradução de filmes e programas de televisão. A TAV já teve uma multiplicidade de termos anteriormente, alguns deles limitativos, e foi sofrendo alterações ao longo do tempo quanto ao que representava e incluía. Alguns outros termos pelos quais a TAV já foi conhecida são por exemplo film translation cunhado por Mary Snell-Horby em 1988 (Pardo, 2013, p. 20), que aborda áreas como os sitcoms, documentários ou bandas desenhadas, mas mais uma vez é um termo redutor; screen translation por Ian Mason em 1989 (Pardo, 2013, p. 20), conhecido e usado principalmente na língua inglesa, e refere-se a todos os produtos disponibilizados num ecrã, como jogos de computador ou páginas de internet; ou ainda multimedia translation utilizado por Gambier (2003), que se refere aos produtos que são distribuídos através de múltiplos meios e canais. No entanto, apesar desta diversidade e de alguma controvérsia, o termo mais utilizado e aceite continua a ser audiovisual translation, já que de acordo com Díaz Cintas e Remael (2007, p. 12) esta

was used to encapsulate different translation practices used in the audiovisual media cinema, television, VHS – in which there is a transfer from a source to a target language, which involves some sort of interaction with sound and image

Houve ainda a discussão sobre se a TAV poderia ser considerada tradução ou adaptação. Isto é explicado pelo facto de um tradutor audiovisual ter limites e regras que tem de seguir, como por exemplo regras em termos de tempo e espaço que as legendas ocupam no ecrã, e o facto de ter de haver uma sintonia entre imagem e som, o que pode levar a algumas perdas linguísticas. No entanto, segundo Díaz Cintas e Remael (2007), o

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termo adaptação representa uma conotação negativa, uma vez que parece de alguma forma inferior ao processo de tradução. Já Neves (2005, p. 151-154) refere-se a tradaptação, explicando melhor o seu conceito, anteriormente mencionado por Gambier (2003), como

to refer to a subtitling solution that implies the translation of messages from different verbal and non-verbal acoustic codes into verbal and/or non-verbal visual codes; and the adaptation of such visual codes to the needs of people with hearing impairment so as to guarantee readability and thus greater accessibility.

Esta variação de terminologia deve-se principalmente ao facto da evolução dos tempos, da tecnologia e das diferentes necessidades que vão surgindo neste campo e que

far from representing a barrier to communication, it could be interpreted as a clear sign of the desire of many academics to maintain an open and flexible approach to our object of study; one that can assimilate and acknowledge the new realities emerging in the translation world. (Díaz Cintas e Remael, 2007, p. 12)

Apesar de para já, ser mais ou menos consensual a utilização da terminologia

“Tradução Audiovisual”, é muito provável que num futuro, próximo ou não, este termo possa ser descontextualizado e novos termos possam surgir que melhor se adaptem à situação futura.

2. As modalidades da TAV

Tal como foi mencionado anteriormente, a TAV só começou a ser levada a sério mais recentemente. Isto deve-se principalmente à evolução não só do cinema, mas também da televisão que, cada vez mais, chegam às pessoas. O mundo está cada vez mais tecnológico, e atualmente as pessoas têm acesso a todo o tipo de informação em diversas línguas; por isso existe a crescente necessidade de tornar esta informação disponível para todos, independentemente da língua. Por causa disso, as modalidades da TAV têm vindo a transformar-se e a evoluir cada vez mais para dar resposta a todo o tipo de necessidades existentes.

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Chaume (2004, p. 31) define as modalidades de TAV como um meio técnico de transferência linguística de um texto audiovisual original ou de partida para um texto audiovisual de chegada, seja este texto de chegada oral ou escrito. As modalidades da TAV surgiram especialmente para tentar ultrapassar estas barreiras, entre a oralidade e a escrita, uma vez que é o seu objetivo tornar acessível todo o tipo de produto audiovisual a todo o tipo de pessoas.

As modalidades mais conhecidas e talvez as que são mais frequentemente utilizadas, incluindo em Portugal, são a legendagem e a dobragem. No entanto, a TAV tem vindo a desenvolver-se e com isso também foram nascendo outras modalidades, que estão a crescer de forma exponencial. Isto deve-se primeiramente ao facto de, segundo Gambier (2004, p. 7) e mais tarde Hernández Bartolomé e Mendiluce Cabrera (2005, p.

90), o conceito de audiência ter mudado.

D’une diffusion universelle ou broadcasting (un même programme, en même temps, à la même heure), on passe à une diffusion locale ou narrowcasting, cette localisation ne se comprenant pas seulement au plan géographique, mais aussi en fonction des groupes avec des besoins et des intérêts communs. (2004, p. 7)

Portanto, para atender às necessidades de alguns grupos de pessoas com necessidades especiais, têm-se desenvolvido outras modalidades igualmente importantes como, por exemplo, a audiodescrição para pessoas com deficiência visual ou a legendagem para surdos e ensurdecidos.

Outro fator que contribuiu para o desenvolvimento das modalidades, segundo Xavier (2009, p. 22), é o interesse político-económico, uma vez que diferentes países têm políticas e situações económicas diferentes. Em termos políticos, isto aconteceu por exemplo com Portugal e Espanha, pois quando ambos estavam ainda em ditadura, Salazar escolheu a legendagem como forma de tradução audiovisual de produtos estrangeiros, uma vez que o nível de literacia era baixo entre a população, pelo que era pouco provável que a população tivesse interesse e fosse ver essas produções; contudo, Franco escolheu a dobragem, pois não queria que os espanhóis fossem influenciados pelas culturas e formas de pensar dos estrangeiros. Quanto à parte económica, países com maior poder

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económico normalmente recorrem à dobragem, porque realmente é uma modalidade dispendiosa, pois, na maior parte das vezes, envolve a participação de tradutores, vários atores, técnicos de sincronização, estúdio de som e um maior tempo até o produto final estar devidamente conseguido. Outros países não tão financeiramente poderosos optam por recorrer à legendagem ou à sonorização (Chaume, 2004).

Também questões culturais estão no nascimento de novas modalidades, pois alguns países preferem as bandas sonoras originais e, como Díaz Cintas menciona (2001, p. 32), quando um país está habituado a uma determinada modalidade, mudar para outra é quase impensável.

Tal como Hernández Bartolomé e Mendiluce Cabrera (2005, p. 91) referem, o mundo está em constante movimento e estão sempre a surgir situações que rapidamente têm de ser transmitidas, havendo por isso uma necessidade de rapidez, o que a legendagem e a dobragem são incapazes de fornecer, já que estes são processos que levam tempo. Isto leva obviamente ao surgimento de novas modalidades, para assim ser possível transmitir ao mundo as informações com a maior celeridade possível.

Dito isto, os autores supracitados propõem um número diferente de tipos de modalidades, apresentando Díaz Cintas (2001) 11 modalidades, Gambier (2004) 12, já Chaume (2004) fala em 10 modalidades e os autores que mais modalidades apresentam são Hernández Bartolomé e Mendiluce Cabrera (2005) com 17. É importante perceber que estes números se vão alterando consoante o tempo, uma vez que a TAV é uma área aberta e novas modalidades estão naturalmente a aparecer e a ser divididas.

De seguida, vão ser explicadas algumas das diferentes modalidades existentes no campo da Tradução Audiovisual, com algum destaque para a legendagem, visto que foi a modalidade que mais utilizei durante o estágio.

2.1 Legendagem

A legendagem é, sem dúvida, uma das modalidades mais conhecidas e estudadas da TAV. Díaz Cintas e Remael (2007, p. 8) descrevem a legendagem como uma

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translation practice that consists of presenting a written text, generally on the lower part of the screen, that endeavours to recount the original dialogue of the speakers, as well as the discursive elements that appear in the image (letters, inserts, graffiti, inscriptions, placards, and the like) and the information that is contained on the soundtrack (songs, voices off).

Existem vários tipos de legendagem, mas aquele que é mais comum é a legendagem interlinguística que, tal como o nome indica, se refere à transferência de uma língua de partida (LP) para uma língua de chegada (LC). Este tipo de legendagem também inclui a legendagem bilíngue, em que a legenda aparece em duas línguas de chegada distintas que estarão apresentadas em duas linhas diferentes, cada uma numa língua, e centradas no ecrã. Esta é uma prática mais comummente utilizada na Bélgica e na Finlândia. Contudo, a legendagem também pode ser intralinguística, ou seja, a língua de partida e a de chegada são a mesma. Este tipo de legendagem é semelhante à Legendagem para Surdos e Ensurdecidos (LSE), no entanto, não é exatamente a mesma: a legendagem intralinguística é utilizada para fins pedagógicos, por exemplo para pessoas que não são fluentes na língua em questão, mas que estão em processo de aprendizagem, para legendar produtos falados na mesma língua mas com sotaques ou formas de falar de difícil compreensão, e para pessoas com ligeiras deficiências auditivas, não envolvendo características extralinguísticas.

Todos os produtos audiovisuais que são legendados apresentam três componentes principais: o discurso oral, a imagem e as legendas. Estes três elementos devem estar todos em sincronia para que a legendagem funcione. Isto justifica-se, pois é necessário haver uma sincronia das legendas com o discurso, isto é, as legendas devem apresentar um relato da LP, do ponto de vista semântico, adequado, mas também é necessário haver uma sincronia entre as legendas e a imagem, ou seja, as legendas não podem contrariar aquilo que está a ser mostrado na imagem. Tudo isto enquanto as legendas aparecem no ecrã durante o tempo suficiente para os leitores as poderem ler. O tempo vai variar consoante o público-alvo, pois a leiturabilidade de cada pessoa varia em função de várias características, nomeadamente socioeconómicas e educativas; e a

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cultura, pois diferentes culturas têm hábitos de leitura diferentes. Quando se legenda é necessário ter em mente todos estes aspetos.

A legendagem, como qualquer outra modalidade, apresenta as suas vantagens e desvantagens. Ivarsson e Carroll (1998, p. 34) e Díaz Cintas (2001, p. 45-46) enumeram seis principais desvantagens:

• a poluição do ecrã, ou seja, as legendas tapam parte do ecrã, logo, certas informações visuais que o original contém serão perdidas pelo espetador, pois as legendas ocultam as mesmas;

• a distração do espetador, pois a atenção do mesmo está dividida entre a imagem e a legenda;

• o aparecimento e desaparecimento das legendas do ecrã muitas vezes não em consonância com o ritmo do filme;

• a incapacidade de poder traduzir tudo aquilo que se diz, pois, as legendas estão sujeitas a restrições de tempo e espaço, o que leva aos espectadores que têm conhecimento da LP a reparar em “erros” ou falta de informação presente na legendagem;

• a dissonância de realidades, ou seja, a passagem de um código oral (realidade fílmica) para um código escrito (não é uma realidade fílmica);

• promoção de um “colonialismo linguístico”, visto que vários estudiosos defendem que a LC dos espetadores é influenciada pelo inglês, já que grande parte dos produtos audiovisuais traduzidos têm esta LP.

Dentro das vantagens, os mesmos autores referem as seguintes:

• económica, já que a legendagem, apesar de ser das modalidades da TAV mais utilizadas, é ainda muito mal paga;

• som original, ou seja, não há a contaminação do produto original ao nível auditivo, uma vez que o ritmo das palavras, a entoação e as pausas são as originais;

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• valor didático, ou seja, os espetadores criam uma conexão maior com a LP ao verem a tradução da mesma no ecrã. Para além disto, também são notáveis as melhorias na LC, uma vez que a visualização da LC escrita no ecrã aumenta a capacidade de interiorização de vocabulário, ortografia, pontuação, entre outras.

• incremento da cultura, isto é, o facto de ouvir uma língua estrangeira contribui para a familiarização com outras culturas;

• menor manipulação do texto, significando que, em comparação com a dobragem, por exemplo, o texto que é legendado é muito menos alterado, apesar de haver uma maior redução do texto.

2.1.1 Legendagem para surdos e ensurdecidos

A legendagem para surdos e ensurdecidos (LSE) destina-se a ajudar pessoas surdas ou que tenham algum tipo de dificuldade auditiva, muitas vezes com vários graus de gravidade, a ter acesso à parte auditiva de um determinado produto audiovisual ao “ver”

esse mesmo áudio (Robson, 2004, p. 3). O que distingue a legendagem estandardizada e a legendagem intralinguística da legendagem para surdos e ensurdecidos é o facto de que, na última, é possível ver escrito na legenda informação adicional, como por exemplo, informação sobre a identificação das personagens ou dos sons que fazem parte do produto, tal como uma porta a bater ou os pássaros a cantarem. (Hernández Bartolomé e Mendiluce Cabrera, 2005, p. 97). Regra geral a LSE é intralinguística, no entanto, há também a possibilidade de ser interlinguística.

Para além disso, também se adicionam diferentes cores para diferentes situações e emoticons no intuito de o filme ou programa se tornar mais acessível para o público- alvo, uma vez que o nível de leitura de uma pessoa com dificuldades auditivas é inferior ao de uma pessoa que não as tenha. Neves (2005, p. 251) concorda, já que afirma que

“the introduction of icons in subtitling may be seen as a way forward towards easing the processing of verbal messages”.

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Muitas vezes este tipo de legendagem surge em comunhão com outras modalidades, como por exemplo, a dobragem, de maneira que o mesmo produto audiovisual seja acessível ao maior número de pessoas que apresentem algum tipo de dificuldade. Assim, quando estas duas modalidades se unem num mesmo produto, esse mesmo produto torna-se acessível tanto a pessoas com algum nível de surdez como a pessoas com algum nível de cegueira.

Em Portugal, a LSE é disponibilizada em DVD e no teletexto das novelas e dos telejornais. No caso das novelas, a legenda aparece em três linhas na parte inferior do ecrã, não centradas e por baixo da personagem que fala, ao contrário do telejornal, cuja legenda aparece numa linha contínua na parte superior do ecrã. De acordo com a Associação Portuguesa de Tradutores Audiovisuais, por lei, a cada quatro horas de conteúdo presente na televisão, esta modalidade é obrigada a estar disponível.

2.1.2 Sobrelegendagem

A sobrelegendagem ou surtitling é a legendagem destinada ao teatro e/ou ópera.

Este tipo de legendagem já existe há mais de vinte anos e, tal como as outras modalidades, surgiu das necessidades do público. Estas legendas apareceram pela primeira vez como uma forma de explicação das mensagens que as óperas queriam passar ao público, nunca tendo como objetivo alterar o texto de partida, mas sim complementá-lo. (Mateo, 2013, p. 136-137)

O texto traduzido é disponibilizado através de uma legenda num ecrã situado por cima do palco ou ao lado do mesmo. Idealmente as legendas deveriam ter apenas uma linha e estas são inseridas no momento da atuação, apesar de serem previamente preparadas (Hernández Bartolomé e Mendiluce Cabrera, 2005, p. 95). Este tipo de legendagem alia, portanto, aquilo que se está a passar em palco com as legendas que são introduzidas, enriquecendo assim a experiência do público ao visualizar a peça em questão. Também permite que o espetador esteja mais focado e acompanhe melhor a peça e dá a possibilidade a pessoas surdas ou com algum tipo de dificuldade auditiva de poderem assistir.

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Em Portugal, esta prática ainda não é muito comum, apesar de por vezes poderem ser vistos anúncios de tais casos (Veiga, 2010, p. 53-54).

2.1.3 Legendagem ao vivo

A legendagem ao vivo, também conhecida como legendagem em tempo real, não deve ser confundida com as legendas pré-gravadas inseridas na hora. Destina-se principalmente às pessoas surdas ou com deficiência auditiva que assistem a programas ao vivo (Hernández Bartolomé e Mendiluce Cabrera, 2005, p. 97). Para além disso, esta modalidade também está presente nas reportagens ou entrevistas transmitidas em direto nos telejornais, isto é, realizada na hora sem tempo para uma tradução prévia. Visto que este tipo de legendagem é feito em tempo real, os tradutores-legendadores têm acesso a um teclado especial que lhes permite poupar tempo na realização da sua tarefa.

2.2 Dobragem

A dobragem é também uma das modalidades de TAV mais conhecidas a nível mundial, sendo bastante comum a sua utilização em Espanha, França ou Itália por exemplo. Segundo Díaz Cintas (2003), a dobragem

involves replacing the original soundtrack containing the actor’s dialogue with a target language (TL) recording that reproduces the original message, while at the same time ensuring that the TL sounds and the actors’ lip movement are more or less synchronised.

É por isto que Agost (1999, p. 16) fala de três tipos de sincronização: a sincronização de caracterização (harmonia entre a voz do ator que está a dobrar e o aspeto do ator na imagem), sincronização de conteúdo (sintonia entre o guião original e a versão dobrada) e a sincronização visual (harmonia entre os movimentos da boca da personagem e os sons produzidos pelo dobrador).

Apesar de normalmente a dobragem ser interlinguística, também existe dobragem intralinguística. A dobragem intralinguística, também conhecida como pós-sincronização,

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não é muito comum e foca-se mais nos aspetos culturais do que propriamente linguísticos. Gambier (2003, p. 173) exemplifica esta situação com o filme Trainspotting e Harry Potter and the Philosopher’s Stone, que foram dobrados intralinguisticamente para inglês americano, o que levou a uma mudança de nome no último (Harry Potter and the Sorcerer’s Stone). A dobragem intralinguítica também apresenta algumas similaridades com a animação, no entanto, este tipo de dobragem é baseado num guião enquanto que a animação não (ver 2.9 Animação).

A dobragem tem algumas vantagens em relação à legendagem, uma vez que há uma menor redução do texto de partida, permite que as pessoas cegas ou com alguma deficiência visual possam ter acesso a certos produtos audiovisuais e existe um maior respeito pela imagem (não existem acrescentos à imagem, ou seja, legendas). No entanto, este é um processo muito mais longo e dispendioso que a legendagem, visto que envolve toda uma equipa que passa pelos tradutores, adaptadores/escritores de diálogo, diretores de dobragem, atores, técnicos de som entre outros.

Em Portugal, a dobragem é bastante utilizada, apesar de sermos um país caracteristicamente legendador. A dobragem é maioritariamente utilizada em desenhos animados e outros tipos de programas infantis, no entanto, cada vez mais se veem programas destinados a adolescentes a serem dobrados.

2.2.1 Voice-over

Também conhecida como sobreposição de voz(es), o voice-over é a transmissão simultânea de uma banda sonora original e a tradução da mesma, ou seja, o som da banda sonora original é ligeiramente reduzido para que a sua tradução possa ser audível (Hernández Bartolomé e Mendiluce Cabrera, 2005, p. 95). No entanto, no início de cada fala é possível ouvir a LP em tom normal durante poucos segundos e só depois é que o volume é reduzido para que assim se possa ouvir a versão traduzida. Gambier (1997, p.

80) refere ainda que esta modalidade é bastante fiel ao original.

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Apesar da TAV se ter desenvolvido bastante nos últimos anos, esta modalidade continua a não ser muito estudada. O voice-over é normalmente utilizado em entrevistas e documentários, o que também é possível verificar em Portugal.

Do ponto de vista de Gambier (2003, 2004), no voice-over também estão incluídos a semi-dobragem e a narração, apesar de estas modalidades apresentarem algumas diferenças em relação à primeira.

2.2.2 Semi-dobragem / dobragem parcial

Na semi-dobragem (half dubbing) ou dobragem parcial (partial dubbing) não existe uma tradução completa do som fornecido, mas sim uma adição de um texto falado que fornece informação necessária ao público-alvo na língua de partida (Hendrickx, 1984, p.

217). Para além disto, o texto que é enunciado durante o produto audiovisual é pré- gravado na semi-dobragem/ dobragem parcial. O principal aspeto que distingue a semi- dobragem/ dobragem parcial do voice-over é que, nas duas primeiras, esta informação adicional normalmente aparece nos momentos silenciosos do programa/filme, não acontecendo o mesmo no último. Apesar de esta ser uma modalidade considerada barata, a sua utilização não é muito comum, pois é possível verificar uma falta de verosimilhança e fidelidade principalmente em comparação com a dobragem.

2.3 Interpretação

Segundo Hernández Bartolomé e Mendiluce Cabrera (2005, p. 95) “interpreting is the oral translation of an audiovisual product by only one speaker”. Existem diferentes tipos de interpretação, como a interpretação simultânea, a interpretação consecutiva e a interpretação em língua gestual, sendo a mais comum a simultânea. Nesta modalidade, é muito importante a fluência e a voz da pessoa que interpreta, pois, a monotonia deve ser evitada a todo o custo.

Esta modalidade é normalmente utilizada em entrevistas ao vivo e nas transmissões noticiosas, e o som original pode ser ouvido como ruído de fundo. Esta modalidade

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apresenta um grau de dificuldade alto, principalmente na interpretação ao vivo, uma vez que não há um guião pelo qual o intérprete se possa guiar, ele tem de realizar o seu trabalho na hora, sem muito tempo para pensar e ponderar potenciais traduções. Isto também significa que um intérprete tem de ter um bom conhecimento e nível de língua estrangeira para fazer o seu trabalho.

A interpretação não é muito comum em países que têm como modalidade preferencial a dobragem, já que a interpretação facilmente ia distrair o público habituado à dobragem do filme.

2.3.1 Interpretação consecutiva

No caso da interpretação consecutiva, esta refere-se ao processo no qual existe um texto numa LP que é interpretado após um intervalo de tempo para uma LC. De acordo com Gambier (1997, p. 80; 2003, p. 173) esta divide-se em três formas: a consecutiva ao vivo, que é mais utilizada na rádio e na televisão para entrevistas; a consecutiva pré-gravada, que é próxima do voice-over e ainda a consecutiva dupla (ver 2.5 Audiodescrição), mais utilizada nas comunicações de longa distância, por exemplo, nas teleconferências.

2.3.2 Interpretação simultânea

Já a interpretação simultânea ocorre no momento da produção do texto de partida, não havendo, portanto, tempo para o intérprete se preparar. Isto torna esta tarefa ainda mais difícil, pois, segundo Hernández Bartolomé e Mendiluce Cabrera (2005, p. 95), não existe um guião pelo qual o intérprete se pode orientar. No entanto, isto nem sempre é verdade, pois em algumas conferências internacionais, os intérpretes têm por vezes acesso a um guião. Normalmente é usada em entrevistas, notícias ou até programas ao vivo.

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30 2.3.3 Interpretação em língua gestual

A interpretação em língua gestual destina-se às pessoas com algum tipo de deficiência auditiva, não importando a sua gravidade. Um intérprete de língua gestual normalmente é apresentado na parte inferior do ecrã de uma televisão, sendo por vezes criticado o facto de a imagem ser demasiado pequena. Existem também intérpretes em espetáculos, como por exemplo, peças de teatro, em que o intérprete está presente na sala ou de um lado do palco. Esta modalidade é também simultânea, uma vez que os intérpretes vão fazendo o seu trabalho à medida que o som é reproduzido. O intérprete de língua gestual deve sempre ter em mente as particularidades deste público-alvo, de forma a transmitir aquilo que é essencial de maneira que eles percebam, e não contaminando a sua interpretação com informações supérfluas.

2.4 Narração

Na narração, o texto a traduzir é condensado e preparado antes de ser produzido.

De seguida, o texto é normalmente lido por um profissional, mas nunca interpretado, pois o narrador deve simplesmente narrar a informação fornecida. Em muitos países só há uma pessoa que faz a narração, mas noutros, muitas vezes são contratadas várias pessoas para narrarem, como por exemplo, vozes femininas ou de crianças. Nesta modalidade, o som da banda sonora original ou é silenciado ou o seu volume é reduzido. Para Díaz Cintas (2001, p. 40), o que distingue a narração do voice-over é o facto de, no primeiro caso, o texto ser mais condensado e não necessitar ser tão fiel ao original. Esta é uma modalidade mais utilizada nos países de Leste, pois é menos dispendiosa do que, por exemplo, a dobragem. Esta modalidade não é muito utilizada por países com um historial de dobragem, pois parece uma alternativa menos realista.

Já em Portugal, é frequente recorrer-se à narração para documentários estrangeiros, mas este tipo de produto também recorre à legendagem, ao voice-over, à dobragem, entre outras.

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31 2.5 Audiodescrição

A audiodescrição destina-se a pessoas cegas ou com algum tipo de deficiência visual. Esta modalidade consiste na descrição oral de elementos visuais tais como o cenário, as ações das personagens, o vestuário, entre outros, que são importantes para a perceção do guião (Hernández Bartolomé e Mendiluce Cabrera, 2004, p. 266). Tal como outras modalidades, esta pode ser intralinguística, quando uma narração é adicionada à banda sonora original, ou interlinguística, quando uma narração é acrescentada à versão dobrada, sendo, portanto, também chamada dobragem dupla. Estes acréscimos descritivos não devem interferir com a banda sonora original, já que é esperado que sejam inseridos em momentos silenciosos ou de pausa. Esta narração pode ser gravada previamente no caso do cinema ou gravada ao vivo no caso do teatro, no entanto é sempre preparada de antemão. Segundo Veiga (2010, p. 57-58), nesta modalidade, o tradutor tem também de fazer uma adaptação cultural, uma vez que é difícil, por exemplo, explicar o conceito de “alto” a uma pessoa que nasceu cega.

Esta modalidade ainda se está a desenvolver, até porque começam a surgir legendas para os cegos. Apesar de parecer contraditório, visto que as pessoas cegas não conseguem ler legendas, há uma tecnologia ainda em desenvolvimento que permite versões faladas automáticas, ou seja, que uma voz leia as legendas: a informação de teletexto é lida por um sintetizador de voz que transmite a informação através de um auricular (Ivarsson e Carroll, 1998, p. 138). As diferenças entre a audiodescrição e este tipo de tecnologia são diversas, no entanto ambas têm como objetivo ajudar as pessoas cegas ou com algum tipo de dificuldade visual a terem acesso a produtos audiovisuais.

2.6 Comentário livre

O comentário livre é a adaptação de um programa a uma audiência completamente nova em que o texto é traduzido e oralmente apresentado. Esta adaptação é feita de acordo com aspetos culturais, o que resulta num produto de chegada completamente diferente. Como o objetivo principal não é a reprodução fiel do conteúdo original, o

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locutor pode cortar ou adicionar informação e fazer comentários ao longo do programa, uma vez que para esta modalidade, a sincronização é feita de acordo com a imagem e não com o texto (Luyken, 1991, p. 82). O tradutor deve também ter conhecimentos prévios sobre o tema que está a comentar. Esta modalidade tende a ser mais explícita e dar mais atenção ao detalhe do que o original, e geralmente é utilizada em programas para crianças, vídeos promocionais de empresas e alguns documentários. Chaume (2004, p. 39) alega que o comentário livre é mais uma adaptação do que uma tradução.

Hernández Bartolomé e Mendiluce Cabrera (2005, p. 96) afirmam que apesar de ser similar à narração, o comentário é mais informal e menos circunscrito ao original.

2.7 Tradução simultânea

A tradução simultânea ou em tempo real, tal como o próprio nome indica, é realizada na hora e é a tradução de um guião ou trabalho de legendagem já preparados numa segunda língua (Gambier, 2003, p. 174). Esta modalidade difere da interpretação simultânea, uma vez que na tradução simultânea, o tradutor trabalha a partir da tradução previamente feita da LP, numa outra língua, ou seja, o tradutor vai traduzir a partir de uma tradução e não do original. Na interpretação simultânea isso não acontece, já que o intérprete trabalha com a LP em si. Normalmente, esta modalidade é usada em festivais de cinema e cinematecas, onde as restrições em termos de tempo são maiores e não há a possibilidade de realizar outro tipo de legendagem mais complexo. O público pode ouvir ambas as vozes, a de chegada e a de partida, e segundo Hernández Bartolomé e Mendiluce Cabrera (2005, p. 97) a qualidade da sincronização não é boa.

Gambier (1997, p. 80) refere ainda que quando o tradutor não tem acesso ao guião, é costume fazer-se voice-over, sendo que também é possível optar-se por outras modalidades.

2.8 Tradução de guião

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Segundo Gambier (2004, p. 2), o único propósito da tradução de guiões é arranjar financiamento para as coproduções. Esta modalidade destina-se principalmente à(s) pessoa(s) que vai(vão) financiar as produções e não ao público em geral, pois é através da tradução do guião que essa(s) pessoa(s) vai (vão) decidir o futuro financiamento de um filme. Por causa disto, é muito raro que uma tradução de guião seja publicada.

2.9 Animação

A animação é uma modalidade que inclui tanto tradução como a escrita de guião, pelo que o tradutor tem acesso às imagens, mas é ele que cria e desenvolve os diálogos a partir do zero, conforme afirmam Hernández Bartolomé e Mendiluce Cabrera (2005, p.

99). Em termos de sincronização, a animação é semelhante à dobragem. Esta modalidade apresenta também similaridades com o comentário livre, mas o que os diferencia é o facto de a animação ter um guião de antemão. Tendo consciência de que esta modalidade se encontra na periferia daquilo que é englobado na TAV, achei importante referi-la, pensando na possibilidade de verificar a realidade profissional da aplicação desta modalidade.

2.10 Tradução multimédia

A tradução multimédia é uma combinação entre a TAV (dobragem e legendagem, principalmente), as competências de programação e os conhecimentos científicos e tecnológicos (Chaume, 2004, p. 40). Esta modalidade é comummente utilizada em jogos interativos para computador e consolas. Hernández Bartolomé e Mendiluce Cabrera referem ainda que “the translator will keep both dubbing and subtitling synchrony, and will have to pay special attention to visual and acoustic virtual reality created in the game.” (2005, p. 99). A localização está inserida nesta modalidade, mas por vezes, os termos localização e tradução multimédia são vistos como sinónimos. Contudo, localização refere-se unicamente a aspetos de software e programação, enquanto a tradução multimédia é mais geral, uma vez que envolve a tradução em vários meios e não

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exclusivamente em computadores. (Hernández Bartolomé e Mendiluce Cabrera, 2005, p.

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2.11 Difusão multilíngue

A difusão ou produção multilingue (Gambier, 2003) refere-se aos produtos legendados ou dobrados que envolvam duas ou mais línguas, podendo assim o espetador selecionar a sua língua de preferência. Esta modalidade difundiu-se principalmente devido aos DVDs, uma vez que estes disponibilizam diferentes legendas ou dobragens em diversas línguas. Esta é uma das modalidades que gera grande controvérsia entre os autores, uma vez que por exemplo, Gambier a inclui nas modalidades da TAV. Já Hernández Bartolomé e Mendiluce Cabrera não a consideram como uma modalidade, mas identificam como modalidades a dupla exibição e as novas versões, que são derivações da difusão multilíngue do ponto de vista de Gambier. No entanto, Hernandez Bartolomé e Mendiluce Cabrera referem que tanto a dupla exibição como as novas versões fazem parte das “produções multilíngues”. Gambier divide então esta modalidade em duas categorias.

2.11.1 Dupla exibição

Segundo Gambier (2004, p. 4), a dupla exibição/rodagem1 (double tournage) refere-se ao facto de cada ator interpretar o seu papel na sua língua e mais tarde, o filme ser dobrado e pós-sincronizado para ter uma só língua. Visto que esta modalidade da TAV pode caracterizar-se pela natureza estrangeira de uma ou mais personagens, a sua tradução pode não estar incluída no produto todo.

1 Na aceção de Veiga (2010, p. 54-56), “double tournage” refere-se a “dupla exibição”, uma vez que esta autora faz referência ao resultado do produto audiovisual, ou seja, à apresentação do produto ao público nas diferentes culturas e línguas de chegada. No entanto, a palavra francesa assemelha-se mais ao termo rodagem em português, portanto, no contexto deste trabalho, achamos que é mais pertinente explicar a perspetiva do tradutor, uma vez que é aquando da rodagem que o tradutor exerce a sua função e não na exibição.

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35 2.11.2 Novas versões

As novas versões ou remakes aludem à recontextualização de um filme para uma cultura de chegada, ou seja, à adaptação dos elementos culturais da língua de partida à língua de chegada. Sendo assim, privilegiam-se os valores e ideologias, sendo os aspetos linguísticos não tão importantes nesta modalidade de Gambier (2004, p. 4). Hoje em dia, esta modalidade é utilizada normalmente em filmes europeus que vão ter uma nova versão para a audiência americana, no entanto há 50 anos este fenómeno passava-se em sentido contrário.

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PARTE 2 – ESTÁGIO

3. Realização de tarefas

Este estágio realizou-se no âmbito da unidade curricular Dissertação/Projeto/Estágio incluída no Mestrado de Tradução Especializada na Universidade de Aveiro.

O estágio no Cine-Clube de Avanca (CCA) foi conseguido com a ajuda da Professora Cláudia Ferreira que, para além de minha coorientadora, foi também minha supervisora durante todo o processo de trabalho. Tal como mencionei, estive a estagiar no Cine-Clube de Avanca, mas o grosso do trabalho foi realizado para o Festival de Cinema de Avanca, festival esse que é organizado pelo CCA.

Este estágio tinha como objetivo alcançar um melhor conhecimento de como funciona o mundo de trabalho na Tradução Audiovisual, quais os seus maiores desafios, e dificuldades e as formas de os tentar ultrapassar. Tinha também como objetivo fortalecer as minhas capacidades de tradução e legendagem ao desenvolver competências práticas inerentes à TAV através da realização de atividades de legendagem e tudo o que está relacionado com esta área, tal como a capacidade de condensar informação, estimular a criatividade ou ainda incrementar a agilidade prática na criação e sincronização de legendas.

Durante este estágio foi-me proposta a realização de diversas tarefas que se dividiam em duas partes: trabalho para o CCA em específico e trabalho para o Festival.

Para o CCA, fiz a tradução e legendagem de uma longa-metragem e a tradução de um guião. Já para o Festival, estive envolvida em projetos que concorreram em competições nacionais e internacionais, tendo feito a tradução e legendagem de duas longas- metragens, duas curtas-metragens e ainda a revisão de legendagem de uma curta- metragem. Durante este estágio lidei também com a legendagem considerada normal, ou seja, monolíngue, mas, também, com legendagem bilíngue, algo com o qual nunca tinha

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trabalhado. Para além disto, posso também afirmar que trabalhei com as minhas três línguas de trabalho, o português, o inglês e o francês.

Para a realização de tarefas neste estágio, utilizei maioritariamente o programa de legendagem Subtitle Edit, um programa com o qual já estava familiarizada. Não utilizei o Subtitle Workshop, outro programa com o qual também estava familiarizada, pois o Edit tem uma funcionalidade a mais que o Workshop que penso que é mais benéfica no processo de sincronização. Esta funcionalidade é a onda de som, ou seja, no programa é visível a onda de som presente no vídeo, então, é mais fácil, através da visualização dessa onda, sincronizar melhor as legendas, visto que há uma melhor perceção sobre quais são as partes que são pessoas a falar ou ruídos de fundo. Nesta onda estão inseridas as legendas e assim é mais fácil controlar o tempo de cada legenda, isto é, consegue-se aumentar ou diminuir o tempo da legenda com mais facilidade.

4. Cine-Clube de Avanca

O Cine-Clube de Avanca, localizado em Avanca, Aveiro, é uma associação sem fins lucrativos que tem como objetivo promover a produção de conteúdos audiovisuais a nível nacional e internacional. O CCA teve o seu início em 1975, no entanto, só foi tornada uma instituição oficial uns anos mais tarde, a 18 de novembro de 1982. O CCA é responsável por desenvolver atividades audiovisuais tais como a produção e divulgação cinematográfica, a edição bibliográfica, a produção de eventos, mas também assegura a formação de pessoas nestas áreas.

Para além disto, o CCA organiza, desde 1997, o Festival Internacional de Cinema de Avanca/Avanca Film Festival. Apesar de estar a estagiar para o CCA, foi para este Festival que realizei a maioria do trabalho de legendagem que me foi apresentado durante o estágio. Os filmes que trabalhei entraram na competição internacional e na competição Avanca.

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38 4.1 Festival de Cinema de Avanca

O Festival de Cinema de Avanca – Encontros Internacionais de Cinema, Televisão, Vídeo e Multimédia ou Festival AVANCA é um festival realizado sempre na última semana de julho onde estão presentes os filmes produzidos a nível nacional e internacional. Estas produções estão inseridas em diferentes competições e os prémios são diversos. No início do Festival, os prémios dos vencedores do ano anterior são entregues, e no final do mesmo são apenas anunciados os premiados desse ano/edição. Os vencedores são escolhidos por diferentes grupos de júris que estão presentes no Festival e que tomam decisões em conjunto e escolhem, de acordo com os nomeados, quem serão os vencedores.

Mais recentemente o Festival conta também com workshops criativos, exposições, debates e ainda as Avanca pitch sessions, que têm ajudado à arrecadação de prémios em várias competições internacionais, pois estas atividades são sem dúvida uma rampa de lançamento para os variados filmes presentes nas mesmas. Para além disto, existe ainda uma conferência, um evento criado a posteriori, mais precisamente desde 2010, que não faz parte do Festival em si, apesar de estar intimamente associado ao mesmo. É um evento separado, com uma comissão organizadora separada, uma comissão científica que o Festival não tem e com critérios e processamento de metodologia de trabalho diferenciados.

O Festival AVANCA celebrou este ano o seu 25º aniversário e os organizadores revelaram que os filmes produzidos durante o AVANCA ganharam mais de 50 prémios e menções nos cinco continentes.

O Festival AVANCA é o único festival em Portugal que sempre se realizou no mesmo concelho e que manteve as mesmas datas de exibição; foi também o primeiro a abrir uma competição para filmes produzidos na região de Avanca e o único a exibir os filmes presentes na principal competição internacional em regime Drive-in durante a pandemia da COVID-19.

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O Festival conta ainda com várias parcerias, estando a organização ao cargo do Cine-Clube de Avanca e da Câmara Municipal de Estarreja. Conta também com alguns apoios institucionais, como por exemplo, do Instituto do Cinema e do Audiovisual, do Governo de Portugal – Cultura, da International Federation of Film societies, da Academia Portuguesa de Cinema e do ID+ Instituto de Investigação em Design, Media e Cultura. O Festival também conta com apoios académicos, entre eles, o da Universidade de Aveiro, da Universidade de Coimbra, da Universidade do Algarve, da Universidade de Trás-os- Montes e Alto-Douro e do Instituto Politécnico de Bragança. Para além destes, também conta com parceiros media, onde se destacam a RTP1 – Rádio e Televisão de Portugal e o IJC – International Journal of Cinema. No que toca a parceiros de festivais, contam com um número variado e extenso de parceiros por todo o mundo, nomeadamente da Áustria, Brasil, Itália, Turquia, Marrocos, São Tomé e Príncipe, França, Croácia, República Checa, África do Sul, Ucrânia, Bulgária, Taiwan, Reino Unido, Espanha, Paquistão e Hungria. Alguns exemplos destes festivais parceiros são o Alpinale, o Curta-se, o Filmhafizasi, o São Tomé FestFilm, o Tabor Film Festival, o Brno Sixteen, o Montecatini International Short Film Festival, o South Taiwan Film Festival, o Glasgow Short Film Festival e o Asia Peace Film Festival.

5. Projetos realizados

Um dos grandes objetivos do CCA enquanto organizador e responsável pelo Festival de Cinema de Avanca é, no fundo, diversificar e trazer ao seu público novos filmes, ou seja, filmes diferentes em línguas diferentes e não só os mais comercializados, promovendo, assim, novas culturas. Por causa disso, fui confrontada com diversos tipos de longas e curtas-metragens em línguas distintas, tendo que legendar filmes de línguas que não falava nem tinha conhecimento algum, como por exemplo, o alemão e o húngaro. Foi, sem dúvida, um desafio, mas isto mostra que o CCA é diferente, é inovador e promove a união entre as línguas e as culturas.

De seguida, passarei a uma análise de todas as traduções e legendagens das longas e curtas-metragens, bem como da tradução de um guião que realizei durante o meu estágio.

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5.1 Tradução da longa-metragem Famille FC

A longa-metragem (LM) intitulada Famille FC foi o primeiro projeto que me foi entregue durante o estágio, logo em fevereiro. Esta LM conta a história de várias famílias e amigos portugueses que decidiram, num ponto da sua vida, emigrar para França. Estes emigrantes construíram a sua vida e a sua comunidade num país que não conheciam. Esta LM é um retrato sincero daquilo que é ser emigrante, ter saudades do seu país natal e ao mesmo tempo tentar levar um pouco da sua portugalidade para outro país. Esta LM não tem um guião, não teve ensaios, nem falas que tiveram de ser decoradas, simplesmente mostra a verdade nua e crua destas pessoas e a forma como vivem a sua vida de maneira simples e humilde.

Esta LM foi-me atribuída a mim e a outra colega estagiária, pelo facto de o nosso par de línguas de trabalho ser EN-FR. Tendo em conta que esta LM é luso-francesa, o nosso trabalho iria consistir em duas partes distintas: numa tradução e legendagem para PT, nas partes que eram faladas em FR, e numa tradução e legendagem para FR, nas partes faladas em PT.

Logo fomos informadas que não tínhamos prazo de entrega para esta LM, pois ainda não era certo se esta ia fazer parte do Festival ou não (era ainda necessário rever alguns critérios e, consoante os mesmos, decidir se esta LM poderia ou não participar ativamente no Festival). No entanto, mesmo que não integrasse o Festival, a sua tradução e legendagem era necessária para o CCA.

Neste trabalho em específico, houve vários momentos de espera e várias interrupções do trabalho, pois o filme que nos foi fornecido tinha sido enviado para seleção ainda não totalmente acabado. Isto deve-se ao facto de haver prazos que são de natureza financeira e critérios e tempos de exibição e em função desses prazos e critérios, esta LM foi-nos entregue ainda inacabada. É costume no Festival uma equipa de legendagem começar a trabalhar num produto ainda inacabado, para, assim, se adiantar trabalho, por isso, foi o que fizemos com esta LM. Como a produção de um filme tem várias etapas, quando esta LM foi submetida para o Festival estava já alterada, isto é, era

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já uma outra versão, a finalizada. Isto é ingrato, da perspetiva de quem legenda, porque tem de se proceder a uma revisão do trabalho nestas situações, para assim assegurar que tudo esteja conforme o necessário, tendo a legendagem sido feita previamente ou não.

Fomos igualmente informadas que, como não somos francófonas, nos ia ser facilitada uma transcrição do áudio da LM realizada por outra estagiária do CCA que era, de facto, francófona, e por isso teria à partida mais facilidade na realização do trabalho.

Esta transcrição iria ser a nossa base durante o processo de tradução e consequente legendagem.

Quando o projeto nos foi enviado, para além da transcrição do áudio em PT e em FR, foi-nos facultado o vídeo. Após uma primeira visualização da LM e comparação com a transcrição concedida, percebi que não estava presente alguma informação. Em primeiro lugar, em ambas as transcrições, o diálogo não tinha sido completamente transcrito, as partes em falta estavam simplesmente identificadas como “…” ou no caso de ser só uma palavra como “XXXXX”. Em segundo lugar, as transcrições estavam um pouco confusas, pois supostamente eram para ser ficheiros separados, isto é, um ficheiro para a transcrição em PT e outro para FR. No entanto, no ficheiro PT, tanto apareciam as partes faladas em FR transcritas como eram ocultadas e identificadas como [FR], o que levou a que o ficheiro da transcrição FR estivesse incompleto, pois faltavam partes que estavam incluídas no de PT. Tudo isto resultou em ficheiros confusos e incompletos, o que me levou a despender algum tempo a tentar pôr em ordem toda a transcrição num só ficheiro, para ser mais fácil durante o processo de tradução. Durante a realização desta tarefa, também percebi porque é que as transcrições da minha colega estavam incompletas, pois realmente os momentos que ela não inseriu na transcrição eram praticamente impercetíveis. Isto deve-se ao facto de haver muito barulho de fundo e, para além disto, o facto de o português e o francês falado não corresponderem à língua- padrão (são percetíveis interferências de uma língua na outra) não ajuda na perceção de certos momentos do áudio.

Após este trabalho inicial, eu e a minha colega decidimos, então, dividir esta LM a meio, ficando, assim, eu com a primeira parte para traduzir para PT e FR e ela com a

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segunda para traduzir para PT e FR. Esta divisão foi feita de acordo com as transcrições que nos foram fornecidas, tendo nós dividido de igual forma o número de palavras presentes nessa mesma transcrição. Tomámos esta decisão, pois não achámos justo uma de nós traduzir unicamente para PT e outra traduzir unicamente para FR, uma vez que a carga de trabalho ia ser desigual. Isto explica-se pelo facto de que a parte que seria para traduzir para PT ser significativamente menor do que a parte que seria para traduzir para FR.

Seguidamente, começou então o processo de tradução. Como já foi referido anteriormente, esta LM retrata a vida de alguns portugueses que se encontram emigrados em França. Por causa disto, uma das características desta LM é o facto de, por vezes, as personagens misturarem as duas línguas, ou seja, inserirem certas expressões ou palavras em francês no seu discurso, por exemplo, quando estão a falar em português ou vice-versa. Sempre que este facto se verificava, optei por traduzir totalmente as frases, ou seja, quando uma frase em PT era verbalizada com uma palavra/expressão em FR, a versão traduzida ficava sempre em FR, mantendo assim uma parte do original. O mesmo aconteceu quando uma frase era verbalizada em FR com uma palavra/expressão em PT, a versão traduzida aparecia completamente em PT. Apesar desta opção anular na tradução e futura legendagem o facto de as personagens serem bilíngues, penso que o contexto e a história da LM em si, transmite muito bem essa ideia e também o áudio reflete esse facto.

Quanto à tradução em si, em termos linguísticos, houve alguns obstáculos que foram surgindo aquando do processo de tradução. Alguns desses exemplos podem ser verificados na tabela abaixo:

Ex. Original (PT) Tradução (FR)

1 Pito, sardinha, chipó, mergueise! Poulet, sardines, chipo, merguez!

2 Este clube foi nascido em 1970. Ce club est né en 1970.

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43 O Maire era comunista, mas naquela altura os portugueses éramos uma média entre 10 a 15 portugueses que frequentávamos, porque na altura os portugueses tinham medo quando iam a Portugal cortarem o pescoço ou irem para a prisão.

Le Maire était communiste, mais à l’époque nous étions une moyenne de 10 à 15 Portugais à fréquenter l’association.

Parce qu'à l'époque, les Portugais avaient peur qu'en allant au Portugal, ils se fassent couper le cou ou aillent en prison.

Tabela 1 – Exemplos de tradução da longa-metragem Famille FC

No primeiro exemplo é demonstrada uma frase que é falada em PT, contudo, inicialmente causou alguma confusão. Pois, em primeiro lugar, não tinha conhecimento em PT do que era “chipó” nem “mergueise” e por momentos pensei que pudessem ser expressões em francês. Tal como já foi referido anteriormente, por vezes as personagens misturam as duas línguas, o português e o francês quando falam, por serem emigrantes.

Após alguma pesquisa sobre estes dois termos, percebi que “mergueise” se referia às salsichas mergueise ou merguez, salsichas originárias do Magrebe, cujo uso é bastante popular em França. Por causa disso, acabei por traduzir para “merguez” visto que é a terminologia utilizada em FR quando se faz referência a estas salsichas. Quanto a “chipó”, não consegui encontrar nada sobre o assunto em português, o mais parecido que encontrei foi “chipo” que segundo dicionários é igual a “chipe”, ou seja, uma ostra que produz pérolas. Visto que no filme, e nesta cena em específico, as personagens se encontram à volta de um grelhador e a personagem que fala está a assar sardinhas e é a única coisa que se vê claramente na grelha, não me pareceu que “chipó” se referisse a ostras. Decidi então procurar por essa expressão em francês, pois, tal como aconteceu com “mergueise”, poderia ser algo típico da cozinha francesa. Depois de fazer a pesquisa, percebi que “chipó” se referia, de facto, à abreviatura da expressão “chipolata”, outro tipo de salsicha muito consumida em França e nos países francófonos. Por isso, recorri ao empréstimo enquanto método tradutológico, visto que no TP é utilizada já a versão utilizada na LC. Como a abreviatura desta salsicha é comumente utilizada, decidi então

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manter a abreviatura em vez da palavra completa, poupando, assim, também, em caracteres.

Já o segundo e o terceiro exemplo demonstram efetivamente que o português falado pelas personagens é, de facto, uma variante linguística. Isto é explicado pelo facto de serem emigrantes e, por causa disso, o seu português ser fortemente influenciado pelo francês, mas também porque me parece que este filme é genuíno, ou seja, não se rege por um guião nem por falas ensaiadas, mas sim pela realidade e veracidade destas famílias e destas pessoas. Estes são só dois excertos exemplificativos desse facto na minha parte, mas no decorrer da LM apareceram muitos outros casos. Aquando da tradução, corrigi estas variantes de língua e por vezes tive de alterar um pouco as frases, como se demostra no terceiro exemplo, em que dividi uma frase do original em duas no texto traduzido.

Após a tradução estar concretizada, era hora de fazer a legendagem. Tive um problema ao inserir o ficheiro para legendagem no programa Subtitle Edit, que foi o programa de legendagem que utilizei para realizar os projetos do estágio. O programa, por alguma razão, não me deixava inserir o vídeo, que estava em formato mp4. Para o resolver teria de converter o ficheiro de vídeo para o formato avi. Como não consegui, por o ficheiro ser demasiado extenso, avisei a professora Claúdia Ferreira do sucedido. A professora entendeu e comunicou-me que ia tentar solucioná-lo com o CCA e, se necessário fosse, contactar os produtores da LM.

De seguida, fomos informadas que já havia confirmação que esta LM não ia participar no Festival. Este trabalho ficou então em standby até nos ser dada a nova versão do filme para fazermos as alterações necessárias e eu poder legendar a minha parte. Depois de nos ser fornecida a versão finalizada do produto, era, então, necessário rever o trabalho todo. Algum tempo depois, fomos informadas que este projeto era para enviar, ou seja, era necessário enviarmos o trabalho que tínhamos realizado com a primeira versão da LM. Relembrei, então, a professora que só tinha a tradução e não a legendagem por causa dos problemas que tinha tido com o vídeo e o programa. Tendo-

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