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Revista Identidade Oblata, Curitiba, v.2, n.1, p Jan/Jun de 2014.

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Academic year: 2022

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Revista

IDENTIDADE OBLATA

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Revista Identidade Oblata ISSN: 2358-6478

Publicação do Centro de Memória dos Oblatos de São José – Faculdade Padre João Bagozzi

Editoração:

Capa / Cover: Priory Comunicação

Planejamento Gráfico / Graphic Designer: Prof. Ms. Humberto Silvano Herrera Contreras Revisão / Revision: Elisangela Dias Barbosa

Bibliotecária / Librarian: Íris Labonde

As opiniões emitidas nos artigos são de inteira responsabilidade de seus autores.

All articles are full responsability of their authors.

Solicita-se permute / Se solicita el intercambio / Exchange is request / Se sollicite échange / Lo scambio è chiesto.

Catalogação na fonte

Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida, desde que citada a fonte.

Revista Identidade Oblata / Congregação dos Oblatos de São José. Faculdade Padre João Bagozzi. Centro de Memória Oblatos de São José. Curitiba, 2014.

v.2, n. 1, jan./jun. 2014.

Semestral

ISSN 2358-6478

1. Centro de Memória Oblatos de São José. Congregação dos Oblatos de São José.

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Congregação dos Oblatos de São José

Presidente / President Pe. Ailton Ferreira de Almeida, osj

Editores / Editor

Prof. Ms. Humberto Silvano Herrera Contreras

Comissão Editorial / Executive Commite Ir. Leandro Antônio Scapini, osj Prof. João Antônio Viesser - BAGOZZI

Comissão de Educação – Congregação Oblatos de São José

Todos os direitos reservados à Congregação dos Oblatos de São José.

A reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio ou processo, sem a citação da fonte, constitui crime.

Correspondência / Letters

Centro de Memória Oblatos de São José Faculdade Padre João Bagozzi Rua Caetano Marchesisni, 952

Portão – Curitiba – Paraná CEP.: 81070-110

E-mail: nipe@faculdadebagozzi.edu.br Tel.: (41) 3521-2727

Copyright 2014

Congregação dos Oblatos de São José Rua João Bettega, 796

Portão – Curitiba – Paraná

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Revista

IDENTIDADE OBLATA

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SUMÁRIO

Apresentação...

Humberto Herrera

7

Artigos do Dossiê: Retratos da Educação Oblata – experiências e atualidades

A educação no carisma dos Oblatos de São José ...

Ir. Leandro Antonio Scapini, osj

9

A educação haurida na pessoa de São José ...

Pe. José Antonio Bertolin, osj

22

A educação catequética sob o olhar de Marello ...

Pe. Mauro Negro, osj

28

Apostolado catequístico del Marello y de la Congregación en la Iglesia hoy……….

Pe. Fiorenzo Cavallaro, osj

45

A educação nos Estados Unidos e a contribuição dos Oblatos de São José...

Pe. Álvaro de Oliveira, osj

63

Documento

Método educativo marelliano ...

Centro Cultural Fray Bartolomé de las Casas

76

Relato de experiência

Relato do Centro Cultural Fray Bartolomé de las Casas em México ...

Pe. Ernesto Callejas Hernández, osj

82

Sobre a Revista Identidade Oblata ... 84

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APRESENTAÇÃO

Caro leitor,

O dossiê intitulado Retratos da educação oblata: experiências e atualidades reúne produções textuais nacionais e internacionais sobre o trabalho educativo da Congregação dos Oblatos de São José.

Na seção Artigos, apresenta inicialmente o artigo de Ir. Leandro Scapini, osj, que discute a educação no carisma dos Oblatos de São José, a partir de uma análise dos aspectos históricos que envolvem o pensamento de José Marello. Na sequência, o artigo A educação haurida na pessoa de São José de autoria do Pe. José Antonio Bertolin, osj, apresenta uma reflexão a partir da Josefologia sobre a missão educativa de São José.

O artigo do Pe. Mauro Negro, osj, A educação catequética sob o olhar de Marello estuda a dimensão eclesial e pastoral da “educação do coração” de José Marello, com foco na análise da Carta do fundador sobre o Catecismo e da sua mensagem aos educadores cristãos. Também sobre a catequese, o artigo intitulado Apostolado catequético del Marello y de la Congregación en la Iglesia hoy do Pe. Fiorenzo Cavallaro, osj, traz uma reflexão histórica sobre a atividade catequética sob o olhar de fé e educativo de Marello, apontando o atual desafio formativo da Congregação na catequese aos jovens. Finalmente, o artigo do Pe. Álvaro de Oliveira, osj, relata o processo histórico da missão dos religiosos oblatos nas paróquias e escolas nos Estados Unidos. Analisa a contribuição do carisma dos Oblatos de São José na educação católica estadunidense.

Na seção Documentos apresenta-se o método educativo marelliano do Centro Cultural Fray Bartolomé de las Casas, localizado no México. O documento descreve os princípios para a educação da juventude da instituição. Relacionado ao documento anterior, na seção Relato de Experiência o Pe. Ernesto Callejas Hernández, osj, relata sobre os níveis acadêmicos de secundária e preparatória no Centro Cultural Fray Bartolomé de las Casas e da experiência da Escuela de Música San José Marello, no mesmo país.

Boa leitura!

Humberto S. H. Contreras Editor

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ARTIGOS DO DOSSIÊ:

RETRATOS DA EDUCAÇÃO OBLATA:

EXPERIÊNCIAS E ATUALIDADES

A R T

I G O

S

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A EDUCAÇÃO NO CARISMA DOS OBLATOS DE SÃO JOSÉ

Ir. Leandro Scapini, osj

1. Introdução

Para entender a educação no carisma dos Oblatos de São José, é preciso dar muita atenção ao pensamento de Marello e à história da Congregação. Não há como dissociar esses dois aspectos para melhor compreender o porquê do trabalho dos Oblatos na educação.

Primeiramente, em relação ao pensamento de Marello, é necessário buscar uma resposta de como ele, ao longo dos anos em Asti, especialmente entre os anos da vida sacerdotal, procurou organizar os trabalhos em favor das pessoas mais necessitadas, seja na obra Pia Michelerio ou no Asilo Cerrato. Além disso, seu trabalho enquanto secretário do bispo e, em seguida, na companhia de Dom Carlo Sávio, visita pastoral a toda a diocese, bem como sua participação no Congresso Eucarístico de Turim e no Concílio Vaticano I deram a Marello uma nova visão de Igreja e sociedade. É importante ainda a análise de suas cartas, pois elas dão uma ideia geral do seu pensamento e dos seus sonhos enquanto ser humano e, ao mesmo tempo, uma pessoa que mantinha uma profunda experiência de fé. Já no que diz respeito à história da Congregação, é preciso entender o nascimento dos Oblatos num ambiente que trabalhava com pessoas necessitadas e, juntamente a isso, desenvolvia certa atividade educativa, pois, como se sabe, a Obra Pia Michelerio oferecia a oportunidade de alguns internos obterem uma profissão.

Posteriormente, faz-se necessário compreender a entrada dos primeiros membros da congregação nas escolas. A esse respeito é interessante tentar compreender se elas estavam no pensamento do Marello ou, se por consequências históricas, elas acabaram se tornando um dos importantes trabalhos da congregação.

Ao que se nota, dar uma explicação completa a respeito da educação no carisma dos Oblatos de São José torna-se muito complicado, pois os pontos de análises são bastante diversificados. Assim sendo, este texto quer apenas ser um ponto de partida para compreender dois aspectos importantes: se a educação – e aqui se entende o conceito de educação formal e informal – povoava o pensamento do Marello e, num segundo momento, como a educação passou a fazer parte da Congregação dos Oblatos de São José.

2. A Educação no Pensamento do Marello

Percorrer o pensamento do Marello e tentar entender se ele tinha algum interesse pela educação parece um caminho um tanto complicado. Pois o que se sabe é que Marello não era um estudioso (cientista) da educação e nem mesmo se dedicava ao processo de educação formal, ou seja, ele não fazia e não estudava a educação oferecida

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no âmbito escolar. Mas alguém que, por força de sua vocação, exercia algum tipo de educação, principalmente aquela religiosa, catequética, ou a informal (que é quando a educação não se dá num âmbito escolar).

A partir do momento em que ele assume de fato sua vocação, começa a desenvolver seu trabalho na diocese de Asti e, acima de tudo, tem o grande desejo de ser um personagem do seu tempo. Assim é que se pode extrair algo sobre o seu pensamento e, ao mesmo tempo, pode ajudar a entender seu interesse pela educação da juventude que mais tarde ao fundar a congregação seria um dos pilares do carisma dos Oblatos de São José. Isso é possível concluir, visto que Marello sempre teve uma forte admiração pelos trabalhos que davam um novo sentido a existência daquelas pessoas que mais precisavam e, nesse aspecto, não falta exemplos em sua vida, dos quais aqui são elencados apenas alguns deles: seu interesse pela obra de São João Bosco, seu trabalho no seminário como confessor, diretor espiritual e professor, seus trabalhos no Asilo Cerratto e na Obra Pia Michelerio. Também se faz mister citar seu conhecimento aprofundado da realidade italiana, que fazia com que muitas pessoas sofressem, bem como toda a realidade eclesial da época. E foi, possivelmente, a partir de toda essa sua experiência que ele, Marello, desejou de criar uma congregação que se preocupasse para com a boa formação dos jovens.

Para que tudo isso seja contemplado neste texto, é preciso num primeiro momento analisar a vida de Marello no contexto que ele viveu pós-ordenação sacerdotal, que ocorreu no ano de 1868 e, posteriormente, entre os anos de 1872 a 1878. A partir do ano de 1878, será preciso procurar entender o pensamento de Marello tendo em vista a congregação por ele fundada, pois é esse o grande fruto de toda sua vida.

Até o ano de 1868, é sabido que o maior trabalho de Marello se deu no seminário, pois no fundo ainda era estudante e se preparava para a ordenação sacerdotal. É claro que foi no período da juventude que ele procurou cultivar grandes virtudes e, segundo seus biógrafos, se destacava nos estudos, nas relações de amizades sinceras e verdadeiras, além de ter sido assistente dos filósofos, entre os anos de 1866 e 1867, e, em seguida, assistente dos estudantes de Teologia. Depois de 1868, que teve como marco principal na sua vida a ordenação sacerdotal, é que se pode tentar estudar melhor algo sobre seu pensamento e a descobrir seu interesse pela formação da juventude.

Uma das coisas mais importante da vida de Marello, após sua ordenação sacerdotal no ano de 1868, é que ele, enquanto secretário de seu bispo, pode conhecer a realidade de toda a diocese de Asti. Isso como que o “gabaritou” para compreender melhor as dificuldades da Igreja local daquele momento, as necessidades da vida eclesial e os problemas que o povo passava. Além disso, sua participação em dois eventos importantes, que foram o congresso dos bispos do Piemonte, em 1869, e o Concílio Vaticano I, entre novembro de 1869 e agosto de 1870, Marello pode ampliar seus conhecimentos sobre a vida da Igreja como um todo, além de aprofundar e melhorar sua percepção sobre os problemas do povo cristão e a urgência em fazer algo, ou melhor, desenvolver algum tipo de projeto que pudesse gerar a promoção humana e dar fôlego à Igreja. Talvez por todos esses fatos que acabaram acontecendo em sua vida, foi que uma de suas grandes preocupações dizia respeito ao trabalho apostólico, ou seja, aquele de ir ao encontro do povo e levar algum tipo de esperança. Isso fica constatado ao analisar sua biografia, pois nota-se sua vontade em promover algo que viesse de encontro aos problemas que a Igreja e o povo passavam.

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Desse seu desejo pelo trabalho apostólico, algumas coisas podem ser destacadas:

a) sua intensa e boa relação com o clero diocesano, além de, muitas vezes, escrever cartas de encorajamento aos seus amigos padres; b) sua preocupação para com o estudo e propagação do catecismo; c) a oração como um poderoso apostolado; d) sua intensa dedicação para com os interesses e as necessidades da diocese; e) sua preocupação para com os problemas do povo, principalmente aqueles menos favorecidos e, como exemplo disso, foi sua participação ativa na Obra Pia Michelerio e também no Asilo Cerratto.

Enfim, poderiam ser aqui elencados uma lista de fatos aos quais Marello se interessava.

Mas uma das coisas mais importantes que aconteceu se deu no ano de 1872, quando ele tenta criar a Companhia de São José.

Certamente, para tentar criar a Companhia de São José, que deveria ser um grupo de leigos dispostos a servir a Igreja nas suas diversas necessidades, principalmente o de dar catecismo, ajudar no decoro das igrejas, trabalhar nas funções litúrgicas, Marello procurou conhecer bem as diversas experiências que estavam ocorrendo na Itália. Na verdade, as experiências de associações já não eram um fato novo na Itália e nem mesmo na Europa. Dalmaso (1997, 548) escreve:

A principal associação de apostolado laical que se afirmou na Itália naqueles anos foi a ‘Sociedade da Juventude Católica Italiana’, que teve como fundador Mario Fani e Giovanni Acquiderni em Bologna. Depois dessa se agregaram pouco a pouco as outras associações, que surgiam em várias cidades dos quais merecem ser lembrados a ‘União Católica para a promoção das boas obras na Itália’, em Florença, em 1870, a “companhia primária romana para os interesses católicos”, em Roma, em 1871, o ‘Círculo Beato Sebastião Valfrè da juventude católica’, em Turim em 1871.

Logo em seguida, Dalmaso (1997, 549) escreve a respeito das associações dos operários, que surgiram na Europa e, posteriormente, na Itália, principalmente na cidade de Turim:

Olhando, porém, a organização católica, em Turim, é possível notar logo um outro tipo de associacinonismo católica, que estava se desenvolvendo nesta cidade, mas que cresceu e amadureceu primeiro na Alemanha, Áustria, Bélgica, França, Inglaterra, durante o pontificado de Pio IX; (essa experiência) teve sua primeira assensão internacional no grande Congresso de Malines de 1863, e chegou a Turim pelas obras de personagens ilustres, tais como: São Leonardo Murialdo, o Beato Faa di Bruno, etc. Em Turim, porém, entre todas as cidades da Itália, era a que tinha os maiores problemas sociais devido à industrialização, e já se contava na década de 1870, com cerca de 1200 sociedades operárias, com as mais variadas tendências políticas e sociais, que em grande parte eram anti-clericais.

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Dentro desse contexto, que os bispos do Piemonte1 tinham uma enorme preocupação pelo grande número de associações operárias e, na sua maioria anticlericais, que aos poucos estavam se desenvolvendo em Turim e, por consequência, poderiam aos poucos irem se espalhando para as outras cidades da região. Talvez como forma de uma reação da Igreja a esses grupos, nota-se, a partir do ano de 1871, após o Congresso Eucarístico dos Bispos do Piemonte, o surgimento em outras cidades de Associações de Operários Católicos.

Foi vivendo todo esse contexto do norte italiano, que Marello, enquanto personagem do seu tempo, procurou colocar seus dons a serviço da Igreja e, em 1872, teve como propósito a criação da Companhia de São José.

O que se sabe por intermédio do Padre Dalmaso, que Asti não era um dos lugares mais apropriados para a criação das associações católicas. Asti, por suas características ainda agrícolas, oferecia uma possibilidade na qual poderia ser desenvolvida de maneira mais efetiva as obras de caridade e piedade (cfr. Dalmaso 1997, 550-551). Foi dentro dessa cidade, com essa particularidade, que Marello tem sua primeira tentativa na criação de uma companhia. Para que seu projeto e sonhos pudessem se tornar realidade, Marello colocou suas intenções numa carta endereçada ao cônego Giovanni Battista Cerutti, além de estabelecer na mesma carta um programa espiritual e de trabalho aos novos integrantes da Companhia de São José (Cfr. Dalmaso 1997, 555-560).

Essa primeira experiência que Marello tentou não foi bem-sucedida, tanto que a Companhia de São José, nesse momento, não teve frutos concretos. Por outro lado, deu a Marello novos aprendizados e experiências que, depois, ajudaram-lhe na fundação da Congregação dos Oblatos de São José.

Esse período de 1873 e 1878 foi determinante no amadurecer do pensamento do clérigo Marello. O próprio Dalmaso (2000, 17) escreve:

A Congregação dos Oblatos de São José é certamente fruto de muitas experiências no campo social e religioso que São José Marello fez na sua juventude e, particularmente, das experiências eclesiais feitas nos primeiros anos de sacerdócio como secretário do bispo dom Carlos Sávio. Em seguida preparando-se e depois vivendo de perto os grandes acontecimentos do Concílio Vaticano I.

Foram as junções dessas experiências que deram a Marello condições de chegar em 1878 determinado a criar a Companhia de São José. Portanto, a congregação não nasce de uma ideia espontânea, mas é fruto de longos anos de amadurecimento e vontade do fundador em fazer algo novo que pudesse dar respostas aos momentos conturbados que a Igreja e sociedade da época viviam.

Enfim, chega-se ao ano de 1878 e, precisamente no dia 14 de março, tem-se início a Congregação do Oblatos de São José, primeiramente denominada Companhia de São José. A partir desse momento, surgem as grandes questões: qual é a finalidade da Congregação do Oblatos de São José? Qual seu Carisma?

1 Região situada ao norte da Itália, com 25.400 quilômetros quadrados. Tem por capital Turim. Seus limites são:

oeste com a França, a noroeste com o Valle d'Aosta, a norte com a Suíça, a leste com a Lombardia, a sudeste com a Emília-Romagna e a sul com a Ligúria.

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Um dos materiais mais importantes a serem analisados, para tentar entender e melhor responder a essas questões, trata-se da carta de fundação. Nela é possível, num primeiro momento, ter certa compreensão do pensamento de Marello sobre o que ele de fato desejava para a sua obra. Eis a carta na sua íntegra, segundo Dalmaso (1997. 647- 648):

Companhia de São José. A quem, por qualquer motivo (idade já adulta, dificuldades nos estudos...), não puder aspirar ao estado eclesiástico ou religioso e, todavia, deseja seguir mais de perto o Divino Mestre com a observância dos conselhos evangélicos, está aberta a casa de São José, onde, retirando-se com o propósito de aí permanecer, escondida e silenciosamente operoso na imitação daquele grande Modelo de vida pobre e obscura, terá condições de tornar-se verdadeiro discípulo de Jesus Cristo.

O Irmão de São José não é religioso professo, mas simples Oblato que se oferece continuamente a Deus para tender à perfeição, desapegado de todo gozo terreno corporal e espiritual.

As obrigações da Companhia de São José são traçadas pelas próprias palavras de Nosso Senhor Jesus Cristo, que disse: ‘quem não se desapegar de tudo o que possui... Quem não renunciar ao amor dos parentes e até mesmo de si próprio, não pode ser meu discípulo’.

Palavras que encerram os pontos fundamentais da vida de perfeição: pobreza, isto é renúncia aos bens da terra; castidade, isto é renúncia aos prazeres;

obediência, isto é renúncia à própria vontade.

São Bento, patriarca da vida religiosa no Ocidente, expressou essa tríplice renúncia com admirável precisão e concisão na seguinte regra: ‘O irmão não deve possuir nada de próprio; nada de tudo, não sendo absolutamente lícito guardar em seu arbítrio nem o próprio corpo e sequer a prórpia vontade (Regra de São Bento, 33).

A Casa de São José, para melhor efetuar o desapego efetivo das coisas terrenas, servir-se-á, para as suas indispensáveis relações externas, dos Irmãos Coadjutores, os quais, observando em seu respectivo estado o desapego afetivo através da pobreza de espírito, da mortificação dos sentidos e da obediência ao próprio Diretor, poderão ser verdadeiros Membros da Companhia e gozar, em troca do serviço temporal prestado aos Irmãos Oblatos, da participação de todos o seus bens espirituais.

Procurando fazer algumas observações sobre a carta fundacional, pode-se notar que ela retoma aquela primeira inspiração do ano de 1872. Damaso (2000, 20) faz uma análise muito mais profunda a respeito da primeira regra, ou seja, aquela de 1872:

Naquele tempo, era vivo nele a preocupação para com os males que via e que se propagavam no mundo, particularmente pelos abusos contínuos do governo italiano para com a conquista de Roma e que continuavam com as ofensas à Igreja e contra a pessoa do Papa.

E ainda:

A situação do mundo era uma preocupação constante para o jovem Marello, tanto que quando estava em Turim, sonhava em construir um novo sistema de economia social. Este sonho continuou mesmo durante o primeiro ano de

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Teologia, mas com um novo ponto de vista, colocando Deus em primeiro lugar e deixando-se guiar pelos princípios da fé e da caridade cristã. Ele mesmo escreveu em uma carta: ‘o estudo é sobre o fim e eu não posso dizer outra coisa’. E de verdade, não disse mais nada, mas orientou-se sempre mais para os grandes ideais sacerdotais.

Foi conjulgando a formação, a experiência de vida, o trabalho e a visão de mundo que Marello procurou criar uma nova Congragação. Portanto, nas regras da carta fundacional, o que se encontra nada mais é do que a proposta de uma congregação que deveria ter uma causa, ou seja, que seguisse os propósitos evangélicos e que fosse guiada pela Providência Divina. Na verdade, a carta fundacional coloca de maneira bastante evidente que, em primeiro lugar, deve aparecer Cristo e seus interesses. Dalmaso (2000, 28) sugere que o “primeiro motivo para o qual o São José Marello fundou a Congregação é de ordem teológica e, precisamente, a experiência e o amor de Deus experimentado pelo fundador e, como resposta a consagração a Ele (Deus)”. Portanto, logo no início da carta a preocupação do Fundador era para que os Oblatos vivessem o exemplo de Cristo. E as formas para melhor viver esse exemplo era por meio dos votos de pobreza, castidade e obediência que aparecem tão bem descritos na própria carta.

Por outro lado, para alcançar o estado de perfeição e viver tendo o Cristo em primeiro lugar, os Oblatos deveriam seguir como exemplo São José. As próprias palavras do fundador na carta de fundação assim exprimem: “está aberta a casa de São José, onde, retirando-se com o propósito de aí permanecer, escondida e silenciosamente operoso na imitação daquele grande Modelo de vida pobre e obscura, terá condições de tornar-se verdadeiro discípulo de Jesus Cristo”. Dalmaso (2000, 29) melhor explica essa intensão de Marello:

Este plano contém as regras práticas para o seguimento de Cristo, isto é: o lugar (a casa de São José), o modelo (São José em sua vida pobre e obscura), e as virtudes a serem praticadas (retirando-se com a intenção de ficar lá escondido e silenciosamente operoso). As referências evangélicas para essas tarefas estão nas narrativas da infância de Jesus, onde a figura de São José tem uma importância especial como o marido "da Mãe de Deus e guarda do Redentor.

Agora surge então a grande questão: qual é o carisma dos Oblatos de São José?

Para entender melhor o significado do termo carisma, o texto escrito pelo Padre Ciríaco Bandinu, e apresentado durante a palestra do Revitalizar Nossa Vida Consagrada de 2009, assim o define:

O Carisma é um dom específico que o Espírito Santo, num determinado contexto histórico, dá a uma pessoa, para que esta pessoa, com uma espiritualidade e uma missão clara, comece uma experiência de fé que seja de algum modo útil para vida da Igreja e da sociedade, a fim de que a mensagem cristã, o mistério da vida do Verbo Encarnado, possa ser vivida na sua totalidade ou num determinado aspecto.

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Descrevendo de maneira bastante clara qual era o desejo de Marello, o Padre João Batista Cortona (23-24), afirma: “que o Marello teve bem clara, desde o início, a ideia acerca da finalidade principal da Congregação – honrar São José, imitando suas virtudes e procurando ter um estilio de vida pobre, humilde e escondida, como o Grande Patriarca – mas que ele não teve logo do Senhor uma clara manifestação em quais determinados ministérios deviam ocupar-se os seus filhos”. Parece que, no entender do Padre Cortona, o ministério apostólico da Congregação foi se dando com o passar do tempo. Pasetti (2010, 84), analisando a carta fundacional, escreve:

Como se vê, (a carta fundacional) não contém linhas externas de apostolado.

Sabemos, todavia que, desde o início, aqueles primeiros modestos lavradores e operários que o Marello recolheu ao redor de si, dedicaram-se ao estudo do catecismo, ao mesmo Catecismo, e ao serviço do culto nas Igrejas, além dos trabalhos internos do Instituto que os hospedava.

Já Dalmaso, fazendo análises a respeito do mesmo tema, procura nos escritos e testemunhos dos primeiros Oblatos aquelas que seriam as primeiras finalidades da Congregação. Assim, citando o Pe. Felipe Berzano, Dalmaso (2010, 49) escreve: “ele desde o começo queria que seus filhos espirituais, imitando São José, se dedicassem aos ministérios mais humildes, como os trabalhos manuais, educação da juventude, assistência aos jovens operários nas fábricas, aulas de religião, catequese aos meninos, ajuda aos párocos, sacristães etc”.

E continua Dalmaso:

Para melhor discernir esse projeto, Dom Marello, no outono de 1878 (ou primavera de 1879) realizou uma peregrinação até Ars, no túmulo do Santo Cura João B. M. Vianney, e notou por lá, com interesse a obra dos Irmãos Belley2 (fundados por Ven. Gabriel Taborin), que o santo Cura tinha chamado ao serviço da Igreja e a dirigir o orfanato em Ars. Reitor era o irmão Atanásio, que tinha sido como que o braço direito do Santo Cura em todas as celebrações na Igreja: na liturgia, o canto e na catequese. Ora que o Santo Cura tinha falecido, irmão Atanásio ainda era uma memória vivente, e Dom Marello, ao obeservar aqueles irmãos cuidar bem da liturgia da Igreja (canto, serviço, acolhida aos peregrinos, tocar instrumentos) pensou consigo mesmo: Eis, os meus irmão os quero assim! Vejam: não disse somente colocarei o mesmo hábito (que depois era tão semelhante), mas os quero assim e por isso terão este hábito assim. Por isso tinha pensado em enviá-los dois a dois nas paróquias que fizessem pedido, como explicou nos processos o Card. Gamba:

‘jovens educados e instruídos, com a finalidade de ser ótimos sacristães, cozinheiros, catequistas, alfaiates, para que pudessem ajudar os párocos e até no lugar das pessoas de serviço... Mas esta finalidade assim concebida nunca se concretizou, a não ser no caso do Irmão Simeão (Vicente Baratta), que ficou por três anos na paróquia do Santos Apóstolos em Turim, a serviço do Cônego Arpino. Pe. Lourenço Franco assim depôs: os irmãos deviam ser de ajuda aos

2 Irmãos de Belley. Na verdade, se trata dos Irmãos da Sagrada Família, que teve como Fundador Gabriel Taborin.

Essa congregação nasceu em 1835, na cidade de Belmont, diocese de Belley (França).

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parócos como sacristães e catequistas: foi esta a primeira ideia da Congregação.

Numa outra passagem, Dalmaso (2010, 50) continua citando os primeiros Oblatos.

E agora faz uso das palavras do irmão Felipe Navone: “Eis então o primeiro marco apostólico: ‘no início falava-se do catecismo e de fato nos dias de Domingo nos esparramávamos nas várias paróquias da cidade e até na periferia para ajudar os páracos a fazer catecismo, e o nosso Pai, Dom Marello, ficava feliz pelo bem realidade’.

Um apostolado então praticado, desde o início, e em seguida continuado, foi o da catequese e o da educação da juventude”.

Por fim, para tentar colocar algo de mais concreto na sua reflexão, Dalmaso (2010, 50-51) cita as constituições dos Oblatos de São José, de 1909, com o objetivo de demonstrar como o carisma da congregação foi se desenvolvento ao longo dos tempos até chegar numa norma mais clara que pudesse ser seguida por todos. Assim ele transcreve:

A Congregação consagra toda a sua atividade nas obras do ministério sagrado, como: realizar missões, ajudar os párocos nos dias de festa e em outras ocasiões de trabalho, receber dos bispos economatos espirituais das paróquias, fazer catequese, aulas de religião, colégios, internatos, orfanatos, e também toda obra boa que as cisrcunstâncias requerem. Tudo deverá ser compatível com a regular disciplina e a vida comunitária. E acrescenta de forma explícita:

‘A congregação não aceita em caráter ordinario, paróquias’.

Olhando de forma geral, essas citações dão uma ideia de como o carisma da congregação foi se desenvolvendo. Ele não foi esboçado de maneira direta ou elencado pelo fundador, mas foi através da percepção das demandas e exigências dos tempos que Marello foi dando delineamento às finalidades do seu instituto. Ao mesmo tempo, parece que ele sempre esteve aberto às novas possibilidades e entendia essas possibilidades como vindos dos interesses da Providência Divina. Atualmente o que se tem claro é que os desejos do Marello perpassaram os tempo e chegaram aos dias de hoje. E esses desejos podem ser elencados na atualidade da seguinte forma: educação da juventude, devoção e propagação de São José, vivência da vida comunitária, trabalhos nas paróquias e missões.

3. A educação na história da Congregação

Em síntese, o que se parece é que a educação sempre fez parte da história dos Oblatos de São José. É claro que há dúvidas se esse era no início – desde a fundação da Congregação – um dos interesses de Marello, mas tudo leva a crer que mesmo sem ter pensado nessa possibilidade, aos poucos o fundador foi se abrindo aos novos caminhos que a Congregação ia delineando e, por fim, ele mesmo escreve a respeito da importância da educação como uma possível finalidade dos Oblatos. Na regra de 1892, assim Marello escreve: “os irmãos... tenham em vista a educação cristã da juventude, no modo em que Deus indicar; ou aceitando-a em casas especiais, ou preparando-se ao ofício de mestres (professores) elementares nas prefeituras ou sendo catequistas nas paróquias sob a

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orientação dos párocos”. Mas, para entender melhor esse argumento, é preciso estudar a história da Congregação e os escritos de Marello.

Para compreender a educação na história da Congregação, faz-se necessário ter consciência de uma diferenciação importante: a educação não é aquela pura e simplesmente feita nas escolas, mas também aquela que se dá no dia a dia das pessoas por meio de uma formação específica ou não. Portanto, a educação feita nas escolas se trata da educação formal, que segue normas, leis e tem organização de conteúdos para que, no final, o aluno adquira certos conhecimentos e habilidades. Já a educação que se dá no dia a dia é aquela não formal, mas que também tem a finalidade de formar o ser humano. Por exemplo, o trabalho pastoral é um tipo de educação, as atividades desenvolvidas num centro social e comunitário têm finalidade educativas, a catequese é uma forma de educar. É nesse contexto de educação que se deve entender a história dos Oblatos de São José, ou seja, formal e não formal.

Como é conhecido, a Congregação dos Oblatos de São José nasce na casa do Michelerio. Esta casa era um ambiente que acolhia e trabalhava com os órfãos e os abandonados. Portanto, foi no meio de pessoas com necessidades muito específicas – vítimas do abandono ou de algum outro problema que afetava suas vidas – e numa obra com uma finalidade bem característica, ou seja, do cuidado humano, que a congregação começou a dar seus ‘primeiros passos’.

E como viviam e o que faziam os Oblatos nesse ambiente? Para responder a essa pergunta é preciso retornar aos escritos históricos da congregação. Dalmaso (1997, 672- 679) coloca uma série de depoimentos importantes que dão uma ideia de como os Oblatos dividiam seus dias entre o trabalho e a oração.

Um dos depoimentos importantes, retirados por Dalmaso (1997, 674) de Coppo Giuseppe, é possível se ler: “testemunhei o início da congregação, estando eu entre os órfãos do Michelerio”. Portanto, os inícios dos Oblatos é num ambiente diferenciado que tem como finalidade principal a prestação de serviços às pessoas com necessidades bem determinadas. Nesse caso particular, eram órfãos e, dentre eles, haviam os adolescentes e aqueles de idade mais tenra.

Escrevendo especificamente a respeito do trabalho dos Oblatos, Dalmaso (1997, 677) cita alguns testemunhos de pessoas. Uma dessas falas é de P. B. Pozzi. Assim ele se expressa: “todo o tempo em que ficavam livres das práticas de piedade estavam empenhados no trabalho: aqueles que eram capazes costuravam como alfaiates, os outros faziam rosários”. Em seguida, aparece um novo testemunho. Este foi escrito na Gazzetta d’Asti por Dom Carlo Morra: “trabalhavam, atendiam a igreja e em pouco tempo puderam fazer a assistência nos laboratórios e nos quartos”. O Pe. Luigi Garberoglio segue a mesma linha de pensamento e assim testemunha: “os irmãos faziam a assistência aos vários departamentos e laboratórios da obra Michelerio, e trabalhavam também, como alfaiates, sapateiros e tipógrafos”. Por fim, Dalmaso (1997, 678) retoma o pensamento de Coppo Giuseppe que assim se expressa: “tinham um horário especial para ir à igreja, comiam e dormiam separados, tomando, porém do alimento da cozinha comum; todavia continuavam trabalhando conosco, órfãos”.

Analisando esses testemunhos parece que a Congregação dos Oblatos de São José não teve no seu início algo ligado de maneira estrita à questão educacional. Mas quando se trata de analizar com maior profundidade o ambiente em que eles estavam inseridos e a finalidade da obra Michelerio, começa-se a notar que existia ali um princípio

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educacional, mesmo que em última instância se trate de uma educação informal. O que se sabe é que o Michelerio oferecia aos órfãos a possibilidade de aprender uma determinada profissão. Neste caso, pelos próprios testemunhos acima descritos, alguns oblatos estavam inseridos no meio dos órfãos, talvés não como professores, mas permaneciam num meio que é possível chamar de ‘espaço educativo’, pois em determinados momentos se prestava a formação de futuros profissionais. Além do mais, o que chama a atenção é que eles faziam assistência aos laboratórios. É claro que, nesse caso, não se trata de um laboratório de pesquisa ou de estudo, mas um lugar em que os órfãos desenvolviam algumas atividades específicas e os oblatos eram prestadores de seus serviços nesses ambientes. De maneira geral, parece que, de certa forma, havia sim um processo educacional, não como o entendido nos moldes da atualidade, mas é próprio da característa de uma obra e, no caso aqui tratado, de uma obra que desenvolvia um serviço social específico, oferecer algum tipo de educação e conhecimento aos seus integrantes ou internos. Aliás, é preciso levar em consideração que uma obra como esta ao desenvolver algum tipo de trabalho com crianças e adolescentes, tem como pressuposto algum tipo de educação. Não há como negar que toda promoção humana é permeada por algum processo que envolve o educar, seja ele formal ou não formal.

Por outro lado, ao aprofundar os estudos sobre o carisma da congregação, os biógrafos de Marello colocam como uma das suas primeiras preocupações a educação da juventude. Dalmaso (2000, 46) escreve:

Os Irmãos de São José deveriam servir ao altar e preocuparem-se com todas as necessidades da Igreja, verdadeiros arautos do Senhor em sua casa, e deveriam dar do seu tempo a instrução e educação da juventude, com o catecismo e do modo como Deus dispunha.

Além dos estudos feitos sobre Marello por vários estudiosos, as suas próprias cartas, principalmente aquelas dirigidas aos Oblatos, o tema da instrução, formação ou educação da juventude sempre se torna presente. O próprio fundador (Marello), ao pedir aos primeiros participantes da congregação que se mantivessem com uma vida de espiritualidade profunda, também enfatiza qual o trabalho a que eles deveriam desenvolver. Uma das prerrogativas a ser levada em conta é que, logo em seguida à fundação e com a ordenação dos primeiros padres, o trabalho da educação da juventude se tornou mais intenso. Dalmaso (2010, 86) assim escreve:

No ano de 1883 o Cônego João Batista Bertagna, Vigário Geral, e depois bispo ausiliar do Cardeal Alimonda em Turim, com o Cônego Marello e o Pe. João Sardi, depois bispo de Pinerolo, e outros benfeitores, pensaram de resgatar a grande construção de S. Chiara, que, pela supressão da Clarissas, tinha caído em mãos de leigos, com a finalidade de implantar aí algumas obras religiosas.

Então os Oblatos de S. José foram transferidos para S. Chiara, para manter aberta a Igreja, educar e instruir alguns jovens num pequeno colégio por lá fundado e destinado a ser filial do Seminário Diocesano, e também para ter a Administração e a Direção de todas as obras aí instaladas.

Com isso, para os Oblatos de S. José abriu-se um campo para exercitar seu zelo, aquele da educação da juventude, sobretudo daqueles que tinham o pendor para o estado eclesiástico e religioso.

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Os sacerdotes que não trabalhavam nas escolas ou na casa, dedicavam-se também à pregação na quaresma e nas sagradas missões, nas novenas, semanas especiais, Santas ‘Quarantone’ etc. e a ajuda aos párocos, também ao longo da semana, nas ocasiões de maior trabalho.

É importante analisar aqui que quando se fala de educação tem que se levar em conta algumas questões. Parece que, de maneira geral, esse processo educacional era voltado para a formação daqueles que estavam dispostos a entrarem para a vida religiosa ou até mesmo seguirem seus estudos até chegarem ao sacerdócio. Isso aparece com clareza quando o autor escreve que a grande finalidade dessa escola era ser filial do seminário diocesano e atentar para a educação daqueles que tinham um interesse em seguir a vida a fim de se tornarem padres ou religiosos. Dessa forma, tem-se a impressão que a escola em si não foi um dos planos imediatos, mas ela foi entrando aos poucos na vida e no trabalho dos primeiros Oblatos, ou melhor, foi como que uma conseqüência por ser a formação da juventude algo próprio do carisma da congregação. E para melhor compreender como a escola passou a fazer parte da vida da congregação, é importante ler o artigo do Padre José Antonio Bertolin, entitulado de Breve Panorâmica das Escolas Oblatas.

Em uma última análise, verifica-se claramente que o carisma da congregação tem suas raízes alicerçadas nas vontades e nos ensinamentos deixados pelo fundador. Os primeiros Oblatos, bem como aqueles que vieram depois, sempre se preocuparam em manter viva a ideia originária e originante de Marello. Mas com o passar dos anos e o crescimento da congregação, nota-se que o carisma foi assumindo as exigências dos tempos, pois, aos poucos, os Oblatos foram chamados a desempenharem seus trabalhos em diversos lugares, com culturas e características diferentes. Escrevendo sobre o desenvolvimento das obras e fidelidade ao carisma, Dalmaso (1997, 2259) comenta:

Agora não há dúvida de que este caminho continuou e continua até hoje, fazendo o seu próprio apostolado como fez São José em união com Deus, na humildade, no escondimento, na laboriosidade, dedicação aos interesses de Jesus. Em especial (os Oblatos) se dedicam a educação moral e religiosa da juventude nas várias atividades sugeridas pelos tempos e lugares; ao ministério em paróquias e missões em apoio do clero diocesano; a difusão da devoção a São José.

E o próprio Dalmaso (1997, 2259) comenta a respeito dessa afirmação acima:

Emerge claramente a origem que constantemente (ou seja, as regras de 1892 para a atual Constituição) é dado ao cuidado da juventude, assim pode-se concluir que este foi e continua sendo o principal apostolado dos Oblatos de São José.

Uma importante anotação era de promover ‘a educação cristã da juventude no modo em que Deus dispor’ e segundo ‘o tempo e lugar’ em que se encontrar.

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Seguindo a mesma linha de pensamento, demonstrando como o carisma foi se dando com o passar do tempo, mas sem perder sua originalidade, Dalmaso (1997, 2259- 2260) escreve:

Então aconteceu que o primeiro general, comemorado em Asti 25-30 julho de 1921, com a presença de quase todos os anciãos da congregação – Pe.

Cortona, Pe Carandino, Pe. Garberoglio, Pe. Bianco entre os mais populares – e entre outras coisas foi especificado sobre o carisma apostólico assim: os Oblatos de São José atenderão à educação e instrução religiosa da juventude;

as missões estrangeiras, a assitência dos emigrantes (...). ao aceitar os oratórios se dará preferência àqueles em que foram oferecidas as paróquias.

Nos oratórios se dará ao nosso trabalho uma entonação que vincule os jovens a nossa congregação.

Por fim, três artigos da atual constituição dão uma ideia final de como o carisma chegou a nossos dias sempre ligado àquela primeira inspiração e depois às próprias vontades do fundador. No artigo 60 assim se lê: no quadro das atividades apostólicas, para os Oblatos de São José um setor privilegiado é o da educação cristã dos jovens. Se é um dever de todos interessar-se pelos jovens, para os Oblatos é uma exigência de fidelidade ao espírito do fundador. Já no artigo 66 está escrito: “na obra educativa, tem lugar preeminente a instrução catequética transmitida com competência. E o artigo 67 trata especificamente das escolas: “a escola entre nas finalidades da Congregação, que deve incrementá-la cada vez mais”.

4. Considerações finais

Ao falar ou escrever sobre educação, quase sempre o pensamento se volta ao ambiente escolar, pois este é visto como lugar por excelência para que ocorra o processo educativo. Por outro lado, tem que se ter consciência de que grande parte do tempo as pessoas passam fora da escola e, mesmo assim, a educação acontece. Por isso, que pensar na importância da educação no carisma dos Oblatos de São José se torna muito oportuno.

Partindo desse prossuposto e, ao analisar um pouco melhor a questão da educação e carisma dos Oblatos de São José, o que se pode concluir é que cada Oblato tem como missão a educação. Em todos os lugares, em que atua um Oblato, o processo educacional deve acontecer, pois ele estando na igreja, num grupo, numa comunidade, ou na escola, terá que entender que uma de suas funções é promover o desenvolvimento das capacidades físicas, intelectuais ou morais do povo ou daqueles que o acompanham.

Talves todos esses aspectos Marello não tenha deixado escrito, mas a força do carisma e o tempo em que cada religioso Oblato entenda se vive, exige que toda sua função seja permeada pelo processo educativo.

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Referências

CONGREGAÇÃO DOS OBLATOS DE SÃO JOSÉ. Constituições dos Oblatos de São José.

Cúria Geral. Roma, 1987.

DALMASO, Severino. Biografia del Beato Giusippe Marello fondatore degli Oblati de San Giuseppe e vescovo di Acqui. Volume Primo. Roma: Libreria Editrice Vaticana, 1997.

_________, Severino. Biografia del Beato Giusippe Marello fondatore degli Oblati de San Giuseppe e vescovo di Acqui. Volume secondo. Roma: Libreria Editrice Vaticana, 1997.

_________, Severino. Biografia del Beato Giusippe Marello fondatore degli Oblati de San Giuseppe e vescovo di Acqui. Volume terzo. Roma: Libreria Editrice Vaticana, 1997.

_________, Severino. Storia della Congregazione Degli Oblati di San Giuseppe 1878 – 1895. In:

Marellianum, Anno IX, n° 33-34. Roma, 2000.

_________, Severino. Verso una teologia del carisma giuseppino marelliano? In: Marellianun, Anno XIV, n°58, Roma, 2006.

_________, Severino. As Origens da Congregação dos Oblatos de São José (III). Trad. Mario Guizoni. In: Estudos Marellianos. 2ª ed. Curitiba: 2010.

PASETTI, Mario. O apostolado dos Oblatos de São José no pensamento do fundador São José Marello. Trad. Mário Guinzoni. In: Estudos Marellianos. 2ª ed. Curitiba: 2010.

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A EDUCAÇÃO HAURIDA NA PESSOA DE SÃO JOSÉ

Pe. José Antonio Bertolin, osj

Para se abordar qualquer aspecto da pessoa e da missão de São José é preciso buscar os referenciais que dizem respeito a ele na Teologia e, de maneira especial, na josefologia, a qual abre a perspectiva para contemplar o guarda do Redentor como um grande e especial educador, visto que ele recebeu a incumbência de Deus Pai para educar o Filho unigênito que veio a esse mundo, na plenitude dos tempos (Gal 4,4), assumindo toda a realidade humana (Fl 27-8).

Para isso, é preciso considerar que Deus quis José como educador de seu Filho que, ao vir a esse mundo, foi acolhido dentro de uma família humana e viveu a sua plenitude humana nela. O Filho de Deus, ao se tornar homem, nascendo de Maria de Nazaré, quis ser educado e criado na família de Nazaré na qual José teve a incumbência de educá-lo, e embora não fossem necessários, pois Jesus tinha todas as virtudes em razão de sua natureza divina, conviver com a sua natureza humana, a vida e os exemplos desse simples carpinteiro de Nazaré serviram como plataforma indispensável para o seu crescimento e desenvolvimento humano.

Para que um ser humano possa ter um crescimento saudável, este precisa receber e confrontar a sua vida com exemplos que lhe provenham, particularmente, do âmbito familiar, ou seja, de seus pais, e para Jesus criança, adolescente, jovem e mesmo adulto não foi difícil encontrar dentro de seu ambiente familiar esses valores que foram intensificados no dia a dia, na convivência com José, dentro de sua família e junto à carpintaria em Nazaré, onde José se tornou um modelo perfeito expresso no exemplo de vida interior manifestado na fé em Deus que professava, na confiança na divina Providência, que se expressava em suas ações assim como no modelo de caridade desinteressada e no esquecimento completo de si mesmo, na dedicação completa a sua família e na sua completa dedicação aos interesses de seu filho.

José foi, precisamente, um modelo especial para a educação de Jesus, acompanhando-o em seu caminho de desenvolvimento neste mundo que, no dizer de Lucas, implicava no seu crescimento em idade, sabedoria e graça (Lc 2, 52). José criou-o para que não lhe faltasse o necessário ao seu desenvolvimento físico e psicológico, basta que lembremos o seu empenho em salvar a vida ameaçada do menino diante das perseguições de Herodes, procurando um refúgio no Egito, onde, com as dificuldades de um imigrante, buscará um trabalho e se ambientará na realidade estrangeira para possibilitar que o Filho de Deus, sob seus cuidados, crescesse encontrando segurança e o desenvolvimento harmônico de sua personalidade.

Voltando à pátria, depois do exílio, José viverá o resto de sua vida, na pacata Nazaré, trabalhando como carpinteiro e educando Jesus, inclusive, ensinando-lhe a arte da carpintaria. Jesus crescia em sabedoria na convivência com José e neste particular ele será um verdadeiro pai-professor, ensinando-o a conhecer e a escutar as Sagradas Escrituras que eram tão relevantes na vida de um judeu. Para isso, ele o conduzia todos

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os sábados à Sinagoga de Nazaré para escutar a Palavra e para que se instruísse nos valores de seu povo. Nesse sentido, José foi um verdadeiro mestre de sabedoria para o pequeno Jesus.

Também na dimensão da graça, Jesus cresceu na convivência de vida com São José conforme nos relata Lucas. E por que então José não deveria ser um instrumento pedagógico no crescimento da graça na vida de Jesus? Seria incoerente para um cristão pensar que os pais não podem e devem ajudar os seus filhos no crescimento da graça de Deus e, ciente disso, José cumpriu tão bem essa responsabilidade que o Papa Paulo VI dirá dele: “São José é o tipo do evangelho que Jesus anunciará como programa para a redenção da humanidade. É o modelo dos humildes que o cristianismo eleva a grandes destinos e é a prova de que para ser bons e autênticos seguidores de Cristo não são necessárias grandes coisas, mas bastam virtudes comuns, humanas e simples, contanto que verdadeiras e autênticas”13

Um dos princípios básicos que um pai deve considerar na formação de seus filhos é o exemplo de sua vida, pois os filhos tomam os pais como seus modelos e procuram imitar seus comportamentos. Nesse sentido, quantos não deverão ter sido os exemplos que São José deu a Jesus! Exemplos de amor, de dedicação, de carinho, de generosidade, de fé, de sabedoria, de honestidade, de laboriosidade, em suma, exemplos edificantes que não passaram despercebidos no cotidiano da vida de Jesus dentro do ambiente de sua família em Nazaré.

Sabemos que toda a vivência de Jesus antes de iniciar seu ministério público como o Messias ele a viveu na pacata Nazaré, no ambiente familiar, restrito a convivência com sua mãe, com José e com alguns parentes conforme era a característica daquele tempo, sobretudo num lugar pequeno, naquele povoado esquecido da Galileia. Embora quase todos se conhecessem naquele ambiente, pensa-se que José, sendo carpinteiro, pudesse ter ido trabalhar em Séforis, cidade construída por Herodes e muito próxima de Nazaré.

Esse ambiente diferente de Nazaré, que José possa ter buscado por razões do exercício de sua profissão, ainda que por pouco tempo, no pensamento de alguns escritores foi ampliado também com a presença do próprio Jesus que o acompanhou no trabalho, proporcionando-lhe ainda mais a convivência contínua com José; aliás, o exercício de sua profissão e o ambiente vivido na oficina de Nazaré, onde trabalhava ganhando o sustento para sua família e ensinando a profissão de carpinteiro a Jesus, fez com que José não fosse impedido de ter um contato diário e contínuo com seu filho, a quem educava e tanto amava.

É prazeroso contemplar uma iconografia Josefina, na qual constatamos Jesus manejando as ferramentas da carpintaria de seu pai, cortando a madeira, ajudando-o a trabalhar um pedaço de tábua ou, apenas, olhando-o atentamente quase que para dizer-lhe que estava entendendo o procedimento da arte da carpintaria e que a apreciava. É bonito analisar com atenção uma pintura expressando o carinho paternal de José, carregando seu filho ao colo ou nos ombros, brincado com ele numa planície, abraçando-o e beijando-o com carinho ou diante de uma mesa sob a luz de uma lamparina lendo junto com ele o livro sagrado ou ainda conversando com ele, em companhia de sua esposa Maria. Isso mostra uma educação que valoriza o seu filho, fazendo com que ele sinta o seu amor e carinho, a sua presença paterna, que se torna gratificada, e harmonizando sempre mais a sua personalidade.

1 Paolo VI, Allocuzione de 19 marzo 1966, in Insegnamenti di Paolo VI, Vol 4).

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Outro particular que devemos considerar na tarefa educativa de José é que ele não era um casto velhinho de barbas brancas, sempre com o lírio florido na mão e que o menino Jesus, em sua companhia, não era um anjinho descido do céu que fazia milagres (como descrevem os apócrifos) e Maria, simplesmente, restrita no âmbito da família, sempre fechada dentro de casa, centrada em seus afazeres ou, então, meditando. Essa realidade não condiz com a família de Jesus e nem espelha a função de São José em relação a sua função de pai educador, pois o Filho de Deus se inseriu numa família comum de seu tempo, formada a partir do amor conjugal de dois jovens que tinham um projeto de vida e que buscavam a realização de suas vidas na obediência fiel à vontade de Deus. Eles formavam uma família piedosa, empenhada na observância dos costumes de seu povo, como aquela que prescrevia a Torá e que tornava todo israelita obrigado a apresentar-se no templo, por ocasião das três grandes festas judaicas: Páscoa, festa das Semanas e festa das Tendas (Ex 23,17; 34,23s; Dt 16,16s). Por isso, a consciência que José tinha como educador de Jesus era ancorada na sua missão consciente de esposo e de pai responsável, o que o coloca como exemplo de pai educador.

É importante, como ensina Içami Tiba, que os pais saibam que a educação de seus filhos passa pela fase do amor dadivoso, depois para o amor que ensina, em seguida, para o amor que exige e, por fim, para o amor que se aplica as consequências. Caminho educativo nada mais atual e que pode ser aplicado tranquilamente na atuação educativa de José para com Jesus. Quanto amor não devia ele dedicar, em companhia de sua esposa Maria, ao menino Jesus; amor que se traduzia em gestos concretos e que os evangelhos realçam com lucidez nas poucas, mas importantes, informações que dão sobre esse educador do Filho de Deus.

Um amor dadivoso que se manifestou desde o momento que teve conhecimento de que sua esposa estava grávida de um filho que ele não tinha gerado, mas que Deus lhe dera como seu guarda e protetor. Um amor dadivoso que se traduziu nas preocupações com sua esposa e o menino que devia nascer em Belém, depois de uma longa caminhada até a cidade de Davi para o recenseamento exigido pelas autoridades romanas e que daria a ele a condição de ratificar sua descendência davídica, podendo assim transmiti-la ao Messias nascido em sua casa. Como foi importante esse comportamento de José educador, pois, como nos ensina a moderna Psicologia, o pai influencia na vida da criança que vai nascer ainda quando ela está no seio de sua mãe. O amor dadivoso de José por Jesus se exprimiu já naquelas condições, de maneira que o menino, ainda sem ver a luz desse mundo, já se sentia profundamente amado e, portanto, educado não apenas por sua mãe Maria, mas também por José.

O exercício educacional de José como pai de Jesus continuará quando ele, fiel judeu, o apresentará ao templo de Jerusalém e pagará por ele o resgate conforme prescrevia a lei. Nesse gesto, ele manifestará seu amor pelo menino assumindo sua responsabilidade como homem temente a Deus, no cumprimento de suas obrigações religiosas, coisa que todo pai deve ter em consideração no exercício educativo de seus filhos. A religião, a fé em Deus e o fiel cumprimento dos deveres religiosos não se colocam como um fator opcional frente as responsabilidades de pai e educador, mesmo que certas teorias modernas possam ensinar ao contrário. Será José que buscará um möel, uma pessoa autorizada para circuncidar um menino judeu, e com esse rito tornará Jesus ligado como membro do seu povo; dessa forma o amor pelo menino não se manifestará apenas no gesto de inscrevê-lo nos registros do império romano, sendo reconhecido como

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cidadão judeu da colônia sob a autoridade de Roma, mas também se exprimirá na plataforma de sua fé de judeu reverente às leis de seu Deus e, assim, dará ao Messias feito homem sua identidade religiosa e de judeu.

O amor por Jesus fortificará ainda mais a sua responsabilidade de educador quando, não temendo o cansaço e nem tendo receio do desconhecido, se disporá empreender, na calada da madrugada, a fuga para o Egito, a fim de salvar a vida de seu filho das perseguições de Herodes. Nesta sua atitude, não vemos apenas o amor concretizado, mas também a manifestação do seu ser educador pelo menino, pois, desse gesto, Jesus perceberá o quanto foi considerado pelo seu pai carpinteiro que deixará por causa dele o próprio país, a profissão, os parentes e amigos, não temendo enfrentar as agruras de um país estrangeiro, pois quem ama educa com gestos, educa com expressões concretas de sacrifício, de oblação. Quem ama educa não mediando o cansaço, os incômodos, os sacrifícios decorrentes de suas atitudes pelo filho.

Não será relativo o testemunho que José demonstrará a Jesus servindo como um componente carregado de significado quando, na terra estrangeira do Egito, deverá trabalhar e buscar a convivência com a língua e os costumes estrangeiros e ainda por cima pagãos. Jesus criança terá diante de seus olhos o dia a dia de seu pai, quem sabe, preocupado com o trabalho ou com expressões de saudades do seu povo, do seu país, da sua oficina em Nazaré, etc., mas, certamente, pode contemplar em seus olhos o seu amor por ele, a sua preocupação em mantê-lo ligado às suas tradições religiosas, não se esquecendo de rezar com ele e sua esposa, de lembrar-lhe a história de seu povo e da fidelidade do seu Deus Javé, mesmo estando em ambiente pagão.

O percurso educativo de Jesus feito por José será mais cristalizado na segunda fase da infância de Jesus, quando ele, ao voltar do Egito, passará a viver até aos seus trinta anos em Nazaré. O evangelista Mateus relata que José dirigiu-se para Nazaré, “José partiu para a região da Galileia, e foi morar numa cidade chamada Nazaré (Mt 2,23).

Em Nazaré, Jesus, a partir dessa etapa, terá uma maior consciência da tarefa educadora de José sobre ele. Se até esse ponto José tinha cumprido sua função como pai educador, por causa da consciência que tinha de sua responsabilidade como um homem temente a Deus, a partir dali ele a desempenhará também como companheiro e amigo de seu filho. Jesus crescia e se desenvolvia, sendo conhecido como o filho do carpinteiro, ou seja, ele ia se colocando dentro da sociedade com um referencial que o identificava entre os colegas nos quarteirões de Nazaré, na Sinagoga, na convivência com os adultos, na escola rabínica, na aprendizagem com os mestres, na sua família, com sua presença divina e misteriosa, ao lado de sua mãe Maria e na oficina de Nazaré, no empenho da aprendizagem de uma profissão o que, simultaneamente, implicava na ajuda ao seu pai no trabalho desempenhado na oficina.

Será relevante a atuação educativa de José para com Jesus, sobretudo em duas situações bem concretas de sua idade, já como adolescente e na busca de sua maioridade dentro da sociedade judaica. A primeira será a introdução de Jesus no conhecimento de sua identidade judaica, na qual se tornava o discípulo para aprender. É claro que Jesus deve ter frequentado a escola sinagogal de Nazaré, onde tinha seus professores, mas não podemos nos esquecer que, na sociedade judaica, o pai tinha uma tarefa primordial na educação do filho também como suporte para o bom aproveitamento dessa fase escolar, realidade essa sempre necessária para todas as crianças de todos os tempos diante do aprendizado. É bonito contemplar a arte iconográfica que representa o Filho de Deus

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feito homem sendo ensinado por José, tendo diante de si um livro iluminado por uma candela dentro da humilde casa de Nazaré. José era humilde, pobre e simples, mas não ignorante, pois sabia muito bem a língua aramaica, assim como conhecia o hebraico, com o qual entrava em contato com as Sagradas Escrituras e podia se comunicar, quando necessário, com as pessoas para fechar uma compra de madeira ou para tratar um serviço seu fora de Nazaré.

De posse de cultura necessária para a comunicação e para o próprio enriquecimento pessoal, José passava a Jesus os acontecimentos da história de seu povo e deve ter lhe ensinado a proveniência de sua raiz como descendente do rei Davi, deve ter lhe falado da expectativa de seu povo quanto a vinda do Messias prometido por Javé e como protagonista também ele desse evento, deve ter sentido o seu coração palpitar quando contemplava aquela criança que sabia não ser seu filho biológico, mas que recolhia em si todo o mistério de sua divindade anunciada pelo embaixador de Deus a ele e à sua esposa. Sua tarefa educativa atingia aqui o ponto mais alto de importância e de grandeza, pois bem sabia ele que estava educando o Filho de Deus, o Messias Salvador da humanidade. Como podemos compreender os sentimentos de José diante de tudo isso?

Daqui, por que não ter em consideração que uma educação haurida da pessoa de São José é luz para iluminar todas as facetas que precisam ser contempladas no exercício de uma educação equilibrada, rica e cheia de valores para nossos educandos?

A segunda situação concreta com que José se deparou no exercício da missão educativa de Jesus foi mostrar-lhe o valor e a importância do trabalho para o ser humano e isso ele o fará na sua carpintaria, mas também fora dela, ou seja, na pequena Nazaré e nos arredores. Se como era normal, na cultura judaica, que os filhos, geralmente, seguissem a profissão do pai, então José ensinará a profissão de carpinteiro a Jesus. Uma profissão que equivalia ao exercício de várias profissões do nosso tempo. Por isso, ele ensinará a Jesus não apenas a manejar o serrote, o martelo, a plaina, mas também a maneira de como cortar uma árvore com o machado, o jeito de fabricar um arado para o trabalho do lavrador, como deixar uma canga com o tamanho necessário para o pastor segurar suas ovelhas num cercado ou como levantar com segurança um muro de pedra ou as paredes alinhadas de uma casa. Certamente esse período de exercício do trabalho será o mais longo de convivência entre eles.

O cerne da educação que os pais devem proporcionar aos filhos torna-se um dever fundamental em que eles se responsabilizam, num sentido mais amplo, pelo crescimento do educando, que vai além daquele biológico ou do sustento material, pois o verdadeiro pai educador é aquele que está próximo ao filho e que, de forma marcante, colabora para o seu crescimento na construção de sua personalidade, moldando sua realidade afetiva, ética, religiosa e cultural, e isso só é possível com a presença efetiva na vida do filho, sendo muito mais presença com o exemplo do que com palavras. É bem verdade o que se afirma a respeito de uma boa educação, em que a pedagogia do “faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço” é muito frágil e incongruente no processo de formação do caráter de um educando.

Uma das razões pelas quais as personagens da história universal são lembrados na história, nos livros, nos museus e praças públicas, e recebem monumentos erguidos em memória deles, é que seus feitos, alguns heroicos e outros imbuídos de inteligência ou determinação, são referenciais para um país, para a sociedade e até mesmo para a história. Da mesma maneira, a Igreja sempre abrigou debaixo de seus ensinamentos a

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