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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Força-Tarefa Brumadinho

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS Fo rça-Tare fa Bru ma d inho

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA 6ª VARA DA FAZENDA PÚBLICA ESTADUAL E AUTARQUIAS DA COMARCA DE BELO HORIZONTE

Autos n° 5000053-16.2019.8.13.0090

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS, através de seus Membros que esta subscrevem, no exercício de suas atribuições constitucionais e legais, vem, perante Vossa Excelência, expor e ao final requerer o que segue.

I INTRÓITO

Diante da omissão da Vale S.A. em atender determinação

judicial exarada nos autos nº 5000053-16.2019.8.13.0090, cuja competência para

processar e julgar o feito foi declinada a esse juízo por restar configurada a conexão

entre as ações 5000053-16.2019.8.13.0090 e 5026408-67.2019.8.13.0024, esta petição tem

como

causa petendi

o fornecimento de água para o consumo humano e atividades

produtivas em quantidade e qualidade adequada aos atingidos pelo rompimento das

barragens da Mina Córrego do Feijão em Brumadinho, nos termos da decisão de ID

ID 70610802.

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Cumpre assinalar que, ao serem analisados os pedidos formulados em caráter de tutela de urgência na ação 5000053-16.2019.8.13.0090, a Ilustre magistrada assim decidiu (ID 70610802):

(...) a documentação acostada pelo Parquet indica que, de fato, parte dos atingidos está desprovida de água, inclusive potável, em razão da contaminação do Rio Paraopeba pela lama de rejeitos, restando, assim, comprometida a dignidade da pessoa humana. Configurado, portanto, o fumus boni iuris. No que se refere ao periculum in mora, é manifesto, diante da evidente necessidade do ser humano de água para a sobrevivência.

Assim, preenchidos os requisitos legais, DETERMINO à Requerida que:

forneça, no prazo de 24 horas, água potável para consumo humano, em quantidade e qualidade adequadas, às pessoas atingidas que a ela solicitarem, coletiva ou individualmente;

forneça, no prazo de 5 dias, água para atividades produtivas em qualidade adequada e em quantidade suficiente às necessidades apresentadas pelas pessoas atingidas que a ela solicitarem, coletiva ou individualmente;

realize, no prazo de 5 dias úteis, a instalação das caixas d’água já entregues (e que, porventura, não tenham sido ainda instaladas), às pessoas e famílias que ficaram impedidas de ter acesso à água em razão do desastre;

(...)

Em que pese a clareza insofismável da decisão alhures, o

descumprimento da determinação judicial é patente, o que exige intervenção desse

juízo.

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II DO DESCUMPRIMENTO DA DECISÃO JUDICIAL

A decisão acima transcrita foi exarada no dia 31/05/2019, e, desde então, seja através de reuniões com os atingidos, por email ou telefone, o Ministério Público tem recebido inúmeras reclamações associadas ao não fornecimento de água potável pela Vale S.A., bem como os impactos dessa omissão reiterada.

II.1 Memórias de reuniões da Força-Tarefa Brumadinho

Periodicamente, a Força-Tarefa Brumadinho se reúne com representantes da Vale e dos atingidos para discutir encaminhamentos e providências a serem adotados em defesa aos direitos humanos fundamentais das vítimas do desastre ambiental e socioeconômico. No decorrer dessas reuniões, os atingidos trouxeram à baila o sofrimento diário causado pelo descaso da Vale no que tange ao fornecimento de água potável em quantidade e qualidades adequadas para atender às suas necessidades primárias (DOC. 1), conforme transcrito nos excertos abaixo.

Memória de reunião - 03/06/2019

a) Reuniões entre Vale e comunidades sobre o fornecimento e regularidade de entrega de água: (...) segundo informado pelos atingidos, a metragem definida pela Vale para entrega de água continuou sendo problema, vez que algumas pessoas que tem direito ao fornecimento de água ainda não foram contempladas.

(...) segundo informado pelos representantes do residencial

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Fhemig, algumas famílias desde a última quinta-feira, dia 30/05, não recebem água. No local, treze casas estariam fora dos parâmetros que a Vale estabeleceu para o fornecimento de água pela empresa, por ultrapassarem a área de 100 metros do Rio Paraopeba. (...) b) Fornecimento de água em Córrego do Feijão:

Sr. Ernando, atingido da Comunidade Córrego do Feijão, (...) Relatou que, na localidade, o problema da água se agravou na última sexta-feira, dia 31 de maio, pois não houve o fornecimento de água, por erro da empresa, e os moradores permaneceram sem água até sábado, no período da tarde.

Relatou também que a instalação de uma cancela, pela Vale, em via pública, vem dificultando a solução dos problemas de água na comunidade, pois atrás da cancela está localizado o registro de água que abastece a localidade e o acesso dos moradores a esse registro tem sido impedido. (...) Sr. Ernando relatou também que as caixas d’água são abastecidas pela Vale, havendo uma na Rua 2 que não é utilizada por não estar devidamente instalada, mesmo após solicitação dos atingidos para que fosse feito o encanamento para distribuição da água.

Anteriormente ao rompimento da barragem, a comunidade tinha dois pontos de coleta de água e atualmente conta apenas com um. (...) c) Abastecimento de água pela Copasa: Atingidos narraram que a água fornecida pela Copasa ora é leitosa, com excesso de cloro, ora apresenta coloração escura e cheiro muito ruim. (...) Os atingidos ponderaram que a água pode estar sendo contaminada no percurso até as casas, vez que está chegando nas torneiras sem condições para consumo. Reforçaram que, após o rompimento da barragem, houve nítida piora na qualidade da água fornecida pela COPASA nas localidades

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mencionadas. Representante do MAB ressaltou que tem registro de pessoas que consomem água fornecida pela Copasa em Mário Campos e nas demais localidades, e que estão apresentando quadros de diarreia, vômitos e demais problemas.

Memória de reunião - 10/06/2019

a) Fornecimento e regularidade de entrega de água potável e mineral pela Vale: (...) Na oportunidade, foi solicitado que a Vale fornecesse água para todos os moradores da região, fato que não foi aceito pela empresa. (...) Sr. José Evandro, morador do bairro Primavera, informou que há certa indisposição da Vale para resolver a questão da água. De modo que algumas pessoas que antes utilizavam água de cisterna e Copasa, deveriam receber água da Vale, mas não estão recebendo. (...) Representante de Juatuba, informou que os atingidos de Francelinos, também não receberam água fornecida pela Vale.

(...) No bairro São Conrado, em Brumadinho, conforme informado por uma moradora da cidade, uma senhora de nome Maria da Conceição (Lia), e cerca de 50 pessoas residentes na região estão completamente desamparadas e sem o fornecimento de água.

Memória de reunião - 24/06/2019

(...) Nas regiões de Imperador, Vale do Sol e Primavera informaram que a Vale não está fornecendo água mineral, alegando que os bairros não estão sendo considerados

“atingidos”. Alegam que possuem água na cisterna, mas que não está boa. A Vale alega que, previamente, foram criados

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critérios e tais bairros não estão nos mesmos. (...) O Jurídico da Vale se manifestou e alegam que apenas os atingidos devem receber água. (...) A comunidade do município de São José da Varginha, próxima a Pará de Minas também solicitou que fosse considerada atingida. Disse que animais estão morrendo e nunca receberam as análises que são feitas pela Vale acerca da qualidade da água. Solicitou à Vale a vacinação do rebanho dos produtores da região, mas não recebeu até agora a resposta. (...) O representante dos produtores de São José da Varginha apresentou o protocolo cujo número é 20190618144352650, afirmando que até agora não possui resposta da Vale acerca da demanda de vacinação.

Memória de reunião - 10/07/2019

(...) - O fornecimento de água pela Vale permanece sendo um problema, de modo que as regiões de Nazareth, Vale do Sol, Fhemig, e os demais permanecem sem o abastecimento. (...) Na FHEMIG, os animais não estão recebendo ração, nem água e os animais estão morrendo.

Memória de reunião - 29/07/2019

1) Demanda de água de responsabilidade da Vale e da Copasa - Em relação ao bairro Fhemig foi informado que o problema permanece o mesmo, algumas pessoas recebem a água de forma regular e outras famílias permanecem desabastecidas. Houve tentativa de ajuste com a Vale, por meio dos RCs, mas nada foi feito. Foi construída uma rota de entrega, mas esta não tem sido obedecida, tendo em vista que os motoristas não conhecem a região. As plantas e animais dos atingidos

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também estão morrendo em razão da falta de água. - Representantes da comunidade São Marcos I, II e Condomínio Valmir Franco, relataram que apesar de estarem fora da quilometragem previamente definida para fornecimento de água, o abastecimento da região também foi alterado vez que a água da Copasa não está boa para o consumo. (...)- Representante do Citrolândia informou também que mesmo pessoas que estão dentro dos 100m não recebem água; Algumas casas foram identificadas inclusive pelo georreferenciamento da Vale, no PRI.

Representante do bairro Primavera relatou que a região localizada acima do presídio anteriormente estava recebendo água da Vale, contudo a empresa relatou que a região possui abastecimento da Copasa e por isso cortou o fornecimento. (...)- Representante de Juatuba, Satélite e Francelinos, informou que no Satélite são quase 8 mil atingidos e que os animais estão consumindo água do Rio Paraopeba, após orientação da Vale de que a água podia ser utilizada.

A preocupação é a saúde das pessoas que passam mal diariamente e animais que estão morrendo. Ainda, relataram que água da Copasa não pode ser utilizada para regar as plantas, em razão do cloro e a água atualmente fornecida pela Copasa está suja, barrosa e com cheiro muito forte. (...)- Representante do bairro Primavera ressaltou que os pontos já foram abordados em outras reuniões, devendo ser esclarecido que todos têm direito ao recebimento de água, e não apenas os representantes das comunidades. Tendo sido verificado a diferença de postura da Vale com comissões mais incisivas, deixando prejudicado o direito dos demais. (...) Ressaltou ainda que a empresa precisa garantir os mesmos direitos que havia antes do rompimento da barragem. (...) - Agricultora do Assentamento Pastorinhas informou que a Vale não tem fornecido água para a irrigação das plantações, orientando os atingidos a buscar a indenização individual. - Representante de Imperador, em São Joaquim de Bicas, relatou que a demanda de água também é urgente, vez que a comunidade está

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adoecida. (...) Questionou qual o critério definido, vez que é considerada atingida para o recebimento do auxílio emergencial e não para o recebimento de água. Informou ainda que a advogada da Vale, Dra. Karina, narrou que a Vale não entrega água para qualquer um. A forma de tratamento da Vale junto aos atingidos também tem sido um problema, devido à falta de respeito com os que buscam seus direitos, as populações estão sendo tratadas como aproveitadores. (...)- Representante dos Pires, informou que a região também não está recebendo água para os animais. Vale informou que forneceria, mas não é feito, somente uma pessoa recebe água mineral na região. (...)- Representante do MAB informou que ao longo do Rio Paraopeba a situação de entrega de água mineral e potável é ainda pior, pois a Vale não realiza as entregas. As comunidades estão utilizando água de poços artesianos localizados a 50m do Rio. (...)- Uma das atingidas do Fhemig informou que a entrega desregular da água causa conflitos na própria comunidade, uma vez que os vizinhos passam a questionar o motivo de uns receberem e outros não.

Na última reunião do dia 29/07/2019, representantes dos atingidos entregaram ao Ministério Público listagem referente ao não fornecimento de água potável (DOC. 2). Essa situação tem alterado significativamente o modo de vida de milhares de pessoas.

II.2 Demandas do MPforms

Considerando que a pluma de rejeitos de minério provenientes

do rompimento das barragens avançou sobre o Rio Paraopeba alterando o equilíbrio

do seu ecossistema, o Ministério Público de Minas Gerais disponibilizou um número

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de telefone e o email

sosbrumadinho@mpmg.mp.br

para atender, exclusivamente, aos atingidos, cujas solicitações foram sistematizadas através do MPforms (DOC. 3), uma espécie de questionário de monitoramento de demandas .

É de se verificar que, corroborando com o que foi registrado nas memórias de reuniões, o MPForms comprova que a Vale S.A. tem mantido uma postura negligente no que diz respeito ao seu dever de fornecer água potável aos atingidos, conforme exemplifica a tabela abaixo:

Monitoramento de Demandas

Demandante Município

Data do registro/

Ofício MP - Protocolo

Problema relatado

Aline Dias

Lopes São Joaquim

de Bicas 09.07.2019/214 2019

Possuem como fonte de renda a criação de peixes, em um poço.

Porém, como estão impedidos de usar a água do rio Paraopeba, precisam molhar o poço com parte da água que é fornecida para o consumo humano, usando jatos. Essa alteração fez que a lona do poço rasgasse, e precisam molhar o poço diariamente para compensar o vazamento, e também para que os peixes tenham oxigênio. Pedem, portanto, ou que o poço seja consertado, ou que enviem mais água para o abastecimento dos peixes.

Assentamento

Queima Fogo Pompéu 04.07.2019/8 2019 Estão sem água potável. Possui bovinos que estão sem água

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também. Pediram água para a Vale, mas entregaram em uma caixa que desabou e, portanto, ficaram sem caixa e sem água.

Registraram pedidos por meio

dos protocolos

20190627115104348-0 e 20190721210322355-0 há duas semanas, mas até agora não tiveram resposta, nem solução.

Possuem uma cisterna, mas com pouca capacidade. Portanto, a água não é suficiente para o uso próprio, tampouco para os animais.

Camila Aparecida

Barbosa Brumadinho 12.07.2019/256 2019

A atingida relatou que não está recebendo água de caminhão pipa.

Comunidade Cachoeira do

Choro Curvelo 03.07.2019/sem ofício

Pode se dizer que a população em geral foi atingida, tendo em vista que a principal fonte econômica é o lazer, turismo e agropecuária. Em contato com a EMATER, a mesma nos informou que foi realizada uma força tarefa nos dias 29, 30 e 31 de janeiro, onde alguns produtores que estavam no local foram notificados para não utilizarem da água do Rio Paraopeba. Fomos informados também, pelo Sr. Carlos, Presidente da Associação, que nenhum dos habitantes faz uso desta água.

Crisipo Antônio Chaves Valadares

Júnior

Pompéu 18.07.2019/351 2019

Solicita água para dessedentação dos seus animais, incluindo para sua criação de peixes , bom como para

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irrigação de suas plantações . Acrescenta que parte da sua plantação e dois animais já morreram.

Fernanda Mercês Ribeiro

de Oliveira

Brumadinho 18.07.2019/360 2019

Solicita água mineral para consumo humano com urgência.

Solução. Apontada

Disponibilizar água mineral com urgência, para consumo humano.

Delfino Pereira

da Fonseca Pompéu 17.07.2019/357 2019

Conforme relatado, o senhor Delfino Pereira da Fonseca, (CPF 059.175.526-22), residente no município de Pompéu, ás margens do rio Paraopeba, após o rompimento da barragem de rejeitos da Vale, em Brumadinho, passou a receber água (mineral e potável).

Contudo, desde o dia 06/07/2019, a empresa interrompeu o fornecimento de água, sendo feito contato diário com o representante da Vale, Sr.

Douglas, por meio dos telefones (31) 3916 4615, (31) 3916 4616 e (31) 3916 4192. Ainda, segundo informado pelo filho do senhor Delfino, quando é feito o contato com o Sr. Douglas, este último informa que está ciente da situação e que as providências serão tomadas, sem retorno das ligações feitas ou resolução da demanda.

Ernani Curvelo 18.07.2019/355 2019

Informou que a Vale não está enviando água sem cloro para irrigar suas plantações. A água fornecida pela empresa é com

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cloro e está matando as plantas, não apenas dele, mas de vários produtores da região. Tal fato já foi passado para a empresa, a qual não tomou nenhuma providência até o momento. Por fim, ressalta que necessita de 50 mil litros de água por dia.

Estelio Luz

Pacheco Betim 12.07.2019/294 2019

Precisa de água para irrigação de plantação de grãos e leguminosas de que necessita para fazer silagem e alimento para seus animais.

Geraldina Pereira da Silva

Almeida

São José da

Varginha 08.07.2019/147 2019

No Sítio Cantinho do Céu existem cerca de 30 casas. Para terem acesso a àgua, precisam ir até local próximo a Gruta do Libério (mais ou menos 20 minutos de caminhonete) para buscarem água. Necessitam que a água seja fornecida com acessibilidade.

Hugo Cabanellas

Moura Paraopeba 08.07.2019/142 2019

Hugo Cabanellas Moura, CPF 074893776-40, residente em área rural de Paraopeba, a cerca de 1 mês solicitou da Vale o cercamento do terreno às margens do Rio Paraopeba para evitar que seus animais bebam a água do rio. Até o momento não houve resposta. Ele está recebendo água de caminhão pipa para os animais, mas tem que ficar por longo tempo aguardando até o caminhão chegar. Ele sugere que seja feito poço artesiano para melhor solução da questão.

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João Antônio Valerio

São Joaquim

de Bicas 12.07.2019/255 2019

Solicitou a instalação de uma caixa d´água de 5 mil litros para atender sua residência e a plantação. Informou que não foi atendido e que sua plantação está morrendo.

João Batista Senes

São Joaquim de Bicas

15.07.2019/302 2019 Requereu a instalação de 2 caixas de 10 mil litros para irrigar toda sua plantação, conforme protocolo nº 20190428142737619.

João Pinto São Joaquim

de Bicas 12.07.2019/255 2019

Solicitou a instalação de caixa d´água e bomba para sua irmã, bem como para seu sítio, pois precisa irrigar suas plantações (laranja, mexerica, fruta do conde, maça, limão, banana, mandioca) e sua caixa d´água de 3 mil litros é insuficiente para atender suas demandas.

Joelisia Feitosa Juatuba 02.07.2019/3 2019

Temos uma pequena lista de pessoas, atingidas, estas, estão à beira do Rio Paraopeba, criam animais para sobrevivência, e pequenas hortas. Já houve muito esforço de nossa parte, reuniões, solicitações por e-mail e whatsapp, inclusive já fomos in locu, com técnicos da Vale, e passamos por dois supervisores, antes a Poliana agora o Talles, mas os animais continuam morrendo, as hortas já acabaram. O pessoal continua sem resposta e sem solução.

Contamos com sua ajuda.

Juaracy Alves

Batista São Joaquim

de Bicas 15.07.2019/302 2019 Solicitou a instalação de uma caixa d´água de 10 mil litros

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para irrigar suas plantações de mandioca, laranja e abacate, a entrega de ração para os animais, bem como a disponibilização de água potável, conforme protocolo nº 20190428145655952.

Marcia Lourenço Santos Pereira

Pompéu 04.07.2019/8 2019

Estão sem água potável. Possui bovinos que estão sem água também. Pediram água para a VAle, mas entregaram em uma caixa que desabou e, portanto, ficaram sem caixa e sem água.

Registraram pedidos por meio

dos protocolos

20190627115104348-0 e 20190721210322355-0 há duas semanas, mas até agora não tiveram resposta, nem solução.

Possuem uma cisterna, mas com pouca capacidade. Portanto, a água não é suficiente para o uso próprio, tampouco para os animais.

Márcio Costa

Teixeira Fortuna de

Minas 15.07.2019/298 2019

Residente na Fazenda Lagoinha, próximo à comunidade Beira Córrego, em Fortuna de Minas/MG, solicita água para dessedentação dos seus animais, bem como ração para alimentá- los. Informou-nos que funcionário da Vale de nome Jonathan esteve em sua casa a mais ou menos 30 dias atrás, mas, até o presente, não deu nenhuma resposta. Ressaltou que sua situação atual é crítica.

Paulo Antônio

Martins Betim 25.06.2019/sem número

Desde o dia 22/06 a Vale não está fornecendo água mineral

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para o assentamento.

Inicialmente a entrega era feita de forma desordenada, mas atualmente a entrega se dava aos sábados, de modo que os próprios moradores faziam a partilha da água. Contudo, sem qualquer informação a Vale deixou de realizar a entrega, estando a comunidade sem água até a data de hoje.

Reinaldo Lemos

dos Santos São Joaquim

de Bicas 12.07.2019/297 2019

Residente na Rua 53, s/n, Bairro Nazaré, em São Joaquim de Bicas/MG, solicita água para consumo humano tanto para si quanto para sua família.

Informou-nos que estão sem água potável para beber.

Roberto Pires

Guimaraes Fortuna de

Minas 08.07.2019/141 2019

Solicitou à Vale uma caixa d’água e água mineral para consumo humano, bem como água para os animais. Solicitou, também, fosse cercado o terreno na parte que está às margens do Rio Paraopeba para evitar que os animais bebam a água do rio.

Protocolo 20190614180932003.

Salvio de Oliveira

Campos Pompéu 13.07.2019/299 2019

Está sem acesso à água tanto para consumo quanto para dessedentação de animais.

Necessita também do cercamento do terreno para evitar o acesso de animais ao Rio Paraopeba.

Tomás São Joaquim

de Bicas 26.06.2019/ sem número

Desde semana passada a Vale não entrega água

Erliete Rocha de Pompéu 31.07.2019/ 420 2019 Moradora da comunidade

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Campos Queima Fogo, solicitou junto à

Vale fornecimento de água potável.

José Carlos da Silva

São Joaquim

de Bicas 30.07.2019/ 428 2019 Solicitou fornecimento de água para dessedentação dos animais.

Paulo César

Fonseca Fortuna de

Minas 30.07.2019/ 425 2019

Solicita água com urgência.

Informou que seus animais estão sem abastecimento de água e ração a vários dias . Registrou pedido junto a Vale, mas ate o momento não foi atendido.

Geneci Cristina

Barrozo Santos Curvelo 29.07.2019/ 418 2019

Solicita continuidade do fornecimento de água mineral na sua localidade para consumo humano com urgência. Alega que fornecimento de água foi interrompido desde o dia 27/05/2019.

No dia 09/07/2019, Heloísa, moradora do bairro Primavera,

São Joaquim de Bicas, através do telefone institucional da força-tarefa, informou que,

por não ser mais possível utilizar a água do Rio Paraopeba, três cavalos que lhe

pertenciam morreram e outros se encontram desnutridos (DOC. 4). É o que revelam

as imagens abaixo.

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Fotos encaminhadas pela Sra. Heloísa

Em 27/07/2019, o Sr. Pablo Fonseca enviou email para o

sosbrumadinho@mpmg.mp.br

( DOC. 5), comunicando que a Vale S.A. interrompeu a entrega de água potável no município de Pompéu.

Informo que o a falha no abastecimento de água (potável e mineral) no município de Pompeu persiste. O acordo

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estabelecido com a Vale em relação a água mineral é de entrega semanal de 42 fardos, porém, no dia 26/07/19 foram entregues apenas 10 fardos, conforme comprova a nota fiscal em anexo.

Essa quantidade é insuficiente. Após ficar 12 dias sem entregar a água mineral, a Vale fez uma entrega correta, mas voltou a descumprir com suas obrigações. Sujeitando mais uma vez os moradores a privação de água para consumo humano. Esse quadro de constantes falhas na entrega tem prejudicado a saúde dos moradores, que precisam fazer racionamento de água e, quando ela acaba, ficam sujeitos ao consumo de água do rio.

Além disso, esse quadro gera prejuízo financeiro para os moradores, pois precisam deslocar uma distância de aproximadamente 20 km até o ponto de comércio mais próximo e lá comprar água mineral. A Vale não tem conseguido garantir a regularidade do abastecimento nessa localidade rural. Esse problema está afetando também a entrega de água potável via caminhão pipa. Os prazos e quantidades estabelecidos não têm sido respeitados. Os caminhões não entregam regularmente os 10 mil litros estabelecidos. Alternam quantidades que variam entre 3, 5 e 10 mil litros, sem um padrão ou regularidade, ficando o atingido sujeito a essa desordem, comprometendo os processos produtivos da chácara, prejudicando a saúde das criações, a manutenção de hortas, pomares e plantações, usadas na alimentação dos moradores da residência. A situação de hoje, 27/07/19 é de caixas de água para abastecimento de pomar, horta, criações e plantações COMPLETAMENTE VAZIAS. TEMOS APENAS UMA CAIXA DE 1000L de água cheia, sem ter uma referência de quando será reabastecido através de caminhão pipa.

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Outrossim, há mais de duzentos quilômetros de Brumadinho, o Sr. Carlos Magno Souza de Felixlândia, por whatsapp, informou que ele e outros agricultores locais estariam sem acesso à água do rio Paraopeba uma vez que a Associação Comunitária Ribeiro Manso recomendou que não a utilizassem, sob o argumento de que estaria contaminada.

Essa situação dificultou sobremaneira as atividades desenvolvidas pelos agricultores, o que fez com que o Sr. Carlos Magno se mudasse para a casa de parentes na cidade de Paraopeba.

Como se pode observar, o rompimento das barragens que

liberou de cerca de 13 milhões de metros cúbicos de rejeitos no meio ambiente,

provocou alteração na qualidade da água do rio Paraopeba, restringiu o acesso à

água potável em dezenas de municípios, cabendo ao poluidor, no caso a requerente,

reparar os danos causados.

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III DA IMPRESCINDIBILIDADE DO CUMPRIMENTO DA DECISÃO JUDICIAL

A conduta omissiva da requerente, qual seja, não fornecimento de água potável para o consumo humano e atividades produtivas exercidas pelos atingidos, tende a perpetuar e/ou agravar a situação das vítimas do maior desastre socioambiental do Brasil.

Por ser a água essencial à vida de todos os seres vivos, o direito à água potável trata-se de direito fundamental, constituindo, portanto necessidade básica do ser humano. Como anota o jurista Paulo Affonso Leme Machado:

A água é um dos elementos do meio ambiente. Isto faz com que se aplique à água o enunciado do caput do art. 225 da CF:

“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo...” […] A dominialidade pública da água, afirmada na Lei 9.433/1997, não transforma o Poder Público federal e estadual em proprietário da água, mas torna-o gestor desse bem, no interesse de todos.1

A ONU, por meio da Resolução 64/292 (The Human Right to the

Water and Sanitation), de 28 de julho de 2010, reconheceu a água e o ambiente salubre

como direitos fundamentais, fazendo-o nos seguintes termos:

Reconhecendo a importância do acesso equitativo à água potável e limpa e ao saneamento como um componente integrante da efetivação de todos os direitos humanos,

1 MACHADO, Paulo Affonso Leme. Direito Ambiental brasileiro. 10. ed., rev., atual. e ampl. São Paulo: Malheiros, 2002.

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Reafirmando a responsabilidade do Estado para a promoção e proteção de todos os direitos humanos, que são universais, indivisíveis, interdependentes e inter-relacionados e devem ser tratados globalmente, de uma forma justa e equitativa, em pé de igualdade e com a mesma ênfase, […]

Reconhece o direito à água potável limpa e segura e ao saneamento como um direito humano essencial à plena fruição da vida e de todos os direitos humanos

Tenha-se presente, também, que a Lei Federal 9.433/1997, que institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, ao fixar os fundamentos dessa política, estabelece que, “em situações de escassez, o uso prioritário dos recursos hídricos é o consumo humano e a dessedentação de animais” (art. 1º, III).

Assim, dada à sua essencialidade, negar água potável ao ser humano é negar-lhe o direito à vida, ou em outras palavras, é condená-lo à morte. O direito à

vida antecede os outros direitos2

. Logo, é inadmissível aceitar que a requerente, a seu alvedrio, delimite quem são os atingidos pelo rompimento das barragens de Brumadinho que possuem ou não o direito de receber água potável, até porque, tratando-se de um empreendimento de mineração, o conceito de atingidos é muito mais amplo, conforme destaca Carlos Vainer, Professor da UFRJ:

(...) a noção de atingido não é nem meramente técnica, nem estritamente econômica. Conceito em disputa, a noção de atingido diz respeito, de fato, ao reconhecimento, leia-se legitimação, de direitos e de seus detentores. Em outras palavras, estabelecer que determinado grupo social, família ou

2 MACHADO, Paulo Affonso Leme. In Água, Direito de Todos, v. 1, 2003.

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indivíduo é, ou foi, atingido por determinado empreendimento significa reconhecer como legítimo – e, em alguns casos, como legal – seu direito a algum tipo de ressarcimento ou indenização, reabilitação ou reparação não pecuniária (...) Assim, ao abordar a discussão acerca do conceito de atingido é necessário compreender que se está discutindo acerca do reconhecimento e legitimação de direitos.12

Adite-se que, nos termos do § 1º, artigo 14, da Lei 6.938/81,

é o poluidor obrigado, independentemente da existência de culpa, a indenizar ou reparar os danos causados ao meio ambiente e a terceiros, afetados por sua atividade.

O referido dispositivo legal abarca a responsabilidade civil objetiva na sua modalidade teoria do risco integral, o que impõe à requerida, inclusive, fornecer água potável para o consumo humano e atividades produtivas em quantidade e qualidade suficientes às pessoas que solicitarem, independente dos critérios estabelecidos pela Vale S.A. para definir quem é ou não atingido. Segundo a decisão de ID 70610802, deverá a requerida disponibilizar água potável

às

pessoas atingidas que a ela solicitarem, coletiva ou individualmente, sem imposição de restrições.

Tecidas essas considerações, decerto, a exata abrangência de quem são todos os atingidos pelo rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão em Brumadinho, ainda é desconhecida. Entretanto, ao que tudo indica, o mar de lama causou e continua causando inúmeros problemas a milhares de pessoas, a exemplo dos moradores de:

Brumadinho (Córrego do Feijão e Conrado)

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Betim (Citrolândia),

São Joaquim de Bicas (Imperador, Primavera , Vale do Sol I e II, residencial Fhemig),

Mário Campos (Funil),

Juatuba (Francelinos ),

São José da Varginha,

Felixlândia;

Pompéu;

Curvelo;

Paraopeba;

Fortuna de Minas.

Na cidade de Mário Campos, a Coordenadora da Vigilância em Saúde do município, através de documento oficial (DOC. 6), orientou aos moradores da Rua Nogueira que:

independentemente dos resultados das análises (satisfatórios ou insatisfatórios), fica mantida a recomendação de não utilização da fonte de água monitorada até que estejam disponíveis dados suficientes para a avaliação da qualidade da água e sejam divulgadas novas orientações. Caso os moradores não estejam recebendo água potável distribuída pela Vale S.A. devem solicitar o fornecimento de água potável. (...) Esclarecemos que o consumo de água não potável representa riscos à saúde.

Posta assim a questão, considerando que a água é indispensável

a todas as formas de vida e desenvolvimento de atividades agropecuárias, a decisão

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de ID 70610802 deve ser cumprida a fim de suspender a violação sistêmica do direito fundamental à água potável.

IV DO PEDIDO

Ex positis, a fim de que se cumpra a decisão judicial proferida

em sede de liminar, requer desse MM Juiz que a Vale S.A. seja compelida a fornecer água potável às pessoas atingidas que a ela solicitarem coletiva ou individualmente nos exatos termos da decisão de ID 70610802, sob pena de multa diária a ser arbitrada por Vossa Excelência, até que seja comprovado por assistente técnico independente a ser indicado pelo IGAM, que a água fornecida está adequada para o consumo humano e animal.

Belo Horizonte, 05 de agosto de 2019.

Claudia Spranger e Silva Luiz Motta

Procuradora de Justiça

Coordenadora do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos e Apoio Comunitário (CAO-DH)

Paola Domingues Botelho Reis de Nazareth

Promotora de Justiça

Coordenadora do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes (CAO-DCA)

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