EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA ____ª VARA CÍVEL DO FORO CENTRAL DA COMARCA DE SÃO PAULO.
CAMARGO CORRÊA S.A., sociedade por ações com sede nesta Capital do Estado de São Paulo, na Avenida Presidente Juscelino Kubitschek, n.º 1.909, 27º andar, Vila Nova Conceição, CEP 04543-907, inscrita no CNPJ sob n.º 01.098.905/0001-09, por seus advogados (procuração e documentos societários anexos), vem, com fundamento no inciso I, do artigo 94, e no inciso IV, do artigo 97, da Lei n.º 11.101/2005, ajuizar
PEDIDO DE FALÊNCIA
contra C
IBES
ANEAMENTO EP
ARTICIPAÇÕESS.A., sociedade por ações com principal
estabelecimento localizado nesta capital do Estado de São Paulo, na Avenida
Brigadeiro Faria Lima, n.º 2.012, 5º andar, conjunto 53, sala 8, cujos administradores
também poderão ser encontrados nesta Capital do Estado de São Paulo, na Avenida
Brigadeiro Faria Lima, n.º 1.744, 8º andar, sala 11, Jardim Paulistano, CEP 01451-
000, inscrita no CNPJ sob n.º 09.376.498/0001-66 (Doc. 1) (“Cibe”), consubstanciado
nos argumentos fáticos e fundamentos jurídicos a seguir expendidos.
I. - OBJETO DESTE PEDIDO DE FALÊNCIA
1. Esta demanda tem por objeto a decretação da falência da Cibe, na forma do inciso I, do artigo 94, da Lei n.º 11.101/2005, diante do inadimplemento de obrigação certa, líquida e exigível no valor de R$79.420.589,14, materializada em título executivo extrajudicial devidamente protestado em 30.07.2015 com o específico fim de instruir este Pedido de Falência (Doc. 2).
2. O crédito da Requerente é oriundo do Instrumento Particular de Novação de Dívida, Acordo Para Pagamento e Outras Avenças celebrado em 22.07.2008 (“Instrumento de 2008”) (Doc. 3).
3. O Instrumento de 2008 foi celebrado com a Cibe pela Cavo Itu Serviços de Saneamento S.A., a qual, nos termos de sua Cláusula 11
1, cedeu sua posição contratual para a Requerente, conforme Instrumento Particular de Cessão de Créditos celebrado em 31.08.2008 (Doc. 4).
4. Em 29.08.2014, a Cibe celebrou com a Requerente o Instrumento Particular de Ratificação do Instrumento Particular de Novação de Dívida, Acordo Para Pagamento e Outras Avenças, de 22.07.2008 (“Instrumento de 2014”) (Doc. 5), por meio do qual apenas ratificou sua dívida para com a Requerente.
1 “Cláusula 11. Os direitos e obrigações decorrentes do presente Instrumento poderão ser cedidos e/ou transferidos a quaisquer terceiros, desde que com a expressa anuência da CREDORA, que poderá, a seu critério, ceder e transferir seu crédito perante a DEVEDORA, a qualquer tempo, sujeita às exigências legais, regulamentares ou contratuais eventualmente aplicáveis.”.
5. No Instrumento de 2014, Cibe também reconheceu seus inadimplementos, tanto em relação à obrigação de constituir garantia de fiel pagamento da dívida, nos termos da Cláusula 4 do Instrumento de 2008
2, quanto em relação à alteração dos quadros de acionistas da Cibe e garantidoras sem a prévia anuência da Requerente, conforme alínea “c” da Cláusula 6 do Instrumento de 2008
3, bem como, e principalmente, o inadimplemento da obrigação de pagar
4.
6. Diante desses inadimplementos, a Requerente enviou diversas notificações extrajudiciais para a Cibe e para as garantidoras da dívida
5, cujas respostas foram absolutamente evasivas, de forma que não foram tomadas as
2 Considerando “h” do Instrumento de 2014: “CIBE encontra-se inadimplente, desde 13 de setembro de 2009, com sua obrigação de constituir garantia de fiel pagamento da Dívida, sob a forma de Apólice de Seguro Garantia, emitida por companhia de primeira linha, na forma definida no Instrumento Particular de Novação de Dívida, Acordo para Pagamento e Outras Avenças, de 22 de julho de 2008;”.
Cláusula 4 do Instrumento de 2008: “Além da fiança de HEBER e EMPATE, a DEVEDORA deverá manter em favor da CREDORA a garantia de fiel pagamento da Dívida contratada nos termos do Anexo 1 a este Instrumento, que deverá permanecer válida durante todo o referido prazo de pagamento e até 29 de julho de 2037 ou até o pagamento integral da Dívida e seu cumprimento de todas as obrigações estabelecidas nos termos deste Instrumento, sempre em valor equivalente ao valor da Dívida atualizado.”.
3 Considerando “i” do Instrumento de 2014: “além disso, após a celebração do Instrumento Particular de Novação de Dívida, Acordo para Pagamento e Outras Avenças, de 22 de julho de 2008, houve alteração dos quadros de acionistas da CIBE (mediante retirada de EMPATE) e de HEBER (mediante reestruturações societárias), sem prévia anuência por escrito da CCSA;”. Alínea “c” da Cláusula 6 do Instrumento de 2008: “Qualquer um dos casos estabelecidos a seguir será considerado um evento de inadimplemento: (...) (c) em caso de alteração do quadro de acionistas da DEVEDORA, da HEBER ou da EMPATE conforme descrito nas respectivas fichas de breve relato emitidas peal JUCESP anexas a este Instrumento (Anexo 2), sem a anuência prévia, por escrito da CREDORA;”.
4 Considerando “j” do Instrumento de 2014: “em 06 de maio de 2014, CIBE inadimpliu com sua obrigação de pagar a sexta parcela da dívida;.”.
5 Considerando “k” do Instrumento de 2014: “em 14 de setembro de 2009, 11 de abril de 2011, 02 de maio de 2012, 20 de agosto de 2013, 31 de outubro de 2013, 08 de maio de 2014 e 13 de agosto de 2014, CCSA notificou CIBE, EMPATE e HEBER da situação de inadimplemento referida nos itens ‘h’ a
‘j’ acima;”.
medidas necessárias para a purgação da mora
6.
7. Os inadimplementos perpetrados deflagraram o vencimento antecipado da dívida, conforme previsto na Cláusula 6 do Instrumento de 2008:
“Cláusula 6. Qualquer um dos casos estabelecidos a seguir será considerado um evento de inadimplemento:
(a) se a DEVEDORA, a HEBER ou a EMPATE não pagarem imediatamente qualquer valor devido em virtude deste Instrumento;
(b) se a DEVEDORA, a HEBER ou a EMPATE não cumprirem devidamente qualquer outra obrigação assumida em virtude deste Instrumento;
(c) em caso de alteração do quadro de acionistas da DEVEDORA, da HEBER ou da EMPATE conforme descrito nas respectivas fichas de breve relato emitidas pela JUCESP anexas a este Instrumento (Anexo 2), se a anuência prévia, por escrito da CREDORA; ou
(d) se a DEVEDORA, a HEBER ou a EMPATE interromperem voluntariamente seus negócios ou submeterem-se a uma mudança significativa adversa com relação às suas condições econômicas, dando à CREDORA bases razoáveis para concluir que serão incapazes de cumprir as obrigações estipuladas neste Instrumento, ou se a totalidade ou substancialmente parte dos bens da DEVEDORA, da HEBER, ou da EMPATE for sequestrada ou expropriada por qualquer órgão público (de jure ou de facto), ou se a DEVEDORA, a HEBER ou a EMPATE forem declaradas falidas, ou se forem propostos contra qualquer delas processos de falência, concordata ou insolvência, ou se houver permissões para isso.
Parágrafo Único. No caso de qualquer uma das situações estabelecidas na Cláusula 6 acima, a DEVEDORA será considerada em inadimplemento e a CREDORA terá o direito de, independentemente de qualquer comunicado, aviso ou citação judicial ou
6 Considerando l do Instrumento de 2014: “não obstante, CIBE, EMPATE e HEBER, até a presente data, não tomaram as medidas necessárias para purgação da mora;”.
extrajudicial, receber antecipadamente, de imediato, o valor integral da Dívida, incluindo principal, juros, atualizações e quaisquer outros acréscimos e multas devidas nos termos deste Instrumento.”.
8. No próprio Instrumento de 2014 a Cibe reconheceu expressamente o vencimento antecipado da dívida
7.
9. Nesse contexto, a Requerente apontou o título que instrumentaliza seu crédito para protesto, cujo instrumento foi lavrado em 30.07.2015, abrindo as portas para o ajuizamento do presente Pedido de Falência (cf. Doc. 2).
10. O valor atualizado da dívida da Cibe, quando do protesto, era de R$79.420.589,14, conforme melhor esclarecido na memória de cálculo e notas explicativas (Doc. 6).
11. Ante a configuração da insolvência jurídica da Cibe, legalmente presumida pelo protesto de título executivo com valor superior a 40 salários mínimos, imperiosa é a decretação de sua falência.
7 Considerando “j” [a letra “j” foi utilizada 2 vezes seguidas no Instrumento de 2014]: “os atos referidos nos itens ‘h’ a ‘j’ acima ensejam o vencimento antecipado da Dívida, na forma dos itens ‘a’ a ‘c’ da Cláusula 6 do referido Instrumento Particular de Novação de Dívida, Acordo para Pagamento e Outras Avenças, de 22 de julho de 2008;”.
II. - FUNDAMENTOS JURÍDICOS
12. O inciso I, do artigo 94, da Lei n.º 11.101/2005 não faz outra exigência para a decretação da falência senão o inadimplemento de obrigação líquida materializada em título executivo protestado em valor superior a 40 salários mínimos:
“Art. 94. Será decretada a falência do devedor que:
I – sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento, obrigação líquida materializada em título ou títulos executivos protestados cuja soma ultrapasse o valor equivalente a 40 (quarenta) salários-mínimos na data do pedido de falência;”.
13. Está documentalmente comprovado que a Cibe, sem relevante razão de direito, não pagou em seu vencimento obrigação líquida materializada em título executivo protestado em valor bastante superior a 40 salários mínimos.
14. Isso, com efeito, basta para a decretação da falência, conforme precedente do Superior Tribunal de Justiça
8:
“DIREITO EMPRESARIAL. FALÊNCIA. IMPONTUALIDADE INJUSTIFICADA.
ART. 94, INCISO I, DA LEI N.º 11.101/2005. INSOLVÊNCIA ECONÔMICA.
DEMONSTRAÇÃO. DESNECESSIDADE. PARÂMETRO: INSOLVÊNCIA JURÍDICA. DEPÓSITO ELISIVO. EXTINÇÃO DO FEITO. DESCABIMENTO.
ATALHAMENTO DAS VIAS ORDINÁRIAS PELO PROCESSO DE FALÊNCIA.
NÃO OCORRÊNCIA.
8 REsp 1433652/RJ, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 18/09/2014, DJe 29/10/2014.
1. Os dois sistemas de execução por concurso universal existentes no direito pátrio - insolvência civil e falência -, entre outras diferenças, distanciam-se um do outro no tocante à concepção do que seja estado de insolvência, necessário em ambos. O sistema falimentar, ao contrário da insolvência civil (art. 748 do CPC), não tem alicerce na insolvência econômica.
2. O pressuposto para a instauração de processo de falência é a insolvência jurídica, que é caracterizada a partir de situações objetivamente apontadas pelo ordenamento jurídico. No caso do direito brasileiro, caracteriza a insolvência jurídica, nos termos do art. 94 da Lei n.º 11.101/2005, a impontualidade injustificada (inciso I), execução frustrada (inciso II) e a prática de atos de falência (inciso III).
3. Com efeito, para o propósito buscado no presente recurso - que é a extinção do feito sem resolução de mérito -, é de todo irrelevante a argumentação da recorrente, no sentido de ser uma das maiores empresas do ramo e de ter notória solidez financeira. Há uma presunção legal de insolvência que beneficia o credor, cabendo ao devedor elidir tal presunção no curso da ação, e não ao devedor fazer prova do estado de insolvência, que é caracterizado ex lege.
4. O depósito elisivo da falência (art. 98, parágrafo único, da Lei n.º 11.101/2005), por óbvio, não é fato que autoriza o fim do processo. Elide-se o estado de insolvência presumida, de modo que a decretação da falência fica afastada, mas o processo converte-se em verdadeiro rito de cobrança, pois remanescem as questões alusivas à existência e exigibilidade da dívida cobrada.
5. No sistema inaugurado pela Lei n.º 11.101/2005, os pedidos de falência por impontualidade de dívidas aquém do piso de 40 (quarenta) salários mínimos são legalmente considerados abusivos, e a própria lei encarrega-se de embaraçar o atalhamento processual, pois elevou tal requisito à condição de procedibilidade da falência (art. 94, inciso I). Porém, superando-se esse valor, a ponderação legal já foi realizada segundo a ótica e prudência do legislador.
6. Assim, tendo o pedido de falência sido aparelhado em impontualidade injustificada de títulos que superam o piso previsto na lei (art. 94, I, Lei n.º
11.101/2005), por absoluta presunção legal, fica afastada a alegação de atalhamento do processo de execução/cobrança pela via falimentar. Não cabe ao Judiciário, nesses casos, obstar pedidos de falência que observaram os critérios estabelecidos pela lei, a partir dos quais o legislador separou as situações já de longa data conhecidas, de uso controlado e abusivo da via falimentar.
7. Recurso especial não provido. (...)
Nesse sentido, a insolvência que autoriza a decretação da falência é presumida, uma vez que a lei decanta a insolvência econômica de atos caracterizadores da insolvência jurídica, pois presumem-se que o empresário individual ou a sociedade empresária que se encontram em uma das situações apontadas pela norma estão em estado pré-falimentar.
É bem por isso que se mostra possível a decretação de falência independentemente de comprovação da insolvência econômica, ou mesmo depois de demonstrado que o patrimônio do devedor supera o valor de suas dívidas. (...)
Não cabe ao Judiciário obstar pedidos de falência que observaram os critérios estabelecidos pela lei, a partir dos quais o legislador separou as situações já de longa data conhecidas, de uso controlado e abusivo da via falimentar. (...)
Portanto, no caso em exame, tendo o pedido de falência sido aparelhado em impontualidade injustificada de títulos que superam o piso legal de 40 (quarenta) salários mínimos (art. 94, I, Lei n.º 11.101/2005), por absoluta presunção legal, fica afastada a alegação de atalhamento do processo de execução pela via falimentar.”.